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junho 12, 2013
Flávia Junqueira fala sobre sua produção a partir de residência artística em Paris, Band News
A Galeria Baró abre, no sábado, a Mostra individual "Estudo para Diversão", da artista plástica Flávia Junqueira
Flávia Junqueira - Estudo para Diversão, Baró Galeria, São Paulo, SP - 18/06/2013 a 20/07/2013
A série de fotografias "Cartografia Afetiva" e uma instalação de um carrossel gigante, presentes na exposição, partem de uma experiência na capital francesa. Em sebos parisienses, a artista também encontrou fotografias antigas de crianças, que compõem a série "Crianças e sua Família".
O Bandnews TV conversou com Flávia Junqueira. Assista à entrevista.
junho 9, 2013
Senado aprova lei que destina a museus obras de arte apreendidas pela Receita por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Senado aprova lei que destina a museus obras de arte apreendidas pela Receita
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 7 de junho de 2013.
Um projeto de lei que pretende destinar bens culturais apreendidos pela Receita Federal a acervos de museus foi aprovado nesta semana pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Se não houver recursos, a proposta PLC 97/2011 deverá seguir direto para sanção da presidente Dilma Rousseff.
Se aprovada, a medida pode pôr fim ao impasse de obras apreendidas pela Receita Federal e que hoje estão sob custódia provisória de museus públicos, como a coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, espalhada por museus de São Paulo.
Alvo de uma investigação por lavagem de dinheiro, o dono do Banco Santos teve apreendido seu acervo com obras de artistas como Joaquín Torres-García, Roy Lichtenstein e Fernand Léger.
Desde que peças nessa situação foram destinadas a espaços públicos como o Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo, ou o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, há um debate sobre que destino devem ter essas peças, já que durante a investigação os custos de restauro e manutenção das obras foi bancado pelo Estado.
A medida foi apresentada na Câmara pela deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) há dois anos e passou agora por análise da senadora Lídice da Mata (PSB-BA).
Na era do consumismo, Bienal de Veneza aponta para o espiritual na arte por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Na era do consumismo, Bienal de Veneza aponta para o espiritual na arte
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2013.
"O Palácio Enciclopédico", exposição internacional da 55ª Bienal de Arte de Veneza, aberta no último sábado, faz jus ao seu título.
Assim como um livro organizado para reunir o máximo de conhecimento possível, a mostra, com curadoria de Massimiliano Gioni, inclui uma vasta produção criativa, boa parte feita por não artistas ou por aqueles à margem do mercado.
Com isso, Veneza aproxima-se da edição mais recente da Bienal de São Paulo, organizada por Luiz Pérez-Oramas em 2012, que teve como eixo central o interno de uma clínica psiquiátrica, Arthur Bispo do Rosário (1910-1989), que também está na seleção de Gioni.
Tanto a mostra italiana como a brasileira apontam para uma leitura da arte expansiva, ou seja, uma produção originalmente não voltada a museus e galerias.
Em Veneza, esse é o caso de figuras como o fotógrafo norte-americano Morton Bartlett (1909-1992), que, somente após sua morte, descobriu-se ser criador de bonecas com as quais convivia como se fossem sua família.
Bartlett é o que se pode chamar de "artista nas horas vagas", assim como outro expoente da mostra, o também norte-americano Achilles G. Rizzoli (1896-1981). Técnico de desenho arquitetônico, à noite ele criava projetos fantasiosos e exuberantes.
Gioni, contudo, apresenta ainda a vertente espiritualizada de uma produção baseada em práticas inusitadas, como a partir de um transe. É o que fazia Hilma af Klint (1862-1944) ao pintar como médium de espíritos.
Esse segmento espiritual é amplo e domina o início da exposição, no Palazzo Centrale, umas das duas sedes da Bienal de Veneza.
Lá, a primeira obra é "O Livro Vermelho", de Carl Gustav Jung (1875-1961), impressionante coleção de ilustrações do psiquiatra, apenas recentemente tornada pública.
Outro destaque da Bienal é uma curadoria de Cindy Sherman: uma exposição dentro da exposição.
De certa forma, ela sintetiza o conceito enciclopédico de Gioni, só que, nesse conjunto, a partir de como imagens representam o corpo --questão central na obra da própria Sherman.
Em sua seleção, ela reúne obras de 30 artistas, além de ex-votos do santuário de Romituzzo, um convento italiano do século 14, e panos pintados por prisioneiros mexicanos.
Ao final, a Bienal de Veneza, que fica em cartaz até 24 de novembro, evidencia a retomada de questões espirituais ou mesmo irracionais na arte, uma temática essencial na era do consumismo globalizado.
Essa questão poderia apontar para um certo escapismo, com a ausência de questões políticas sobre a cena atual, mas Gioni tampouco deixou de lado essa preocupação na seleção de artistas mais contemporâneos, como na obra do alemão Harun Farocki, "Transmission", sobre a criação de objetos sagrados na atualidade.
Se a curadoria da mostra internacional foi mais consistente do que nos anos anteriores, os pavilhões nacionais continuam mantendo grande discrepância.
Há exemplos de alto nível, caso da Espanha, com Lara Almarcegui, França, com Anri Sala, e Turquia, com Ali Kazma, enquanto alguns são constrangedores, caso de Argentina, Venezuela e Tailândia.
O Brasil, na seleção de Oramas, esteve aquém de sua própria Bienal, independente do fiasco institucional de o pavilhão ser inaugurado inacabado. Está na hora de se repensar se o curador da Bienal de São Paulo deve escolher também a representação nacional em Veneza.
55ª BIENAL DE VENEZA
AVALIAÇÃO bom
Obra de Lygia Clark vendida por US$ 2,2 milhões em Nova York bate recorde por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Obra de Lygia Clark vendida por US$ 2,2 milhões em Nova York bate recorde
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 24 de maio de 2013.
Uma obra de Lygia Clark vendida na quinta (23) por US$ 2,2 milhões, cerca de R$ 4,5 milhões, na Phillips, em Nova York, bateu o recorde de valor para um artista brasileiro arrematado em leilões. Fora das vendas públicas, uma peça de Clark havia sido vendida por € 1,8 milhão, ou R$ 4,7 milhões, na feira Art Basel, em Basileia, há dois anos.
Superando seu lance inicial de US$ 600 mil, ou R$ 1,2 milhão, "Contra Relevo (Objeto N. 7)", pintura de 1959, de Clark bate agora o último recorde estabelecido por um brasileiro em leilões, no caso, a tela "Meu Limão", obra de 2000 de Beatriz Milhazes arrematada por US$ 2,1 milhões, ou R$ 4,3 milhões, na Sotheby's, em Nova York, em novembro do ano passado.
Milhazes continua mantendo o recorde de artista brasileiro mais valorizado hoje em leilões, mas a marca de Clark, que morreu em 1988, eleva a arte do país a outro patamar. Chama a atenção que a obra em questão é uma pintura, desviando da rota de supervalorização de suas esculturas da série "Bicho", até hoje a parte da produção da artista mais cobiçada no mercado.
Esses valores, aliás, devem continuar em ascensão, já que a artista terá uma grande retrospectiva no MoMA, em Nova York, no ano que vem, uma das exposições mais aguardadas no calendário do museu nova-iorquino.
junho 7, 2013
‘Elles’ mostra arte do ponto de vista feminino por Cristina Tardáguila, O Globo
‘Elles’ mostra arte do ponto de vista feminino
Matéria de Cristina Tardáguila originalmente publicada no jornal O Globo em 23 de maio de 2013.
Sucesso no Pompidou, exposição chega ao CCBB com 120 obras assinadas por mulheres
RIO - Sessenta e cinco mulheres vão tomar o Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro do Rio. A partir desta quinta, quando abre para convidados (amanhã ao público) o espaço exibirá 120 obras — entre pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, instalações e vídeos — assinadas exclusivamente por artistas do sexo feminino. Trata-se da exposição “Elles: Mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou”, que levou 2 milhões de visitantes ao museu de Paris, onde foi inaugurada em 2009, e 100 mil curiosos ao Seattle Art Museum, nos Estados Unidos, em 2010.
Entre as 65 mulheres que compõem a mostra, estão artistas que pincelaram, esculpiram, filmaram e fotografaram entre 1907 e 2010, o que, de certa forma, transforma o conjunto das obras num grande reflexo sobre a produção artística das mulheres no último século. No seleto grupo vindo do Pompidou, estão seis brasileiras. São elas: Letícia Parente (1930-1991), Anna Maria Maiolino, Sônia Andrade, Rosângela Rennó, Rivane Neuenschwander e Anna Bella Geiger.
No CCBB, elas estarão lado a lado de potências como as fotógrafas americanas Nan Goldin e Diane Arbus (1923-1971), da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) e da performer cubana Ana Mendieta (1948-1985) — para citar algumas das principais grifes da arte feminina dos últimos cem anos.
A curadoria da exposição, que tem apoio da Lei Rouanet, leva a assinatura das francesas Emma Lavigne e Cécile Debray, que decidiram dividir a mostra em cinco seções. Em cada uma delas, buscaram um ângulo, uma visão de mundo diferente.
Homenagem a Delaunay
A primeira foi batizada como “Tornar-se um artista” e homenageia a pintora e designer russa-francesa Sonia Delaunay (1885-1979). Lá, o visitante encontrará trabalhos tanto dela quanto da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), da gravurista francesa Marie Laurencin (1883-1956), da escultora americana Dorothea Thanning (1910-2012) e da pintora francesa Suzanne Valadon (1865-1938), entre outras.
Logo em seguida, vem a seção “Abstração colorida/abstração excêntrica”, com a artista plástica francesa Louise Bourgeois (1911-2010), a pintora americana Joan Mitchell (1925-1992) e a pintora húngara Vera Molnar, para citar algumas das artistas incluídas nesse grupo.
Depois, o visitante é levado ao “Feminismo e a crítica do poder” e dá de cara com três das seis brasileiras: Anna Bella, Anna Maria e Letícia. Mas, nessa seção, chama a atenção a reprodução do painel “Guerrilla Girls”, que informa que no Metropolitan de Nova York só 5% dos artistas no acervo são mulheres e que 85% das mulheres retratadas nas telas estão nuas.
Na quarta parte da mostra há fotos da americana Nan Goldin, e na quinta, as outras brasileiras do acervo do Pompidou — Rosângela e Rivane.
— Foi um processo longo preparar essa exposição. Além de usarmos o que já tínhamos no acervo permanente do Centro Georges Pompidou, fizemos algumas aquisições. O diretor do museu gostou da ideia e fomos em frente — diz Emma Lavigne, curadora da mostra. — Naquele momento, os estudos de gênero estavam em alta. Alguns museus americanos começaram a fazer exposições do tipo, mas menores. Resolvemos fazer a nossa, que traz um olhar sobre o acervo permanente do Pompidou.
Entre as obras adquiridas enquanto a exposição era planejada, estão peças das brasileiras Lygia Clark e Rivane Neuenschwander. Emma diz que a ideia da exposição é não só mostrar a importância dessas artistas para a arte, mas também lembrar a importância delas nas causas políticas da sociedade.
— Várias delas lutaram pela democracia, contra posturas autoritárias. Sem falar da importância que elas tiveram dentro de vanguardas, como Frida Kahlo, no caso do surrealismo. Elas não podem ser encaixadas em estereótipos. Com a seleção, mostramos também as relações entre arte moderna e contemporânea — afirma a curadora.
Artes visuais: Giselle Beiguelman, no rumo dos passos (re)encontrados por Pedro Alexandre Sanches, Virada Cultural
Artes visuais: Giselle Beiguelman, no rumo dos passos (re)encontrados
Matéria de Pedro Alexandre Sanches originalmente publicada no site da Virada Cultural da cidade de São Paulo em 11 de maio de 2013.
Giselle Beiguelman é a mulher das artes visuais na Virada Cultural 2013. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, midartista e editora da revista seLecT, essa paulistana de 50 anos foi crucial da curadoria das intervenções – ou infiltração como ela, classifica – urbanas que modificarão a cara do centro de São Paulo durante o evento, no próximo final de semana.
Em entrevista por e-mail para o Blog da Virada, Giselle dá um gostinho de como estará vestido para a Virada Cultural o vale do Anhangabaú e convida todos os participantes a entrar livremente, talvez pela primeira vez na vida, no misterioso Palácio da Justiça (foto à dir.). Projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928) e erguido entre a praça da Sé, a praça João Mendes Jr. e a praça Clóvis Bevilácqua, o palácio sedia o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e não raro passa despercebido pelos cidadãos em meio à paisagem caótica do centro. “Na prática é sua abertura total à cidade, já que as pessoas evitam o prédio, por pensar que de lá sairão presas”, brinca a sério Giselle.
Pedro Alexandre Sanches: Por que você foi chamada para participar da curadoria da Virada Cultural 2013?
Giselle Beiguelman: Porque estive envolvida, como curadora, diretora artística e artista, em inúmeros projetos e exposições relacionadas à ocupação do espaço urbano e à artemídia, de perfis muito distintos, que vão do Arte/Cidade ao Nokia Trends, do Instituto Sergio Motta ao Ars Electronica, do museu de arte mídia ZKM à Fundacion Telefonica, do ISEA à Mostra 3M de Arte Digital – Tecnofagias, entre vários outros projetos. Como diz meu amigo Ronaldo Bressane, somos jovens há muito tempo… Além disso, minhas pesquisas mais recentes, desenvolvidas na FAU, onde sou professora, analisam particularmente a produção em arte digital brasileira dos anos 2000 no contexto da arte contemporânea, como um todo, e das especificidades das transformações socioculturais do país. Os resultados parciais dessas pesquisas, apresentados como curadorias, artigos, conferências, obras artísticas, no Brasil e em diversos outros países, estão criando um repertório, uma estratégia de infiltração que, pelo visto, está começando a surtir efeito.
PAS: Por que aceitou a tarefa? Qual é o tamanho desse desafio?
GB: Aceitei porque acho fundamental esse processo de inflitração da arte contemporânea em todos os circuitos que estão além do museu e especialmente das galerias. A cidade é o território a ser tomado, interrogado, ressignificado, problematizado. Tão fundamental quanto isso é a batalha pela desguetificação da artemídia, dos redutos protegidos laboratoriais, por um lado, e do exílio que as instituições condenam esse tipo de produção. Esse é um dos desafios e é enorme, compatível com a escala espacial e de público esperado. Pensar obras para serem visitadas por uma multidão de 4 milhões de pessoas e combiná-las com projetos submetidos em chamada pública foi uma empreitada e tanto. Mas imaginar que teremos um vale do Anhangabaú inundado de obras e intervenções de grande porte, como a ponte reativa do Bijari, as projeções do Lucas Bambozzi e do VJ Alexis Anastasiou, e combinadas a ações muito delicadas, como o gigante de tsurus do Daniel Seda, ou muito sutis e processuais, como o mapemaneto Conjunto Vazio, do CoLaboratório Urbano, e o genial Pimp my Carroça; e que até o Tribunal de Justiça será ocupado, transformando-se em uma piscina de água artificial, com a intervenção Água, indica que estamos no caminho certo, que as infiltrações vão começar a abalar as estrutras, e isso é ótimo. O outro desafio é justamente esse: como infiltrar sem demolir? Como fazer da infiltração uma estratégia para repensar? Como transformar a infiltração em processo de e para agenciar as dissidências e não para construção de sistemas monotomamente estáveis?
PAS: Você pode detalhar um pouco como desenvolveu seu trabalho de curadoria para a Virada? Poderia sugerir uma espécie de roteiro para que um espectador apaixonado por artes visuais pudesse passear por tudo que estará lá e resumir brevemente o que ele encontrará quando topar de frente com cada uma dessas obras?
GB: As obras e intervenções, de convidados e de selecionados na chamada pública, foram escolhidas por seu potencial de multidão, não apenas na acepção quantitativa do termo, mas também qualitativa, no sentido dado por Negri & Hardt, que implica redes interligadas, agenciamento de novas alternativas e de outras percepções do espaço, da cidade e de suas formas de uso e fruição.
Pensando improvisadamente um roteiro, eu sugiro, antes de tudo, dar uma passada no Museu da Imagem e do Som (MIS), no I Festival Games Brasil, para esquentar. Ir para o centro e começar pelo Palácio da Justiça, na Sé, que pela primeira vez será aberto ao público em horário noturno. Na prática é sua abertura total à cidade, haja vista que as pessoas evitam o prédio, por pensar que de lá sairão presas. O edifício é do Ramos de Azevedo e belíssimo. Mas ninguém vê… Lá, na sala dos Passos Perdidos, onde se esperam as sentenças judiciais, Rejane Cantoni, Raquel Kogan e Leonardo Crescenti apresentam, a nosso convite, Água (foto à dir.), uma interveção que transforma o lugar numa grande piscina de água artificial, dentro da qual nos sentimos em meio líquido.
Depois desse “banho”, sugiro, continuar pelo viaduto do Chá, prestar atenção no prédio da Prefeitura, onde Alexis Anastasiou projetará seu Agigantador de Pessoas, um projeto com realidade aumentada que envolve o público como participante. Descendo para o vale do Anhangabaú, o bicho pega. Recomendo prestar atenção em tudo, começando pela parte debaixo do viaduto do Chá, onde Lucas Bambozzi apresenta o projeto Multidão, Brava Gente, com imagens captadas em tempo real. Carroças tunadas do Pimp my Carroça vão estar por todo espaço do vale, colorindo, alegrando e ajudando tbm na coleta seletiva de lixo.
Caminhando, vai sr inevitável dar de cara com a ponte do coletivo Bijari (imagem em maquete abaixo), um dos projetos mais decisivos da nova cara da Virada. Trata-se de uma ponte que nos faz lembrar a presença subterrânea do rio Anhangabaú e a confluência do vale com a avenida São João. A ponte vai ficando mais vermelha, respondendo ao número de traseuntes sobre ela. Ao mesmo tempo, reflete uma mancha azul que “alaga” o terreno, em correspondência a esse movimento de trânsito.
Tem ainda Conjunto Vazio, projeto que não termina com Virada, de mapeamento dos espaços vazios e desocupados, com projeções, site, impressos etc. Não paramos por aí. Facebuilding, uma rede social que será feita nas fachadas dos prédios, e remixes coletivos, como Atari Sound Performance, Jogos de Guerra e Socket Screen, de Rafael Marchetti e Rachel Rosalen, ações interativas e participativas, como Voando pelo Centro, de Marcio Ambrósio, e Conte-Nos um Segredo, do Radamés Ajna.
Urban Trash Art (esculturas feitas com resíduos, lixo e material reciclado) por todo lado, videomapping e projeções em grandes dimensões vão “atropelar” o público e engajá-lo. E assim vamos até o viaduto Santa Ifigênia, com Pixel Reflection, um projeto de interação com o público que vai surpreender e encantar. No domingo, (re)comece pelo Augusta Lab, projeto da Escola São Paulo, que vai ocupar duas quadras com shows, workshops e bate-papos. Tem que ver tudo, passar por tudo, experimentar tudo. São artistas geniais, generosos, absolutamente cúmplices de uma perspectiva de virada geral na vida da cidade.
PAS: Faço minha a sua pergunta-desafio: como infiltrar sem demolir?
GB: Com continuidade. Não dá para ser ingênuo e achar que uma noite muda tudo. As demolições são abruptadas e não semeiam. Esterilizam, fazem tábua rasa. Isso também é importante em alguns casos. A demolição, aqui, é da ideia de que Virada Cultural é só show e blockbuster, de que o lugar da artemídia é o ambiente asséptico dos centros especializados e escuros, de que o que importa na arte contemporânea brasileira é que o mercado está bombando. Vamos apontar outras direções. Mas o mais importante são as infiltrações, e esse processo é lento, silencioso, calndestino e persistente. Como diz a sabedoria popular: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Estamos só começando.
PAS: Só para terminar, me passou pela cabeça enquanto lia suas respostas e fiquei com vontade de compartilhar com você: o nome Sala dos Passos Perdidos, apesar de algo sinistro, é por si uma bela imagem, não?
GB: É lindo. E apesar de sinistro, fico imaginando as pessoas andando de um lado para o outro, aguardando a sentença…
Após remoção de grafites, osgemeos fazem protesto em SP por Juliana Gragnani, Folha de S. Paulo
Após remoção de grafites, osgemeos fazem protesto em SP
Matéria de Juliana Gragnani originalmente publicada no caderno Cotidiano no jornal Folha de S. Paulo em 11 de maio de 2013.
Nas últimas três semanas, a Subprefeitura da Sé apagou pelo menos três murais pintados pelos grafiteiros osgemeos em um mesmo espaço sob o viaduto Leste-Oeste, no bairro do Glicério (na região central de São Paulo).
Os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo são conhecidos internacionalmente por seu trabalho com o grafite.
Os artistas, que têm ateliê próximo ao bairro, disseram já haver pintado o local mais de 15 vezes nos últimos anos, mas seu trabalho sempre acabou eliminado.
Nas últimas semanas, no entanto, após outro mural ter sido apagado, deixaram um recado ao prefeito Fernando Haddad (PT).
"Sr. prefeito: nesta cidade existem muitos problemas sérios que precisam de resultados! Não gaste tempo e $ apagando graffiti nas ruas!", escreveram ao lado de uma ilustração. A mensagem não surtiu efeito --a subprefeitura apagou desenho e texto.
Pouco tempo depois, grafitaram novamente o local e escreveram nova mensagem: "Sr. prefeito: apagar arte é apagar cultura, apagar cultura é desrespeitar o povo".
Desta vez, a subprefeitura pintou por cima da obra em menos de 24 horas.
Segundo a assessoria da Subprefeitura da Sé, os recados escritos pela dupla transformaram os murais em pichações, que devem ser apagadas, diferentemente de manifestações artísticas.
Um quarto mural --desta vez sem parte escrita-- foi pintado pelos gêmeos no mesmo local. Até a conclusão desta edição, a obra ainda permanecia no local.
Em nota, a Subprefeitura da Sé informou já haver tomado providências para que as remoções de grafites "não se repitam".
"A arte de rua é apagada desde 2007 na cidade! Esperamos com este alerta que a Prefeitura de São Paulo e seus órgãos 'competentes' PAREM definitivamente de apagar os graffitis e respeitem e preservem a arte de rua em todos os seus segmentos", disseram osgemeos, em nota divulgada por sua assessoria.
Em julho de 2008, durante a gestão do então prefeito Gilberto Kassab (antes DEM, hoje PSD), um mural de 680 m na av. 23 de maio com trabalhos de osgemeos e outros grafiteiros foi apagado.
Na ocasião, a prefeitura disse haver sido uma ocorrência acidental.
junho 2, 2013
Venice Biennale: Ai Weiwei, Milla Jovovich and the best of the rest - in pictures, The Guardian
Matéria originalmente publicada no jornal inglês The Guardian em 29 de maio de 2013.
From the Chinese artist's piece about his 2011 imprisonment to Hollywood actress Jovovich performing in a glass box, via waterside acrobatics, a multicoloured spice landscape and 7,500 kites, here's a selection of the most memorable works on show at the Biennale.
- Watch an exclusive video of Jeremy Deller's British pavilion show
- Read Charlotte Higgins's take on the Iraq pavilion
Retromania impera na 55ª Bienal de Veneza por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
Retromania impera na 55ª Bienal de Veneza
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 1 de junho de 2013.
Revival dos anos 1960 ultrapassa território oficial da mostra e também toma conta da exposição de Harald Szeemann
A retromania tomou conta da 55.ª edição da Bienal de Veneza. O clima nos pavilhões nacionais é de puro revival dos anos 1960, especialmente no italiano, que reuniu toda a turma de agitadores da época, de Giulio Paolini a Domenico Gnoli e Marisa Merz. O excesso é tão evidente que a parábola embutida nas performances do pavilhão romeno - uma crítica ao eurocentrismo da mostra italiana - dispensou as obras, trocando-as por paredes vazias e apresentações que refazem os principais momentos históricos da Bienal por meio de narração e mímica de atores.
O revival não se limita ao território oficial da mostra italiana, vale dizer, aos pavilhões nacionais localizados nos Giardini e Arsenale. Não muito longe da ponte de Rialto, a Fundação Prada abriu mostra cult de Harald Szeemann, Quando a Atitude Vira Forma, reeditando sua exposição realizada em 1969, que ajudou a promover a arte povera, entre outros movimentos.
O passado, no entanto, deixa de ser uma referência nostálgica quando aponta para o futuro, como faz o artista libanês Akram Zaatari num dos trabalhos mais emocionantes exibidos em Veneza, Letter To a Refusing Pilot. Como sugere o título, o vídeo é uma mensagem amorosa a um piloto israelense que se recusou a bombardear uma escola pública numa cidade ao sul do Líbano, em 1982, desafiando seu comandante. Zaatari era apenas um garoto de 16 anos, mas lembra bem de tudo. A obra mistura suas memórias com registros da ocupação do Líbano por tropas israelenses naquele ano.
Como diz Zaatari, "aprendemos que os fatos têm pelo menos dois lados". Ele resolveu dar sua versão, cruzando dados pessoais com documentos públicos, chegando mesmo a justapor em certo momento o diário de seu irmão Ahmad a um documento oficial da invasão do Líbano.
A abordagem do cineasta, certamente o mais prolífico e influente do Líbano, não tem formato documental, mas poético. Já na sequência inicial de Letter to a Refusing Pilot, o espectador é surpreendido com a imagem da capa do clássico livro de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. Como se sabe, Saint-Exupéry, além de escritor, era piloto. Trocou a França pelos EUA em 1940, quando os nazistas ocuparam Paris, mas voltou três anos depois para lutar com os aliados contra o fascismo e, em 1944, num voo de reconhecimento, seu avião desapareceu no Mediterrâneo. Ele nunca mais voltou ao lar.
Parece evidente a correlação entre a vida do piloto que se recusou a bombardear a escola pública libanesa e a desmobilização do escritor da Força Aérea francesa, seguida da derrota francesa e do armistício com a Alemanha nazista. Mas o filme de Zaatari não se resume a uma parábola. Seria, na definição dos curadores Sam Bardaouil e Till Felrath, quase uma peça do teatro épico brechtiano, "em que você se descobre ao mesmo tempo sendo o espectador, o narrador e algum personagem do filme". De fato, Zaatari coloca o espectador entre um vídeo de 45 minutos e um filme de 16 milímetros em looping, num cenário em que o foco é dirigido a uma cadeira vazia à espera de um espectador, capaz de entender que o "pequeno príncipe" de Saint-Exupéry não é uma metáfora banal sobre um menino voluntarioso que rejeita o desenho da uma ovelha, preferindo imaginá-la dentro de uma caixa. Ao contrário: é uma séria reflexão sobre o confronto da ética individual e o poder arbitrário das leis ditadas pelos Estados.
Da nostalgia ao lúdico por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
Da nostalgia ao lúdico
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 30 de maio de 2013.
Era do manifesto político volta à Bienal de Veneza, mas sem a força de edições anteriores
O curador da 55ºBienal de Veneza, Massimiliano Gioni, admite que a mostra segue a lógica do gabinete de curiosidades barroco, que, no século 17, funcionava como um protomuseu, como também intuiu Auriti no século passado, ao abraçar a utopia de um edifício mental tão delirante como a enciclopédia de Diderot. Há de tudo em Veneza, dos desenhos feitos pelo psicanalista Carl Jung em seu célebre Livro Vermelho a uma curadoria do Nobel de Literatura J.M. Coetzee no pavilhão belga, passando por um outro projeto curatorial insólito, da fotógrafa norte-americana Cindy Sherman. Trata-se de juntar tantas maravilhas como os gabinetes barrocos e o que não falta em Veneza é o desejo de traçar uma correspondência analógica entre a arte do presente e a do passado, como será visto no pavilhão brasileiro (leia texto abaixo) a partir de sábado, quando será aberta a mostra italiana.
A Bienal de Veneza parece um tanto nostálgica dos velhos manifestos políticos do passado. Um exemplo disso é a participação do artista inglês Jeremy Deller (English Magic), o badalado prêmio Turner de 2004, que mostra na cidade obras nada surpreendentes, como caricaturas de velhas raposas da política inglesa e águias levando carros no bico, além de outros signos igualmente óbvios. Talvez como manifesto contra o consumismo contemporâneo e a crise econômica europeia, a obra do artista Stefanos Tsivopoulos (História Zero) no pavilhão grego seja até mais direta. Tsivopoulos filmou o sucateamento da Grécia pela (Des)União Europeia, mostrando como a crônica falta de dinheiro está afetando as relações interpessoais em seu país.
Deller também é um ativista político como Tsivopoulos. Organizou passeatas e filmou, a exemplo do grego, mas parece enfrentar uma crise de criatividade sem precedentes. Nada tão grave quanto Ai Weiwei, que já participou da Bienal de Veneza em 2008 com uma instalação feita de varas de bambu e cadeiras suspensas. Volta como uma estrela perseguida pelo regime comunista chinês, posando de Joseph Beuys oriental no complexo Zitelle e na igreja de San Antonin, local que escolheu para dialogar com a antiga arquitetura veneziana (no site specific S.A.C.R.E.D). Em Zitelle, dentro do projeto Zuecca, Ai Weiwei faz um repeteco e mostra de novo sua instalação Straight (2012), exibida em Washington, feita de barras de aço recuperadas de uma escola que caiu durante um terremoto na China, em 2008.
Contra o excesso de discursos políticos e a fadiga visual que causa ver Ai Weiwei e companhia, os portugueses apostam no lúdico. Pedro Cabrita Reis, um dos mais conhecidos contemporâneos de Portugal, mostra no salão nobre do Palazzo Falier o que restou de seu antigo ateliê, misturando desenhos com uma instalação feita de luzes fluorescentes, tubos de alumínio e cabos que sugerem outros desenhos no espaço. A mais nova sensação da arte portuguesa, Joana Vasconcelos, abre amanhã seu projeto Trafaria Praia, transferindo o pavilhão português para um barco que ficará circulando entre a estação do Vaporetto dos Giardini e a Punta della Dogana. Joana é conhecida por ter feito um lustre de tampões higiênicos que causou sensação aqui mesmo em Veneza. Um patchwork em azul e branco ajuda a desvendar a meta da artista: recriar um painel de azulejos pintados a mão por um artista do século 18 e mostrar Lisboa e Veneza como cidades que ajudaram a ampliar a visão europeia do mundo, especialmente durante o Renascimento.
E, por falar em Renascimento, a curiosidade da 55.ª edição da Bienal de Veneza é a presença do Vaticano entre as representações nacionais que participam pela primeira vez da mostra italiana. O Vaticano, que encomendou a Capela Sistina a Michelangelo e a Capela de Vence, na França, ao moderno Matisse, agora tenta estabelecer uma relação de patronato com os contemporâneos. O Vaticano juntou num mesmo pavilhão o fotógrafo checo Josef Koudelka, o grupo milanês Studio Azzurro e o artista Lawrence Carroll, não para criar arte litúrgica, mas para refletir sobre a relação entre arte e fé. Uma reação contra a politização da bienal italiana?
Passado e presente dialogam no pavilhão dedicado a brasileiros por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
Passado e presente dialogam no pavilhão dedicado a brasileiros
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 30 de maio de 2013.
A ideia era estabelecer uma relação entre artistas brasileiros e estrangeiros do passado e do presente, mas o Pavilhão do Brasil abriu ontem para a preview da imprensa sem a obra que historicamente introduziu a linguagem abstrata na arte brasileira, em 1951, na 1.ª Bienal de São Paulo - a escultura Unidade Tripartida, do artista suíço Max Bill, que ainda não chegou para a mostra O Palácio Enciclopédico, titulo da 55.ª Bienal de Veneza.
Com curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas, responsável pela 30.ª Bienal de São Paulo, a mostra brasileira tem dois artistas contemporâneos convidados para dialogar com obras de Max Bill e Lygia Clark e, retrocedendo ainda mais no tempo, com a mais conhecida invenção de August Ferdinand Moebius, sua "fita". Em 1858, ele realizou essa peça em que uma extremidade colada à outra resultou na obra que inspirou tanto os Trepantes (de 1965), de Lygia Clark (1920-1988), como um trabalho da série Bauhausiana, de Odires Miaszho, um dos contemporâneos a quem o curador encomendou obras, alem de Hélio Fervenza.
Outra referência histórica adotada no pavilhão brasileiro é a obra do italiano Bruno Munari (1907-1998), Concavo/Convexo (1945). A abertura oficial do Pavilhão do Brasil será amanhã, quando os organizadores esperam ter em Veneza a obra de Max Bill, que não embarcou com os demais trabalhos da mostra por problema com a transportadora e a empresa aérea encarregada de trazer essa raridade premiada na primeira edição da Bienal paulista, hoje pertencente ao acervo do MAC.
As obras encomendadas aos contemporâneos, no entanto, não decepcionam. A representação brasileira na mostra Dentro/Fora é uma bela reflexão sobre as relações históricas que forjaram a linguagem artística contemporânea de um PaÍs que é mundialmente reconhecido por sua vocação construtivista.
Pavilhão brasileiro na Bienal de Arte de Veneza abre incompleto por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Pavilhão brasileiro na Bienal de Arte de Veneza abre incompleto
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 31 de maio de 2013.
"Desculpem. O trabalho de Max Bill irá chegar apenas na segunda-feira por conta de problemas no transporte". A mensagem, originalmente em inglês, estava no pedestal pronto para receber a escultura de Max Bill (1908 - 1994), no pavilhão brasileiro, que teve abertura oficial nesta sexta-feira (31) à tarde. O evento faz parte da 55ª Bienal de Arte de Veneza, na Itália.
"Esse atraso foi decorrência de uma série de infelicidades, não é possível culpar ninguém, apenas pensar que na próxima semana tudo estará resolvido", disse à Folha, em Veneza, Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, que organiza a presença brasileira na Bienal. Segundo Terepins, o Ministério da Cultura, por meio da Funarte, destinou R$ 500 mil para a mostra.
O curador da seleção brasileira, o venezuelano Luis Pérez-Oramas, não queria que a sala com o pedestal vazio fosse aberta enquanto a escultura de Bill, "Unidade Tripartida", não estivesse instalada.
O pavilhão possui duas salas, uma com obras históricas e algumas peças dos artistas contemporâneos Hélio Fervenza e Odires Mlászho, e outra, apenas com novas obras de ambos. "É como entrar em campo com um jogador a menos", disse, na quarta-feira (29), o curador. Nesta sexta, ele não esteve na abertura durante seu início.
O pavilhão deveria estar pronto desde a última segunda, quando os jurados da Bienal começaram a percorrer os pavilhões. Na terça teve início a visita para imprensa e convidados, como curadores e colecionadores, e, tampouco, o pavilhão estava aberto.
Isso ocorreu porque as obras da seleção brasileira, com exceção de Max Bill, só chegaram ao espaço expositivo na terça pela manhã. Na quarta, o pavilhão estava quase pronto, mas pela Bienal já se espalhara a situação do Brasil. Um grupo de colecionadores ligados à Tate Modern, de Londres, chegou a ser alertado que não deveria visitar o pavilhão brasileiro.
Segundo Emílio Kalil, que coordena a produção do pavilhão nacional, a escultura de Bill está em Milão e um dos motivos do atraso foi a dimensão da embalagem da obra: "Colocaram esse trabalho em uma caixa muito grande e foi difícil embarcar nos voos planejados." A empresa responsável pelo transporte é a Millenium.
A 55ª edição da Bienal de Veneza, intitulada "O Palácio Enciclopédico", será aberta ao público no sábado (1º), quando também serão anunciados os prêmios para melhor artista e melhor pavilhão.
Clima de frustração domina o pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Clima de frustração domina o pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 28 de maio de 2013.
O clima no pavilhão brasileiro da 55ª Bienal de Arte de Veneza era de frustração, enquanto um sentimento de animação dominava os demais pavilhões do Giardini, o principal espaço da mostra, aberta nesta terça (28) para jornalistas e convidados.
Centenas de visitantes, especialmente formadores de opinião, como Chris Dercon, curador da Tate Modern, de Londres, não puderam entrar no pavilhão do Brasil, que permaneceu todo o dia com suas portas fechadas. Isso ocorreu porque a maioria das obras chegou ao local apenas ontem, pela manhã, e os artistas Hélio Fervenza e Odires Mlászho ainda montavam algumas peças, no fim da tarde, com a ajuda de seis assistentes.
"É uma tristeza, eu nem sei mais o que dizer, porque na Bienal de São Paulo isso não aconteceu", disse à Folha o curador da seleção brasileira na Itália, Luis Pérez-Oramas, que também foi o responsável pela última Bienal de São Paulo (2012).
Até os membros do júri da Bienal deram com a cara na porta.
Eles passaram pelos pavilhões já na segunda-feira. No próximo sábado, eles devem anunciar o Leão de Ouro para melhor artista e melhor pavilhão.
"Os jurados devem passar pelo pavilhão nessa quarta", disse Emilio Kalil, o produtor da representação brasileira.
De modo geral, tanto os demais pavilhões como a mostra principal, "O Palácio Enciclopédico", já estavam totalmente prontos. Apenas Argentina e Espanha finalizam a sinalização nas paredes, mas todas as obras estavam instaladas.
Hoje, o pavilhão deve estar aberto, mas mesmo assim com um pedestal vazio, onde está prevista a "Unidade Tripartite", de Max Bill (1908-1994), que venceu o prêmio da primeira Bienal de São Paulo, em 1951.
A obra sairia de São Paulo apenas na terça. Em uma previsão bastante otimista, Kalil espera que até o fim do dia, a escultura esteja instalada. A Fundação Bienal entregou as obras para a transportadora Millenium há cerca de 15 dias, tempo que seria suficiente para evitar o atraso.
Segundo Matheus Quintanilha, da Millenium, a situação se complicou por conta "do processo de desembaralho alfandegário" e porque a "TAM postergou o embarque em quatro dias devido a um grande lote de frutas, que ganhou a preferência para voar por se tratar de produto perecível". A 55ª Bienal de Arte de Veneza será aberta ao público no próximo sábado, e fica em cartaz até 24 de novembro.
Atraso de peças faz Brasil perder abertura da Bienal de Veneza por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Atraso de peças faz Brasil perder abertura da Bienal de Veneza
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 27 de maio de 2013.
O pavilhão brasileiro não estará pronto para a abertura a convidados na 55ª edição da Bienal de Veneza, que tem início amanhã, na Itália.
Parte das obras foi enviada apenas no último sábado, e "Unidade Tripartida", umas das peças mais representativas do suíço Max Bill (1908-1994), premiada na primeira Bienal de São Paulo (1951), deve embarcar só amanhã.
Com isso, o pavilhão perderá necessariamente parte dos dias dedicados à visitação por imprensa, convidados e jurados da exposição, que vão de amanhã a sexta.
O Leão de Ouro de melhor artista e o de melhor pavilhão serão anunciados no sábado 1/6, dia de abertura da Bienal para o público -a mostra seguirá em cartaz até 24/11.
Segundo Emilio Kalil, que organiza a representação brasileira no evento em nome da Fundação Bienal de São Paulo, as obras foram entregues à transportadora Millenium International há cerca de 15 dias, dentro dos prazos acordados com a empresa.
"A informação da Bienal em relação à coleta das obras procede, porém temos todo um processo de desembaraço alfandegário para cumprir", disse à Folha Matheus Quintanilha, da Millenium, anteontem.
De acordo com Quintanilha, as obras foram divididas em dois grupos; a maior parte deveria sair do aeroporto de Guarulhos e a obra de Bill, de Viracopos.
A parte de Guarulhos, que seguiria para a Europa na quarta passada, não pôde embarcar, segundo ele, porque "a TAM postergou o embarque em quatro dias devido a um grande lote de frutas, que ganhou a preferência para voar por se tratar de produto perecível".
"Hoje [ontem], com exceção da obra de Max Bill, todas as demais chegaram. Nossa previsão é de que na quarta-feira o pavilhão esteja pronto", disse Kalil, à Folha, de Veneza. A abertura oficial do pavilhão brasileiro é na sexta-feira.
O atraso em Viracopos, segundo o profissional da Millenium, ocorreu porque "a documentação ficou pronta em cima da hora, e o despachante não teve tempo hábil para conseguir a liberação para o vôo de ontem [sexta]".
Intitulada "Dentro/Fora", a representação brasileira, com curadoria de Luis Pérez-Oramas, responsável pela última Bienal de São Paulo (2012), é formada pelos artistas contemporâneos Hélio Fervenza e Odires Mlászho.
Os artistas criaram novas obras para o pavilhão, que tem um núcleo histórico com obras de Max Bill,da brasileira Lygia Clark (1920-1988) e do italiano Bruno Munari (1907-1998).
A representação é paga com verba concedida pelo Ministério da Cultura, por meio da Funarte, e é organizada pela Fundação Bienal de São Paulo. O Brasil é um dos 88 países que participam da Bienal de Veneza, que neste ano terá pela primeira vez um pavilhão do Vaticano.
Além das representações nacionais, a 55ª Bienal de Veneza apresentará a exposição "O Palácio Enciclopédico", com curadoria do italiano Massimiliano Gioni.
Com cerca de 150 artistas de 37 países, "Palácio" inclui trabalhos dos brasileiros Artur Bispo do Rosário (1910-1989), Tamar Guimarães e Paulo Nazareth.
Alguns dos 47 eventos colaterais da programação oficial também terão brasileiros. Entre eles estão Jonathas de Andrade e Andre Komatsu, na exposição "Future Generation Art Prize", da Fundação Pinchuk, e Cinthia Marcelle, na mostra "Emergency Pavillons: Rebuilding Utopia".