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novembro 21, 2018
Morre João Sattamini, um dos maiores colecionadores de arte do Brasil, G1
Morre João Sattamini, um dos maiores colecionadores de arte do Brasil
Matéria originalmente publicada no portal G1 em 20 de novembro de 2018.
Morte ocorreu na manhã desta terça-feira (20), após dois meses de internação no Hospital Pró-cardíaco, em Botafogo.
Um dos maiores colecionadores de arte do Brasil, João Sattamini morreu, aos 85 anos, na manhã desta terça-feira (20). Nos últimos dois meses, ele estava internado no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
Sattamini era proprietário da coleção de cerca de 1,3 mil peças que forma o acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC), obra de Oscar Niemeyer, criado justamente para abrigar o acervo.
O corpo de Sattamini será velado nesta quarta-feira (21), a partir do meio-dia, na Capela 1 do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. O enterro será às 14h, no mesmo cemitério. Ele deixa mulher e quatro filhas.
O interesse de Sattamini pelas artes começou a se desenvolver a partir da década de 1950, quando era funcionário do extinto Instituto Brasileiro de Café, sobretudo durante o tempo em que viveu na Europa.
Sua coleção é formada por obras de alguns dos principais nomes das artes plásticas do Brasil, como Alfredo Volpi, Lygia Clark, Rubens Gerchman, Helio Oiticica, Tomie Ohtake, Ana Bella Geiger, Frans Krajcberg, Ivens Machado, Maria Leontina, Milton Dacosta, Jorge Guinle, Wanda Pimentel, Ernesto Neto, Antonio Dias, Aluísio Carvão, Djanira e Leda Catunda, entre outros.
Um dos maiores colecionadores de arte do país, ao lado de Gilberto Chateaubriand, Sattamini mantinha algumas peças em casa, mas quase toda sua coleção foi cedida, desde a década de 1990 e em esquema de comodato, ao MAC.
'Dono de grande sensibilidade'
Em uma nota conjuta, a Prefeitura de Niterói, a Secretaria Municipal das Culturas, a Fundação de Arte de Niterói e o MAC Niterói lamentam "profundamente a perda deste grande patrono, que contribuiu sobremaneira para a arte brasileira e para a cidade de Niterói". No texto, Sattamini é definido como "dono de uma grande sensibilidade e generosidade".
"Como disse Sattamini: 'Uma coleção só existe se puder ser vista, comparada com as outras, analisada em suas possíveis deficiências e na sua dinâmica de crescimento. Ela deve servir para que artistas a usem em seu processo de aprendizado, além de instrumento para a permuta entre instituições para suas exposições. Neste caso, Niterói, cidade intrinsecamente ligada à cultura, poderá ter acesso ao que de melhor puder ser mostrado em termos de artes'", acrescenta a nota.
Mostra de Nelson Felix inaugura galeria na Ocupação 9 de Julho por João Perassolo, Folha de S. Paulo
Mostra de Nelson Felix inaugura galeria na Ocupação 9 de Julho
Matéria de João Perassolo originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 28 de outubro de 2018.
Artista carioca expõe escultura feita com mandacarus e desenhos no espaço Reocupa
O subsolo de um prédio abandonado, com paredes pichadas, fiação elétrica aparente e problemas de infiltração, abriga agora o mais recente espaço de arte da cidade de São Paulo.
A galeria Reocupa, aberta neste mês, situa-se no saguão do edifício da Ocupação 9 de Julho. Antigo prédio do INSS, a edificação ficou abandonada por três décadas, até ser ocupada pelo Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) em diferentes ocasiões a partir dos anos 1990. A ocupação mais recente data de 2016 e, atualmente, cerca de 450 pessoas moram lá.
Para a abertura da primeira exposição que acontece no local, uma individual do artista carioca Nelson Felix, os moradores ajudaram na adequação do espaço. Ficará por conta deles também o monitoramento das exposições, que devem intercalar nomes mais e menos conhecidos.
A iniciativa da galeria Reocupa veio do coletivo de artistas e ativistas Aparelhamento, junto com a líder do MSTC, Carmen Silva. “Carmen Silva vê na cultura uma forma de não se emparedar, de não se fechar para o mundo externo, e sim um meio para troca e construção coletiva”, afirma Laura Maringoni, do Aparelhamento.
Esquizofrenia da Forma e do Êxtase, como se intitula a exposição, consiste de seis trabalhos de Nelson Felix. São desenhos nas paredes e no piso, uma grande fotografia, um mapa trabalhado com folha de ouro e nanquim, e uma escultura pensada especialmente para o lugar.
Composta por estruturas de ferro atravessadas por mandacarus partidos ao meio, o site specific é o grande momento da mostra, ocupando o vão central do espaço. “Fazer escultura é como compor uma canção para a pessoa amada. Esculturas são canções para meu próprio trabalho”, diz Felix, em referência à obra.
“Esquizofrenia da Forma e do Êxtase”, espécie de continuação do trabalho “Cruz na América” (1985-2004), se estende ainda para outros dois espaços da cidade: o prédio da Bienal e a galeria Millan.
No segundo andar do pavilhão da Bienal, o artista colocou uma adaptação dos mandacarus da Reocupa —instalação que desenvolveu a convite da organização da 33ª edição do evento. Na Millan, Felix expõe uma série de desenhos do projeto todo, os quais ele chama de “amálgama” da série.
“Este trabalho é como se fosse uma ópera: são várias árias que se conectam. Eu faço isso com o espaço, vou juntando situações”, afirma.
Para idealizar o conjunto de obras que agora vem à tona, o artista primeiro viajou a Paris, onde ficou seis meses “pensando e desenhando”. Em seguida, foi para Anchorage, no Alasca, e Ushuaia, na Argentina, pólos do continente americano. Nestes locais, esboçou as esculturas da galeria Reocupa e da Bienal. De volta a São Paulo, o artista materializou os desenhos.
Assim, içou as esculturas na parte externa do edifício da Ocupação 9 de Julho por um período de 24 horas. Durante este tempo, ficou desenhando em diferentes locais dentro da ocupação. O conjunto de desenhos resultantes deste dia está na Millan.
Não é preciso visitar os três lugares para entender o trabalho. Para o artista, “é possível ouvir uma só ária de uma ópera, mas se você ficar e ouvir os três atos, será uma música muito mais interessante, com muito mais consequências e relações”.
novembro 18, 2018
Quadro de Pollock do Museu de Arte Moderna do Rio não atinge lance mínimo em leilão em Nova York por Jornal Nacional, G1
Quadro de Pollock do Museu de Arte Moderna do Rio não atinge lance mínimo em leilão em Nova York
Matéria do Jornal Nacional originalmente publicada no portal G1 em 15 de novembro de 2018.
Obra é o único quadro do pintor americano que podia ser visto pelo público no Brasil. Tentativa de venda dividiu o mundo das artes.
O único quadro do pintor americano Jackson Pollock que podia ser visto pelo público no Brasil foi a leilão na noite desta quinta-feira (15), em Nova York. A expectativa era vender a obra - do Museu de Arte Moderna do Rio - por 18 milhões de dólares, cerca de 66 milhões de reais, mas o quadro acabou nao sendo vendido porque não atingiu o lance.
O quadro é pequeno tem 56,7 cm de cada lado e foi criado no período mais valorizado do artista. Chama-se apenas número 16.
Pollock dava números em vez de nomes para deixar a interpretação do público tão livre quanto o próprio ato de criar.
O pintor criou o estilo conhecido como gotejamento: a tela ficava no chão, enquanto o artista respingava a tinta do alto.
A obra foi doada ao MAM pelo empresário americano Nelson Rockfeller em 1952, quando Pollock ainda não era muito conhecido.
Mas a tela já tinha se tornado uma das mais valiosas do museu em 1978 quando um incêndio destruiu 90% do acervo.
Cerca de 100 obras se salvaram. A maioria esculturas e pouquíssimas telas, entre elas a obra de Pollock. Desde então o MAM renasceu e ampliou o acervo. Agora, o museu pretende continuar existindo com o dinheiro do quadro que escapou do incêndio.
O conselho do museu informou que o valor da venda vai garantir o funcionamento do MAM pelos próximos 30 anos.
A nota diz ainda que vai ser criado um fundo depositado numa instituição financeira, com regras rígidas de uso e gerido por um comitê.
O MAM é uma instituição privada sem fins lucrativos que, para abrir as portas ao público, gasta 7 milhões de reais por ano. Entretanto, o museu vem tendo dificuldades para atingir esse valor.
Para uma parte da comunidade artística a venda do quadro de Pollock não é o melhor caminho.
Um manifesto com cerca de trezentas assinaturas condenando o leilão foi divulgado por artistas, curadores, críticos e colecionadores.
O MAM diz que optou por vender o quadro porque, embora tenha obras importantes, a coleção de pinturas estrangeiras não constitui um de seus carros-chefe.
“É a solução péssima, o museu vender aquilo que faz sentido pro museu. E não é uma obra que a gente poderia encontrar outra. Não vai mais se ter um Pollock. O pollock vale uma fábula no mercado internacional, a chance de se conseguir outro é quase impossível”, argumenta o galerista Paulo Kuczynsky.
“É um importante movimento que o museu ta fazendo pra sem dúvida voltar a brilhar como já brilhou nos anos passados. Vejo como uma alternativa, não como a melhor, mas válida porque a gente vai ter museu conseguindo respirar e fazer exposições pelos próximos anos”, diz Fábio Szwarcwald, da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV).
Artigo: O MAM e a volta por cima por Leonel Kaz, O Globo
O MAM e a volta por cima
Artigo de Leonel Kaz originalmente publicado no jornal O Globo em 16 de novembro de 2018.
Falta de planejamento e estratégia levaram o poder público e empresas a se afastarem do museu
Um museu que não acredita no valor da cultura torna-se indigno de si mesmo. O fato de a obra do Pollock, pertencente ao Museu de Arte Moderna, não ter sido vendida no leilão de Nova York desmerece a obra, o que esperavam dela e o que queriam fazer com o dinheiro que com ela arrecadariam. Como o famoso conto de fadas “A menina e o leite”, em que a menina vai vender o litro de leite e comprar ovos e ter galinhas e adquirir porcos... e o leite se quebra.
Aqui, no caso, o que se esparrama é o que vem sendo apontado pelo Grupo Pró-MAM, formado por cerca de 300 artistas e curadores: a evidência da má gestão e a perda de credibilidade da atual direção do museu. Há 60 dias, finalmente, o Conselho do MAM contratou a Falconi Consultores para realizar uma auditoria na instituição. E o que eles encontraram como resultado? Um conjunto raro de equívocos administrativos. Cabe, agora, ao Conselho trazer a público o que ali foi revelado
Está na hora também de parar de dizer que o MAM é “um museu privado, mantido pela família Chateaubriand e que nunca recebeu recursos públicos”, como se noticiou ontem. O MAM foi construído num terreno público, com recursos públicos e mantido sempre — até há pouco —com dinheiro público e privado. O que ocorreu foi que a falta de planejamento e estratégia levaram o poder público e empresas a se afastarem. Vale ressaltar que a Coleção Gilberto Chateaubriand, que ali se encontra em comodato com suas oito mil obras, também é mantida com recursos públicos, já que o museu nunca recebeu uma só delas como doação. E aqui não se faz nenhuma acusação — que isto fique bem claro! — porque Gilberto é figura queridíssima por todos nós e seu mérito para a construção da arte brasileira é absolutamente indiscutível. Queremos, sem dúvida, que a coleção ali permaneça.
Quando Rockfeller doou ao MAM o quadro “Number 16” de Pollock, em 1952, a finalidade era de que a obra também tivesse uma destinação pública e de que, como alertou o artista Antonio Manuel, “se criasse um museu à altura do MoMA ou da Tate”. Ora, vendê-la para aplacar uma dívida de R$ 1,5 milhão? Aplicar o restante sem que haja uma estratégia? Fazer desaparecer um patrimônio que pertence a todos os brasileiros para cobrir erros da atual direção? O MASP, museu de estrutura administrativa semelhante, devia muito mais que isso. Há dois anos, convocou o empresariado, colocou gente vigorosa na gestão, foi atrás da sua credibilidade perdida... Pronto: já pagaram tudo o que deviam, estão com superávit e investindo em exposições de qualidade, que trazem público, bilheteria e repercussão internacional. Está aí a prova de que existem vários caminhos viáveis, que exigem energia, aplicação, trabalho.
Para tanto, o MAM não pode afastar ninguém. Não pode continuar enclausurado. Tem de convocar todos — artistas, colecionadores, críticos, os mais singelos cidadãos que o frequentam, que tão-somente amam esta cidade e querem seu museu radioso de volta. Vamos, juntos, buscar alternativas, apoios, recursos, novas energias. Senhores do Conselho do MAM, vamos imaginar que o leilão da obra não se deu e que, como em outro conto de fadas, a obra de Pollock deu um passeio em seu rincão natal, tomou novos ares e agora está mais do que nunca desejosa dos trópicos, onde aqui já vive há 66 anos. Vamos nos unir nessa luta singela e vigorosa, para que o MAM dê a volta por cima e para que a arte permaneça em seu lugar de destino: o museu.
Leonel Kaz é curador e integra o Grupo Pró-MAM
novembro 14, 2018
Fim da Rouanet causaria apagão em orquestras, museus e musicais, Folha de S. Paulo
Fim da Rouanet causaria apagão em orquestras, museus e musicais
Matéria de Daniel Mariani , Eduardo Moura , Guilherme Genestreti , João Perassolo , Maria Luísa Barsanelli e Rafael Gregorio originalmnete publicada no jornal Folha de S. Paulo em 9 de novembro de 2018.
Alvo de duras críticas, lei é o principal instrumento federal de incentivo às artes; entenda como o mecanismo funciona
Alvo de recentes e acaloradas discussões, a Lei Rouanet tem sido fortemente criticada por parte da sociedade e da classe política, havendo mesmo quem defenda a extinção do mecanismo, hoje o principal instrumento federal de incentivo às artes.
A retórica ganhou força com a eleição de Jair Bolsonaro, já que muitos expoentes da direita que apoiaram o presidente eleito, como o grupo MBL e o deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL), pregam pela sua revogação.
"Não só há centralização, como há decisões tendenciosas que levam grupos e grandes empresas a ter monopólio dos patrocínios", disse Frota sobre as leis de incentivo. Ele também já se referiu a uma suposta "farra que ocorreu no setor nos últimos anos".
Mas o eventual fim da lei, dizem produtores ouvidos pela Folha, poderia gerar um apagão na produção artística e acabar com a estrutura de economia cultural —ou seja, os empregos gerados pelo setor, a circulação de capital e o impacto financeiro de atividades artísticas— que se criou no país nas últimas décadas.
"Se a Lei Rouanet deixar de existir, importantes instituições vão ter problemas: Masp, Osesp, Filarmônica de Minas Gerais, Grupo Corpo, além de iniciativas de restauro de patrimônio histórico. Significa uma situação de paralisação na cultura brasileira", diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural e vice-presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Segundo a advogada Cris Olivieri, consultora para a arte e a cultura, "a revogação seria uma retração, já que não existe um projeto de política cultural para o país" e não há mecanismos para substituí-la. Fora que a legislação "permite uma quantidade infinita de programação gratuita nas maiores instituições e museus nacionais".
Museus, peças teatrais, projetos musicais e de patrimônio muitas vezes compõem boa parte de seu orçamento com recursos obtidos via lei, que permite a patrocinadores descontarem de seu Imposto de Renda os valores destinados a projetos culturais.
A Pinacoteca do Estado de São Paulo, por exemplo, obtém 40% de sua verba anual pela Rouanet — para o ano que vem, o museu foi autorizado a captar R$ 16 milhões.
Tais recursos, diz Paulo Vicelli, diretor de relações institucionais da Pinacoteca, tornaram possíveis mostras como a do escultor Ron Mueck e a coletiva "Mulheres Radicais", atualmente em cartaz.
Os musicais, que desde 2000 vêm crescendo e gerando um mercado no país, também recorrem à lei para pôr de pé a estrutura de espetáculos. No caso de "A Pequena Sereia", versão da Disney montada em São Paulo no início do ano, 90,6% de seu orçamento (R$ 10,9 milhões) foi composto com recursos via Rouanet.
É consenso entre produtores que o mercado de musicais, que gera em média cem empregos diretos por peça, não se sustentaria sem a lei.
"Houve uma profissionalização enorme do setor, mas sem o incentivo a economia dele acaba", comenta Eduardo Barata, presidente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro). "Muitas vezes a bilheteria não mantém uma peça."
De fato, a área de artes cênicas (que engloba dança, circo, teatro e, eventualmente, escolas de samba) representa a maior fatia da Rouanet.
No ano passado, ela significou 37,93% de todos os valores captados via lei (cerca de R$ 1,2 bilhão). Logo na sequência aparecem música (21,54%), artes visuais (13,49%) e patrimônio cultural (12,73%).
Críticos do mecanismo falam em rombos de cofres públicos e artistas que "mamam nas tetas do governo" com a lei. Mas um estudo coordenado há dois anos por Henilton Menezes, ex-secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, mostrou que 70% dos projetos realizados são de pequeno porte, de até R$ 500 mil.
A Rouanet representa uma fatia pequena de todas as leis de renúncia fiscal no país: apenas 0,5% do que o Brasil deixa de arrecadar em impostos com programas de incentivo. Já o setor de comércio e serviço é responsável por 27,63% de todas as renúncias fiscais.
E o retorno financeiro costuma ser grande. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas sobre a última Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) mostrou que os impostos recolhidos pelo governo durante o evento, R$ 4,7 milhões, foram superiores aos R$ 3 milhões de isenção fiscal que patrocinadores da festa obtiveram pela Rouanet.
Além disso, a Flip gerou um impacto econômico de R$ 46,9 milhões — gastos dos turistas com hotéis, transporte, restaurantes e recursos para atender a essa demanda, como fornecimento de alimentos, serviços bancários e geração de postos de trabalho.
Já um levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro mostra que os setores econômicos ligados à cultura recebem investimento anual de cerca de R$ 1,4 bilhão, somando Rouanet e leis de audiovisual, e respondem por 2,64% do PIB.
É um retorno maior do que o de outros setores, como a indústria automobilística, que recebe em média R$ 7 bilhões ao ano em incentivos fiscais e representa 4% do PIB.
Não que inexistam problemas. Muito se critica que os projetos aprovados se concentram no Sudeste e que há muita demora para prestar contas e fiscalizar as propostas.
João Leiva, diretor da JLeiva, consultoria especializada em cultura e esporte, ressalta ainda que a lei impede patrocínios de empresas de lucro presumido (em geral, de porte menor). E que justamente elas teriam perfil para custear trabalhos pequenos e médios.
Além disso, só uma das três funções da Rouanet, a do mecenato, que diz respeito aos patrocínios via renúncia fiscal, tem funcionado. Os Ficarts, fundos para a economia criativa, nunca saíram do papel.
Já o Fundo Nacional de Cultura, mecanismo que tentaria equilibrar a distribuição regional da lei, teria recurso previsto de 3% do valor das loterias, mas o repasse não é feito há ao menos seis anos — o total supera R$ 1,5 bilhão.
Fora alguns casos de forte repercussão negativa. Como quando a cantora Maria Bethânia conseguiu, em 2011, autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog. Ou quando a colega Claudia Leitte teria descumprido as regras de distribuição de ingresso, e a pasta exigiu, em 2016, que ela devolvesse R$ 1,2 milhão captados para uma série de shows.
No entanto, há muita desinformação e notícias falsas, que geram críticas. Caso do boato de que Chico Buarque viveria em Paris às custas da Rouanet — o artista nunca usou a lei.
"A demonização da lei é um equívoco", afirma Pedro Machado Mastrobuono, vice-presidente da Comissão de Direito às Artes da OAB-SP. "Defender a revogação da Rouanet por causa de escândalos é tão sem sentido quanto defender o fim da merenda escolar em função de desvios de verbas em prefeituras."
Ex-ministra da cultura, a senadora Marta Suplicy (MDB) reforça que "as pessoas precisam ser esclarecidas sobre o que é verdade ou barulho", e concorda com a necessidade de mudanças. "Num país como o nosso, com tão parcos recursos, poderia ser pensado um limite para cada segmento, com compensação para incentivar mais regiões, artistas iniciantes e novas experiências", ela afirma.
Para a advogada Cris Olivieri, grande parte das críticas vem de uma crença de que a lei seria partidária. Ela diz que a maioria dos projetos para captação de recursos normalmente vem "de quem trabalha com o segmento" e são projetos sem qualquer interferência política. "Não tem que ser amigo de ninguém do PT para ter projeto aprovado."
O debate e a polarização política foram ainda mais acirrados nas últimas eleições. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, escreveu em suas redes sociais sobre as críticas de artistas ao pai: "Se não existisse Lei Rouanet — que é dinheiro nosso— você acredita que essa 'claque de artistas' apoiaria PT/PSOL?".
O presidente eleito não disse que acabaria com a lei —afirmou que, em seu governo, a legislação beneficiará apenas artistas em início de carreira e com pouca estrutura—, mas sua vitória causou discussões sobre os rumos da cultura.
Tanto que alguns produtores têm conversado com deputados para discutir no Legislativo projetos para as artes por meio da chamada Frente Parlamentar da Cultura, uma associação suprapartidária que pretende ser formalizada no início do ano que vem.
"A ideia é, da mesma maneira que existe uma bancada evangélica e uma ruralista, formar uma bancada da cultura", diz Eduardo Barata, presidente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro).
Ali seriam discutidas legislações para a área e o destino do Ministério da Cultura, que pode ser fundido a outra pasta no próximo governo — um dos temores da classe artística. "Com a fusão, não sabemos se as comissões [para a cultura] continuam", diz Barata.
"A gente espera que o novo governo não confunda a cultura com partido político e que entenda a importância das artes para a sociedade. E que o Poder Legislativo seja o grande baluarte que nos proteja do retrocesso", continua.
Outra demanda, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural que também defende a necessidade de aprimorar o incentivo fiscal, é rediscutir o papel das entidades vinculadas ao Ministério da Cultura, entre elas a Funarte, responsável por determinar políticas para as artes e hoje vivendo precariedade e falta de recursos.
Mas os receios não se restringem a mudanças de estrutura ou legislações. "A grande preocupação é a censura, direta ou indireta", na opinião de Francisco C. Martins, vice-presidente da Apaci (Associação Paulista de Cineastas).
"Movimentos que apoiaram Bolsonaro, como o MBL, tentaram impedir certos eventos [como a exposição 'Queermuseu']. É de se perguntar se o governo dele será autoritário ou respeitará a Constituição."
O audiovisual é a área que conseguiu se estruturar de forma mais perene no país. Fora festivais, como a Mostra Internacional de Cinema e o Anima Mundi, referência em animação, produções cinematográficas não costumam depender da Lei Rouanet para manter suas edições anuais.
A área é regida em torno de várias leis e de uma agência reguladora (a Ancine) e, portanto, mais imune aos humores dos diferentes governos.
Para provocar mudanças na forma como os filmes brasileiros são feitos, o novo presidente teria de mexer na independência da Ancine, a Agência Nacional do Cinema.
"Ele não falou sobre o assunto. Mas, se a atividade audiovisual for parar dentro da pasta da Educação e ela for ocupada por um militar, podemos cair num tipo de produção direcionada, temática", comenta Vera Zaverucha, ex-diretora da agência.
O que fomenta o setor são recursos provenientes do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), abastecido com arrecadação da Condecine, uma contribuição exigida de quem distribui conteúdo audiovisual, incluindo aí empresas de telecomunicação e operadoras de televisão por assinatura.
Em 2017, esse fundo destinou cerca de R$ 748,7 milhões à atividade que, no Brasil, depende quase que inteiramente desses recursos públicos.
Para mexer no FSA, Bolsonaro teria de mudar os integrantes do comitê gestor do fundo, mas o que o presidente eleito poderia alterar é o percentual de contingenciamento desses recursos, isto é, impedir que certa proporção desse dinheiro seja executada. Atualmente, pouco mais da metade dos recursos do FSA já são contingenciados.
Membro do comitê gestor do FSA, o cineasta André Klotzel crê que existe um "pânico irracional". "Não há motivos para que se tomem os discursos eleitorais de Bolsonaro como práticas de governo", diz.
"Tem-se a impressão de que a esquerda é quem controla o cinema nacional. Mas, quando se olha os campeões de bilheteria nacional, o que se vê são filmes como 'Nada a Perder' [sobre o bispo Edir Macedo] e comédias que têm uma visão mercadológica que não tem nada de esquerdista."
BANCADAS DA CÂMARA DEFENDEM ROUANET, MAS COM MUDANÇAS
A Lei Rouanet dificilmente será extinta nos próximos anos, se depender das principais bancadas da Câmara dos Deputados na próxima legislatura. Ela deve, no entanto, sofrer mudanças, caso isso entre em pauta no Congresso a partir do ano que vem.
A Folha ouviu algumas das principais bancadas sobre o futuro do incentivo. Entre as lideranças de PT, PSD, PR, PSB, DEM, PSDB, PSOL, PCdoB e PPS —que, juntas, terão 240 parlamentares de 513 no total— nenhuma disse ser a favor de extinguir a lei, embora todos sejam favoráveis a algum tipo de mudança, radical ou parcial.
Procurados, representantes do PSL não responderam aos pedidos da reportagem. O partido tem a segunda maior bancada, com 52 parlamentares —na legislatura anterior, tinha somente um.
Embora todos tenham suas críticas à lei, as bancadas divergem quanto ao teor delas.
"Há uma avaliação de que [a Rouanet] precisa ser aperfeiçoada, talvez exatamente pelos motivos opostos [aos de Bolsonaro]", diz Ivan Valente (PSOL-SP), cujo partido contará com dez cadeiras na Câmara. Entre as observações, ele diz que "o dinheiro é público e a escolha é privada".
O PT, que terá a maior bancada, com 56 deputados, defende mudanças parciais e critica a concentração no eixo Rio-São Paulo e o baixo grau de incentivo a "produções culturais relevantes mas sem atratividade como iniciativa de marketing".
"Hoje o incentivo fiscal não estimula de fato o investimento privado", diz Paulo Teixeira (PT-SP), em referência ao baixo grau de patrocínio direto por parte de empresas privadas no setor cultural.
O petista propõe três formas de correção das "distorções" da lei. A primeira é o fortalecimento orçamentário do Fundo Nacional da Cultura. Depois a descentralização regional e um mecanismo que evite concentração de altos recursos em poucos projetos.
Por fim, pede a aprovação de um novo sistema de fomento e dá o exemplo do Procultura, projeto que já passou pela Câmara e agora aguarda apreciação pelo Senado —e também é defendido pelo PCdoB.
A iniciativa foi apresentada em 2016 pelo senador Roberto Rocha (PSB-MA), e a nova lei atacaria as falhas da Rouanet, com o intuito de promover mais equidade entre o seu tripé —o FNC (Fundo Nacional da Cultura), o incentivo fiscal e os Ficarts (Fundos de Investimento Cultural e Artístico).
Os demais partidos ouvidos pela Folha não possuem propostas tão detalhadas quanto a do PT, o que se justifica pelo fato de o partido ser o maior representante da oposição na Câmara e também porque não há nada de oficial confirmado pelo presidente eleito que diga respeito à Lei Rouanet, apenas comentários isolados.
O PSD, que terá a quinta maior bancada, diz não ver necessidade de a lei ser extinta. "Apenas é preciso que seja garantida lisura e transparência no processo para que haja justiça e pluralidade no processo de escolha das entidades beneficiadas."
O DEM, embora defenda mudanças radicais, concorda com o PT quanto à democratização do incentivo. "Não podemos mais ver só os grandes e milionários grupos de cultura recebendo o incentivo", afirma Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), autor do pedido de CPI da Lei Rouanet.
O relatório da CPI pediu encaminhamento ao Ministério Público das investigações realizadas sobre o desvio de recursos obtidos por meio da lei, melhoras dos mecanismos de controle, além de anunciar que seria apresentada uma proposta legislativa para alterar a Rouanet, sem revogá-la. O resultado foi a PL 7619/17, que aguarda parecer da Comissão de Cultura na Câmara.
O relator da CPI foi o tucano Domingos Sávio. Quanto ao futuro da Rouanet na nova legislatura, o PSDB diz preferir mudanças parciais, sobretudo na fiscalização.
Todos os partidos citam a concentração territorial dos incentivados pela lei. O PPS fala em "contemplar os pequenos artistas". Tadeu Alencar, atual líder do PSB na Câmara, diz que "a cultura, num país que negligencia a atividade cultural de longa data, precisa de forte apoio do Estado". Já para o PR, "a legislação de incentivo à cultura pode, e deve, ser aperfeiçoada".
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O que é a Rouanet?
O governo permite a empresas deixarem de recolher 4% de seus impostos (6% para pessoas físicas) e os repassarem a iniciativas culturais
Quem pede?
Qualquer pessoa física ou jurídica pode se cadastrar em novosalic.cultura.gov.br
Quem decide?
Os projetos são analisados pela área técnica do MinC com base em critérios como pertinência e adequação a medidas de acessibilidade. Depois, uma comissão sugere aprovação ou recusa da captação. A partir daí, o proponente deve procurar e convencer os doadores
O governo dá dinheiro?
Não, mas deixa de receber em forma de tributos
Há limites?
Grandes empresas podem, por ano, fazer até 16 projetos, somando R$ 60 milhões. Os valores mudam para instituições de menor porte
Contrapartidas
Para usar a lei é preciso atender a algumas regras, como distribuir ao menos 10% dos ingressos gratuitamente, com caráter social, educativo ou de formação artística
novembro 13, 2018
Um roteiro para apreciar o trabalho de Burle Marx no Rio por Ricardo Ferreira, O Globo
Um roteiro para apreciar o trabalho de Burle Marx no Rio
Matéria de Ricardo Ferreira originalmente publicada no jornal O Globo em 9 de novembro de 2018.
Jardins, escultura, azulejaria: documentário inspira passeio por obras do paisagista espalhadas pela cidade
Aplicando sua “organização planejada dos elementos naturais” em sintonia com o modernismo, Roberto Burle Marx (1909-1994) deixou sua identidade em espaços públicos do Rio. Conhecido principalmente por seu trabalho como paisagista, ele, que era também artista plástico, tem sua trajetória revisitada no documentário “Filme paisagem — Um olhar sobre Roberto Burle Marx”, do cineasta mineiro João Vargas Penna, com estreia marcada para a próxima quinta.
— Parte da cara do Rio é de responsabilidade do Burle Marx— analisa Penna.
Inspirados no longa, traçamos um roteiro para apreciar seu legado na cidade, do verde do Aterro do Flamengo ao painel de azulejos da Fiocruz, que reproduz um protozoário, passando por uma escultura de grande formato no Recreio.
Parque do Flamengo
Com 1, 2 milhão de metros quadrados, o Aterro é considerado o maior projeto de Roberto Burle Marx — e não só por seu tamanho. Inaugurado em 1965 com a função de alargar o fluxo no trânsito entre o Centro e a Zona Sul, o Parque do Flamengo foi uma tela em branco para ele, contratado à época para, dentro do projeto de Affonso Reidy, configurar o paisagismo do espaço.
— O Aterro é uma delícia. Ele teve uma inteligência de escolher espécies adequadas à região ou já nativas. Isso garante uma manutenção maior. Se o poder público não cuidar, a própria natureza se encarrega disso — diz João Vargas Penna.
A marca de Burle Marx no imenso parque contrasta, por exemplo, com a sisudez dos arbustos de estilo europeu da Praça Paris, em frente ao Monumento dos Pracinhas. O paisagismo do Aterro é o contrário daquilo, preza pelas espécies tropicais.
— Ele criava esses espaços pensando no coletivo e no futuro. Nos ensinou que na profissão de paisagista precisamos ter uma certa generosidade em entender que nem sempre iremos presenciar a plenitude dos jardins projetados. Ao plantar uma árvore, talvez não cheguemos a ver sua frutificação ou floração, mas não tem problema, pois alguém irá usufruir e apreciar a longo prazo — comenta Isabela Ono, filha de Haruyoshi Ono, grande parceiro profissional do arquiteto , e sócia do Escritório Burle Marx.
O projeto do entorno do Museu de Arte Moderna, outra criação de Reidy entregue aos cuidados de Burle Marx, mostra a preocupação do artista não só com a vegetação, mas com a escolha de outros elementos na composição, como os granitos e os seixos rolados. O MAM, aliás tem uma tela de Burle Marx em seu acervo.
Calçadão de Copacabana
Um dos símbolos da cidade, o calçadão de Copacabana tem o traço de Burle Marx. Muita gente não sabe, mas o desenho ondulado das pedras portuguesas junto à areia é inspirado no piso da Praça do Rossio, em Lisboa, e foi adotado aqui na gestão do prefeito Paulo de Frontin, em 1919.
Nos anos 1970, com o projeto de duplicação da Avenida Atlântica, coube a Burle Marx dar um novo traçado às ondas, além de criar os desenhos do canteiro central e do calçadão junto aos prédios, que o paisagista transformou num lindo mosaico abstrato moderno.
— O desenho de piso artístico da Atlântica é uma obra de arte viva. As pessoas podem interagir com o espaço, pensado para ser apreciado tanto do nível do pedestre, quanto do alto dos prédios — diz Isabela Ono.
Praça Heitor Bastos Tigre
Um busto do diplomata que nomeia a praça no Recreio seria a escultura colocada ali, na altura do número 16.500 da Avenida das Américas. Por sugestão do filho, também Heitor, optou-se pela instalação de uma grande obra de arte. Chamaram Burle Marx.
Com 11 metros de altura (o equivalente a um prédio de três andares), a peça, única escultura do artista em logradouro público, foi feita a quatro mãos com Haruyoshi Ono e teve seu projeto executado pelo italiano Gianni Patuzzi, em 1989. É feita de argamassa armada policromada, tem um colorido vivo e curvas modernas.
Sítio Burle Marx
Localizado em Barra de Guaratiba, o sítio é um grande santuário para quem quer apreciar a obra de Roberto Burle Marx. Entre pinturas, esculturas e cerâmicas, o espaço reúne mais de três mil obras no acervo museológico, fora as 3.500 espécies de plantas, como filodendros, bromélias, cycas, helicônias, maranthas e palmeiras.
O então Sítio Antônio da Bica foi comprado pelo paisagista junto com seu irmão, Guilherme Siegfried, em 1949. Dentro dos seus 405 mil m², há até uma pequena capela do século XVII.
— O Sítio Roberto Burle Marx é um local mágico. Lá, Roberto colecionou uma variedade enorme de espécies vegetais, sendo seu espaço de experimentação e observação botânica, onde acompanhava o desenvolvimento da vegetação e a relação entre os grupamentos vegetais, e depois aplicava este aprendizado nos projetos de paisagismo. O sítio foi sua residência por dez anos e hoje é um ótimo local para conhecer suas obras de arte e coleções particulares — detalha Isabela.
O espaço foi considerado Patrimônio Cultural Brasileiro em 1985 e, em 2000, foi tombado integralmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Lá estão parte das espécies descobertas pelo paisagista, como a Heliconia burle-marxii , símbolo do sítio, ou a Merianthera burlemarxii , do Espírito Santo.
A visitação ao sítio acontece de terça a domingo (excetos feriados), às 9h30m e às 13h30m, e precisa ser agendada por telefone (2410-1412) ou e-mail (visitas.srbm@iphan.gov.br). A entrada custa R$ 10.
Casa Roberto Marinho
O jardim com a assinatura de Burle Marx é uma das principais atrações do casarão construído em 1939 no Cosme Velho e que hoje abriga um centro cultural.
— É uma transição da Floresta da Tijuca, é na pontinha da floresta. Ele usa espécies tropicais, mas fazendo uma transição para o espaço residencial. É uma floresta organizada, uma transição natural — diz Lauro Cavalcanti, que é diretor da Casa Roberto Marinho e foi curador da mostra “Roberto Burle Marx 100 anos — A permanência do instável”, que comemorou o centenário de nascimento do artista em 2008, no Paço Imperial.
Até a semana passada, uma tela de Burle Marx estava na mostra “Modernistas 10”, que saiu de cartaz. Mas uma outra tela sua estará numa das novas exposições que serão inauguradas no dia 6 de dezembro. Até a abertura das mostras, a entrada no centro cultural é gratuita. Além do jardim, o espaço (Rua Cosme Velho 1.105) tem uma sala de cinema com sessões gratuitas aos sábados e um café.
Fundação Oswaldo Cruz
Uma pequena pérola do modernismo brasileiro integra o campus da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Projetado na década de 1940 pelo arquiteto Jorge Ferreira, o Pavilhão Arthur Neiva tem um painel de azulejos de Burle Marx.
—Ele teve formação nas artes plásticas, foi assistente do Portinari, do Guignard. Isso se reflete na azulejaria, é visível a influência do Portinari — explica Lauro Cavalcanti.
O artista se inspirou no formato do protozoário Trypanosoma cruzi , transmissor da Doença de Chagas, para desenhar o painel de formas geométricas e tons de azul.
Instituto Moreira Salles
Ao longo de sua carreira, Burle Marx trabalhou em inúmeros projetos residenciais. Um exemplo é a casa do banqueiro e embaixador Walther Moreira Salles, na Gávea, desenhada pelo arquiteto Olavo Redig de Campos, construída em 1951 e que hoje abriga o IMS. O paisagismo de Burle Marx está lá, bem como um painel de azulejos feito pelo mestre que retrata mulheres lavadeiras. Também em tons de azul e branco.
— Ele inovou na maneira se criar jardins, utilizando na composição plantas nativas que eram consideradas menores na época. Na residência do embaixador, por exemplo, ele usa a espécie Calycophyllum spruceanum, o pau-mulato, uma árvore do Norte do país — destaca Isabela Ono.
Outros trabalhos do mestre:
Sede Náutica do Vasco da Gama (Rua General Tássio Fragoso 65, Lagoa). Um belo painel de azulejos feito por Burle Marx decora uma das fachadas do edifício.
Edifício Sede da Petrobras (Av. República do Chile 65). O edifício de arquitetura arrojada ganhou jardins suspensos projetados pelo paisagista nos vãos da fachada.
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo — FAU/UFRJ (Av. Pedro Calmon 550, Fundão). O jardim do entorno da FAU é de Roberto Burle Marx, que também assina um painel externo da faculdade.
Conjunto Habitacional do Pedregulho (Rua Capitão Félix 50). Simbólico pelas linhas sinuosas, o projeto de Affonso Eduardo Reidy em São Cristóvão também tem os jardins assinados por Burle Marx.
Largo da Carioca (Centro). O projeto paisagístico no entorno do edifício do BNDES, do Convento de Santo Antônio e o enorme mosaico de pedras portuguesas que calçam o local são do paisagista.
Palácio Gustavo Capanema (Rua da Imprensa 16). Marco da arquitetura moderna, o prédio tem um jardim suspenso desenhado por Burle Marx. Atualmente está em obras.
The art world reacts to Brazil’s new far-right president, Jair Bolsonaro by Gabriella Angeleti, The Art Newspaper
The art world reacts to Brazil’s new far-right president, Jair Bolsonaro
Article by Gabriella Angeleti originally published in The Art Newspaper on November 2nd, 2018.
The former army captain's apparent leanings toward authoritarianism and his fundamentalist views have arts professionals feeling wary
Following the election of the far-right congressman and former army veteran Jair Bolsonaro as Brazil’s next president, cultural professionals are starting to weigh in on what this could mean for the country’s arts. Bolsonaro has said that he wants to dissolve or merge various government bodies, including the ministry of culture, and has expressed little support toward rebuilding the devastated National Museum in Rio de Janeiro, telling the Associated Press earlier this year: “It caught fire already. What do you want me to do?”
When the results were announced on Sunday night, thousands of Bolsonaro’s supporters celebrated in the public square in front of the Museu de Arte de São Paulo (Masp), and clashed with his opponents, who chanted “Not him” and called Bolsonaro—who has spoken nostalgically of Brazil’s decades-long military dictatorship—a “fascist”. Demonstrators returned to the São Paulo museum square this week, and protests broke out in other cities including Rio de Janeiro, Porto Alegre and Recife, with left-wing activists vowing to resist the new president, who takes up the post on 1 January. Arts professionals are feeling wary, although few would speak about their concerns on the record, perhaps because of Bolsonaro’s apparent sympathies with authoritarianism, or the fact that government funding supports a significant part of Brazil’s cultural production.
“It’s impossible to know what will happen—the only certainty is that it won’t be the same as before,” says Bernardo Mosquiera, the curator of the experimental arts lab Solar dos Abacaxis (Pineapple House) in Rio de Janeiro. “But most people are apprehensive and attentive, and at the same time terrified and aggressive.” Ahead of the election, Solar dos Abacaxis opened a group show and performance addressing democracy and corruption in Brazil, called Manjar: We Are Muitxs, after a leftist movement that aims to influence government policy in urban centers.
"Bolsonaro's intolerant and non-inclusive discourse stimulates and validates a violent, exclusionary view that does not allow room for dialogue with anything that is different, with the other; that does not consider living with anything they disagree with," says Fernanda Lopes, a curatorial assistant at Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. She adds that she worries that censorship and conservative attacks against exhibitions, such as a recent queer art show, will only get worse.
"Besides cutting costs to achieve their aggressive revenue goals, the way I see it, this new government will use the dismantling of investments on education and culture as an attack, a way of silencing and starving everyone who publicly diverges from it," says Germano Dushá, an independent curator and co-founder of Fora, a multidisciplinary platform for public arts in São Paulo. "It is not an unknown fact that the great majority of educators, scientists, artists and intellectuals are strongly opposed to Bolsonaro's policies and everything that he represents. From someone who has said in a live video that will swipe all those who oppose him, we can’t expect a clear and powerful agenda for cultural production, that's for sure. Most likely, it will be an austere and tense nightmare."
“We have seen how the cultural infrastructure of Venezuela was decimated by a similar authoritarian, populist and militaristic president,” says Gabriel Perez-Barreiro, the chief curator of the New York- and Caracas-based Colección Patricia Phelps de Cisneros and the curator of the 33rd São Paulo Bienal. Venezuela’s former president Hugo Chávez often railed against the elitism of the arts and ousted the leaders of most of the country’s state-run institutions in a televised purge, leading many artists, curators and private collectors to leave the country. “In particular, Bolsonaro’s expressed views on women, gender orientation, sexual preference and race are very worrying, as is his apparently disregard for freedom of expression,” Perez-Barreiro adds.
Sérgio Sá Leitão, the current culture minister, has publicly supported Bolsonaro, although on Wednesday he issued a statement suggesting that it would make more sense to combine the culture department with those for sports and tourism, rather than folding it into the education ministry, as Brazil’s interim president recently tried to do.
In a pre-election twist, an unlikely feud emerged between Sá Leitão and the former Pink Floyd band member Roger Waters, who criticised Bolsonaro and other hardline political leaders around the world during a series of concerts in Brazil. Sá Leitão accused Waters of illegal electoral campaigning during his performances, for which he received 90m reais ($24m). In an interview with the Brazilian newspaper Folha, Waters called Bolsonaro corrupt and insane, and said that Sá Leitão is in the “wrong profession” and should resign. “For a long time, Sá Leitão has not been a representative of the artistic class but someone we have to deal with,” Mosquiera says, adding that he did not expect the culture minister to be remain as part of Bolsonaro's government.
But the immediate and vocal resistance against Bolsonaro's policies gives some a glimmer of hope. "The museological, curatorial, and arts community is stepping into the biggest challenge of this generation," Dushá says. "Everyone is tired, worried and many are melancholic. But also, there is an energy building towards resistance, and many new ideas, bonds and communions are emerging. It will be a matter of keeping the spirit alive and thinking strategically."
"Institutions need to stay on the side of culture, artists, defending artistic and intellectual production," Lopes says. "We have an important fight ahead."