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Como atiçar a brasa

 


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dezembro 18, 2017

A crítica no Brasil nos últimos 10 anos por Patricia Canetti, seLecT

A crítica no Brasil nos últimos 10 anos

Texto de Patricia Canetti originalmente publicado na revista seLecT em 1 de dezembro de 2017.

Uma amostra do que saiu no blog Arte em Circulação, do site Canal Contemporâneo

O Canal Contemporâneo recebeu um convite da revista seLecT, para uma parceria na sua edição 37 sobre o estado atual da crítica: fazer uma seleção de textos de crítica contemporânea publicados no Canal nos últimos dez anos.

O convite pegou-me de surpresa duplamente, pois eu me encontrava mergulhada no blog “Arte em circulação”, pensando em um projeto editorial comemorativo para os 18 anos do Canal Contemporâneo. Há um mês eu estava me digladiando com a quantidade de textos do blog a serem analisados, com a dificuldade inerente a dados classificados ainda de modo incipiente, o terror do Big Data em nosso pequeno grande acervo.

Dos últimos dez anos, contando do primeiro texto, publicado em 2007, tínhamos 502 posts publicados até aquele momento. Portanto antes de definir critérios para a escolha dos “imperdíveis”, era necessário lidar com o problema tempo de escolha X quantidade de textos. Meus estudos atuais em estatística trouxeram a resposta: usaríamos uma amostragem sistemática, para diminuir a quantidade de textos a serem analisados e ao mesmo tempo manter uma representação estatística confiável do todo.

Com a tabela de posts extraída do banco de dados, os mesmos foram numerados de 1 a 10 sequencialmente, de 2007 a 2017, transformando-os em 10 grupos de 50 posts cada. Na sequência, um número de 1 a 10 foi sorteado, para definir os 50 textos que seriam objeto desta análise. Ou seja, a seleção de textos representativos dos últimos 10 anos se daria sobre 10% do total do período.

Sobre os critérios de nossa seleção é importante ressaltar que, ao escolhermos o blog Arte em circulação e não o Como atiçar a brasa, nós deixamos de fora as críticas dos grandes veículos de comunicação que estão republicados neste último, e delineamos um sentido mais amplo para a crítica de arte.

O Arte em circulação fala de encontros com a arte em qualquer circunstância, de um pequeno esbarrão que seja, quando este gera um atrito que produza faíscas de pensamento crítico. Os textos de Rubens Pileggi Sá, criador deste blog, imprimiram este sentido desde o seu início. (Falo mais deste começo na dissertação de mestrado Canal Contemporâneo: Memórias e Perspectivas, p. 51. – ver post no Arte em circulação de 2015.)

Em nossa seleção de quinze textos encontramos uma feliz conjunção de densidade e diversidade que representa o sentido do Arte em circulação. Desde o texto contundente e descontraído do curador Ricardo Resende de 2007, quando o Canal Contemporâneo era tratado como uma rede social por seus usuários, trazendo com isso o frescor dos textos informais, até o texto intenso e fluido da artista Lais Myrrha de 2010.

Seguimos por resenhas críticas (Juliana Monachesi sobre 80/90 Modernos, Pós-Modernos Etc. no Tomie Ohtake e Gabriela Motta sobre a Bienal Mercosul), relatos críticos (Ananda Carvalho sobre Seminário Internacional Criação & Crítica no Museu Vale), entrevistas (Luiz Camillo Osorio com o Hapax) , e textos de apresentação (Ana Maria Maia sobre Débora Bolsoni e Marília Panitz sobre Helô Sanvoy), para perceber uma preponderância nos textos curatoriais (Daniela Bousso sobre O tempo e os tempos; Felipe Scovino sobre Barrão; Frederico Morais sobre Abraham Palatnik; Moacir dos Anjos sobre Cães sem Plumas [prólogo]; Paula Alzugaray sobre Katia Maciel).

Para além da diversidade de textos, vale sublinhar o tom político encontrado nesta seleção de 3% de textos dos últimos dez anos cujo ápice são dois textos sobre a obra Inimigos, de Gil Vicente. De dois momentos diferentes: o primeiro de 2010, sobre a possível censura na 29ª Bienal de São Paulo (Daniela Labra), e o segundo de 2015, sobre o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça que adquiriu a obra para o MAMAM (Valquíria Farias). E agora, em 2017, voltamos a perceber que sentido fazem hoje estes desenhos do artista assassinando figuras políticas importantes.

Para concluir, acredito que esta seleção também representa bem a coletividade de profissionais que fazem uso do Canal Contemporâneo há quase duas décadas, para comunicarem entre si seus trabalhos e pensamentos sobre a arte contemporânea brasileira. Boa leitura!

Em ordem cronológica:

1.
26/03/2007
Fui ver e realmente não gostei, por Ricardo Resende

2.
10/07/2007
Da cultura da montagem ao imaginário do desmanche, por Juliana Monachesi

3.
07/04/2009
A criação da crítica, a crítica da criação, por Ananda Carvalho

4.
23/03/2010
Cosmococas e Objetos Relacionais: a participação na encruzilhada entre o público e o privado, por Lais Myrrha

5.
28/09/2010
Os Inimigos de Gil Vicente na Bienal de SP, por Daniela Labra

6.
19/03/2012
Conversa entre Ericson Pires e Ricardo Cutz, do grupo Hapax, e Luiz Camillo Osorio

7.
17/10/2012
Roteiro cronológico das invenções de Abraham Palatnik, por Frederico Morais

8.
08/09/2013
Cães sem Plumas [prólogo], por Moacir dos Anjos

9.
06/03/2015
O rapto, por Paula Alzugaray

10.
14/07/2015
O tempo e os tempos, por Daniela Bousso

11.
16/08/2015
O energúmeno, por Valquíria Farias

12.
10/02/2016
Notas sobre a Bienal do Mercosul, por Gabriela Motta

13.
10/05/2016
Verbo reduzido, nome suspenso, por Ana Maria Maia

14.
14/02/2017
O que não pode ser dito ou… sobre apagamentos, por Marília Panitz

15.
21/05/2017
Barrão, por Felipe Scovino

Posted by Patricia Canetti at 12:10 PM

O espaço da crítica por Paula Alzugaray, seLecT

O espaço da crítica

Artigo de Paula Alzugaray originalmente publicado na revista seLecT em 1 de dezembro de 2017

seLecT reafirma a função crítica de publicações de arte e dedica sua 37ª edição ao estado atual da crítica de arte no Brasil

A revista de arte é espaço da reportagem de arte, da reflexão sobre arte e, em casos especiais, de intervenções artísticas. Periodicamente, seLecT convida artistas a intervir em suas páginas e nesta edição temos as participações de Fernanda Chieco e Bruno Moreschi. Chieco realiza a sexta edição do projeto de múltiplos colecionáveis, com a obra Trafficking for Time Trade. Moreschi criou, especialmente para a seLecT, uma versão do panfleto A História da _rte, um levantamento de dados que mostra o cenário excludente da história da arte estudada no País.

Mas é preciso reafirmar que a publicação de arte é também espaço da crítica e este é, definitivamente, o caso de seLecT, que endossa essa função dedicando a totalidade de sua 37ª edição ao estado atual da crítica de arte no Brasil.

Começamos por indicar ao leitor as revistas referenciais da arte e da crítica internacional hoje, na opinião de três leitores especialistas: o curador e crítico Tobi Maier, a gestora cultural Ada Hennel e o editor e curador Benjamin Seroussi. Seguimos por investigar os mecanismos da construção do texto crítico, consultando um grupo de profissionais, na seção Fogo Cruzado, sobre a importância, ou não, da interlocução direta com o artista para o processo da escrita.

As correspondências entre crítica e curadoria, e entre crítica e história, também são aqui iluminadas. No primeiro caso, contamos com a colaboração de Bernardo Mosqueira, que concebeu uma curadoria sobre a história e a atualidade da crítica institucional. Quando o foco é a linha de sucessão direta entre crítica e história, temos a reflexão de Michelle Sommer sobre a busca pioneira de Mário Pedrosa em inserir narrativas indígenas e afro-brasileiras na história da arte brasileira.

Contamos ainda com um texto sobre o projeto pedagógico das pesquisadoras Ana Magalhães e Ana Avelar, que criaram para a casa seLecT um corpo de cursos que propõem a montagem e a desmontagem da história da arte contemporânea brasileira, a partir de relatos críticos diversos, que dialogam entre si.

Paulo Bruscky, “o artista que escreve”, segundo a redatora-chefe Márion Strecker, que usou a Arte Correio a serviço da informação, do processo e da denúncia, também tem sua atividade crítica representada em capa e portfólio desta edição. Assim como Regina Vater, cuja obra ganha nova leitura à luz do pensamento sobre questões de gênero.

Para ampliar as redes críticas, convidamos o Canal Contemporâneo a selecionar dez críticas fundamentais da última década. A relação pode ser consultada em www.select.art.br/dezanosdecritica. E para reforçar nosso compromisso não apenas com a informação e a reflexão, mas também com a invenção, criamos a seção de Autocrítica. Enquanto Daniela Labra e Leno Veras se lançam ao desafio da autocrítica sobre as próprias curadorias, o filósofo francês Georges Didi-Huberman, que em entrevista afirma não ser capaz de escrever um texto crítico que tivesse como objeto a sua exposição Levantes, nos dá lenha para pensar o papel das publicações: “A exposição é menos que um texto. É algo que desaparecerá dentro de três meses, é uma experiência. E o texto existirá para sempre”.

Posted by Patricia Canetti at 12:03 PM

dezembro 13, 2017

Museus brasileiros seguem tendência global e colocam acervo na internet por André Cáceres, Estado de S. Paulo

Museus brasileiros seguem tendência global e colocam acervo na internet

Matéria de André Cáceres originalmente publicada no jornal O Estado de S.Paulo em 22 de novembro de 2017.

Arquivo Nacional, Museu do Ipiranga e Museu da Imigração são alguns dos pioneiros da iniciativa no Brasil

Instituições brasileiras como o Arquivo Nacional, o Museu do Ipiranga, a Matemateca e o Museu da Imigração vêm tornando disponível parte de seus acervos na plataforma Wikimedia Commons, da Wikipédia. O material consiste em imagens de pinturas, documentos, fotografias históricas, artefatos e outras obras. Esse processo, viabilizado por voluntários da Wikipédia, segue a tendência de museus estrangeiros como Metropolitan, MoMA, British Museum e Museo Picasso, mas também diz respeito à busca por transparência no Brasil.

“Desde que nossa sede está fechada para restauração, buscamos a melhor forma de disponibilizar nosso acervo”, afirma ao Estado a professora Solange Ferraz de Lima, diretora do Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga). “Essa iniciativa vem ao encontro de um desejo da direção do museu, de tornar seu acervo mais acessível, mas também de nossas metas educacionais e de uma recomendação da ONU para os museus, de um compromisso com o desenvolvimento da sociedade”, acrescenta Solange.

“É muito importante que a população brasileira conheça sua história para que haja um sentimento de pertencimento”, afirma Diego Barbosa, que dirige o Arquivo Nacional, órgão subordinado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, que mantém documentos públicos produzidos pelo Poder Executivo federal e, até 1991, também pelos Legislativo e Judiciário. “A lei de acesso à informação prevê uma transparência passiva, mas também ativa. Os órgãos têm obrigação de revelar uma série de dados espontaneamente. Essa documentação pertence à sociedade, não é do Estado. Os arquivos nasceram para restringir o acesso e agora estão passando por essa nova fase de ampliar o acesso”, acredita Barbosa.

“É um recurso educacional incrível. Você está vendo o documento, a caligrafia. Essa cultura de compartilhamento de conhecimento consegue estabelecer uma relação de vitória de todos os lados”, comemora João Alexandre Peschanski, que coordena a iniciativa com os editores da Wikipédia e viabiliza também o acesso ao acervo de imagens de museus da USP como a Matemateca e o Museu de Anatomia Veterinária.

A iniciativa Glam (sigla em inglês para “Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus”), da Wikipédia, já publicou itens de mais de 100 instituições em todos os continentes. No Brasil, passaram a ilustrar verbetes da enciclopédia virtual mais de 500 imagens e documentos do Arquivo Nacional, como a Lei Áurea, as Constituições do País e os Atos Institucionais da ditadura militar. “Isso muda completamente a relação do cidadão com a documentação”, diz o diretor-geral substituto do órgão, Diego Barbosa.

Entre alguns dos itens mais curiosos estão o passaporte de Santos Dumont, uma ilustração de um eclipse solar registrado em 7 de setembro de 1858 por uma comissão astronômica instituída por d. Pedro II, um documento censurando a novela Roque Santeiro e uma declaração do Barão de Caxias encerrando a Revolução Farroupilha.

Nicolas Maia é um dos editores voluntários da Wikipédia e acredita na difusão de cultura como principal motivação: “É excelente tanto para os leitores quanto para as instituições. De que adianta arte e conhecimento se estão longe do público?”.

Peschanski, informa que a licença com a qual o Glam trabalha permite o remix das obras. “Há um universo rico de apropriação desse conteúdo. Uma coisa é ter um quadro protegido por barreiras econômicas e simbólicas, e outra é permitir que se faça dentro do limite da lei o que se quiser com a obra de arte.”

Em fevereiro, o Metropolitan, de Nova York, tornou disponível sua coleção digitalizada que estava em domínio público, cerca de 375 mil imagens. O Museu do Ipiranga cedeu quase 200 pinturas de Benedito Calixto, Tarsila do Amaral, Pedro Américo e outros. O Château de Versailles, na França; o Museo Galileo, na Itália; o National Museum de Nova Délhi, na Índia; a National Library, de Israel; e o Museu de Arte Popular, do México são alguns dos que aderiram ao Glam. Já houve conversas com o Itaú Cultural e o Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de SP, segundo Peschanski. Mas existe o interesse de ampliar esse rol: “Quanto mais instituições, melhor”.

“Estamos numa era em que as plataformas digitais permitem e exigem isso”, reflete a professora Solange. “Disponibilizar essas imagens chama o público, desperta uma curiosidade, porque nada substitui a vivência olhar uma pintura de grandes dimensões ao vivo”, pondera ela, lembrando que as obras já estão na internet, mas agora estarão em melhor qualidade e com metadados, o que impede que sejam descontextualizadas. “A tendência é que haja mais apropriações benéficas, que tragam reflexões, do que mau uso dessas imagens”, prevê a diretora.

"A indústria cultural tem dificuldade de absorver, mas há uma tendência de se disponibilizar os acervos digitalmente”, avalia Peschanski. “A questão que se coloca no Brasil é a escassez de acervos digitalizados, pois o processo envolve custos. No mundo desenvolvido, até coleções privadas estão sendo liberadas. Ainda estamos atrasados, mas as instituições públicas passam por uma discussão ampla de transparência”, conclui.

Posted by Patricia Canetti at 7:34 PM

dezembro 6, 2017

O ocaso do museu por Tatiana Mendonça, A Tarde

O ocaso do museu

Matéria de Tatiana Mendonça originalmente publicada no jornal A Tarde em 4 de dezembro de 2017.

Em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia, o mais importante do estado, estão uma exposição de tapumes e uma performance de visitantes vagando com expressão de desalento. No cair da tarde de uma terça-feira de novembro, um grupo de turistas percorreu o corredor que leva ao Parque das Esculturas. Deparou-se com um portão fechado e uma placa onde se lia: “Desculpe os transtornos, estamos em manutenção”. O guia que os acompanhava tentou contornar a decepção sugerindo que olhassem pelo “buraquinho”, um pequeno quadrado com vista para um cenário de abandono.

Em julho de 2013, o ex-governador Jaques Wagner anunciou uma ampla reforma no MAM, um “presente” pelo seu cinquentenário. Com orçamento de R$ 15,7 milhões, as obras incluíam o casarão principal, as oficinas, a capela, o café, o cinema, o restaurante e o Parque das Esculturas, além da criação de novos espaços, como uma biblioteca e um estúdio para residências artísticas. A previsão era que durassem 12 meses, de modo que os visitantes que viessem para a Copa já pudessem visitar um novo museu.

Quatro anos depois, a galeria onde funcionavam o cinema e o café está coberta por um tapume branco. No casarão principal, a mostra coletiva Implosão: Trans(relacion)ando Hubert Fichte, inspirada no universo do escritor alemão, é delimitada por uma corda em frente à escada projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, primeira diretora do museu. O segundo piso está interditado, por conta de obras no telhado. Parte da área onde acontece a JAM no MAM foi ocupada pelo canteiro da Construtora Pentágono, que suspendeu o serviço quando cessaram as verbas. A entrada do restaurante está bloqueada por mesas de escritório, e no Parque das Esculturas, o mato alto foi cortado recentemente, mas ainda é preciso restaurar as passarelas que dão acesso ao lugar. O píer, despedaçado, sequer foi incluído no projeto da reforma.

Crise no MAM

Museu de Arte Moderna da Bahia, em reforma desde 2013, perdeu relevância no cenário nacional

O museu não tem uma página na internet na qual possa prevenir esta situação aos visitantes desavisados, tampouco estampa o “desculpe os transtornos” em seu perfil no Facebook. Um ou outro usuário incumbe-se da missão em comentários no Google: “Local lindo para visitar, passar o fim de tarde e ver as exposições. Uma pena a reforma estar há tanto tempo parada, não termos mais o cinema do MAM e acesso a outra parte do museu ao ar livre“; “lugar lindo, mas tudo está fechado e sem qualquer aviso. As pessoas vêm ao engano”; “dói visitar. Tristeza em ver o abandono, as obras paradas. Vigilantes desatentos. Funcionários ausentes”; “está muito abandonado. Reformas que não acabam com aspecto que não irá terminar”.

No dia 3 de junho, o vice-governador e secretário de Planejamento do estado, João Leão, visitou o museu ao lado do diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), João Carlos de Oliveira, responsável pela gestão do MAM. No encontro, Leão garantiu que as obras teriam “continuidade”. Do valor total, R$ 7, 7 milhões estão previstos para a segunda etapa, que inclui o restauro dos arcos criados pelo arquiteto Diógenes Rebouças na Avenida Contorno. “Este é o compromisso do governo estadual e será dada continuidade à preservação desse centro cultural que é referência das artes e da cultura, não somente para a Bahia, mas também para o Brasil”, afirmou Leão, segundo texto divulgado pela Secretaria de Cultura. Até agora, a promessa não foi materializada.

A Muito procurou João Carlos Oliveira para uma entrevista sobre a reforma no museu. O gestor solicitou que a reportagem aguardasse por “quinze dias” e informou, por meio da assessoria de comunicação, que, do contrário, não teria “nada a dizer”. Nem mesmo o diretor do MAM, o artista visual Zivé Giudice, sabe quando as obras serão retomadas. Em sua sala no museu, com vista para uma janelinha que enquadra o mar, contou que isso aconteceria em “breve, breve”, afirmação que soava mais como um desejo. Quando é este breve? “Isso eu não sei”.

Em nota enviada por e-mail, a Secretaria de Cultura informou que “tem feito todos os esforços para assegurar a retomada das obras no MAM com a maior brevidade possível e trabalha para que isso aconteça ainda em 2017”.

Após o fechamento desta reportagem, o governo anunciou que as obras serão retomadas nesta semana

Desertificação

Assim que as “dificuldades de orçamento, de dinheiro” forem contornadas, Zivé conta que a prioridade é concluir os espaços cuja reforma já está mais avançada. Na galeria do cinema, a etapa da construção está terminada, mas falta mobiliário e ar-condicionado, diz. Outra urgência que encabeça sua lista é restabelecer a operação do restaurante, criando um “espaço de convivência”. “Aí acaba com essa desertificação do museu”.

Naturalmente esplendoroso, abrigado num solar do século 16 debruçado sobre a Baía de Todos-os-Santos, é preciso jogar muito contra para transformar o MAM num deserto, especialmente num momento em que os museus brasileiros passam por um processo de popularização. O problema não é só que as pessoas estejam ficando menos tempo por lá, por não terem onde tomar um café, como Zivé sugere. Muita gente simplesmente deixou de ir até o MAM.

Em 2015, 98 mil pessoas visitaram os espaços expositivos do museu. Em 2016, foram 85 mil. Os números não incluem os frequentadores da JAM no MAM, mas ainda assim assombram quando comparados às cerca de 50 mil pessoas que o museu costumava receber por mês – sim, por mês – no final da década de 1990, que o alçaram à posição de mais visitado do Brasil. À época, o espaço era dirigido pelo museólogo baiano Heitor Reis, que passou 16 anos no cargo e hoje está à frente do Brazil Golden Art, primeiro fundo de investimento de arte no país.

Por e-mail, Heitor contou que iniciou sua gestão no MAM justamente com uma “grande intervenção estrutural no local, com reforma e ampliação”. “Demos início a um projeto de gestão totalmente voltado à contemporaneidade, possibilitando que o MAM funcionasse como um grande centro cultural, abrangendo educação e ações de diversas linguagens artísticas. Estabelecemos uma sinergia única com a população, conquistando um reconhecimento nacional que levou o museu ao status de mais visitado do país por mais de uma década”. Apesar de não ter contado se segue acompanhando a situação do MAM, ele disse acreditar que a nova direção do museu tem “todas as condições para fazer uma boa gestão, possibilitando que o museu retome o protagonismo histórico que sempre teve no Brasil”.

Zivé, que voltou a dirigir o museu depois de ter pedido demissão do cargo em 2016, por discordar da decisão do Ipac que autorizou a gravação no MAM do programa Esquenta!, da TV Globo, conta que está fazendo um “esforço tremendo”, “se virando”, para “dizer para a sociedade que o museu está vivo”. Uma de suas primeiras ações foi promover um encontro com artistas para implementar o que chamou de “Estado Bienal”, já que, por falta de verbas, a quarta edição da Bienal Internacional de Artes Visuais da Bahia, que deveria ter ocorrido no ano passado, não foi realizada. Os objetivos da reunião eram um tanto vagos, dentre eles o de “criar um espaço que possa contribuir para informar e transformar o meio da arte”. Uma pequena mostra de mesmo nome foi aberta na Galeria 3, com obras de artistas como Caetano Dias, Juarez Paraíso e Sérgio Rabinovitz.

No galpão, as oficinas permanecem, ainda que de modo mais tímido, com o apoio de artistas “voluntários”, que, além de doar ensinamentos, muitas vezes também precisam arcar com materiais para as aulas. Aos domingos, volta e meia acontece o projeto “O MAM abraça as crianças”, com oficinas de pintura, desenho, colagens, bordado e modelagens com argila. Em caráter embrionário também há a ideia de o museu abrigar um “coletivo de arte aplicada”, formado por designers. As futuras exposições igualmente vagueiam no campo das ideias: um panorama sobre a fotografia baiana e uma mostra com obras de Miguel Rio Branco, ambos sem programação definida.

O feirense Caetano Dias foi um dos artistas convidados por Zivé para apoiar o MAM. “Ele está fazendo um trabalho fantástico de aproximação com a comunidade, com novos artistas, e tudo isso sem recurso algum”. Para Caetano, o museu vive um momento crucial, em que “avança ou morre”. “Faço um pedido de socorro ao governo para que cuide da cultura baiana. O MAM precisa retomar sua missão de estimular políticas públicas para as artes visuais e dar visibilidade à produção dos artistas. Precisamos de um lugar em que as políticas para a cultura sejam discutidas de forma efetiva, plural, democrática, republicana. Afinal, a Bahia é a matriz da cultura brasileira. Isso não pode desaparecer”.

As conversas em torno da reforma do MAM intensificaram-se na gestão da artista visual Stella Carrozzo, que esteve à frente do museu entre 2010 e 2012. Ela conta que, na época, cada coordenador discutiu o projeto original com seu respectivo núcleo e encaminhou solicitações ao Ipac. “O problema era a situação que o MAM e outros museus já viviam há, pelo menos, dois anos, quando da decisão: contenção sistemática para um repentino aporte de verba tão significativo para a reforma”, lembrou de Buenos Aires, onde está fazendo mestrado em curadoria em artes visuais.

Antes do início das obras, Stella foi demitida e publicou uma carta aberta na qual contou como foi surpreendida com o anúncio da reforma. “Soube, há somente uma semana atrás, que a reforma do MAM-BA seria realizada em 2013, quando já tinha organizado todo o calendário expositivo do museu, inclusive com instituições estrangeiras e artistas convidados, o que vai gerar inúmeros transtornos para todos os envolvidos, reiterando um aspecto de informalidade e de pouco profissionalismo, contra o qual sempre lutamos”, escreveu na ocasião.

Para Stella, a reforma era e continua sendo necessária, mas deve “terminar já”. “É inaceitável e inacreditável que um museu como o MAM-BA permaneça no estado em que se encontra. É uma pena que a população não se manifeste publicamente”.

Falta de pessoal

Além de perder relevância no cenário nacional, o protagonismo do MAM está sendo esvaziado até mesmo na cena estadual. Nanci Novais, diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, conta que os alunos da EBA estão deixando de ter o museu como referência. “Antes, eles tinham o sonho de participar dos Salões de Artes Visuais, das grandes exposições que o museu abrigava, além de ser um espaço onde tinham a oportunidade de ver obras de artistas importantes de fora. É um prejuízo grande que o MAM esteja nesta situação. É tão triste que a gente fica até sem acreditar”.

Para expor trabalhos fora da escola, acabam buscando parcerias com o Palacete das Artes ou o Museu de Arte da Bahia, conta Nanci. Recentemente, ela visitou o MAM para conversar com Zivé e buscar caminhos de como a universidade pode se aproximar do museu. Nanci lembra que os problemas vão além da perenidade da reforma. Faltam materiais básicos para as oficinas – um dos pilares do projeto original de Lina Bo Bardi era justamente fazer do MAM um museu-escola – e pessoal para garantir o pleno funcionamento das atividades. Cerca de 60 funcionários contratados por meio de regime especial de direito administrativo (Reda) foram dispensados, entre técnicos, monitores, faxineiros e vigilantes.

Em julho, Nanci fez a curadoria da exposição Radiografia Urbana III, dos artistas alagoanos Vera Gamma e Rogério Gomes, que ocorreu no MAM. Ela conta que o processo de montagem da mostra foi “uma coisa chata, assim”, porque o museu não tinha pessoal nem para apoiar a divulgação. “Os artistas fizeram a exposição em todo o Brasil e aqui foi desse modo. Não tinha nem como explicar para eles...”.

Estado “terminal”

A Bahia perdeu exposições de Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro e de artistas do acervo da Fundação Edson Queiroz por causa da precariedade das instalações do Museu de Arte Moderna da Bahia. Essas mostras foram apenas algumas das que chegaram ao conhecimento do galerista Paulo Darzé. “Todos querem expor no MAM, oferecem as mostras, mas como é que faz? O museu não tem verba, não tem transporte, não tem segurança nenhuma. E nós estamos falando de obras caríssimas”.

Para o galerista, não dá para classificar o lugar que o MAM ocupa hoje entre os museus brasileiros. “Já foi o mais importante do Norte e Nordeste e o terceiro do Brasil. Hoje, não ocupa lugar algum. Não há exposições de vulto. O museu saiu do circuito nacional. Abriu mão do Salão de Artes Visuais, que era o mais importante do país, para embarcar numa Bienal que não mostrou a que veio. E agora se diz que o museu está em Estado Bienal. Está em estado terminal”.

Stella está pouco esperançosa de que essa situação mude a curto prazo. “Nas condições em que não só o MAM, como qualquer outro museu estadual vêm operando, é muito difícil exigir ou esperar uma atuação significativa no cenário estadual e nacional. Na verdade, não vejo na Bahia uma política cultural pública estabelecida, efetivamente preocupada com a democratização do acesso e produção das artes visuais, que viabilize projetos que funcionem a médio e longo prazos, e não com imediatismos”.

Muitos artistas e gestores culturais defendem que o MAM volte a ser gerido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, que tem como missão promover as linguagens artísticas, e não mais pelo Ipac, responsável pelo patrimônio material e imaterial. De todo modo, a mudança burocrática talvez não tivesse muitos efeitos práticos quando se trata de maior aporte de verbas e de uma gestão que esteja acima de descontinuidades políticas. Neste sentido, discute-se, há mais de 10 anos, a criação de uma associação de amigos do MAM, que administraria o local em parceria com órgãos públicos, como acontece nos principais museus do país e do mundo. Um estatuto da associação chegou a ser finalizado, mas o projeto não saiu do papel. Nascido como um museu voltado à comunidade, é hora de a comunidade voltar-se ao museu.

Posted by Patricia Canetti at 2:54 PM

dezembro 4, 2017

"Onde mora a arte?" por Luiz Camillo Osorio, Prêmio Pipa

"Onde mora a arte?"

Texto de Luiz Camillo Osorio originalmente publicado no Prêmio Pipa em 1 de dezemrbo de 2017.

Em um momento em que tudo se torna mercadoria e a prática artística é cada vez mais institucionalizada – vide a proliferação de feiras de arte mundo afora – onde mora a arte? A pergunta guia Luiz Camillo Osorio em mais um texto crítico exclusivo para o Prêmio PIPA. Com ares de cronista, o curador do Instituto PIPA traça um paralelo entre as experiências de Adelzon Alves, figura fundamental do samba carioca, e Janet Kim, criadora do espaço Tiny Creatures, em Los Angeles, que criaram, cada um a seu modo, uma “morada” para a arte.

Este título é uma tradução livre de um livro da escritora e teórica Chris Kraus – Where art belongs. Deixá-la na forma de pergunta faz justiça ao espírito do livro e nos obriga a alguma atenção diante do risco de determinação conceitual. Em hipótese alguma o objetivo é o de fixar esta morada, ou seja, definir o que seja arte para em seguida excluir tudo aquilo que não se encaixa no conceito. Formular a pergunta e procurar por esta morada é buscar localizar um tipo de relação, sempre contingente, entre processos de criação, formas de sentimento e territórios institucionais. Os canais de circulação da arte são muitas vezes inesperados, deslocando as fronteiras institucionais e pondo em movimento a imaginação e o pensamento. A articulação entre surpresa e intensidade faz deste lugar da arte, onde ela irrompe e se apresenta, um lugar em que queremos estar mesmo sabendo que ele é efêmero.

A crescente mercantilização da vida tende a reduzir as expectativas do acontecimento poético, nivelando tudo pelo valor monetário e restringindo a circulação do que não se encaixa aí dentro. As feiras de arte são o espaço por excelência deste nivelamento. É tudo excessivo e previsível – o que esvazia a surpresa e a intensidade apontadas acima. Nada contra as feiras, elas cumprem seu papel. O problema é quando começam a se tornar paradigma, ou seja, querem ir além do comércio e virar espaço de arte. O excesso e a previsibilidade acabam disseminando-se institucionalmente. Este não é um problema atual. Instituir sempre foi tornar previsível; já o excesso é típico do espírito neurótico do nosso tempo. Assim somos obrigados a olhar para fora das instituições artísticas para procurar a poesia (surpresa) e a força estética (intensidade) que ali tendem a se acomodar. Obviamente que olhar para fora não exclui olhar para dentro, afinal estamos todos dentro procurando espaço de respiração.

No dia em que recebi pelo correio o livro de Chris Kraus encontrei o fotógrafo e DJ Maurício Valadares. Isso é uma coincidência relevante só para este artigo. Tomamos uma cerveja e ele me disse: – “não perca meu programa na rádio globo hoje à noite: entrevistei o Adelzon Alves!” Confesso a minha ignorância, desconhecia o Adelzon. Todavia, se o Maurício entrevistou e estava entusiasmado, devia ser bom. Há uns 35 anos, desde o The Smiths em 1982, na memorável rádio Fluminense, Maurício só me apresenta o que interessa. Este senhor, o Adelzon, por sua vez, fiquei sabendo na conversa, passa as madrugadas, desde a década de 1960, tocando e apresentando no rádio novidades do samba que agregam pessoas nas periferias. Foram histórias e mais histórias contadas com graça.

O cara que apresentou Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Clara Nunes, entre tantos outros, segue ainda garimpando música, fazendo suas “curadorias na madrugada”, indo de ônibus para a rádio nacional e vivendo pacatamente na zona oeste. Seu programa, quando era na rádio globo, estava sempre de portas abertas e os músicos saíam da Lapa e davam uma passada na Rua do Russell para uma canja. O desconhecido tinha 15 minutos de fama, mas a fama é o que menos interessava. Fazer música e difundi-la era e é a razão do seu programa. Sua existência é determinante para que exista um público, um espaço de troca, de conversa, ou seja, uma morada, entre outras, para a música popular. O ouvido e o programa de Adelzon são de uma generosidade que não cabem no mundo atual. Quer produzir encontros entre músicos e fazer de um programa no rádio um lugar para se estar no seu tempo e em outros tempos simultaneamente, para ouvir o que não se ouve normalmente e para nos tirar da lógica do consumo musical.

Algo parecido, apesar de todas as diferenças, aparece no primeiro capítulo do livro Where art belongs. Trata-se de uma apresentação do espaço alternativo de arte Tiny Creatures que funcionou em Los Angeles entre 2006 e 2009. Criado pela artista e musicista Janet Kim, a ideia era ter um lugar para juntar as pessoas e mostrar seus trabalhos. Tendo ido morar em um armazém na área de Echo Park em Los Angeles, fixou-se nos fundos e deixou amplo ambiente para os encontros. De início iam apenas amigos da cena underground local. A maioria músicos e artistas plásticos, todos saindo da universidade, pulando de trabalho em trabalho, buscando seguir fazendo coisas.

O que interessa na descrição de Chris Kraus é sua atenção para o espírito que mobilizava a criação do Tiny Creatures e como (não) lidar com o eventual sucesso. Nas primeiras apresentações, só amigos, tudo feito no improviso e na paixão – que se manifestava no desejo de fazer acontecer algo. “Tiny creatures is a desire to find a way to live our own way, to have a sense of community, to see each other while on earth, to share our lives, our pains, our talents, our thoughts, to capture a moment in time that will be lost or forgotten, and to package it with beauty, love, pain, and all that we can feel as humans”, escreveu Janet Kim no manifesto de 2007.

Desentendimentos e não profissionalismo marcaram este espaço nesses breves três anos. Sucesso também. Logo no final do primeiro ano de funcionamento havia uma espécie de frenesi, como nas festas da Factory de Warhol nos anos 60. Junkies, jetset, curadores e desocupados lotavam o lugar e movimentavam a redondeza. O Tiny ficara grande. Ou seja, era hora de acabar. Em 2009, no auge do sucesso, foi feito um manifesto de encerramento e uma finissagem. Não era essa a ideia que o fez existir – os amigos não mais se encontravam, música e exposição viravam obrigação e a arte, enquanto acontecimento que abre lugar para a surpresa e a intensidade, acomodava-se e virava objeto de mercado.

Perguntada em uma entrevista o que seria de Tiny Creatures depois do encerramento, Janet Kim foi precisa: “being a Tiny Creature as a tiny creature is. Ears and eyes. Surfing. Getting back into John Cage, Xenakis. Details. Concocting some sort of new drug. Embracing”. O acolhimento de formas abertas de produção poética se faz cada vez mais necessária em um mundo onde tudo é regrado e determinado. Esta abertura é desinteressada no sentido genuíno de uma procura por algo que não sabemos e nem podemos determinar a priori, mas que advém inesperadamente quando há atenção e disponibilidade. Sem isso há muita vontade de arte, só que sem arte. Resumindo pelo avesso: não sabemos exatamente onde mora a arte, mas percebemos quando ela deixa de estar presente. Que figuras como Adelzon Alves e Janet Kim, tão diferentes entre si, sigam buscando abrigá-la: na madrugada, nos detalhes.

Luiz Camillo Osorio é curador do Instituto PIPA, conselheiro e um dos idealizadores do Prêmio. É professor e atual diretor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio. Foi curador do MAM-Rio entre 2009 e 2015.

Posted by Patricia Canetti at 6:25 PM