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Como atiçar a brasa

 


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fevereiro 25, 2015

Responsas por Fred Coelho, O Globo

Responsas

Coluna de Fred Coelho originalmente publicada no jornal O Globo, Segundo Caderno, em em 25 de fevereiro de 2015.

O que fazer numa coluna de jornal? Investir na neutralidade do discurso crítico ou encampar a revolta alheia e tornar-se uma caixa de ressonância?

Quem gosta de literatura sabe que o escritor e o leitor ocupam o mesmo lugar na hierarquia do texto. Ainda que o primeiro exiba uma força maior de visibilidade (o leitor é, em tese, anônimo na hora da leitura), sem o segundo ele simplesmente vaga solitário no deserto das palavras. Aos que leem, cabe a libertação da escrita em direção aos múltiplos sentidos que ela pode e deve oferecer ao mundo.

O fato é que, quando se escreve uma coluna semanal de opinião, seu texto pode assumir um tom de autoridade ou, quiçá, autoritário. Essa assertividade na escrita gera na leitura uma confirmação de informações prévias que já existem no imaginário do leitor. O texto, assim, perde sua força in/formativa e apenas ratifica certezas na operação de leitura-escrita. Assumimos as palavras do colunista como suas ou contra as suas.

A demanda pela palavra crítica cresce na amplidão contemporânea de espaços distribuídos em redes para milhares de vozes. Se temos a vastidão da internet para mantermos compulsivas conversas comunitárias e para nos informar além das manchetes repetidas dos jornais, sabemos que são poucos os que conseguem efetivamente serem lidos de forma massiva. O recalque do discurso público (e crítico) em suas múltiplas vertentes de reflexão, gosto ou ação, é uma questão central dos nossos tempos. Se em 1967 a pergunta era “quem lê tanta notícia”, hoje nos perguntamos “por que lemos tanto as mesmas notícias”.

Talvez o principal desafio seja entender como lidar com a variedade de olhares e temas possíveis de serem abordados quando se escreve para um público leitor sem rosto, sem centro, sem ponto de convergência. O que fazer: investir na neutralidade do discurso crítico? Encampar a revolta alheia e tornar-se uma caixa de ressonância? Seduzir pela palavra prosaica e camarada? Ou abrir mão de tudo e propagar seu próprio imaginário caótico sobre as coisas? Hoje, todas as opções acima ainda são poucas.

Sabemos que uma coluna de opinião em um caderno de cultura pode e deve trafegar livremente pelo presente e a memória, pelo fato e a ficção, pela urgência pública e os desequilíbrios privados. Afinal, como nos ensinam os manuais, geralmente o crítico fala mais dele mesmo do que do tema escolhido. Portanto, não há texto suficientemente neutro para se afastar dos dramas concretos da vida, nem suficientemente autobiográfico para escapar da ficção e do delírio.

Na longa tradição brasileira de colunistas, alguns conseguiram atingir o ponto exato entre falar de si mesmo e de sua geografia pessoal ao mesmo tempo em que falam do mundo. Não se trata de fazer psicologia coletiva, nem de achar que sua vida é exemplar para os demais. Trata-se de entender que todos os eventos que ocorrem em sociedade, dos mais corriqueiros aos mais complexos, trazem o dado coletivo do humano. Até mesmo o nosso atualmente propagado fim nos mostra isso. Ao que tudo indica, seremos os responsáveis diretos pelo extermínio de nós mesmos. Não adianta mais aguardarmos um evento externo como um cometa, um asteroide, um óvni sequestrando você durante o carnaval ou um dilúvio universal. O apocalipse “é nós”.

Vale avisar que esta coluna terá algumas práticas constantes: falar do que ocorre nas ruas da cidade, fortalecer o novo, cruzar assuntos do presente com o nosso arquivo cultural, circular leituras, audições, visões e hesitações críticas. Confesso logo que nunca terei certeza absoluta sobre os assuntos propostos. Sigo à risca o ensinamento do poeta e acredito que o pensamento, como o mundo, é um moinho. O espaço será utilizado toda semana, portanto, para ensaiar hipóteses, arriscar caminhos e cair em abismos.

O último ponto fundamental para abrir a estrada sinuosa que esta coluna inicia é o compromisso de, sempre que possível, fazer do texto uma usina de força para o que estimula a alteridade de ideias, espaços e discursos. Como diz o profeta urbano e mente sagaz BNegão, há de se viver ligado “enquanto a ignorância cresce, enquanto o gelo se derrete, enquanto a vida se repete”. Esse é o proceder, esse é o caminhar. Tarefas construtivas são urgentes, mesmo que, às vezes, soem negativas. Quem vive nas redes sociais sabe que não faltam espaços para expressarmos todo nosso som e fúria sobre as coisas do mundo. Encontrar a medida exata entre a raiva e a esperança pode parecer inócuo, mas é um princípio prático que vale a pena experimentar.

Uma coluna em um jornal de grande circulação é, enfim, uma imensa responsabilidade nos dias de hoje — para quem escreve, mas também para quem lê. Ela pode abrir feridas ou abrir as mentes. Escolho a segunda opção, mesmo sabendo que a positividade sobre as coisas da vida não nos exime do gosto ácido dos seus dissabores. Aumente o som, empurre os móveis, abra os sentidos e vamos nessa. O que é certo é sem caô.

Posted by Patricia Canetti at 9:08 PM