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Como atiçar a brasa

 


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novembro 28, 2007

Entrando na discussão e procurando outras direções por Luiz Camillo Osorio

Entrando na discussão e procurando outras direções

LUIZ CAMILLO OSORIO

Resposta à discussão iniciada pelos artigos "É de fama e dinheiro que se trata a arte?" de Luciano Trigo, publicado na Folha de S. Paulo, na Ilustrada, em 19 de novembro de 2007, e "É do mundo que a arte trata", de Moacir dos Anjos (Como atiçar a Brasa 20/11 e Ilustrada 28/11).

Leia também os artigos:
Paranóia ou Mistificação? de Marcos Augusto Gonçalves (Folha de S. Paulo, Ilustrada, 22/11)
A maior violência contra a arte é querer falar dela sem ela de Laura Vinci (Folha de S. Paulo, Ilustrada 28/11)
Resposta da artista Débora Bolsoni (Máquina de Escrever, 27/11)
Idéias fora do tempo, tréplica de Luciano Trigo (Folha de S. Paulo, Ilustrada, 01/12)
Arte e Fla x Flus de Daniela Labra (Como atiçar a brasa, 06/12)

Estas polêmicas sobre arte contemporânea são uma armadilha: elas nos seduzem para entrarmos nela, mas a tendência é ficarmos presos nas picuinhas e miudezas. Na correria dos afazeres, o mais fácil é deixar rolar e virar a página. Por outro lado, furtar-se à discussão é um risco cada vez mais perigoso em uma época despolitizada e sem nenhum apreço pelo debate público. Vamos lá.

A discussão proposta pelo jornalista Luciano Trigo em seu artigo na Folha de São Paulo poderia ter sido mais bem encaminhada. A crise da arte e da crítica, do ponto de vista de sua repercussão pública, é real e deve ser discutida, desde que tratada sem o ranço habitual que fica sempre saudoso dos velhos tempos. Quando, aparentemente, todos sabiam o que era arte, como avaliá-la corretamente, e estava tudo sob controle. Creio que a resposta de Moacir dos Anjos - publicada no Canal Contemporâneo - a este artigo pontua com precisão as tensões inerentes e a complexidade do processo de constituição de valor na arte contemporânea. O mercado está por toda parte. Não cabe recusá-lo a esta altura do campeonato. Nele tudo se resume ao valor de troca, dinheiro: vende-se uma obra, compra-se uma outra e ainda faz-se, eventualmente, um troco. Temos que poder pensar também em outro registro. A qualidade da arte, discutível e sempre problemática, não tem valor neste sentido, ela é singular, pois não cabe trocar a qualidade de um Cézanne pela de um Picasso, de um Artur Barrio por um José Damasceno. E não tem troco na história.

Nestas críticas mais ácidas à arte contemporânea há sempre uma tendência perversa à generalização. Toma-se uma obra qualquer e ela passa a servir como regra geral. Será que esta tensão entre arte e público é coisa recente? Será que vivemos uma época em que a ausência de críticos severos é responsável pela proliferação de obras banais? Será que é só a arte que vive hoje uma crise? Não há uma crise maior, que engloba a política, a ética, os valores de um modo geral? Não seria esta crise, uma vez assumida e pensada de modo mais intenso e generoso, a própria condição de se inventarem novas formas de arte, de política e de vida? Ao lermos, por exemplo, as críticas escritas por Diderot ou Baudelaire, percebemos que a grande maioria dos artistas por eles comentados foi para o ralo e isso, naturalmente, não implica dizer que toda a arte dos séculos XVIII e XIX seja descartável. Nem, tampouco, que eles sejam maus críticos. Baudelaire fundou a crítica moderna, pautada, justamente, na impossibilidade de se definir a priori o que seja arte, transformando esta ausência de critérios não no oba-oba relativista, mas na responsabilidade do gosto e da argumentação.

O diagnóstico apresentado por Trigo - de que há um descompasso entre a ausência de critérios sobre o que seja arte (e boa arte, por suposto) e as cifras apresentadas por um mercado cada vez mais inflacionado - seria relevante se tratado de forma menos preconceituosa. Digo preconceituosa, pois mesmo não assumindo a desqualificação de nenhuma obra em particular - fazendo-o através de Gullar e Afonso Romano - ele assume um conluio mesquinho entre curadores, artistas e galeristas, que só pensariam em fama e grana, retirando a relevância, assim, da própria crise e do espaço que aí existe para uma discussão mais alargada. No fundo, a tese é de que a arte desinteressou-se pelo mundo e pela crítica virando uma enganação generalizada com status de coisa chique. Muito me estranhou ele só ouvir e citar os críticos reativos à cena contemporânea e não perceber que o problema de uma crítica militante hoje, não é da crítica, mas do próprio sentido de militância. Outro dia li uma tese de doutorado sobre a crítica de Sábato Magaldi entre 1950 e 1952, no Diário Carioca do Rio de Janeiro. Ele escrevia uma crítica por dia! Várias sobre o mesmo espetáculo e tendo mais uma quantidade de outros críticos escrevendo para vários outros jornais da cidade. Não mudou só a crítica, mudou o jornal. Todavia, é necessário também percebermos que a crítica buscou outros espaços de atuação - seja na universidade, seja nas curadorias, seja nos blogs.

Esta história de que a arte contemporânea teria virado as costas para o mundo tem geralmente um tom nostálgico muito chato. Como eram interessantes as vanguardas! Como se esta não fosse uma acusação básica contra elas, ou seja, contra a melhor arte moderna. O ponto é que é da natureza do novo não aderir aos sentidos dados e convencionais; esta é, ao mesmo tempo, a precariedade e a força da Arte - e do juízo crítico - nos últimos 150 anos. Não será recusando-se esta precariedade e reclamando por certezas críticas e critérios objetivos, que a desorientação iria se acalmar. Pelo contrário, a nostalgia de um saber instituído, onde a fronteira entre arte e não-arte estava definida - por convenções, habilidades técnicas, meios de expressão específicos - acaba indisponibilizando o ajuizamento e pondo em risco a própria potência poética e sua indecidibilidade. Na verdade, só se julga quando não se sabe; além disso, não se julga para normatizar, mas para produzir diferenças e dissonâncias, sempre salutares para as múltiplas possibilidades de sentido e formas de ser da arte e do mundo.

Quanto ao que acho do artista que matou o cão e do Sterlac? Pelas descrições, não gosto. O primeiro é cruel, ou melhor, covarde e sua proposição não parece ir muito além disso. Sterlac pode ser mais interessante, todavia, acho-o, geralmente, muito preso ao real, fascinado pela manipulação generalizada do corpo e da natureza. Todavia, prefiro ver as obras antes e não me pautar pelas descrições alheias.

Luiz Camillo Osorio
Crítico de arte e Professor de Estética e História da Arte da Unirio.

Posted by Patricia Canetti at 1:12 PM