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Como atiçar a brasa

 


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maio 4, 2015

Rosana Palazyan exibe na Bienal de Veneza obra sobre o genocídio armênio em 1915 por Nani Rubin, O Globo

Rosana Palazyan exibe na Bienal de Veneza obra sobre o genocídio armênio em 1915

Matéria de Nani Rubin originalmente publicada no jornal O Globo em 1 de maio de 2015.

A artista carioca relembra, no Pavilhão da Armênia, tragédia da qual seus avós foram sobreviventes

RIO — A artista carioca Rosana Palazyan sempre teve temas urgentes a tratar em seus trabalhos. Falou da violência policial em “Hóstias” (1994), dos sonhos de adolescentes em confronto com a lei em instalações como “...um pedido para a estrela cadente” e “...uma história que você nunca mais esqueceu?” (2002), dos anseios de moradores de rua em “O realejo” (2010). Tantas e tão prementes eram as questões que envolviam a artista em seu cotidiano no Rio — exclusão, violência doméstica — que ela nunca se sentira à vontade para abordar uma outra história, real e contundente como todas essas, mas de cunho biográfico: o genocídio armênio ocorrido em 1915.

Mas uma série de fatores convergiram para que, na Bienal de Veneza, que será aberta ao público no dia 9 de maio, figure um trabalho de Rosana sobre esse tema: a videoinstação “...Uma história que eu nunca esqueci...”, uma das duas obras da artista incluídas na exposição “Armenity”, do Pavilhão da Armênia. A mostra homenageia os 100 anos do genocídio, e tem como subtítulo “Artistas contemporâneos da diáspora armênia”. A carioca nascida há 51 anos no Engenho de Dentro é um dos 18 artistas convidados, de países como Estados Unidos, Grécia, Bélgica e Líbano. Como os outros, faz parte da terceira geração, os netos dos que sobreviveram ao massacre perpetrado pelo Império Otomano na gigantesca e compulsória marcha para tirar os armênios da atual Turquia.

— Nunca tive chance de pensar nessa história e nunca me senti à vontade no Brasil para falar disso. Porque aqui a gente está sempre tão rodeada de casos de violência, de exclusão social, essas coisas é que me envolviam — conta ela.

UM LENÇO COMO FIO CONDUTOR

A chave que a fez abrir o baú dolorido das memórias da família veio em 2013, com um convite da curadora Adelina von Fürstenberg para participar da Bienal de Thessaloniki, na Grécia. Nascida em Istambul, de origem armênia e radicada na Suíça, Adelina conhecera o trabalho da artista em 2007, quando organizou no Sesc, em São Paulo, a exposição “Mulher, mulheres — Um olhar sobre o feminino na arte contemporânea”. Assim que aceitou o convite, Rosana, como de hábito, começou a pesquisar a cidade onde iria expor:

— Sabia que a família da minha avó materna, Noemi, tinha se refugiado na Grécia, mas não onde era, exatamente. Sabia que ela fora acolhida por uma organização, uma espécie de Cruz Vermelha, a Armenian General Benevolent Union, AGBU, onde aprendeu a bordar muito menina e deu aulas de bordado para sobreviver. Minha mãe tinha foto dela com a turma de bordado.

Santo Google. À busca “armenian refugees in Greece” e “embroidery workshop”, começaram a aparecer muitas fotos, entre elas a que sua avó guardara por tantos anos, com a legenda que situava o local: Thessaloniki, a mesma Salônica de que a mãe de Rosana, incitada pela pesquisa da filha, agora se lembrava — “Fiquei arrepiada, chapada, perturbada com tudo isso”, conta Rosana, que escreveu imediatamente para a curadora, propondo o trabalho.

— Mas eu não queria fazer algo focado na minha história, queria ampliar isso. Tem uma passagem de tempo desde o genocídio até a minha avó chegar aqui, formar a família dela. O que costura tudo é um lencinho que ela bordou nesse ateliê, e que percorre todo o vídeo.

O lencinho de Noemi aparece primeiro como a capa de um livrinho, onde a história é contada. Para o vídeo, Rosana criou uma série de trabalhos, em diferentes materiais. Os primeiros usam a mancha de café derramado sobre tecido, uma alusão às amigas da avó, que liam o destino de cada um na borra do café:

— Eu achava meio cafona, ria disso. Todas as previsões eram parecidas, “você vai fazer uma viagem...”. Mas ficou forte na minha cabeça, então aparece ali como se fosse o destino daquelas pessoas.

A imagem principal desta série, da marcha, foi feita a partir de uma fotografia. Outra série de trabalhos foi criada a partir de narrativas que a artista leu ou ouviu, ilustrando-as sobre hóstias da igreja ortodoxa armênia. São imagens de pessoas penduradas pelos pés, de uma mãe que teve o filho arrancado do ventre, desenhadas numa mistura de farinha com água.

— São muito pesadas. As mulheres eram estupradas na frente das crianças. E é parecido com o que a gente conhece daqui e do mundo. São fatos que seguem acontecendo. As pessoas me perguntam como consigo fazer isso. Na hora quero simplesmente fazer. Depois não consigo mais olhar. Agora, por exemplo, já fico mais nervosa — diz ela, ao exibir o vídeo num tablet.

ERVAS DANINHAS COMPÕEM SEGUNDA OBRA

Um terceiro grupo de trabalhos é composto por desenhos com bordados que mostram o percurso da avó, a partir de relatos esparsos — de criança, na terra natal, à passagem pela Grécia, onde conheceu o avô de Rosana, também refugiado, até a vinda de ambos para o Brasil, quando o lencinho reaparece, na forma de um barquinho de papel que cruza o oceano até aportar no Rio de Janeiro. Os avós paternos também nasceram lá (“Meu pai contava que meu avô, ferroviário, passou perto de um monte de corpos e viu minha avó se mexendo sob eles; ela estava viva, e ela a levou para cuidar dela”).

Rosana não conheceu os avós paternos. Já Noemi, mãe de sua mãe, era muito próxima.

— Minha avó tomava conta de mim bordando. Sempre quis me ensinar a bordar, e eu dizia que não, porque seria uma mulher contemporânea. A imagem da minha avó bordando me marcou. Mostrava as fotos da família, dos parentes, e chorava. Contava pouquíssima coisa. Por isso digo que esse trabalho é um quebra-cabeças — diz.

Inédito no Brasil, “...Uma história que eu nunca esqueci...” será exibido em Veneza ao lado de outra obra de Rosana, “Por que daninhas?”, que vem sendo realizada desde 2006. Ela recolhe ervas daninhas e as fixa entre duas peças de tecido transparente. Costura então fios de seu cabelo com frases bordadas como raízes. Aqui, eram de moradores de rua; lá, com temas como imigração e genocídio... Pesquisando, ela notou que a literatura sobre as plantas estava repleta de frases como “são indesejadas, precisam ser exterminadas”, que poderiam ser aplicadas a situações de exclusão social. O trabalho ficará no Monastério Mekitarista, importante centro de estudos da cultura armênia, na Ilha de São Lázaro. Na segunda, véspera da viagem a Veneza, a artista teve mais uma revelação: soube que seu pai, Hacik, nascido na Turquia, teria ido para a Itália, estudar num mosteiro — e é grande a chance de ser este onde ela vai expor.

Posted by Patricia Canetti at 3:01 PM