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março 19, 2012

O empresário brasileiro que gasta US$ 70 milhões ao ano para ter um jardim de arte por Simon Romero, portal eletrônico Cenário MT

O empresário brasileiro que gasta US$ 70 milhões ao ano para ter um jardim de arte

Matéria de Simon Romero originalmente publicada no caderno de Economia do portal eletrônico CenárioMT em 19 de março de 2012.

O magnata da mineração Bernardo Paz emprega mais de mil pessoas no projeto que mantém no interior de Minas Gerais e que, diz ele, vai durar mil anos

Não é de admirar que Bernardo Paz seja conhecido como o "Imperador do Inhotim". Cerca de mil funcionários, incluindo curadores, botânicos e derramadores de concreto, fervilham em torno de Inhotim, o complexo de arte contemporânea de Paz, situado nas montanhas do sudeste do Brasil, no Estado de Minas Gerais. Peregrinos que viajam por todo o mundo em busca de arte absorvem obras surpreendentes, como "Sonic Pavilion" ("Pavilhão Sônico"), de Doug Aitken, que utiliza microfones de alta sensibilidade colocados em um buraco de 192 metros para captar o murmúrio grave das profundezas do interior da Terra.

Parece que as florestas de eucalipto de Inhotim emanam um cheiro de megalomania. Ali, Paz colocou mais de 500 obras de artistas brasileiros e estrangeiros. Seu jardim botânico contém mais de 1.400 espécies de palmeiras. Ele resplandece ao falar das plantas raras e oníricas de Inhotim, como a titun arum de Sumatra, chamada de "flor-cadáver" devido ao seu horrível mau cheiro.

Paz, um magro magnata da mineração, fumante inveterado de 61 anos, fala em forma de sussurros quase inaudíveis. Ele se casou com sua sexta mulher em outubro. Tem cabelos brancos até os ombros e olhos azuis pálidos, que lhe dão uma aparência que lembra o debochado e esquelético fazendeiro brasileiro interpretado por Klaus Kinski no filme "Cobra Verde", de 1987, assinado pelo diretor Werner Herzog.

"Este é um projeto para durar mil anos", disse Paz sobre Inhotim, numa rara entrevista, com um cigarro Dunhill pendendo nos lábios.

É difícil dizer o que as pessoas poderão pensar de Inhotim daqui a séculos. Algumas obras-primas de momentos importantes da arte no Brasil ainda sobrevivem como testemunho da extravagância do passado, como o célebre teatro de ópera construído no auge do ciclo da borracha no final do século XIX, em Manaus, a maior cidade da Amazônia.

Em outros lugares da América Latina, majestosas coleções particulares de arte contemporânea também foram disponibilizadas ao público, como a Jumex, de Eugenio Lopez, na Cidade do México. E muito mais longe, no arquipélago Seto, no mar interior do Japão, o Benesse Art Site mistura, de modo semelhante, uma arquitetura inovadora com a arte contemporânea.

Mas nenhum desses lugares tem a exuberância do clima quente de Inhotim, situado nas colinas marcadas pelas cicatrizes da mineração, longe dos circuitos de colecionadores do Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os historiadores de arte e curadores muitas vezes saem maravilhados com a dimensão e a visão caótica que Paz criou em Inhotim.

"A quantidade de espaço concedido a projetos de artistas individuais é incomparável, como a maneira como os visitantes transitam de um prédio a outro, refrescando os sentidos, estando na natureza", disse Beverly Adams, autoridade em arte latino-americana que é curadora da coleção particular de Diane e Bruce Halley em Scottsdale, Arizona.

Parece que sobrecarregar os sentidos dos conhecedores ainda entusiasma Paz, que abandonou a escola no ensino secundário e teve como primeira experiência de trabalho a operação das bombas de um posto de gasolina de propriedade de seu pai. Ele então trabalhou no mercado de ações em Belo Horizonte, que odiava, conforme contou, antes de entrar na mineração de ferro e forjar rapidamente um império empresarial privado que financia as operações de Inhotim.

Algumas obras de Inhotim parecem questionar, se não de fato insultar, a ideia de lucrar com a mineração dos tesouros da Terra. Por exemplo, uma instalação do artista americano Matthew Barney em um domo geodésico inclui uma cena de um crime ambiental inconfundível: um trator enorme coberto de lama segurando uma árvore e suas raízes. Para visitar essa obra, os visitantes visitam as colinas desmatadas, contendo minerais, da Mata Atlântica, floresta que cobria a região.

Inhotim recebeu cerca de 250 mil visitantes em 2011 e espera bem mais neste ano. Mas Paz, que diz que suas empresas fornecem a Inhotim cerca de US$ 60 a US$ 70 milhões para suas operações a cada ano, não vê necessidade de parar por aí.

A fim de tornar Inhotim autossustentável, ele disse que estava planejando construir nada menos que dez novos hotéis aqui para os visitantes, um anfiteatro para 15 mil pessoas e até mesmo um complexo de "lofts" para aqueles que quiserem viver em meio à coleção. Ele disse que Inhotim, que se espalha por quase 2.020 hectares, tem espaço para pelo menos mais duas mil obras de arte.

O crescimento de Inhotim ao longo da última década tem proporcionado um forte impulso à economia circundante, empregando muitos dos adultos residentes em pequenas cidades próximas como funcionários que atuam no local, tornando-os dependentes da visão de Paz de montar uma "Disneylândia" da arte contemporânea no Estado de Minas Gerais.

"Antes de Inhotim, os nossos homens trabalhavam nas minas ou se mudavam para São Paulo para ganhar dinheiro", disse Porfira de Souza, 74 anos, residente da pequena cidade de Marinhos, cujo filho e neto trabalham em Inhotim. "Deus permitiu que Bernardo Paz viesse do céu até nós, e rezo para que ele não o leve de volta muito em breve."

Ainda assim, Paz insistiu que não é um imperador. Ele se considera uma "pessoa isolada" que não tem muitos amigos de verdade e opta por viver em meio a centenas de obras de arte, incluindo um pavilhão construído por ele para uma de suas ex-esposas, a artista brasileira Adriana Varejão.

Sentado em um dos restaurantes de Inhotim em um dia abafado de fevereiro, ele bebeu rapidamente três coquetéis de vodca, murmurando sobre as maquinações dos banqueiros e a crise financeira global enquanto fumava seus Dunhills.

"Não ligue isso", disse ele, apontando para um gravador digital que estava sobre a mesa.

Um dia depois, em um prédio com ar-condicionado que incorporou "Narcissus Garden" ("Jardim de Narciso"), uma obra do artista japonês Yayoi Kusama, em sua concepção, ele parecia se divertir ao desprezar alguns outros titãs do empreendedorismo brasileiro, chamando-os de "imbecis" e alegando que os visitantes pobres de Inhotim muitas vezes são mais capazes de absorver a importância do complexo. Ele também tinha um desdém especial reservado para o homem mais rico do Brasil, Eike Batista.

"De repente, ele aparece com bilhões e bilhões, dizendo que vai ser o homem mais rico do mundo", disse ele sobre Batista, um empresário mineiro que recebe tratamento em grande parte elogioso na mídia local como um ídolo do crescente rol de milionários do Brasil. "Ele quebrou todas as empresas que teve até fazer 50 anos."

Paz também negou alegações publicadas nos jornais brasileiros de que a expansão de Inhotim se deveu em parte à lavagem de dinheiro, chamando tais acusações de uma "montanha de disparates e mentiras". "Claramente, ninguém é totalmente transparente", reconheceu. Ainda assim, afirmou: "Os jornais nunca provaram nada".

Por enquanto, ele parece mais preocupado em atrair as massas para Inhotim para que vejam obras como "Restore Now" ("Restaure agora"), uma enorme paródia de normas acadêmicas feita pelo artista suíço Thomas Hirschhorn, em que os textos de filósofos franceses, como Jacques Derrida e Gilles Deleuze (sim, os mesmos que muitas pessoas fingiam ler na faculdade) são intercalados com imagens de corpos mutilados.

Quando questionado sobre obras específicas, Paz habilmente muda a conversa para outros temas. Ele sorriu ao falar da nova esposa, Arystela Rosa, de 31 anos, grávida de seu sétimo filho. Outras coisas de Inhotim atraem seu interesse, como as enormes árvores tamboris ou a traíra, um peixe carnívoro das lagoas daqui que tira sangue de visitantes tolos o suficiente para mergulhar os dedos na água.

"Há obras de arte aqui que eu ainda não visitei e que todos me disseram que são espetaculares, mas por que eu deveria ir lá?", questionou Paz. "Eu não me considero apaixonado por arte. Mas de jardins, sim, eu gosto."

Posted by Guilherme Nicolau at 6:09 PM