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Como atiçar a brasa

 


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outubro 20, 2009

Tragédia e trauma por Márcio Doctors, O Globo

Matéria de Márcio Doctors originalmente publicada no segundo caderno do jornal O Globo em 20 de outubro de 2009.

Quando soube da tragédia que havia acontecido com a obra de Hélio Oiticica, estava em Porto alegre, na Bienal do MercoSul, durante o café da manhã do hotel. Vários artistas, diretores de museus, críticos, curadores e produtores estavam reunidos tomando o café da manhã juntos e fomos todos surpreendidos pela notícia e tomados pela perplexidade. Uma sensação de irrealidade: aquilo não poderia estar acontecendo! Não era verdade! De repente, de uma hora para outra, estávamos órfãos da obra do maior artista brasileiro do século XX. Não dava para acreditar.

A imagem da dor da perda de César Oiticica e de seu filho Cesinha não me saia da cabeça. Tampouco a frase enunciada por César Oiticica de que sentia que havia fracassado no seu objetivo maior que era de conservar e divulgar a obra do irmão não parava de repercutir dentro de mim. Ao mesmo tempo me veio a idéia de Édipo. Havia algo de edipiano nas circunstâncias que tramaram essa tragédia. Por mais que o Rei Laio tenha procurado evitar que a advertência do oráculo se realizasse, de que seria assassinado por seu próprio filho Édipo, ordenando a um empregado que abandonasse o recém-nascido até a morte; não conseguiu despistar a realidade porque o empregado não cumpriu sua ordem, entregando Édipo a estrangeiros que cuidaram da criança. Édipo salvo, volta adulto a Delfos, e por uma disputa pela prioridade de passagem num desfiladeiro estreito, mata Laio, ignorando que era seu pai.

O que me chama atenção no mito de Édipo é que, apesar de todas as precauções de Laio em evitar que acontecesse o que havia sido previsto pelo oráculo, ele não consegue evitar o anunciado através de sua ação e o que temia se realiza. Da mesma forma, apesar do enorme empenho da família Oiticica, através do projeto H.O. em lutar árdua e heroicamente, contra as adversidades e dificuldades em conservar e cercar de todos os cuidados e dar a dimensão que a obra de Hélio Oiticica necessita e merece, o objetivo não foi alcançado. O que se temia, aconteceu. Da mesma forma, mantendo a analogia com o mito de Édipo, Laio foi morto porque quem o poderia ajudar no seu intento, o traiu: a sociedade brasileira traiu a obra de Helio Oiticica e não foi verdadeiramente solidária e conseqüente no esforço de conservação que a obra requeria. É uma perda dolorosa e traumática. A elite financeira e o governo não foram suficientemente sensíveis e responsáveis para perceber a dimensão do que é cuidar de um bem cultural da importância da obra de Helio Oiticica e a abandonaram a sua própria sorte.

Outra analogia se tornou inevitável, já que me encontrava em Porto Alegre: essa é a única cidade que foi capaz de juntar os poderes público e privado para proteger de maneira profissional e conseqüente a obra de um artista; a de Iberê Camargo.O Museu Iberê Camargo é o resultado de um esforço coletivo de uma mentalidade pouco comum entre nós, de que a obra de um artista atravessa os limites de sua existência física e passa a ser o centro irradiador de uma presença espiritual capaz de influenciar e determinar a vida de uma comunidade e gerar riqueza capaz de realimentar a economia. A consciência da importância de conservar e patrimonializar o bem cultural está no fato de que ele é capaz de ser um farol que ilumina a direção material e espiritual de uma sociedade. Tanto isso é verdade, que Porto Alegre tem conseguido nos últimos anos se firmar como um centro de excelência em arte visuais do Brasil, tendo hoje além do Museu Iberê Camargo, a Bienal do MercoSul que se destaca pela sua qualidade e competência.

Na mesa do café da manhã, em meio a indignação coletiva, Ernesto Neto me disse que Hélio havia morrido duas vezes. Não temos como discordar. Mas diria que Hélio também nasceu duas vezes. Ou melhor, foi capaz de fundar duas vezes a arte brasileira, de maneira solar como sempre soube ser, iluminando os caminhos. Primeiro ao criar uma obra radical, vigorosa e lúcida, capaz de abrir a passagem para a internacionalização da arte brasileira. E agora, da mesma maneira radical, sua obra nos indica (reafirmando algo que todos sabemos e temos consciência, mas que somos impotentes na medida em que banalizamos a realidade) de que o manter é tão importante quanto o fazer ou o ter. E essa responsabilidade deve ser compartilhada por todos da sociedade, principalmente os que detêm o poder político e econômico. Infelizmente e com muita dor, a obra de Hélio Oiticica precisou ser radicalmente destruída, para nos lembrar a importância do cuidado que devemos ter com tudo na vida de uma sociedade. A destruição da obra do Hélio foi um preço muito alto a ser pago, mas tem a medida do descaso e da irresponsabilidade com que tratamos a nossa memória cultural. Hélio renasceu das chamas para refundar, através do trauma, aquilo que já sabemos: o “Brasil” não pode continuar maltratando o “Brasil”.

Marcio Doctors
Curador da Fundação Eva Klabin e do Espaço de Instalações do Museu do Açude



Posted by Cecília Bedê at 6:47 PM | Comentários(6)
Comments

sim, sim, estavam todos sensorialmente muito distantes de Helio...
concordo com tudo!
mas seu Magic Square - invenção da cor - no Museu do Açude está literalmente caindo aos pedaços!
será preciso que aconteçam as tragédias para que as gestões reivindiquem e consigam do poder público as verbas de manutenção das obras?

Posted by: fabiana eboli santos at outubro 21, 2009 4:13 PM

Bom dia Márcio


Você escreve bem, o que não é novidade nenhuma.

.............................................................................discordo de sua analogia
pois se o Iberê teve o que teve e tem em Porto Alegre é porque a sua obra é pic_
tórica e duvido caso não o fosse que a mesma tivesse sido preservada ou que tivesse
apoio de qualque setor da sociedade tipo construção de Museu/Fundação, etc. /Iberê
Camargo.

Entre a obra de Hélio Oiticica e a de Iberê Camargo há uma distância de vários anos luz,
digamos que a obra de Iberê situa-se na teoria de Ptolomeu enquanto que a de Hélio
Oiticica na teoria de Copérnico, essa é a diferença.

No fundo nós sabemos o que se passa na cabeça das pessoas,chorar sobre o leite
derramado tornou-se hábito, conhecemos muito bem a Reação do "meio" à obra de
Hélio Oiticica, aqui no B. / .................................................................................
...................................................................................................................
................................................................................................................. .

Como dizia Hélio,

"Da adversidade vivemos"



____________________________________________________________________________


O seu artigo/texto apesar de muito bem escrito e demonstrando conteudo erudito dá-me
a impressão de que você está de olho na proxima Bienal do MercoSul. Quem sabe o consiga
e torne-se o curador chefe. Boa sorte.

______________________________________________________________________________




A arte é efêmera. A idéia/idea/idéa/ideia fica.

Artur Barrio

Posted by: Artur Barrio at outubro 21, 2009 4:31 PM

ERRATA:

Leia-se Hélio Oiticica em vez de Hélio Oiticia.

Artur Barrio

Posted by: Artur Barrio at outubro 21, 2009 4:52 PM

Oi Barrio, corrigi or erros em Oiticica, estava me dando aflição.
obrigada pela errata e pelo comentário iluminado.

Posted by: Patricia Canetti at outubro 22, 2009 6:13 PM

Porque não conseguimos reivindicar? Por que somos tão passivos?

Depois da mobilização Contra-Guggenheim-Rio, nunca mais...

Posted by: Patricia Canetti at outubro 22, 2009 6:18 PM

"Pobre família Oiticica", vilanizar a "sociedade brasileira" e "Édipo/inexorabilidade"? Acho que não li direito...é, deve ter sido isso. Minhanossasenhora.

Posted by: Guy Blissett at novembro 5, 2009 1:24 AM
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