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outubro 6, 2009

Convite para a transgressão no templo da arte por Antonio Gonçalves Filho e Camila Molina, estadao.com.br

Convite para a transgressão no templo da arte

Curadores da mostra elegem Flávio de Carvalho como vetor para tratar relação entre arte e política

Matéria de Antonio Gonçalves Filho e Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2, do estadao.com.br em 5 de outubro de 2009.


Flávio de Carvalho (1889-1973), artista fundamental do modernismo brasileiro, é a figura referencial escolhida da 29ª Bienal de São Paulo pelo coordenador geral Moacir dos Anjos e o curador Agnaldo Farias, crítico e professor da FAU/USP, um dos integrantes da equipe que prepara a mostra, cuja abertura está marcada para setembro de 2010. Hostilizado por suas atitudes transgressoras, como a de caminhar de boné na contramão de uma procissão de Corpus Christi (1931) e passear de saia pelo Viaduto do Chá (1956), Carvalho foi adotado como modelo dessa bienal, que se pretende política no sentido que a palavra assume no discurso do filósofo francês Jacques Rancière, citado por Moacir dos Anjos - isto é, uma atitude contra as convenções e os modelos estabelecidos.

A 29ª Bienal, orçada em R$ 30 milhões, vai reunir entre 120 e 150 artistas, brasileiros e estrangeiros. Prejudicada pela repercussão negativa de sua última edição, a instituição tenta resgatar seu prestígio e atrair 1 milhão de visitantes (a última teve pouco mais que 10% desse total), apostando em seu projeto educativo, que deve contemplar 400 mil estudantes da rede estadual e municipal. Nesta entrevista ao Estado, Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias não revelaram os nomes dos artistas que irão participar da mostra, nem dos curadores estrangeiros convidados, o que deverá ser feito oficialmente pelo presidente da Bienal, Heitor Martins.

Por outro lado, acenam com nomes e obras que gostariam de trazer, como Cabeça de Medusa, escultura de 14 toneladas feita pelo californiano Chris Burden. E revelam interesse nos artistas de países africanos e do leste europeu.

O título da Bienal de 2010, Há Sempre um Copo de Mar para um Homem Navegar, usa um fragmento de Invenção de Orfeu, o poema de Jorge de Lima, que, segundo Mario Faustino, se faz a partir da urgência de "criar um mundo de antes mesmo da criação da palavra". A escolha desse fragmento pode significar que a Bienal não fará restrições a artistas, mas, ao mesmo tempo, essa metáfora pode ser uma estratégia para fugir de um tema. Qual das alternativas é a correta?

Agnaldo Farias - Não haverá restrição a artistas. Todas as linguagens serão contempladas, pois a ideia de tema pode significar um constrangimento. Jorge de Lima é um poeta extraordinário, embora também oscile. No entanto, este é um daqueles versos numinosos, que se produzem de vez em quando. Ele veio ao encontro de nossa ideia, da capacidade que os artistas têm de conseguir abrir um universo trabalhando dentro de uma questão mínima.

Quem seriam para vocês os artistas que inauguram uma linguagem no Brasil?

Moacir dos Anjos - Penso que um dos artistas que merece destaque nesse sentido seja Flávio de Carvalho. Talvez ele não tenha a dimensão exata na história da arte brasileira por não se encaixar bem no discurso da antropofagia, do modernismo brasileiro, do construtivismo ou do neoconcretismo. No entanto, Flávio coloca, já nos experimentos dos anos 1930, questões que vão ser retomadas depois com outros nomes, como happening, performance, ações que, de um modo ou de outro, inauguram formas novas, lançam questões que suscitam modos diferentes de encarar o mundo.

Flávio de Carvalho, então, será um dos vetores da próxima bienal?

Moacir - É um artista que nos interessa que esteja presente na exposição.

Agnaldo - Até mesmo porque ele nem pretendia fazer arte com esses experimentos. Essa indiferença, despreocupação, essa dimensão prospectiva do trabalho dele, de investigação, tem relação com o grupo de surrealistas ligados a Bataille. Ele é uma figura a ser recuperada.

O que há de específico no olhar de Flávio de Carvalho que os contemporâneos dele não tiveram?

Agnaldo - Justamente essa abertura. Ele vem da arquitetura, produz para o mercado, tem experiências na área muito radicais. Ao mesmo tempo, mostra interesse pelo teatro, pela pintura e o desenho. Essas experiências revelam uma inquietude, um desassossego e fizeram com que ele tenha sido muito marginalizado, visto como um fanfarrão, uma pessoa de gênio forte.

Moacir - Outro aspecto importante é que, nos anos 1930 e 1940, quando se registrou uma adesão da produção artística a um status quo, o trabalho dele é declaradamente de rompimento de convenções, de acordos, de formas de enxergar o mundo. O olhar dele parece estar interessado em como chegar ao olhar do outro.

Como Flávio de Carvalho se insere na proposta de fazer uma bienal política?

Moacir - Justamente pelo entendimento que a gente partilha do que é política, arte política, isso a partir de Jacques Rancière, política como a erupção dessas brechas, fissuras nessas formas estáveis, nos acordos em que a sociedade se ancora para funcionar. Quando Flávio e outros artistas, mesmo sem tematizar política, abrem essas brechas, essas fendas nas convenções, eles estão fazendo política, criando esse desassossego, novas possibilidades de percepção do mundo que não existiam.

Quem seriam hoje os artistas brasileiros da estatura de Flávio de Carvalho?

Agnaldo - Muita gente. Há os consolidados, como Cildo Meireles, Artur Barrio, Antonio Dias, por exemplo, artistas muito densos, consistentes.

Eles foram convidados oficialmente?

Moacir - Oficialmente não, mas estamos em conversas. Eles estão na nossa mira.

Há outros nomes definidos?

Moacir - Estamos nesse processo de negociação. Às vezes eles já têm compromissos anteriores e não podem participar com trabalho novo, que é algo que a gente gostaria.

Esse é, de fato, um problema grave, a falta de tempo para organizar uma bienal um ano antes. E quem são os curadores estrangeiros que vão integrar a equipe?

Moacir - Estamos trabalhando em colaboração com dois curadores já definidos e assim que se definir o terceiro, vamos fazer o anúncio dos três.

Qual o perfil deles, de onde são?

Moacir - São curadores de experiência internacional, que já fizeram outros eventos lá fora. Procuramos curadores com mais conhecimento sobre áreas específicas, geográficas, geopolíticas. Justamente por termos tão pouco tempo, não conseguiríamos cobrir um universo tão grande sem grandes esforços de deslocamento.

Agnaldo - Estamos também trabalhando com o grupo Capacete, do Rio, para organizar os seminários e workshops. Outra abertura interessante é na África, com a Trienal de Luanda, por meio do curador Fernando Alvim. Fomos também a Veneza para consolidar o vínculo com a mostra italiana, até porque ela está mudando, querendo que os pavilhões sejam ativos durante todo o ano, o que demanda um envolvimento dos países.

A última Documenta de Kassel propôs uma discussão sobre a herança do modernismo, resgatando a meta da Documenta de 1955, que era a de reabilitar as vanguardas modernas perseguidas pelo nazismo. A tentativa da Bienal de rediscutir o papel da política na arte segue o propósito de reabilitar as vanguardas brasileiras dos anos 1960 e 1970?

Moacir - O foco da exposição é tentativa de reler, repensar, a articulação entre arte e política nas últimas décadas no Brasil, tentando subverter um pouco esse entendimento de que a arte brasileira nos anos 1960 e 1970 foi mais política e que, a partir dos anos 1980, ela seria descompromissada. Acho que essa divisão só se justifica quando se entende arte política como a que tematiza a política, mas, como falei antes, no nosso entendimento, a arte, tematizando ou não a política, tem potencialmente essa capacidade de transformar a nossa visão de mundo.

Agnaldo - Inserções em circuitos ideológicos (título de uma obra de Cildo Meireles, 1970) é mais uma ideia, mas a preocupação pode ser alargada. Acho muito pertinente a leitura que Lorenzo Mammì faz do trabalho de Volpi, no sentido de destacar o dado artesanal na pintura brasileira que havia sido descartado na produção moderna. No concretismo, a manualidade está fora de cena. Volpi entra, então, como uma figura dissonante, justamente por resgatar uma tradição que remete a um passado proletário. Hoje temos Marcelo Silveira, que bate na discussão do artesão, e o Nuno Ramos da instalação 111 (dedicada à memória dos 111 mortos no massacre do Carandiru), um trabalho evidentemente político, o que não o torna óbvio.

No plano internacional, críticas à espetacularização das grandes mostras de arte são constantes. Você, Agnaldo, disse há dois anos que a dimensão da Bienal faz com que ela pertença à lógica do espetáculo. Há efeitos positivos nessa espetacularização? Qual, afinal, é o papel da Bienal?

Agnaldo - Acho interessante o desafio de pensar que estamos fazendo uma exposição mega num país carente, cujos museus não têm acervo. É importante que as pessoas tenham acesso a uma certa quantidade de obras que provoque nelas um impacto. Isso não seria concessão, não estamos pensando em obras fáceis. Poderíamos citar, por exemplo, a Cabeça de Medusa (escultura de 1990) do Chris Burden, trabalho de difícil empréstimo, mas fundamental.

A participação brasileira será maior ou equivalente à estrangeira?

Moacir - Não é uma questão para nós, embora se justificasse pela discrepância que há entre os circuitos, como o alemão e o brasileiro.

Agnaldo - O brasileiros aqui são vistos, os estrangeiros é que não são. A gente precisa trazer. Na Bienal estamos pensando numa expografia que tenha um caráter dinâmico, no sentido de construir espaços dentro da exposição, mas diferenciados, encomendados a artistas e arquitetos. Vamos fazer o que chamamos de estações. É uma preocupação da curadoria, construir uma narrativa. Nesse sentido, a entrada é fundamental, como o primeiro parágrafo e o título de um livro. Há espaços no prédio que por si só já são eloquentes, como o vazio da bienal, que já hospedou Anish Kapoor, Borofsky, Tunga.

Quais foram os efeitos do vazio da bienal anterior? Como a Bienal, instituição portadora de uma visão internacional de arte, de repente assumiu esse vazio?

Moacir - Minha percepção, a de quem estava fora do país, é de que, de fato, houve uma repercussão negativa, mas tenho percebido, desde que me engajei no projeto, um sentimento de que é preciso reverter isso de qualquer maneira. Houve o reconhecimento da crise, mas há uma percepção da visibilidade que a Bienal de São Paulo tem lá fora. É impressionante. Estivemos com diretores do Pompidou, da Tate, todos eles se colocando à disposição para colaborar com a Bienal.

Posted by Marília Sales at 2:17 PM