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janeiro 21, 2008

Crise do MASP: textos de José Arthur Giannotti e Renato Mezan, Caderno Mais da Folha de São Paulo

Crise do MASP: textos de José Arthur Giannotti e Renato Mezan

Renato Mezan e José Arthur Giannotti discutem a crise no museu após roubo dos quadros de Pablo Picasso e Candido Portinari

Nosso MASP, por José Arthur Giannotti

Papagaios e piratas, por Renato Mezan


Nosso MASP

Texto de José Arthur Giannotti, originalmente publicado no Caderno Mais da Folha de São Paulo, no dia 20 de janeiro de 2008

F oi enorme meu alívio ao tomar conhecimento de que as telas roubadas do Masp tinham sido recuperadas. Para mim era como se peças de minha mobília cultural tivessem sido roubadas. A perda financeira pouco significava, mas cada quadro do acervo tem para mim e para muitos valor muito especial; nós que iniciamos nossa vida cultural nos anos 50, que assistimos à inauguração do museu na rua Sete de Abril, que freqüentávamos o barzinho, que aprendemos a ver pintura no olho da tela, que lá abrimos nossos horizontes ao cinema.

Além da escola, minha turma tinha três pontos de apoio: a biblioteca infantil na rua Major Sertório, a biblioteca Mário de Andrade e a discoteca da rua Florêncio de Abreu. Girávamos em torno deles, cruzando a cidade a pé, embebidos por ela, esperando dar a ela o melhor de nossos pensamentos.

Surgiu então o Masp. Pela primeira vez vimos se formando um caleidoscópio de telas, cada qual com sua peculiaridade espantosa, mas concretizando uma história da arte que somente conhecíamos por livros. As instituições são como trilhas na floresta, se não forem constantemente pisadas e percorridas retornam ao estado natural. Foi isso que aconteceu com as nossas fontes urbanas.

A discoteca ficou obsoleta, a biblioteca infantil se espalhou pela cidade e perdeu empuxo, a biblioteca Mário de Andrade entrou em total decadência a ponto de suas instalações desmoronarem; passa agora por uma reforma profunda. E o Masp?

Novas percepções
O roubo dos quadros fez reavivar minha memória. Lembro-me de Bardi mostrando-nos o quadro de Picasso. Positivamente este não contava entre seus pintores preferidos, mas um retrato da fase azul era compatível com o espírito geral da coleção que estava formando. Bardi era o oposto de sua mulher Lina.

Às vezes chegava ao museu abraçando um prato florentino com o maior carinho, mas recebia de Lina um olhar de descaso. Ela só se encantava com obras modernas, ele só tinha olho para peças antigas. O museu era ponto de encontro e cadinho de novas percepções: ali víamos e estudávamos. Uma vez Bardi nos ofereceu um curso sobre história da arte, obviamente certo de que iria encontrar um grupo seleto de bugres ignorantes. Foi nossa vez de lhe dar o troco.

No final do curso cada um de nós deveria dissertar sobre um período escolhido no momento. Fui obrigado a falar sobre o século 1º em Roma e não me saí bem da empreitada, pois esse período até hoje não me fascina. Mas ainda hoje vejo Radhá Abramo contando a história de uma grande pedra que, rolando, ia selecionando as obras de arte de que lhe importava falar.

Depois descobrimos a intenção do diretor: estava escolhendo assistentes. Foi assim que Jorge Wilheim consolidou seu emprego ali. Até eu fui sondado, mas nada me desviaria de minha obsessão pela filosofia. Mesmo quando foi transferido para a avenida Paulista ainda nos fazia história. Veio a ocupar o terreno de um antigo Trianon, de onde contemplávamos o crescimento de São Paulo; era nos seus salões que comemorávamos nossas formaturas. Foi destruído para dar lugar à primeira Bienal. Projeto arquitetônico de Luiz Saia, naquela época diretor do Patrimônio Histórico de São Paulo.

Era um prédio quadradão, o chão de ardósia -enorme novidade no momento- tendo na fachada umas colunas de amianto. No alto de cada uma havia uma emenda, sagrada para Saia por causa de seu despojamento, mas que foi recoberta por uma faixa de fios amarelos, segundo uma recomendação de Ciccillo Matarazzo, presidente da Bienal. Obviamente Saia se retirou do projeto batendo os pés. Eles faziam acontecer.

Pronto o lindo prédio projetado por Lina, veio a surpresa maior. Como cada quadro ficava exposto num suporte de vidro fixado numa barra de concreto posta no chão, todos eles se davam para nós ao mesmo tempo. Era como se o museu imaginário de Malraux se apresentasse, abarcando todos eles numa visão panorâmica, onde a conexão plástica sobrepujasse as relações temporais.

Por certo uma concepção ousada e que nos fazia pensar. Mas sempre preferi manter uma relação íntima com cada quadro, o que era quase impossível na sala de exposição onde uma tela se encavalava noutra. Essas historinhas eu conto para mostrar como o museu é nosso. Faz parte de nossa história, de nossas vidas. Ora, a falta de projeto cultural do conselho deliberativo do Museu de Arte de São Paulo e o desleixo que facilitou o roubo das duas peças mostram claramente como o museu foi transformado num depósito de coisas velhas.

Reconheço os enormes obstáculos financeiros que as últimas diretorias tiveram que vencer para manter de pé a instituição. Porém o maior problema não está aí. Digamos francamente: São Paulo é uma cidade relativamente rica, tem recursos para manter um museu de arte de primeira linha.

É possível mobilizá-los se uma política cultural lhe for oferecida. O museu não é apenas nosso, mas também nós somos esse museu. Por isso não vejo outra solução para a atual crise: que a sociedade civil tome conta dele, substitua uma instituição formada por bons amigos por outra cujas políticas sejam transparentes.

José Arthur Giannotti é professor emérito da Universidade de São Paulo e coordenador da área de filosofia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!


Papagaios e piratas

Texto de Renato Mezan, originalmente publicado no Caderno Mais da Folha de São Paulo, no dia 20 de janeiro de 2008

A fotografia, publicada no dia 10 de janeiro em vários jornais, mostrando a devolução ao Masp dos quadros furtados do seu acervo, merece ser conservada nos arquivos nacionais.

De preferência com mais cautela que a dispensada a Picasso e Portinari pelo museu paulista -pois, se for tratada com a mesma displicência que receberam esses artistas, os estudiosos que no futuro tentarem compreender os costumes e a mentalidade "deste país" se verão privados de um documento precioso.

A imagem mostra os quadros guardados por dois policiais; ao lado deles, uma fileira de senhores engravatados, fitando com ar solene algum ponto fora do alcance da câmera (talvez outra objetiva, para a imortalidade?); em torno de uma mesa, quatro personagens também endomingados e uma senhora apenas parcialmente visível completam o "tableau".

As matérias que acompanham a foto dão notícia do fausto com que a direção do Masp recebeu as obras: champanhe, vestidos longos, entrevista coletiva etc. Um aparato considerável cercou a breve viagem delas até a avenida Paulista: helicóptero, motociclistas, viaturas, luminosos ligados -dizem os jornais que uns cem policiais participaram da "operação". Se estivessem patrulhando as ruas, provavelmente teriam impedido alguns assaltos e seqüestros-relâmpago.

O ridículo dessas duas cenas incita a refletir. Embora alguns não considerem de bom-tom elogiar a polícia, manda a justiça reconhecer que, desta vez, ela cumpriu com eficiência sua função, sem usar métodos violentos e servindo-se dos instrumentos adequados -entre os quais, como é óbvio, uma boa dose de discrição.

Por que esse sucesso indiscutível precisa ser transformado num espetáculo constrangedor? Se a preocupação era com a segurança dos quadros, não seria mais prudente devolvê-los num veículo anônimo, como tantos outros que circulam pela cidade?

É evidente que o objetivo da "operação" era oferecer aos cidadãos embasbacados uma demonstração de poderio. E o mais impressionante é que não faltaram crédulos para saudar o cortejo quando este chegou ao museu: atores e espectadores parecem assim unidos num pacto silencioso que em nada os enaltece, e que gostaria de tentar explicitar.

Personagens
O transporte dos quadros forma o pano de fundo para a foto, na qual aparecem somente dois policiais. Os personagens retratados formam parte da direção do museu, cuja incompetência em prover segurança para o patrimônio artístico sob sua guarda está na origem da série de fatos que culmina na cena aqui comentada. Lembremos que o furto foi cometido em três minutos, nas barbas de vigilantes despreparados e que se revezavam no "rodízio do sono"; mas isso é como que apagado da memória e substituído pela euforia do reencontro, como se Suzanne Bloch e o lavrador acabassem de chegar sãos e salvos de alguma aventura que inspirasse preocupação em seus amigos.

O discurso do presidente do Masp, de um cinismo inacreditável, faz referência às medidas de proteção -"semelhantes às do Louvre"- a serem adotadas de imediato. Depois de a casa ter sido arrombada, colocam-se taramelas eletrônicas -e a empresa que as fornecer terá direito ao seu logo nos corredores do museu. Sem comentários.

Mas a incúria dá lugar a um fatalismo de fazer inveja a Jeca Tatu: "tem coisa que só Deus pode garantir 100%". Por exemplo, um sistema eficaz de segurança -ou será que o Louvre confia ao Todo-Poderoso a vigilância do seu acervo?

Uma vez ocultadas as causas reais do roubo, que -insisto- é apenas o último elo de uma longa cadeia de negligências de conhecimento público, o passo seguinte é aproveitar-se descaradamente do trabalho alheio, no caso o da polícia. É a desfaçatez com que isso ocorre que impressiona -e também o que nela está implicado, a saber, que ninguém vai ligar a mínima, pois as coisas são assim.

Alguém cunhou a expressão "papagaio de pirata" para designar aquelas pessoas que se esgueiram por trás de alguém importante com o intuitoo de ter sua anônima imagem associada à do personagem em foco. Aqui, o papagaio tem até mais destaque que o pirata, reduzido a dois policiais que pouco ressaltam diante de tantas belas almas postadas no palco. Coisas da vida.

Mas, se aceitamos que assim seja, é porque estamos habituados a cenas semelhantes quando se trata da coisa pública -no caso, não as obras, que pertencem a uma entidade particular, mas a ação da polícia.

O cortejo imponente é apenas uma variante das cerimônias de inauguração de pontes, viadutos, centros de saúde, escolas e até chafarizes -tudo o que dê na vista e possa ser faturado politicamente pela "otoridade" inaugurante, freqüentemente homenageada com faixas que expressam gratidão por mais aquela demonstração de "carinho" pelo povo local.

Sabujice, beija-mão, placas com todos os títulos de quem entregou a obra completam o quadro, infelizmente familiar a todos nós, e que neste ano eleitoral com certeza será repetido à exaustão. Isso para não mencionar a prática de inaugurar obras pela metade, ou reinaugurar algumas já "entregues" pelos predecessores -a exemplo do que faziam alguns faraós no antigo Egito, que mandavam apagar dos monumentos o nome de quem os havia construído e substituí-lo pelo seu.

Contra-exemplo
À guisa de exemplo de como isso nada tem de natural, sendo apenas expressão de uma mentalidade que vê no poder público uma extensão do mundo privado, no qual o favor e as relações decidem quem será beneficiado (e como), lembro um fato que na época me chamou muito a atenção.

Era 1978, e a RATP (autarquia de transportes na região de Paris) acabava de concluir a ligação entre as estações Luxembourg e Châtelet, uma estupenda obra de engenharia que passava por baixo do Sena e, unindo duas linhas até então desconectadas, fazia do sistema por ela administrado uma rede perfeita. Além disso, como as gares de Paris estão ligadas a estações do metrô, tornava-se possível entrar num trem em Nice e continuar sobre trilhos até Calais, no extremo oposto da França -algo sem precedentes, mesmo na Europa.

O que marcou a entrega daquela obra? Nada. Numa bela manhã, o novo trecho foi aberto, sem fanfarras ou fotos do prefeito sorridente em um vagão. Cartazes explicavam detalhes da obra: quem quisesse podia admirar o feito técnico que ela representava "et voilà tout".

Não ocorreria a Jacques Chirac [então prefeito de Paris] vangloriar-se por ter "oferecido" à população mais uma comodidade em matéria de transporte -e, se o tivesse feito, talvez alguns anos mais tarde não conseguisse se eleger presidente do seu país.

Para finalizar: nada tenho contra o desejo muito humano de ser aplaudido pelo que se conseguiu realizar. A recuperação das pinturas merece palmas, é claro. Mas, como diria Pietro Bardi em sua língua materna, "il troppo stroppia" -"o que é demais estraga". Ao imitar os filmes de ação a que nos acostumou Hollywood, a polícia serviu de coadjuvante para a cena de ópera-bufa protagonizada pelos responsáveis pelo museu -e se expôs ao mesmo ridículo atroz. Pergunto: era mesmo necessário?

Renato Mezan é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de SP. Escreve na seção "Autores", do Mais!

Posted by João Domingues at 11:22 AM | Comentários(1)
Comments

Simplesmente perfeito esse texto. Precisamos mais disso em nossos jornais. Obrigada!

Posted by: cristina at janeiro 22, 2008 9:18 AM
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