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outubro 26, 2009

Auras e Desauras de Hélio Oiticica por Adolfo Montejo Navas

Auras e Desauras de Hélio Oiticica

ADOLFO MONTEJO NAVAS

Primeiramente, o mais difícil é se sobrepor ao fato de que o acervo de Hélio Oiticica tenha sido queimado pelas chamas, tão presentes no MAM, no Sérgio Porto ou em algum outro acervo privado carioca. Mas não só pelo fogo como algo mitológico que corresponde a algum fado, pois tamanha tragédia para o Brasil –e para a cultura de qualquer pais– não é só visual, como uma falha profunda em seu imaginário coletivo, um Brasil que fica dilacerado, com outra imagem nada olímpica, e que ainda parece fugir do reconhecimento dos seus problemas de triple fundo na área da cultura, da arte, dos bens patrimoniais como sociedade, da constituição e cuidado dos valores materiais e imateriais de seus signos mais significativos. Tudo isso, vem permitindo que a combinação do acaso, a incompreensão oficial (federal, municipal) e privada (“elite” econômica), a incompetência (de organismos envolvidos) e a desavença entre diversas instâncias (família e instituições) abone qualquer situação de risco, alimentando uma dose de incerteza cada dia mais grave. Aliás, na falta de coleções públicas, de museus de arte contemporânea (não moderna) á altura das circunstancias, ecoa este trauma do acervo HO.

O fato de que obras nucleares da poética de Hélio Oiticica tenham desaparecido, assim como numerosos outros registros (suportes, documentos de diversa índole, como bastidor criativo do artista, e um terrível etcetera) cria um vazio difícil de preencher, e que só pode traduzir-se numa acusação, duplamente póstuma, do próprio artista, sobre as mazelas e misérias com que a dissociação público-privada em seu tecido social e o malogrado território da subjetividade –em suas mais desafiantes e ricas emancipações– sofre tamanho descaso, a imagem e semelhança de outras injustiças e humilhações praticadas, sistemática e cotidianamente, com as condições dos cidadãos. O acontecido ultrapassa a metáfora, pois sublinha como “cronicamente inviável” semelhante estado das coisas. E não permite desviar o olhar do epicentro do problema.

Hélio Oiticica sabia como poucos, como também Glauber Rocha, que nessa adversidade respirada dia-a-dia se enxergava o outro lado, as aspirações metapolíticas que tem a estética que não é fútil, decoração, banalizadora, e promete, sim, algum grau de utopia; há sempre outra adversidade burguesa, institucionalizada, “bem pensante ou comportada” (até disfarçada), que ainda vê a cultura artística como reduto classista, como burocracia das emoções, o que não deixar de ser uma mediocridade a mais.

Parece grosseiro afirmar que a poética exemplar e radical do artista recebeu uma injeção dolorosa em sua potência crítica, além das obras, objetos, coisas... Como se o seu ideário falasse ainda mais alto. Uma dura ironia. Como se estivesse revendo as suas auras e des-auras, a obra de Hélio Oiticica –sua experimentação fenomenológica e semântica, sua insubornável postura– deve agora viver ainda mais de seu imaginário crítico, conceitual, no exemplo e magnetismo de suas ideias, e, talvez, de uma recuperação museográfica em sintonia, a altura do que se possa fazer (recuperar e/ou reconstruir), para não cair completamente na identidade exclusiva do objeto carimbado/tocado pelo artista, e na melancólica débâcle de um destino opaco. Não seria cabível esta empreitada rigorosa, curativa para honrar ao futuro? Se há um determinado horizonte museográfico que foi queimado no Jardim Botânico, caberia possibilitar outro? Uma aproximação tão medida como essencial. Em alguns casos, se perderia a aura do objeto ou da peça real originária, mas a sua des-aura não revitalizaria a poética? Numa poética que é multi-sensorial, mas alinhada no pensamento mais conceitual, reflexivo, até imaterial, caberia recompor esta concreção com uma abstração, com uma recuperação espiritual?

Mas agora, é mesmo difícil pensar em outra coisa, já que o grau de violência do acontecido surpreende, desestabiliza qualquer prumo. Chamas com outras chamas. Assim como existe criminalidade na rua, existe também no terreno cultural. E é de responsabilidade geral, e moral, a estas alturas, tocar na ferida, não necessariamente narcísica.

Hélio Oiticica era e continuará sendo, um imaginário simbólico, como é a própria floresta amazônica. Patrimônio brasileiro, que acaba sendo uma doação ecumênica (sem querer entrar aqui nos domínios geopolíticos em jogo, outro grave problema) na arte internacional do século XX. A reconstrução do dano passa por muitas coisas, solicita cuidados e atenções que não se tiveram, pois não há como escapar de tornar público o itinerário conflituoso entre a Prefeitura e o CHO com a família herdeira. Porquê o Centro pode levar o nome do artista e desrespeitá-lo? Assim como deve-se revisar a política pública efetiva com as heranças. E também é preciso dar passos adiante na constituição efetiva de uma “catarse coletiva”, debatendo a fundo os problemas que vinculam arte, sociedade e estado –seu lugar e mediações. E, talvez, seja até o momento de reorganizar uma exposição helioticiana com fundos nacionais e internacionais, e estende-la a outra coletiva, em forma de homenagem, com a plena participação das artes plásticas contemporâneas do país.

Há coisas por fazer ante o abismo, e de necessária e rigorosa ressonância pública, social. De re-colocação simbólica do que Hélio Oiticica representa. Para um imaginário estético e espiritual tão fraturado, os exemplos-ações têm que religar, de novo, o nome do artista ao papel das artes plásticas como um constituinte humanista da maior transcendência.

Rio de Janeiro, 21/22 de outubro de 2009

Posted by Patricia Canetti at 6:26 AM | Comentários(2)
Comments

É muita poesia e pouca ação efetiva, em 60 dias, no máximo, esse fato já estará esquecido, não haverá mais interesse. A questão patrimonial para o governo é onerosa, os tecnocratas vêem isso como um investimento de risco. Os Governos tratam esse assunto com desdém, pois isso só interessa a uma pequena parcela da sociedade. É a nossa formação cultural capenga, infelizmente a coisa não anda só patina. "É passinho pra frente e passinho pra trás”.

Posted by: Roberto Silva at outubro 26, 2009 8:15 AM

É Adolfo... tenho a impressão que enfim o trabalho do Helio Oiticica será amplamente compreendido. Que essas chamas queimem toda idolatria que ocupa espaço no mundo, e que façamos nós mesmos nossos próprios bólides e parangolés.

Posted by: tony c at outubro 26, 2009 8:47 PM
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