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Como atiçar a brasa

 


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março 30, 2012

Brasil tem exposição mais visitada do mundo, e críticos explicam fenômeno, Portal VNews

Brasil tem exposição mais visitada do mundo, e críticos explicam fenômeno

Matéria originalmente publicada na seção de variedades do Portal VNews em 29 de março de 2012.

Mostra 'O mundo mágico de Escher', no CCBB-RJ, ficou no topo do ranking. Curadores falam ao G1 e analisam atual apetite brasileiro pelas artes.

Deu na "The Art Newspaper", publicação norte-americana especializada em artes que faz um levantamento anual, desde 1996, das exposições mais vistas do planeta: a mostra "O mundo mágico de Escher", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro entre os meses de janeiro e março do ano passado, ficou no topo do ranking relativo a 2011, tendo recebido uma média de 9.677 visitantes ao dia.

Além da exibição de gravuras originais, desenhos e instalações do holandês M.C. Escher (1898-1972), outras duas exposições realizadas na unidade carioca do CCBB também aparecem no top 10 divulgado: "Oneness", da artista japonesa Mariko Mori, com 6.991 visitantes diários (7º lugar); e "Eu em Tu", da americana Laurie Anderson, que atraiu média de 6.934 pessoas por dia (9º lugar) — todas gratuitas.

Mas o que pode ter despertado o "incrível apetite por arte contemporânea" nos brasileiros, como descreve a revista americana? Especialistas ouvidos pelo G1 creditam o fenômeno a vários fatores. Para o carioca Fernando Cocchiarale, crítico e professor de Filosofia da Arte do Departamento de Filosofia da PUC-RJ, o sucesso das exposições do CCBB está diretamente relacionado ao trabalho de divulgação das instituições culturais junto à mídia.

"As instituições vêm batalhando arduamente atrair público. Para isso utilizam-se de serviços de divulgação, assesoria de imprensa e de comunicação. Isso cria uma situação favorável, que torna natural a busca de informações por arte contemporânea. Mas acho que a grande maioria das pessoas que visita uma exposição como a do Escher sente-se atraída pelo espetáculo, pela publicidade. Não necessariamente está sendo formado um público cativo e aficionado pelo assunto. Ainda assim, acho tudo muito positivo", diz Cocchiarale, que também é professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio.

Quantidade e qualidade
Investimentos em arte-educação, a boa situação econômica do país (que torna livros, obras, discos e filmes mais acessíveis) e a gratuidade das exposições também criam condições para o incremento de público, segundo Pieter Tjabbes, curador da mostra que liderou o ranking da "The Art Newspaper".

"Além desses fatores, também temos investido bastante num novo conceito de exposição. Utilizamos recursos para que as pessoas se sintam conectadas e envolvidas mais facilmente com o que está sendo exibido. Fizemos assim com as mostras de Escher e da Índia. Com seções lúdicas e interativas, que se comunicam mais com os visitantes, é que estamos atingindo novos públicos", explica Tjabbes, elogiando a quantidade e qualidade de exposições que o Brasil têm recebido ultimamente.

"A qualidade média das exposições têm subido muito. Hoje o Brasil não deve nada ao exterior. As mostras aqui são de altíssima qualidade. Além disso, a oferta de exposições, principalmente no Rio e em São Paulo, é fantástica. Eu mesmo, que sou do ramo, não dou conta de ver tudo", destaca.

Rio e São Paulo
Analisando o ranking mais de perto, um outro dado relativo ao Brasil também chama a atenção. Enquanto a unidade carioca do CCBB aparece três vezes entre as dez exposições mais visitadas, o centro cultural paulistano surge apenas em 23º lugar, também com a mostra do ilustrador holandês. Nada fora do comum, de acordo com o curador independente, jornalista e crítico de arte Marcus Lontra.

"Historicamente, a classe média carioca sempre foi uma grande consumidora de cultura, diferentemente de outras que se estruturaram posteriormente no Brasil, como a paulistana ou a mineira. Porque, no Rio, não é preciso ser rico para isso. Os cariocas têm essa peculiaridade e sempre participaram de atividades artística e culturais", ressalta Lontra, curador das exposições “Niemeyer: arquiteto, brasileiro, cidadão" e "Onde está você, Geração 80?", relembrando outras mostras de sucesso no país.

"Isso acabou se refletindo em diversos momentos, como nas exposições de Monet e Rodin, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio, nos anos 90. O número de visitações na cidade eram sempre superiores ao de São Paulo, apesar da capital paulista ser uma cidade mais populosa", analisa o jornalista, que inaugura no dia 2 de junho, no Centro de Artes Hélio Oiticica, no Centro do Rio, a mostra "Espelho refletido", reunindo obras de 38 artistas contemporâneos brasileiros.

Continuidade
Quem também opina sobre a diferença de público da exposição "O mundo mágico de Escher" nas duas cidades é o gerente de programação do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio, Francisco Ribeiro. Ele considera as características entre as duas unidades como um possível motivo.

"São características geográficas diferentes. Talvez no Rio o acesso ao CCBB seja mais fácil. E, por ser maior, a gente pode abrigar mais pessoas diariamente. Acredito que isso possa se refletir neste número. Porque, apesar da imponência do nosso prédio carioca, queremos mostrar que essa pode ser uma casa de todos", diz Ribeiro.

Apesar da atual notoriedade brasileira no campo das artes e da festa em torno do levantamento divulgado pela revista "The Art Newspaper", ainda é cedo para comemorar, como observa Fernando Cocchiarale. O crítico adverte: "Não acho que estes números sejam resultados consolidados. Este trabalho de divulgação e publicidade da arte tem que continuar. Aí, sim, o público cativo também vai aumentar".

Posted by Guilherme Nicolau at 2:34 PM

Narcélio Grud em constante mutação por Dalviane Pires, Diário do Nordeste

Narcélio Grud em constante mutação

Matéria de Dalviane Pires originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste

Em Etério, que abre, hoje, no Sobrado Dr. José Lourenço, o artista inquieta com obras feitas a partir da areia

Areia que vira barro que vira tijolo que vira arte. Areia misturada, aquecida, resfriada, moldada em vidro para também se transformar em arte. O artista Narcélio Grud, que abre, hoje, às 19h, a exposição Etério, no Sobrado Dr. José Lourenço, não está muito preocupado em conceituar sua obra. Grud está mais interessado em experimentações que sirvam para que ele se reconheça - ou não - em determinadas linhas de criação artística. "Não quero explicar muito. Quero que as pessoas vejam e sintam as obras", diz o artista sobre a primeira mostra individual da carreira.

A mesma liberdade que Grud defende para os olhares diante de sua arte exercita ele próprio durante a criação. Coloca a mão na massa, faz testes com o que planejou, recusa originais. Ora acerta, ora erra, mas não se limita a achar que tudo funciona em uma exposição. Cita exemplos de peças pensadas para Etério que ao serem executadas não ficaram boas. "É um processo muito intuitivo. Vou percebendo o que é do design, o que é da cenografia e o que é, de fato, uma obra de arte. É necessário um crivo, um equilíbrio", diz Grud.

O personagem risonho "sem nome, sem sexo, sem boca" que acompanha outras obras de Grud também está presente em peças de vidro, sempre deixando para o visitante a interpretação final. Em uma das salas, casulos, espelhos e a sensação de encontrar o final do arco-íris. Chama a atenção uma moldura grossa, de madeira, que cerca delicados desenhos pintados em tampinhas de refrigerante. A moldura, que foi encontrada por Grud na rua, guarda um pouco da sensibilidade do artista. Em Etério, Grud teve sua primeira experiência com barro queimado. Os tijolos longos, curtos, cortados que compõem uma "parede viva" foram feitos pelo artista em uma olaria distante aproximadamente 80 quilômetros de Fortaleza.

Com jeitinho, conseguiu autorização para usar o local para produzir os tijolos personalizados, muitas vezes diante dos olhares curiosos e apressados dos trabalhadores do lugar.

O olhar

A rua está sempre presente em seu trabalho. O spray permanece essencial para o artista que ficou conhecido pelos grafites e intervenções urbanas. Ele conta que inicialmente os tijolos ficaram cinzas, "prateados", e que não combinavam com o pensamento inicial da obra. Usou um spray para deixá-los com uma cor padrão, alaranjados. Antes da montagem, Grud foi ao Sobrado Dr. José Lourenço fazer uma espécie de "reconhecimento do espaço". Tirou várias fotos, mas de tão inquieto e de acelerado pensamento, não chegou a ver tais fotos e estudar o que ficaria melhor em cada local. Apostou no olhar panorâmico do artista e disse que durante a montagem saberia o que poderia ou não mudar de lugar.

Narcélio Grud reconhece a importância do trabalho de Dodora Guimarães para a realização de Etério. Conta que os diálogos com a curadora foram fundamentais para aprimorar o próprio trabalho. A aproximação de Dodora e Grud começou antes mesmo dele saber. "Soube do Grud pelos "cabeções" (uma intervenção urbana onde o artista, inicialmente anônimo, pintou as caixas de telefonia com rostos coloridos). Fiquei acompanhando, plugada no artista, vendo o que ele teria a dizer a partir dali", recorda Dodora.

Como parte desse acompanhamento, Dodora viu o trabalho de Grud também no Centro Dragão do Mar. Por lá, esculturas sonoras colocadas em um espaço conhecido como Arena Dragão do Mar atraíam visitantes, sinalizando mais uma importante invenção do artista.

No ano passado, Grud foi convidado para levar uma dessas esculturas sonoras para fazer parte de uma "exposição relâmpago" do Sobrado chamada "Com o Ceará no Coração". Mais tarde participou de um seminário que discutia arte e mercado, onde apresentou um portfólio a Dodora. "Aí vi a obra dele de forma mais completa. Só me interesso por "artista inventor" e o trabalho do artista é correr risco, experimentando o caminho próprio", diz a curadora, que percebe na arte de Grud provocação e inquietação.

Projetos futuros

Etério fica em cartaz até dia 20 de maio, mas, em abril, em homenagem ao aniversário de Fortaleza, Grud vai colocar em diferentes pontos da cidade o que chama de "escultura sonora pública". O projeto será possível por meio do edital da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Ainda neste semestre Grud apresenta mostra de esculturas sonoras também no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).

Do futuro, Nárcelio Grud, que ganha a vida como cenógrafo e designer, quer viver da arte. "Quero passar meu tempo, da hora que acordo a hora que vou dormir, pensando na minha criação e não no mercado", finaliza.

Sobrado ganha também uma exposição de quadrinistas

Em paralelo a exposição Etério, o Sobrado Dr. José Lourenço abre também, hoje, às 19h, a mostra Desenhomatic LTDA, de dois nomes do underground gráfico brasileiro: Jaca e Fabio Zimbres. Os quadrinistas e ilustradores apostam na convergência de seus trabalhos, por meio do desenho, pensado como força automática, autônoma, nesta primeira mostra conjunta que promete a quebra do silêncio das paredes do espaço.

A exposição reúne a produção recente dos dois artistas, apresentadas, em 2011, nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. No Sobrado Dr. José Lourenço o visitante poderá ver também obras resultantes de suas residências no local.

Amanhã, às 15h, o Sobrado promove uma oficina de desenhos de Fabio Zimbres. Exercícios com colagens e transparências, com destaque para o modo de produção manual. A entrada é franca tanto para exposição quanto para a oficina.

Mais informações:

Abertura de Etério, de Narcélio Grud, hoje, às 19h, no Sobrado Dr. José Lourenço (Rua Major Facundo, 154, Centro). Na ocasião, show de Paula Tesser e Edmundo Júnior. Visitas de terça a sexta, das 9h às 19h. Aos sábados, das 10h às 19h e, aos domingos, das 10h às 14h. Em cartaz até 20 de maio. Entrada franca. Contato: (85) 3101.8827.

Posted by Guilherme Nicolau at 1:05 PM

Forrest Bess em dose dupla por Juliana Moachesi, Revista Select

Forrest Bess em dose dupla

Matéria de Juliana Moachesi originalmente publicada na Revista Select em 26 de março de 2012.

Curadoria de Robert Gober lança luz sobre a obra do artista

Roberta Smith começa seu texto no New York Times de sexta-feira, 23, com um alerta: "A arte de Forrest Bess (1911-1977), como a de Vincent van Gogh, pode estar em perigo de ser acometida pela sua história de vida. Especialmente agora, quando a obra deste excêntrico pintor visionário - que passou a maior parte de sua maturidade como um pescador no Golfo do México, vivendo em uma restinga de praia no Texas - está tendo um momento especialmente intenso em Nova York".

É que o pintor texano conhecido pelo vocabulário muito particular de formas que lhe vinham em sonhos e visões está tendo duas mostras paralelas em importantes instituições de NY no momento: uma sala especial na Bienal do Whitney 2012 com curadoria de Robert Gober e uma exposição de 40 pinturas na casa de leilões Christie's que resulta da venda de uma coleção particular. A mostra A Tribute to Forrest Bess, na Christie's, perfaz "uma visão bastante inquieta de uma casa de leilões agindo como galeria comercial manejando o equivalente ao espólio de um artista", segundo Smith.

As pequenas pinturas de Bess são preenchidas com símbolos pessoais e elementos básicos de significado igualmente subjetivo. Para o artista, as pinturas que ele executava reproduzindo com fidelidade suas próprias visões representavam uma linguagem pictórica com significado universal. Junto com as teorias médicas e psicológicas derivadas de sua erudição auto-didata, ele acreditava que sua imagética compreendia o esboço de um estado humano ideal, com o potencial de aliviar a humanidade do sofrimento e da morte.
A crítica do NYT concede que os fatos da vida de Bess não são nada menos que sensacionais: "Eles incluem isolamento, pobreza, visões recorrentes e até mesmo auto-mutilação. Na década de 1950, convencido de que a união das lados masculino e feminino de sua personalidade garantiria a imortalidade, Bess tentou se transformar em o que chamou de 'pseudo-hermafrodita' por meio de dois atos de dolorosa autocirurgia que resultaram em uma pequena abertura na base de seu pênis".

Porém, assim como Van Gogh, prossegue Roberta Smith, as pequenas quase-abstrações intensamente pessoais de Bess parecem "projetadas para resistir ao ataque da biografia. As melhores delas, feitas entre 1946 e 1970, são inicialmente modestas, contudo podem reviram os olhos com as suas superfícies agitadas, cores saturadas e combinações de símbolos estranhos ou evocações destiladas do mundo natural", afirma.

"Igualmente importante é a forma como os trabalhos de Bess reconfiguram a história da arte. Como Myron Stout, Steve Wheeler e Alice Trumbull Mason, que também favoreceram os pequenos formatos e as formas ressonantes, Bess amplia nossa compreensão da ascendência da pintura americana das décadas de 1940 e 50 para muito além das telas imensas dos habituais expressionistas abstratos suspeitos", escreve a crítica do NYT, contribuindo, também ela, com sua escrita magistral, para reconfigurar a história da arte.

Segundo Smith, a exposição na Christie's inclui um vídeo com vários depoimentos sobre a vida e a obra de Bess, do qual destaca as falas do escritor budista Robert Thurman e do crítico de arte John Yau. O primeiro aventa a tese de que, de uma perspectiva budista, Bess era "talvez alguém que tenha sido um iogue em uma vida anterior. Ele observa que o papel de um iogue é submeter seu corpo e seu ser à sua visão da vida", chamando o corpo de Bess de sua "obra de arte suprema".

Já o senhor Yau sugere, "com plausibilidade possivelmente maior para os não-budistas, que a busca fervorosa de Bess, bem como sua autocirurgia - a idéia veio do estudo de ritos realizados por aborígenes australianos - refletem uma incapacidade para aceitar a sua homossexualidade e, de maneira mais geral, sua reação a uma cultura com pouca tolerância à diferença. O sr. Yau compara as superfícies cicatrizadas de pinturas de Bess às cicatrizes físicas e psíquicas que ele sofreu", reporta Smith.

Considerando que o momento é tudo, a mostra da Christie's se sobrepor à Bienal é dificilmente um acidente, alfineta ainda a crítica. "A exposição é acompanhada de um catálogo luxuoso com ensaios esclarecedores de Robert Storr, o escritor, curador e reitor da Yale School of Art, e do crítico cultural Wayne Koestenbaum. O sr. Koestenbaum fornece uma leitura muito minuciosa das superfícies de Bess, especialmente sobre o uso da espátula e do ritmo visual criado por seus desempenos bastante cuidadosos."

Posted by Guilherme Nicolau at 11:41 AM

Nobuo Mitsunashi nos 30 anos da Galeria Deco por Mariel Zasso, Revista Select

Nobuo Mitsunashi nos 30 anos da Galeria Deco

Matéria de Mariel Zasso originalmente publicada na Revista Select em 29 de março de 2012.

Comemoração inclui uma exposição paralela de artistas contemporâneos brasileiros

A Galeria Deco inaugurou hoje duas exposições comemorativas ao seu trigésimo aniversário. Desde 1981, a galeria representa artistas plásticos japoneses e nikkeis na pacata Rua dos Franceses no Bairro Bela Vista, em São Paulo.

Para marcar a data especial, convidou o proeminente artista japonês Nobuo Mitsunashi para um exposição na qual suas obras dialogam com as de Tomie Ohtake, e ainda montou, paralelamente, a coletiva "Olhares Oblíquos" com artistas contemporâneos brasileiros e japoneses.

Mitsunashi é presença constante em terras tupiniquins, e foi inclusive curador da exposição Círculos Traçados, centrada no diálogo entre Brasil e Japão, na mesma galeria, no final do ano passado. Em 2004, também na Deco, causou frisson com Chocolate, Framboesa e Chantilly. No jantar-performance, 24 convidados - artistas, críticos de arte e jornalistas, todos vestidos de preto, sentados em uma longa mesa branca em cadeiras para as quais eram apontadas pistolas antigas penduradas no teto - foram recebidos com um banquete exótico de pratos doces, como um pedaço de carne vermelha coberto de chocolate. O memorável jantar terminou com uma taça de cristal enfeitada com pingos de chocolate - que tiveram que ser lambidos pelos convidados.

A performance teve sua estreia no Brasil, entre outros motivos, pelo baixo custo da matéria-prima - foram utilizados 80 quilos de açúcar de confeiteiro! Na exposição que se seguiu, obras de chocolate. Graduado na Universidade de Arte de Musashino, em Tóquio, Mitsunashi também expôs na 21ª Bienal de Artes de São Paulo, em 1991, na Pinacoteca do Estado, no Instituto Tomie Ohtake, e em diversas exposições na Deco, onde expõe regularmente desde 2002.

Aleḿ das obras inéditas de Ohtake e Mitsunashi, a comemoração da Deco inclui uma exposição paralela de artistas contemporâneos brasileiros. Olhares Oblíquos reúne pinturas, esculturas, gravuras e objetos e propõe ao visitante conhecer um pouco mais sobre a arte contemporânea japonesa e suas influências no trabalho de artistas nipo-brasileiros. Entre os artistas, Sandra Cinto, Albano Afonso, Felipe Barbosa, Rosana Ricalde, Futoshi Yoshizawa e Lia Chaia

As exposições “Encontros: Tomie Ohtake e Nobuo Mitsunashi” e “Olhares Oblíquos” ocorrem simultaneamente entre 28 de março e 29 de abril de 2012.

Serviço:
"Encontros: Tomie Ohtake e Nobuo Mitsunashi" e “Olhares Oblíquos”
Abertura: 28 de março, 19h
de 29 de março a 29 de abril de 2012

Galeria Deco
Rua dos Franceses 153, Bela Vista.
11-3289-7067. Diariamente, 10h-19h.

Posted by Guilherme Nicolau at 11:33 AM

A arte documentada por Ivan Claudio, Istoé

A arte documentada

Matéria de Ivan Claudio originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Istoé em 23 de março de 2012.

O documentário "Shoot Yourself" reúne o trabalho de artistas brasileiros e estrangeiros que se dedicam ao ato efêmero da performance

Diante da plateia atenta do museu Jeu de Paume, em Paris, a artista cubana Tania Bruguera fala sobre a ineficácia da arte. Ela é radical. Faz uma pausa, pega um revólver, carrega-o com uma bala de verdade e encosta-a na cabeça. Agora, além de atento, o público está tenso e atônito. A roleta russa pontua toda a sua explanação. Tania chega ao fim. Viva. Intitulada “Self Sabotage”, essa performance não foi concebida para ser documentada. Um espectador, no entanto, gravou o ato e o postou no YouTube: é o único registro conhecido de uma obra feita para durar não mais que um momento. São imagens de impacto que abrem o documentário “Shoot Yourself”, da editora da revista “SeLecT”, Paula Alzugaray e do cineasta Ricardo van Steen, que estreia no Festival É Tudo Verdade (Rio de Janeiro e São Paulo, até 5/4). “A metáfora da câmera como arma nos deu também o título do filme”, diz Paula, que entrevistou Tania durante uma residência artística no Centre International D’Acueill et D’Echanges des Récollets.

Além da performer cubana, o filme reúne oito artistas entre brasileiros e estrangeiros – nomes como do americano Gary Hill, da iraniana Ghazel e do pichador paulista Cripta Djan, que invadiu a Bienal de São Paulo. O que une o trabalho de todos eles é o uso do corpo como instrumento do fazer artístico; o que os distancia é a forma como documentam. Alguns preferem não registrá-lo, outros usam a gravação como objeto do ato criativo. “Buscamos fazer um mapeamento da importância da câmera para a performance. O subtexto é esse: em que medida a ação deve ser mantida para a posteridade ou ir embora com o público”, diz Paula, que optou por uma seleção heterogênea de nomes da arte contemporânea.

Ao se afastar de um grupo coeso, orientado pelas mesmas práticas estéticas, o documentário promove confrontos e cria choques, segundo a diretora, que procurou desde o início misturar gerações, contextos, procedências e línguas. Essa escolha se reflete nas filmagens, variando de artista para artista. “A tônica foi romper a fronteira e dialogar com a obra do entrevistado”, diz Van Steen, que assume, assim, o lado performático do próprio documentarista.

Posted by Guilherme Nicolau at 11:23 AM

março 28, 2012

A crise da cultura: ocaso e fulanização por Saul Leblon, Carta Maior

A crise da cultura: ocaso e fulanização

Artigo de Saul Leblon originalmente publicado no Blog das Frases em Carta Maior em 27 de março de 2012.

Há uma crise aberta no Ministério da Cultura do governo Dilma, guarnecida com todos os ingredientes típicos desse cardápio. Há guerra de declarações na mídia, há descontentamento nos bastidores, há manifestos e ressentimentos; há fogos e contrafogos.

Há, sobretudo, um perigo: o de simplificar a natureza de um impasse pouco discutido e menos ainda compreendido fora do círculo dos iniciados. Em qualquer crise, o rebaixamento das causas fulaniza as consequências gerando uma compreensão epidérmica do principal. O conjunto dificulta o passo seguinte da história.

Um dos nomes da crise no MinC pode ser Ana de Hollanda, titular da pasta criada em 1985, no governo Sarney.

Faltaria ao ministério, atestam seus críticos, o desassombro e/ou a convicção para reposicionar o país em sintonia com as novas possibilidades, agendas e desafios da produção cultural no século XXI.

Inclui-se aí maior ousadia em relação à política de direitos autorais, bem como o empenho necessário à revisão da lei de patrocínio, que engessaria a política cultural brasileira no coador dos interesses privados.

Ana de Hollanda pode ser um dos nomes da crise, mas não é o nome completo de todos esses impasses, que tampouco nasceram neste governo e, menos ainda, derivam exclusivamente das idiossincrasias deste ou daquele personagem.

O jornalismo afivelado à ditadura, nos anos 80, costumava seguir uma receita ilustrativa do papel desdenhoso, tradicionalmente reservado à cultura na sociedade brasileira. Compunha-se a 'sábia' prescrição de um ilustrativo tripé feito de conservadorismo extremo na área da economia; liberalismo aguado na cobertura política e um desvaçlorizado vale-tudo na cultura.

O menosprezo pelo papel da cultura na vida e no desenvolvimento de um povo não é exclusividade brasileira, tampouco se circunscreve a períodos ditatoriais. Sua incidência, infelizmente, persiste no amplo espectro político dos nosso dias.

Ao reconquistar o governo da Espanha este ano, o Partido Popular, por exemplo, herdeiro do franquismo - de cujas entranhas brotou o lema 'quando ouço a palavra cultura saco o revólver - extinguiu o ministério da Cultura, rebaixando-o à condição de secretaria menor.

Collor de Mello fez o mesmo no Brasil, em abril de 1990, devolvendo o então recém-criado ministério da Cultura a uma prateleira subalterna na burocracia de Estado.

Amesquinhar tevês educativas é outro traço da mesma cepa.

Aconteceu com a BBC, na Inglaterra de Cameron; está acontecendo na Espanha, de Rajoy, e na São Paulo tucana, cuja TV pública vive mais um capítulo de um ocaso financeiro e conceitual (leia "TV Cultura, uma nova privataria em curso").

Pior ainda, no Brasil, a alérgica relação entre cultura e conservadorismo foi mitigada no auge do ciclo neoliberal pela assimilação do MinC ao espírito da época.

O engessamento herdado desse período ainda não foi totalmente rompido.

Coube ao segundo governo FHC cunhar o dístico do renitente matrimônio, quando o ministério da Cultura tucano adotou como lema o brado auto-explicativo: “cultura é um bom negócio”.

O ovo de Colombo seria a adaptação do regime medieval do mecenato à terceirização da política cultural, sustentada pela renúncia fiscal dos fundos públicos.

Se as telecomunicações, as estradas e os minérios estavam sendo depurados da intrínseca ineficiência estatal pela panaceia privatizante, por que não juntar a esfera cultural no mesmo saco?

O regime de patrocínio cultural que combina renúncia pública e dividendos privados foi instituído no governo Collor. A exemplo de outras práticas 'desregulatórias', porém, seu fastígio ocorreria no governo dos intelectuais e professores tucanos, que submeteram a área da Cultura a um tenaz arrocho orçamentário.

Em média, nos anos 90, coube ao MinC miseráveis R$ 230 milhões por ano.
O torniquete revelou-se funcional ao jogar compulsoriamente a sobrevivência das artes ao arbítrio das fundações de prestígio e fachada, que passariam a deter prerrogativa de selecionar o que deveria ou não chegar aos olhos, ouvidos, corações e mentes do imaginário nacional.

Os mesmos que assim agiam, e agem, gostam de criticar o 'dirigismo cultural' do Estado Novo getulista; odeiam a Voz do Brasil; tem brotoejas diante das emissões da TV Brasil.

No governo Lula, o orçamento do Ministério da Cultura multiplicou-se por dez, girando hoje um valor torno de R$ 2 bi.

O salto relativo é indiscutível. Mas o valor absoluto está longe de ser suficiente para abolir a senzala da terceirização que determina a cultura do país.

Hoje, o orçamento federal para bancar um ano de atividade do MinC equivale ao gasto público de três dias com o pagamento dos juros da dívida interna (cujo serviço total custou R$ 236 bi no ano passado, segundo o BC).

Há nessa assimetria uma demolidora e silenciosa crise da cultura que as erupções atuais pouco abordam.

Os oito anos de governo Lula, de qualquer forma, acumularam avanços incontestáveis na área que a tibiez atual do MinC colocaria em risco. As linhas de passagem erguidas entre o mecenato neoliberal e a construção de uma política verdadeiramente democrática de financiamento cultural, perdem sustentação progressiva, acusam os críticos da ministra Ana de Hollanda. A mobilização anterior para modificar a Lei Rouanet, por exemplo, seria alvo de uma restauração conservadora dentro e fora do próprio ministério.

Mas o pano de fundo verdadeiramente incontestável é que o impasse orçamentário persiste, não é retórico e atinge até mesmo o experimento mais avançado de ruptura com a lógica do mercantilismo cultural.

O programa dos pontos de cultura, criado no governo Lula, oferece à juventude pobre meios de expressão para libertar suas inquietações e talentos na forma de intervenções e circuitos culturais. Hoje existem 3.500 pontos de cultura no país. Seu orçamento em 2004 era de R$ 4 milhões; chegou a R$ 216 milhões em 2010, último ano de governo Lula.

Em 2011, primeiro ano de Dilma, o programa recebeu apenas R$ 80 milhões. O mero funcionamento dos quase 3.500 Pontos de Cultura já existentes exigiria pelo menos R$ 200 milhões.

São essas cifras e variáveis que sugerem a existência de uma deriva mais profunda na política cultural brasileira. A simples troca do titular da pasta, por si só, não será suficiente para revertê-la.

Posted by Patricia Canetti at 8:51 PM

Neumanne, autor de livro anti-Lula, defende Ana de Hollanda no Estadão por Renato Rovai

Neumanne, autor de livro anti-Lula, defende Ana de Hollanda no Estadão

Artigo de Renato Rovai originalmente publicado no Blog do Rovai em 28 de março de 2012.

“Diga-me com quem andas e te direi quem és.” Este velho ditado é mais do que o suficiente para revelar o que é o atual MinC.

Ana de Hollanda é a rainha do Ecad, a CBF da cultura. Órgão que multa até quermesse de igreja por “desrespeito” ao direito autoral e está envolto em todos os tipos de acusações e suspeitas de corrupção. Atualmente vive uma CPI no Senado e é investigado pelo Ministério da Justiça.

Ana de Hollanda não é só a rainha do Ecad. É Ecad na veia.

Se você acha que estou exagerando, veja o comentário que a ministra enviou ao blog de Antonio Grassi no dia 18 de janeiro de 2008. Não se apegue ao fato de a ministra da Cultura ter escrito softers ao invés de software. Preste mais atenção a como ela se refere à CBF da cultura.

Oi Grassi,
Essa questão de direitos autorais tem provocado discussões calorosas pelo fato de mexer com altas cifras e propriedade privada, já que a criação artística é um bem inalienável, além de sustento profissional de um contingente enorme de artistas de todas as áreas. Com o surgimento da internet, celulares, com seus provedores, softers, empresas de telefonias e grandes grupos que englobam tudo acima, a criação é o elo mais fraco e fácil de se neutralizar com o irônico discurso de “democratização do acesso”. O mundo inteiro está discutindo como se ajustar à novas tecnologias e o Brasil não está fora disso. As diversas associações de músicos e compositores e seu escritório central, o ECAD, participam de congressos internacionais em busca de soluções que permitam o acesso sem deixar de remunerar os criadores.
Lembro que seu conterrâneo, Fernando Brant, além de um dos nossos maiores compositores é uma pessoa esclarecida e, com anos dedicados à luta, poderia ser entrevistado sobre o assunto.
beijos, Ana

Ana também é a rainha do secretário do comércio dos EUA, Gary Locke, que fez questão de visitá-la logo que assumiu o ministério para discutir a questão da propriedade intelectual e o interesse do states nessas questões no Brasil. O que é bom para os EUA é bom para o Brasil, certo? Pois então…

Mas agora Ana se superou. Seus assessores estão há uns quinze dias articulando uma reação ao povo de má-fé (palavras da ministra em audiência na Câmara dos deputados) que a atacam principalmente pela internet. E estão estimulando uma série de pessoas a escrever artigos em defesa da ministra utilizando a tática do bem contra o mal.

Ana de Hollanda é a moça do bem. E o povo de má-fé é a companheirada de olho no butim do MinC. Nada mais primário, mas essa é a estratégia da turma.

Muitas pessoas que os articuladores do “fica Ana” foram procurar se negaram a cumprir tal script. Este blogue recebeu telefonemas de dois desses interlocutores. Um deles me disse, “só faltaram dizer que iriam colocar meu nome de pessoas não gratas no MinC se não me posicionasse”. Mas há quem aceite, certo? E não estou dizendo aqui que é o caso de José Neumanne Pinto, jornalista de fama e que no auge de sua carreira foi assessor do banqueiro José Eduardo de Andrade (ex-dono do falido Bamerindus).

Neumanne não faria isso, principalmente na página 2 de O Estado de S. Paulo. Mas de qualquer forma escreveu um artigo hoje com essa linha de argumentos.

E há alguns dias fez comentário no Direto ao Assunto da Rádio Jovem Pan no mesmo tom, onde acusa o ator Sérgio Mambertti de querer derrubar a ministra, Fernanda Torres de ser “empresária que está lutando por seus interesses” e onde ainda chega ao ponte de dizer que Marilena Chaui, que teria plagiado José Guilherme Merquior, só quer o dinheiro do MinC sendo administrado por seus indicados.

Além de jornalista, Neumanne também é homem das letras, um verdadeiro literato. Sua obra-prima é o livro: “O que sei de Lula”.

Com todo o respeito ao autor faltou-me tempo nesta vida atribulada para ler a obra. Mas movido por curiosidade jornalística, assisti a uma entrevista dele sobre o dito cujo no Youtube. E dali saquei as seguintes frases de Neumanne sobre Lula.

O Lula é o retrato do cidadão brasileiro: oportunista, vagabundo inimigo da leitura e da educação…

O Lula instalou a aceitação da corrupção como uma coisa legítima, quase como um programa popular

Lula conseguiu colocar no lugar dele quem ele quis, um poste, (Dilma), que ele pode manipular da maneira dele.

Lula é um dos piores presidentes que o Brasil já teve.

Lula foi o primeiro presidente a não ter oposição nenhuma. O Lula é filho de um canalha, bêbado, autoritário e mulherengo com uma santa. Ele representa a maior parte dos brasileiros que são filhos sem pais.

Como se pode notar pelo palavrório, o livro é de elevado nível. O nível do artigo de hoje no Estadão é semelhante ao do livro contra Lula.

Mas para não ficar só no discurso “anti-companheirada”, Neumanne recorre a outro texto do cineasta Cacá Diegues, que usa números tortos produzidos pela assessoria do ministério, para dar um certo lustro ao seu. Como o artigo de Diegues para o jornal O Globo já está sendo respondido ponto por ponto pela professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes, na hora certa, tratarei do tema aqui.

A questão que explode deste artigo de Neumanne é de que o atual MinC não está apenas desorientado. Ele é a quinta-coluna do governo Dilma. Suas articulações são todas com aqueles que sempre combateram o PT, Lula, Dilma e a esquerda. É a partir de uma articulação com esses setores mais reacionários da cultura e da sociedade que essa turma da ministra tem tentado mantê-la a qualquer preço no cargo.

Mesmo sabendo que se trata de uma ministra fraca e comprometida com aqueles que não lutam pela cultura como patrimônio nacional, mas como um quintal de poucos.

E mesmo sabendo que Ana se move apenas no sentido de destruir o belo trabalho, que reverberou internacionalmente, conduzido por Gilberto Gil.

Freud explica o que Ana sente por Gil.

O problema é que esse sentimento está tornando o governo Dilma uma catástrofe na área cultural. E está trocando apoios relevantes por apoios como o de Neumanne Pinto.

Se tiver ânimo e quiser assistir ao vídeo onde Neumanne a propósito de falar do seu novo livro, desanca Lula, segue o link.

Posted by Patricia Canetti at 8:30 PM

A velha luta entre o talento e a tutela por José Nêumanne, O Estado de S. Paulo

A velha luta entre o talento e a tutela

Artigo de José Nêumanne originalmente publicado na seção Opinião do jornal O Estado de S. Paulo em 28 de março de 2012.

No fundo, a mobilização grosseira e atrevida de segmentos do Partido dos Trabalhadores (PT) e de grupos com interesses na indústria cultural pela derrubada da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é mais um efeito colateral do loteamento de cargos públicos de primeiro escalão por partidos em troca de apoio ao governo no Congresso. De fato, uma coisa nada tem que ver com a outra, mas essas pessoas que redigem manifestos e procuram algum jornalista amigo para lhes dar repercussão pública devem pensar algo como: "Puxa, vida, se o PMDB, o PR, o PRB ou qualquer outra siglazinha ancorada no lago do Palácio do Planalto nomeia e derruba ministros, por que nós não o faríamos?" Por mais absurda que essa conexão possa parecer à primeira vista, ela nunca será mais grotesca do que a cruzada em si.

A primeira motivação para o ataque sistemático, desproporcional e absolutamente inócuo (pelo menos tem sido até agora) atende a uma questão: "Por que ela e não eu?" É claro que deve haver no Brasil milhões de cidadãos e cidadãs que se sentem mais preparados do que a economista Dilma Rousseff para exercer a Presidência da República. Só que a eleita foi ela e a ela cabe nomear, se não todos, porque tem realmente de aceitar indicações das bases para sobreviver politicamente, a maioria dos ministros que a ajudam a governar. Haverá também milhões de brasileiros decentes e bem-intencionados à espera de um convite do Planalto para ocupar uma pasta - da Fazenda à da Pesca. Pode ser que alguns façam como aqueles comunistas de antanho que ficavam no aguardo da prisão de mala e cuia prontas, com escova de dentes, dentifrício e sabonete entre os pijamas, naquele tempo em que nossas prisões ainda permitiam esses luxos. No entanto, quase todos, coitados, esperarão em vão. Pois muitos são candidatos e poucos serão escolhidos, lei darwiniana inventada pelo profeta galileu. Para estes a resposta apenas inverte a questão: "Por que eu e não ela?"

Pois o diabo é que a ministra da Cultura tem, digamos, pedigree para o posto: é filha do professor (da USP) Sérgio Buarque de Hollanda, autor de Raízes do Brasil, obra clássica que ilumina o entendimento histórico e sociológico de nosso país, e de Maria Amélia, Memélia, que virou uma espécie de padroeira do PT de Lula em suas primeiras derrotas para a Presidência. E, convenhamos, a moça é irmã do maior ícone vivo da cultura brasileira, Chico Buarque de Hollanda. Isso basta para justificar a nomeação? Mas é claro que sou o primeiro a responder que não. Só que, ainda assim, quem for capaz de enxergar além do próprio nariz deveria respeitá-la ao menos por esta razão. As cenas de grosseria explícita registradas nessa guerra sem quartel contra a ministra são, para começo de conversa, demonstrações de uma cafajestice na qual o mundo é pródigo e o Brasil, principalmente a patrulha cultural do PT, recordista mundial.

Sou do tempo em que derrotado cumprimentava vencedor pela simples e boa razão de que a civilidade é uma das condições para a permanência do jogo democrático. Juca Ferreira, segundo ministro de Lula e antecessor de Ana, entrou no governo pela porta da cozinha de Gilberto Gil. Sob os auspícios do sonho espanhol de recolonizar o mundo, e não mais apenas a América não imperialista, o artista e seu "maçaneta" espalharam o passa-moleque, conveniente para os grupos que os cortejam e as produtoras multinacionais de conteúdo, de que cultura é um bem coletivo e um meio de aumentar o acesso do membro da comunidade pobre da periferia do Ó é reduzir-lhe o custo com o abatimento do direito do autor. Sob seu patrocínio no MinC, venderam-se o furto fácil da internet aberta (Creative Commons) e a falácia de que produto cultural bom não é o de qualidade, mas o mais barato. E o autor que se "exploda".

Ana assumiu o ministério enfrentando sem estardalhaço, com seu estilo doce e firme, esse esbulho "politicamente correto". O direito do autor e o mercado são conquistas da civilização que estabelecem o único critério pelo qual uma produção artística ou cultural deve ser avaliada: o mérito do talento. O melhor é melhor e vive do que faz. Gil e Juca tentaram inverter essa constatação feita pelos iluministas franceses, propondo substituir a qualidade pela quantidade. E defenderam, ao longo de oito anos, a redução do direito autoral e a submissão do mercado à tirania do lumpesinato. Que Chico Buarque, que nada! O povão quer o funkeiro da Rocinha.

O caso é que há lugar para todos no mercado - o xote pé de serra e o forró de plástico. O povo ouve o que quer e paga pelo que prefere ouvir. Casas lotadas por Chico Buarque no HSBC Brasil não tiram fãs dos shows de Criolo. O mercado garante o moço bonito que virou unanimidade nacional e o poeta de vielas das favelas. Ao Ministério e às Secretarias Estaduais de Cultura não cabe tutelar o lumpemproletariado, mas incentivar orquestras sinfônicas e produções de vanguarda. Além de pegar R$ 1,64 bilhão para bater recorde sem precedentes em investimentos na pasta (furto o valor de artigo do cineasta Cacá Diegues em O Globo de sábado).

Não me lembro de ter lido estes números na entrevista de Juca Ferreira à Folha de S.Paulo em que ele inaugurou no Brasil o choro dos substituídos com um show de grossura e ressentimento explícitos, desconhecendo evidências como o fato de o investimento em Centros de Cultura ter passado de R$ 50 milhões no último ano de Juca/Lula para R$ 62 milhões no primeiro sob Ana/Dilma, com previsão de R$ 114 milhões para 2012.

Como uma forma de desqualificar a ministra, seus solertes detratores, de olho no butim, dizem que ela só não caiu porque Dilma não quer dar o braço a torcer. Quem acredita no mérito e desconfia do uso do lumpesinato reza todo dia para que o braço da presidente prossiga duro de torcer. Esta guerra não é fácil, mas não pode ser comparada com a crise da base aliada.

José Nêumanne é jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

Posted by Patricia Canetti at 8:11 PM

O que se tece por trás da rede de intrigas contra Ana de Hollanda? por Ana Terra

O que se tece por trás da rede de intrigas contra Ana de Hollanda?

Artigo de Ana Terra originalmente publicado no blog da compositora em 25 de março de 2012.

O artigo do cineasta Cacá Diegues, publicado no jornal “O Globo” em 24 de março de 2012, chega como água clara e cristalina para limpar a lama que estão tentando jogar em cima da Ministra Ana de Hollanda desde a sua posse. Desde que ela tirou a licença da ONG norte americana “Creative Commons” do site do MinC, num ato de soberania e altivez que devemos esperar dos dirigentes brasileiros, tentam associá-la a uma suposta quadrilha que dirige o ECAD. Mas o que está mesmo por trás da rede de intrigas é o que se tece por trás da rede da internet:

Com a popularização do uso de redes de comunicação bilhões de pessoas passaram a transitar pelo chamado “território livre da internet”. Liberdade que cobra um altíssimo preço para sua existência, pago pelo cidadão usuário que contrata um serviço, ou como acontece em muitos países, pago por órgãos governamentais que disponibilizam gratuitamente esse serviço para a população. Em ambos os casos, empresas privadas recebem uma concessão pública como qualquer meio de comunicação, para explorar economicamente este negócio que possui um número gigantesco de clientes.

Além do pagamento pelas assinaturas, a grande receita das empresas se dá pela publicidade na internet e pela negociação de bancos de dados formados a partir de informações fornecidas graciosamente pelo usuário em suas redes sociais.

O que move o sistema capitalista é obviamente o lucro, e não as boas intenções. E com péssimas intenções, o poder econômico induz ao público a ideologia da democratização da cultura e da arte, colocando na boca dos cidadãos o discurso aparentemente legítimo do “direito universal” de acesso ao conhecimento.

Nesta ação, o que está embutido, é a maximação dos lucros das empresas de telefonia e os sites provedores de conteúdo, através do não pagamento dos direitos autorais das obras artísticas e culturais, que são a razão de ser da internet. O mais preocupante é assistir setores governamentais, acadêmicos e políticos, apoiarem essa prática atual de estelionato como a tentativa de alterações significativas da Lei 9.610 que rege os Direitos Autorais no Brasil.

E muito mais preocupante é que se utilizam de mentiras contra a gestão da Ministra que o artigo do Cacá Diegues tão bem elucidou. Se tantos querem o lugar dela, aprendam a ter educação e serenidade.

Violência e má-fé não são boas credenciais para um Ministro da Cultura.

Posted by Patricia Canetti at 8:04 PM | Comentários (2)

A cultura é a alma de um povo por Cacá Diegues, O Globo

A cultura é a alma de um povo

Artigo de Cacá Diegues originalmente publicado no jornal O Globo em 24 de março de 2012.

Vira e mexe, a ministra Ana de Hollanda é atacada pelos jornais, através de artigos e manifestos, como uma Geni da cultura. Esta semana, texto subscrito por professores universitários, no jornal "O Estado de S. Paulo", e entrevista do ex-ministro Juca Ferreira, na "Folha de S.Paulo", pareciam petardos sincronizados, como numa campanha bélica bem tramada.

Não sou especialista em administração pública. Mas conhecendo a ministra e acompanhando de longe sua ação à frente do ministério, me estarreço com a violência praticada contra ela. Chego a pensar que não estamos acostumados à política exercida com discrição e serenidade, gostamos da tradição dos berros e dos murros na mesa, confundimos delicadeza com fragilidade.

São tão tortuosos e pouco sólidos os rumos desses desaforos, tão clara sua voracidade política, que seria mais simples se os agressores declarassem logo: "É que não vamos com a cara dela."

Juca Ferreira, o ministro do projeto autoritário da Ancinav, não esconde contra o que se bate: "Num estado com pouco controle social como o Brasil, você diz e faz o que quiser", declara em tom de lamentação, sobre algo que devia nos orgulhar. Antes dele, os professores liderados por Marilena Chauí listam várias expressões acadêmicas que gostariam de ouvir vindas do MinC e exigem dele uma participação criativa que não lhe cabe ousar ter. O velho e místico sebastianismo brasileiro ainda pensa que é o estado que produz e deve produzir cultura.

Ora, para os que já se esqueceram dele, lembro trechinho do belo discurso de posse da presidente Dilma Rousseff: "A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade. Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais." E então fui me informar do que anda fazendo o MinC de Ana de Hollanda para atender a esse programa anunciado pela presidente. Aqui transmito algumas respostas ouvidas por mim.

Em 2011, o MinC não só conseguiu dar conta de um enorme passivo de compromissos que ficaram a descoberto em 2010, como alcançou uma execução recorde de 98,98% dos limites autorizados para empenho. Isso significou R$1,069 bilhão em investimentos diretos, o maior número já alcançado pelo Ministério no que se refere ao efetivamente investido.

Ao contrário do que se tem dito, o orçamento do MinC, na gestão da presidente Dilma, é maior e mais realista do que o de gestões anteriores. O total de investimentos é de R$1,24 bilhão. Somando-se a isso os R$400 milhões a serem incorporados através do Fundo Setorial do Audiovisual, chega-se a R$1,64 bilhão, um recorde sem precedentes na pasta. E não se computa aqui o investimento indireto através das leis de incentivo, como a Rouanet.

E para onde têm ido esses recursos?

Os Pontos de Cultura encontravam-se sem pagamento desde o mês de março de 2010. Na atual gestão, o MinC já pagou cerca de R$100 milhões. O crescimento do orçamento do Programa Cultura Viva tem permitido a criação de novos Pontos de Cultura, o revolucionário projeto inaugurado por Gilberto Gil. Em 2010 o investimento nos Pontos de Cultura era de R$50 milhões. Em 2011, o primeiro ano da gestão atual, foram empenhados R$62 milhões e em 2012 esse valor saltou para R$114 milhões.

Em fevereiro deste ano, a ministra aprovou, junto à presidência, uma lista de programas prioritários que já estão em execução: o Brasil Criativo, que visa a ampliar as possibilidades de emprego e renda, a partir do potencial criativo; o Mais Cultura & Mais Educação, em parceria com o Ministério da Educação, para investir em cultura nas escolas; o PAC das Cidades Históricas, atuando em 125 cidades que possuem sítios históricos ou bens tombados; o de Praças dos Esportes e da Cultura, na periferia de 345 cidades, para construção de parques esportivos, bibliotecas, salas de espetáculo, cineclubes.

O ministério está investindo no processo de implantação do Sistema Nacional de Cultura, que pulou de 337 municípios e um estado integrados até 2010, para 782 municípios e 17 estados hoje. Na área do audiovisual, a aprovação recente da lei 12.485 vai permitir a presença do produto nacional independente nas televisões por assinatura e o crescimento dos recursos do Fundo Setorial. Um instrumento de remissão do cinema brasileiro.

Além disso, o MinC, com o apoio da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, se empenha na aprovação, pelo Congresso, de leis como as do Vale Cultura, do Procultura e sobretudo da revisão dos Direitos Autorais. Sou internauta e sei que não é mais possível nem desejável recolher esses direitos como se fazia no passado. Mas também não estou disposto a entregar o que sai de minha cabeça ao Creative Commons, um projeto de marketing de empresa esperta.

Foi isso o que me contaram e eu ouvi do MinC. Se alguém não concorda, que apure e se manifeste. Não precisa trucidar quem está do outro lado.

Chico Anysio foi e será sempre o Rei da Comédia, como Pelé é do futebol e Roberto Carlos da canção popular. Aqui, o clichê é exato e irresistível: o mundo vai ficar mais triste sem ele.

Cacá Diegues é cineasta.

Posted by Patricia Canetti at 7:51 PM | Comentários (1)

No Recife, exposição 'sem título' propõe diálogo entre três artistas, Portal G1 PE

No Recife, exposição 'sem título' propõe diálogo entre três artistas

Matéria originalmente publicada no portal G1 PE em 26 de março de 2012.

A Galeria Amparo 60 abre o calendário de exposições deste ano nesta terça-feira (27), às 20h, com a mostra “Sem título algum”, que reúne, pela primeira vez, obras dos artistas Lula Wanderley, Paulo Bruscky e Adolfo Montejo Navas. Sob coordenação de Joana D’Arc, a proposta foi abolir a tradicional curadoria e deixar a amizade entre os três criar conexões entre seus trabalhos, expondo os que apresentam ressonâncias e afinidades. Evento segue até 27 de abril.

No lugar da curadoria, aparece uma espécie de agenciamento. “Nesse formato, o diálogo para a escolha das obras se potencializa. Eu entrei no pedaço para fazer a interlocução dessa rede. É o que chamamos de agenciamento. Por causa da proximidade entre eles, acaba que seus trabalhos se conversam o tempo todo, mesmo que estejam geograficamente distantes. Então, eu apareço como uma rendeira, aquela figura que tece os fios”, explicou Joana D’Arc.

O pernambucano Paulo Bruscky, que vive e trabalha no Recife, será o anfitrião. Ele vai acolher o também pernambucano Lula Wanderley, que deixou a cidade na década de 1970 para enveredar-se pelo Rio de Janeiro. O encontro se completa com a presença do espanhol Adolfo Montejo Navas, que mora no Brasil há 18 anos. Atualmente, Navas vive em Foz do Iguaçu e é mais reconhecido como poeta, tradutor, crítico e curador independente.

“O trabalho deles se toca no uso de materiais, poéticas e temáticas semelhantes, mesmo que eles estejam vivendo em contextos diferentes. Um tema presente na obra dos três, por exemplo, é o futebol, que cada um escolhe uma maneira de trabalhá-lo. Eles também usam materiais inusitados. Pegam coisas corriqueiras e trazem para o campo da arte, sacralizam o que é profano", diz Joana D’Arc.

O título (ou anti-título) já ressalta que nessa exibição as divisões entre os gêneros e suportes estão misturadas para destacar características comuns a esses artistas, que apresentam ao público diversas linguagens expressivas - textos, vídeos, fotografias, objetos, entre outros. “Ao mesmo tempo que abolimos a curadoria, também acabamos com o título, a etiqueta que aponta qual obra é de quem e, assim, nenhum artista ou linguagem domina a mostra. Não ter título significa também dessacralizar o modo com o as exposições atuais têm sido feitas. Quebramos esse modelo definido”, comenta a coordenadora.

As obras selecionadas vão ocupar todos os espaços da galeria, do jardim ao banheiro, passando pela vitrine. Em uma única parede, será possível encontrar um mapa que localizará e identificará as peças e seus autores, criando um tipo de obra coletiva pautada na conversa estética. O evento contará, ainda, com um projeto educativo que vai promover visitas escolares e encontro com professores.

Sem título algum

Curadoria de Joana D’Arc

27 de março, terça-feira, 20h

Amparo 60 Galeria de Arte
Av. Domingos Ferreira 92A, Boa Viagem, Recife – PE
81-3033-6060 ou galeria@amparo60.com.br
www.amparo60.com.br
Segunda a sexta, 10-13h; 14-19h; sábado, 10-14h
Exposição até 27 de abril de 2012

Posted by Guilherme Nicolau at 2:26 PM

‘New York Times’ destaca o Sesc como ‘grupo cultural único’, O Globo

‘New York Times’ destaca o Sesc como ‘grupo cultural único’

Matéria originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Globo em 27 de março de 2012.

Jornal americano faz perfil da organização sem fins lucrativos, que cresce 10% ao ano

RIO - O jornal americano “New York Times” destaca, em sua edição desta terça-feira, o trabalho do Sesc como um “grupo cultural único”, com um orçamento crescente para a promoção da cultura no Brasil e, agora, também fora do país. O artigo, assinado pelo jornalista Larry Rother, diz que, enquanto organizações do mundo todo estão apertando seus orçamentos e reduzindo produções, Danilo Santos de Miranda, diretor-geral do Sesc, enfrenta um desafio diferente: o de encontrar bons projetos para investir seu orçamento, que chega a US$ 600 milhões por ano e que cresce anualmente cerca de 10% ou mais.

“Nosso princípio-guia fundamental é usar a cultura como ferramenta para a educação e a transformação, para melhorar a vida das pessoas. Graças a Deus, estamos numa posição em que podemos cumprir essa missão. Na última década, nosso orçamento tem dobrado a cada seis anos, não é incrível?”, declarou Miranda ao jornal.
Segundo o “NYT”, o Serviço Social de Comércio tem um modelo de financiamento considerado “único no mundo”: uma entidade privada, sem fins lucrativos, endossada pela Constituição nacional, cujo orçamento é proveniente de uma taxa de 1,5% sobre a folha de pagamento de empresas brasileiras. “Como a força de trabalho no país de quase 200 milhões de habitantes tem se expandido, o mesmo acontece com o orçamento da organização”, destaca. “Atualmente, praticamente não existe uma área das artes no Brasil em que o Sesc não atue. A organização tem sua própria editora, assim como um selo musical e um canal de TV por assinatura, e ainda admnistra galerias de arte, teatro, cinemas e salas de espetáculo, frequentamente parte de complexos maiores que incluem restaurantes e aparelhos esportivos”.

Para a publicação, o investimento do Sesc em cultura é um reflexo do desenvolvimento econômico brasileiro nos últimos anos, que colocou o país como a sexta maior economia mundial. Agora, a organização está fazendo um esforço para expandir suas atividades e aumentar o reconhecimento cultural do Brasil internacionalmente, reforçando seus laços com artistas de fora do país. O Sesc “patrocina um festival de jazz em conjunto com a gravadora de Nova York Nublu; assinou uma ‘parceria institucional’ com a companhia de língua espanhola TeatroStageFest; e apresentou trabalhos de artistas como o músico David Byrne, o percussionista Bobby Sanabria e o diretor teatral Robert Wilson”.

“O modelo do Sesc é um exemplo maravilhoso que deveríamos ter por todo o mundo”, disse ao “NYT” Nan van Houte, diretora do Netherlands Theater Institute e ex-presidente do International Network for Contemporary Performing Arts. “Integrar tudo, ter teatros, piscina, livraria, restaurante, oficinas e museus, tudo junto, é tão engenhoso. Isso faz a cultura ser parte do dia-a-dia, não algo à parte”.

Posted by Guilherme Nicolau at 2:22 PM

Obras de dez criadores são apresentadas em exposição, livro e documentários por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Obras de dez criadores são apresentadas em exposição, livro e documentários

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal o Estado de S. Paulo em 27 de março de 2012.

'Teimosia da Imaginação - Dez Artistas Brasileiros' reúne peças de criadores autodidatas

O artista José Bezerra, nascido em Buíque, Pernambuco, teve um sonho ou uma visão num dia de domingo para segunda-feira, como conta. Dormindo em uma rede, fora de casa, viu um grande véu branco em formato de um grande homem que lhe disse: "Ô, Zé Bezerra, você é um artista e vai viver das matas". Desde então, começou a esculpir em madeira ou fazer nascer de pedaços de troncos brutos, formas de animais, quase abstratos, únicos.

"Arte ou artesanato? Interessa é o criar uma linguagem própria, independentemente de se ter uma formação", diz a artista Germana Monte-Mór, que assina a curadoria da mostra Teimosia da Imaginação - Dez Artistas Brasileiros, a ser inaugurada nesta terça-feira, 28, no Instituto Tomie Ohtake. Assim como obras de Bezerra, há ainda na exposição criações - esculturas, cerâmicas, pinturas e desenhos - de Izabel Mendes, Véio (Cícero Alves dos Santos), Antonio de Dedé, Manoel Galdino, Aurelino, Francisco Graciano, Nilson Pimenta, Getúlio Damado e Jadir João Egídio. São peças de criadores que tiveram um ensejo natural de ser artista, mas por serem autodidatas e produzirem uma obra a partir de seus lugares de origem, ficam classificados no gênero da arte popular ou arte do povo brasileiro.

São, enfim, terminologias. Mas que podem ser repensadas. "Nos Estados Unidos, ao menos nas artes visuais, ‘pop’ (uma abreviação do termo popular) significa praticamente o oposto daquilo que, em geral, a mesma palavra designa entre nós. Nas telas de Andy Warhol, sua melhor tradução, ‘pop’ diz respeito a uma realidade que rompeu totalmente os nexos que poderia manter com a experiência", escreve o crítico Rodrigo Naves, cocurador de Teimosia da Imaginação, no prefácio do livro, editado pela WMF Martins Fontes e Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro, que acompanha a exposição.

Falas. Mostra e publicação, assim, fazem parte de um projeto amplo. Na verdade, toda a empreitada nasceu da ideia de se fazer documentários sobre 10 artistas da arte popular. A produtora Polo de Imagem, em parceria com a TV Cultura, definiu com o Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro, criado em 2006, os criadores que seriam retratados nos filmes. Malu Viana Batista, diretora da produtora, a colecionadora Vilma Eid e Germana Monte-Mór, respectivamente, presidente e consultora do Instituto do Povo Brasileiro, fizeram uma seleção que privilegiasse criadores vivos, para que os documentários tivessem suas falas.

"Só o Galdino não é vivo, mas o diretor Claudio Assis tinha horas de gravações com ele", conta Germana. Além do cineasta Assis, premiado autor de filmes como Amarelo Manga e Baixio das Bestas, os episódios, com 26 minutos de duração e que serão exibidos na TV Cultura, também são assinados por Hilton Lacerda, Cecília Araújo, Rodrigo Campos e Adelina Pontual.

Os cineastas foram a campo - ao Nordeste, onde vivem Antonio de Dedé, Aurelino, Véio, Graciano e Bezerra; a Minas, para gravar Damado, dona Izabel e Egídio, e a Mato Grosso, para retratar Nilson Pimenta. O livro Teimosia da Imaginação, assim, representa cada um dos criadores dando maior voz aos depoimentos de cada um - como o do sonho de Bezerra, citado -, editados pela antropóloga Maria Lucia Montes. "Há uns mais articulados, como o Véio. Já Aurelino é esquizofrênico", conta Germana, que fez fotografias dos artistas e seus locais de trabalho.

A exposição, agora, é mais uma forma de dar o devido espaço para as criações subjetivas, imaginadas, desses artistas (leia mais ao lado), de um gênero que, também, vem adquirindo ascensão, nos últimos cinco anos, no mercado de arte.

Com obras de diversas instituições, a mostra dedica áreas como salas com conjuntos de cerca de 10 peças de cada um, datadas de diversos períodos. "Cidade e campo, ensinamento e experiência, loucura e relação serena com o meio, procedimentos modernos e técnicas tradicionais deixam de se pautar por parâmetros claros e excludentes. No mais das vezes eles se encavalam de maneira mais ou menos violenta, dando origem a trabalhos de arte que guardam a lembrança dessas relações complicadas e imperfeitas", tão bem define Naves.


TEIMOSIA DA IMAGINAÇÃO

29 de março a 13 de maio de 2012

Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201, Pinheiros, São Paulo - SP
11-2245-1900 ou instituto@institutotomieohtake.org.br
www.institutotomieohtake.org.br
Terça a domingo, 11-20h

Posted by Guilherme Nicolau at 2:13 PM

Principal museu francês de arte contemporânea mira no Brasil, O Globo

Principal museu francês de arte contemporânea mira no Brasil

Matéria originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Globo em 28 de março de 2012

Pompidou investe na aquisição de arte brasileira e se articula para trazer ao país exposições

RIO - Os olhos do Centro Pompidou estão fixados no Brasil. O principal museu de arte contemporânea da França vem trabalhando silenciosamente em território nacional para encontrar parceiros locais e trazer ao país exposições temporárias que levem sua marca. Enquanto isso, em Paris, a prestigiada instituição adota uma "política ativa" de aquisição de obras brasileiras. Quer tornar mais robusta a presença do Brasil em seu acervo.

Em entrevista ao GLOBO, o recém-reeleito presidente do Pompidou, Alain Seban, enaltece a cena de arte contemporânea brasileira e a classifica como "uma das mais apaixonantes do mundo". Revela ainda qual é a estratégia do museu para estreitar relações com o país: o investimento em novas aquisições e a exibição de parte de seu acervo por aqui.

— Recentemente, com apoio de um grupo de colecionadores franceses e latino-americanos, compramos trabalhos de Ernesto Neto, José Damasceno, José Bechara e Rivane Neuschwander — diz Seban.

Além disso, o Pompidou vem tentando enriquecer sua coleção com obras da arte moderna brasileira. Recebeu em doação do mecenas americano Daniel Brodsky, por exemplo, "Caranguejo" (1960), um dos "bichos" de Lygia Clark. Atualmente, o museu conta com aproximadamente 600 obras de cerca de 60 artistas brasileiros. E ainda quer mais.
Não está nos planos do Pompidou, no entanto, abrir um braço permanente no Brasil — ou em qualquer outro país. A instituição, que em 2010 deu o primeiro passo em direção à descentralização (com a inauguração do Pompidou-Metz, em Lorraine, na França), quer que seu acervo, de 70 mil obras, circule mais.

— O Brasil tem todas as ferramentas para desenvolver suas próprias instituições, como os Estados Unidos têm o MoMA, ou a Inglaterra, a Tate. Não creio na implantação de um Pompidou permanente no exterior. Por outro lado, acredito que podemos levar nosso apoio e expertise para projetos de duração temporária.

Um museu global e virtual

O pensamento de Seban sobre a arte nacional está totalmente alinhado com o da curadora-chefe da instituição, Christine Macel. Sem economizar, ela diz que "a história da arte no século XX não pode ser escrita sem mencionar artistas como os neoconcretos Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape":

— Ando especialmente fascinada por Lygia Clark, que viveu parte de sua vida em Paris, mas ainda é pouco conhecida do grande público francês. Ela inventou uma arte baseada na ação e na interação, em que o espectador se torna o verdadeiro ator.

Christine assina a curadoria de "Danser sa vie", em cartaz atualmente junto com a exposição principal da casa, de Henri Matisse. Na mostra, ela encontrou espaço para incluir parangolés e um vídeo de Kátia Maciel em que o poeta Waly Salomão veste uma das peças criadas por Hélio Oiticica. A exposição sobre dança, que termina na próxima segunda-feira, tem média diária de quatro mil visitantes. 

Com relação à arte contemporânea brasileira, Christine também se mostra animada. Lembra que o Pompidou já exibiu, por exemplo, vídeos de Janaina Tschäpe e que efetivamente vem aumentando seu acervo.

Segundo o presidente do museu, existem muitos projetos em discussão para que o Brasil acolha mostras de duração limitada do Pompidou. Seban, porém, evita detalhar as negociações.

O interesse no país é reflexo não só do alardeado boom da arte do Brasil, mas também da presença maciça de brasileiros pelos corredores do museu. De acordo com as últimas pesquisas da casa, o Brasil está entre os dez países que mais levam visitantes ao Pompidou anualmente — ganha de chineses e japoneses, e é o segundo no ranking dos não europeus, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Para Seban, a América Latina é o "centro criativo mais ativo e dinâmico do mundo", e ocupa "evidentemente um lugar prioritário" no cenário cultural. O interesse é tanto que, há dois anos, o museu conta com a consultoria de um grupo de especialistas e colecionadores de arte latino-americana (o Centro Pompidou América Latina), que o direciona nas aquisições de obras de arte por aqui.

O presidente explica que o movimento em direção ao Brasil também é parte de uma estratégia maior, de "mundialização" da marca Pompidou.

— Para um museu de arte contemporânea no século XXI, o que está em jogo é justamente isso. A arte se tornou global. Nossa coleção se pretende universal e, então, deve refletir essa nova geografia da criação, abrindo-se às cenas emergentes. Para isso, precisamos reorganizar profundamente o museu e encontrar novos meios de aumentar a coleção.

Dentro do pacote da "mundialização", há ainda a proposta de criar um Pompidou virtual. Previsto para estrear em setembro, o projeto não é apenas um museu digital, mas, segundo Seban, abrirá na web todo o acervo e as exposições desenhadas pela casa. Para tanto, o museu vem investindo no desenvolvimento de uma plataforma tecnológica com "arquitetura de interface simples e intuitiva". 

Mostras ‘blockbusters’

O plano de "mundialização" tem, é claro, inegável viés econômico. Num continente imerso em crise, em que a visitação de museus está em queda, expandir-se na direção de mercados em ascensão é um bom caminho para obter mais recursos.

— Nosso orçamento já era frágil e, no ano passado, a verba do Estado caiu mais 5% (o equivalente a 3,5 milhões) — afirma Seban. — O Pompidou, no entanto, soube reagir aumentando suas receitas próprias, de 20 milhões para 30 milhões nos últimos cinco anos, graças, entre outras coisas, ao mecenato, à locação de espaços e ao desenvolvimento de exposições fora da França. Já fizemos parcerias com Benin, Líbano e África do Sul.

Seban é o décimo presidente do Pompidou e, após cinco anos, foi reeleito. Assim como oito de seus antecessores, não tem formação em arte. Ocupa o posto como um administrador do governo francês. Orgulha-se de, na primeira gestão, ter elevado o número de visitantes do museu em 40% (no ano passado, foram 3,6 milhões de pessoas) e de ter aumentado as receitas próprias do Pompidou em 50%.

Há, do ponto de vista curatorial, empenho em criar mostras que resultem em público. O próprio Seban comandou exposições de Kandinsky, Calder e Munch. A programação para 2012 reforça a busca por blockbusters. Estão agendadas retrospectivas do alemão Gerhard Richter (o pintor vivo mais bem cotado em leilões) e do surrealista Salvador Dalí.

Posted by Guilherme Nicolau at 2:00 PM

março 27, 2012

Ana não gosta da internet, mas seus companheiros gostam por Tatiana de Mello Dias, O Estado de São Paulo

Ana não gosta da internet, mas seus companheiros gostam

Matéria de Tatiana de Mello Dias originalmente publicada no caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de março de 2012.

Governo avisou que a ministra continua

Ana de Hollanda não se interessa pela internet, mas virou Trending Topic no Twitter. Ela foi o assunto mais falado do País ao soltar, durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, que “a pirataria feita através da internet” vai “matar a produção cultural brasileira se não tomarmos cuidado”.

Ana de Hollanda provavelmente não sabe que a maior causa de pirataria em países emergentes como o Brasil não é a internet, mas os preços altos praticados pela indústria cujo discurso ela replica.

Ela também provavelmente não sabe o que é crowdfunding, que viabiliza projetos culturais através de doações na internet, nem plataformas como o Soundcloud, em que artistas ganham público sem depender de gravadoras. E também não deve conhecer o sucesso do Spotify lá fora, além de outros negócios milionários e acessíveis, que não operam no Brasil porque aqui vinga um modelo baseado no que a indústria quer e não no que os usuários podem pagar.

Como dizem, Ana é analógica e anacrônica. Não parece preocupada em entender a internet. Muito menos em pensar políticas culturais que conversem com o ambiente digital. Prefere investir, por exemplo, em restaurações. É seu projeto de governo – e endossado por Dilma Rousseff. A porta-voz da presidência disse que ela fica no cargo.

A reforma da lei de direitos autorais, prioridade do MinC até 2010, hoje é segundo plano. O ministério freou o processo de aprovação da lei para incluir no texto tópicos desejados pela indústria cultural (como a instituição do mecanismo de notificação e retirada de conteúdo infrator sem ordem judicial). A lei agora está no executivo – e sabe-se lá quando o texto irá para o Congresso.

Nada como um tempo após um contratempo, Ana. A ministra não está interessada na reforma, mas outros setores estão. O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) percebeu que, dentro do Congresso, predominava uma visão mais progressista em relação aos direitos autorais. Depois do recuo de Ana, ele pegou o texto anterior do MinC, mais flexível, e apresentou uma nova versão na Câmara. Há chance dessa lei ser aprovada antes da versão oficial do MinC? Ele me disse que não. Mas está otimista: sua ideia é reunir os dois projetos para que os parlamentares consigam aprovar uma legislação que, enfim, adeque a lei brasileira de 1998 à internet. Ele diz que a onda anti-Ecad “fortalece o projeto”.

O dia em que Ana foi o assunto mais falado do Twitter foi um marco. Só que a hashtag #AnadeBelém (em referência ao perfil oficial do MinC que twittava uma viagem dela pela capital paranaense) não derruba ninguém – muito menos aprova uma política cultural mais condizente com a internet. Ana não gosta da internet, mas seus companheiros gostam. O deputado aposta na mobilização online do “pessoal da cultura” para chegar a um texto progressista e flexível. Resta saber se a pressão da internet será tão forte quanto a da indústria. No MinC, quem manda é o modelo antigo.

Posted by Guilherme Nicolau at 2:20 PM

março 26, 2012

Coletivo multimídia Chelpa Ferro lança disco, O Globo

Coletivo multimídia Chelpa Ferro lança disco

Matéria originalmente publicada no caderno de Cultura do O Globo em 26 de março de 2012.

Trio formado por artistas plásticos e editor de vídeo fará performances na Europa

RIO - Eles misturam sons inusitados com materiais e apetrechos diversos para criar instalações potentes em vários decibéis. O coletivo multimídia Chelpa Ferro, formado pelos artistas plásticos Barrão e Luiz Zerbini e pelo editor de vídeo Sérgio Mekler, o Serginho, vem fazendo barulho há mais de uma década somando apresentações e exposições mundo afora. Em 2012, o trio prepara o terceiro disco — na verdade, um LP — e faz as malas para performances em Portugal e na Polônia.

Para "Chelpa Ferro 3", que será lançado no mês que vem, o grupo convidou sete músicos para tocar e interagir com cinco instalações sonoras do repertório do Chelpa: o baterista francês radicado no Brasil Stephane San Juan se uniu à obra "Acusma" (2008); Jaques Morelenbaum, ao trabalho "Microfônico" (2009); Arto Lindsay e Pedro Sá, à instalação "Máquina de samba" (2008); Kassin e Berna Ceppas, ao "Jungle jam" (2006); e o produtor musical Chico Neves — antigo integrante do coletivo — se juntou ao trabalho "On off poltergeist" (2007).

O vinil-objeto terá apenas 250 cópias, e cada capa será feita à mão, uma a uma, por Barrão, Zerbini e Serginho. Ele deverá ser vendido apenas na galeria Múl.ti.plo, no Leblon. O lançamento vai acontecer no dia 24 de abril, com show de Stephane San Juan no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.

Depois disso, em junho, o trio faz seu primeiro show no Circo Voador (ainda sem data definida) e logo ruma para Lisboa, onde estão agendadas uma apresentação e uma exposição no espaço Carpe Diem, idealizado pelo curador brasileiro Paulo Reis, morto no ano passado. Em terras lusitanas, o Chelpa vai exibir uma nova instalação, chamada "Craca", que ainda está em fase de criação, mas que vai contar com 18 alto-falantes e alguns blocos de isopor.

— O legal de viajar com a proposta de fazer uma nova obra no lugar é que não precisamos carregar toda aquela tralha na mala, despachar etc. Mas, por outro lado, existe uma certa tensão em pensar que temos que fazer o negócio acontecer — diz Barrão.

Em setembro, o grupo viaja para se apresentar na Bienal de Poznam, na Polônia. De lá, seguem para a cidade de Gdansk, onde vão expor na Gdansk Citty Gallery.

Reunidos pela primeira vez em 1995, por conta de um convite feito pelo poeta Chacal para criarem algo juntos o CEP 20.000 — tradicional evento de poesia carioca —, os três gostaram do que surgiu e resolveram dar continuidade à proposta, que ganhou forma em 2000.

— Acho que o que faz a gente continuar é essa possibilidade de trabalhar entre amigos. Eu só estou no Chelpa porque assim consigo tocar com eles, que são parceiros de longa data. Assim consigo fazer coisas que, sozinho, não são viáveis — conta Zerbini.

Posted by Guilherme Nicolau at 1:04 PM

Arte para o corpo por Nina Gazire, Istoé

Arte para o corpo

Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de Cultura da Istoé em 23 de março de 2012.

A dupla Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti vem trabalhando a interferência do público em obras cinéticas desde 2008. Mas até aqui nenhuma delas era tão dependente do corpo humano como as recentes esculturas vestíveis, “Molas”, expostas na Baró Galeria. “Em todos os nossos trabalhos a mola é um objeto recorrente, é fundamental para a ideia de movimento. Por isso começamos a pesquisar as possibilidades táteis do objeto”, explica Crescenti, que além de artista é arquiteto de formação.

O trabalho “Molas” (foto) é composto por três peças, que devem ser acopladas ao corpo do visitante: duas usadas no braço e no antebraço e a terceira no pescoço. Quando as peças são vestidas, o movimento provocado pelos aros gera diferentes sons. Esse dado torna essa obra uma escultura, além de cinética, sonora. Outra função interessante que os artistas atribuem aos objetos vestíveis é a de “joias conceituais”. Grande parte da inspiração para o projeto veio de referências da joalheria imperial chinesa e dos adereços usados por xamãs em rituais religiosos. Mas é inevitável traçar aqui uma correspondência com a história da arte contemporânea brasileira. As “Molas” parecem descender de maneira direta dos “Objetos Sensoriais” – óculos e máscaras com diferentes filtros táteis e visuais – de Lygia Clark e outras de suas experiências de arte-terapia na década de 1960. Ao vestir as esculturas, o visitante tem uma experiência não apenas tátil-visual, mas também lúdica.

Posted by Guilherme Nicolau at 12:50 PM

Máquina de ficção por Paula Alzugaray, Istoé

Máquina de ficção

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Istoé em 23 de março de 2012

Em retrospectiva no MoMA, obra de Cindy Sherman é um prato cheio para refletir sobre o que é ser mulher no século XXI

A identidade é um artifício que tem a fotografia como principal cúmplice. Estamos no mundo de Cindy Sherman, uma das artistas mais influentes de seu tempo. E, por isso mesmo, um dos poucos nomes que já tiveram a honra de ganhar, ainda em vida, uma retrospectiva na meca da arte moderna: o MoMA de Nova York. A exposição cobre a carreira da artista desde os clássicos “Untitled Film Stills”, dos anos 1970, até as obras fotográficas em formato de mural a que ela tem se dedicado desde 2010 – e que expõe pela primeira vez nos EUA nesta mostra. São 171 obras-chave para compreender sua produção.

Nestes 35 anos de carreira, Cindy Sherman flertou com o cinema, as revistas femininas, a moda, a publicidade, a psicanálise e a história da arte, mas sua maior contribuição foi protagonizar, junto de nomes como Richard Prince, Sherrie Levine e Louise Lawler, a conquista de um espaço nobre para a fotografia no cânone da arte contemporânea. Antes desse grupo de artistas que se estabeleceu nos anos 1980, a fotografia era considerada uma arte menor. Hoje, se um jovem artista trabalhando com o suporte fotográfico ganha reconhecimento e tem suas obras absorvidas pelo conservador mercado de arte, é em grande parte graças a Cindy Sherman e seus colegas da Pictures Generation (Geração Fotografia) – termo cunhado pelo crítico Douglas Crimp, em 1977.

É interessante confrontar os “Untitled Film Stills” (1977-1980), em que a artista encenava cenas de suspense ou romance cinematográfico em fotos preto e branco de dimensões modestas e efeito reticulado, com os portraits de socialites de 2008, em que senhoras de alto poder aquisitivo – o que se depreende de suas roupas sofisticadas e dos ambientes luxuosos em que são retratadas – posam para fotos de grandes dimensões que revelam em detalhe suas rugas e cirurgias estéticas. Ambas as séries são protagonizadas pela própria artista (Sherman é famosa por trabalhar sem modelo nem assistentes) e nenhuma é menos construída do que a outra. A obra da artista, aliás, é um manifesto sobre como toda fotografia é sempre fabricada. Mas o campo da ficção que cada série referencia difere radicalmente. A foto de cinema tem como motor a construção hollywoodiana da imagem feminina, ou seja, o estereótipo de mulher criado pelos filmes, a publicidade e as revistas eróticas. Já os retratos de 2008 se fundamentam na fabricação particular de uma identidade artificial pelas mulheres mais velhas, aquelas que já abandonaram a indústria dos tipos femininos para consumo.

É perturbador observar como as fotografias de socialites escancaram a busca inglória pela eterna juventude e pelo glamour algo decadente de uma realidade social igualmente efêmera. São retratos patéticos e, por isso mesmo, mais humanos, quase reais. Ao longo de sua trajetória, a artista teve sua obra cooptada por todas as teorias correntes, do pós-modernismo ao pós-estruturalismo, passando pelos discursos feministas e psicanalíticos. A psicanálise tem novamente nestas obras recentes um prato cheio para refletir sobre o que é ser uma mulher no século XXI.

Posted by Guilherme Nicolau at 12:17 PM

Retrato de Cindy Sherman deve bater recorde em leilão por Chris Michaud, Reuters Brasil

Retrato de Cindy Sherman deve bater recorde em leilão

Matéria de Chris Michaud originalmente publicada na Reuters Brasil em 23 de março de 2012

LONDRES, 23 Mar (Reuters) - Um dos mais famosos retratos da fotógrafa norte-americana Cindy Sherman, pertencente ao Museu de Arte de Akron, em Ohio, será leiloado em maio e pode alcançar um valor inédito para obras da artista, disse a casa Christie's na quinta-feira.

O museu há muito tempo aposta em Sherman, cujo trabalho está atualmente atraindo multidões para uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York.

"Sem Título Nº 96", da série Centerfolds, feita por Sherman no começo da década de 1980, irá a leilão em 8 de maio em Nova York. A Christie's deve anunciar a autorização para a venda na sexta-feira.

Andrew Massad, especialista em arte contemporânea internacional da Christie's, disse que a obra representa "a apoteose do que Rosalind Krauss (crítica e teórica da arte) chamou de a capacidade de Sherman de destilar uma 'cópia sem original', significando assim arquétipos pictóricos ideais que definem nossa cultura".

O grande retrato colorido é considerado um dos mais importantes da seminal série Centerfolds. O Museu de Arte de Akron decidiu vendê-los para poder adquirir outras obras para o seu acervo de arte contemporânea.

No ano passado, a Christie's vendeu por 3,89 milhões de dólares um outro retrato de Sherman em tamanho quase natural, na qual ela aparece vestida com o colegial. Na época, esse foi o preço recorde para uma obra fotográfica, mas o valor já foi superado desde então.

Posted by Guilherme Nicolau at 12:03 PM