|
|
março 16, 2012
Retrospectiva do artista Leonilson será aberta nesta sexta por Roger Lerina, Zero Hora
Retrospectiva do artista Leonilson será aberta nesta sexta
Mostra reúne 361 trabalhos do artista cearense
A Fundação Iberê Camargo inaugura a temporada 2012 de grandes exposições trazendo a Porto Alegre a maior retrospectiva já montada de um nome central na arte brasileira contemporânea: José Leonilson (1957 – 1993).
Em cartaz a partir desta sexta-feira, a mostra Leonilson – Sob o Peso dos meus Amores reúne 361 trabalhos do artista cearense que criou uma poética ao mesmo tempo lírica, dolorida e irônica, expressa em pinturas, desenhos, bordados e instalações.
A exposição lança um olhar panorâmico sobre a trajetória do artista – dos primeiros estudos, datados de 1972, até o ano de sua morte, por complicações decorrentes da Aids. Trata-se de uma nova montagem do evento apresentado em São Paulo em 2011, no Itaú Cultural. Em Porto Alegre, Sob o Peso dos meus Amores vai exibir 126 trabalhos inéditos, incluindo um conjunto de ilustrações realizadas entre 1991 e 1993 para a coluna da jornalista Barbara Gancia no jornal Folha de S. Paulo.
– São cem desenhos que comentam o cotidiano da cidade de São Paulo, do país e do mundo de forma irônica e com humor – explica o cocurador Ricardo Resende, também consultor do Projeto Leonilson e diretor-geral do Centro Cultural São Paulo.
Artista que integrou o grupo conhecido como Geração 80, responsável por um vigoroso retorno à pintura na arte brasileira contemporânea, Leonilson participou em 1985 das bienais de São Paulo e Paris. Sua obra ganhou mais projeção internacional especialmente a partir dos anos 1990, migrando de uma pintura com caráter mais violento para manifestações artísticas delicadas e intimistas, expressas em pequenos desenhos, esculturas e bordados.
– Leonilson teve um papel importante na retomada da pintura, mas o que o diferencia de seus colegas de geração é uma escrita confessional, existencial, autobiográfica, que vai imprimir em sua obra de uma forma bastante fluente. Essa projeção do secreto e do confidencial fica mais intensa no final da vida – diz o cocurador e crítico de arte Bitu Cassundé.
A mostra inclui ainda nove agendas de Leonilson – onde ele esboçava suas obras e registrava suas atividades culturais –, digitalizadas e disponíveis ao público em iPads instalados em tótens, e a exibição do filme Com o Oceano Inteiro para Nadar, documentário sobre o artista dirigido por Karen Harley.
– É uma exposição com muitas obras e textos, demorada, que envolve. É para se ver com calma – recomenda Bitu.
Saiba mais sobre a exposição na Agenda de Eventos
MAM deve tornar-se o realizador oficial da 30ª Bienal de SP por Camila Molina, O Estado de S Paulo
MAM deve tornar-se o realizador oficial da 30ª Bienal de SP
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 16 de março de 2012.
Ministério da Cultura anuncia nos próximos dias a instituição que será proponente legal do evento, em setembro
Fontes do Ministério da Cultura (MinC) afirmam que o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo deve ser anunciado nos próximos dias como o novo proponente da 30.ª Bienal de São Paulo, prevista para ser inaugurada em setembro. Acirradas, as últimas negociações do governo federal com representantes da Fundação Bienal de São Paulo, Advocacia-Geral da União (AGU), MAM e do Instituto Tomie Ohtake - este também indicado pelo MinC para o projeto de troca do proponente da mostra - ocorreram anteontem em São Paulo. A decisão ainda será anunciada pelo Ministério da Cultura, e um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) vai ser assinado entre os envolvidos para que a mostra seja aberta para o público no dia 7 de setembro.
"Precisamos que o MinC defina a instituição para que a gente possa começar a ter um processo de negociação mais detalhado para realizar a mostra. Estamos otimistas", afirmou anteontem Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, em evento dos 25 anos do Itaú Cultural no Auditório Ibirapuera. "Os R$ 12 milhões já captados vão ser transferidos para o novo proponente", disse Martins. Segundo ele, a 30.ª Bienal de São Paulo está orçada entre R$ 20 milhões e R$ 21 milhões - os recursos restantes ainda terão de ser captados.
"A única saída é ter outro proponente para que haja a mostra. O conselho endossa todas as negociações da diretoria da Bienal", afirmou, na terça-feira, o colecionador Adolpho Leirner, membro do conselho da Fundação Bienal de São Paulo, depois de reunião dos conselheiros da instituição. "Mas temos de deixar claro que essa é uma solução pontual para o problema da instituição, para que não se construa aquela ideia de que a Bienal de São Paulo está voltando para o MAM", disse Julio Landmann, também conselheiro da fundação.
Ele se referia à história dos primórdios da Fundação Bienal, que, quando instituída, em 1951, tinha como sede o MAM.
O problema sobre o futuro da 30.ª Bienal começou em janeiro. No início do ano, a Fundação Bienal de São Paulo entrou na lista de inadimplentes do MinC por causa de questionamentos da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre convênios firmados pela instituição paulistana entre 1999 e 2007 (das gestões de Carlos Bratke e Manoel Pires da Costa, ambas anteriores à atual diretoria da entidade).
Pelos cálculos da CGU, a irregularidade dos convênios teria acarretado rombo de cerca de R$ 75 milhões. Com a criação de um TAC para que a 30.ª Bienal tenha outro proponente legal que não a própria fundação, o processo de prestação de contas dos convênios questionados ocorrerá em paralelo.
março 15, 2012
Bienal de São Paulo ainda espera por uma salvação por Márcia Abos, O Globo
Bienal de São Paulo ainda espera por uma salvação
Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Globo em 15 de março de 2012.
Conselho da Fundação reconhece o esforço do MinC e adia a desmobilização da mostra
O conselho da Fundação Bienal decidiu aguardar mais antes de desmobilizar curadores e artistas e cancelar a realização da 30 edição do evento, marcada para ser aberta ao público em 7 de setembro deste ano. A decisão, tomada numa reunião na noite de anteontem na sede da Bienal, em São Paulo, é uma demonstração do reconhecimento do esforço do Ministério da Cultura (MinC) para a realização da mostra na data prevista.
O MinC tem negociado saídas para liberar os recursos que viabilizariam a exposição, cerca de R$ 12 milhões, bloqueados pelo próprio governo em janeiro, quando a fundação Bienal foi listada como inadimplente por recomendação da Controladoria Geral da União (CGU). É o ministério que comanda o diálogo com o Instituto Tomie Ohtake e o Museu de Arte Moderna de São Paulo — uma destas instituições será parceira da Bienal e irá receber e gerir os recursos captados via Lei Rouanet para a realização da mostra.
— Por reconhecer um esforço genuíno do MinC para viabilizar a realização da Bienal, decidimos dar mais tempo às negociações. Estamos esperançosos, porém ainda não podemos garantir que a exposição vai acontecer — disse Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal. — Estamos satisfeitos com a parceria de qualquer uma das instituições. Mas a decisão final sobre qual delas será nossa parceira cabe ao MinC.
A expectativa é que nos próximos 15 dias seja discutido e assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), tratando das irregularidades em prestações de contas apontadas pela CGU que totalizam R$ 32 milhões. A Bienal deve se comprometer a devolver parte deste valor ao Ministério da Cultura. O passo seguinte será a definição de uma dinâmica de trabalho entre a Bienal e a instituição parceira.
Enquanto o impasse continua, a Bienal tem mantido parte dos preparativos para edição deste ano usando os R$ 5 milhões que tinha livres em caixa, recursos que não foram captados via lei de incentivo fiscal ou convênios com o poder público.
R$ 12 milhões bloqueados
A Fundação Bienal foi listada como inadimplente pelo MinC em 2 de janeiro, o que resultou no bloqueio de R$ 12 milhões e impediu a captação de outros R$ 8 milhões já comprometidos por empresas via lei Rouanet. A princípio, a 30 edição da mostra foi orçada em R$ 30 milhões quando começou a ser planejada, há dois anos, após a escolha do curador venezuelano Luis Pérez-Oramas.
Sem recursos para pagar colaboradores, a Fundação Bienal dispensou em fevereiro uma equipe de 150 pessoas do programa educativo e já trabalha atualmente com um orçamento menor, de cerca de R$ 18 milhões.
A inadimplência e o bloqueio das contas foram recomendados pela CGU após uma auditoria iniciada em 2009 que encontrou irregularidades em 13 prestações de contas entre 1999 e 2006, período em que a fundação foi presidida por Carlos Bratke e Manoel Francisco Pires da Costa.
Dossiê 30ª Bienal de São Paulo
Dossiê 30ª Bienal de São Paulo.
Inimigo público por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Inimigo público
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de março de 2012.
Pichador da Bienal vira celebridade e faz longa sobre o controvertido movimento
Na hora em que pichou uma obra da Bienal de São Paulo, há dois anos, Djan Ivson, o Cripta, foi enforcado por seguranças e arrastado para um quartinho no térreo do pavilhão no Ibirapuera. Levou uns socos, perdeu o fôlego, achou que fosse morrer - até que outro guarda o deixou fugir para o parque.
Agora ele quer contar detalhes daquilo que o catapultou à fama. Imagens inéditas do momento em que Ivson invadiu o viveiro de urubus montado pelo artista Nuno Ramos na Bienal e pichou "liberte os urubu" (sic) estão num vídeo na mostra "São Paulo, Mon Amour", no Museu Brasileiro da Escultura.
É uma espécie de trailer para um longa-metragem em pré-produção, escrito por ele, que conta a história dos pichadores na metrópole, gente "que anda sujo, sai sem um puto na carteira e passa por baixo da catraca no trem".
Mas é também gente que invade uma Bienal de São Paulo, depois volta pelas portas da frente como convidado, vai à Fundação Cartier, em Paris, onde Ivson expôs há três anos, vira tema de documentário, roteirista de filme, palestrante em escolas e acaba sendo escalada para a próxima Bienal de Berlim, para onde ele vai em abril.
Ivson foi de inimigo público, com dez processos de vandalismo nas costas, a queridinho de parte do mercado das artes e fetiche de curadores que tentam domesticar a fúria das ruas em ações controladas em museu e galeria.
Mas isso ele esconde no roteiro do filme, que deve custar R$ 8 milhões e teve os direitos comprados por um publicitário. Prefere exaltar os perigos da vida de pichador a narrar o glamour que conquistou. "Tem muita ação, aventura, o público entra em outro mundo, tipo 'Matrix'. É um olhar profundo da vida do pichador", diz ele. "E não vai ter um final feliz."
Esse final feliz aconteceu só na vida real, por enquanto. Ivson era o moleque rebelde que começou a pichar aos 12 anos em Barueri, na Grande São Paulo, e abandonou a escola na oitava série. Depois, virou porta-voz do "pixo" e celebridade da contracultura. Vive das vendas dos DVDs de suas ações e das palestras que dá em universidades.
POLÍTICA DO 'PIXO'
Até hoje, ele é pivô do debate sobre o "pixo" que se estende no meio das artes desde que ele e um grupo de amigos picharam o andar que ficou vazio, por falta de verbas, na Bienal de 2008. Na época, os curadores da mostra tacharam a ação de "destrutiva" e "autoritária", comparando o caso a um "arrastão".
Dois anos depois, Ivson foi convidado como artista para a 29ª Bienal e não se contentou em mostrar vídeos de ações. "Tinha de ter conflito para ficar real", diz ele. "Não é só estar na Bienal. Pichação é guerrilha." Mas nem a curadoria nem Nuno Ramos, vítima da ação, prestaram queixas contra o pichador.
Na pose e no discurso, Ivson ainda encara a arte como luta de classes. Não é uma corrente estética que se opõe a outra, mas um estilo de vida e origem social em fricção com um circuito elitista.
"Nossa estética está sendo assimilada", diz Ivson. "Mas a gente só vai fazer pichação autorizada, sem quebrar as regras, quando a gente não tiver mais vergonha na cara."
Nota: Conselho confirma realização da Bienal, Folha de S. Paulo
Conselho confirma realização da Bienal
Nota originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de dezembro de 2012.
DE SÃO PAULO - O Conselho da Fundação Bienal resolveu não suspender a realização da 30ª edição do evento, cuja abertura está programada para 7 de setembro deste ano. Com suas contas bloqueadas pelo MinC (Ministério da Cultura) por inadimplência, a instituição teria até anteontem para decidir se conseguiria ou não realizar a mostra. Hoje deve ser decidido em Brasília qual entidade (o Museu de Arte Moderna ou o Instituto Tomie Ohtake) passará a ser a proponente do projeto da Bienal, tornando sua realização possível.
Dossiê Bienal de 30ª São Paulo.
Arte de Leonilson no Iberê Camargo por Dalviane Pires, Diário do Nordeste
Arte de Leonilson no Iberê Camargo
Matéria de Dalviane Pires originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Diário do Nordeste em 15 de março de 2012.
Bitu Cassundé, cocurador de "Leonilson - Sob o peso dos meus amores", fala da exposição
A delicadeza poética e visual que torna única a obra do artista plástico cearense Leonilson está em movimento. A exposição "Leonilson - Sob o Peso dos Meus Amores", apresentada ano passado no Itaú Cultural, em São Paulo, chega agora a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.
O cearense Bitu Cassundé, curador da exposição junto com Ricardo Resende, conta que a primeira itinerância acontece com alguns eixos diferentes da primeira. Entre as novidades, um conjunto de ilustrações realizadas entre 1991 e 1993 para a coluna da jornalista Barbara Gancia no jornal Folha de S. Paulo. "Resolvemos trabalhar também com um acervo não apresentado no Itaú Cultural, o que torna essa exposição ainda maior", conta Cassundé que pesquisa Leonilson há sete anos.
A reedição de "Leonilson - Sob o Peso dos Meus Amores" reforça a cartografia afetiva do artista. Os visitantes irão encontrar obras de nomes responsáveis por uma grande movimentação na arte brasileira, conhecidos como Geração 80: Leda Catunda, Sérgio Romagnolo, Daniel Senise, Luiz Zerbini e Albert Hien. Esses artistas convidados eram amigos e parceiros de Leonilson. A mostra apresenta uma obra de cada um. "São cinco amigos que se aproximam de Leonilson pelo diálogo fluente", contextualiza Cassundé.
A viagem de "Leonilson - Sob o Peso dos Meus Amores" exigiu dos curadores alternativas no que diz respeito a expografia. Enquanto no Itaú Cultural havia uma grande caixa de madeira para que o público se sentisse acolhido pelo lirismo de Leonilson, na Fundação Iberê Camargo a mostra foi toda pensada para a montagem em ambiente que não poderia sofrer tantas intervenções. "Nós repensamos a exposição de forma que fosse montada em um grande cubo branco. Então optamos por repensar, acrescentar, aproximar amigos e outros trabalhos", diz.
O público vai poder tocar, por meio de iPads, as agendas de Leonilson, onde ele costumava fazer experimentações artísticas. É um material riquíssimo, cheio de detalhes e afetos, digitalizados pelo Projeto Leonilson e Itaú Cultural. A parceria está garantindo ainda a digitalização da parte documental da obra do artista, como cartas e postais.
Na Fundação Iberê Camargo, a mostra será aberta junto com o lançamento de um livro de mesmo nome, com textos dos curadores e de Maria Esther Maciel, escritora e professora de Teoria da Literatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Maria Esther foi convidada por pesquisar a taxonomia na literatura e na arte contemporânea, característica recorrente na constituição das obras de Leonilson.
Cassundé adianta que a próxima cidade a receber a exposição "Leonilson - Sob o Peso dos Meus Amores" deve ser o Rio de Janeiro. Até o momento não se sabe que Fortaleza vai receber a mostra. "Seria maravilhoso se o público cearense pudesse ter acesso a uma exposição com mais de 300 obras de um artista importante como o Leonilson", diz. Fica então a nossa torcida.
Mais de Leonilson
José Leonilson Bezerra Dias nasceu em Fortaleza, em 1957. Mudou-se para São Paulo ainda pequeno. O interesse pela arte aparece na infância se manifestou em forma de desenhos e nas brincadeiras que Leonilson faz com os retalhos do atelier de costura da mãe. Passou pela escola Panamericana de Arte e depois ingressou no curso de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, mas não chegou a terminar.
Na década de 1980, fez parte do grupo de artistas que revolucionou o meio artístico brasileiro conhecido como Geração 80. Participou, em 1985, das Bienais de São Paulo e Paris. Mas foi nos primeiros anos da década de 1990 que o artista se firmou como um dos destaques no panorama cultural brasileiro, com uma obra contundente, expressando como nenhum outro, os dramas e as angústias do homem contemporâneo.
O artista morreu em São Paulo, em 1993, deixando uma obra autêntica e extensa. Na Bienal de São Paulo de 1998, foi homenageado com uma sala especial. Atualmente, quem organiza e zela pelo trabalho do artista é o Projeto Leonilson.
Saiba mais sobre a exposição na Agenda de Eventos.
março 14, 2012
A arte não fala por si por Bruno Yutaka Saito, Valor Econômico
A arte não fala por si
Matéria de Bruno Yutaka Saito originalmente publicada no caderno Cultura & Estilo em 9 de março de 2012.
Arte moderna = eu poderia fazer isso + sim, mas você não fez. Essa simples equação, que se estende para a arte contemporânea e reflete antigo preconceito, circula hoje em forma de piada nas redes sociais. No entanto, em um momento de incertezas econômicas como o atual, em que o mercado de arte se torna mais atrativo para investidores, nem equações de mentira dão conta de simplificar uma realidade intrigante. O que faz uma obra atingir elevadas cifras em leilões e vendas privadas? Como funciona o circuito que garante o reconhecimento de determinado artista?
Respostas para essas questões tornam-se ainda mais subjetivas quando se leva em conta que obras de artistas vivos estão atualmente no foco dos donos do dinheiro. Em outro extremo do mercado, uma versão de "Jogadores de Cartas", do francês Paul Cézanne (1839-1906), foi adquirida por cerca de US$ 250 milhões, estabelecendo um novo recorde para uma pintura, no ano passado. Ainda que pesem os interesses estratégicos dos compradores, a família real do Qatar - cuja filha do emir, Sheikha Al-Mayassa, foi eleita recentemente a pessoa mais poderosa do mundo das artes, pela revista "Art Auction" -, e que o valor seja exagerado, a obra tem a seu favor a raridade e a importância histórica de seu autor.
Mas, quando se fala em artista vivo valorizado, é necessário lembrar que diferentes instâncias se beneficiam de uma produção em ritmo constante. No caminho para se chegar "lá", o artista passa por um processo informal conhecido como validação. O "lá" pode ser o mercado ou o reconhecimento crítico e institucional, áreas que nem sempre se cruzam. Em qualquer um dos casos, diferentes personagens das artes precisam dar uma espécie de selo de aprovação. "É um sistema muito complexo. Não são só uma ou duas pessoas que decidem. Um número extenso de plataformas de visibilidade e de fatores é que determina a validação de um artista", afirma Adriano Pedrosa, que recentemente foi curador da 12ª Bienal de Istambul, ao lado do americano nascido na Costa Rica Jens Hoffmann.
A ideia romântica de que talentos natos não precisam concluir uma faculdade de artes não tem muito espaço na realidade atual, apesar do sucesso de brasileiros como Leonilson (1957-1993), que não chegou a se formar. A inexistência de uma instituição nos moldes da CalArts (California Institute of the Arts, nos EUA) é uma das peculiaridades do circuito brasileiro, acredita a escritora e socióloga canadense Sarah Thornton, que aborda o mercado de arte em publicações como "The Economist" e "The Guardian".
Em um dos capítulos do seu livro "Sete Dias no Mundo da Arte", Sarah descreve uma aula que chega a durar 15 horas, em que alunos expõem seus trabalhos para debates com colegas de sala e o professor. Com mais de 250 entrevistados, o livro descreve sete diferentes instâncias percorridas por um artista: leilão, escola, bienal, mídia, ateliê, feira e premiação.
A faculdade, nesse contexto, não é apenas o local onde o aluno aprende os fundamentos teóricos e práticos da arte. É, também, onde o candidato a artista fará os seus primeiros contatos profissionais. Foi na Goldsmiths College onde o "blockbuster" Damien Hirst conheceu colegas do grupo que ficou conhecido como Young British Artists, em fins dos anos 1980. Márcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, diz que foi em uma visita à tradicional exposição Anual de Artes da Faap (exposição dos formandos da faculdade) que conheceu a artista Marina Rheingantz e seu trabalho. Hoje, ela é representada pela galeria, ao lado de nomes estabelecidos como Beatriz Milhazes e Adriana Varejão. "O artista, hoje, acaba tendo que fazer networking. É quase uma regra ele ir à abertura de uma exposição com seus trabalhos. Mas o mais importante deveria ser a obra. Ela deveria falar por si só", afirma Sarah.
Mostras como o Rumos Itaú Cultural, Panorama da Arte Brasileira (no MAM-SP) e o Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte/Bolsa Pampulha são espaços coletivos importantes para os novos artistas. "São museus participando desse início, onde nomes ainda não inseridos são apresentados ao circuito. É um primeiro momento, institucional, em que o artista atua por si só", diz Márcia. "Os galeristas e curadores antenados circulam nesses locais."
"Descobrir" um novo talento é glorioso em praticamente todas as áreas da cultura, mas há um sabor extra nas artes plásticas. Mundo afora, não faltam relatos de colecionadores que se gabam daquela obra de artista em início de carreira adquirida por uma pechincha. É famoso o caso do ator e colecionador Dennis Hopper (1936-2010), que, nos anos 1960, comprou por US$ 75 uma das pinturas de sopa Campbell de Andy Warhol (1928-1987). Há inúmeras variações do trabalho cujos valores hoje ultrapassam a faixa do US$ 1 milhão.
São perspectivas positivas como essa que estimularam o surgimento, em 2010, do Brazil Golden Art, fundo de investimento pioneiro no país. Artistas ainda não consagrados, mas com alto potencial de valorização, estão no foco. Heitor Reis, que já foi diretor do MAM - Bahia, é hoje gestor do fundo e conta que entre 10% e 15% das obras adquiridas são "blue chips". Atualmente, o fundo tem 300 obras de 200 artistas brasileiros contemporâneos. "Cerca de 80% da nossa coleção são 'small caps'. Esses artistas não consagrados serão o grande acerto do nosso fundo", acredita Reis. Com um patrimônio de R$ 40 milhões, o BGA já está fechado em 70 investidores (a cota mínima era de R$ 100 mil). O fundo pretende montar uma coleção com mil obras.
Não há regras para as escolhas de curadores e galeristas. Tudo depende de olhares individuais. "Meu interesse é pesquisar e disseminar artistas fora do eixo do Atlântico Norte e da Europa: um Sul ampliado, o antigo Terceiro Mundo", explica Adriano Pedrosa. Galerista pioneiro no Brasil dos anos 1980, Thomas Cohn ajudou a lançar nomes como Leonilson e Adriana Varejão e diz que, em muitos casos, levou apenas cinco minutos para ver potencial em uma obra. "Às vezes, você vê o talento, mas ainda verde. É necessário usar, então, o fator tempo. Você pode queimar um artista se decidir lançá-lo no mercado prematuramente. A sutileza vem com a experiência", diz Cohn, que anunciou o fechamento de sua galeria (ele irá abrir uma relojoaria com peças feitas por artistas, designers e arquitetos).
Para Márcia e Cohn, o galerista tem também função de crítico e conselheiro, sempre atento ao desenvolvimento do trabalho do seu artista. É uma atualização da imagem clássica e secular do mecenas. "Artista sozinho com seu trabalho, por mais talentoso que seja, não chega a lugar nenhum. O circuito institucional, de museus, não vai garantir sua sobrevivência", diz Márcia, para quem um artista de peso relevante deve ter representações também nos EUA, na Europa e na Ásia. Muitos artistas, conforme vão vendo sua cotação subir, trocam de galerista. "Para nós é ruim lançar, fazer um esforço danado, começar com valores baixos, atingir determinado ponto e o artista se despedir dele", afirma Cohn. "É como se ele dissesse: 'Bom, você já me serviu de escada, agora me despeço porque preciso chegar a outro patamar'. Antes de mais nada, artistas são seres humanos, com desejos pessoais."
Participar de uma importante exposição internacional quase sempre garante uma validação, ao menos institucional. Bienal de Veneza, Documenta de Kassel, além da Bienal de São Paulo e a de Istambul, são algumas das principais. No passado, as participações de Cildo Meireles, Jac Leirner, José Resende e Waltercio Caldas na Documenta de 1992 foram marcantes não apenas nas suas carreiras individuais, mas também etapa marcante no processo de internacionalização dos artistas brasileiros. A partir dos anos 1990, o interesse estrangeiro pela arte latino-americana, além do retorno da democracia ao Brasil, ajudou na profissionalização do mercado nacional. Já não seria tão estranho ver obras de brasileiros em importantes coleções de museus como o MoMA (Museu of Modern Art, em Nova York) e a Tate, no Reino Unido.
"Em tese, qualquer artista que é adquirido pelo MoMA ganha um ponto muito elevado no circuito. Mas existem artistas que entraram na coleção do museu e nem por isso conseguiram ou demoraram muito para ser reconhecidos. [O brasileiro Alberto da Veiga] Guignard [1896-1962] é um exemplo", diz Tadeu Chiarelli, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). "Há artistas com uma validação extraordinária no mercado, seja em leilão, seja em galeria, que são totalmente desprezados pelo circuito institucional", afirma Adriano Pedrosa. Como exemplo, o curador cita o artista colombiano Fernando Botero, que, apesar de estar na coleção do MoMA e ser o artista latino-americano vivo recordista em leilão (US$ 2,03 milhão por pintura em 2006), não é unanimidade entre a crítica.
Quando o assunto é venda negociada por galeristas, quantias elevadas podem até prejudicar a reputação de um artista, caso o colecionador em questão não tiver boa fama no mercado. Atualmente, no Brasil, ter uma obra no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), conta pontos positivos. Formado pela coleção do empresário Bernardo Paz, o espaço exibe obras de brasileiros e estrangeiros consagrados, como Ernesto Neto e Matthew Barney. Numa recente lista da revista "ArtReview" com o ranking das cem pessoas mais poderosas do mundo das artes, Paz é o único brasileiro, em 76º lugar.
Revistas especializadas e a crítica são importantes nesse processo. A "Artforum", nos EUA, e a "Frieze", no Reino Unido, são as publicações que mais possuem força mundial na construção da reputação de um artista. Apesar de sua credibilidade ser constantemente questionada devido aos caros anúncios das principais galerias mundiais em suas páginas, a "Artforum" tem papel de destaque no que deve ser levado a sério ou não no circuito. Damien Hirst, Jeff Koons e Takashi Murakami, a trindade que hoje alcança os maiores valores do mercado, embaralhando as fronteiras entre arte e a empresarialização da arte, raramente têm estudos críticos nas páginas da revista. Por outro lado, Adriana Varejão recentemente foi tema de um longo artigo. Sua colega de geração Rivane Neuenschwander, além de Hélio Oiticica (1937-1980), referência no processo de internacionalização da arte brasileira, também estão nessa restrita lista.
Não há, no Brasil, publicações com o mesmo peso, ainda que o fortalecimento do mercado gere uma demanda. Por isso, muitos profissionais que atuam no circuito apontam particularidades do colecionador local. "O Brasil tem um mercado provinciano e desinformado, muito ligado à moda. O artista que se destaca é o que aparece nas colunas sociais, e não aquele que está na cultura", diz Celso Fioravante, editor do site/informativo Mapa das Artes, que traz notícias e roteiros sobre o circuito de exposições no Brasil.
No Brasil, o mercado de arte é relativamente novo, se for feita uma comparação com Europa ou Estados Unidos. Da geração que se destacou nos anos 1990 chamam a atenção a carioca Adriana Varejão, cuja tela "Parede com Incisões à La Fontana II" (2001) foi arrebatada por 1,1 milhão de libras em leilão na Christie's de Londres no ano passado (maior valor já pago por obra de um artista brasileiro vivo), e Beatriz Milhazes. "O sucesso delas não foi da noite para o dia. Não há um momento de virada. Elas estão pintando há mais de 20 anos, estão na labuta no ateliê. O que gerou esse sucesso? Foi todo um desenvolvimento de currículo, diversas mostras institucionais", diz Márcia Fortes. "E temos que lembrar que esse 1 milhão foi em um leilão. Nem Adriana e nem a galeria viram a cor desse dinheiro."
O caso de Beatriz é exemplar nesse circuito de validação. Ela iniciou-se nas artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, e, com a coletiva "Como Vai Você, Geração 80?", realizada no mesmo local em 1984, foi identificada como parte de um grupo que incluía, entre vários outros, Leda Catunda, Daniel Senise. Já nessa época, é observada por curadores brasileiros como Paulo Herkenhoff e Ivo Mesquita, e iniciou participações em exposições internacionais na América Latina.
Em 1995, Beatriz entrou no circuito mais badalado da arte, em exposição no Carnegie Museum of Art, em Pittsburgh, EUA. No mesmo ano, começou a ser representada em Nova York por Edward Thorp, com quem fez sua primeira exposição em galeria estrangeira - resultando em crítica positiva no "The New York Times". A partir daí, Beatriz circula com desenvoltura no circuito internacional, entrando na coleção de museus como o MoMA (EUA) e o Reina Sofía (Espanha). As participações na Bienal de São Paulo (1998) e na Bienal de Veneza (2003) também são pontos altos da carreira da artista. No mercado, Beatriz fez história em 2008, quando se tornou a primeira artista brasileira viva a atingir a marca de US$ 1 milhão ("O Mágico" foi vendida por US$ 1,049 mi na Sotheby's, em Nova York).
O mercado de arte em expansão no Brasil tem estimulado o surgimento de novas feiras. No ano passado, a primeira edição da ArtRio teve um total de vendas de R$ 120 milhões. Em São Paulo, a Parte apostou em galerias menores, com obras de jovens artistas com preços até R$ 15 mil. Fernanda Feitosa, diretora da principal feira de arte do Brasil, a SP-Arte, diz que o perfil do comprador mudou e está mais jovem, na casa dos 20 e poucos anos. Ela cita uma "sofisticação da informação" e o papel dos cursos livres nessa mudança de perfil. Seguindo um mercado que existe no exterior, a Escola São Paulo, por exemplo, oferece cursos e palestras que ensinam o aluno a colecionar arte. "Mercado de arte é atrelado à economia. No momento em que o Brasil bombou, sendo a bola da vez, com o PIB crescendo, muita gente jovem chegando ao patamar dos ricos, com possibilidade de diversificar suas carteiras, surgiu essa tendência de termos mais investidores e colecionadores", afirma Heitor Reis.
Cifras milionárias em leilões internacionais, no entanto, não estão necessariamente relacionadas a esse bom momento da arte brasileira. Profissionais da área lembram que leilões são pontuais, guiados pela emoção e pela pressão psicológica e, por isso, servem como validação apenas mercadológica. De olho nas "possibilidades" que estão se abrindo no Brasil, a tradicional casa de leilões Sotheby's recentemente abriu um escritório no país. Para Katia Mindlin Leite Barbosa, presidente da Sotheby's Brasil, o interesse do mercado por arte contemporânea responde a uma simples equação: "Existe mais demanda para esse segmento porque a oferta de arte moderna e impressionistas está diminuindo no mercado".
Em 2011, a Sotheby's teve o segundo melhor resultado em sua história, com um total consolidado de vendas de US$ 5,8 bilhões. A concorrente Christie's teve US$ 5,7 bi em vendas e anunciou um crescimento de 27% (em dólares) no setor de arte contemporânea. Essa explosão, claro, não vem apenas de um amor súbito por arte dos grandes compradores. Segundo o jornal "Financial Times", em uma pesquisa da Family Bhive, espécie de rede social de milionários, entre mais de 70 banqueiros e gestores de investimento internacionais, arte foi identificada como o ativo com melhores chances de retorno em 2012. "Obra de arte não vira pó como as ações. Na pior das hipóteses, você continua usufruindo o prazer de ser dono da obra", diz Katia, da Sotheby's.
Ao menos em leilões, os critérios na determinação de um preço são subjetivos, ditados por especialistas próprios, e não pelo vendedor. "Quando um artista chega à Sotheby's, já se pressupõe que ele tenha certa bagagem, uma rede de colecionadores, 'dealers', de pessoas interessadas, que ajudam a movimentar o mercado", diz Katia. Fatores como a reputação do artista, a fase correspondente da obra, vendas anteriores de trabalhos parecidos são levados em conta no estabelecimento do preço. "Temos uma expressão que são os 'comparáveis', que vão dar o parâmetro para aquela avaliação", afirma Kátia. Heitor Reis, do fundo de investimentos BGA, diz que é necessário um trabalho de acompanhamento do mercado de arte para determinar quais obras irá comprar. "Fazemos prospecção o tempo todo, indo a ateliês, conversando com os formadores de opinião, diretores de museus, críticos. Tudo isso proporciona a valorização de um artista", afirma. Empolgado, Reis diz que o potencial de valorização é variável, mas pode chegar a otimistas 300 e 500% acima do CDI.
A aposta no novo e incerto é grande, e distorções podem surgir. "O mercado está dando as regras. Isso coloca em risco a produção e a qualidade dos artistas", afirma André Millan, da Galeria Millan. Quando se compara a rápida aceitação pelo mercado de jovens recém-saídos da faculdade com veteranos como Tunga, Cildo Meireles ou Waltercio Caldas, que levaram anos, nota-se uma aceleração que reflete uma demanda "inconsequente", segundo o galerista. "Não se sabe se essa produção de hoje existirá daqui a dez anos. É uma produção que não tem lastro", diz Millan. Há anos no circuito, Tadeu Chiarelli aponta mudanças no cenário brasileiro. Para ele, há uma certa "banalização" de certas profissões, como a de curador, profissão que também passa por um "boom" de novos nomes. Outra mudança, aponta, é o pouco interesse de muitos jovens artistas, recém-saídos da faculdade, mas já em importantes galerias, em doar obras a museus, tradicionalmente vistos como ponto culminante no reconhecimento artístico. "A grande confusão no Brasil hoje é: acredita-se que arte boa é aquela que está no mercado. Os colecionadores confiam muito no mercado. Não existe a ponderação, a clareza de que é necessário um tempo. O tempo da produção artística, do amadurecimento, é um pouco mais lento que o do mercado."
Quando acertam em suas escolhas, críticos e curadores são celebrados como visionários; galeristas e leiloeiros ganham de forma literal; museus emprestam e ganham credibilidade ao adquirir obras. Uma vez que os critérios para a validação de um artista são fluidos, não seriam possíveis manipulações? Sarah Thornton acredita que fenômenos assim não podem ser criados, como acontece na indústria musical - que rotineiramente cria "boy bands". "Você pode mentir uma ou duas vezes, mas você não pode convencer uma multidão por muito tempo", diz Sarah. Ainda que sejam muitos os atores no processo, apenas um é determinante e real, tanto do ponto de vista mercadológico quanto crítico: o tempo.
março 13, 2012
MinC destinará R$ 7,3 milhões do Fundo Nacional de Cultura para a área de museus, Ibram
MinC destinará R$ 7,3 milhões do Fundo Nacional de Cultura para a área de museus
Nota do Ibram originalmente publicada no site do Ibram em 9 de março de 2012.
Foram anunciados no dia 8 de março, pela Ministra da Cultura (MinC), Ana de Hollanda, os primeiros investimentos a serem realizados pelo Fundo Nacional de Cultura (FNC) em 2012. Mais de 50% dos recursos já têm destinação definida: do orçamento de R$ 256 milhões do FNC em 2012, um total de R$ 133 milhões já têm rumo traçado.
Para o setor de museus, o MinC vai conceder via Fundo Nacional de Cultura um total de R$ 7,3 milhões, destinados à conclusão do Programa Ibram de Fomento aos Museus, com o conveniamento dos projetos selecionados em 2011 dos Editais de Modernização de Museus, Mais Museus, e Criação e Fortalecimento de Sistemas de Museus.
Os recursos prevêem ainda a modernização do Museu Júlio de Castilhos e do Museu do Trem, ambos localizados no Rio Grande do Sul e também selecionados em 2011. Todos os recursos previstos serão executados até junho de 2012.
A ministra Ana de Hollanda destacou a importância estratégica dos investimentos. “Os Sistemas de Museus abrangem instituições de todas as regiões do país e a memória é muito importante para as comunidades locais. Valorizar suas memórias é também uma questão de cidadania”, disse.
Entre os projetos apresentados também estava o Programa Cultura Viva, que terá um total de R$ 46 milhões, sendo R$ 35 milhões dedicados ao empenho da segunda e da terceira parcelas dos convênios em andamento; outros R$ 11,6 milhões se voltarão ao edital Pontões de Cultura. Mas o fundo alavancará um leque amplo de rubricas, que vão da economia criativa ao patrimônio, passando pela área do livro e da leitura e pelo financiamento de microprojetos. Saiba mais.
março 12, 2012
Natureza x cultura por Paula Alzugaray, Istoé
Natureza x cultura
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção Arte Visuais da Istoé em 9 de março de 2012.
Dupla Gisela Motta e Leandro Lima se volta para a fragilidade dos limites entre natureza, homem e máquina
ANTI-HORÁRIO – GISELA MOTTA E LEANDRO LIMA/ Galeria Vermelho, SP/ até 5/4
Os limites cada vez mais indeterminados entre homem, máquina e natureza são preocupações constantes da dupla Gisela Motta e Leandro Lima. Produzir um equilíbrio tênue entre esses domínios – ou, em certos casos, incentivar seu desbalanceamento – é a intenção de praticamente todos os trabalhos expostos na mostra “Anti-Horário”, em cartaz na Galeria Vermelho, em São Paulo.
A impactante instalação “Zero Hidrográfico”, que foi concebida para a exposição “Água na Oca”, em 2010, é uma espécie de esquema visual em três dimensões, que simula o movimento das ondas e as oscilações do nível do mar. Realizado com um sistema motor simples – e imperfeito – e lâmpadas de neon, o objeto expõe de maneira esquemática o que seriam as variações da superfície da água. Esse “mar” confinado aos limites de um quadrado e de uma rede representa bem o tensionamento natureza e cultura, que a dupla desenvolve com perspicácia e sofisticação.
A insubordinação às leis naturais do tempo – e a firme determinação de resistir a elas – é o tema levantado em “Anti-Horário”. O vídeo que dá nome à mostra se refere ao movimento cíclico da existência humana: é uma espécie de linha do tempo circular, em que corpos funcionam como os ponteiros de um relógio. Os corpos de um certo casal percorrem tal linha ao longo de uma hora; e a criança, mais ágil, faz o trajeto em um minuto. Os três correm a favor do relógio, e o campo sobre o qual pisam se impõe a essa vontade em movimento anti-horário.
A natureza humana, seus afetos e desafetos, está expressa na videoinstalação “Calar”. O trabalho foi realizado com uma câmera de termografia, que é utilizada em vários ramos da indústria para detectar o calor gerado em zonas de tensão e defeito em sistemas. Em duas telas, o trabalho simula uma conversa entre dois corpos. Eles se enfrentam e se tocam, produzindo frio e calor um sobre o outro. As marcas dessa relação que oscila entre afeto e violência são visualizadas na pele dos dois protagonistas, graças às imagens geradas pela câmera termográfica. Seus corpos e emoções são, portanto, colocados na posição de sistemas – ou máquinas – a ser rastreados e documentados.
Saiba mais sobre a exposição na Agenda de Eventos
Um projeto para a sociedade da informação por Nina Gazire, Istoé
Um projeto para a sociedade da informação
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção Artes Visuais da Istoé em 9 de março de 2012.
Marco Maggi - Desinformação Funcional, Desenhos em Português/ Instituto Tomie Ohtake, até 13/5
No livro “Jornalismo e Desinformação”, o jornalista Leão Serva explica que a desinformação funcional corresponde a um fenômeno definido pelo fato de as pessoas consumirem informações por intermédio de um ou mais meios de comunicação, mas não conseguirem compor com estas uma compreensão do mundo ou dos fatos. Em tempos de Google, quando um fato pode ser visualizado desde inúmeros pontos de vista a partir de alguns cliques, a desinformação funcional parece ser o que efetivamente está regendo o estado das coisas. “Estamos fundando uma sociedade da informação disfuncional: a realidade se faz ilegível; e as artes visuais, invisíveis”. Com essa declaração, o artista uruguaio Marco Maggi desloca a discussão para o campo da arte contemporânea.
Na exposição “Desinformação Funcional, Desenhos em Português”, Maggi – um dos artistas mais importantes da cena contemporânea uruguaia – apresenta trabalhos em alumínio, papel e acrílico para uma espécie de cartografia para a sociedade da desinformação. A instalação “Incubadora” (foto), por exemplo, é composta de pilhas de folhas de papel que contêm desenhos de formas abstratas lembrando códigos. O papel ocupado com uma informação ilegível e empilhado de maneira excessiva serve de metáfora para pensar esse excesso de informação inavegável no qual nos afogamos diariamente. Mas, para além da questão da sociedade da informação, Maggi também quer repensar o uso do papel como suporte físico para a comunicação. “O trabalho de Marco Maggi vem liberar o papel desse tratamento inconsequente. Interessa-lhe o papel-padrão e vulgar que será transformado em um campo de surpresas”, declara o curador Agnaldo Farias em texto escrito para a mostra.
Mídias obsoletas, como projetores de slides, também aparecem como símbolos da substituição que as tecnologias de comunicação sofrem de modo vertiginoso para se tornar mais eficientes. Os slides, que um dia transmitiram imagens por meio da película – e hoje foram substituídos pelas mídias digitais –, são transformados em objetos artísticos. Deslocados de sua função original, foram convertidos em molduras para impressões em folhas de alumínio. A mostra tem trabalhos produzidos entre 2008 e 2012. É uma boa oportunidade para conhecer esse artista latino-americano, que vive na ponte área entre Montevidéu e Nova York.
Contatos imediatos por Nina Gazire, Istoé
Contatos imediatos
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção Artes Visuais da Istoé em 2 de março de 2012.
OFNIs - OBJETOS FLUTUANTES NÃO IDENTIFICADOS IBIRAPUERA/ Parque do Ibirapuera, SP/ 4 e 11/3
No ano de 1989, Guto Lacaz realizou uma inusitada intervenção no lago do Ibirapuera. “Auditório para Questões Delicadas” constituía-se, literalmente, de um auditório cujas cadeiras flutuavam no lago do parque. Apaixonado por náutica e pela água, o artista estudou meticulosamente a possibilidade de fazer as cadeiras deslizarem sobre a superfície do lago sem afundar. “Acho lindo o fenômeno da flutuação na água. Eu queria ser engenheiro naval antes de tudo, mas era ruim em matemática. Hoje, em vez de construir barcos, faço objetos de arte que flutuam”, comenta o artista cuja criação é, acima de tudo, repleta de engenhosidade.
Mais de 20 anos depois de sua primeira intervenção aquática, Lacaz apresentou em 25 de janeiro, em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo, o trabalho “OFNIs – Objetos Flutuantes não Identificados Ibirapuera” (foto) no mesmo lago. Constituídos de dois cubos brancos metálicos e equipados com motores de popa pilotados por Lacaz e um assistente – escondidos no interior das estranhas embarcações –, os OFNIS chamaram a atenção de quem passou pelo parque naquela data. “É interessante ver a reação das pessoas. Alguns querem uma resposta pronta e acharam que era um instrumento para medir a poluição. Mas no mundo da arte contemporânea o interessante é observar essa angústia de não se ter certezas”, diz Lacaz. Os objetos não identificados de Guto Lacaz poderão ser novamente avistados no lago do Ibirapuera nos próximos domingos, 4 e 11 de março, entre as 10 e 11 horas e entre as 16 e 17 horas.
Os OFNIS surgiram em junho de 2011, quando o artista foi convidado para o evento “Aberto Brasília – Intervenções Urbanas”, que teve curadoria de Wagner Bajar. Para a ocasião, desenvolveu uma espécie de protótipo feito de 79 caixas de isopor. “Era um material mais barato e fácil de montar. Em Brasília a intervenção foi feita com apenas um OFNI, que flutuou sobre o lago Paranoá”, explica Lacaz, cuja principal inspiração para esse invento foi a arte cinética. “Eu queria criar um híbrido de arte cinética e intervenção urbana que dialogasse com a paisagem. No fim das contas é uma espécie de objeto-happening porque também depende da reação das pessoas que o observam”, afirma.
Fotógrafa Gordana Manic expõe obra sobre isolamento no MIS por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Fotógrafa Gordana Manic expõe obra sobre isolamento no MIS
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 12 de março de 2012.
Artista e matemática sérvia vem conquistando espaço no Brasil com temática, presente em 'Réquiem'
Quando a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) atacou a Sérvia em março de 1999, Gordana Manic teve certeza de que queria fugir de seu país. "Passei um mês na Hungria, tentando arrumar o visto para algum lugar da Europa, mas foi impossível por causa da situação política", conta. Natural da cidade de Novi Sad, formada em matemática, professora em uma universidade local e funcionária de um banco, Gordana (pronuncia-se Górdana) Manic e seus amigos sérvios não vislumbravam, naquela época, algum futuro nos Bálcãs, em plena crise do governo de Slobodan Milosevic. O Brasil não era, de longe, sua primeira opção de destino, mas foi aqui que ela chegou no fim de 1999 e onde vive até hoje. Outra espécie de salvação vem sendo a fotografia, a linguagem "mais eloquente" para expressar uma poética intimista, que tem como pano de fundo sentimentos de isolamento, crise, depressão, como ela enumera.
As imagens criadas por Gordana Manic são sempre em preto e branco. "Na minha fotografia, acho a cor desnecessária, me incomoda", diz a matemática e fotógrafa, de 38 anos. Réquiem, exposição que ela acaba de inaugurar no Museu da Imagem e do Som (MIS), é uma série de 2010 formada por obras em que figuras se tornam quase fumaça em locais escuros, enigmáticos. "Como que embalados por uma música fúnebre, esses diáfanos personagens flagrados na noite por Gordana Manic realizam uma espécie de dança ora sensual, ora macabra", escreve o curador Eder Chiodetto, crítico e professor que vem acompanhando o trabalho da artista.
A atual mostra de Gordana Manic integra o projeto Nova Fotografia do MIS, mas, recentemente, seu denso trabalho fotográfico vem aparecendo em exposições e editais. No ano passado, por exemplo, a sérvia participou do Arte Pará Ano 30, conceituado e tradicional salão realizado em Belém (no qual foi contemplada com o Prêmio Aquisição do evento), como também foi selecionada no Programa de Fotografia do Centro Cultural São Paulo. Por meio do concurso, Gordana vai exibir em 2013, na instituição paulistana, obras da série Dentro (2010), autorretratos sutis que realizou em seu apartamento. Ela também acaba de expor na Galeria Ímpar, em São Paulo, a mostra Distante Presente, com curadoria de Mario Gioia.
Artistas levam obras a espaços públicos por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artistas levam obras a espaços públicos
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de março de 2012.
Trabalhos vão desde pintura num prédio a cubos que flutuam num lago e alterações na iluminação pública
SP tem intervenções de Guto Lacaz, Thiago Rocha Pitta, José Spaniol, Laura Vinci, Tatiana Blass e outros
Na chuva, a pintura no topo do prédio se dissolve e faz escorrer listras negras pela enorme fachada branca. Não é uma falha da arquitetura, mas uma obra de arte que se camufla no espaço urbano.
Thiago Rocha Pitta fez uma pintura que se transforma com a passagem do tempo. Da mesma forma, trabalhos de outros artistas espalhados por São Paulo vêm mudando a cara da metrópole.
Enquanto Guto Lacaz põe cubos brancos para flutuar no lago do parque Ibirapuera hoje, intervenções de Tatiana Blass, que ocupa a capela do Morumbi, José Spaniol, no parque Burle Marx, Laura Vinci, no centro, e Eduardo Coimbra, no Pacaembu, criam brechas na cidade.
Coimbra ocupa a árida praça Charles Miller, no Pacaembu, com fotografias de nuvens iluminadas. Suas laterais são espelhadas, dando a sensação de
Projeto Rumos mostra arte comportada e convencional por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Projeto Rumos mostra arte comportada e convencional
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de fevereiro de 2012.
Programa, que antes mapeava circuito, hoje parece salão de belas artes
A cada edição do Rumos Artes Visuais, realizado de três em três anos no Itaú Cultural, a jovem arte contemporânea brasileira parece mais comportada e convencional.
Já havia sido assim, em 2009, mas a mostra com os 45 artistas selecionados para esta edição é tão inodora quanto uma feira de arte.
Desde 1999, o Rumos tem realizado um mapeamento nacional da produção em artes plásticas.
O projeto surgiu num momento em que o circuito brasileiro de exposições, tanto em galerias comerciais como em instituições públicas, era bastante frágil e não conseguia abarcar a crescente produção. Desde o início, o Rumos Artes Visuais funciona por edital, ou seja, os artistas precisam apresentar seus portfólios à instituição, para então entrarem num processo de seleção.
Talvez aí esteja o problema do atual momento: com um circuito robusto, o programa não é mais um dos poucos espaços de inserção nesse universo. Assim, em vez de mapeamento nacional, mesmo com 1.770 inscritos, de acordo com o Itaú, o programa está mais próximo de um salão de belas artes.
Ao menos é isso o que se constata com a seleção da curadoria de 12 profissionais chefiados por Agnaldo Farias.
"Convite à viagem", aliás, é uma exposição com tema repetitivo: o Panorama da Arte Brasileira, realizado no ano passado, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, partiu da mesma questão e apresentou trabalhos mais fortes.
ARTE DOMESTICADA
É até difícil saber se, na mostra em cartaz no Itaú Cultural, os artistas utilizam formatos prontos para consumo ou a seleção e sua disposição os igualaram nesse padrão.
Artistas como Carlos Contente ou Adriano Costa, conhecidos por obras experimentais, por exemplo, participam da exposição de forma tão domesticada que perderam sua radicalidade.
Dessa forma, cria-se um percurso agradável, que transforma as 126 obras da mostra em belos trabalhos, todos com discursos poéticos e um tanto vazios nas legendas escritas pelos curadores.
A questão que fica é se a arte brasileira é que está tão sem graça ou se é o pensamento dos curadores que anda preguiçoso.
Saiba mais sobre a exposição na agenda de eventos.
Mostras no MAC-USP mostram duas vertentes antagônicas da instituição por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostras no MAC-USP mostram duas vertentes antagônicas da instituição
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de março de 2012.
Duas mostras em cartaz no MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea) apresentam duas vertentes da instituição totalmente antagônicas.
Enquanto "Redes Alternativas" exibe um acervo homogêneo, constituído pela ação transgressora do MAC nos anos 1970, "Fotógrafos da Cena Contemporânea" reflete o personalismo do polêmico mecenas Edemar Cid Ferreira, já que traz, em sua maioria, obras da coleção do Banco Santos, sob guarda provisória no museu.
"Redes Alternativas" reúne um conjunto de obras de 34 artistas que enviaram trabalhos ao museu por correio, como forma de criar um circuito alternativo tanto ao mercado de arte quanto à ditadura no Brasil.
Grande parte dessas obras, selecionadas pela curadora Cristina Freire, traz documentos de ações realizadas pelos próprios artistas.
Bom exemplo é o vídeo "Estômago Embrulhado" (1975), de Paulo Herkenhoff, no qual o artista come jornal, reflexão sobre o papel dos meios de comunicação.
Na seleção, a curadora priorizou obras de artistas latinos e do Leste Europeu, o que mostra ainda um importante esforço do museu em criar um eixo alternativo à produção de centros de arte dos EUA e da Europa.
Já "Fotógrafos da Cena Contemporânea", com curadoria de Helouise Costa, por partir da coleção de Cid Ferreira, propõe uma visão muito distinta do circuito da arte.
Diversificada, por ter fotógrafos de escolas de diferentes gerações e tendências, e um tanto inusitada, por ter foco em imagens com nu feminino, predileção do ex-banqueiro, a exposição revela como o colecionismo privado pode ser fútil e sem conceito.
