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fevereiro 17, 2012
Arte em Madri pot Nina Gazire, Revista Select
Arte em Madri
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção da hora da Revista Select em 14 de fevereiro de 2012.
Edição da Arco 2012 tem como país homenageado a Holanda
Começa essa semana a ARCOmadrid 2012, que abre o calendário de feiras de artes deste ano
A ARCOmadrid é uma das mais tradicionais feiras do circuito das artes e uma das primeiras a inaugurar o calendário de eventos anuais dedicados às feiras de arte. A edição de 2012 acontece entre os dias 15 e 19 de fevereiro e será dedicada à Holanda, país convidado de honra do evento.
A feira, inaugurada dia 15 para o público especializado (colecionadores, diretores de museus, críticos de arte) e para o público em geral de 17 a 19 de fevereiro, apresenta obras de 150 galerias no Programa Geral, que é a seleção de galerias nacionais e internacionais. Desde sua última edição, a ARCOmadrid 2012 adotou novas iniciativas que irão reforçar o seu caráter de plataforma para a descoberta e investigação sobre artistas. Os dois novos projetos são: Artista em Destaque, que visa assinalar um artista por stand e para o qual será publicado um novo catálogo; e uma seção localizada em diversas áreas da feira, chamada Objetos, com obras selecionadas pelos curadores que colaboram com a ARCOmadrid.
Dentro deste escopo encontra-se também o Solo Projects, que por meio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECI), procura trazer para a feira os resultados de pesquisas e mapeamentos sobre a arte na América Latina. Este ano os curadores responsáveis pelo projeto são Cauê Alves (Brasil), Sonia Becce (Argentina), Patrick Charpenel (México), Alexia Dumani (Costa Rica), Manuela Moscoso (Colômbia / Equador) e José Ignacio Roca, (Colômbia). Dentre as galerias brasileiras selecionadas para participar da seção Solo Projects estão a Galeria Luciana Brito, Galeria Vermelho e Transversal, as três de São Paulo. Participa também a paulistana Dan Galeria, no Programa Geral da ARCOmadrid.
A presença da Holanda como o país convidado de honra na ARCOmadrid 2012 é outra grande atração. Em colaboração com a Fundação Mondriaan e a Embaixada da Holanda na Espanha, a ARCOmadrid 2012 vai apresentar 14 galerias selecionadas pelo curador holandês Xander Karskens, responsável pela coleção de arte contemporânea internacional e um programa no Museu De Hallen Haarlem. A presença holandesa em Madri será reforçada através de exposições em vários museus e instituições culturais da cidade.
No MoMA, a arte impressa no mundo globalizado por Fernanda Godoy, Yahoo notícias
No MoMA, a arte impressa no mundo globalizado
Matéria de Fernanda Godoy originalmente publicada no Yahoo notícias em 16 e fevereiro de 2012.
NOVA YORK - Examinar o papel da arte impressa no mundo globalizado é o objetivo da exposição "Print/Out", que o MoMA (Museum of Modern Art) inaugura no próximo domingo, oferecendo ao visitante um apanhado de mais de 40 artistas e grupos. Trabalhos de nomes consagrados, como Robert Rauschenberg e Ai Weiwei, são expostos junto a criações coletivas do grupo dinamarquês Superflex, numa mostra que tem a apropriação de imagens e bens culturais como questão central.
- Os principais assuntos que afetam o mundo da impressão são os mesmos que encontramos em outras formas de expressão artística, como escultura ou pintura. O interessante é captar o que mudou nestes últimos 20 anos, em que a arte se tornou tão global - diz o curador Christophe Cherix.
Em alguns momentos, os objetos são impressões à la Gutenberg. Os livros de Ai Weiwei que estão expostos, por exemplo, são volumes sobre arte contemporânea disseminados clandestinamente no mundo underground >res
Em outros, as técnicas se mesclam e fica difícil estabelecer fronteiras. Para o diretor do MoMA, Glenn D. Lowry, a mostra tem também a função de fazer o visitante pensar sobre o papel dos impressos na cultura.
- Não estamos preocupados em definir o que é um objeto impresso. O importante é que, desde o Renascimento, impressões são usadas para disseminar ideias, criar heranças culturais. A apropriação é fundamental, como vemos em Martin Kippenberger, com a destruição e a reapropriação - completa Cherix.
A exposição começa com obras de Kippenberger, o artista alemão que produziu uma vasta coleção de múltiplos, em colaboração, ao longo de sua carreira. A série exposta no MoMA começou em 1989, quando Kippenberger pediu ao assistente que copiasse suas pinturas. Classificando as cópias de "boas demais", Kippenberger decidiu destruí-las, mas isso provou ser apenas o início do trabalho. Muitas novas obras, inclusive esculturas para conter as pinturas destruídas, e fotografias dessas esculturas, foram elaboradas e deram vida à série "Inhalt auf Reisen".
Outro destaque, este no encerramento, é "The lotus series", do americano Robert Rauschenberg. As obras são baseadas em pequenas e desbotadas fotos de viagens do artista à China, entre 1982 e 1985, mais tarde ampliadas e modificadas com o uso de >ita
Um workshop do Superflex promete ser mais um chamariz da mostra. Usando computadores e outras ferramentas, o visitante poderá criar um lustre com base em imagens de objetos clássicos. E as criações serão incorporadas à instalação.
- Eles (os artistas do Superflex) pegam imagens com copyright pesado, ícones da nossa cultura, e pedem que você os reivente, transgredindo, de maneira sutil, a questão do direito autoral - diz o curador.
Para Cherix, a especificidade do meio de expressão artística tornou-se menos relevante nos últimos 20 anos. A última grande mostra do MoMA sobre arte impressa foi em 1996.
- Dá para observar como ficam borradas as fronteiras entre, por exemplo, fotografia e impressão. O importante, para nós, é capturar como essa tecnologia se tornou central neste mundo em que as imagens estão constantemente se movendo de um meio para outro - diz Cherix.
Mergulho na coleção do museu
Em paralelo a "Print/Out", o museu abre também a exposição "Printin'", co-organizada pela artista plástica Ellen Gallagher e pela curadora Sarah Suzuki. Para a seleção dos objetos, Ellen examinou todas as 55 mil peças impressas da coleção do MoMA.
"Printin'" foi definida por sua curadora como uma constelação que abrange fotografias, vídeos, desenhos, livros, quadrinhos e até esculturas.
- Foi a partir do que despertou o interesse e a imaginação dela que começamos a construir a exposição, que virou uma constelação de trabalhos muitos distintos - diz Sarah Suzuki.
Foi um tour de force para selecionar obras de 50 artistas de múltiplas disciplinas, com uma cronologia que recuou no tempo até o século XVII.
- Ninguém me contou que eu seria a primeira pessoa a ver toda a coleção. Foi uma experiência incrível, como uma pós-graduação - conta Ellen.
Brasil além-mar por Nina Gazire, Istoé
Brasil além-mar
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 16 de fevereiro de 2012.
Fundação em Lisboa expõe individuais de Beatriz Milhazes e Rosângela Rennó, dois dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira
Enquanto diferentes instituições brasileiras realizam atividades para celebrar o ano da Itália no Brasil, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, antecipa as comemorações do ano de Portugal no Brasil – que tem início no mês de setembro deste ano – com exposições de dois dos maiores nomes da arte brasileira na atualidade. Beatriz Milhazes e Rosângela Rennó ocupam o espaço sob a curadoria da crítica de arte Isabel Carlos, diretora do Centro de Arte Moderna desde 2009.
“Quatro Estações” é o nome da mostra com trabalhos recentes de Beatriz Milhazes, que também estiveram em exposição na Fundação Beyeler, em Basel, Suíça. Conhecida por suas pinturas em acrílico (que chegam a atingir US$ 1 milhão no mercado de arte internacional), a artista leva a Portugal obras que experimentam outros suportes. São colagens com materiais do cotidiano e móbiles que transferem para o plano tridimensional seus célebres florais geométricos e coloridos. “Esta é uma artista multifacetada, que construiu uma linguagem muito própria, capaz de trabalhar com diferentes suportes e materiais”, define a curadora Isabel Carlos, que também selecionou uma série de quatro pinturas que dão título à exposição.
A grande expectativa sobre o novo campo de atuação de Beatriz Milhazes recai sobre a instalação de grandes dimensões em vinil, denominada “Jardim Verde”, que ocupará os vitrais da nave central do Centro de Arte Moderna. Esse tipo de trabalho foi provado em 2008 pela artista, quando ela utilizou material translúcido para estampar as grandes janelas da Estação Pinacoteca de São Paulo.
“Frutos Estranhos”, a individual de Rosângela Rennó, é uma série de vídeos em loop, realizados a partir da edição e animação digital de imagens fotográficas. O estranhamento está no fato de que as imagens, ao contrário do ritmo convulsivo típico das obras de videoarte, possuem movimentos ínfimos e imperceptíveis. Esse aspecto inusitado inspira o título da série porque, segundo Rosângela Rennó, as 40 obras selecionadas, produzidas ao longo da última década, provocam o deslocamento do olhar diante de uma imagem mediada. “Esse trabalho evoca e repensa o que eu denomino ‘formas de mostrar’: a máquina fotográfica, o aparelho de DVD e os demais modos de visualização da imagem”, comenta a artista, que também apresenta em Portugal sua mais nova série de vídeos, “Turista Transcendental”, filmada em diferentes lugares do mundo, no último ano.
O lançamento de um livro, previsto para meados de 2012, também está na agenda de Rosângela. A obra “Menos Valia”, cuja primeira versão de 2005 está presente na exposição, será transformada em uma publicação com a reprodução de todos os objetos realizados pela artista que foram leiloados em uma performance durante a 29a Bienal de São Paulo. “Além do registro e catalogação dos objetos leiloados, a publicação trará um DVD com o vídeo do leilão realizado em 2011”, diz a artista. Já Beatriz Milhazes terá monografia publicada pela editora alemã Hatje Cantz.
Saiba mais sobre as exposições na agenda de eventos: Beatriz Milhazes; Rosângela Rennó
América Latina avança com força no mercado de arte, Diariodepernambuco.com.br
América Latina avança com força no mercado de arte
Matéria originalmente publicada no Diariodepernambuco.com.br em 17 de fevereiro de 2012.
Em um mercado que luta para esquecer a crise, a América Latina oferece à arte compradores dispostos a investir e uma indústria criativa cada vez mais conhecida na Europa, como mostra a presença de artistas hispano-americanos na Feira de Arte Contemporânea de Madri.
Com o programa "Solo Projects: Focus Latinoamérica", a ARCOmadrid 2012 volta suas atenções para a cena artística latino-americana. A feira começou na terça-feira e, até o domingo, apresenta obras de mais de três mil artistas vindos de 29 países.
Em termos de arte, o Brasil é um aluno excepcional, constata Rochelle Costi, artista de São Paulo. "As coisas mudaram muito nos últimos dez anos, é um momento muito melhor. O Brasil tem muita visibilidade agora".
"O interesse pela arte latino-americana está crescendo" na Espanha, explica Eloisa Góngora, que vende obras de artistas espanhóis na Colômbia na galeria El Museo e de artistas da América Latina na Espanha, pela galeria Fernando Pradilla.
Esse maior interesse, segundo Góngora, pode ser justificado por se tratar de "uma proposta diferente".
"Muitas vezes, a arte latino-americana tem menos filtros", tem "uma marca que representa o que eles realmente querem expressar", enquanto a "Europa é mais fria", diferencia.
Para a argentina Sonia Becce, uma das desenvolvedoras do "Solo Projects: Focus Latinoamérica", o objetivo da ARCO foi dar "ênfase à quantidade e representatividade do que ocorre hoje na América Latina".
O que une a obra desses artistas "não tem a ver com o mundo da arte, que segue sendo muito eurocentrista, tem a ver com as sociedades de onde viemos" e as transformações que estão vivendo, considera o hondurenho Adán Valdecillo.
Valdecillo, que em seus cinco anos vivendo de arte sempre expôs em ambos os lados do Atlântico, apresenta na ARCO uma enorme pintura feita de pneus velhos que viajaram centenas de quilômetros pelas ruas de Tegucigalpa.
No entanto, a América Latina não é reconhecida apenas porque sua arte está aparecendo na Europa, mas também porque a riqueza de suas economias faz dos seus mercados um destino atraente para as vendas de obras de arte.
O desenvolvimento da economia deve acarretar um aumento do número de feiras e exposições, cada vez mais frequentes na América Latina.
Eduardo Brandão, co-proprietário da galeria Vermelho, com sede em São Paulo, que representa principalmente jovens artistas brasileiros de vanguarda, conhece essa realidade de perto.
"O sistema brasileiro de museus e galerias é mais forte e, para os colecionadores, isso é muito importante, ajuda a vender no exterior", explica.
Isso é algo que Mirta Demare observa na galeria Bergsingel, em Roterdã, na Holanda, onde percebe uma "diferença sideral" entre colecionadores latino-americanos e holandeses, que compram menos pelo medo que a crise econômica e financeira provoca na região.
O mercado de arte está crescendo na América Latina porque é "o único lugar em que há dinheiro nesse momento", disse a galerista, que apresenta na ARCO uma instalação da artista argentina Alicia Herrero, que analisa o mercado de arte.
Por meio de diagramas que misturam as linguagens financeira e artística, Herrero questiona para o espectador a "dicotomia entre o valor real como obra e o preço das obras".
Valdecillo convida a aproveitar a boa fase do mercado de arte na América Latina: "é importante que nós, artistas latino-americanos, tenhamos mais consciência de fortalecer os vínculos regionais, porque é um mercado em desenvolvimento".
fevereiro 16, 2012
A arte que sai das ruas (e das paredes da galeria) por Adriana Martins, Diário do Nordeste
A arte que sai das ruas (e das paredes da galeria)
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 16 de fevereiro de 2012.
Nova exposição do Coletivo Monstra traz quadros com temas polêmicos e propõe reflexão sobre a arte
Em uma galeria de arte, determinado quadro lhe chama atenção. Você paga por ele, pega a obra, põe debaixo do braço e leva para casa. No dia seguinte, precisa explicar às visitas o que a imagem de uma mulher devorando baratas faz na sua parede.
Certamente, essa cena passou pela cabeça dos integrantes do Coletivo Monstra, que organizaram a exposição "13 obras que você não colocaria na sala da sua casa". A abertura acontece hoje, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Com título autoexplicativo, a mostra reúne uma série de quadros com motivos polêmicos - além do inseto que virou almoço, tem criança com lábio leporino, frases desestimulantes e outros elementos peculiares.
Simultaneamente, o evento também ganha as ruas, em uma intervenção iniciada há duas semanas. Nessa etapa, em torno de 100 quadros são alocados em casas abandonadas ou demolidas, terrenos baldios e outros pontos chamados "cegos" ou "invisíveis" pelos artistas do Monstra. As obras ficam à disposição de quem enxergá-las. Passou, viu, levou.
A intenção do grupo é discutir o tipo de produção artística considerada "aceitável", assimilada e aprovada pela população, e fazer com que o cidadão repense seus conceitos sobre a imagem ao ter a opção de adquiro-la no suporte de um quadro - objeto instituído universalmente como obra de arte.
"O próprio título diz, não são coisas que normalmente se pendura na parede. E o sentido é justamente esse, questionar até que ponto a arte é assimilada como conteúdo de reflexão ou apenas decorativo", avalia Weaver Lima, integrante do Monstra. O coletivo é formado ainda por Franklin Stein, Ise Araújo, Jabson Rodrigues, Everton Silva, Mychel TC, Lui Duarte e Saulo Tiago.
Retornos
"13 obras" chega em Fortaleza depois de passar por Juazeiro do Norte (CE) e Teresina (PI), no segundo semestre de 2011. "A ideia surgiu em 2010, quando pensamos em criar uma exposição que mexesse com o espaço da rua. Pensamos e chegamos a esse formato, porque ele brinca com tudo, desde a lógica de aquisição de obras até o que exatamente é considerado arte", ressalta Weaver.
Nas temporadas de Juazeiro e Teresina, os quadros da exposição foram colocados em praças, pontos de ônibus e outros espaços de passagem. Em Fortaleza, os alvos foram locais abandonados. "A exposição já chegou conhecida em Fortaleza, as pessoas comentam pelas redes sociais. Então decidimos mudar os espaços nas ruas, para dificultar um pouco a localização das obras", esclarece Weaver Lima.
"Também é uma maneira de chamar atenção para esses espaços ´invisíveis´ na cidade, pelos quais muitas vezes passamos sem atenção. Em resquícios de casas demolidas, por exemplo, penduramos os quadros onde era a parede da sala", complementa.
O descobrimento das obras é monitorado pelos integrantes do Coletivo. "Registramos em vídeo o momento em que deixamos elas e, depois, vemos quais foram levadas pelo público. Atrás de cada quadro colocamos um aviso para a pessoa entrar em contato ou dizer onde mora, para sabermos onde a obra está", conta Weaver.
Na página do Monstra no Facebook (facebook.com/coletivomonstra) há um mapa do Googlemaps com a localização das obras. "Até agora, espalhamos entre 20 e 30 obras pela cidade. O objetivo é chegar até 100", revela o artista.
Segunda fase
O mesmo número deverá ser alcançado na segunda etapa, durante a exposição dos quadros no CCBNB. Nesse caso, os visitantes também podem levar obras para casa.
Segundo Weaver, a abordagem das pessoas que escolherem peças nem sempre será feita. "Pensamos em entrevistar algumas no dia da abertura, quando o fluxo de visitantes é maior. Mas apenas para perguntar porque escolheram determinado quadro. Vamos juntar esse registro em vídeo aos de outras etapas do processo. Por enquanto, faremos isso apenas com o objetivo de documentar, como material para o Coletivo", explica.
Assim como nas ruas, as obras serão repostas gradativamente no espaço do CCBNB, até se esgotarem ou até o fim da exposição. "Não vamos fazer isso em horários fixos, mas variados", avisa Weaver.
Ao todo, serão cerca de 200 quadros para as duas etapas do projeto em Fortaleza - 13 pinturas diferentes e suas respectivas reproduções. "Mesmo havendo quadros com o mesmo desenho, cada um é único, pois foi produzido manualmente, por meio de pintura, serigrafia, estêncil e até aplicações de bordado. Cada artista escolhe a técnica que preferir", esclarece Weaver.
Para produzir todas as obra, foram necessários em torno de dois meses. "Mas, por incrível que pareça, o que demora mesmo é decidir quais temas pintar e chegar a uma série de 13. Cada integrante do Coletivo vai para casa e elabora propostas, que são discutidas em reuniões. A partir daí fazemos as réplicas", conta Weaver.
Cada cidade ganhou um conjunto de imagens diferentes. "Vale ressaltar que não usamos imagens explícitas, apenas com o intuito de chocar. A ideia não é essa. Seria bobo", adverte Weaver. "Preferimos brincar com as possibilidades de estranhamento, as razões pelas quais determinadas imagens causam isso".
No caso da mulher comendo uma barata, o artista explica que os índios têm costume de comer insetos, assim como algumas populações orientais. "O que fazemos é trazer essa imagem para a cultura Ocidental. Ela causa nojo mais por conta das nossas convenções culturais", avalia.
Em outro quadro há uma criança com a deformação chamada lábio leporino. "É uma criança bonita, mas, como tem esse defeito, é como se deixasse de ser. Entre outros aspectos, aborda nossos preconceitos", comenta Weaver.
"Já o trabalho de Franklin Stein, por exemplo, é composto por imagens formadas por frases. A princípio, de longe, o conteúdo das frases não é percebido e as pessoas acham o jogo de composição interessante. Mas depois que veem escrito ´Desista de seus sonhos´ e ´Tudo lhe faltará´, muitas devolvem o quadro", brinca.
Influenciado pela estética da pop arte, o Monstra vem se destacando como um dos coletivos mais ativos do cenário artístico de Fortaleza. Entre os eventos que realizou estão a "Monstra Comix", no Sobrado Dr. José Lourenço, mostra internacional que reuniu mais de 40 artistas de histórias em quadrinhos independentes do mundo; a feira de arte "Monstra Feiramassa"; trabalhos na Casa Cor Ceará de 2009 e 2010; e "Purgatório Paraíso Inferno", também no Sobrado.
fevereiro 15, 2012
Obra de Zamproni na Funarte faz contraposição entre o leve e o pesado por Nahima Maciel, Correio Braziliense
Obra de Zamproni na Funarte faz contraposição entre o leve e o pesado
Matéria de Nahima Maciel originalmente publicada no caderno diversão e arte do jornal Correio Braziliense em 15 de fevereiro de 2012.
A obra de Zamproni, que chama a atenção pelo aspecto lúdico, também pode ser vista no Museu Nacional da República
Um primeiro olhar engana. A marquise da Funarte parece estar sustentada por uma sucessão de almofadas vermelhas. Os pilares sumiram e as imensas estruturas de 36m² e 2,30m de altura seguram o teto do abrigo de um dos mais importantes complexos artísticos da cidade. A obra é do paranaense Geraldo Zamproni e vai mudar a paisagem da Funarte até março, como um dos projetos vencedores do Prêmio Atos Visuais de 2011. Zamproni cultiva um prazer lúdico em subverter estruturas pesadas. A possibilidade da contraposição entre materiais leves e cargas faz o artista se divertir quando se depara com elementos arquitetônicos passíveis de se submeterem à brincadeira. Ele também levou as almofadas coloridas para a rampa do Museu Nacional de República, como parte da exposição Diálogos da resistência.
Formado em arquitetura e há muito tempo afastado das pranchetas, Zamproni deixou para trás a confecção de estruturas e trocou a seriedade do projeto pela brincadeira com a arte. Não que a seriedade esteja dissociada do fazer artístico — há algo de muito sério em propor a reflexão por meio do lúdico, é preciso quebrar amarras para conseguir entrar na proposta — mas a arte pode se dar ao luxo de levar o jogo para o espaço do austero. “Basicamente, é o aspecto lúdico da intervenção que chama a atenção: uma estrutura tão rígida como a arquitetura substituída por algo tão frágil. E são elementos do cotidiano, só muda a escala”, explica o artista.
Batizada de Estrutura volátil, a instalação também resgata uma intimidade do cotidiano como estratégia para fisgar o visitante. “Almofada é algo do íntimo e do cotidiano”, lembra Zamproni. “Algo tão corriqueiro do dia a dia que pode ser inserido em algo maior. Acho que isso ajuda a tirar um pouco de seriedade das coisas, o peso que tem a arquitetura, e dar certa leveza à vida, ao olhar, ao perfil de uma cidade, que é sempre tão rígida.”
fevereiro 13, 2012
Bebe-me por Paula Alzugaray, Istoé
Bebe-me
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais em 10 de fevreiro de 2012.
VOAR - BRIGIDA BALTAR/ Galeria Nara Roesler, SP/ até 3/3
Ao pisar na galeria Nara Roesler, o visitante se depara com uma coleção de teatros e carrosséis em miniatura. No palco daquele microteatro, um balanço solitário oscila entre uma plateia vazia e uma cortina estampada com um céu. A criança e a plateia estão ausentes e o visitante de pronto se dá conta de que é ele o único espectador daquele teatro. Como se tivesse encontrado o mesmo frasco com o rótulo “Bebe-me”, que fez Alice crescer no País das Maravilhas, o visitante assume a proporção de um espectador gigante. Crescer, voar, cair e experimentar diferentes escalas são algumas das sensações proporcionadas pela exposição “Voar”, de Brigida Baltar.
A passagem de Alice é lembrada, mas a maior referência para a artista foi mesmo a teatralidade dramática do cineasta Ingmar Bergman. O teatro é o cenário escolhido para o voo de Brigida Baltar, talvez pelo protagonismo que a ficção tem assumido na trajetória da artista. “Acredito que meu trabalho partiu de uma linha existencial e caminha para a fábula”, diz Brigida. Nessa fábula, ela alça voo sobre o Rio de Janeiro antigo, a estatuária art nouveau e a música clássica. Na sala principal da galeria, cria-se um ambiente em que o visitante retoma sua condição ínfima de fragilidade e impotência física diante de trabalhos monumentais. Entre eles, o filme “Voar”, em que uma maestrina rege coro invisível em 16 vozes.
Montada originalmente em 2011 no Oi Futuro, no Rio, a exposição é inteira composta de representações simbólicas de quedas, voos e pousos. Começou a ser concebida quando Brigida e seu irmão Claudio, diretor de engenharia circense, decidiram desenhar juntos uma máquina de voar. O projeto se materializou em uma aquarela, que não chegou a sair do papel, mas se metamorfoseou em uma coleção de esculturas que hoje é apresentado na vitrine da galeria: “A Vertigem do Pavão ou Máquina para Voar”, “Claridade e Brilho” e “Teatro”.
Bússola da arte por Paula Alzugaray, Istoé
Bússola da arte
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 12 de fevereiro de 2012.
Programa de mapeamento Rumos Artes Visuais chega à sua quinta edição em exposição que acentua diferenças entre obras e regiões
O Rumos Artes Visuais é uma bússola das artes visuais no País. Ativo e contínuo desde 1997, já criou tradição de revelar artistas emergentes do Norte, Sul, Leste e Oeste. O mapeamento que produz periodicamente funciona como referência para o mercado e instituições de arte trabalharem nos próximos três anos. Nesta quinta edição do programa, nada de tendências ou linhas conceituais para definir o resultado de um ano de pesquisas. A curadoria de “Convite à Viagem” mostra-se muito mais interessada em salientar as singularidades e diferenças do que as proximidades entre as obras. “A dinâmica da exposição se faz entre rimas e choques”, afirma Paulo Miyada, que integra o grupo curatorial coordenado por Agnaldo Farias.
Mais do que temas, fala-se aqui em “territórios” ou “regiões”, para aproveitar o vocabulário próprio dos viajantes. Identificam-se vários deles ao longo do percurso da exposição, sem que a curadoria indique-os por meio de textos ou sinalizações. Rimas acontecem, por exemplo, entre a obra de Thiago Honório, que investiga ações de edição e montagem no mundo das artes, e outros artistas que trabalham com deslocamentos fotográficos, como a carioca Maria Laet, que faz intervenções sobre películas de Polaroid; a paraibana Iris Helena, que trabalha com pequenas máquinas digitais e impressoras domésticas para imprimir em suportes inusitados como o “post it”; ou o capixaba Vinícius Guimarães, que realiza imagens com uma máquina de xerox, levando-a aos limites da ampliação. Mas a fotografia é apenas uma “região” da exposição. Outros terrenos habitados nesse Rumos são as cidades, as paisagens, a ecologia ou as fabulações.
A pintura é outro campo ocupado. Discutem os deslocamentos da pintura o carioca Rodrigo Torres, o indiano Vijai Patchineelam, radicado no Rio de Janeiro, ou o acreano Welington Santana, que faz uma pintura iconográfica e figurativa similar ao estilo geométrico indígena, mas
é deslocada de seu lugar-comum, fazendo da tela um elemento de intervenção na paisagem amazônica. A quinta edição do Rumos expõe mais de 100 obras realizadas pelos 45 artistas mapeados. Depois de São Paulo, o projeto tem itinerância em outras quatro cidades, em novos arranjos.
Tramando mundos por Mônica Lucas, Diário do Nordeste
Tramando mundos
Matéria de Mônica Lucas originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 13 de fevereiro de 2012.
Mostra na Unifor revisa 30 anos de carreira de Luiz Hermano, artista plástico cearense radicado em SP
Brinquedos de plástico, contas de resina, pedaços de madeira, fios de arame. Objetos corriqueiros, que normalmente passam despercebidos aos nossos olhos e que teriam como destino algum lixão, se transformam em obras de arte nas mãos do artista plástico Luiz Hermano. Cerca de 30 anos de carreira desse cearense radicado em São Paulo ganham uma generosa revisão na mostra Tramando Mundos, em cartaz no Espaço Cultural Unifor Anexo.
Luiz Hermano expôs pouco em Fortaleza e se diz feliz com a possibilidade de apresentar seu trabalho no Estado onde nasceu. A mostra, aberta à visitação a partir de quarta-feira, reúne 28 de suas obras mais emblemáticas, entre aquarelas, esculturas e uma grande instalação. O fio condutor que as une é a reflexão que provocam sobre a formação de mundos e a matemática do universo. "Fizemos um recorte a partir da ideia das tramas, do ato de tramar para a construção de universos", explica Paula Braga, curadora da mostra.
O ponto central é a obra Encantados, de 2004, uma instalação feita em plástico, aço, lâmpadas e gazes, que remete às metamorfoses da natureza. Em torno dela, ficam dispostas doze aquarelas, feitas no início da carreira de Luiz Hermano, ainda na década de 80. "Elas retratam minha visão de histórias da humanidade", explica o artista, que pintou fábulas e cenas do imaginário infantil - ou seja, os universos construídos por meio das brincadeiras.
Ao redor dessa estrutura, obras mais relacionadas ao raciocínio matemático, com suas tramas intuitivas de metal. O artista propõe, porém, um movimento a essas estruturas, como nos cubos movediços de alumínio que iniciou nos anos 90. Completam a mostra, peças da recente série Rio das Contas, em que contas de resina, pedaços de madeira e capacitores eletrônicos são unidas e articuladas por fios de arame em belos emaranhados, relevos curiosos e movimentos iminentes.
Nas tramas que constroem universos reais e simbólicos, pelo menos, quatro fases do artista são representadas. Paula Braga explica que, em uma obra tão prolífera, optou por selecionar peças que trouxessem a ideia de trama e abordassem a construção de diferentes mundos. "A exposição não traz todas as fases, mas as peças mais instigantes que abordam essa questão".
Luiz Hermano se apropria de elementos de vários mundos para seu trabalho. Em suas visitas à Tailândia, Índia e China, encontrou estátuas de budas em construções milenares erguidas segundo a geometria sagrada e se encantou com mandalas que esquematizam o universo. O artista passeou também por ruas de comércio de quinquilharias de plástico, brinquedos piratas e computadores de procedência duvidosa. Ao tramar o sagrado com o profano, Luiz Hermano aborda a compreensão da origem e as possibilidades de conexão com o universo. Isso sem afastar-se do cotidiano, mas, pelo contrário, achando nele mesmo a transcendência. Enquanto faz suas obras, o artista medita, ao mesmo tempo em que sincroniza o movimento de suas mãos com a frequência de suas ondas cerebrais.
Paula Braga é só elogios ao artista: "Tem todo o conceito filosófico que permeia suas obras, mas há ao mesmo tempo uma ligação com o ornamento e com a beleza, que é uma preocupação que não vemos muito na arte contemporânea". A curadora lembra ainda que Hermano estabelece uma ponte entre o popular e o erudito, ao incorporar ao seu trabalho vários materiais cotidianos industrializados e o fazer artesanal.
Palestra
Para falar sobre sua trajetória e trabalho, Luiz Hermano ministra palestra hoje, no auditório A3 da Unifor, às 15h30, com a participação da curadora da exposição, Paula Braga. Luiz Hermano, agraciado com o Troféu Sereia de Ouro, em 2011, outorgado pelo Sistema Verdes Mares, expôs em vários museus ao redor do mundo e tem obras na Biblioteca Nacional de Paris e em coleções particulares como a de Patrícia Cisneiro, na Venezuela.
Nascido em 1954, Luiz Hermano viu despertar o interesse pelas artes plásticas ainda na infância, em Preaoca, pequeno povoado do município de Cascavel. "Eu estava sempre pintando, desenhando, copiando algum jornal ou revista", conta. Do interior do Ceará para a Capital e então para o mundo. O artista já morou em Londres, Paris, Nova York e não perde uma oportunidade de viajar e conhecer novos lugares e costumes.
Hermano, que sempre viveu de arte - "nunca fiz outra coisa na vida", diz - tem residência fixa em São Paulo há 30 anos. Foi na capital paulista que sua carreira deslanchou, em 1980, com a exposição coletiva Desenho Jovem, no Museu de Arte Contemporânea da USP (Universidade de São Paulo). No ano seguinte, estava com a individual Desenhos (Drawings), no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Nos últimos 30 anos, o artista teve seus trabalhos exibidos em várias outras das principais instituições de arte do Brasil: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Centro Dragão do Mar, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de ter participado da Bienal de São Paulo entre 1987 e 1991. No exterior, expôs em Buenos Aires, Santiago, Washington, Paris, Madri e Berlim, e outras cidades da América Latina, Europa e Estados Unidos. Em 2008, quando realizou a exposição individual Tempo do Corpo, na Pinacoteca de São Paulo, lançou um livro sobre sua obra, com 256 páginas.
FIQUE POR DENTRO
Empreendedores serão tema de outra exposição
Na quarta-feira, o Espaço Cultural Unifor recebe outra exposição. Pioneiros & Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil é uma exposição que reflete as preocupações que embasaram mais de dez anos de pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo, sob a coordenação do professor e pesquisador Jacques Marcovitch, referentes aos empreendedores que foram pioneiros em diferentes campos profissionais e influenciaram de forma decisiva a história do Brasil. A publicação de uma trilogia que aborda a trajetória de 24 empresários descortina um cenário que desvela rotas e percursos labirínticos e entrelaça os mais distintos empreendimentos, cujo legado é perceptível nos dias de hoje, apontando para uma pedagogia empreendedora, que articula trabalho, percepção de contexto, busca de inovação e aventura. Entre os empresários biografados, estão Roberto Medina, Francisco Matarazzo, Roberto Simonsen, José Ermírio de Moraes e o cearense Edson Queiroz.
Mais informações:
Tramando Mundos - Mostra individual do artista plástico Luiz Hermano. De 15 de fevereiro a 13 de maio de 2012, no Espaço Cultural Unifor Anexo. Entrada e estacionamento gratuitos. Palestra com Luiz Hermano e Paula Braga. Hoje, às 15h, no auditório A3.
Contato: (85) 3477.3319
Sesc Belenzinho recebe arte contemporânea indiana, O Estado de S. Paulo
Sesc Belenzinho recebe arte contemporânea indiana
Matéria originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de fevereiro de 2012.
Como o prédio do CCBB de São Paulo não tinha espaço para abrigar o segmento contemporâneo de arte indiana, a mostra "Índia! - Lado a Lado, que reúne um apanhado da produção artística atual do país, teve de ser apresentada em outro espaço da cidade, o Sesc Belenzinho. A abertura da exposição ocorrerá no próximo dia 25. O curador Pieter Tjabbes convidou a curadora Tereza de Arruda, que vive em Berlim, para preparar a mostra, já exibida no Rio.
São criações de 17 artistas, alguns deles de renome internacional, como Shilpa Gupta, que cria instalações, vídeos e arte interativa, em que predominam questões como "desejo, religião e a insegurança da vida contemporânea". Seus trabalhos são "normalmente respaldados por uma grande sutileza narrativa, construída através de poucos recursos", afirma Tereza. Na mostra, a artista estará representada pela obra "Estrelas Cegas Cegas Estrelas", de 2008, com palavras escritas em luzes.
Em 2010, o Sesc Pompeia exibiu uma mostra de arte contemporânea indiana, na qual também integravam alguns dos artistas de "Índia! - Lado a Lado". O interesse pela produção atual do país emergente está em entender como as transformações socioeconômicas e uma vontade de união entre os ideais do Oriente e do Ocidente, de desde os anos 90, se refletem na prática artística da Índia. A recorrência de visões irônicas sobre a tradição do país e de temas de caráter social, é uma característica.
A exposição no Sesc Belenzinho, que ficará em cartaz até 29 de abril, apresenta esculturas, fotografias, pinturas, vídeos e instalações. Entre outros destaques, os trabalhos escultóricos de Ravinder Reddy, que cria grandes cabeças azuis femininas para tratar do "hibridismo cultural num contexto urbano e rural". "Ele é um precursor da disseminação do aspecto popular da cultura indiana", afirma a curadora. Na mostra, ainda, obras de Shelba Chhachhi e do coletivo Raqs Media. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Colecionadores brasileiros investem em museus próprios por Audrey Furlaneto, O Globo
Colecionadores brasileiros investem em museus próprios
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Globo em 13 de fevereiro de 2012.
Na esteira de Inhotim, cresce no país o número de espaços para abrigar acervos particulares e exibi-los ao público
Depois da iniciativa do empresário Bernardo Paz, que construiu Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do Brasil, outros colecionadores brasileiros apostam em abrir seus acervos ao público. São cada vez mais frequentes as coleções particulares acessíveis a visitantes ou até mesmo transformadas em institutos. Em São Paulo, já existem pelo menos dois acervos privados que podem ser vistos por quem se interessar. Há ainda iniciativas semelhantes no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo. São, digamos, museus particulares para crítico nenhum botar defeito.
Como Bernardo Paz, que, num primeiro momento de seu instituto, recebia visitantes com hora marcada, o colecionador Oswaldo Corrêa da Costa criou um espaço para sua coleção, que pode ser vista em Pinheiros, em São Paulo, com agendamento prévio. Aos 53 anos, o economista aposentado diz que não lhe agradava o fato de seu acervo, que completa 40 anos em 2013, ser "um tanto estéril". Custeou (sem o uso de leis de incentivo) a reforma do espaço de 130 metros quadrados de área expositiva e outros 130 de subsolo e reserva técnica. Organiza no local, batizado de Coleção Particular, exposições trimestrais, que são, como afirma, "tentativas de compreender a própria coleção".
— Morei a maior parte da vida nos Estados Unidos, no Canadá e em países da Europa, onde há sempre coleções particulares abertas ao público. Estranhava que isso não existisse no Brasil. O exemplo de Inhotim foi fantástico, pena que é fora de mão — avalia o colecionador.
O modelo que impera no país, segundo ele, é o de coleções valiosas fechadas nos grandes apartamentos dos colecionadores, que recebem visitas restritas aos interesses do mercado das artes plásticas. Durante a Bienal de São Paulo, por exemplo, são frequentes os jantares e encontros para marchands internacionais nas "casas das coleções". Dono de obras de Hélio Oiticica, Mira Schendel, Leda Catunda, Leonilson e Antonio Dias, entre outros (são mais de 500 obras), Costa diz que, embora abra sua coleção, são raras as "pessoas comuns" interessadas em vê-la.
— Recebi até hoje 200 pessoas, algo como cinco por semana. Acho que os brasileiros ainda não estão acostumados — diz ele, que abre as portas da Coleção Particular apenas de quarta a sexta-feira. — Gostaria de ter mais tempo, mas, se fosse abrir direto, teria de contratar recepcionista, segurança. Evito ter muitos gastos, porque faço tudo sozinho.
Há colecionadores que se inspiram no modelo atual de Inhotim, institucionalizado e aberto como um museu. Nada, é claro, tem as dimensões do empreendimento de Bernardo Paz, que, recentemente, em entrevista ao GLOBO, disse que pretendia transformar seu centro cultural (com dois milhões de metros quadrados e estimado em US$ 200 milhões) numa espécie de "Disney das artes plásticas". Em Ribeirão Preto, o economista João Carlos de Figueiredo Ferraz, de 60 anos, inaugurou no final de 2011 um instituto que leva seu sobrenome — e guarda a coleção, de quase mil obras, formada por ele e por sua mulher, a arquiteta Dulce de Figueiredo Ferraz. Paulistano, ele escolheu a cidade do interior do estado para viver e construir sua usina de açúcar nos anos 1980, década em que iniciou sua coleção de obras de arte. Nos últimos anos, vinha tentando enviar seu acervo por comodato para instituições da capital e, sem sucesso, decidiu construir seu próprio instituto.
Inaugurado no fim do ano, o Instituto Figueiredo Ferraz é uma das maiores iniciativas recentes para expor uma coleção particular. São 2.500 metros quadrados de área construída e quatro salas de exposição, divididas em dois andares. Há ainda uma reserva técnica, um auditório para 60 pessoas, biblioteca, jardim, escritório e bar para os dias de eventos. Questionado sobre os custos da construção, patrocínios ou uso de leis de incentivo fiscal, o instituto informou que não comenta tais temas.
O Figueiredo Ferraz possui obras de artistas como Tunga, Vik Muniz, Tatiana Blass, Antonio Dias, Adriana Varejão e Nuno Ramos. Na inauguração, o instituto convidou Agnaldo Farias, curador da última Bienal de São Paulo, para selecionar as obras da primeira exposição, "O colecionador de sonhos".
— A ideia de abrir ao público foi uma consequência da abertura do espaço. Não fazia o menor sentido mantê-lo fechado sendo que essas obras fazem parte do patrimônio cultural da Humanidade e portanto devem ser vistas — diz Ferraz. — Inhotim é um exemplo extraordinário e deve ser aplaudido, mas acredito que nossa história seja um pouco diferente: enquanto eles compraram obras para ocupar um espaço, nós tivemos que achar um espaço para receber uma coleção que se formou nos últimos 30 anos.
Agnaldo Farias vê a iniciativa de mostrar uma coleção privada ao público como "algo naturalmente muito generoso e que dá visibilidade a uma obra que acabaria fora da vista do público". Farias acompanhou a formação da coleção de Ferraz, que, na década de 1990, "já se mostrava consistente". Para o curador, porém, o modelo ainda "engatinha" no mercado brasileiro.
— O próprio colecionismo no país ainda está se constituindo. É preciso se profissionalizar, porque há muita compra errada, muita volúpia de compra, que não configura uma coleção — diz Farias.
Colecionadora desde os anos 1960, a artista plástica Vera Chaves Barcellos, de 74 anos, diz que se cansou de ver as obras de seu acervo pessoal "em casa ou mal depositadas". Ela e o marido, o também artista e colecionador Patrício Farias, decidiram construir uma reserva técnica em 2005. A coleção seguiu crescendo e, em 2010, o casal criou um espaço em Viamão, a cerca de 20 quilômetros de Porto Alegre (RS). Hoje, estão prestes a inaugurar a segunda reserva, e seu espaço expositivo, de 400 metros quadrados, recebe a quarta exposição do acervo do casal.
— Ganhamos agora um edital do Ministério da Cultura para contratar um especialista em arte que vai atender as escolas que nos visitam — conta Vera, que, em parceria com o governo local, já recebe alunos de escolas da região.
Em São Mateus, no Espírito Santo, o escritor Maciel de Aguiar, de 60 anos, custeou a construção de dois prédios nos últimos 30 anos para abrigar sua coleção, composta principalmente de peças da cultura afro-brasileira. O Museu África Brasil deverá ter mais cinco prédios. Num deles, Aguiar vai exibir pinturas de Heitor dos Prazeres e objetos do período da escravidão, como troncos e algemas.
— A ideia não é minha, é do Darcy Ribeiro. Ele dizia que o país deveria ter um museu para reunir tudo sobre a escravidão. É o que pretendo. Sei que é um projeto grandioso e gostaria de ter parceiros — diz Aguiar, que banca a coleção e as construções com a venda de livros que escreveu sobre Pelé e Oscar Niemeyer.
O recente crescimento de coleções abertas ao público é acompanhado pela empresária Regina Pinho de Almeida, de 50 anos. Colecionadora desde os 25, ela se voltou na última década para a arte contemporânea brasileira e tem convidado outros colecionadores para reunir seus acervos num mesmo lugar.
— Todos se entusiasmam com a ideia, mas ninguém fecha — resigna-se Regina.
"A vaidade existe", completa a colecionadora, mas um dos motivos que espantariam os colegas é a necessidade de "regularização das obras, muitas vezes adquiridas em compras internas", ou seja, sem recibo.
— Muitos têm medo da questão legal, porque, até pouco tempo atrás, não se comprava com nota fiscal. Hoje, só compro com nota. Mas, para expor uma coleção, todas as obras teriam que ser regularizadas. A questão tributária é outro problema. Para uma pessoa física não é fácil conseguir incentivo e bancar todo o processo.
Fenômeno deve continuar
Para o colecionador Mariano Marcondes Ferraz, de 46 anos, que vive na Suíça e tem seu acervo nas casas da Europa e do Rio, a abertura ao público de coleções particulares é "um fenômeno que deve ocorrer no Brasil nos próximos dez anos, assim como ocorreu a profissionalização das galerias brasileiras nos últimos tempos".
— Hoje, existe um interesse maior em colecionar arte. Temos mais galerias e mais colecionadores, um reflexo do que está acontecendo no Brasil, de mercado aquecido. Além disso, a qualidade dos artistas brasileiros é excepcional, o que propicia a procura de visitas a coleções privadas — avalia ele. — Ter um espaço dedicado à sua coleção e torná-la acessível a mais pessoas é um sonho que todo colecionador tem.
Documentário acompanha um ano na vida de Marina Abramovic por André Miranda, O Globo
Documentário acompanha um ano na vida de Marina Abramovic
Matéria de André Miranda originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Globo em 13 de fevereiro de 2012.
Aos 65 anos, artista sérvia segue testando os limites de seu corpo
BERLIM - Marina Abramovic já ficou nua; riscou um pentagrama em volta de seu umbigo com uma faca; permitiu que as pessoas usassem objetos como bem entendessem em seu corpo durante seis horas; ficou nua de novo, dessa vez deitada com um esqueleto; andou por 2.500 quilômetros da Muralha da China para dar fim a um relacionamento; passou três meses indo a um museu para simplesmente se sentar numa cadeira durante todo o dia e observar quem se sentasse em frente a ela; e se despiu por três, quatro, cinco, quantas vezes fosse preciso para sua obra.
Todos os trabalhos que a tornaram reconhecida no mundo como a "avó das performances" foram realizados em nome da arte, a mesma arte performática cujo encontro com o cinema a trouxe para a 62 edição do Festival de Berlim.
A artista, nascida em 1946 em Belgrado, na Sérvia (à época, parte da Iugoslávia), está na Berlinale para as sessões do documentário "Marina Abramovic — The artist is present" ("A artista está presente"), de Mathew Akers, incluído na mostra Panorama.
O filme revela detalhes da rotina e das motivações de seu trabalho, tendo como ponto de partida a famosa exposição "The artist is present", que Marina apresentou no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York em 2010. Foi quando se sentou na cadeira para se comunicar sem palavras com os espectadores, além de reunir outros artistas para recriar algumas de suas apresentações mais famosas, como a "Imponderabilia", de 1977, em que ela e seu então namorado, o artista alemão Ulay, ficavam nus numa porta, para que as pessoas passassem por entre eles.
Anteontem, num restaurante de Berlim, Marina conversou com O GLOBO sobre o filme, Ulay, a verdadeira performance e as dúzias de viagens que faz ao Brasil desde o fim dos anos 1980.
O GLOBO: A senhora estava no Brasil há pouco tempo, não?
MARINA ABROMOVIĆ: Na verdade, eu vim do Brasil para cá, cheguei ontem (quinta-feira).E estou com um problema sério porque não tenho roupas para este frio que está fazendo em Berlim. No Brasil a temperatura era quarenta graus. Agora mal consigo sair na rua (risos).
- E o que a senhora fazia no Brasil?
Eu tenho uma longa história com o Brasil. Depois de terminar a performance em que andei na Muralha da China, em 1987, eu passei a me interessar pelas relações emocionais e físicas das pedras, da terra em que eu caminhei. O cobre, o ferro, os minerais, tudo isso traz uma sensação diferente. E eu queria que o público compreendesse esse tipo de experiência, mas havia um problema: na Muralha da China, foi a primeira vez que minha performance não foi visível para as pessoas. Então eu criei um novo corpo de trabalho que envolvia objetos transitórios. Aí, em 1989, fui ao Brasil para visitar suas minas. Fui para Serra Pelada, Minas Gerais, Santa Catarina, Marabá, a Amazônia, vários lugares, atrás de pedras que me permitiriam criar objetos de interação com o público. De 1989 a 1995, eu fui muitas vezes ao Brasil.
- Desta vez a senhora foi novamente atrás das pedras?
Sim. Depois da retrospectiva no MoMA (o Museu de Arte Moderna de Nova York), eu quis voltar àqueles minerais. Acho que hoje entendo mais e mais a energia que vem deles. Então reuni 35 caixas de pedras e as enviei para um museu em Milão. Elas farão parte de uma nova performance em que estou trabalhando. A ideia é que parte do público faça uma performance e a outra parte veja a performance dos outros. É uma proposta educativa para que as pessoas compreendam o que a arte performática realmente significa. Eu estou construindo objetos para as três posições básicas do ser humano: sentado, deitado e de pé. Já construímos, por exemplo, cadeiras bem altas em que os pés não tocam o chão, para dar um sensação diferente da gravidade, e que vão ficar por cima de pedras preciosas diversas. Cada pedra vai gerar um campo energético e oferecer um significado para quem estiver ali.
- Mas, apesar de ter ido tantas vezes ao Brasil, a senhora nunca se apresentou lá.
Não, é verdade. Mas ouvi dizer que a peça que eu fiz com Robert Wilson (dramaturgo americano que lançou em julho do ano passado, num festival de Manchester, o espetáculo “The life and death of Marina Abramović”, com participação da própria) vai ao Rio no próximo ano, talvez também para São Paulo. Mas não sei muitos detalhes sobre isso.
- A senhora sempre pareceu muito empenhada em mostrar às pessoas o significado da performance. É esta também a ideia do documentário que está sendo exibido em Berlim?
Este filme foi muito importante para mim. E eu radicalizei. Aceitei ter um microfone atrás de mim durante um ano inteiro. Eu não tinha privacidade, e é muito difícil você se expor completamente desta maneira. O sujeito da câmera tinha a chave do meu apartamento, aparecia às 6h e esperava eu acordar com a câmera no meu rosto. O ponto era mostrar para os espectadores como é séria e difícil a preparação para uma performance. Não é um entretenimento de merda como aquelas pequenas exibições em museus para as quais você é convidado o tempo todo. Performance é um negócio muito sério. Por isso, espero que o filme ajude as pessoas a entender o significado da performance, não apenas do meu trabalho.
- É por isso também que, diferentemente de outros artistas, a senhora aceita que suas performances sejam reproduzidas?
A performance é um arte temporal. Então, se não houver a reporformance, ela vai morrer. Vai virar uma foto morta num livro. É melhor que alguém repita uma performance do que não haja performance alguma. Mas meus colegas pensam diferente. Eles dizem que a performance é uma obra original que não pode ser reproduzida. Eles nunca dão os direitos para que outros façam. No meu caso, eu abro meu trabalho para jovens artistas performáticos, acho isso muito importante. Mas abro apenas os trabalhos que não tragam algum risco físico, porque não tenho como controlar as possibilidades de cada um.
- Qual a importância do público para sua performance? Sua presença de alguma forma transmite força para sua arte?
O público é tudo para mim. Mesmo se eu estiver numa palestra e perceber que alguém se levantou para ir no banheiro, eu fico prestando atenção até ele voltar. Se ele não voltar, para mim quer dizer que eu falhei. Cada uma das pessoas na plateia cria um diálogo de energia comigo. Eu pego a energia que vem do público, a transformo e a devolvo. É assim meu trabalho.
- No filme, há uma cena em que uma moça tenta ficar nua antes de se sentar na sua frente no MoMA, mas é impedida e removida pelos seguranças. O que você pensou naquele momento?
Foi tudo muito rápido, eu mal pude ver o que aconteceu. A questão é que as regras para aquela performance eram bem rígidas. Você não tinha permissão para fazer sua própria performance. Deveria apenas se sentar na minha frente pelo tempo que quisesse e interagir com os olhos. Era esta a ideia. Aconteceu de muitos artistas, não apenas aquela moça, tentarem ser percebidos ali no MoMA. É difícil conseguir exposição no mundo das artes, então qualquer oportunidade deve ser utilizada para mostrar seu trabalho. Eu entendo essa necessidade, mas naquele caso havia regras, e essas deveriam ser seguidas. Teve um cara que se vestiu igual a mim e propôs casamento. Foi meio louco, para muitos aquele momento era como se estivessem num palco.
- Hoje, há uma ideia de que qualquer um pode fazer uma arte performática. Isso aparece muito no teatro, por exemplo.
Antes, a performance e o teatro eram duas artes bem diferentes. Mas, hoje, os diretores de teatro levam tantas performances sérias para os palcos que pode-se dizer que há uma mistura. Se você pensar, por exemplo, em Pina Bausch e outros artistas incríveis, o trabalho deles em utilizar performances no palco é bastante interessante. A boa performance tem muita força para estar em qualquer lugar, no teatro, na dança, na moda ou cinema.
- Mas é mais do que no teatro. Há pessoas protestando nas ruas que tratam o que fazem como performance. Há gente nas redes sociais que age como se aquilo fosse uma arte performática. É a mesma coisa?
Não. Tudo depende do contexto. As redes sociais ou as performances nas ruas têm contextos diferentes da arte. Às vezes é político, às vezes é pessoal. Se um cara faz um pão, por mais que ele faça o melhor pão do mundo, ainda assim ele não será um artista. Será um bom padeiro. Mas se você faz um pão num galeria, aí sim você estará fazendo arte. O contexto muda tudo. Nos anos 1970, todo mundo dizia que fazia performance, mas era na verdade um monte de merda. Assistir à verdadeira boa performance é uma experiência que vai mudar sua vida.
- No documentário, Ulay, seu namorado e parceiro de performances por quase uma década, fala em entrevista sobre o fim do relacionamento de vocês, de como ele engravidou a tradutora que os ajudava nas negociações para a performance na Muralha da China. Como a senhora lidou com o fato na época?
A tradutora acabou se tornando esposa dele, mas eles já se separaram. Aquela não foi a única vez que Ulay fez aquilo. Nós ficamos nove anos juntos, e os últimos três anos foram bastante ruins. Eu o convidei para a retrospectiva no MoMA porque muito daqueles trabalhos nós havíamos criados juntos. Mas não somos amigos. Temos uma relação apenas ok. E Ulay não está bem, está com câncer. Ela está em Berlim e fiquei muito chocada com sua aparência ao vê-lo hoje mais cedo.
- A senhora, por sua vez, está com 65 anos, continua fazendo performances que exigem muito da parte física e aparenta ter pelos menos 15 anos a menos. De onde vem toda essa energia?
Uma das minhas avós morreu com 103, a outra com 116 anos. Eu sou uma espécie de soldada. Eu não bebo, nunca fumo, não uso drogas. Só faço exercícios, trabalho e vivo.
- Talvez isso tenha vindo da disciplina imposta por seus pais, ambos heróis de guerra na antiga Iugoslávia. Como pessoas como eles lidavam quando você começou a se apresentar?
Meus pais ouviam críticas nas reuniões do Partido Comunista, sobre que tipo de educação eles tinham me dado. E eles deram uma educação muito rígida mesmo, uma disciplina militar. Minha mãe ficava bastante irritada com as performances. Quando minha mãe morreu, eu lembro de ter ido a seu apartamento olhar suas coisas e ter achado um livro sobre meu trabalho em que ela tinha rasgado todas as páginas em que eu aparecia nua. Ela editou o livro para mostrar para os vizinhos, tirou umas 20 páginas.
- A senhora se imagina velhinha, com mais de 100 anos como suas avós, ainda fazendo performances?
Eu nunca vou parar. Só vou parar quando morrer. Eu quero muito descobrir os limites do meu corpo, quero saber o que vai acontecer. O Merce Cunningham (coreógrafo de dança americano, morto em 2009, aos 90 anos) sofria de uma artrite terrível e ainda se apresentava com as mãos e os joelhos. Quero isso para minha vida.
Mostra no CCBB reúne 85 obras de Tarsila do Amaral por Audrey Furlaneto, O Globo
Mostra no CCBB reúne 85 obras de Tarsila do Amaral
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Globo em 13 de fevereiro de 2012.
RIO - Foi no Rio de Janeiro que, em 1929, Tarsila do Amaral fez sua primeira mostra individual no Brasil. Depois, expôs na cidade em 1933 e em 1969. Desde então, a artista modernista que talvez seja a mais frequente no imaginário popular nunca mais teve uma exposição na cidade. O CCBB vai quebrar o jejum de 43 anos com "Tarsila do Amaral — Percurso Afetivo", reunião de 85 obras da artista que será inaugurada hoje, às 19h, para convidados, e amanhã para o público. Há, no entanto, uma falta que será rapidamente identificada: "Abaporu" (1928), sua pintura mais famosa, não integra a exposição. Segundo o curador Antônio Carlos Abdalla, o colecionador Eduardo Costantini, dono da tela que é o carro-chefe de seu museu, o Malba, em Buenos Aires, não se mostrou muito "disposto" a um novo empréstimo da tela, que veio ao Brasil em 2008, para uma retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo, e em 2011, para uma mostra em Brasília — na ocasião, aliás, a presidente Dilma Rousseff posou ao lado da pintura.
— Se tivesse sido muito fácil, teria vindo. Nunca fui muito a favor de trazer "Abaporu", porque a gente corre o risco de fazer a exposição do "Abaporu", e não da Tarsila do Amaral. Estava consciente disso — afirma o curador. — Também não temos o original de "A Negra" (1923), porque o MAC (Museu de Arte Contemporânea) de São Paulo está em reinauguração e não podia emprestar. A solução foi trazer "Antropofagia" (1929).
Em "Antropofagia" (1929), para o curador da exposição no Rio, estão reunidos os personagens das telas "Abaporu" e "A negra" — esta última, conta ele, foi criada pela artista a partir de uma foto de sua babá. O retrato dela foi encontrado pela família de Tarsila num de seus diários e será parte da montagem carioca. Outro dos diários, o de viagens que ela fez quando casada com Oswald de Andrade, foi usado como fio condutor da exposição.
— Tarsila pega notas de restaurantes, bilhetes de viagens de trem, fotografias, pouquíssimas coisas escritas e cria um diário visual da viagem. Não é textual. Isso tem uma forma um pouco caótica. Não se tem domínio absoluto de uma recordação. As memórias surgem no momento e vão sendo coladas no papel de uma maneira um tanto aleatória — conta o curador.
Inspirado pelo diário visual da modernista, ele optou por não organizar as obras no CCBB a partir de classificações acadêmicas. "Tarsila do Amaral — Percurso afetivo" é, como define, "uma mostra de colagens de obras da artista".
A proposta livre permitiu a Abdalla, por exemplo, agrupar três telas em que Tarsila retrata o Rio no que chama de "trilogia carioca". Assim, o público verá na sequência "Morro da favela", "Estrada de ferro Central do Brasil" e "Carnaval em Madureira", telas que são da fase conhecida como "Pau brasil", todas de 1924, ano em que ela chegou à capital fluminense.
Do Rio, Tarsila e os modernistas partiram para Minas Gerais, onde, conta Abdalla, fazem "a redescoberta do Brasil, em que se valoriza o barroco mineiro".
Dois anos depois da chegada ao Rio, Tarsila abre sua primeira individual em Paris, com crítica bastante favorável. No mesmo ano, ela se casa com Oswald de Andrade, e os dois viajam pela Europa e pelo Oriente Médio.
— Conta a lenda que a beleza estonteante de Tarsila parava pessoas nas ruas de Paris. Ela sempre teve essa coisa de mito da mulher deslumbrante, bonita, elegante, com dinheiro e talento. Mas não gosto de deixar de lembrar que, ao mesmo tempo, ela teve a vida muito marcada pela tragédia — defende.
Dor e esplendor
Tarsila perdeu a única filha, Dulce, e, mais tarde, a única neta, Beatriz, que pintou em vários retratos. Sua família, bastante rica, perdeu recursos na Crise de 1929.
Ainda assim, o esplendor de Tarsila é presença marcante na exposição seja pela exuberância de cores nas telas ou pelos objetos pessoais. Uma estola e um bracelete criados para ela por Paul Poiret, o estilista da alta sociedade francesa na década de 1920, foram cedidos pela família para a montagem.
A responsável pela obra de Tarsila entre os descendentes da modernista é sua sobrinha-neta, que carrega seu nome — e ganhou o apelido carinhoso de Tarsilinha, para se diferenciar da célebre tia-avó. Ela ainda cedeu para a mostra no CCBB pincéis, espátulas e um Moleskine com desenhos e anotações.
— É sempre um conjunto tão bonito de ser exibido reunido — diz Tarsilinha, 47 anos, que tinha oito quando a artista morreu, em decorrência de complicações após uma operação na vesícula, em 1973. — Era uma tia muito próxima, eu era a queridinha. Me lembro tanto dela, dos corredores da casa na (rua) Albuquerque Lins (em Higienópolis, São Paulo), da sala, dos quadros, de nós duas na casa.
Tarsilinha, que organizou o catálogo raisonné da artista, diz que conseguir 85 obras de Tarsila é "uma tarefa árdua". O curador concorda. Para ele, os colecionadores têm uma relação afetiva com a obra da artista.
— Todos são muito ciosos de suas telas — afirma.
Além da exposição aberta agora, a artista ganhará em março mais uma reunião de suas obras — no livro "Tarsila — Os melhores anos" (M10 Editora), que trará imagens de seus trabalhos e sua história contada pela crítica Maria Alice Milliet.
Tarsila do Amaral é alvo de grande retrospectiva no Rio por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Tarsila do Amaral é alvo de grande retrospectiva no Rio
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de fevereiro de 2012.
Mais de 80 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e parte do diário da artista estão expostos no CCBB
Também integram a mostra obras-primas, como 'Antropofagia' e versão inacabada da tela 'A Negra'
Mais de 30 anos depois de pintar "A Negra", de 1923, retrato de uma antiga ama de leite que virou um ícone do modernismo brasileiro, Tarsila do Amaral tentou fazer uma segunda versão da tela.
Não conseguiu ou não quis, deixando enormes faixas cinzentas atravessando a tela no lugar das cores da original. É essa obra incompleta que norteia a mostra da artista, morta aos 86 em 1973, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio.
Enquanto discursos surrados sobre a artista tendem a ganhar mais força no marco dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, sua "Negra" inacabada aponta para outra direção -Tarsila foi mais volúvel e errática do que a musa moderna que virou depois uma espécie de mito.
Seu quadro inacabado data de um momento conturbado na vida da artista. Em crise financeira e amargando a morte da neta Beatriz, que morreu afogada em 1949, esse retorno tardio à fase áurea da carreira, a década de 1920 em que vivia em Paris, até hoje intriga seus estudiosos.
"Todos os grandes artistas deixam algo inacabado", diz Antônio Carlos Abdalla, curador da mostra. "Reproduzir uma obra anterior numa época em que estava frágil pode ter sido uma espécie de freio."
DIÁRIO
Pelas ausências, como a "Negra" original, consagrada como obra-prima, e o "Abaporu", hoje numa coleção argentina, a mostra no Rio constrói um retrato afetivo da artista, calcado no diário de suas viagens pela Europa, África e Oriente Médio com o marido Oswald de Andrade.
Nesse mesmo diário, Tarsila colou uma fotografia da negra, uma ex-escrava de sua fazenda no interior paulista, que deu origem à tela.
Suas impressões sobre o corpo, o fascínio pela vida urbana, a flora tropical e mais tarde suas telas de cunho social aparecem em trabalhos pontuais. De um nu acadêmico, com discreta influência impressionista, para os corpos geometrizados que fez no ateliê de Fernand Léger, em Paris, Tarsila mostra como absorveu a vanguarda.
Outras telas pontuam a transição da infância numa fazenda cafeeira para a metrópole. Também há uma série da fase surrealista, provável influência de André Breton, mentor do movimento, que frequentava as feijoadas na casa de Tarsila em Paris.
Notícias de Paris por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Notícias de Paris
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de fevereiro de 2012.
Livro reúne cartas trocadas entre o escultor Victor Brecheret e o escritor Mário de Andrade, ícones do modernismo brasileiro
De Paris, Victor Brecheret escreveu a Mário de Andrade elogiando os versos da "Pauliceia Desvairada" que o amigo enviara por correio, reclamando da penúria em que vivia, contando como uma de suas obras rachou no frio do inverno e ainda extasiado com o "turbilhão" daquele "pandemônio de cidade".
Era a década de 1920, os anos loucos da capital francesa, epicentro da produção artística global, e Brecheret era o bolsista do governo paulista que tentava modernizar seu traço convivendo com artistas como Brancusi e Léger e o arquiteto Le Corbusier.
Essa correspondência breve e ao mesmo tempo intensa entre duas figuras centrais do modernismo brasileiro está agora num livro editado no marco dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922.
Em "Victor Brecheret e a Escola de Paris", Daisy Peccinini narra o triunfo que o escultor -nascido em Farnese, na Itália, e morto aos 61 em São Paulo, em 1955- atingiu na capital francesa.
Ali, Brecheret foi parar num ateliê perto do cemitério de Montparnasse, então uma zona pobre e periférica de Paris. Um crítico que visitou o jovem artista chamou de "tétrico" o endereço onde ele se trancava. "Sem repouso", como frisou em carta a Mário de Andrade, para fazer suas esculturas.
VITÓRIA
Num português sofrível, Brecheret contava ao escritor que andava "sempre trabalhando". "Estou classificado aqui em Paris em primeira linha, tendo tido visitas de muitas pessoas notáveis", escreveu o artista em 1924.
Isso foi depois da carta eufórica que mandou um ano antes, começando com "vitória! vitória!", ao narrar o prêmio que venceu no Salão de Outono de 1923 com a obra "O Sepultamento de Cristo".
"Era um grupo de mulheres em pé e a Virgem sentada, segurando sobre as pernas a cabeça e parte do tronco de Jesus", descreve Peccinini. "Ele instalou essa obra numa mureta da escadaria do Grand Palais, numa adequação da escultura à arquitetura, uma síntese das artes."
Nesse ponto, por mais que a bolsa em Paris tivesse como foco um aprimoramento acadêmico do artista, era inevitável que os brasileiros que se aventuravam por Paris sofressem influência das vanguardas, como o "esprit nouveau", propalado por Le Corbusier e que está por trás de vasta produção de Brecheret.
Foi em Paris que o escultor suavizou o traço, chegando às formas límpidas que aparecem no monumento às Bandeiras e outras de suas obras clássicas. No lugar da anatomia real e de uma organicidade às vezes grotesca, Brecheret preferiu formas depuradas, prontas para um embate plástico com a luz.
Brancusi, que o artista conheceu em Paris, é influência clara nessa simplicidade da forma. Mas Brecheret também teve como motor certa aversão ao corpo de verdade.
CADÁVERES
Em Roma, onde estudou ainda adolescente, ele se horrorizava com as práticas sanguinárias do mestre Arturo Dazzi, que chegou a matar e dissecar um cavalo puro-sangue, presente do rei da Itália, para estudar como desenhar veias, artérias e músculos.
Brecheret, que também ajudava o artista a encontrar cadáveres de indigentes para dissecar, parece ter se traumatizado com a experiência.
"Ele vai geometrizando cada vez mais suas esculturas, em círculos, espirais, parábolas", analisa Peccinini. "Esse despojamento das formas, a limpidez do traço, vinha do grupo de Le Corbusier, que Brecheret frequentava."
Fernand Léger, mentor de Tarsila do Amaral, que então também vivia na capital francesa, tinha um ateliê perto do de Brecheret e foi influência decisiva em sua obra.
Talvez depois de ver as mulheres-engrenagem do artista francês, Brecheret também enveredou por "nus mecanicistas", nas palavras de Peccinini, peças como "Portadora de Perfume", de 1924, que serviram de embrião para o monumento às Bandeiras, que ele construiu no Ibirapuera entre os anos 30 e 50.
VICTOR BRECHERET E A ESCOLA DE PARIS
AUTOR Daisy Peccinini
EDITORA FM Editorial
QUANTO R$ 180 (228 págs.)
Pensionato esteve na gênese da Semana de 22
Na chamada Belle Époque paulistana, começo do século 20, o Pensionato Artístico de São Paulo estava na gênese do projeto modernista.
Liderado de forma paternalista pelo deputado, poeta e mecenas José de Freitas Valle, esse era um programa de concessão de bolsas de estudo na Europa para músicos e artistas -entre eles Victor Brecheret e Anita Malfatti, que foram estudar em Paris.
Essa história está documentada no livro de Marcia Camargos, "Entre a Vanguarda e a Tradição", que descerra os bastidores do projeto de modernização da produção plástica paulistana.
Ela narra a rotina nada luxuosa de Brecheret e Malfatti em Paris, que só comiam bem quando algum mecenas aportava na capital francesa.
Mesmo que Freitas Valle tenha aproveitado sua influência para lotar sua casa de obras desses artistas, o regulamento do pensionato fez com que muitas peças modernas entrassem para acervos públicos no país -entre elas, 12 esculturas de Brecheret que foram expostas na Semana de Arte Moderna de 1922.
"Mesmo que a intenção fosse enquadrar esses jovens em parâmetros acadêmicos, era impossível que eles não bebessem das novas inquietações estéticas em Paris."
Enquanto Brecheret sofria ao tentar digerir as vanguardas, Malfatti tentava retornar à ordem depois de ser devastada pela crítica de Monteiro Lobato a obras de sua primeira fase moderna.
Mas mesmo sua obra mais conservadora ganhava contornos vanguardistas na ebulição da capital francesa. "Havia esse convívio enriquecedor. Tem cartas do Mário para a Anita que perguntam o que ela estava vendo, quais eram as novas exposições", diz a autora. (SM)
ENTRE A VANGUARDA E A TRADIÇÃO
AUTOR Marcia Camargos
EDITORA Alameda
QUANTO R$ 65 (462 págs.)
Ecos de 22 em 2012 dividem especialistas por Morris Kachani, Folha de S. Paulo
Ecos de 22 em 2012 dividem especialistas
Matéria de Morris Kachani originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de fevereiro de 2012.
Para que serve o modernismo? Ou melhor, o modernismo acabou? Como visualizar os ecos da Semana de 22 nos dias de hoje?
Para o professor Eduardo Jardim, da PUC do Rio, organizador da coleção Modernismo +90, que consiste em 11 novos títulos editados pela Casa da Palavra, "o modernismo começa nas duas últimas décadas do século 19 e termina nos anos 1970, com o cinema novo, com o Teatro Oficina -que recuperou Oswald de Andrade-, com Caetano e a Tropicália, com Hélio Oiticica. São cem anos".
Marcos Augusto Gonçalves enxerga na antropofagia a chave da questão. "Mário e Oswald foram os fundadores de um novo momento. É a partir de 22 que nasce a ideia central de uma cultura brasileira transcendente, que resultaria no 'Manifesto Antropofágico', em 1928. A antropofagia está viva entre nós até os dias de hoje".
Para Sevcenko, é só no período entre os anos 50 e 70 que a arte moderna revolucionária encontra ressonância no Brasil. O engajamento dos neoconcretos é o melhor exemplo. Mais do que na Semana de 22, estes bebem na fonte da vanguarda europeia encabeçada por artistas como Picasso e Duchamp.
"A revolução ocorrida na Europa no começo do século passado ainda é o nosso horizonte cultural. Ela nunca foi ultrapassada, e sim sufocada. Nos tempos atuais, o que predomina é o conservadorismo", avalia.
UFANISMO TOLO
"Abaporu", de Tarsila do Amaral, foi vendida por US$ 1,25 milhão em 1995, e teve seu seguro renovado recentemente por US$ 40 milhões. Por "Antropofagia", também de Tarsila, já se ofereceu US$ 35 milhões.
O alto valor monetário atingido pelas obras sugere uma escalada da arte modernista brasileira. Mas sem ilusões: "Deixemos de ufanismo tolo. O Brasil celebra sua Semana. Porém, a meu ver, ela é para nós um marco, um símbolo", afirma Aracy Amaral, professora da Faculdade de arquitetura da USP e autora de "Artes Plásticas na Semana de 22" (editora 34).
"O que é significativo são as obras dos artistas modernistas que se criam nos anos que se seguem", acrescenta.
"Mas cogitar que esse marco tivesse tido repercussão na América Latina ou fosse precursor de movimentos em outros países é sonhar com algo inexistente. Nosso vizinho Uruguai, por exemplo, teve três modernistas muito mais marcantes como exportação de talentos: Figari (1861-1938), Barradas (1890-1929) e Torres Garcia (1874-1949) ostentam uma tríade invejável", conclui.
Mostra destaca transgressões da obra de Flávio de Carvalho por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra destaca transgressões da obra de Flávio de Carvalho
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de fevereiro de 2012.
A importância de Flávio de Carvalho (1899-1973) como um dos modernistas mais arrojados é conhecida, especialmente por ser o precursor da performance arte no Brasil, por andar de saia por São Paulo, ou por criar projetos arquitetônicos inovadores.
"Flávio de Carvalho - A Revolução Modernista no Brasil", em Brasília, lança foco sobre outra atividade do artista: sua reflexão sobre a relação entre arte e loucura.
A mostra, com curadoria de Luzia Portinari, apresenta 60 obras do artista, entre desenhos, pinturas e gravuras, ao lado de cerca de 40 trabalhos de internos do Hospital Psiquiátrico do Juqueri.
Trata-se, a princípio, de uma relação forçada, mas o ponto de partida é legítimo. O artista organizou, no Clube dos Artistas Modernos (CAM), espaço que fundou em 1933, o "Mês das Crianças e dos Loucos" junto a Osório Cesar, psiquiatra do Juqueri.
Ao apresentar a obra de internos junto a trabalhos de Carvalho, a curadora ousa uma aproximação, que salienta o caráter transgressor da obra do artista. Um bom exemplo é o conjunto "New Look para Futebol", composto por desenhos que o artista fez para uniformes de futebol.
Assim como em seu famoso "New Look de Verão", usado pelo artista em 1956 e que escandalizou São Paulo por andar de saias, Carvalho também previu que, no futebol, todo o time usasse saias. Na exposição em Brasília, estão expostos não só os desenhos dos uniformes: eles foram confeccionados e dispostos em manequins.
Flávio de Carvalho é um dos artistas mais inovadores e, por isso mesmo, difíceis de se expor de forma convencional. Ao se atrever a olhar sua obra de forma livre, mesmo que um tanto desmazelada na apresentação, a curadoria ajuda a elucidar sua obra.
