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Como atiçar a brasa

 


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outubro 18, 2010

Bandeira branca, amor por Nuno Ramos, Folha de S. Paulo

Matéria de Nuno Ramos originalmente publicada na Ilustríssima da Folha de S. Paulo em 17 de outubro de 2010

Em defesa da soberba e do arbítrio da arte

Procurei intencionalmente matar três urubus de fome e de sede no prédio da Bienal de São Paulo. Pus ali imensas latas cheias de tinta escura, para que se afogassem, além de espelhos, para que batessem a cabeça durante o voo. Construí túneis de areia preta, para que entrassem sem conseguir sair, morrendo ali dentro. E, para forçá-los a voar, costumo lançar rojões em sua direção.

ACUSAÇÕES
Como nos pesadelos ou nos linchamentos, não é possível responder a acusações desta ordem, que circularam pela internet e no boca a boca com força insaciável nas últimas três semanas, criando um caldo de cultura próximo à violência e à intimidação. Como resultado disso, em plena Bienal, entre faixas pedindo que eu fosse preso, meu trabalho foi atacado por um pichador, que driblou a segurança, rasgou a tela de proteção aos bichos e danificou uma das esculturas de areia.

Fomos cercados, eu e minha mulher, por militantes ecologistas, que nos xingavam e gritavam do outro lado do vidro do carro, a boca em câmera lenta, "a-li-men-ta-e-les!" -o que, claro, já havia sido feito naquele mesmo dia. Barbara Gancia, colunista da Folha, chegou a pedir, utilizando um imaginário de repressão militar ou de milícia fascista, que eu fosse colocado de cuecas contra um muro e submetido a uma ducha com as mangueiras para incêndio do corpo de bombeiros.

Ingrid E. Newkirk, presidente da organização não governamental Peta [pessoas pelo tratamento ético de animais, na sigla em inglês], num artigo feroz, publicado na Folha em 8/10, encontra apenas o que pressupõe desde o início: que eu quero aparecer (ela, não? alguém duvida que um dos temas da polêmica é justamente a disputa pelo espaço na mídia?); que sou (os termos são dela) cruel, "bad boy", sem compaixão e produtor de arte de má qualidade. Como não há argumentos e o raciocínio é circular, tudo retorna à ilibada consciência da articulista.

A notícia atravessou fronteiras raras para questões envolvendo arte (horários insuspeitos em todos os canais de TV, cadernos de jornal pouco afeitos à cultura e nas mais diversas regiões do país), passando a assunto de bar e padaria. Os urubus, definitivamente, haviam conseguido escapar e, para usar os versos de Augusto dos Anjos, pousaram na minha sorte.

TOM
Frequento uma área da cultura afastada dessa luz radioativa, e não quero errar o tom. Começo este texto, portanto, fazendo a minha lição de casa: o que quer que tenha acontecido, aconteceu por meio das instituições. A licença do Ibama de Sergipe, que permitiu o transporte e a exposição dos animais, era legítima e dentro de parâmetros absolutamente legais, bem como sua cassação pelo Ibama de Brasília.

Tentamos, eu e a Fundação Bienal, que me apoiou de todos os modos possíveis em defesa do meu
trabalho, uma liminar na Justiça e perdemos. Acatamos e tiramos, no mesmo dia em que a decisão liminar saiu, as três aves. Sinto-me coibido, injustiçado e chocado com tudo isso, mas não posso dizer que fui censurado. E por entender que a forma que destruiu meu trabalho ao tirar as três aves é legítima, quero divergir completamente dela.

Como quase nenhuma informação sensata circulou, tenho primeiro que dizer o óbvio:

1) As aves que utilizei em meu trabalho são aves nascidas em cativeiro, e não sequestradas ao habitat natural; é para este cativeiro que voltaram (e onde estão neste momento), quando foram "soltas" do meu trabalho;

2) Pertencem ao Parque dos Falcões (criadouro conservacionista que funciona com autorização do Ibama, realizando atividades educacionais e pedagógicas, pelo Brasil inteiro, com aves de rapina), que as mantêm em exposição para o público, como num zoológico;

3) Estas mesmas três aves participaram em 2008 de uma versão bastante similar deste trabalho, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, durante dois meses, adaptando-se perfeitamente ao espaço e sem nada sofrer, com plano de manejo aprovado pelo mesmo Ibama;

4) As aves foram adaptadas ao espaço da Bienal antes do início da mostra, com a presença do veterinário responsável por elas e de um tratador;

5) Esse tratador, o mesmo que cuida delas em Sergipe, ficou permanentemente com elas durante todo o tempo de exibição das aves ao público, literalmente abrindo e fechando a mostra:

6) Eram alimentadas por ele todas as manhãs, em quantidade e frequência estipuladas pelo plano de manejo;

7) O volume das caixas de som foi controlado, sendo mantido numa altura bastante inferior ao do murmúrio do público, para evitar estresse aos bichos;

8) O plano de manejo das aves, aceito pelo Ibama de Sergipe, foi revogado, já no meio da polêmica, pelo Ibama de São Paulo -mas sem recomendação de cassação. O que o laudo técnico, sério e sisudo do Ibama de São Paulo solicitava eram ajustes -basicamente, que desligássemos uma das caixas de som e que instituíssemos banhos de luz ultravioleta todas as manhãs, para suprir a falta de luz solar direta sobre os bichos (embora a luz do dia banhasse o espaço). Oferecia, ainda, uma licença de 15 dias, a ser prorrogada de acordo com a avaliação periódica sobre o bem-estar dos animais. O Ibama de Brasília, que, sob pressão política e midiática, determinou arbitrariamente a saída das aves, em desacordo com o laudo do Ibama de São Paulo, travou o que parecia ser um processo rico de colaboração entre técnicos sérios, com conhecimento sobre os animais, e um trabalho de arte;

9) Obtivemos laudo favorável do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo;
10) Técnicos do setor de aves do Zoológico de São Paulo, em vistoria ao trabalho, não manifestaram qualquer crítica específica ao manejo das aves -fiquei sabendo nesta visita, inclusive, que a jaula dos urubus era bem maior que qualquer jaula do zoológico, inclusive a do condor.

EXPIAÇÃO
Por que, então, tanta confusão? Que é que está sendo expiado aqui?

Para começo de conversa, e como aproximação ao problema, quero lembrar que "Bandeira Branca" não é um trabalho de ecologia, nem eu sou especialista em aves de rapina, assim como "Guernica" de Picasso não é apenas um trabalho sobre a Guerra Civil Espanhola, nem Picasso um historiador. Por isso utilizei os serviços de uma entidade ecológica, o Parque dos Falcões, e obtive, tanto na montagem em Brasília, em 2008, quanto em São Paulo, autorização do órgão legal em meu país para esses assuntos.

Ou a lei não vale para todos? Tratar meu trabalho como crime e a mim como criminoso é fazer o que fazia a direita franquista, ao chamar "Guernica" de quadro comunista, ou a aristocracia francesa da segunda metade do século 19, quando ameaçava retalhar a "Olympia", de Manet, em nome dos bons costumes.

O que me foi negado com a criminalização do meu trabalho foi a possibilidade de um sentido -o sequestro, digamos, de qualquer sentido que ele pudesse propor. E é contra isso, mais do que contra a boataria e a calúnia, que escrevo hoje.

VALORES
Arte não cabe nos bons nem nos maus valores, por mais confiança que se tenha neles. Dela emana um signo aberto, para isso foi inventada, para que fanatismos como os que ouvi nessas últimas semanas não circunscrevam completamente o possível da vida. Claro que ninguém está acima da lei, e, repito, cumprimos, artista e instituição, rigorosamente a legislação ambiental brasileira -mas é a possibilidade de pensar diferente que está sendo criminalizada aqui.

Artistas extraordinários como Joseph Beuys (por sinal, fundador do Partido Verde na Alemanha), Jannis Kounellis, Hélio Oiticica, Nelson Felix, Tunga, Cildo Meireles, utilizaram animais em suas instalações.
Provavelmente o trabalho de Beuys que inclui um coiote ("I Love America and America Loves Me") seja, sem nenhum favor, uma das mais importantes obras de arte do século 20.

"Tropicália", de Hélio Oiticica, que tem araras vivas em seu interior (curiosamente, exposta há poucos meses, com as aves, no prédio do Itaú Cultural de São Paulo, na avenida Paulista, sem despertar qualquer polêmica), é um trabalho fundamental para a compreensão do que somos e do que queremos ser. Negar o que estes artistas conseguiram com seus trabalhos -uma oxigenação radical de nosso imaginário- tratando-os como criminosos certamente seria regredir a épocas de triste memória.

Posso entender quem seja contra bichos em cativeiro. Seria interessante exigir um pouco de coerência dessa posição -ou seja, vegetarianismo radical, já que a quase totalidade da carne que comemos vem de animais em cativeiro, fechamento de todos os zoológicos, jóqueis-clubes, fazendas com animais para monta e, ainda, requalificação geral de nossas relações com bichos domésticos. Mas, mais do que coerentes, gostaria que fossem suficientemente democratas para aceitar que nem todos pensem como eles, nem todos se deem o lugar de xamãs, em contato íntimo com os desejos e sensações dos animais, e que dentro das regras públicas legais de cada país o acesso a esses animais possa se dar sem histeria nem calúnias.

BANDEIRA BRANCA
Como nada ou quase nada se falou sobre o trabalho, peço licença para interpretar o que eu próprio fiz, partindo de uma breve descrição. "Bandeira Branca" (este título, no meio de um bombardeio desses, é dessas coisas que só a arte explica) foi montado pela primeira vez há dois anos, no CCBB de Brasília, e agora, ampliado e modificado, recebeu uma segunda versão, especialmente para a 29ª Bienal.

O trabalho consiste em três enormes esculturas de areia preta pilada, foscas e frágeis, a partir de cujo topo, feito de mármore, três caixas de som emitem, em intervalos discrepantes, as canções "Bandeira Branca" (de Max Nunes e Laércio Alves, interpretada por Arnaldo Antunes), "Boi da Cara Preta" (do folclore, por Dona Inah) e "Carcará" (de João do Vale e José Candido, por Mariana Aydar). Três urubus vivem na instalação durante toda a duração do trabalho.

O resultado é uma cena solene, entre a litania e a canção de ninar, que me parece ter cavado, em sua montagem em São Paulo, uma espécie de buraco negro no prédio da Bienal. Acho que o vão do prédio, uma das obras mais felizes de Niemeyer, com sua velocidade e otimismo, ganhou com meu trabalho um contraponto ambivalente, noturno e encantado, triste mas também próximo do mundo dos contos de fada.
Há uma espécie de espiral ascendente no trabalho, que se desmaterializa conforme o espectador sobe a rampa do prédio e as pesadas colunas de areia se transformam na geometria de quem vê as esculturas de cima. Feito primeiro de areia, depois de mármore, depois de vidro, depois de som, depois de voo, o trabalho faz em seu percurso o mesmo que as aves, num ciclo que a chuva de fezes brancas, caindo sobre as peças e sobre o chão, inicia novamente.

ANTIPENETRÁVEL
Mas o ponto crucial, acho eu, é que, apesar da monumentalidade do trabalho e da textura inacabada da areia, que solicitam o corpo do espectador, o público é mantido fora da obra, numa espécie de antipenetrável. A obra de certa forma já foi ocupada, já tem dono e por isso não podemos nos aproximar. A noite, as canções e os urubus são seus donos, e ao público resta assistir de fora a alguma coisa viva, que não precisa dele.

As canções e os bichos, forças ascensionais contra a inércia e o peso das esculturas, já tomaram conta da obra e a tela de proteção, que materializa o desenho do vão do prédio, marca essa passagem entre um exterior institucional e um interior ativo, fechado em si, mistura de cultura (canções), natureza (os urubus) e arquitetura.

As aves e as canções dão ao trabalho o seu agora, uma duração voltada para algo indiferente ao mundo lá fora. Daí que muita gente tenha me dito que se sentia observado pelas aves e não observador, dentro da grade e não fora dela. E que no meio de tanto tumulto, com certeza as três aves pareciam as únicas tranquilas.

Esta atividade interna autossuficiente está no coração deste trabalho e me acompanhou ao longo da balbúrdia destes dias difíceis. Fico feliz de perceber que de certa forma o trabalho já pressupunha isso, falava disso e defendia-se exatamente disso -queria estar consigo e não conosco, longe da barulheira que no entanto causava.

AUTOSSUFICIÊNCIA
Em vez da atividade do espectador, própria de tantas das melhores obras modernas, e que encontrou entre nós uma formulação extrema na ideia dos "Penetráveis" de Hélio Oiticica, a arte contemporânea parece estar se voltando para dentro, numa autossuficiência renitente.

Não é o lugar para desenvolver isto, mas, para dar dois exemplos memoráveis, acho que as "Elipses", de Richard Serra, apoiadas em si mesmas e não mais nas paredes das instituições, ou "O Ciclo Creamaster", de Matthew Barney, com suas infinitas dobras e relações internas, partilham esta característica. Meu trabalho acompanha de certa forma essa direção.

A institucionalização crescente da arte trouxe para junto dela uma pletora de discursos institucionais, todos perfeitamente centrados, seguros de si e disputando espaço na mídia e nas oportunidades orçamentárias.

Isso vem, talvez, do estilhaçamento das grandes noções universais que acompanharam a formação do mundo moderno: política, religião, burguesia, proletariado, luta de classes, direita, esquerda etc.

Com a quebra dessas noções universais, os particulares (ecologia, minorias étnicas, minorias sexuais etc.) firmaram-se, cheios de si, pontudos, zelosos de suas verdades. A arte talvez seja a última experiência universalizante, ou ao menos não simétrica à discursividade do mundo, e acho que tende a ser cada vez mais atacada, toda vez que discrepar, como soberba e como arbítrio. Mas penso que é isso mesmo que ela deve manter: sua soberba e seu arbítrio, para que possa continuar criando.

DESFAÇATEZ
Pois isso para mim foi o mais impressionante de tudo: a absoluta incapacidade, digamos, interpretativa de quem me atacou, a recusa de ver outra coisa, de relacionar o sentimento de adesão ou de repulsa que meu trabalho tenha causado com qualquer coisa proposta por ele, em suma, a desfaçatez com que foi usado como trampolim para um discurso já pronto, anterior a ele, que via nele apenas uma possibilidade de irradiação.

Para isso, é claro, o principal ingrediente é que fosse tomado de modo absolutamente opaco e literal, espécie de cadáver sem significação. Para que possa ser veículo estrito de discursos e de grupos, sem que utilize seus recursos, digamos, naturais (sedução, desejo, ambivalência), o trabalho de arte tem de estar, de fato, desde o início definitivamente morto. Daí, creio, a ferocidade com que fui atacado -uma espécie de operação higiênica preventiva, para impedir que qualquer germe de espanto, ambiguidade, beleza, estupor, pudesse aparecer, desqualificando o desejado consenso.

No fundo, acho que a frase famosa de Frank Stella, que jogou uma pá de cal nas ilusões subjetivas de começos dos anos 60 e inaugurou as poéticas minimalistas que duram até hoje, "What you see is what you see" ("O que você está vendo é o que você está vendo"), parece ter migrado da arte para o mundo. A literalidade das obras de um Carl Andre ou de um Donald Judd transferiu-se inteira para as instituições e para o público.

Por isso talvez caiba hoje à arte a tarefa bastante simples, mas tão difícil, de dizer exatamente o contrário: "O que você está vendo NÃO é o que você está vendo". Ou seja, sonhar. Ou, como diz a letra da canção, "Bandeira branca, amor".

Posted by Fábio Tremonte at 12:42 PM | Comentários(12)
Comments

...do jeito que a coisa está, num futuro não muito distante, apreenderão as gravuras de Goeldi...

Posted by: rafa guanaes at outubro 18, 2010 4:01 PM

A obra “BANDEIRA BRANCA” está morta, perdeu a vida, está na penumbra, a música parece não fazer mais sentido, um ruido. Penso que essa violência, “o sequestro” seja fruto da mídia descabida, essa que procura fazer “tempestade em copo de água”, fala coisa com coisa e não pede desculpas. O que ela escreve e mostra fica como a verdade primeira, que se estabelece como pressuposto para o caos. Assim, aquelas pessoas gritando e escrevendo palavras de ordem para o artista Nuno, não tem culpa, elas estão falando coisas que a mídia descabida reverbera, são papagaios...

Posted by: Roberto Silva at outubro 19, 2010 9:02 AM

Se é possível com urubus, seria também possível com outro ser vivo? Até que ponto?
Pode até ser defensável intelectualmente, mas o desafio maior para o artista seria conseguir o mesmo efeito sem envolver tortura e morte dos bichos.

Posted by: Suzana MAS at outubro 19, 2010 2:01 PM

Não houve tortura nem morte, Suzana MAS.

Posted by: SIlas at outubro 19, 2010 3:56 PM

Se não bastam as explicações desnecessárias de Nuno Ramos, é porque vivemos hoje em um mundo onde mentiras repetidas na mídia viram verdades místicas, que são irrefletidas e seguidas por milhares. Estes as multiplicam nos orkuts e facebooks da vida como se, de fato, tivessem algo a dizer, mas não tem - lembra - eram mentiras. Lilian-Curitiba

Posted by: Lilian Gassen at outubro 19, 2010 7:01 PM

quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Resposta ao artista Nuno Ramos.

Nuno Ramos, algumas considerações pertinentes ao seu texto, que alguns professores de arte-educação estão repassando via Web, sem dúvida nenhuma seu trabalho exposto na 29ªBienal de artes provoca reflexões e resolvi externá-las assim como você e vários cidadãos fizeram.
Primeiramente penso que seu trabalho não foi atacado por um pichador , e sim alguém (corajoso) rompeu a grade de “contenção” e protestou escrevendo com spray, o que sentiu sobre o seu trabalho.
Você, com sua justificativa,usou tantas palavras para, em suma, dizer: “- Pobres mortais! Não entendem a arte que faço!” aliás, esse pensamento é recorrente entre os artistas contemporâneos, entre os seus (pretensos) entendidos e seus representantes “marketeiros”.
A comparação que você fez de: Picasso com “Guernica” e a direita franquista, mais a “Olympia” de Manet e a aristocracia francesa, demonstra qual o patamar que você está querendo atingir. Mas, meu caro! Picasso, não precisou usar nem sangue humano, nem corpos reais trucidados para impactar as pessoas com a denuncia das atrocidades de uma Guerra civil. Nem Manet, usou uma modelo nua, no vernissage de sua “Olympia”. Aliás, os dois artistas mencionados usaram o que, a maioria dos artistas de hoje não conseguem usar e nem causar tamanho impacto, “tintas e telas”, sim, isso mesmo,a tão simples e esquecida técnica da “pintura”. Sem contar as dimensões desses trabalhos. Parece que os artistas contemporâneos crêem que quanto maior for o espaço para o seu trabalho, mais ele causará “barulho”. Isso, as obras de Picasso e Manet desmentem.
Se você abrisse mão de todos os seus pré-conceitos, talvez, conseguisse entender como os cidadãos estavam interagindo com o seu trabalho.
Por que você pode pensar diferente? e o cidadão que observa seu trabalho não pode???
“É da arte que emana um signo aberto para que fanatismos não circunscrevam completamente o possível da vida”, não foi essa reflexão que você propôs no seu texto? Pratique-a!
Em outro trecho, você externa seu desejo assim:
“...gostaria que fossem suficientemente democratas para aceitar que nem todos pensem como eles...”
Gostaria que fosse suficientemente democrata para aceitar que nem todos pensem como você, Nuno Ramos. (Parodiando seu raciocínio).

Dei aulas de desenho para uma meninada na favela de Heliópolis, e quando uma criança distraída derrubava no chão, sua folha de sulfite em branco, três outras crianças próximas, se atiravam sobre a folha para tomá-la para si, gritando: -“Perdeu, quem pegar é o dono!”.
Tamanha a carência de recursos, assim era o procedimento padrão: Brigavam por uma folha de sulfite, mesmo sabendo que aquela, tinha dono, e que haviam mais folhas.
Fico tentando calcular os custos desse seu trabalho exposto na Bienal, e penso o quanto um valor equivalente poderia servir, para atingir um número maior de crianças da periferia, e através da expressão artística delas, ajudá-las a se perceberem e se formarem cidadãos críticos.
Mas o que percebo nesse seu pensamento:
“Mas penso que é isso mesmo que ela (a arte) deve manter: sua soberba e seu arbítrio, para que possa continuar criando.”
É que essa “arte” ao qual você se refere, é a “arte”- brinquedo para poucos privilegiados (obterem verbas públicas) para continuarem criando.

Ainda você conclui:
“Daí, creio, a ferocidade com que fui atacado -uma espécie de operação higiênica preventiva, para impedir que qualquer germe de espanto, ambiguidade, beleza, estupor, pudesse aparecer, desqualificando o desejado consenso.”
Então!? Você achou o que procurava com seu trabalho, e não está aceitando. As pessoas que protestaram, interagiram, e te devolveram as sensações que você buscava oferecer a elas! Aceite-as!

“ O que você (Nuno Ramos) está vendo, NÃO é o que você esta vendo”

“Bandeira branca, amor!”

Posted by: manoel Plácido at outubro 21, 2010 3:23 PM

Montes levantaram bandeiras ambientalistas sem saber sequer do que se tratava, nem de onde vinham os animais.

Enquanto eles, os Urubus, sobrevoavam tranquilamente a CARNIÇA que esbravejava.

Posted by: Camila Valones at outubro 21, 2010 7:43 PM

Como arte-educador o Sr Manoel Plácido deveria tecer comentários mais inteligentes e não o desserviço a que ele se prestou. Que meda ! Pobres criançinhas...
Débora Guimarães

Posted by: Débora Guimarães at outubro 23, 2010 9:48 PM

E na próxima encarnação eu quero ser urubu ou papagaio de cativeiro, com tratador, veterinário, comida,revezamento p/ não stressar. É uma hipocrisia ! Nossas crianças, ao contrário destes animais, MORREM nas ruas, cheirando crack...E da minha infinita janela, não vejo nenhuma bandeira hasteada por elas...

Posted by: Débora Guimarães at outubro 23, 2010 9:59 PM

O grande "Artista" Nuno Ramos declara publica-mente que minha ação foi um ato atrasado, e que não somos cultos o suficiente para entender sua grande merda de obra de arte, nesse ponto eu concordo com ele, realmente não somos do mesmo mundo, os valores de nossas vidas são totalmente invertidos, isso é sinal que mesmo sem uma estrutura financeira minha família me deu uma boa criação.

Eu tenho orgulho de não compartilhar das mesmas opiniões que um burguês babaca e preconceituoso tem sobre a arte, não entendo como um “Artista” só faz obra sobre encomenda da Burguesia ou do Estado, onde esta a subversão do Artista? Eu não vejo obras do Nuno Ramos pela cidade, quem sabe se ele fizesse isso suas obras realmente teriam a intervenção de animais vivos, sem o lance do aprisionamento, quem sabe se a obra “Bandeira Branca” fosse feita às margens do rio Tiete não atrairia Urubus até mesmo Ratos e Baratas?

Esta sobrando vaidade e faltando criatividade para o grande Artista da elite paulistana.

Nuno Ramos também esta provando do mesmo dissabor que nos pixadores estamos acostumados a passar, a intervenção jurídica em nossa trajetória artística e política, Quem diria que os Artistas imaculados da elite paulistana também agem fora da lei, não adiantou comprar autorização fajuta do IBAMA de Sergipe, teve que tirar os Urubus e ponto kkkkkkkkkkkkkkkkk.

Posted by: CRIPTA DJAN IVSON at novembro 7, 2010 4:21 PM

Sobre "bandeira Branca" um post no blog Percevejo> http://percevejo.art.br/exposicao/bandeira-branca/

Posted by: percevejo at dezembro 12, 2010 10:13 PM

Eu nunca tinha ouvido falar do senhor até a polêmica história dos urubus... Desculpe minha ignorância já sanada. Como artista, advogada e ecologista, considero a escolha de seu tema como "mau gosto" e anti-ética. Mas gosto não é critério e por isso não se discute... Seu maior mérito foi o de conseguir na mídia o espaço que antes não tinha. O senhor sem dúvida pode ganhar a vida como publicitário, se conseguir um cliente com o mesmo perfil e se for capaz de aguentar os protestos e os processos. Boa sorte... Eu não me deslocaria de casa para ver sua obra. Ilka Passos, de Curitiba-PR

Posted by: Ilka Passos at outubro 12, 2011 9:42 AM
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