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Como atiçar a brasa

 


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agosto 14, 2009

Depois do que Suzana me contara por Ana Maria Maia

ANA MARIA MAIA
Especial para o Canal Contemporâneo

Semana a semana, acompanho aqui pelo Canal Contemporâneo o abre e fecha de eventos e exposições no Rio de Janeiro. Primeiro recebendo material de divulgação para a Agenda e os Enformes e depois lendo a imprensa local, que abastece, junto com a pequena parcela de veículos que pautam arte contemporânea no país, o blog Como atiçar a brasa. Vinha, à distância, admirando-me com o vigor dos espaços e da produção carioca recente, até que tive a oportunidade de ir à cidade e otimizar visitas em dois dias de estada.

Como já chegara de certa forma pautada por leituras prévias, resolvi assumir este relato de viagem como uma costura de textos, um pretenso diálogo com as considerações feitas por jornalistas como Suzana Velasco (O Globo), Monique Cardoso (Jornal do Brasil) e Camila Molina (O Estado de S. Paulo). Resolvi atiçar eu mesma esta brasa, já que, nas visitas que fiz, pude fertilizar pensamentos e memórias, agora em leituras vivas, in loco. Abaixo narro meu roteiro, midiático e físico, depois do que a imprensa me contara.

Iran do Espírito Santo na Artur Fidalgo
A Artur Fidalgo é aparentemente a galeria carioca que abre mais cedo. Eram 10h quando cheguei a En passant, quarta versão da obra cromática e ambiental de Iran do Espírito Santo. A instalação está na coleção de Inhotim e também já foi montada nas galerias do artista em São Paulo (Fortes Vilaça) e em Nova York (Sean Kelly). Na Artur Fidalgo, ela adequa às pequenas proporções do espaço seu degradê de 54 tons de cinza, entre o branco inicial e o preto final.

IranEspiritoSanto_EnPassant_FortesVilaça.gif

Em “Crítica ao mercado dentro de uma galeria”, publicada n´O Globo de 23 de julho, Suzana Velasco esclarece, citando entrevista com Iran: “para o artista, não se trata de uma briga com o mercado, mas um comentário sobre a contaminação da produção de arte pelas exigências de feiras e galerias”. Confesso que nunca tinha enxergado esse comentário naquele trabalho, apesar de considerar os limites que, a despeito da polidez objetual das demais obras do artista, impõe a qualquer intento expográfico e colecionista.

Estando numa galeria, tabelada e catalogada conforme todo o resto do acervo, a instalação de fato polariza suas atribuições institucionais e comerciais. De dentro desta célula de um ramificado sistema econômico-cultural, ela não só desafia a instituição a lidar com as simbioses da era dos patronatos público-privados, mas também desvela o incorporar de estratégias institucionais, como as curadorias e, neste caso, a exposição de artigos dificilmente vendáveis, pelo mercado.

Diante dessa contaminação mútua, diria, o campo de ação do artista e do crítico da cultura, como bem aponta Iran, parece mesmo estar nos cinzas.

Carlos Contente na Gentil Carioca
De cinzas é feita a Gentil Carioca, para onde segui para ver Compradores de mundo, de Carlos Contente. Galeria pensada por artistas –Ernesto Neto, Laura Lima e Márcio Botner-; fora da Zona Sul, vizinha ao Saara, no Centro, a Gentil articula produção e mercado recorrendo à problematização e à proposição de alternativas para o modelo tradicional de circuito de arte.

carlos contente1.jpg

Esta postura crítica e auto-referencial dá a tônica das pesquisas de alguns dos artistas de seu casting, como Ricardo Basbaum e o próprio Carlos Contente, que reúne nesta individual algumas de suas já conhecidas sátiras sobre a relação entre personagens tais quais o artista, o colecionador, o galerista.

Em narrativas autorais, Contente comenta episódios e sentimentos seus na qualidade de artista pertencente ao sistema. Seus desenhos, esculturas e objetos indicam o vínculo inicial com os quadrinhos e o grafite, mas agora tematizam a obediência às regras do universo formal da arte. “Apesar das constatações, Contente não adotou o tom de reclamação. Faz questão de frisar que não se vê, e que não vê o artista em geral, na condição de vítima. É uma peça no tabuleiro”, completa Monique Cardoso, em matéria de 10 de julho para o Jornal do Brasil.

Laura Lima na Laura Alvim
Em Nuvem,me deparo com um braço repousante, luminária a punho, sobre uma prateleira adaptada a uma parede. Era mais um “corpo” de Laura Lima, agora exposto na condição de parte. Seu claustro, junto aos de mais alguns corpos ali presentes, todos exercendo alguma função, aumentavam a sensação de arrepio naquele ambiente igualmente lúdico e soturno. Lúdico porque ativado para uma cooperação criativa com o público. Soturno porque não se sabe ao certo a origem e a duração desse trato de cooperação.

lauralima.jpg

Dentro da galeria, existem, além dos “corpos”, fotografias de um livro sobre art nouveau manipuladas digitalmente; esculturas de chocolate e bala de menta submetidas à ação da beira mar; e janelas abertas para o aviso negligente de “permitido fumar”. No fomento à fumaça e à cinza, a artista, naquele dia ali presente, fumando diante de uma tabacaria montada numa das salas, aponta para seu interesse pela escultura. “Existe uma oscilação na disposição das obras, relacionada à própria fumaça, que num momento é tão concreta, mas logo se dissipa”, diz, não a mim, mas a Suzana Velasco em “É permitido fumar e ter delírios na galeria surrealista de Laura Lima”, de 29 de julho.

Assim, não só as obras de Nuvem mas também o próprio espaço físico da Laura Alvim têm suas materialidades redefinidas por Laura Lima. Como nas fotografias em que salas e quartos do século XIX ganham elementos da intervenção da artista, a arte e a arquitetura aparecem, nesse caso, também como eventos a serem significados.

Gary Hill no Oi Futuro
Sobre materialidade, posso imaginar que também pensa Gary Hill. Ao menos, ao visitar a individual O Lugar sem tempo, até setembro em cartaz no Oi Futuro, no Rio, e a partir de janeiro de 2010 montada no MIS de São Paulo, penso que ele deve pensar. O consagrado artista americano parece criar em vídeo aberturas para o real. Viver na tela projetada o sentido corpóreo da presença.

GaryHill_UpAgainstDown1.jpg

As cinco videoinstalações que apresenta, feitas entre 1996 a 2008, são exemplos desse uso que faz da linguagem vídeo em substituição à experiência. Dentre elas, destacaria, no entanto, Up against down, em que o próprio Gary, em vídeo-performance, tensiona seu corpo contra cada uma das paredes do vão expositivo. Em entrevista a Camila Molina, do Estado de São Paulo, o videasta diz querer promover nesta e nas demais obras a interatividade, ou a “sanfonização do tempo”, como chama.

Com essa figura espacial, Gary me convence de que, mais do que narrar a ausência de linearidade do tempo própria às produções em vídeo, está atento aos efeitos que esta narrativa expandida impõe sobre a percepção do lugar de convívio entre os homens.

Atiçando a Brasa, por fim
Volto do Rio agora tendo dialogado, a minha maneira, não só com Suzana Velasco, Monique Carsoso e Camila Molina, mas também com Iran do Espírito Santo, Carlos Contente, Laura Lima e Gary Hill.

Parti da imprensa e volto para ela de modo a encerrar este percurso pensando nossas monologias, de escrita e de leitura. Se, por um lado, emitimos mensagens encerrados em nossos gabinetes de trabalho, por outro as recebemos também sozinhos e calados, desapercebidos da rede que nos une através de estratégias de comunicação pública como a imprensa e as comunidades digitais, vide este Canal Contemporâneo.

Minha experiência foi motivada pela vontade de repercutir falas de outros e exteriorizar os efeitos dos agendamentos que criaram sobre mim. A busca, o contato, as leituras in loco. O encerramento de um ciclo para abertura de outros possíveis, quem sabe, de volta a este blog.

Posted by Ana Maria Maia at 6:27 PM