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fevereiro 13, 2020
Canção Enigmática e a programação de fevereiro da Cinemateca do MAM, Rio de Janeiro
DOMINGO (16/02) | Canção Enigmática:
- No domingo (16/12), a Cinemateca promoverá sessões ligadas à mostra Canção Enigmática, em cartaz no MAM Rio, com curadoria do Chico Dub.
16h – Canção enigmática – ‘Wavelenght’, de Michael Snow. Estados Unidos e Canada, 1967. Experimental. 45’ + Brazil 84 de Phill Niblock. Estados Unidos e Canada, 1984. 77’. Exibições em Exibição em MP4 (H264). Classificação indicativa 12 anos.
18h15 – Canção enigmática – ‘Blight’, de John Smith. Reino Unido, 1966. Experimental. 16’. + A construção do som de José Carlos Asbeg. Brasil, 1980. Documentário. 28’ + Fiorucci made me hardcore de Mark Leckey. Reino Unido, 1999. 15’. + Abalo de Chiara Banfi. Brasil, 2019. 30’. Exibições em Exibição em MP4 (H264). Classificação indicativa 12 anos.
Mostra “O Mestre de Rimini” | curadoria José Quental:
As comemorações do centenário de nascimento de Federico Fellini seguem durante fevereiro, na Cinemateca do MAM Rio. Em complemento à exposição “O cérebro (e a caminhada) de Guido Anselmi”, apresentamos um pequeno e singular percurso pela filmografia de Fellini. Nesta retrospectiva, para além de obras incontornáveis de sua filmografia, destacamos alguns trabalhos em que Fellini foi roteirista e ator. Propomos algumas aproximações com outros cineastas que inspiram a obra felliniana – como Charles Chaplin – e/ou que se assemelham nas formas e metodologias de trabalho – como Alfred Hitchcock. Por último, buscamos apontar algumas pistas de como o cinema contemporâneo pode ter desenvolvido certas características marcantes do cinema felliniano, como a fantasia, a suspensão do real ou formas de trabalhar a memória. Dessa forma, oferecemos este sobrevoo à obra de um dos cineastas mais singulares do cinema mundial.
quinta (13/02):
14h30 – Fellini: eu sou um grande metiroso (Fellini: je suis um grand menteur), de Damian Pettigrew. França, Itália e Reino Unido, 2002. Documentário. 105’ Legendas em português. Exibição em MP4 (H264). Classificação indicativa livre.
16h – E la nave va, de Federico Fellini. Itália, 1983. Com Freddie Jones, Barbara Jefford e Victor Poletti. 127’. Legendas em português. Exibição em Blu-Ray. Classificação indicativa 16 anos.
18h30 – Um Corpo que Cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock. Estados Unidos, 1958. Com James Stewart e Kim Novak. 130’. Legendas em português. Exibição em Blu-Ray. Classificação indicativa 16 anos.
sexta (14/02) | último dia da mostra O Mestre de Rimini:
14h30 – Os Palhaços (Clowns), de Federico Fellini. Itália, França e Alemanha, 1970. 92’. Legendas em português. Exibição em Blu-Ray. Classificação indicativa. Livre.
16h – 2046: Os Segredos do Amor, de Wong Kar-wai. Hong Kong, China, França, Itália e Alemanha, 2006. Com Tony Chiu-Wai Leung, Ziyi Zhang e Faye Wong. 129’. Legendas em português. Exibição em MP4 (H264). Classificação indicativa 16 anos.
18h – 8 ½, de Federico Fellini. França e Itália, 1963. Com Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Claudia Cardinale. 140’. + Terry Giliam on Federico Fellini 8 1/2. Estados Unidos, 2001. Documentário. 8’. Legendas em português. Exibição em MP4 (H264). Classificação Indicativa: Livre
SÁBADO (15/02) | MOSTRA CARNAVAL (último dia):
15h – Lira do delírio, de Walter Lima Jr. Brasil, 1978. Com Anecy Rocha, Paulo César Pereio e Cláudio Marzo. 105’. Exibição em 35mm. Classificação indicativa 14 anos
17h – Amor carnaval e sonhos, de Paulo Cesar Saraceni. Brasil, 1972. Com Arduino Colassanti, Ana Maria Miranda, Leila Diniz, Hugo Carvana e Isabel Ribeiro. 80’. Exibição em MP4 (H264). Classificação indicativa 14 anos
Terça-feira (18/02) | pré-estreia do filme Rosa Vênus:
18h30 – Pré-estreia – Rosa Vênus, de Marcela Morê. Brasil, 2020. Documentário. 75’. Exibição em mov (H264). Classificação indicativa 12 anos. Site da diretora (https://www.marcelamore.com/)
Quarta e quinta (19 e 20/02) | sessões ligadas à Mostra Melhores Filmes do Ano
Em parceria com a Mostra Melhores Filmes do ano, organizada pela Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), a Cinemateca do MAM Rio apresenta filmes para celebrar a memória de duas importantes mulheres do cinema, que nos deixaram em 2019: a atriz Ruth de Souza (1921 – 2019) e a diretora Agnès Varda (1928-2019).
quarta (19/02)
18h30 – Mostra Melhores filmes do ano – Homenagens – 'Filhas do vento', de Joel Zito Araujo. Brasil, 2004. Com Ruth de Souza, Léa Garcia, Taís Araújo e Maria Ceiça. 85’. Exibição em 35mm. Classificação indicativa 14 anos.
quinta (20/02)
18h30 – Mostra Melhores filmes do ano – Homenagens – 'As Praias de Agnès', Les plages d`Agnes, de Agnès Varda. França, 2008. Documentário. 110’. Legendas em português. Exibição em 35mm. Classificação indicativa 14 anos
Local:
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Cinemateca MAM Rio
Auditório Cosme Alves Netto (entrada franca)
Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ
21-3883-5600
Domingo tem ensaio técnico da Imperadores do Samba com festa na Fundação Iberê, Porto Alegre
No próximo domingo, 16 de fevereiro de 2020, a bi-campeã Imperadores do Samba realiza um ensaio técnico ao pôr do sol do Guaíba. A concentração ocorre às 16h, na quadra da escola, e, às 17h, começa o desfile até a frente da Fundação Iberê, onde acontece o show de encerramento com a bateria completa. A expectativa da Imperadores é reunir 500 pessoas neste dia. A Avenida Padre Cacique, da quadra da agremiação até o centro cultural, estará fechada das 16h às 19h. A última entrada no estacionamento da Fundação será às 15h30.
Iberê na avenida
Iberê Camargo será o homenageado da Imperadores no carnaval 2020 de Porto Alegre, com o tema “Iberê das águas da arte, o homem que se fez rio". Os carros e alegorias serão inspirados nos traços do artista, com a paleta de cores transcendendo o vermelho e o branco - tradicionais da agremiação -, para transformar o Porto Seco em uma grande exposição de arte. O grande desfile da Vermelho e Branco será no dia 7 de março, às 3h, no Complexo Cultural Porto Seco.
Menos de 750 metros separam a Imperadores da Fundação Iberê. Por muito tempo elas foram classificadas como opostas: a cultura popular representada pelo samba, e a cultura erudita exposta no centro cultural. Hoje podem ser entendidas como complementares.
Ao se unirem na avenida, a escola e o centro cultural encontram uma forma de diminuir a distância social e metafórica entre ambas. Mais do que isso: ao transformar a vida e a obra do artista em samba enredo, a parceria revela os contrastes entre os dois contextos, ao mesmo tempo em que valoriza as diferentes linguagens artísticas e as considera como formas possíveis de manifestação de uma cidade multicultural e plural como Porto Alegre.
Em comum, Iberê e a Imperadores têm sua origem no povo. Apesar dele ter estudado em tradicionais escolas de arte no Brasil e na Europa, a vida cotidiana e as temáticas populares foram as principais inspirações na extensa obra do artista. Já a “escola do povo” se dedica a defender e difundir a cultura popular. Este inusitado encontro tem potência para integrar públicos distintos e ampliar o acesso cultural entre o popular e o erudito, do carnaval à exposição.
Exposições em cartaz até 8 de março de 2020, com entrada franca e classificação indicativa livre
Território Oscilante
Artista: José Bechara
Local: Átrio e 2º andar
Grupo de Bagé – Os Quatro
Artistas: Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti
Local: 3º e 4º andares
A Fundação Iberê tem o patrocínio de Itaú, Grupo GPS, Renner Herrmann S/A e Lojas Renner, OleoPlan, Banco Safra, e apoio de Ventos do Sul, BTG Pactual, Grendene, Unifertil, Nardoni Nasi, DLL Group, Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Tecnopuc, Plaza São Rafael e Sheraton Porto Alegre Hotel, com realização e financiamento da Secretaria Especial da Cultura - Ministério da Cidadania / Governo Federal. O Programa Educativo/ Iberê nas Escolas tem o patrocínio de CMPC – Celulose Riograndense e Dufrio, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS, Secretaria da Educação – Prefeitura de Porto Alegre, Secretaria de Educação – Prefeitura de Guaíba e Viação Ouro e Prata.
Endereço: Fundação Iberê Camargo - Avenida Padre Cacique 2000, Porto Alegre, RS
Visitação: De quarta a domingo, das 14h às 19h (último acesso às 18h30min)
A Fundação Iberê Camargo também atende a grupos agendados. Para fazer um agendamento, basta ligar para o Programa Educativo: 51-3247-8000
Maior exposição do Grupo de Bagé é realizada na Fundação Iberê, Porto Alegre
Grupo de Bagé - Os Quatro apresenta 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, além de ilustrações dos clubes de Gravura de Bagé e Porto Alegre, livros e exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor e Globo
Para fechar seu programa de exposições de 2019, a Fundação Iberê inaugura no dia 30 de novembro uma mostra para celebrar o grupo de artistas gaúchos que foi fundamental na popularização da arte no Brasil e exterior: Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bichachetti. “Grupo de Bagé - Os Quatro” vai ocupar dois andares da Fundação com 180 obras - 47 de Scliar, 54 de Danúbio, 35 de Glauco e 36 de Glênio -, ilustrações dos clubes de Gravura de Bagé e Porto Alegre, livros e exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor e Globo.
Esta é a maior exposição do Grupo de Bagé nos últimos 20 anos, que faz um apanhado de diversas fases da vida e obra dos artistas. A Fundação Iberê e as curadoras Carolina Grippa e Caroline Hädrich iniciaram em março deste ano uma ampla pesquisa de documentação, reportagens de jornais e de cartas e reuniram trabalhos oriundos de 24 instituições e acervos particulares de Bagé, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Porto Alegre), Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca de São Paulo, Museu Dom Diogo (Bagé) e Instituto Carlos Scliar (Cabo Frio, RJ) são alguns centros culturais que emprestaram obras, além de peças do espólio de Danúbio, Glênio e Glauco.
Ainda no dia 30, às 16h, o jornalista Roger Lerina vai conduzir a visita à exposição com dois convidados que conviveram com os artistas: o ator Sapiran Brito, que interpretou Leonel Brizola no filme Legalidade, do cineasta Zeca Brito, e o escritor Deny Bonorino, que, nas décadas de 40 e 50, fez parte do Grupo de Bagé. A música ficará por conta da violinista Clarissa Ferreira.
Juntos até o fim
Metade da década de 1940, longe do agito dos principais centros urbanos, os amigos Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti descobriram uma atividade diferente para passar o tempo nas férias de verão, em Bagé. Começaram ali seus exercícios de pintura e desenho e, a partir de 1948, junto com o já iniciado nas artes Danúbio Gonçalves, e outros curiosos, como Clóvis Chagas, Deny Bonorino e Julio Meirelles, passaram a aprofundar seus interesses nas técnicas e teorias clássicas.
Na cidade, ainda morava Pedro Wayne, escritor politicamente engajado que se correspondia com Erico Verissimo e Jorge Amado, além de ter relações com o pintor moderno José Moraes e, por conta disso, tornou-se o mentor intelectual daqueles tão interessados meninos. O círculo se fechou com a chegada de Carlos Scliar, que voltava de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, com uma recheada bagagem intelectual e contatos de artistas atuantes no conturbado cenário mundial.
O mais importante e profícuo contato de Scliar foi com Leopoldo Mendez, do Taller de Grafica Popular (TGP) do México, cujo trabalho influenciou o grupo de Bagé, especialmente na divulgação de causas políticas a favor da paz, da liberdade, dos direitos dos trabalhadores e da justa distribuição das riquezas. As técnicas de gravura, que facilitam a reprodução em grande escala, possibilitaram que as obras chegassem ao público de maneiras distintas: revista Horizonte e materiais publicitários e panfletos do Partido Comunista.
A produção do grupo também complementava a obra de Wayne, ilustrando as descrições das condições miseráveis nas quais viviam – e as humilhações a que eram submetidos – os trabalhadores da região, nas estâncias, charqueadas e nas minas de carvão.
Na década de 1950, foram criados o Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e o Clube de Gravura de Bagé (1951), os quais mais tarde se uniram e criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais, tomado como modelo até a atualidade. A participação nos clubes foi essencial para a consolidação da carreira dos quatro artistas, criando oportunidades que acabaram por separá-los.
Em 1956, com o encerramento das atividades dos clubes, cada um seguiu uma trajetória distinta, porém, sempre carregaram características de seus anos de formação, na produção de material gráfico e ilustrações para a Revista Senhor (Carlos Scliar e Glauco Rodrigues) e na constante volta aos temas regionais, em sua maior parte com um viés de crítica social.
E em 1976, os quatro artistas voltaram a produzir juntos em Bagé, em um encontro que resultou na criação do Museu da Gravura Brasileira e em obras que retomaram a temática regional, porém refletindo as mudanças e diferentes caminhos que cada um deles traçara após a separação.
Grupo de Bagé - Os Quatro
Abertura: 30 de novembro, sábado, 14h
Visitação: Até 8 de março de 2020
Local: 3º e 4º andares
Fundação Iberê Camargo
Avenida Padre Cacique 2000, Porto Alegre, RS
Entrada Franca
fevereiro 12, 2020
Shizue Sakamoto na Kogan Amaro, São Paulo
Com curadoria de Ana Carolina Ralston, Partitura em cores firma a entrada da paulista no núcleo de artistas da galeria
O universo criativo de Shizue Sakamoto transita entre o som e um profundo estudo sobre as cores. Ao identificar diferentes tonalidades e sons, o cérebro humano os transforma em sensações e ativa áreas que resguardam emoção, memória, movimento e atenção. Essa fusão impetuosa recebe o nome de sinestesia e é o que move a exposição Partitura em cores, em cartaz a partir de 15 de fevereiro, na Galeria Kogan Amaro.
A música e as artes plásticas sempre estiveram presentes na vida de Shizue. Nascida e crescida em São Paulo, estudou violino durante alguns anos, dos quais grande parte foi também habitado pela pintura. “Às vezes quando pinto, é como se eu estivesse tocando. O violino exige de nós gestos precisos, firmes, porém leves, assim como o ato de pintar", explica a artista.
Bem como no som, Shizue vê nas cores uma forma de expressar emoções e sensações puras, traço que aprimorou em um curso realizado em 2012 e 2014 com o artista Paulo Pasta. “O refinamento de sua obra fez com que ela retornasse à produção ao papel, suporte que lhe deu maior confiança para alcançar tons particulares. Nesse novo patamar, Shizue pôde voltar às telas, exibindo nuances nunca auferidas”, explica Ana Carolina Ralston, curadora da mostra.
A exposição reúne dez telas, oito delas ainda inéditas, em tons de rosa e azulados, orquestradas ao longo do mezanino da galeria. Todas nomeadas sem título, despertam no espectador a visão onírica das cores frias, mesmo que sua inspiração tenha vindo dos alaranjados de 12 Girassóis numa jarra (1888), de Van Gogh.
“O calor que reverbera da obra 12 Girassóis numa Jarra (1888), de Van Gogh, foi o gatilho para a produção desta exposição. Foram as milhares de horas olhando para uma reprodução da pintura que fizeram com que Shizue chegasse à cor precisa da única obra dela que vibra na mesma tonalidade da do mestre”, explica Ralston. “É possível viajar por túneis cromáticos que nos conecta a um universo espiritual de sensações. Harmonia almejada para visualizar e definir, enfim, as cores para compor essa partitura”, conclui.
Nascida em Andradina, no interior de São Paulo, Shizue Sakatomo é conhecida por sua pesquisa em pintura à óleo e seu trabalho de captação de luz. A artista, que teve sua primeira exposição individual, intitulada Dueto transcendental, na Galeria Deco, em 2011, participou também das exposições coletivas Grande Exposição de Artes da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), em 2010 e do 46° Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, cidade onde se encontram algumas de suas obras, no acervo da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, auroras e Galeria Tato.
Marcia Pastore na Kogan Amaro, São Paulo
Intitulada Arapuca, mostra reúne três poéticas que sugerem atos da artista para ocupação do espaço arquitetônico
Marcia Pastore investiga a convergência entre as artes plásticas e a arquitetura em sua trajetória. Ela enfatiza as relações poéticas da força e do espaço a partir da interação da matéria com um determinado local e, preenchendo o vazio, a artista evoca a corporalidade de materiais, cria mecanismos e questiona o equilíbrio em uma produção pensada em três atos. É o que ela exibe na exposição Arapuca, em cartaz a partir de 15 de fevereiro, na Galeria Kogan Amaro, com curadoria de Ricardo Resende.
"Não são esculturas como pedras esculpidas, são trabalhos de superfícies, de movimento, de articulações, das engrenagens, dos mecanismos, de organicidade controlada e das relações de corpos no espaço arquitetônico”, explica o curador. “As esculturas, se é que poderíamos chamá-las assim, simulam forças sobre si mesmas”, conclui.
A exposição é dividida em três líricos: memória do gesto, movimento e tensão. Em Arapuca (2020), obra que nomeia a exposição, Pastore tensiona redes de pesca através de cabos de aço, anzóis e lastro de pedra, criando uma arapuca espacial.
Em Experimento 1: bolas sobre gesso (2019), a ação sobre uma superfície de gesso é registrada numa série de sete fotografias que lembram paisagens cósmicas. As fotos foram feitas após a ação ter sido captada em vídeo. Serão mostradas duas imagens da série. Em Arrastão (2020), a junção de blocos grafite, carretilhas, cabo de aço, aço e abraçadeiras resulta numa máquina que imprime na parede, as marcas de sua movimentação.
“Nos trabalhos de Marcia Pastore, é a pessoa que observa quem faz o acesso à obra, revelando a sua natureza e exprimindo a si mesma. A obra mostra-se como modo de pensar”, finaliza Ricardo Resende.
Marcia Pastore nasceu em São Paulo, em 1964. A Pinacoteca de São Paulo mostra até 6 de abril, retrospectiva da obra da artista. Em 2019, a escultura Transposição inaugurou o novo espaço da Fundação Marcos Amaro dedicado a projetos de grande dimensão ao ar livre. Expôs por duas vezes no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (1993/2010) e no Centro Cultural Maria Antônia (2002/2010); uma vez no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas (2010), no Centro Cultural São Paulo [2000], no Museu de Arte Contemporânea da USP (1990), na Caixa Cultural de Fortaleza (2012), na Funarte de São Paulo (2012), na Biblioteca Mario de Andrade (2015) e no MuBE (2017). Integrou importantes exposições coletivas no Museu de Arte Contemporânea da USP (1992), no Museu de Arte Moderna de São Paulo [1990] e no Palácio das Artes (BH, 1990). Em 1998 e 2000, participou da Arco Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid, e em 2004 da inauguração do Vestfossen Kunst Laboratorium (Oslo, Noruega). Seus trabalhos estão nas principais coleções do país como na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Pinacoteca Municipal de São Paulo no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP).
Fábio Carvalho no MM Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
A exposição Parada II, do artista carioca Fábio Carvalho, é uma instalação com mais de 750 bandeirinhas de papel de seda com impressão de soldados portando fuzil, com asas de borboleta saindo das costas, que ocupará a área de exposições temporárias do Salão Principal do Memorial Municipal Getúlio Vargas, com curadoria de Shannon Botelho (ler texto curatorial). A impressão das bandeirinhas foi feita uma a uma, com o uso de carimbos de borracha produzidos à mão pelo próprio artista, a partir de um desenho original de sua autoria.
O uso da imagem da borboleta monarca (Danaus plexippus) em vários dos trabalhos de Fábio Carvalho vai muito além do fato de borboletas serem normalmente associadas ao universo feminino, frágil e delicado, que em oposição aos símbolos usualmente aceitos como masculinos, de força e virilidade, como os militares, formam a principal dialética da sua produção artística, que procura levantar uma discussão sobre estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir.
Seu uso surge ainda como um contraponto à camuflagem dos uniformes militares. As borboletas monarca são tóxicas, e por isso evitadas pelos predadores. Há outras espécies de borboleta não venenosas que mimetizam o padrão exuberante da monarca, que assim são também evitadas pelos predadores. Camuflagem e mimetismo são estratégias opostas de sobrevivência e proteção, que objetivam confundir e enganar, ao se fingir ser algo que não se é.
As linhas de bandeirinhas são dispostas perpendicularmente às duas paredes, em sequência ordenada, começando do alto, descendo suavemente a cada nova fileira, até ficarem na altura do chão ao final do corredor da galeria. Desta forma, até um certo ponto se poderá entrar na instalação, até que a massa de bandeirinhas te impeça de seguir.
Parada II é sobre ordem, a imposição de uma certa ordem, que padroniza, anula diferenças, ignora a diversidade, dita um ritmo, uma regra arbitrária de ocupação dos espaços, cartesiana, regular, mas que apesar de todo o esforço de padronização, de robotização dos corpos e mentes, a menor e mais singela interferência (a entrada de pessoas do público na exposição) já desestabiliza esta ordem rígida e monótona, insere movimento, poesia, beleza (através do movimento de ar gerado pelo deslocamento das pessoas no interior da instalação).
Pela primeira vez, desde que que os "Monarcas" surgiram em 2014, há algumas bandeirinhas vazias, em branco, em meio aos soldados alados. Seu significado, entretanto, o artista faz questão de manter em segredo - "eu acho muito mais interessante e rico que cada pessoa tente elaborar por si mesma o que seriam estes vazios, estas ausências", afirmou Fábio Carvalho.
Outro detalhe, mais sutil, é que de imediato vemos essa ordem/rigor, mas se olharmos de perto, de dentro, é uma aparência, uma fachada (precária); há defeitos, emendas, rasgos, amassados; a vida real, suja, orgânica, entrópica, sempre se impõem à ordem rígida e artificial, arbitrária, que para ser preservada exige trabalho, esforço, reforço, força (violência).
Fábio Carvalho, em atividade desde 1994, tem em seu curriculum 17 exposições individuais e mais de 150 coletivas, no Brasil e exterior. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil nos anos 1990, e fez exposições por quase todo o território nacional, e já integrou mostras na Alemanha, Argentina, Cuba, Espanha, Equador, EUA, Inglaterra, Itália, Portugal, República Checa, entre outros. Participou de 7 Residências Artísticas em Portugal e 4 no Brasil.
Caroline Valansi no Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
A artista mostra trabalhos de sua pesquisa sobre a iconografia da indústria do cinema pornô, com intervenções em cartazes históricos, cartografias, fotogramas, letreiros, LEDs e serigrafias
O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica inaugura no próximo dia 15 de fevereiro de 2020, às 12h, a exposição “Cine Desejo”, com obras da artista Caroline Valansi (1979, Rio de Janeiro) que investigam o universo iconográfico da indústria do cinema pornô e a relação do corpo feminino com o sexo. Com curadoria de Pollyana Quintella, a mostra ocupará todo o andar térreo da instituição localizada no Centro do Rio. Dentre as obras inéditas, estão algumas sendo criadas pela artista especialmente para a exposição. Alguns trabalhos emblemáticos desta pesquisa iniciada em 2015 também serão mostrados.
“Cine Desejo” é uma antologia do interesse de Caroline Valansi sobre os cinemas de rua que passaram a exibir filmes pornôs. A subjetividade construída pelas imagens do cinema, que moldaram a imaginação sexual de várias gerações, e ainda o desdobramento desse universo do ponto de vista feminino, integram também sua investigação. As obras reunidas são intervenções da artista em cartazes históricos, cartografias, fotografias, letreiros, LEDs, colagens e serigrafias.
“Cine Desejo” também discute o cinema como espaço de subversão, onde o “escurinho” é situação propícia para “namoricos e intimidades não autorizadas”. Com humor e ironia, a artista constrói espécies de contraimagens para o olhar masculino, também buscando “desierarquizar” o desejo a partir de uma perspectiva feminina e pós-pornô, onde as fronteiras estão esgarçadas.
Caroline Valansi tem obras em importantes coleções públicas e privadas, como a Biblioteca do Instituto Moreira Salles, em São Paulo; Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, Museu de Arte do Rio (MAR), Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; Museu Nacional de Brasília; Bienal de La Havana; Hillel Brasil, no Rio de Janeiro; Mr. and Mrs. Richard Sandor, Chicago, EUA; e Mr. and. Mrs. Simon Biddle, Londres.
OBRAS/PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
“Território VII – Mar-Atona/ Mar no Corpo”, da série “Territórios escondidos” (2020)
Objeto escultórico especialmente criado para a exposição, com dimensões e materiais variados, como lycra, espuma e linha, a partir da pergunta “o que é o desejo?”, que a artista fez a várias pessoas. Assim, ela elabora percursos “do/com/para o outro, buscando traçar caminhos de sua singularidade de maneira diagramática, com formas próximas à de uma visualidade infantil”. “Com as cartografias, percebemos que o corpo produz seu próprio léxico e repertório, ora compartilhado, ora particular. Somos obras de nós mesmos, exercitando alguma escrita de si”, explica Pollyana Quintella.
“Cinema Também é Templo” (2016-2020)
Nesta instalação com dimensões variadas, em LED, alumínio e madeira, a artista recria um letreiro de cinema, usando pela primeira vez a frase que dá nome à série, em referência a intervenções que fez em letreiros de cinema desativados no Rio de Janeiro – no Cinema Orly (Cinelândia), e no Cinema Tijuca Palace (Tijuca) – “chamando a atenção para o abandono desses espaços”. Dessa forma, ela “reforça o movimento de resistência, que deseja a reapropriação dos espaços públicos para convivência e encontros”.
“Ruínas”(2015-2020)
São dispostos sobre um tablado de madeira de 2 m x 3 m mais de 50 peças/objetos achados em cinemas fechados, como cartazes e filmes antigos, placas de sinalização e peças de projetor 35 mm.
“Sacanas” (2019)
Como um aviso luminoso de cinema, esta obra de 45 x 60 cm é composta por cartazes antigos, celofane, acetato holográfico, LED e madeira.
Carne Viva (2019)
Conjunto com nove imagens com impressão em papel fotográfico, de 70 x 50 cm cada, este trabalho é fruto de uma residência da artista no Taller Experimental de Grabado, em Havana,em 2019. A partir de uma colagem com papeis coloridos, que depois é digitalizada e recebe intervenções no computador, a imagem final traz palavras escritas sobre formas abstratas de forte contraste, que vão aos poucos revelando partes internas de um corpo.
Corpo Cinético (2018)
A série apresenta 11 colagens com 23,5 x 32,5 cm (cada)que aborda “a energia dos corpos em movimento”. “A imagem do corpo como massa com os cortes contínuos imprimindo velocidade. A força das intervenções que impulsionam a sensação de seqüência em movimento, o disforme, a não-imagem, cinema do olhar. O espectador dita o tempo, a forma final e o que se deseja deles”.
Tratado (2019)
Com 70 x 50 cm, este relevo seco em papel Canson 300g, com LED, a obra alerta: “A sexualidade deve ser tratada com atenção em tempos de grande estresse social”. “Sob muitos esgotamentos, nossos corpos têm respondido com teimosia ao endurecimento do presente. Teimosos são os corpos que não aguentam mais e continuam pra lá e pra cá, incessantes”.
Pornografia Política (2015)
Neste que é um de seus mais emblemáticos trabalhos, série composta por nove serigrafias, com 70 x 50 cm cada, a artista trabalha a partir de cartazes de filmes pornôs feitos a mão, na década de 1980, fazendo alusões à cena política brasileira. A realidade é tratada com humor, e “carrega a vontade de resistir, se despir, mudar uma ordem encravada, e naturalizada, dentro do espírito brasileiro”. “O trabalho quer quebrar a cultura da passividade do ‘sempre foi assim’, estimulando um posicionamento mais ativo, um gesto diferente em nossas próprias ações, que promovam mudanças reais em nossas posições cotidianas. A passividade e a atividade são vistas como jogos de forças que podem a todo momento mudar de lugar”, explica.
Sempre um Bom Filme (2015)
Originalmente uma publicação, esta é a primeira vez que são exibidas as 12 fotografias, de 42 x 60 cm cada, que compõem esta série, feitas a partir de um inventário de fotos de um velho projetor 35 milímetros e alguns dos fotogramas pornográficos que estiveram dentro dele. As fotos mostram mulheres tendo orgasmos, e são acompanhadas por legendas com os nomes técnicos das peças do projetor. Quanto mais se avança no percurso das fotografias, mais as descrições técnicas são misturadas às imagens eróticas, e as peças de metal são derretidas em corpos orgânicos e sensuais.
SOBRE A ARTISTA
Caroline Valansi (1979, Rio de Janeiro) é artista visual, professora e também trabalha com saúde mental na Casa Jangada (@casajangada). Graduada em Cinema na Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Artes e Filosofia pela PUC-Rio. Completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Ateliê da Imagem.
Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas em seu forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Caroline utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas da internet e suas próprias fotografias e desenhos e, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea.
Entre suas exposições individuais se destacam: “Corpo Cinético” (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019), “Carne Viva” ( Espaço Subsolo, Campinas, SP 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil, Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina.Tem duas publicações lançadas: Sempre um bom Filme e o álbum de figurinhas Boa Para ambos de 2015. Organizou os eventos {|}XANADONA{|} (2016, A Galeria Gentil Carioca) e Feminismo e Feijoada (2015, CAPACETE). Faz parte da Cooperativa de Mulheres Artistas (@cooperativademulheresartistas) e participou do coletivo OPAVIVARÁ! de 2007 a 2014. www.carolinevalansi.com.br
Ana Paula Oliveira no MAM, Rio de Janeiro
Ana Paula Oliveira, que pela primeira vez expõe no Rio, apresenta dois trabalhos inéditos criados especialmente para ocupar o Salão Monumental do MAM
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro abrirá, no próximo dia 15 de fevereiro de 2020, sábado, das 15h às 19h, a exposição “Poça/Possa”, de Ana Paula Oliveira, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Pensada especialmente para ocupar o Salão Monumental do museu, a individual exibirá dois trabalhos inéditos da mineira radicada em São Paulo, que pela primeira vez tem sua obra exposta no Rio.
Ao longo de pouco mais de duas décadas, a artista vem construindo uma produção interessada em discutir questões caras ao pensamento escultórico. Peso, estrutura, equilíbrio, massa, a relação com o espaço e com a arquitetura, além da presença física do espectador, são alguns dos princípios que norteiam o uso de materiais tão comuns quanto inusitados. Graxa, mármore, dormentes, pedras, vidro, chumbo, sacos plásticos, peixes, casulos e borboletas, placas de ferro, borracha e sabão compõem o repertório visual de Ana Paula.
“É a ação da artista que faz com que matérias tão díspares, que parecem não combinar, passem a conviver, mesmo que de maneira forçada, criando uma relação que oscila entre instabilidade e efemeridade”, comenta Fernanda Lopes, curadora assistente do MAM Rio.
No Salão Monumental, com quase oito metros de pé-direito, Ana Paula propõe o improvável: direcionar o olhar do espectador para o sentido contrário. A intervenção que dá nome à exposição se espalha pelo chão do museu, tomando posse do espaço e condicionando a movimentação por ele. Poça/Possa se estrutura a partir de quase 40 dormentes de madeira, desses usados como estacas improvisadas que escoram construções condenadas, prestes a ruir. Apoiados nas paredes e no chão, pressionam placas de vidro (de dois metros de comprimento), umas contra as outras, formando grandes poças de graxa. Materiais e ferramentas como borracha, sargentos, cunhas, argila e cabos de aço oferecem sustentação ao vidro diante da pressão de duas toneladas de material viscoso.
“Meu trabalho discute, entre outros aspectos, a relação com o espaço. Pensar uma intervenção para um local onde a arquitetura é tão presente, como no MAM Rio, foi um desafio em dobro. Projetei a obra para ocupar o chão, o que é surpreendente quando se tem escala monumental. Quero questionar o que nos sustenta, no tempo e no espaço. A possibilidade de criar leveza ou densidade, de explorar o cheio e o vazio são disparadores não excludentes que sempre me provocaram”, afirma Ana Paula que, com frequência, desenvolve sua linguagem a partir de referências cinematográficas.
O segundo trabalho, a escultura Subserviência, que completa a mostra, parte de um desenho de observação em nanquim de uma das palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Feito em escala natural, com 20 metros de extensão (o tamanho original da palmeira retratada), está fixado ao longo de um dos painéis expositivos, estruturado como um pergaminho.
A posição do desenho, exposto na horizontal, nos faz pensar em uma árvore tombada — o que não corresponde à realidade que pauta um desenho de observação: a palmeira se encontra verticalmente imponente no Jardim Botânico. Ainda pensando na lógica de documentação, causa estranhamento que o desenho revele apenas o que cabe no painel. O que sobra se desdobra para o espaço, quase como uma nova escultura de papel, escondendo o restante da imagem.
“Tanto o desenho quanto a instalação revelam uma ressonância específica com o espaço do museu. Se os arquitetos modernos tinham como um de seus princípios o uso de materiais simples em seu estado bruto, a intervenção proposta pela artista para esta grande caixa de concreto, vidro e aço, projetada por Affonso Reidy, também é motivada pelo interesse na matéria crua, que não ‘finge’ ser aquilo que não é. Dessa maneira, o trabalho de Ana Paula Oliveira parece ecoar no edifício do MAM Rio. E vice-versa”, observa Fernando Cocchiarale, curador do museu carioca.
Ao apresentar ao público um projeto desenvolvido especialmente para o museu, o MAM Rio reforça e renova sua vocação histórica, como uma das instituições culturais mais atuantes no Brasil, interessada no estímulo, mapeamento e difusão da arte brasileira contemporânea.
Abre Alas 16 na Gentil Carioca, Rio de Janeiro
Sábado, 15 de fevereiro às 19h, a galeria A Gentil Carioca tem o prazer de apresentar os artistas selecionados para o Abre Alas 16, que nesta edição contou com Keyna Eleison, Pablo Leon de La Barra e Yhuri Cruz na comissão de seleção e curadoria da exposição.
Na décima sexta edição do Abre Alas teremos: André Niemeyer, Andréa Hygino, Darks Miranda, Fátima Aguiar, Gilson Andrade, Juliana dos Santos, Leka Mendes, m. morani, max wíllà moraes, Mulambo, Nathalia Favaro, Reitchel Komch, Val Souza, Yan Copelli.
A Gentil Carioca preparou uma programação baphônica para celebrarmos a primeira exposição de 2020, paralelo ao Abre Alas 16, inauguramos a 35ª edição da Parede Gentil por Ana Linnemann e o lançaremos a Camisa Educação nº 86, de Marcos Abreu.
A trigésima quinta Parede Gentil traz A Porta na Parede, de Ana Linnemann, que nos coloca diante de uma parede intransitável, de grandes proporções, onde se insinua uma ambígua porta, disfuncional e perturbável. A artista, reapresenta o trabalho, considerando a situação política atual que a remete à uma parede impenetrável. “O Trabalho reapareceu resignificado e talvez tenha ganhado, pelo momento que vivemos, a vocação de um trabalho público. Ele pode ser percebido ou não, e esse fato é uma característica e um comentário”.
A octogésima sexta Camisa Educação de Marcos Abreu, estampa uma bandeira geométrica preta com a imagem do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Desde 2019, Marcos começou a realizar trabalhos com as camisas do Colégio Pedro II e do Cap Uerj. Desta forma, para o artista, a camisa é uma bandeira de militância política, ainda mais quando o tema é educação.
Ao longo da noite e madrugada a dentro, na rua, na encruzilhada, no nosso lugar de celebração e luta, vai ter música, instalação e performance com:
• Aula de lambada com Darks Miranda
A Aula de lambada estranha (2020) consiste em uma aula de lambada & intervenção artística & política ao ar livre no formato fantasia
• DJ Galo Preto
Dj, produtor e idealizador do projeto Rebola - festa performática carioca que propõe uma dialogia entre arte contemporânea e cultura afro-brasileira-iorubá. Seus sets são como um Afoxé Eletrônico narrando os mitos da cultura nagô do Brasil
• Orquestra Voadora
O bloco vai balançar a Encruzilhada Gentil com uma deliciosa mistura de samba, maracatu, côco, afrobeats e jazz. Essa parceria também celebra o lançamento do videoclipe da música Technocirco, produzido e filmado nos espaços da galeria.
Além das atrações imperdíveis, faremos o nosso famoso Concurso de Fantasias Gentil, com direito a desfile. Caprichem nas fantasias e não deixem de garantir o contatinho, pois o vencedor do concurso ganhará uma cortesia para uma noite e meia de amores no motel Meu Cantinho.
Abram alas que 2020 chega fervendo na A Gentil Carioca!
SOBRE ARTISTAS E OBRAS
André Niemeyer
André Niemeyer, carioca, nascido em 1969, vive em São Paulo. Artista multidisciplinar, estudou desenho industrial, design de moda e pintura. Viveu entre Londres, Paris e Nova Iorque de 1994 a 2011.
Perucas Lady, 2019
óleo sobre tela/ oil on canvas
80cm x 80cm
Sinopse
Seu trabalho mais recente faz referência ao ativismo LGBTQ+, imigração e política social, usando a sátira e o kitsch em suas telas: apropria-se da linguagem de propaganda, ou remete a uma foto de grupo em baile de carnaval ou de coletivos queer, usando a camuflagem como metáfora para indivíduos que tentam, por necessidade, passar despercebidos pela sociedade em reflexão à teoria de C.G. Jung, na qual criamos nossas máscaras para o mundo e ao mesmo tempo dissimulamos nossa verdadeira natureza. Atua como agente cultural organizando as exposições do Centro Cultural Casa da Luz desde 2017.
Andréa Hygino
Andréa Hygino é artista e arte-educadora. Bacharela em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UERJ e Mestra em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ. Sua pesquisa artística explora linguagens diversas: desenho, instalação, fotografia, performance, desenvolvendo interesse especial pela gravura. A artista frequentou os ateliês gráficos do Parque Lage e participa do projeto de extensão universitária Experiências Indiciais no ateliê de gravura da UERJ.
Das vezes que não foi à Lua, 2017-2019 (série/ series)
Frotagens sobre algodão cru / Frottage on cotton paper
Dimensões variáveis / Variable dimensions
Sinopse
A série Das vezes que não foi à Luaé parte de pesquisa iniciada em 2017 e que se desenvolve em estratégias arqueológicas. Quantas histórias inscritas, apagadas, soterradas, esquecidas e, sobretudo, sobreviventes já não foram encontradas por aquelxs que se põe a desvendar o solo? A investigação do chão como documento de memórias não contadas; coleta e inventário de fotografias e gravuras dessa superfície; enquanto reflexão sobre a forma como o arquivo é elaborado. Que interesses balizam o que deve integrar, ou não, o arquivo? O que deve ser lembrado? O que será apagado/esquecido? Quem tem direito à memória? Ou ainda, que tem direito sobre ela?
Darks Miranda
Autoficção e incorporação de forças obscuras e cômicas incontroláveis, Darks Miranda é uma entidade pastelão das trevas que equilibra frutas sobre a cabeça assombrada por suas antepassadas. Brota dos escombros mudos da modernidade, sem ginga, e desliza pelas camadas de lodo acumuladas no concreto através dos tempos. Em 2018 foi bolsista do programa de formação da EAV Parque Lage. Em 2019 teve sua primeira exposição individual, mulher desfruta, na Galeria Cândido Portinari.
Darks Miranda, Mulher desfruta, 2020
pôster de capa de revista fictícia /fictional magazine cover poster, 84 x 59,4 cm
Sinopse
Darks propõe mostrar versões de um imaginário brasileiro e gringo, feminino e drag, fetichista e frutífero, tristeza travestida de alegria e vice-versa. Com referência primeira na mulher fruta inaugural Carmen Miranda, Darks incursiona cultura de massa adentro, passando pelo imaginário já quase esquecido da lambada, pelas mulheres fruta dos anos dois mil e pelo flerte com a póspornografia e o animismo. Para isso, faz uso de diversas mídias e formatos, como vídeos, revistas, fotografias, lambe-lambe, performance, objetos e instalações. Os diferentes trabalhos se contaminam e completam, formando todos um universo próprio.
Fátima Aguiar
-22.938416, -43.248500
Asfaltitos, 2018
instalação com amostras antropomórficas coletadas em diferentes bairros /installation with anthropomorphic samples collected in different neighborhoods
dimensões variáveis / variable dimensions
Sinopse
Asfaltitos são amostras de rochas antropomórficas que cobrem grande parte da superfície terrestre e cujo valor e status são evidenciados nessa apresentação e catalogação. O valor agregado a cada amostra depende da quantidade de asfalto existente na cobertura do bairro em que se localiza, tornando uma amostra mais rara e cara do que outra. Os Asfaltitos são uma tentativa catalogação do presente e previsão de futuro.
Gilson Andrade
Gilson Andrade, Goiânia 1988. Vive e trabalha entre Goiânia e Rio de Janeiro. Artista visual e educador, mestrando em arte no Instituto de Arte da UERJ e aluno do Programa Formação e Deformação da EAV Parque Lage (2019).Tem especialização em Processos e Produtos Criativos realizada na FAV UFG (2016). É historiador pela Universidade Estadual de Goiás (2010).
Seus interesses estão relacionados à elaboração de programas sobre o processo criativo em arte e educação para instituições culturais. Investiga também o imaginário sobre o corpo negro e sua historicidadeem sua produção artística.As obras falam sobre histórias soterradas, escondidas ou que operam de forma subcutânea em nós; as obras falam de uma geografia que sempre atravessou sua pele conforme movia-se pelo mundo; as obras contam como transformamos água parada em água flutuante, mudando o estado do tempo; as obras fazem parte de um arquivo vivo que criam ficções para seu próprio passado; as obras carregam algo que não será visto.
Meridianos, 2019
ferro e couro / iron and leather
160 x 40 cm, cada uma das três partes/ each of the three parts
Juliana dos Santos
Juliana dos Santos, São Paulo, 1987. Artista visual e doutoranda em artes pelo Instituto de Artes da Unesp. Foi premiada em 3º lugarno 16ºSalão de Artes Visuais de Ubatuba e realizou uma exposição individual no Paço das Artes em 2019. Sua primeira individual foi em 2018 como artista/ docente convidada para residência artística na Academia de Belas Artes de Viena. Atualmente é artista residente no Instituto de Artes da Unesp.
Experiência Azul, 2017 -
pintura com flor de Clitoria Ternatea sobre papel algodão / painting with the Clitoria Ternatea flower on cotton paper
dimensões variáveis / variable dimensions
Foto de Hudson Rodrigues
Sinopse
Experiência Azul é um desdobramento da pesquisa Entre o Azul e que não me deixam/deixo esquecer,que vem sendo realizada desde 2017. Um processo de investigação sobre as possibilidades de abstração tendo a cor azul da flor da Clitoria Ternateacomo disparador de experiências sensíveis.Neste trabalho, a artista explora as possibilidades de tintura da flor num processo de aquarela orgânica.
Leka Mendes
Leka Mendes é graduada em Programação Visual na Faculdade de Belas Artes. Dentro do universo de suas pesquisas visuais, Leka está interessada na coleta de vestígios da cidade. Por isso, utiliza entulhos de caçambas, de restos de reformas, peças inteiras descartadas e detritos de variadas ordens produzidos pela construção civil em São Paulo. Com tais matérias-primas realiza trabalhos em diferentes linguagens que se unem com sua poética. Participou de diversas mostras coletivas e sua obra faz das seguintes coleções: Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil; The Fine Art Laboratory, FAL - Universidade de Arte de Musashino, Tokyo, Japão; MARGS, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS / Brasil; Fundacíon Luiz Seoane, La Coruña, Espanha; Museu de Artes de Britânia (MABRI), Britânia, Goiás.
Notas do Antropoceno (estandarte), 2018
detritos de construção carimbados sobre linho com acrílica /
160 x 100 cm
Sinopse
No trabalho Notas do antropoceno (estandarte), os escombros funcionam como suporte para transferir sua forma para um tecido. O fragmento é como uma imagem em si, transferindo para uma composição abstrata a memória de sua forma a fim de reivindicar a importância de cada uma daquelas partes que anteriormente compunham um todo. Visualmente, o resultado lembra a escrita rupestre ou simbólica e é inspirado nas nossas relações políticas, na falta de tolerância, de entendimento, de empatia e de comunicação.
m. morani
m. morani. Nascido em Nilópolis, BXD, RJ, 1997. Participa do Programa de Residência Internacional do Capacete (2019/2020). Graduado em História da Arte pela Escola de Belas Artes – UFRJ. Arte educador do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Pesquisador do núcleo de Filosofia Africana do Geru Maa/UFRJ. Participação em exposições coletivas no Paço Imperial, EAV - Parque Lage, Caixa Cultural Rio de Janeiro, Atelier Organi.co, entre outros.
o impossível, 2019
impressão digital em papel fotográfico/ digital print on photographic paper
297 x 420 mm (cada) - díptico / 297 x
Sinopse
a visualidade do projeto colonial: premissas agônicas que se desvelam em paisagens fragmentadas, possibilidades violentamente des -configuradas em discursos da distopia. trabalho de transmutação: da dupla consciência >> à simultânea presença. entender-se parte do mistério espiralar da vida, desdobrar-se no tempo entre passado e presente, evocar anseios, ir de encontro ao desejo que escapa à linguagem e se faz impossível por não se reconhecer no discurso de nenhum mestre; somente em si mesmo. traçar outras perspectivas aos pontos de fuga: o futuro. (meu corpo é cais, mar e embarcação.)
max wíllà morais
max wíllà morais (1993) é artista, pessoa pesquisadora, educadora e mestranda do PPGE/UFRJ (2019-2021), com graduação em Artes Visuais /UERJ (2012-2016). Seu trabalho investiga histórias em acervos, situações geográficas e relações materiais/imateriais com pessoas e objetos, sobretudo referindo-se a vida diaspórica, aos encontros estranhos e familiares.
da série Língua dourada / Língua dourada series, 2019
fotografia 35mm/ photography 35mm
10x15cm
Mulambo
Mulambo, 1995, nasceu João e cresceu entre as cidades de Saquarema e São Gonçalo.
Trabalha pensando nas forças que constroem o existir periférico no Rio de Janeiro através de materiais do cotidiano como papelão, tijolo e fotos de redes sociais. Assim, procura encurtar as distâncias porque, antes de ser artista, é neto, filho e padrinho e faz arte para afirmar que não tem museu no mundo como a casa da nossa vó.
São Sebastião do Rio de Janeiro, 2019
pintura sobre pneus / painting on tires
fotografia: João Alves / photography: João Alves
170 cm x 100 cm
Sinopse
Gengiva é uma arcada dentária feita de tijolos. Esse trabalho é sobre o que estrutura uma mordida e o que sustenta a sua força. Se alimentar é construir.
Nathalia Favaro
Nathalia Favaro vive e trabalha em São Paulo, Brasil. É formada em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie e pela Universidad de Buenos Aires, Argentina. Foi artista residente no EKWC - European Ceramic Workcentre na Holanda, em 2017, no Gaya Ceramics na Indonésia e no Labverde, no Brasil, em 2018. Seu trabalho transita entre a escultura, o desenho e o vídeo, com temas relacionados ao Antropoceno, ao deslocamento e ao território.
Intervalo, 2018-2019
vídeo, 4’ 12’’
Sinopse
Intervalo é um registro de uma ação de caminhar pela Reserva Florestal Adolfo Ducke, em Manaus, Amazonas, com uma folha de papel em branco nas mãos em busca da luz que entra por entre as árvores nas primeiras horas da manhã. O trabalho também propõe um olhar para o Antropoceno, a era onde o homem é o maior agente transformador da natureza.
Reitchl Komch
Reitchl Komch, artista visual. De tendência neoexpressionista, atua em suportes diversos — com foco em revisões de mitologias ancestrais enquanto dispositivos para visibilidade de grupos historicamente marginalizados. Fez oficinas na EAV-Parque Lage a partir de 2010 e a Escola Sem Sítio desde 2017. Em 2019, fez Acompanhamento & Diálogo para Artistas com Daniela Name. Realizou a mostra individual Dos Gestos e do Tempo: uma Intersecção dos Olhares no Espaço Correios (Niterói, 2019). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Trilhas para o Iroko (1), 2019
juta, meada, cabaça, ferro / jute, skein, gourd, iron
180 cm x 98 cm
[fotografia / photography: Roberto Bellonia]
Sinopse
Na tradição mitológica africana, o orixá Iroko é o tempo. Misterioso e libertário, agente do destino e dos desvios, ele se transfigura em um das quatro árvores sagradas para os povos iorubás: a milicia excelsa (correspondente no Brasil à gameleira). Mais visão do que revisionismo, antes longevidade e impermanência do que atemporalidade ou dogmatismo, suas pintura e esculturas cogitam desde emblemáticas narrativas da diáspora negra à paradoxais atualizações emocionais por resgate das origens.
Val Souza
Val Souza é uma artista cujo trabalho é desenvolvido predominantemente em performance. Vive entre São Paulo e Salvador.
Can you see it?!, 2018
fotografia [photography]
Série com 6 fotos
100 x 155 cm [39 3/8 x 61 1/8 in]
Sinopse
O que você enxerga ao ver uma mulher negra? É a provocação que a bailarina Val Souza convida ao colocar nas ruas o solo de dança can you see it?, com uma placa onde lê-se ‘piriguete R$ 2 reais’. A artista faz uma mixagem de discursos de direitos das mulheres em uma trilha que mistura ritmos das periferias brasileiras.
Ao passar pelas ruas com seu carrinho luminoso, a artista atua como um sound system ambulante, ou um baile ambulante, trazendo para próximo aquilo que a sociedade prefere esconder. Ao expor seu corpo e sua dança, questiona as lógicas de estereótipos de gênero calcados em modelos masculinos de poder.
Yan Copelli
Yan Copelli é um artista visual nascido no Rio de Janeiro. Vive e trabalha em São Paulo com pintura e escultura. É formado em Design Gráfico.Sua produção artística explora temas relacionados com a ontologia e a natureza dos objetos através de uma perspectiva queer e faz uma análise também do mercado de consumo, das relações de classe e de poder. Nascido em uma cidade de contrastes como o Rio de Janeiro, seu trabalho transfere as suas vivências para uma materialidade em estado de conflito: social, de uso, de permanência e de significado. Aí é onde a sua pesquisa acontece, com o intuito de entrar em sintonia com este universo ao subvertê-lo e dar-lhe novos significados. Realizou sua primeira exposição individual em 2018 e participou de diversas exposições coletivas no Brasil, Paris, Barcelona, Estados Unidos e Peru.
Desire Machine, 2019
focinheira de cachorro, ferro, vidro, espelho, plug anal e display led/ dog muzzle, iron, glass, mirror, anal plug and led display
68 x 20 x 54 cm
fevereiro 10, 2020
Dias & Riedweg na Vermelho, São Paulo
Na Sala Antonio de projeção, a Vermelho exibe Cabeça feita, de Dias & Riedweg. O filme foi comissionado por Roger Buergel para sua última grande exposição “Mundos Móveis - Museu do Nosso Presente Transcultural”, produzida pelo Museu Johann Jakobs de Zurique e pelo Museu de Artes e Ofícios (MKG) de Hamburgo, Alemanha, em colaboração com a Universidade de Viadrina (Frankfurt / Oder) e com a Universidade Johann Wolfgang Goethe (Frankfurt / Main). A exposição teve financiamento do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF). Dias & Riedweg já haviam trabalhado com Buergel na 12ª Documenta de Kassel, na Alemanha, em 2007.
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“Cabeça feita” revela imagens intimistas do trabalho diário de barbeiros em Hamburgo, Alemanha, acompanhadas por citações dos próprios retratados sobre suas vidas. A câmera mostra sua prática profissional, sua técnica e o local de trabalho de cada barbeiro. A totalidade desses barbeiros e boa parte da clientela é de origem estrangeira, notadamente dos mesmos países que originaram as recentes ondas de imigração de massa para a Alemanha e o resto da Europa central ocorridas no fim da década passada. São turcos, iraquianos, afegãos, paquistaneses, árabes e africanos que constituem hoje presença considerável na segunda maior cidade da Alemanha.
Dias & Riedweg se inspiraram em uma das peças da coleção do Museu de Artes e Ofícios de Hamburgo que mostra uma caixa do século XIX com bordados e tranças feitos com cabelo humano para pesquisar como a cultura ligada ao cabelo na região do museu se manifesta nos dias de hoje. Da mesma forma como o trançado de cabelos loiros da coleção do museu é um documento cultural da vida na região durante o século XIX, o vídeo de Dias & Riedweg inscreve-se como um documento da nova realidade multicultural da segunda maior cidade da Alemanha no início do século XXI.
At the Sala Antonio projection room, Vermelho presents Hair Work, a film by Dias & Riedweg. The work was commissioned by Roger Buergel for his latest exhibition Mobile Worlds - Museum of Our Transcultural Gift, produced by the Johann Jakobs Museum in Zurich and the Museum of Arts and Crafts (MKG) in Hamburg, Germany, in collaboration with the University Viadrina (Frankfurt / Oder) and the Johann Wolfgang Goethe University (Frankfurt / Main). The exhibition was funded by the Federal Ministry of Education and Research of Germany (BMBF). Dias & Riedweg had already worked with Buergel at the 12th Documenta in Kassel, Germany, in 2007.
"Head Work" reveals intimate images of the daily work of barbers in Hamburg, Germany, accompanied by quotes from them about their lives. The camera shows their professional practice, their technique and their workplace. All of these barbers and a large part of their clientele are of foreign origin, notably from the same countries that originated the recent waves of mass immigration to Germany and the rest of central Europe that occurred at the end of the past decade. They are Turks, Iraqis, Afghans, Pakistanis, Arabs and Africans who today constitute a considerable presence in Germany's second largest city.
Dias & Riedweg were inspired by one of the pieces in the collection of the Hamburg Museum of Arts and Crafts that shows a 19th century box with embroidery and braids made with human hair to research how the hair-related culture in the museum surroundings manifests itself in the present day. Just as the braided blond hair in the museum's collection is a cultural document of life in the region during the 19th century, the video by Dias & Riedweg is inscribed as a document of the new multicultural reality of Germany's second largest city in the beginning of the 21st century.
Motta & Lima na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta Memória coletiva, na Sala 4, instalação de Motta & Lima exibida pela primeira vez no Museu dos Futuros possíveis, em 2018.
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Na instalação de Motta & Lima, o visitante entra em um espaço azul onde há apenas um banquinho e um case com computador. Um recepcionista auxilia o visitante a sentar-se e a vestir um par de óculos VR – feito para a experiência de Realidade Virtual. Ao adentrar o território virtual, o visitante encontra-se na mesma sala. Ele, porém, deixa de ter corpo e torna-se apenas observação. Visitantes começam a entrar no espaço e a observar o visitante, inverte-se a lógica da exposição de arte.
A instalação “Memória coletiva”, foi elaborada por Motta & Lima para o Museu dos Futuros Possíveis, mostra organizada por Paulo Miyada durante a Olimpíada do Conhecimento, em Brasília, em 2018, e chega a São Paulo pela primeira vez. “O público perde seu lugar de espectador ou ativador da obra e assume ele mesmo o lugar da ‘coisa’ a ser vista, estudada, a partir daqueles olhares muito bem direcionados”, escreveu Miyada sobre a instalação.
In Room 4, Vermelho presents, the installation Collective memory by Motta & Lima that was exhibited for the first time at the Museum of Possible Futures, in 2018.
In the installation by Motta & Lima, the visitor enters a blue space where there is only a stool, a computer and a case. A receptionist assists the visitor to sit down and put on a pair of VR glasses - made for the Virtual Reality experience. When entering the virtual territory, the visitor is in the same room. However, he ceases to have a body and becomes just an observed point. Other visitants begin to enter the space and observe the visitor, the logic of the art exhibition is reversed.
The installation “Collective memory”, was created by Motta & Lima for the Museum of Possible Futures, an exhibition organized by Paulo Miyada during the Knowledge Olympics, in Brasília, in 2018, and arrives in São Paulo for the first time. “The public loses its place as a spectator or activator of the work and assumes the place of the ‘thing’ to be seen, studied, from those very well-directed looks,” wrote Miyada about the installation.
Cinthia Marcelle na Vermelho, São Paulo
Representada pela Vermelho desde 2007, Marcelle ocupa a galeria pela terceira vez com uma individual. A artista também já expos na Vermelho outras duas vezes com Tiago Mata Machado, seu parceiro frequente na produção de vídeos. Tendo os processos colaborativos como uma constante em sua carreira, dessa vez a artista expõe uma grande série de desenhos feitos em colaboração com Rodrigo Franco.
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Conhecida por suas grandes instalações, Marcelle reúne na mostra ‘Já visto’ trabalhos que exploram proporções mais intimistas, embora a montagem das obras sonde estratégias de esquadrinhamento e proporção típicas de sua produção. Na exposição, Marcelle investiga pontos de inversão entre trabalhos à primeira vista abstratos e figurativos.
Calendário (2020)
Em “Calendário”, Marcelle propõe uma contagem de tempo a partir de uma seleção de materiais - tecido, tinta, sarrafo e cadarço - e de alguns procedimentos. São 13 módulos com 6 camadas de tecido industrialmente estampado com 124 listras pretas sobre fundo branco. Cada módulo representa um mês do ano. O 13º módulo aponta para as relações de trabalho incutidas no fazer da obra, além de ampliar os sentidos de leitura possíveis sobre o trabalho.
As listras pretas são gradativamente cobertas por tinta branca em cada módulo. A mesma medida linear de listras cobertas é rebatida com o cadarço preto que cobre segmentos de sarrafos que se acumulam gradualmente junto a cada módulo. Cadarço e listras têm a mesma espessura.
O ato de obliteração do branco sobre o preto, e a transferência do preto para os sarrafos, estabelecem sistemas de hierarquização e mecanização que refletem o empenho de trabalho investido na construção das peças. Essa hierarquização, no entanto, fica submetida ao sentido de leitura do trabalho, num jogo de adição e subtração sem começo ou fim. O 13º módulo é matricial e não carrega nenhuma interferência.
Duas cenas ou elogio ao amor (2014 – 2020)
Cinthia Marcelle com Rodrigo Franco
“Duas cenas ou Elogio ao amor” é uma série de desenhos de observação feita por um casal a partir de casais desconhecidos em lugares públicos. A mesma cena é ilustrada duas vezes, de dois pontos de vista, evidenciando mudanças sutis nas situações. A particularidade dos traços e a linguagem de cada desenho, remete à construção de uma vida a dois por meio de suas diferenças de perspectivas e subjetividades.
Os desenhos foram feitos em São Paulo, na Bahia e em diferentes partes da África do Sul, e mapeiam o relacionamento dos artistas desde 2014. Cada desenho traz em si um carimbo que pontua o local dos retratos.
Os desenhos são feitos rapidamente, a fim de não perder o casal observado. Essa velocidade do traço às vezes evidencia mais a estrutura dos corpos do que os sujeitos em si. O sistema dos desenhos e a organização dos quadros também colaboram para destacar sua estrutura.
Déjà vu (2019)
Na série “Déjà vu”, Cinthia Marcelle trabalha com a memória do espectador a partir da ilusão de já ter visto algo, como aponta a expressão francesa que, em tradução livre, quer dizer ‘já visto’. A expressão, porém, além de lidar com a falsa impressão de já se ter vivido ou visto algo, também se refere à possibilidade de nos defrontarmos com uma cópia ou plágio de algo, como aponta sua variação ce qui manque d’originalité (que sofre de falta de originalidade).
Sobre prateleiras, pilhas de moedas e um copo de vidro se alternam em seus posicionamentos em cada uma das três partes do conjunto. Em uma das prateleiras, as moedas estão na frente do copo, em outra, moedas e copo ocupam o mesmo espaço e, na última prateleira, as moedas estão atrás do copo. Além disso, o conjunto de moedas e copo se alterna entre à esquerda, ao centro e à direita da prateleira, como se juntas pudessem ocupar a mesma prateleira. As prateleiras não devem ser vistas juntas. Desse modo, ao se deslocar pela exposição, o espectador pode ter a sensação de já tê-las visto. Questões relativas à originalidade ou aos meios de produção seriada na arte estão lançadas a partir desse jogo.
Verdade ou desafio [Truth or Dare] (2018)
Verdade ou Desafio parte de uma fotografia tirada por Cinthia durante uma viagem à África do Sul. O vídeo mostra um insólito triângulo encontrado incrustado na terra vermelha queimada do interior do país. A forma gira com velocidade variável, às vezes desacelerando, mas nunca parando. Assemelha-se a uma bússola desorientada cuja agulha nunca navega definitivamente em direção à ordem ou desordem. O vídeo foi construído a partir de um software que animou a fotografia, fazendo-a girar sobre seu eixo. Em determinado momento, uma sombra projeta-se sobre a imagem. A sombra é a da artista enquanto fotografa o triângulo, mas pode ser entendida como sendo a do espectador que passa a ser incluído no jogo evocado pelo título aonde o jogador tem que optar entre a verdade ou o desafio. O som do vídeo envolve as salas da exposição e estabelece a circularidade da montagem: da alteração das listras em contagem de tempo, do desenho de figura humana em estrutura e da novidade naquilo que já foi visto.
Marcelle acaba de encerrar uma individual no Wattis Institute, em São Francisco, EUA, onde a colaboração se dava de maneira ampliada, dependendo da participação do público para a ativação da instalação baseada na peça A Morta, de Oswald de Andrade.
Cinthia Marcelle segue em cartaz em Soft Power, maior exposição já apresentada pelo museu norte-americano SFMoMA (São Francisco - EUA), com organização de Eungie Joo. Além disso, a artista tem obras em exposições em cartaz no MAM RJ (Rio de Janeiro), na Fundação Joaquim Nabuco (Recife), na Penn State’s HUB-Robeson Gallery (Pensilvânia – EUA). Em março, Marcelle estará em cartaz na Fundação Merz, em Turim, em exposição curada por Claudia Gioia. Em novembro Cinthia Marcelle inaugurará uma grande individual no Museu MACBA, em Barcelona.
Represented by Vermelho since 2007, Marcelle occupies the gallery for the third time with an individual exhibition. The artist has also exhibited at Vermelho two other times alongside Tiago Mata Machado, her frequent partner in video production. With collaborative processes as a constant in her career, this time the artist exhibits a large series of drawings made in collaboration with Rodrigo Franco.
Recognized for her large-scale installations, Marcelle brings together in the show ‘Already Seen’ works that explore more intimate proportions, although the setup of the works involves charting and gauging strategies typical of her production. In the exhibition, Marcelle investigates points of inversion between works that are, at first glance, abstract or figurative.
Calendar (2020)
In "Calendar", Marcelle proposes a time count system based on a selection of materials - fabric, paint, batten and shoelace - and a few procedures. The work presents 13 modules with 6 layers of industrially printed fabric with 124 black stripes on white background. Each module represents a month of the year. The 13th module points to the work relationships instilled in the making of the work, in addition to expanding the possible meanings of reading about the work (there is reference to the work force law in Brazil which predicts a 13th salary in the end of the year).
The black stripes are gradually covered with white paint in each module. The same linear measurement of covered stripes is transferred to black shoelace that covers segments of battens that gradually accumulates next to each module. Shoelaces and stripes are the same thickness.
The act of obliterating the black with the white, and the transferring of the black to the battens, establishes systems of hierarchy and mechanization that reflect the work effort invested in the construction of the pieces. This hierarchy, however, is subject to the reading direction one chooses to see the work, in a game of addition and subtraction without beginning or end. The 13th module is a matrix and does not carry any interference.
Two scenes or praise of love (2014 - 2020).
“Two scenes or Praise of love” is a series of observation drawings made by a couple from unknown couples in public spaces. The same scene is illustrated twice, from two points of view, showing subtle changes in situations. The particularity of the features and the language of each drawing, refers to the construction of a life in a couple through their differences in perspectives and subjectivities.
The drawings were made in São Paulo, Bahia and in different parts of South Africa, and have mapped the artists' relationship since 2014. Each drawing bears a stamp that punctuates the location of the portraits.
Déjà vu (2019)
In the “Déjà vu” series, Cinthia Marcelle works with the viewer's memory based on the illusion of having already seen something, as the French expression points out – which, in free translation means 'already seen'. The expression, however, in addition to dealing with the false impression of having already lived or seen something, also refers to the possibility of facing a copy or plagiarism of something, as pointed out by its variation ce qui manque d'originalité (which suffers from lack of originality).
On shelves, piles of coins and a glass cups alternate in their positions in each of the three parts of the set. On one shelf, coins are in front of the glass, on another, coins and glass occupy the same space, and on the last shelf coins are behind the glass. In addition, the set of coins and cup alternates between the left, the center and the right of the shelf, as if together they could occupy the same shelf. The shelves must not be seen together. Like that, when moving through the exhibition, the viewer may have the feeling of having already seen them. Questions regarding originality or the means of serial production in art are raised from this game.
Verdade ou desafio [Truth or Dare] (2018)
Truth or Dare starts with a photograph taken by Cinthia Marcelle during a trip to South Africa. The video shows an unusual triangle found embedded in the burnt red earth of the interior of the country. The shape rotates with variable speed, sometimes slowing down, but never stopping. It resembles a disoriented compass whose needle never navigates definitively towards order or disorder. The video was built using a software that animated the photograph, making it rotate on its axis. At a certain moment, a shadow is projected on the image. The shadow is that of the artist while photographing the triangle, but it can be understood as that of the viewer who is included in the game evoked by the title where the player has to choose between the truth or the challenge. The sound of the video surrounds the exhibition rooms and establishes the circularity of the setup: the alteration of the stripes into time, the drawing of a human figure into structure and the novelty in what has already been seen.
Marcelle has just closed a solo exhibition at the Wattis Institute, in San Francisco, USA, where the collaboration took place in an expanded way, depending on the public's participation to activate the installation based on the play A Morta, by Oswald de Andrade.
Cinthia Marcelle is currently on view in Soft Power, the largest exhibition ever presented by North American museum SFMoMA (San Francisco - USA), organized by Eungie Joo. In addition, the artist has works on display at MAM RJ (Rio de Janeiro), at the Joaquim Nabuco Foundation (Recife) and at the Penn State’s HUB-Robeson Gallery (Pennsylvania - USA). In March, Marcelle will show at the Merz Foundation in Turin, in an exhibition curated by Claudia Gioia. In November, Cinthia Marcelle inaugurates a large solo exhibition at the Barcelona Museum of Contemporary Art [MACBA].
Coletiva Omissíssimo na Cavalo, Rio de Janeiro
No próximo dia 13 de fevereiro a galeria Cavalo tem o prazer de apresentar a coletiva ‘omissíssimo’, com os artistas Alan Sierra, Kamilla Langeland, Maria Antelman, Sjur Eide Aas e Tatiana Grinberg. A exposição reúne um conjunto de obras, em sua maior parte inéditas no Brasil, que se relacionam com enigmas, mitos e mistérios. Os trabalhos expostos utilizam-se de jogos de espelho, corpos híbridos, fendas, objetos flutuantes, luas, esferas translúcidas, amuletos e elementos naturais, construindo uma atmosfera sobrenatural.
Maior palíndromo da língua portuguesa, omissíssimo é um superlativo para o sujeito que omite, oculta, deixa de se manifestar. Uma palavra acidentalmente simétrica, pouco alterada de sua origem em latim e com sonoridade semelhante aos encantamentos de contos de fada (um feitiço de desaparecimento, provavelmente). O conceito de ocultação do sujeito é essencial em uma das obras centrais da exposição. Em Cortes, da artista carioca Tatiana Grinberg, orifícios atravessam uma chapa de aço que se estilhaça no piso da galeria. A forma das perfurações indicam serem causadas por extremidades de um corpo humano que não mais habita o objeto. Os fragmentos que pousam no chão atravessam a arquitetura do espaço assim com a chapa foi atravessada. Os objetos refletem o piso, paredes, os visitantes e outras obras.
Os vídeos soturnos de Maria Antelman, artista nascida em Atenas e residente em Nova Iorque, apontam para a ancestralidade dos mitos reimaginando-os em contextos contemporâneos. Com o título foneticamente simétrico, I/Eye (2018) é um vídeo de poucos frames. Uma cena onde dois olhos sempre abertos se encostam de forma anatomicamente impossível, exibida em modo cíclico. A artista condensa em um só signo a história de Narciso mas remete também à nossa atual cultura de constante autovigilância. Em sua vídeo instalação Sentimental Conversations, a artista exibe um diálogo intergeracional entre os bustos de sua mãe e seu filho com lábios e olhos respectivamente substituindo os mamilos.
Alan Sierra, jovem artista mexicano, apresenta uma série de desenhos com estética surrealista e traços precisos. Sua produção costuma ser influenciada por sonhos e exploram as possibilidades alegóricas em situações ordinárias. Unhas cortadas podem virar satélites, conchas abertas se tornam olhos falantes. São cômicos exercícios de representação do corpo e de objetos mundanos. Trabalhando também com a forma simbólica no cotidiano, os artistas noruegueses Kamilla Langeland e Sjur Eide Aas se apropriam de materiais achados em suas andanças em suas produções próprias e trabalhos em dupla. São instalações delicadas usando flores, plantas, utensílios de cozinha e insetos encontrados e modificados. Esferas em resina que se assemelham a bolas de cristais, e pinturas expandidas fazem parte das obras desses artistas.
Em tempos onde ideias obscurantistas assombram o campo sociopolítico, parece contraditório falar na importância da preservação do mistério. Mas uma ideia fundamental para as artes é de que nem tudo deve ser examinado à luz da ciência, e que há diferença entre conhecimento e informação. Um pensamento milenar que convida a um mergulho em superfícies auto reflexivas. Assim como um dos mais conhecidos aforismas de Delfos ‘Conheça a si mesmo’ pode, e deve segundo Sócrates, ser interpretado como ‘Olhe para si mesmo’.
Dani Tranchesi na Estação, São Paulo
O projeto desenvolvido por Dani Tranchesi, com acompanhamento de Diógenes Moura, resultou na exposição Lindo Sonho Delirante e no livro homônimo (Editora Martins Fontes). O escritor, que também assina a curadoria da mostra bem como o texto e a seleção de imagens da publicação, encontrou-se semanalmente com a artista ao longo de um ano.
Se para a sua primeira individual, realizada no ano passado na Galeria Estação, Tranchesi percorreu vários países, agora a sua lente concentra-se no Brasil, nas cidades de São Paulo, Belém e na Ilha do Marajó, em Salvaterra, Joanes, Soure e Cachoeira do Arari.
Segundo o curador, a mostra com cerca de 60 fotografias realizadas em 2018 e 2019 é formada em sua grande maioria por dípticos ou trípticos. “Busquei criar um roteiro em que as possibilidades narrativas entre as imagens ou de cada uma ficam por conta do olhar do espectador”, diz Moura. São fotos que ora miram a crueza de vidas e espaços de cidades metropolitanas, ora o onírico que guarda a Ilha de Marajó, onde ainda contemplar estrelas é um ato cotidiano.
“O semblante de uma cidade (São Paulo) é como um livro aberto, tão fatal como uma onda do mar, tão profundo com a angústia em um dia de domingo. Do lado de lá (Ilha do Marajó) os de dentro colocam o sofá nas portas das ruas para falar com os cometas, ter a certeza de que objetos voadores não identificados não dominarão os búfalos”, escreve Moura.
A fotógrafa paulistana, a partir de 2018, viajou várias vezes para a Ilha do Marajó. Em São Paulo seu núcleo de pesquisa se estabeleceu na região central da cidade. O interesse pelos outros e pelas diversas formas de viver, recorrente em sua produção, permanece expresso nas séries realizadas em Marajó e nas duas capitais. Fotografias de ambientes domésticos, detalhes de objetos, atmosferas de beleza e acolhimento contidas na resistência da simplicidade se contrapõem a destinos de homens e espaços urbanos abandonados na esteira do progresso.
Dani Tranchesi (1968, São Paulo) estudou Comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing e Fotografia na Escola Panamericana de Arte. Em sua produção autoral, a artista se dedica à diversidade de pessoas e culturas nos cerca de 70 países que percorreu.
Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Em 2019 foi semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura com O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos (Vento Leste Editora). Premiado no Brasil e exterior, foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado entre 1998 e 2013. Escreve sobre existência, imagem e abandono.