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fevereiro 24, 2017

Marcos Chaves na Nara Roesler NY, EUA

Para inaugurar seu novo espaço em Nova York, a Galeria Nara Roesler apresenta Marcos Chaves, uma seleção de 30 obras, incluindo fotografias, instalações e vídeos, abrangendo os 25 anos de carreira do artista.

[scroll down for English version]

O conjunto de trabalhos reunidos destaca o particular olhar andarilho de Chaves, que capta e constrói crônicas visuais, a partir de imagens encontradas nas cidades, especialmente no Rio de Janeiro, onde mora. Com um vocabulário fundado no humor e no acaso, o artista retira objetos banais, cenas e paisagens cotidianas do contexto lógico, para subverter ângulos estabelecidos e provocar diferentes narrativas. “Marcos Chaves surpreende significados e valores imersos nas coisas vulgares, dissimulados no hábito ou na convenção. Faz deslocamentos imprevisíveis e produz assemblages em tom de paródia, destilando aí a sua aguda observação sobre o mundo, da tecnologia ao lixo”, afirma a crítica brasileira Ligia Canongia.

Chaves usa o humor como catalisador de seu trabalho, recorrendo a registros visuais diversos para criticar a cegueira com que se veem as coisas corriqueiras sob a influência das convenções socioculturais. Para ele, o processo de criação de uma obra de arte pode consistir em retirar um objeto comum de seu ambiente funcional, combiná-lo com outros objetos, contextos ou referências e então apresentá-lo com legendas diferentes das que se esperaria para ele. “É incrível que depois de séculos de discussão não se consiga fazer uma distinção entre o riso e a seriedade sem colocá-los como oponentes. O humor, como intenção sincera, pode ser uma atitude política concisa, sem ser dogmática, bastante conseqüente”, comenta o artista.

No contexto urbano, Chaves flagra intervenções espontâneas populares, como as sinalizações de buracos em vias públicas, composta por insólitos objetos (série Buracos 1996/2014), ou captura delicadezas poéticas contidas em latas de tinta entornadas (Sem título 2012 / 2016), na sombra de um inseto sobre um muro (Dancing spider, 2016), ou na luminosidade colorida projetada sobre um piso comum de calçada (Sem título, 2012).

A abordagem irônica é sublinhada em imagens como na fotocomposição fálica de três arranha-céus (Sem título, 2016), no díptico que combina o crescimento improvável de uma copa de árvore e uma cadeira desprovida de função (série Santiago, 2012), na foto protagonizada por uma corda desgastada disposta em forma de clave de sol (Sem título 2016), ou no vídeo que sugere o trágico-cômico do sorriso (Laughing mask,2005)

“Evocando em seu trabalho o ambiente ruidoso do mundo, a Marcos Chaves interessa, sobretudo, a disponibilidade para ver o que é dado a todos – a vida ordinária – como se fora sempre e de novo a primeira vez”, afirma Moacir do Anjos.

Marcos Chaves (n. 1961 no Rio de Janeiro, Brasil) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira artística no início da década de 1980. Artista conceitual, Chaves trabalha com fotografia, vídeo, assemblage e instalações de grandes dimensões, transformando experiências cotidianas e materiais comumente ignorados em objetos artísticos. Com leveza e paródia, suas obras empregam o humor para ocultar uma sensibilidade trágica e poética. “O humor abre caminhos”, afirma. “Às vezes você ri de coisas que podem não ser tão engraçadas assim. O humor pode nos fazer parar para pensar”. Chaves sobrepõe textos a fotos, registra suas próprias intervenções em fotografia e vídeo e instala objetos não-artísticos preexistentes em contextos artísticos, numa abordagem que lembra Marcel Duchamp. Em Academia, criou uma academia ao ar livre, com cimento, tubos de ferro, madeira e barras, que moradores do Rio de Janeiro podiam usar para se exercitar. O título é um trocadilho com a centralidade do samba e das academias no cotidiano dos cariocas.


Opening its new venue in New York, Galeria Nara Roesler presents Marcos Chaves, a selection of 30 pieces including photographs, installations, and videos, spanning 25 years of the artist’s work.

The featured artworks highlight Chaves’ unique perspective as he captures and spins visual chronicles out of images found in cities, especially Rio de Janeiro, where he lives. With a vocabulary built on humor and chance, the artist draws commonplace objects, everyday scenes and landscapes out of their logical contexts to subvert established angles and provoke different narratives. “Marcos Chaves unearths the meanings and values that underlie mundane things, disguised by habit or convention. He carries out unpredictable displacements and produces parodic assemblages to convey his razor-sharp observation of the world, from technology to trash,” says Brazilian critic Ligia Canongia.

Humor is the catalyst for Chaves’ work; he relies on multiple visual registers to criticize the blindness with which run-of-the-mill things are seen when under the sway of social-cultural convention. For him, the process of creating an artwork can consist of picking an ordinary object out of its functional environment, combining it with other objects, contexts or references, and then exhibiting it with unexpected captions. “It’s astounding that despite centuries of debate, distinction between laughter and seriousness can only be made through opposition. Humor, as a sincere intention, can be a concise, undogmatic, rather consequential political attitude,” the artist ponders.

In the urban realm, Chaves depicts spontaneous popular interventions such as road hole signs built with off-the-cuff objects (Holes series, 1996/2014), or else he captures the exquisite poetry in tipper-over cans of paint (Untitled, 2012/2016), an insect’s shadow on a wall (Dancing spider, 2016), or the colorful luminance projected on ordinary sidewalk tiles (Untitled, 2012).

His ironic streak jumps out in images like the phallic photocomposition of three skyscrapers (Untitled, 2016), the diptych that couples the unlikely growth of the crown of a tree with a functionless chair (Santiago series, 2012), the photo of a worn-out rope laid out as a G clef (Untitled, 2016), or the video that implies the tragicomedy of a smile (Laughing mask,2005)

“Evoking a noise-ridden world in his work, Marcos Chaves is above all things interested in the willingness to see what’s given to everyone – ordinary life – as if it were the first time, over and again,” says Moacir dos Anjos

Posted by Patricia Canetti at 1:45 PM

Bruno Faria + Marcos Chaves na dotART, Belo Horizonte

Até o dia 3 de março, a dotART galeria apresenta o humor provocativo de Marcos Chaves, na exposição Crônicas, e o frescor de Bruno Faria, com a mostra Panorama El Viajero, ambas sob a curadoria de Wilson Lazaro.

Marcos Chaves, Crônicas
O carioca Marcos Chaves apresenta ao público mineiro um recorte de 20 anos de sua produção artística, entre 1996 e 2016, composto por fotografias e uma obra em vídeo. Trabalhando sobre os parâmetros da apropriação e da intervenção, sua obra é caracterizada pela utilização de diversas mídias, transitando livremente entre a produção de objetos, fotografias, vídeos, desenhos, palavras e sons. “Ele une a poesia, o ritmo e o humor na sua obra para criar”, comente o curador Wilson Lazaro.

O artista faz da palavra, do humor e da crônica fotográfica seus instrumentos para colocar em questão as incertezas, suas e coletivas, e desafiar as certezas do mundo. O uso do texto em seu trabalho abre diferentes significados, ampliando as possibilidades de leitura e percepção de situações, às vezes bastante simples e óbvias. “O texto pode propor leituras mais complexas, dobras, propiciando ao expectador acesso a outras possíveis interpretações do assunto em questão. Às vezes com a supressão de uma vírgula, um acento ortográfico ou mesmo a eliminação do espaço entre as palavras, procuro dar visibilidade a uma nova maneira de observar o que parecia ser o óbvio ou o clichê”, afirma Chaves.

Uma das obras mais conhecidas do artista, que trabalha justamente o texto e suas camadas de significados em diálogo com a fotografia, está presente na dotART galeria: “Eu só vendo a vista”, de 1998. “Nesta obra, a junção da frase ‘Eu só vendo a vista’ com a fotografia da Baía de Guanabara, principal cartão postal carioca, é uma síntese da cidade, sobre ser carioca, ser artista no Rio. Sobre o mercado, no caso o da arte e o imobiliário”, finaliza

Bruno Faria, Panorama El Viajero
O recifense Bruno Faria apresenta a exposição “Panorama El Viajero”, partindo de um deslocamento entre diferentes paisagens, colocando-se como um etnógrafo, um sujeito que procura conhecer e entender o mundo. A exposição tem como ponto central um olhar sobre suas distintas linguagens: desenho, colagem, pintura, escultura e arte sonora. “Partindo de contextos específicos, o trabalho do artista revela seu olhar crítico sobre o mundo em que vive”, destaca o curador.

Na obra de Bruno Faria há um frescor ao lado de certas lembranças e antigas memórias. Ao se utilizar de objetos encontrados carregados de memórias, ele se expressa por meio da ressignificação destes itens. “Acredito que uma boa obra de arte contemporânea seja um reflexo do presente, algo que traga frescor. Minhas obras podem ser vistas em diferentes linguagens, do tradicional desenho, uma instalação ou uma ação no espaço público. Para cada obra, a apresentação dela é pensada, sobretudo, em relação ao público que verá”, afirma o artista.

Posted by Patricia Canetti at 12:42 PM

fevereiro 20, 2017

Ibram abre chamada para parcerias nacionais durante a Semana de Museus 2017

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) abriu chamada para a realização de parcerias, sem repasse de recursos financeiros, com empresas públicas e privadas com foco na promoção e divulgação da 15ª Semana de Museus – programada para acontecer entre os dias 15 e 21 de maio de 2017.

Empresas de aviação civil do Brasil, de fabricação de artigos de vestuário, assim como empresas de telefonia móvel e de mídia indoor são de interesse para a formação de parcerias, com intuito de divulgação do evento junto a seus públicos por meio de produtos e serviços.

A contrapartida do Ibram será feita com a inclusão das logomarcas das empresas apoiadoras em todo o material de divulgação produzido para a Semana de Museus 2017, destinado a todos os museus brasileiros e instituições participantes da temporada nacional, assim como no Guia de Programação - disponibilizado digitalmente para o público brasileiro. Acesse a chamada de parcerias na íntegra.

As empresas interessadas devem entrar em contato com o Ibram, até o dia 24 de fevereiro, pelo telefone (61) 3521. 4112 ou pelo endereço eletrônico semana@museus.gov.br. Uma ou mais empresas poderão ser parceiras, de acordo com o escopo das ações de promoção e divulgação.

Atualmente, o Ibram tem mapeados cerca de 3,6 mil museus no Brasil. Em média, 1.260 instituições participam anualmente da Semana de Museus, que completa 15 anos em 2017.

As inscrições online de atividades para a 15ª Semana de Museus estão abertas até 3 de março. O tema para esta edição é Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus.

Posted by Patricia Canetti at 11:38 PM

Projeto Latitude apoia participação de 12 galerias brasileiras na feira ARCOmadrid 2017

Projeto Latitude apoia participação de 12 galerias brasileiras na feira de arte espanhola ARCOmadrid 2017

Por meio de uma parceria entre a ABACT - Associação Brasileira de Arte Contemporânea e a Apex-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, o Projeto Latitude – voltado à internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea – apoia a participação de doze galerias brasileiras na Espanha durante a realização da prestigiosa feira de arte Internacional ARCOmadrid 2017, que comemora seu 36o aniversário.

Considerada uma das mais importantes feiras de arte mundiais, a ARCOmadrid é um dos principais destinos das galerias brasileiras em solo europeu. Nesta edição, o país homenageado é a Argentina. Participam do Programa Geral galerias de 28 países, com 12 galerias brasileiras do Projeto Latitude: Anita Schwartz Galeria de Arte | Baró Galeria | Casa Triângulo | Dan Galeria | Galeria Jaqueline Martins | Galeria Leme | Luciana Brito Galeria | Galeria Marilia Razuk | Mendes Wood DM | Galeria Nara Roesler | Galeria Raquel Arnaud | Vermelho. O galerista brasileiro Eduardo Brandão (Vermelho) participa do Comitê de Representação de Galerias, ao lado de 9 outros galeristas internacionais.

No total, a feira apresenta 200 galerias, abarcando desde as vanguardas históricas, os clássicos contemporâneos e a arte contemporânea.

A feira ARCOmadrid 2017 acontece em Madrid entre 22 e 26 de fevereiro de 2017. O apoio à participação das galerias na Espanha é uma das ações integrantes do Projeto Latitude. No ano de 2016, foi registrado um aumento expressivo de 162% de vendas das galerias associadas à ABACT para o país.

As galerias participantes, seus estandes e artistas:

Anita Schwartz Arte Contemporânea (7D09) mostra obras dos artistas Jesper Dyrehaugue, Thomas Florschuetz e Otavio Schipper. [http://www.anitaschwartz.com.br]

Baró Galeria (9E10) exibe Norbert Bisky, Maria Nepomuceno e Túlio Pinto. [http://www.barogaleria.com]

Casa Triângulo (9D12 e 9B15) exibe os artistas Albano Afonso, Eduardo Berliner, Nino Cais, Sandra Cinto, Max Gómez Canle, Alex Cerveny, Ivan Grilo e Guillermo Mora. [http:///www.casatriangulo.com]

Dan Galeria (7A05) exibe Alberto Menocal, Hércules Barsotti, Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi, Sérgio Fingermann, Wilfredo Arcay e Willys de Castro. [http://www.dangaleria.com.br]

Galeria Jaqueline Martins (9G04) exibe trabalhos de Goran Petercol e Daniel de Paula. [http://www.galeriajaquelinemartins.com.br]

Galeria Leme (9E03) leva à feira os artistas David Batchelor, Ana Elisa Egreja, Antonio Malta Campos e Marcia de Moraes. [http://galerialeme.com].

Luciana Brito Galeria (7D07) exibe obras de Caio Reisewitz, Geraldo de Barros, Héctor Zamora, Rafael Carneiro, Thomaz Farkas, Thiago Tebet, Waldemar Cordeiro e Regina Silveira. [http://www.lucianabritogaleria.com.br]. O artista Leandro Erlich, representado pela galeria, expõe trabalhos na mostra individual “Certezas Efímeras” na Fundação Telefonica de Madri, de 23 de março a 23 de abril.

Galeria Marilia Razuk (7C04) exibe os artistas Marlon de Azambuja, Mabe Bethônico, Maria Laet e Johana Calle. [http://www.galeriamariliarazuk.com.br]. Johana expõe no espaço Boadilla del Monte a individual “Punto de Partida”.

Mendes Wood DM (9B10) exibe trabalhos de Anna Bella Geiger, Adriano Costa, Daniel Steegmann Mangrané, Celso Renato, Cibelle Cavalli Bastos, f.marquespenteado, Letícia Ramos, Michael Dean, Patricia Leite, Paulo Nazareth, Solange Pessoa e Thiago Martins de Melo. [http://www.mendeswooddm.com/]

Galeria Nara Roesler (7A02) exibe trabalhos dos artistas Eduardo Navarro e Julio Le Parc. [http://www.nararoesler.com.br]. Na seção curada Galería, são exibidos Julio Le Parc e, novamente, Eduardo Navarro que ainda participa da coletiva “En el ejercício de las cosas” na Casa de Américas.

Galeria Raquel Arnaud (9E15) exibe Waltércio Caldas, Willys de Castro, Carlos Cruz-Diez, Iole de Freiras e Arthur Luiz Piza. [http://www.raquelarnaud.com]

A galeria Vermelho (9D07) leva à feira trabalhos dos artistas André Komatsu, Carla Zaccagnini, Cinthia Marcelle, Iván Argote e Nicolás Robbio. [http://www.galeriavermelho.com.br]. A instituição madrilenha La Casa Encendida exibe a individual de Nicolás Robbio intitulada “Ejercícios de Resistencia” de 17 de fevereiro a 23 de abril.

Posted by Patricia Canetti at 10:48 PM

Cromofilia vs Cromofobia: continuação na Nara Roesler, Rio de Janeiro

Continuando sua investigação da cor e essa hipotética batalha entre a tabela cromática e o círculo cromático, a diretora artística da Galeria Nara Roesler, Alexandra Garcia Waldman, apresenta a segunda parte da exposição coletiva Cromofilia vs Cromofobia: Continuação, agora na sede carioca. A mostra, cuja primeira parte passou por São Paulo, inclui 23 obras dos artistas Abraham Palatnik, Angelo Venosa, Antonio Dias, Artur Lescher, Bruno Dunley, Carlito Carvalhosa, Daniel Buren, Eduardo Coimbra, Hélio Oiticica, José Patrício, Karin Lambrecht, Laura Vinci, Marcelo Silveira, Marco Maggi, Melanie Smith, Milton Machado, Rodolpho Parigi, Sergio Sister, Tomie Ohtake, Vik Muniz e Virgínia de Medeiros.

Tomando como base teórica o ensaio Chromophilia, do livro Chromophobia, de David Batchelors, a exposição apresenta artistas contemporâneos que brincam, destroem e se deleitam com a tensão entre o uso das cores industriais pós-1960 e o advento da tabela cromática. Batchelor descreve a tabela cromática, como uma lista descartável de cores prontas. “Cada tira de papel é uma pintura abstrata perfeita em miniatura, ou um exemplo compacto de serialismo cromático, ou uma página de um vasto catálogo raisonné de monocromos”. A tabela conferiu aos artistas liberdade e autonomia na utilização das cores, algo inimaginável dentro da rígida estrutura estabelecida anteriormente pelo círculo cromático. Nas palavras de Batchelor: “o círculo cromático estabelece relações entre cores e implica uma hierarquia quase feudal entre elas – primárias, secundárias e terciárias, puras e não tão puras”.

Os artistas da exposição brindam os visitantes com o espectro completo do drama cromático. Daniel Buren rejeitou a ideia de que a eliminação da cor produziria uma forma mais pura de arte; ao contrário, a cor para ele é essencial e não pode ser substituída por palavras ou ações.

Rodolpho Parigi, com cores explosivas tece formas geométricas planas, em composições que evocam paisagens urbanas semi-abstratas e fragmentadas. Já Vik Muniz, cuja obra se relaciona à percepção e à representação de imagens do mundo, desta vez explora a força da cor sozinha, a partir de uma pintura monocromática do consagrado artista Yves Klein.

Enquanto Eduardo Coimbra e Marco Maggi constroem com a cor particulares geometrias, Artur Lescher a introduz como elemento em sua escultura formal. De outro lado, Sérgio Sister e Bruno Dunley recontextualizam ideias clássicas relativas à tela no sentido de janela, investigando a intrincada relação entre as cores quando estas interagem com o espaço e o ar.

Entre os trabalhos bidimensionais, ainda, as obras de José Patrício e Marcelo Silveira tangenciam a arte cinética ao criar com a cor e material certa ilusão ao olhar e as pinturas de Karin Lambrecht definem paisagens por uma monocromia vibrante. Diferentemente de Carlito Carvalhosa, cujo desenho orgânico contrasta com a aplicação de um único tom pálido e dos suaves tons do desenho de Antonio Dias. Por sua vez, Angelo Venosa introduz a cor em suas estruturas que investigam o interior dos corpos.

Os artistas na exposição desafiam os espectadores a experimentar a cor. Eles materializaram as cores para alcançar a liberdade de experimentação, deixando para trás a rigidez do círculo cromático.

Posted by Patricia Canetti at 10:19 PM

Miniaturas, maquetes, vodu e outras projeções políticas na Blau Projects, São Paulo

A Blau Projects apresenta, de 28 de janeiro a 25 de fevereiro a exposição Miniaturas, maquetes, vodu e outras projeções políticas, com curadoria de Claudia Ponga. A exposição foi selecionada pelo #03 C.LAB Mercosul, edital voltado a jovens curadores que está na terceira edição, promovido pela Blau Projects. O C.LAB faz um intercâmbio entre artistas, instituições, galerias e curadores por meio de exposições e residências que reforçam o papel da galeria de incubadora e difusora da arte contemporânea. Os artistas apresentados na exposição são Débora Bolsoni, Gabriel Rossel, Jaime Lauriano, Martín Carrizo, Mônica Giron e Renato Maretti, que expõem oito obras, algumas delas inéditas.

O objetivo da exposição é tornar evidente o poder mágico/político do modelo em miniatura, criando um diálogo entre obras que abordam problemas que o Brasil divide com seus vizinhos, inclusive com o México, que poderia ser considerado o polo “latino-americano” mais afastado do Brasil, tanto geográfica quanto culturalmente. Por um lado, a exposição traz obras em miniatura, e outras que são uma alegoria aos ex-votos (termo que designa obras de arte criadas para serem doadas às divindades como forma de agradecimento a pedidos atendidos).

“Quando acontece uma redução de escala, é possível controlar melhor o resultado e produzir uma série de impactos”, conta a curadora Claudia Ponga. “Com a miniaturização, o entendimento é micro, mas é dessa forma que atingimos o macro também de forma política”, afirma.

A inspiração para o tema, segundo Claudia, veio do antropólogo belga Claude Lévi-Strauss. Para ele, a miniaturização é uma característica essencial da arte, por tornar o mundo inteligível sem necessidade de dividi-lo em partes. Além disso, a maquete, que é uma das formas de miniaturização, é sempre “man-made” (feita pelo homem), construída, por isso “constitui uma verdadeira experiência sobre o objeto”, segundo Strauss. “E as obras pequenas têm aparência de brinquedo, podem parecer inofensivas, mas têm uma espécie de veneno dentro delas”, conta Claudia.

Outra influência para Ponga é a obra de Arthur Bispo do Rosário. A curadora visitou seu museu, no Rio de Janeiro, onde encontrou modelos miniaturizados de toda a sorte de materiais: galinheiros, cercas, cavalariças. “Bispo tinha recebido a missão, divina, de reconstruir o mundo para mostrá-lo a Deus no Juízo Final”, conta Claudia. “O interessante da obra dele é que ele não estava oferecendo pedaços de si, como uma parte de seu corpo, mas a forma do seu raciocínio que precisava ser analisado e pensado para ser reparado”, afirma a curadora. A miniaturização do Bispo do Rosário foi de extrema importância para a curadora chancelar seu pensamento sobre a importância de se reduzir a escala para se abranger o mundo.

Já os ex-votos, mais tradicionais em países de fé católica, são imagens votivas que, segundo o filósofo francês Didi-Huberman, caracterizam-se por ignorar “a ruptura entre o paganismo e o cristianismo”. São geralmente feitos de materiais fáceis de serem modelados, e têm forma de desejo, de reza e são sempre “objetos aos que o donante está unido, e objetos que lhe unem com algo”, segundo Huberman.

As obras
“Genocídio”, do brasileiro Jaime Lauriano, mostra uma série de santos católicos dispostos em miniatura, e questionam a relação de devoção dos fiéis. “São figuras de opressão, e tem por trás o peso de toda a colonização de séculos”, conta a curadora. Nessa mesma linha, “Catedral de Açúcar”, do mexicano Gabriel Rossel, é uma catedral em miniatura criada em açúcar. Essa obra é uma referência a uma matança de índios feita dentro de uma catedral no México, onde os indígenas buscaram abrigo e acabaram sendo queimados, mesmo dentro do local considerado sagrado. No México, o açúcar é um elemento muito utilizado no Dia dos Mortos, com caveiras coloridas feitas de açúcar.

A brasileira Débora Bolsoni apresenta duas obras: “Confete e arapuca”, e “Pipocas”. O confete é uma alegoria da alegria, sobretudo para os brasileiros, onde o Carnaval é uma festa que acontece em todo o país. “Mas ela cria uma arapuca, que gera um ruído e uma contradição, é uma armadilha que pode ter uma conotação política forte”, conta a curadora. Em “Pipocas”, a artista cria uma série de pipocas em cerâmica espalhadas pelo chão, onde o público é instado a avaliar e se colocar diante da obra podendo também destruí-la.

Mercado imobiliário, ocupações, ruínas
O mercado imobiliário e a questão da moradia são temas de duas obras inéditas da exposição. No novo trabalho de Renato Maretti, “Empreendimento”, o paulista mostra uma maquete de um empreendimento imobiliário pichada, como se fosse possível “ocupar” um projeto. São inscrições ligadas às frentes de luta pela moradia que colocam em cheque a viabilidade de se criar novos empreendimentos, já que há muitos locais na cidade vazios ou ocupados. Nessa mesma linha, o argentino Martín Carrizo apresenta a obra “Sem título”. Ele vem a São Paulo criar o trabalho, que consiste em criar uma maquete em ruínas. “É um tipo de maquete que existe em tantos lugares do Brasil e da América Latina, onde se iniciam construções e por falta de previsão, de dinheiro ou viabilidade, acabam por deixar a obra incompleta e precária, o que evidencia a falta de planos urbanísticos nesses locais”, pontua a curadora.

Uma das mais prestigiadas artistas argentinas, Mônica Giron, que já teve retrospectiva feita pelo Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), mostra duas obras, “Enxoval para bandeirante” e “Neocriollo”. Nascida na Patagônia, a artista mostra, em “Enxoval para bandeirante”, pulôveres em miniatura para os pássaros da região migrar. “A Mônica é uma artista bastante ácida, e fazer roupas para pássaros é quase um gesto infantil, mas ao mesmo tempo muito crítico”, afirma a curadora. Em “Neocriollo”, Mônica traz à tona o neocriollo, língua inventada pelo artista surrealista argentino Xul Solar, uma mistura de espanhol, português, inglês, francês, grego e sânscrito, além de um toque de expressões típicas argentinas, uma espécie de “esperanto” do Rio da Prata. Na obra, Mônica traz uma série inédita, onde ela cria uma espécie de “massinha” com agrupamentos de figuras humanas antropomorfas e disformes, em que questiona o “estar junto”. “Ela mostra como as pessoas estão juntas e unidas, mas ao mesmo tempo estão também apertadas e confusas”, conta Claudia Ponga.

Claudia Ponga
A espanhola radicada no Brasil Claudia Ponga é doutoranda em artes visuais pela ECA/USP. É formada em Belas Artes em Madrid, Espanha, com mestrado em curadoria pela Goldsmith College, em Londres e em teoria das artes pela Universidade Complutense de Madrid. Já realizou curadorias no Reino Unido, Madrid, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro.

Sobre o C.LAB
Concebido como projeto independente do programa regular de exposições da Blau Projects, o concurso anual C.LAB seleciona e apóia projetos de curadores e artistas para exposição no espaço da galeria, reforçando seu papel de incubadora e difusora da arte contemporânea.

A primeira edição, realizada em 2014, resultou na produção e exibição dos projetos Ampulheta, do curador Douglas Negrisolli, e (...) pegaríamos as coisas onde elas crescem, pelo meio (...), da curadora Galciani Neves. Em 2015, a segunda edição do C.LAB apresentou, como resultado, a exposição Na Iminência, da curadora Carolina Soares e Território, povoação, dos curadores Gabriel Bogossian e Juliana Gontijo.

Em 2016, são duas curadorias selecionadas, Formas de abandonar o corpo – Parte I, de Natália Quinderé, já exposta na galeria, e a atual exposição, com curadoria de Claudia Ponga. As comissões de seleção são independentes e têm critérios sólidos de avaliação. Em 2016, foi composta pela curadora colombiana Isabela Villanueva, a argentina Gachi Prietto e o cubano naturalizado brasileiro Andrés Hernandez. Além das exposições, em 2016 houve, ainda, a premiação de uma residência em Buenos Aires, bom uma bolsa para a pesquisa no

Proyecto PAC: Prácticas Artísticas Contemporâneas em Buenos Aires, com duração de até 60 dias. A escolhida nessa categoria foi a curadora Thais Gouveia. Mais informações: www.blauprojects.com/clab.

Posted by Patricia Canetti at 8:11 PM

Rivane Neuenschwander no MAR, Rio de Janeiro

O Museu de Arte do Rio – MAR, sob a gestão do Instituto Odeon, inaugura em 21 de fevereiro a exposição O nome do medo, da artista Rivane Neuenschwander, em colaboração com o fashion designer Guto Carvalhoneto. Com curadoria de Lisette Lagnado, patrocínio do prêmio da Fundação Yanghyun (Coreia do Sul) e em parceria com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage), a mostra apresenta 32 peças desenvolvidas por Rivane e Guto. Elas são resultado de um processo de criação iniciado a partir de oficinas realizadas com crianças de escolas públicas e particulares e de unidades de reinserção social (URS), além de público espontâneo do MAR e do Parque Lage.

O projeto que dá nome à mostra foi concebido por Rivane após ser agraciada com o Yanghyun, em 2013, na sexta edição do prêmio coreano que contempla artistas com obras reconhecidas internacionalmente. Por meio deste, a Fundação Yanghyun oferece aos ganhadores um sistema de apoio para realização de uma mostra em um museu renomado. O MAR, como um espaço de fomento à educação como prática de criação e experimentação, foi escolhido para receber as peças produzidas a partir das atividades de O nome do medo no Rio de Janeiro.

Em 2015, Rivane foi convidada para colaborar com o evento Children’s Comission, realizado anualmente pela galeria de arte Whitechapel (Londres, Inglaterra), criado para promover a interação das crianças com a arte. Na ocasião, a artista se propôs a investigar o medo a partir do olhar das crianças, que foram estimuladas a listar e desenhar seus maiores temores e a construir capas com materiais ricos em texturas e cores – algodão, organza, fitas, plásticos, linhas e outros materiais ligados ao universo do corte e da costura –, como uma forma de ajudá-las a acolher e se proteger de seus medos. Os artigos produzidos nos encontros foram transformados em capas estilizadas, criadas pela artista com a colaboração do fashion designer Lucas Nascimento, brasileiro radicado em Londres.

No Rio de Janeiro, foram realizadas 12 oficinas, com duração de três horas, com mais de 240 crianças, entre 6 e 13 anos, na Escola do Olhar e na EAV Parque Lage. Artistas renomados como Laura Lima, Anitta Boavida, Chiara Banfi, Daniel Steegmann-Mangrane, entre outros, auxiliaram os participantes nas confecções de suas peças. As capas desenhadas e construídas durante as atividades ganharam um novo formato pelas mãos de Rivane e do fashion designer Guto Carvalhoneto, com acompanhamento de Lisette Lagnado.

Para a artista, o projeto permite questionar as origens psíquicas e sociais do medo e ajuda a criança na elaboração de seus conflitos. Rivane explica que “a oposição entre brincadeira e violência faz com que esse trabalho ofereça condições singulares para que a criança manifeste seus anseios e temores, para que os adultos reavaliem tanto a infância quanto a exposição cotidiana da criança à brutalidade, e, ainda, para repensarmos como o medo decorre de um tipo de afeto coercitivo dentro da sociedade”.
Rivane já fez exposições individuais e coletivas na Suécia, Irlanda, Japão, África do Sul, França, entre outros países. Suas obras são produzidas a partir de processos colaborativos com o público.

Sobre Lisette Lagnado
Lisette Lagnado (1961, Kinshasa, Congo) é crítica de arte e curadora independente. Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é mestre em Comunicação e Semiótica (dissertação sobre a obra de Mira Schendel) e doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo, com uma tese sobre o programa ambiental de Hélio Oiticica. Junto com amigos e familiares, fundou, em 1993, o Projeto Leonilson, que permitiu organizar a primeira retrospectiva do artista, morto em decorrência da AIDS. Autora dos livros Leonilson. São tantas as verdades (São Paulo: Projeto Leonilson/SESI/DBA, 1995) e Laura Lima. On_off (Rio de Janeiro: Cobogó, 2014), tem diversos artigos e ensaios publicados no Brasil e no exterior. Entre as exposições que concebeu, foi curadora, em 2006, da 27ª Bienal de São Paulo ("Como Viver Junto"); da mostra “Desvíos de la deriva. Experiencias, travesias y morfologías” (2010), no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS), em Madri; e do 33º Panorama do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2013). Desde agosto de 2014, dirige a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro.

Sobre Guto Carvalhoneto
Guto Carvalhoneto formou-se em design de moda pela Universidade Cândido Mendes, em 2008. Já em 2009 foi viver em Paris para aprofundar os seus conhecimentos. Durante esse período, trabalhou como visual merchandising para uma marca de prêt-à-porter francesa e paralelamente desenvolveu sua pesquisa focada na precisão e técnicas da alta costura parisiense. Em 2011, lançou sua marca, buscando experimentar materiais e formas não comuns à moda comercial, unidas às semelhanças estéticas entre o sertão e o oriente, contaminando-se também pelo cinema e pelas artes visuais.

Posted by Patricia Canetti at 6:57 PM

Alberto Bitar no Banco da Amazônia, Belém

Vazio impregnado de sentido, memória e lembrança

Alberto Bitar - Sobre o Vazio, Espaço Cultural Banco da Amazônia, Belém, PA - 22/02/2017 a 07/04/2017

Cenários esvaziados de pessoas e objetos. Ambientes preenchidos apenas pela subjetividade da imaginação, da recordação e da memória. Estas são características de alguns trabalhos que compõem a série Sobre o Vazio, do fotógrafo paraense Alberto Bitar, vencedora do Prêmio Banco da Amazônia de Artes Visuais 2017. A exposição vencedora vai reunir pela primeira vez no mesmo espaço a partir do dia 21 de fevereiro as séries que a compõe: Qualquer Vazio, Todo o Vazio, Completude, sem título e Breve Vazio, constituídas ao longo de seis anos dos vinte e cinco anos da carreira do fotógrafo.

Além das questões existenciais que rondam a obra do artista, a série também traz outro elemento quem de sua pesquisa, o diálogo entre a fotografia e o vídeo. Nelas, as imagens capturadas pela câmera fotográfica se dilatam e se esgaçam rompendo fronteiras entre o movimento e o estático. “A partir do interesse pelo movimento apreendido na imagem fixa passei a desenvolver trabalhos com o auxilio do suporte do vídeo, mas quase sempre utilizando como base imagens estáticas. São trabalhos que nos fazem pensar nos primórdios do cinema, mas não deixam de ter em sua essência aspectos da linguagem fotográfica”.

Levado pela sensação de solidão provocada pelos vestígios de memórias deixados em ambientes como o apartamento onde viveu com a família por mais de vinte anos, Alberto Bitar mergulhou nesta busca como um caçador de lembranças. Primeiro, fotografando a série Todo Vazio, recolhendo imagens do lar onde teve importantes momentos da vida antes de ser repassado para outros moradores. Depois foi fotografando quartos de hotéis recém abandonados por seus hóspedes, que ele recolheu imagens para o Qualquer Vazio.

As duas séries produzidas de forma e em tempos distintos foram reunidas lado a lado em 2011 na exposição resultante do XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia. Se por um lado, o apartamento revela um vazio provocado pela pessoalidade do ambiente familiar, por outro, a impessoalidade reverbera e provoca a imaginação de quem vê. “Fico pensando sobre o quão pessoal ou impessoal podem ser esses dois ambientes, aparentemente diferentes, mas que, independente do tempo de permanência dos seus habitantes, podem guardar, nas memórias dessas pessoas, lembranças e saudades de momentos importantes nas suas histórias”, explica.

Temporal

Depois de contemplados pelo XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, da Fundação Nacional de Artes – Funarte, órgão nacional responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo, a série ganhou outros elementos, com obras produzidas ao longo dos últimos anos.

Em 2010, o autor continuou a pesquisa fotografando ambientes da casa que seria sua próxima morada e registrou as possíveis memórias que ali existiam e ficcionou as que um dia poderia ter ali. Surgiu então Completude, que passou a integrar a série. Em 2013, o fotógrafo incluiu mais uma série em Sobre o Vazio. Breve Vazio retrata o cenário de fora, de uma janela, que dá conta da breve solidão deixada por alguém que não estava no lugar certo, na hora certa. Este trabalho foi selecionado pelo Arte Pará do mesmo ano.

“Sobre o Vazio foi sendo concebida aos poucos, ao longo do tempo, porém nunca foi apresentada de forma única. Por isso, essa exposição é tão importante, pela primeira vez o público poderá conhece-la de forma integral, de como foi sendo construída, como um quebra-cabeças que ganhou forma e sentido”, declara.

Posted by Patricia Canetti at 5:38 PM

fevereiro 17, 2017

Candida Höfer na Pinacoteca, São Paulo

Artista alemã repensa o uso e a estrutura de espaços com grande valor histórico por meio de suas fotografias

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta, a partir do dia 18 de fevereiro, três obras de grandes dimensões da artista alemã Candida Höfer no segundo andar do edifício da Luz. As fotografias representam dois diferentes espaços culturais do Brasil e um na França, que serão mostradas em diálogo com a coleção de arte do século XIX do museu.

A mostra integra o programa de exposições Diálogos com o acervo, que contempla a apresentação de obras de outras instituições e/ou artistas contemporâneos em diálogo com o acervo da Pinacoteca. Nesse programa, já foram mostradas as coleções do Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora (MG), uma seleção de pinturas e fotografias do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, obras do artista belga Francis Alÿs, do português Vasco Araújo e do brasileiro Rodrigo Andrade. “Ao trazer para junto da coleção obras de outros períodos, ou de outros acervos, o museu desafia o visitante a construir novas interpretações. São novas possibilidades de olhar para aquilo que é familiar”, explica a curadora chefe Valeria Piccoli.

A mostra apresenta fotografias da série Räume (Spaces) dedicada à representação de espaços públicos como museus, galerias, bibliotecas e salas de concerto. Essas imagens discutem como a arquitetura constrói espaços solenes, que ao mesmo tempo dirigem e contém a ação do público. “Os espaços internos de edifícios históricos são registrados pela artista com um certo distanciamento. Vai ser um contraponto interessante para o visitante da Pinacoteca, que pode se dar conta de que, naquele momento, ele mesmo se encontra em um daqueles espaços, que tem uma história institucional relevante”, completa Piccoli.

Um dos nomes fundamentais da fotografia contemporânea, Candida Höfer estudou na prestigiosa Academia de Arte de Düsseldorf. Suas fotografias investigam principalmente a estrutura dos espaços públicos e como a arquitetura pode manipular a experiência humana. Por vezes, o que está em destaque em suas imagens é o excesso de ornamentação do lugar e o impacto que isso causa ao observador; por outras é o domínio da geometria e seu princípio ordenador, que muitas vezes passa despercebido para quem transita esses espaços. “As fotografias de Höfer nos convidam a refletir sobre as sensações que os espaços nos provocam e como somos influenciados por eles”.

Posted by Patricia Canetti at 2:40 PM

Flávia Bertinato na Marilia Razuk, São Paulo

Em sua segunda exposição individual na Galeria Marília Razuk, a artista Flávia Bertinato apresenta Sublimação, uma série de fotografias. E, também, uma configuração de sua recente instalação Rapunzel, contemplada pelo prêmio CCBB Contemporâneo, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Trata-se de dois trabalhos distintos, que foram produzidos simultaneamente nos últimos anos.

Na série Sublimação, que empresta o nome à exposição, mulheres e homens foram convocados por suas lembranças afetivas, ao posarem para as sessões fotográficas. Anônimos, e com o pouco de suas aparências a ser mostrado, os participantes atuaram com gestos que potencializam descrições de intentos eróticos. As repetições de gestos, contudo, são notáveis no decorrer do processo de realização de uma fotografia para a outra. Elementos da esfera individual parecem constituir uma espécie de repertório construído e compartilhado da linguagem corporal.

Rapunzel, ao remeter ao famoso conto adaptado pelos Irmãos Grimm, grande repercussão no século XIX, também lida diretamente com uma imagem popularmente decantada. No entanto, diferente da literatura, a instalação Rapunzel atribui maior atenção ao momento de violência da narrativa, e não o desdobramento da relação amorosa da protagonista com o príncipe. A instalação reportar-se ao corte das tranças de Rapunzel – que, na literatura, é praticamente um crime contra a felicidade de uma mulher. Como, amplamente conhecido, o corte das tranças é o momento de maior sofrimento e sentimentos de tristeza de Rapunzel. Na instalação Rapunzel, informações sobre uma suposta arma do crime (a tesoura), a protagonista, a violência e o encantamento são todos embaralhados, levando-nos à reflexão sobre paradigmas morais e fatos recentes de agressão contra a mulher.

A montagem de Rapunzel na Galeria Marília Razuk é formada por carretéis no centro do espaço expositivo, objetos de parede e fotografia. Algumas das tranças de fibra de sisal dos carretéis, feitas manualmente, são espetadas por tesouras douradas cirúrgicas. Dadas as suas dimensões e formas, estas assumem diferentes funcionalidades nas práticas hospitalares, como o acesso a órgãos e retirada de pontos. Em Rapunzel, a localização das tesouras é um recurso para diferenciar características dos carretéis, mas também carrega esta informação simbólica de perfuração do interior e da superfície corporais. Outra propriedade das tesouras em Rapunzel, assim como a manivela e as rodas nos carretéis, consiste na memória do deslocamento. Contudo, o público é interditado, sendo estimulado à elaboração mental desses exercícios - seja a movimentação das manivelas, o deslocamento dos carretéis ou o uso das tesouras.

Outras obras da artista também lidam alegoricamente com noções de suspense e de potência de uma dada ação.São exemplos, Bandida, uma alegoria do personagem do filme O Bandido da luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, apresentada na Galeria Marília Razuk em 2013, ou as fotografias de Boa Noite, Cinderela. Questões tão diluídas no convívio social, como as relações amorosas, a clandestinidade e o comércio/circulação de objetos ocultos são de interesse da artista, que, a partir dessa abordagem temática, reflete sobre a própria relação cambiante entre as noções de público, testemunha e voyeur.

Sobre a artista

Bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (2002) e mestra pela Escola de Comunicação e Artes da USP (2013). Atua em diversas linguagens, principalmente pintura, instalação e fotografia.

A artista realizou exposições individuais no Centro Cultural São Paulo (2004), Centro Universitário Maria Antônia (2005), Galeria Virgílio (2008 e 2010) e Galeria Marília Razuk (2013), em São Paulo, e na Galeria Celma Albuquerque (2014), em Belo Horizonte.

Integrou as exposições coletivas Uma coleção particular: acervo de arte contemporânea na Pinacoteca (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo, sob a curadoria de José Augusto, e Paralela de perto e de longe (2008), no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob a curadoria de Rodrigo Moura, entre outras. Também participou dos principais salões de arte nacionais, sendo contemplada pelos prêmios aquisitivos 28° Salão de Arte Contemporânea do Museu de Arte de Ribeirão Preto (2004) e 23° Salão de Arte Jovem de Santos (2001).

Em 2014, Flávia Bertinato foi selecionada pelos programas Mergulho Artístico: Bolsas de Investigação, da Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo), e Bolsa Pampulha de Exposição e Residência Artística, do Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte).

Posted by Patricia Canetti at 1:11 PM

Uma Canção para o Rio (2a parte) na Carpintaria, Rio de Janeiro

Noite de abertura terá performance de Arto Lindsay e exibição de curtas de Los Carpinteros e Bruce Conner

A Carpintaria inicia no dia 18 de fevereiro a segunda etapa da mostra Uma Canção para o Rio, que marcou a inauguração do seu espaço no terreno do Jockey Club carioca, em novembro passado.Com a colaboração da célebre dupla de curadores independentes de Los Angeles Douglas Fogle e Hanneke Skerath, a nova fase, assim como a anterior, explora a relação entre as artes visuais e a música através de um conjunto de obras assinadas por renomados artistas brasileiros e do exterior.O dia da abertura contará com uma performance de Arto Lindsay, e a exibição dos filmes Conga Irreversible, de Los Carpinteros, e Breakaway, de Bruce Conner.

A escolha de trabalhar a relação entre as artes visuais e a música na exposição inaugural da Carpintaria ocorreu de forma quase natural. Trata-se de uma ideia que já vinha sendo acalentada pelos galeristas Marcia Fortes, Alessandra D`Aloia e Alexandre Gabriel – sócios da Fortes D’Aloia & Gabriel (ex-Fortes Vilaça) - e se afina com os planos arquitetados para o novo espaço carioca, que tem como principal vocação ser um lugar de diálogo entre diferentes meios de expressão artística e entre artistas de diferentes procedências e gerações.

“Talvez a música seja a mais abrangente das expressões artísticas, a coisa mais poderosa, com muitos públicos diferentes; um tipo de expressão livre do excesso de codificação, de auto-referência que vemos nas artes visuais”, analisa Alexandre Gabriel. Alessandra D’Aloia também lembra que no Brasil, e no Rio de maneira ainda mais forte, a questão da musicalidade é muito intensa.

Com o auxílio de Douglas Fogle e Hanneke Skerath, foram selecionados trabalhos de mais de 20 artistas, que exploram as relações concretas ou simbólicas entre o som e a forma. O leque é amplo e inclui desde nomes muito conhecidos do público, como Martin Creed, Hélio Oiticica, Nuno Ramos, Barrão e Rivane Neuenschwander, a artistas que ainda estão sendo descobertos na cena nacional e internacional.

A exposição não pretende criar uma tese sobre a relação arte e música nem se baseia em regras estritas na seleção dos artistas. O conjunto se constrói pela justaposição de vozes dissonantes. “Cada um desses artistas investiga as conexões entre a música e as maneiras que ela tem de configurar nossas memórias pessoais e coletivas”, explicam Fogle e Skerath no texto de apresentação.

É possível dividir os trabalhos em dois grandes blocos: de um lado estão aquelas produções que pertencem ao campo musical, fazem referência direta ao meio, produzem música e não estão falando sobre ela nem sobre seu universo. É o caso, por exemplo, do violão com várias caixas de som inseridas em seu corpo, criado pela dupla cubana Los Carpinteros, que produz uma verdadeira cacofonia quando ativado.

Em outro grupo estão as obras que trabalham com a memória, com a formação da identidade através da música, como por exemplo a releitura feita por Rivane Neuenswander a partir das capas de discos de Chico Buarque dos anos 1960 e 1970, que apesar da redução de informações visuais evocam diretamente a memória afetiva do espectador.

Também fazem parte da exposição frames da série Cosmococa Programa-in-progress, de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida. Criado em 1973 originalmente como uma experiência sensorial com a projeção de 163 slides, este é,segundo muitos críticos, o trabalho mais transgressivo em toda a obra de Hélio. Nas imagens, uma trilha de cocaína subverte cenas icônicas de personalidades da cultura pop, como as capas dos LPs War Heroes, de Jimi Hendrix, e Grapefruit, de Yoko Ono.

Já o trabalho do carioca Barrão aparece tanto com o coletivo Chelpa Ferro quanto em sua produção individual, como a serie de esculturas que participou da exposição Paleotoca (Galpão Fortes Vilaça, em 2016), feitas em resina monocromáticas (todas na cor branca). As peças agrupam objetos do uso cotidiano, como fitas-cassete, em composições aleatórias e inusitadas, adquirindo assim novo significado.
Uma das atrações internacionais desta segunda etapa da mostra é a obra do peruano Armando Andrade Tudela,feita especialmente para a exposição. O trabalho traz um berimbau, instrumento muito comum no Brasil,onde se lê: This Machine Kills Fascists, em referência à mensagem que o músico americano Woody Guthrie estampou em sua guitarra, em 1941.

A mostra também promove, pelo lado brasileiro, o resgate da obra de Paulo Garcez (1945 - 1989), artista multimídia que aproxima desenho e escrita, bem como toda a representação gráfica da música. E chama ainda a atenção para o trabalho cheio de frescor de duas jovens artistas em ascensão, a brasiliense (residente em Recife) Barbara Wagner e a paulistana (radicada no Rio) Vivian Caccuri, ambas com participações de destaque na última Bienal de SP. O curta-metragem Estás vendo coisas, de Bárbara Wagner & Benjamin de Búrca, retrata o universo da cena brega pernambucana através da indústria de videoclipes. O filme também será exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano.

NOVA FASE

Abertura da Carpintaria inaugura nova fase para Fortes Vilaça, que passou a incorporar o sobrenome dos três sócios

A abertura da galeria Carpintaria, no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, inaugurou também uma nova fase para a Fortes Vilaça, agora Fortes & D`Aloia& Gabriel. Em seu aniversário de 15 anos, a data também marcou a transformação da identidade societária da galeria paulistana. A alteração atualiza o sobrenome de Alessandra D’Aloia, anteriormente Vilaça e conclui a incorporação societária de Alexandre Gabriel, atuante na galeria desde o seu início. “Tudo confluiu para um único momento. Queremos reafirmar o que existe há 15 anos, porém com uma nova proposta”, sintetiza Marcia Fortes, o outro vértice do trio. Esta mudança marca um ponto de transformação e diversificação das atividades da sociedade.

Representando 42 artistas brasileiros e estrangeiros, que lidam com os mais diferentes meios e poéticas, a galeria é uma das mais dinâmicas do país. Só no mês de outubro, tinha artistas presentes em mais de 20 exposições espalhadas pelo mundo.

Essa confluência de novidades foi, segundo os sócios, uma feliz sincronia. O projeto de ter um espaço no Rio é acalentado há tempos. Alessandra e Marcia começaram a trocar ideias sobre o assunto ainda na década passada, mas as dificuldades em implementá-la levou ao adiamento dos planos até que, há cerca de dois anos, receberam um convite para participar de um novo polo cultural e gastronômico a ser instalado dentro do espaço do Jockey Clube. As condições de ocupação eram bem mais vantajosas do que as encontradas no valorizado mercado imobiliário carioca, tendo como contrapartida a reforma da área, que estava em precárias condições, e o comprometimento com o projeto. A aceitação foi imediata. De forma que a Carpintaria¬¬- assim chamada porque a casa escolhida teve essa função no passado – foi a primeira atividade a ser inaugurada no novo complexo, intitulado Vila Portugal. O espaço de 300 metros quadrados com vista para a pista de corrida e as montanhas da cidade foi cuidadosamente reformado para abrigar as atividades do grupo na cidade.

“Nossos vizinhos – restaurantes, livrarias e outras galerias – serão abertos cada um no seu ritmo”, explica Alessandra D’Aloia, que se mudou há alguns meses para o Rio para supervisionar de perto a reforma do espaço, feita pela dupla Pedro Évora e Pedro Rivera, do escritório Rua Arquitetos. A confirmação de Gabriel como novo sócio também só ocorreu agora, mas as tratativas começaram três anos atrás, já que esses processos costumam ser vagarosos. Apesar da crise, que os forçou a participar mais ativamente de feiras internacionais, o ânimo é grande. “É nosso atestado de teimosia”, brinca Marcia.

Houve, por parte dos galeristas, uma grande preocupação em manter o espaço da Carpintaria o mais preservado possível. A única mudança mais radical foi a elevação do pé direito, de 2,8 para 4 metros, mas foram mantidas as tesouras de madeira bem como as telhas originais. Trata-se de um espaço amplo, versátil, pensado para viabilizar os projetos do trio para o Rio de Janeiro. O foco da ação na cidade carioca foi o desejo de criar um novo espaço de experimentação, que permitisse ampliar as ações do grupo para outros modelos expositivos e outras vertentes da arte. “Trata-se de um lugar para ventilar nossas ideias, abrir um pouco a abrangência de nossas práticas”, explica Marcia Fortes.

Não por acaso a mostra inaugural é uma grande coletiva que explora a relação entre as artes visuais e a música. Alessandra destaca ainda que o Rio de Janeiro passa por um momento de grande dinamismo, com a criação recente de várias instituições. “Mas sempre há mais o que fazer. Nosso trabalho é de formiguinha”, conclui.

Alexandre Gabriel considera que há uma certa complementariedade e uma desejada diversidade entre os três espaços comandados pelo trio: a Galeria da rua Fradique Coutinho, o Galpão no Bom Retiro – ambos em São Paulo - e agora a Carpintaria, cada um com uma vocação bem nítida. “Queríamos fugir um pouco dessa ideia de galeria que abre filiais; cada espaço tem sua identidade própria”, complementa.

No caso da Carpintaria, a vocação é de diálogo com outras expressões artísticas para além das artes plásticas,bem como de abertura para novos artistas, que exploram diferentes linguagens e pertencem a várias culturas. O tempo também será mais lento, com mostras e eventos de duração mais longa. A ideia é realizar não mais do que cinco eventos anuais, com duração mínima de seis semanas, combinando mostras coletivas, grandes individuais (apenas uma por ano), cessão esporádica do espaço para terceiros que tenham projetos pontuais interessantes e a realização de encontros férteis, em duplas e trios de artistas, com afinidades especiais. Um desses duetos – ou duelos – já está definido e deverá colocar lado a lado Adriana Varejão e a portuguesa Paula Rego, cujas obras se encontram em questões como a violência, o universo feminino e os comentários sobre imperialismo e colonialismo, além da união,em uma exposição coletiva, da artista paulistana Erika Verzutti com o inglês Jesse Wine e a americana Lynda Benglis

Posted by Patricia Canetti at 11:14 AM

Paulo Bruscky no Sesc Belenzinho, São Paulo

Composta por quatro exposições, a mostra Estou Cá converge os questionamentos e reflexões reunidos nas etapas anteriores do projeto, com a finalidade de enfatizar as muitas formas de relação entre público e obra de arte. Um dos destaques da mostra é um conjunto inédito do artista pernambucano Paulo Bruscky

Lançado em julho de 2015, o PROJETO [ESTOU CÁ] com curadoria geral de Paulo Miyada, gerou vários questionamentos sobre arte contemporânea. Depois das exposições Potlatch: Trocas de arte, que começou vazia e se desenvolveu por meio de trocas entre o público e a equipe curatorial, e Sempre Algo Entre Nós, que reuniu artistas contemporâneos com obras que enfatizam as relações entre obras e público, o projeto chega em sua última etapa. A exposição Estou Cá, que abre ao público no dia 30 de novembro, no Sesc Belenzinho, testa hipóteses a respeito da arte, seus agentes, processos constitutivos e a relação com o lugar e os públicos da unidade.

Dividida em quatro núcleos, a exposição Estou Cá combina, em tom provocativo, exposições, oficinas e projetos pedagógicos, em que público, artistas, mediadores e curadores se questionam sobre conceitos pré-estabelecidos, promovendo trocas de informações e experiências.

O primeiro núcleo apresenta um conjunto de obras inéditas de Paulo Bruscky chamada Artistas achados e apropriados, em que exibe objetos encontrados em feiras, depósitos e lixeiras e que remetem ao trabalho de artistas brasileiros como Volpi, Hélio Oiticica e Sérgio Camargo. O segundo núcleo, ZL, será composto por trabalhos de artistas que tem essa região de São Paulo como contexto, convidados a partir da pesquisa que se iniciou com a estada dos curadores no Potlatch. Já o terceiro núcleo é o resultado da oficina Refeitos, coordenada por Pedro França em que se exercita a refatura de obras conceituais das décadas de 1960 e 1970 e, por último, o quarto núcleo, Boletim Público, iniciativa experimental que registra os processos de mediação de todo o projeto, além pesquisar perguntas-chave para o debate atual de mediação e educação de arte contemporânea.

Para o curador Paulo Miyada, “A exposição Estou Cá é o ponto de chegada, na qual produção local, exercícios de convívio, processos colaborativos e diálogos acontecem com toda a complexidade que a arte contemporânea consegue promover quando diretamente voltada à esse fim”. Sobre a relação com o lugar, continua: “Ao invés de começar pela eleição de obras e assuntos de interesse peculiar e pensar em como mostrá-las a determinado público, todo o projeto pretende responder diretamente às particularidades dos vários perfis de visitantes e comunidades que atravessam este espaço, procurando implicá-los por noções abertas do que é a arte hoje”.

Paulo Bruscky
O artista de Recife apresenta na mostra Artistas achados e apropriados um conjunto de obras inédito. Durante anos, Paulo Bruscky colecionou objetos que encontrava em feiras, depósitos e lixeiras e que o lembravam diretamente da obra de algum artista contemporâneo: um tapete que remete a pinturas de Volpi, uma colcha bordada que provoca a lembrança do manto de Bispo do Rosário, restos de madeira que se organizam como esculturas de Sérgio Camargo. A reunião desses objetos resultará em uma inusitada coleção de grandes obras da história da arte que é, ao mesmo tempo, uma intrigante mostra de Paulo Bruscky. “Em destaque atualmente no Brasil e em outros países, a obra do Paulo nos dá uma dupla visão sempre com humor e tendo o cotidiano como pano de fundo”, conta Miyada.

Zona Leste
Durante a etapa do Potlatch houve um mapeamento de parte da produção artística nos bairros da Zona Leste paulistana. Após uma pesquisa complementar e alguns encontros nos ateliês e espaços de produção destes artistas, a curadoria convidou sete artistas para expor seus trabalhos. Os artistas convidados são: Caio Carpinelli, Kim Cavalcante, Moisés Patrício, Pedro Seman, Renato Almeida, Rafael Calixto e Vitor Oliveira. São artistas de linguagens e perfis variados, que têm em comum a atenção a processos, culturas, materiais e símbolos do espaço urbano.

“A ideia desse núcleo é mostrar a arte contemporânea deslocada do centro expandido da capital paulista e fazer uma conexão com toda a cidade de São Paulo”, conta o curador.

Refeitos
Resultado de uma oficina coordenada por Pedro França, a mostra Refeitos apresenta exercícios de refatura de obras fundamentais do minimalismo, da arte conceitual e da arte povera dos anos 1960 e 1970, no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. O objetivo da oficina foi discutir obras da história da arte contemporânea que carregam em sua concepção a possibilidade de serem reconstruídas, reelaborando seus processos para refazê-las (sem necessariamente imitar sua forma final) como adverte Paulo Miyada: “Não são releituras, nem cópias ou imitações”.

Boletim Público
Além dos três núcleos, a exposição Estou Cá contará com um espaço dedicado ao educativo, organizado no projeto experimental de mediação Boletim Público, com cocuradoria de Valquíria Prates. Tendo como foco principal os processos e debates discutidos e praticados nas exposições anteriores, os mediadores irão atuar nos espaços do Sesc Belenzinho – não apenas discutindo sobre as obras, mas produzindo provocações, reflexões, pesquisas e notações sobre e com as obras, o público e suas relações com cada módulo da exposição.

Como parte do espaço expositivo, haverá uma sala que funcionará como síntese de toda a pesquisa e discussão já promovida pelo projeto e também do que os mediadores produzirem e coletarem durante a exposição.

Posted by Patricia Canetti at 9:39 AM

fevereiro 13, 2017

Fábio Carvalho, Rick Rodrigues, Rodrigo Mogiz no Sesc Palladium, Belo Horizonte

Três artistas homens provocam noções estereotipadas de gênero, afetividade e sexualidade em exposição de arte com bordados

A exposição Almofadinhas, que abre no dia 16 de fevereiro, 19:30h, na galeria GTO do Sesc Palladium, Belo Horizonte, nasce do encontro de três artistas homens (Fábio Carvalho - RJ, Rick Rodrigues - ES e Rodrigo Mogiz – MG) de gerações diferentes e localidades também distintas,que se dedicam a trabalhos no território do sensível e do delicado, tendo o bordado como um dos meios de produção de suas obras (mesmo que não exclusivamente).

A curadoria é de Ricardo Resende, especialmente convidado para se juntar aos “Almofadinhas”. Resende, que já foi diretor geral do Centro Cultural São Paulo, atualmente está no Museu do Bispo do Rosário no Rio de Janeiro, além de já ter realizado inúmeras e importantes curadorias e ter passado por outras instituições como o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Funarte e Centro Dragão do Mar, em Fortaleza. Trabalhou também com o Projeto Leonilson, que como Bispo é outro expoente e importante artista ligado às questões do bordado na arte contemporânea brasileira.

​Os três artistas se apresentam pela primeira vez juntos depois de muitas conversas à distância, por meio das redes sociais, sobre as afinidades conceituais e imagéticas de suas obras e como poderiam fazer algo coletivamente. A partir daí nasce o termo Almofadinhas, por meio da descoberta de um texto que relata a origem da expressão, que comumente ficou conhecida para designar pejorativamente homens ricos, muito bem arrumados, cheios de frescuras. É que em 1919, no auge da primeira República, em Petrópolis/RJ “rapazes elegantes e efeminados” se reuniram para definir quem era o melhor na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa especialmente para a ocasião. Tal episódio criou tanto alvoroço que acabou sendo criado este termo para designar talvez com um certo grau de “revolta” o ócio e ousadia desses rapazes.

Os “Almofadinhas” deixaram para trás a praxe que determinava que os homens trajassem roupas escuras, ostentassem barbas e bigodes espessos, destacando sua virilidade, competência e um espírito de liderança nato, optando por roupas mais leves e de cores mais claras, personificando um novo homem do pós‐guerra, em harmonia com um crescente sentimento de “viver a vida intensamente” deste período.

É a partir daí que nasce em Fabio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz o conceito “Almofadinhas” ou como melhor eles definem, a entidade “Almofadinhas”, que parte desta (ainda) surpresa de se ver homens que bordam, mas que se pesquisarmos mais a fundo, descobriremos que muitos homens estão ligados a esta atividade, que acabou sendo associada em nossa cultura ocidental patriarcal, ao trabalho artesanal feminino e doméstico. Dessa forma os três artistas provocam a tradição, trazendo o bordado uma vez mais para o campo da arte contemporânea, ampliando as discussões sobre questões de gênero, afetividade e sexualidade.

Os artistas apresentam cerca de 15 conjuntos de obras de diferentes momentos de suas trajetórias, além de trabalhos inéditos feitos especialmente para o projeto, que vão desde almofadas bordadas a trabalhos suspensos e de parede onde o têxtil está sempre presente em diversos formatos, apresentando figuras masculinas, pássaros, flores, armas de fogo, dentre outras iconografias.

No período final da exposição estão previstos o lançamento do catálogo da exposição Almofadinhas, com um bate papo com os artistas e o curador, no dia 22 de março, 19h, além de uma oficina de bordado só com homens, no dia 24 de março, a partir de 15h.

http://almofadinhasbr.blogspot.com.br

Posted by Patricia Canetti at 9:59 PM

Diego de Santos na Funarte, Brasília

Artista cearense, autor do projeto Poema 193, Diego de Santos, embarca em fevereiro para a capital federal para realizar exposição individual na Funarte de Brasília

Contemplado pelo Prêmio de Arte Contemporânea 2015 - Atos Visuais Funarte Brasília, Poema 193, produzido pelo artista plástico cearense, Diego de Santos, abre dia 15 de fevereiro e segue com visitação até 02 de abril deste ano, na Galeria Fayga Ostrower, em Brasília. A exposição tem curadoria da artista visual brasiliense, Yana Tamayo.

Em 2015, Diego se inscreveu para o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, um dos maiores do país nessa categoria, e obteve nota máxima na aprovação do projeto. “Sabia que tinha um bom projeto e torcia pela aprovação, mas não esperava a nota máxima. Me senti imensamente feliz e orgulhoso pelo meu trabalho, estou realizando um sonho”, lembra emocionado, Diego.

Agora, ele e sua equipe estão em ritmo de pré-produção para embarcarem em fevereiro representando o Ceará, no Distrito Federal. “Foram dezenas de inscrições de todo o Brasil e explodimos de alegria quando saiu o resultado. Agora, estamos contando os dias para a mostra” conta empolgada Renata Damasceno, produtora cultural.

“A exposição é um dos resultados dos processos de experimentação do projeto Poema 193. Todos os elementos, suas simbologias e conexões já eram, de certa forma, recorrentes na minha produção. Eu já tinha uma pequena coleção de conchas e sempre pensei elas dentro de uma proposição artística, só não tinha executado ainda porque estava em outros projetos, mas veio a vez delas e juntamente com o fogo pude relacionar com uma problemática social: os incêndios criminosos” descreve realizado, o artista.

Nos vídeos é possível observar registros de conchas em chamas, em analogia com a estrutura de um lar e com o fogo saindo de seu interior. Uma forma de tratar poeticamente da problemática dos incêndios criminosos que atingem favelas e moradias precárias (por isso o número dos bombeiros “193” no título). Os ruídos que se ouvem são do entorno do ateliê (latido de cães, canto dos pássaros, avião que passa, ventania etc.) e foram assumidos para que, ao editar em slowmotion, dessem lugar a uma realidade distorcida e medonha, já que não é mais possível identificar os sons. É como se o incêndio ganhasse voz, se tornando, então, corpo testemunha de si mesmo.

Nos desenhos, o artista utiliza a técnica de fixação da fuligem e o uso de diferentes processos de queima, além da utilização das condições climáticas naturais e da parafina para a realização dos desenhos. “A superfície do papel, posicionada acima da chama da lamparina, recebe toda a fuligem liberada pelo fogo e nunca é possível determinar a imagem a ser gerada. Em alguns momentos, antes de fixar a fuligem com verniz, submeto aquele desenho à ação do lugar: esqueço-os na parede ou no chão para que insetos caminhem sobre eles, deixando rastros; aproveito raros serenos, deixando que gotículas de água da chuva fina intervenham sobre a fuligem. Sujeitar os trabalhos a situações promovidas pelo entorno faz de “Poema 193” um irrecusável convite à realização conjunta: eu e os efeitos do espaço ao redor” esclarece, de Santos.

A exposição conta com ação educativa com mediadores para receber o público espontâneo, bem como grupos de visita. Haverá também um educativo dedicado à acessibilidade, como texto curatorial em braile e maquete tátil com elementos do processo de criação das obras.

Sobre o artista

Diego de Santos [Caucaia – CE, 1984] é formado em Artes Plásticas pelo IFCE e expõe desde 2005. Vive e trabalha em Caucaia e Fortaleza. Em 2016, foi contemplado com o Prêmio de Criação em Artes Visuais de Teresina, que consistiu em uma residência artística na cidade por três meses, e como resultado final o projeto "À Margem Toda Vida", percorrido de bicicleta de Teresina à Parnaíba, usando a estrada como um laboratório a céu aberto. Em 2015, conquistou nota máxima no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, onde expõe as obras de ‘Poema 193’ de fevereiro a abril deste ano, em Brasília.

Em 2014 ganhou o prêmio PIPA (Prêmio Investidor Profissional de Arte), o mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais, na categoria Online Popular e produziu o projeto "Lar é Onde Ele Está" pelo Porto Iracema das Artes - Escola de Formação e Criação do Ceará. Recentemente, foi premiado no Salão de Artes de Mato Grosso do Sul (edição 2013), além de ter sido premiado também no 8º Salão de Arte SESC Amapá, em 2010. Já participou de edições de feiras como SPArte e ArtRio. Tem obras no acervo do Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza), da Galeria Graça Landeira (Belém), Amparo 60 (Recife) e de vários galeristas, colecionadores e curadores no Brasil e no exterior.

Sobre a curadora

Yana Tamayo [Brasília, 1978] é artista visual, educadora e curadora independente. Desde 2015 é gestora da Nave arte | projeto | pesquisa, espaço independente onde desenvolve projetos de pesquisa e formação em arte, curadoria e execução de exposições. Doutora em Arte na linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília - UnB (2015), é mestre pela mesma instituição e linha de pesquisa (2009) e especialista pela Universidad Complutense de Madrid (2006). Graduou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFMG (2003). Foi professora na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (2009-2010) e professora no curso de Bacharelado em Artes Visuais da Universidade de Brasília como bolsista Capes/REUNI durante os anos de seu doutorado. Como artista, produz e expõe com regularidade desde 2003. Vive e trabalha em Brasília.

Posted by Patricia Canetti at 9:25 PM

Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli na Funarte, Brasília

Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli realizam intervenção na Funarte de Brasília em uma reflexão a partir da falência das utopias, tendo o automóvel como emblema da modernidade.

Em 15 de fevereiro, os artistas visuais Adriano Guimarães (DF), Fernando Guimarães (DF) e Ismael Monticelli (RS) inauguram a intervenção Monumento na Marquise do Complexo Cultural Funarte – Brasília/DF. Elaborada especialmente para o local, a obra é uma espécie de jardim feito de restos de automóveis, além de elementos que evocam o desenho da paisagem da cidade. A modernidade e seus ideais de progresso, velocidade e dinamismo, bem como a criação de Brasília e o desenvolvimento da indústria automobilística no País são algumas questões que embasam a construção do trabalho. A obra fica em exibição até o dia 2 de abril, com visitação de terça a domingo, das 10h às 21h. O Complexo Cultural Funarte Brasília fica no Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural.

Com acompanhamento crítico das curadoras Daniela Name (RJ) e Marília Panitz (DF), “Monumento” foi concebido pelos três artistas que se encontram regularmente para realizar trabalhos em conjunto. Contemplado no Prêmio de Arte Contemporânea 2015 - Atos Visuais Funarte Brasília, o trabalho apropria-se do significado corriqueiro da palavra monumento – construção com finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade, nação e etc. – e da sua intrínseca relação com Brasília, a cidade dos monumentos. A obra utiliza como matéria prima restos de veículos acidentados, enfocando uma estratégia, ética e estética, recorrente na poética dos três artistas, que diz respeito à valorização do que habitualmente é considerado desimportante ou desprezado pelo senso comum.

Se Brasília é a cidade-síntese de nossa modernidade como uma espécie de ruína de futuro, talvez o carro seja o maior vestígio dessa ruína. A indústria automobilística foi uma das principais plataformas do programa de governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), não apenas no que diz respeito à economia e à política, mas também à imagem de Brasil idealizada durante esse período. O veículo - literal e metafórico - pode nos transportar para a reelaboração dessa história.

Ao utilizar o carro acidentado como escultura do acaso, a intervenção propõe uma reflexão crítica sobre o fluxo que se tornou invisível, por ser tão naturalizado: produção em massa -> distribuição acelerada -> descarte. Talvez, ao relocar esses restos abandonados, repletos de narrativas, estes possam adquirir visibilidade ao revelar o avesso de uma utopia. “Adriano, Fernando e Ismael estão lidando com um anticarro e transformando estes restos de velocidade em jardim. Lampejo de poesia”, afirma a curadora Daniela Name.

Direcionando o olhar para Brasília – lugar onde ideologia, interesses econômicos e arquitetura estão imbricados desde a sua concepção –, “Monumento” é feito dessas inversões e também de muitas condensações – da história de Brasília, da história da arte moderna, da história dos próprios artistas envolvidos. “Eu vejo nessa intervenção lastros de trabalhos que os três fizeram juntos e separados. Ao criarem seu próprio eixo com esses desastres, é como se eles investissem, mais uma vez, na necessidade de paralisia, de silêncio e de contemplação para redesenhar metas e mapas. Menos veloz e mais opaca, essa jornada talvez seja a única cartografia possível em meio aos destroços”, completa Name.
Para Marília Panitz, criar uma intervenção que coloca o carro desincorporado de sua funcionalidade, os artistas fustigam a ideia de retomar um devir que nasceu fadado ao descarte. “Monumento” se organiza no espaço externo, em um jardim, constituindo um desenho de instalação a partir dos jardins japoneses. Estes carregam a ideia de morte, não como saudade ou memória, mas como forma de contemplação sobre a existência. Para Panitz, esta é uma experiência estética de lidar com a ausência, que deve ser observada e sentida. “Não existem detalhes a observar e apreender, e sim outro tempo de visão que se permitir. Essa tensão é o que dá à obra o critério de monumento: Um estar para refletir”, sentencia.

O projeto oferecerá ao público duas oficinas sobre questões relacionadas ao trabalho, além de contar com o lançamento de um catálogo ao fim da exposição, juntamente com uma conversa, seguida de visita à obra, conduzida por Marília Panitz e pelos artistas. “Monumento” conta também com uma página web, página no Facebook e perfil no Instagram, que apresenta parte da pesquisa realizada pelos artistas a partir de imagens e acontecimentos do século XX e XXI.

SOBRE OS ARTISTAS

Adriano e Fernando Guimarães | Brasília/DF - Artistas visuais, diretores e professores. Atuam desde 1989, construindo trabalhos em teatro, performance, artes visuais e dança. Realizaram diversas exposições individuais como: Quase nunca sempre o mesmo (Alfinete Galeria, Brasília/DF, 2014); Cheio/vazio (Künstlerhaus Mousonturm, Frankfurt/Alemanha, 2013); No singular. Nada se move, curadoria de Marília Panitz (Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ; Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; SESC Belenzinho, São Paulo/SP. 2012-2013); Juegos - Performances(MARCO, Museo de Arte Contemporânea de Vigo, Espanha, 2005); Dupla Exposição, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2003); e Felizes Para Sempre, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ; Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; Solar do Barão, Curitiba/PR. 2001-2000).

Participaram de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior como: Frestas – Trienal das Artes, curadoria de Josué Mattos (SESC Sorocaba, São Paulo/SP, 2014); Transperformance, curadoria de Lilian Amaral (Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro/RJ, 2011); Brasília Síntese das Artes, curadoria de Denise Mattar (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2010); HiPer>relações eletro//digitais, curadoria de Vitoria Daniela Bousso (Santander Cultural, Porto Alegre/R, 2004); Panorama da Arte Brasileira 2003 - Desarrumado 19 Desarranjos, curadoria de Gerardo Mosquera (Museu de Arte Moderna, São Paulo/SP; Paço Imperial, Rio de Janeiro/RJ. Museu de Arte Moderna Aloísio de Magalhães, Recife/PE; MARCO, Museo de Arte Contemporânea, Vigo/Espanha; Museo de Arte Del Banco de La República, Bogotá/Colômbia; 2003-2008); A Trajetória da Luz na Arte Brasileira, curadoria de Paulo Herkenhoff (Itaú Cultural, São Paulo/SP, 2001); The Theatre of Installation, curadoria de Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley (Museum of Installation, Londres/Reino Unido, 2000); e 21ª Bienal Internacional de São Paulo, curadoria de João Cândido Galvão (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo/SP, 1991).

Ismael Monticelli | Porto Alegre/RS - Artista visual e pesquisador. Bacharel em Artes Visuais (UFRGS, 2010) e mestre em Artes Visuais (UFPel, 2014). Realizou exposições individuais como: Le Petit Musée – Sala 1, 2 e 3, curadoria de Raphael Fonseca (Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro/RJ, 2016); Todas as coisas, surgidas do opaco, curadoria de Luisa Duarte (Santander Cultural, Porto Alegre/RS, 2014); A Paixão Faz das Pedras Inertes um Drama (Goethe-Institut, Porto Alegre/RS).

Participou de exposições coletivas como: Vértice, Curadoria de Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana (Centro Cultural Correios, São Paulo/SP, 2016; Museu Nacional dos Correios, Brasília/DF, 2015; Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Mensagens de Uma Nova América – A Poeira e o Mundo dos Objetos, 10ª Bienal do Mercosul (Usina do Gasômetro, Porto Alegre/RS, 2015); Ficções, Curadoria de Daniela Name (Caixa Cultural, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Situações Brasília, curadoria de Cristiana Tejo, Evandro Salles e Ricardo Sardenberg (Museu Nacional da República, Brasília/DF, 2014-2015); 4º Prêmio EDP nas Artes (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP, 2014); Da Matéria Sensível, curadoria de Bruna Fetter (Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2014); Homem Cultura Natureza – Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, curadoria de Mariano Klautau Filho (Casa das Onze Janelas, Belém/PA, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013; SESC Belenzinho, São Paulo/SP, 2013; e Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, 2012); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, curadoria de Paulo Miyada (Galeria Leme, São Paulo/SP, 2012), 41º Novíssimos, curadoria de Ivair Reinaldim (Centro Cultural Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2011); e Mostra Coletiva Olheiro da Arte, curadoria de Fernando Cocchiarale (Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro/RJ, 2010). Foi destaque na seleção da Bolsa Iberê Camargo 2011 e premiado no Festival de Fotografia HTTPpix (Instituto Sérgio Motta, São Paulo/SP, 2010).

Posted by Patricia Canetti at 8:40 PM

Permissão para falar na Athena Contemporânea, Rio de Janeiro

Exposição na Athena Contemporânea, com curadoria de Fernanda Lopes,terá a palavra como ponto de partida e reunirá obras recentes e inéditas de destacados artistas da cena contemporânea brasileira

A galeria Athena Contemporânea apresenta, a partir do dia 14 de fevereiro de 2017, a exposição Permissão para falar, cujo ponto de partida é a palavra. Com curadoria de Fernanda Lopes, a mostra terá obras de nove artistas: Beto Shwafaty, Diego Bresani, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laura Belém, Paula Scamparini, Sara Ramo, Vanderlei Lopes e Yuri Firmeza (que apresenta uma obra em parceria com Frederico Benevides).

A exposição reunirá cerca de dez obras, em diferentes técnicas e suportes, como vídeos, objetos, fotografias, gravuras e desenhos, produzidas recentemente. Além do recorte curatorial, a exposição reúne a mais nova produção de artistas que estão ganhando cada vez mais reconhecimento na cena artística nacional, como Lais Myrrha, que foi um dos destaque da última Bienal de Arte de São Paulo.

Em comum, todas as obras fazem referência ao discurso e à história como construções, com interesse especial nos usos e variações de significados que as palavras podem assumir, dependendo de quem fala, de quem escuta ou mesmo quando são silenciadas. “A exposição tem como ponto de partida a palavra. Não a palavra isolada, com significado único e fixo, mas sim a palavra como construção e como discurso, que pode assumir diferentes características e leituras a partir do ponto de vista e do contexto de leitura. Nenhuma palavra pode ser lida sozinha, isolada, fora de contexto. Toda fala é construída, se constrói a partir de pontos de vista e referências, e não elimina a possibilidade de existência de outros olhares”, explica a curadora Fernanda Lopes, ressaltando que “essa é uma exposição interessada em pensar o lugar da fala e da escuta".

ARTISTAS E OBRAS

Beto Shwafaty (São Paulo, 1977) terá duas obras na exposição. Em “Anhanguera/Bandeirantes” e “Abstrações Sujas”, ambas de 2015, o artista explora a história, a memória e utiliza textos extraídos da imprensa. No primeiro, trata da exploração da cidade de São Paulo pelos Bandeirantes e o desenvolvimento econômico representado pelas principais vias de acesso da cidade. Na segunda, mostra momentos na história do edifício Edise - sede da Petrobras no Rio de Janeiro. A obra é dividida em três partes independentes e uma delas estará na exposição.

Diego Bresani (Brasília, 1983)apresentará fotografias feitas em Paris, durante o ano que viveu lá. A observação do mundo, suas paisagens e personagens, compõem a essência do trabalho, uma espécie de diário pessoal onde tenta reconstruir sua própria história.

Jaime Lauriano (São Paulo, 1985) mostrará obras das séries “Vocês nunca terão direito sobre seus corpos” (2015) - um entalhe em madeira de frases de racismo institucional, encontradas em comunicados oficias e boletins de ocorrência, da Policia Militar Brasileira- , e “Bandeira Nacional” (2015), em que busca subverter, a partir de técnicas de tecelagem artesanal, o controle e a regulação deste símbolo. Ou seja, registrar diferentes maneiras de apropriação e alienação da Bandeira Nacional.

Lais Myrrha (Belo Horizonte, 1974) terá na exposição quatro trabalhos da série “Reconstituição”(2008), em que seleciona as páginas da Constituição em que aparece a palavra “exceção” e as destaca, colocando desfocado o restante do texto.

Laura Belém (Belo Horizonte, 1974) apresentará uma obra da série “Hoje tem cine” (2015), em que a artista cria letreiros em neon com títulos dos filmes que marcaram a história do Cine Palladium, que foi um dos cinemas mais importantes de Belo Horizonte. Na exposição, estará o letreiro de “Jardim de Guerra”, de Neville D'Almeida, recolhido pela censura em 1968.

Paula Scamparini (Rio de Janeiro, 1980) mostrará a videoinstalação “Nós-Tukano” (2015), em que, em uma das telas, o índio Carlos Doethiro Tukano, líder político e cacique da maior aldeia urbana no Brasil, a Aldeia Maracanã, narra a história de sua terra para um grupo de crianças, em sua língua-mãe. No vídeo ao lado, que acompanha a fala de Doethiro, homens-brancos de diversas origens procuram reproduzir as palavras dele mesmo sem entender seus significados.

Sara Ramo (Madri, 1975) apresentará a série de fotografias “O ensino das coisas” (2015), em que mostra como é difícil definir certos conceitos ou palavras. O ponto de partida são cartazes encontrados pela artista em uma escola de design abandonada no Uruguai. Os alunos tratavam de expressar o conteúdo da palavra através da forma.

Vanderlei Lopes (Paraná, 1973) participa da exposição com a obra "EEDDM II (El encuentro de dos mundos)", realizada em 2013. As formas orgânicas das folhas, fundidas em bronze, apresentam recortes geométricos e precisos feitos pela mão do homem (recortes tão precisos que não encontramos na natureza). Aqui, os "dois mundos" citados no título, podem ser a natureza e a cultura (que por muitos autores é considerada uma invenção do homem, como uma tentativa de domar a natureza).

Yuri Firmeza (São Paulo, 1982)& Frederico Benevides apresentam o curta-metragem “Entretempos”, selecionado para o 62º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen, na Alemanha. O filme também participou da Semana dos Realizadores em 2015 e levou o prêmio de Menção honrosa do Júri Oficial.O trabalho parte do material arqueológico encontrado na região portuária do Rio de Janeiro, fotografias, imagens de arquivo, documentos oficiais e de negociações dos escravos, para pensar o atual processo de gentrificação que atravessa, hoje, esta região.

SOBRE A CURADORA

Fernanda Lopes é curadora assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e do Departamento de Arquitetura da PUC-Rio. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, é organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016). Em 2012 recebeu Bolsa de Estímulo à Produção Crítica (Minc/Funarte) com pesquisa publicada sobre a Área Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Funarte/Figo Editora, 2013): Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970. Foi Membro do Conselho Cultural da Galeria IBEU (RJ, 2013-2014), Curadora associada de Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo - CCSP (2010-2012) e editora dos sites ARTINFO Brasil (2012-2013) e Obraprima.net (2000-2004). Mestre em História e Crítica de Arte pela EBA/UFRJ (2006), sua tese de mestrado, “Éramos o time do Rei” - A Experiência Rex, ganhou o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, da FUNARTE, em 2006, e em 2009 foi publicada pela Alameda Editorial (SP). Entre as curadorias que vem realizando desde 2009 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29a Bienal de São Paulo (2010)

Posted by Patricia Canetti at 8:01 PM

Eduardo Frota + Manoel Ricardo de Lima na Sem Título Arte, Fortaleza

O artista visual lança o programa Rotatórias com exposição individual (13 fev) e o poeta fará uma fala com caráter de intervenção política (15 fev)

Sobre o quadrado / da inconstância física à desobediência incorporada
Exposição individual do artista visual Eduardo Frota inaugura na Sem Título Arte o Programa Rotatórias. Abertura: Segunda-feira (13 de fevereiro), às 19 horas

Pensar um conceito para a inserção na cidade de um espaço de arte autônomo, é pensar um lugar voltado à produção e ao pensamento crítico da arte contemporânea experimental. O artista Eduardo Frota torna possível este desenho ao intervir no espaço expositivo da Sem Título Arte, inaugurando o Programa de Exposições Rotatórias. Uma intervenção que indica a posição de atuação deste espaço de arte em Fortaleza.

Rotatórias é um programa de exposições e proposições estéticas de artes visuais, intercaladas por performances de dança, música, literatura e artes cênicas. A cada 40 dias, um artista visual é convidado a ocupar o espaço da galeria propondo livremente intervenções críticas contemporâneas para a cidade. Eduardo vem atuando nesse sentido por meio de seus trabalhos que extrapolam as questões da própria arte e avançam na dimensão política ampliando o debate sobre o lugar do sujeito na contemporaneidade.

O artista discute o próprio estatuto do cubo branco, muda a topologia do espaço, instaura um quadrado geométrico que provoca um movimento de torção na estrutura física historicamente rígida e esgarça a dinâmica de funcionamento da programação da Sem Título Arte. Os 4 troncos de eucalipto reflorestado, medindo cada lado aproximadamente seis metros, formam um quadrado inclinado, com alturas entre 0,80m a 1,50m que atravessa os três espaços expositivos, complementado pelo piso coberto de brita que dá volume e sensorialidade à obra instalada.

Com SOBRE O QUADRADO, o artista reitera o seu interesse de pensar o espaço nos seus aspectos de significado e significante, a partir dos conceitos de espaço expositivo de que conhecemos na História da Arte e da inflexibilidade institucional. Desloca ainda o visitante para a experiência do corpo que adentra a obra e a percorre pelos três ambientes, mas ao mesmo tempo não consegue vê-la na sua totalidade. Nas palavras de Frota “é não apreender retinianamente, o que propõe uma experiência sensorial de deslocamento do corpo”. Dado recorrente nos seus trabalhos interventivos. Mas será mesmo um quadrado?

Se o quadrado é uma forma geométrica idealmente perfeita e abstrata, Eduardo o constrói com o embate dos materiais e sua condição de imperfeição física. Daí a sua ação política de sujeito no mundo, escavando uma utopia possível através da arte. Sem ser um matemático, o artista usa o elemento da geometria como disparador da primeira de uma série de quatro projetos de observação das figuras geométricas.

Jacqueline Medeiros, que divide com Elizabeth Guabiraba a concepção da Sem Título Arte, observa na obra as relações com a geometria. “Sabemos que o conhecimento geométrico surgiu de forma intuitiva, a partir da observação humana ou, em outras palavras, a partir da consciência de que o homem apresenta um senso geométrico inato, adquirido na observação à natureza. Assim surgiram os primeiros polígonos: o quadrado e o retângulo. Esse tipo de acontecimento que deu origem à geometria, denominado de Geometria do Subconsciente, é utilizado por Eduardo Frota para criar a ficção de um quadrado como uma ocupação que cria um problema de sintaxe entre forma e conteúdo. É um quadrado circular que leva o visitante na direção de uma outra percepção: a de fazer a quebra da perfeição dos ângulos retos e criar uma figura geométrica perceptiva. Um quadrado que é um círculo, como resultado do movimento que atravessa todo o espaço. Ângulos retos criam a ilusão de um círculo que desconsidera as paredes, as amarras do cubo branco, sua rigidez física e conceitual. A imperfeição dos ângulos retos que recusam as amarras da perfeição.

Eduardo Frota - Escultor e professor. Chega ao Rio de Janeiro em 1978. Nos dois anos seguintes, assiste ao Curso Intensivo de Arte/Educação (Ciae), na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), no Rio de Janeiro. Em 1986, licencia-se em educação artística pelas Faculdades Integradas Bennet, na mesma cidade. Mostra trabalhos no Salão Carioca de Arte em 1982 e 1986.

Em 1983, participa da Oficina do Corpo da Escola de Artes Visuais (EAV/Parque Lage), Rio de Janeiro. Em 1984 e 1985, estuda no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) com Gastão Manuel Henrique (1933), faz o curso Volume/Espaço; com Eduardo Sued (1925), participa do curso Diálogo; e, com Ronaldo Brito (1949), lê O Olho e o Espírito, do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Sua primeira individual acontece na Fundação Nacional de Arte (Funarte), em 1988. Em 1996, recebe a bolsa do Projeto Uniarte 96, da Faperj/UFRJ. Um ano depois, ganha o grande prêmio do salão Arte Pará.

Em 2001, é curador adjunto do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural 2001-2003, para o qual realiza um mapeamento das artes nas regiões Norte e Nordeste e uma curadoria da exposição com jovens artistas. Nessa época, é coordenador do Núcleo de Artes Plásticas do Alpendre, em Fortaleza. A partir dos anos 2000, começa a mostrar grandes instalações com peças em madeira, como faz na 25ª Bienal de São Paulo (2002). Exposições individuais: Espaço e Sentido (2002 : Recife, PE), Eduardo Frota (2003 : Natal, RN), Paisagens no Espaço (2003 : São Paulo, SP), Espaço e Sentido: intervenções extensivas VII (2003 : Rio de Janeiro, RJ, Intervenções Extensivas x Vila Velha ES (2005 : Vila Velha, ES), A Intervenção em Trânsito (2006 : Rio de Janeiro, RJ)

Geografias imateriais + Cingapura
Programa Na Lona, com o poeta e professor Manoel Ricardo de Lima. Quarta-feira (15 de fevereiro), às 19h, na Sem Título Arte.

O Programa Na Lona ganha, neste mês de fevereiro, a presença poética de Manoel Ricardo. Ele que é um querido da cidade, que viveu durante anos em Fortaleza e deixou permanências, invenções afetivas ao modo do Alpendre – a casa de arte, cultura e pensamento, que integrou como um dos fundadores.
Em Geografias Imateriais + Cingapura, Manoel fará uma fala com caráter de intervenção política, dividida em duas pequenas partes: “A primeira trata um pouco do meu trabalho perseguindo uma proposição de Maria Gabriela Llansol, a das "geografias imateriais", para esboçar algumas perguntas em torno daquilo que pode ser produzido por uma vagabundagem do pensamento em direção a uma partilha da terra e a uns mundos e que pode também, de algum modo, como forma de coragem, problematizar ainda o ser das coisas: quais textos, imagens, memórias inaparentes.”

Na segunda parte, leitura de dois fragmentos de uma narrativa de pesadelo, ainda não publicada pelo autor, intitulada Cingapura, que tenta tocar a proposição apresentada na primeira parte da fala.

Na Lona são encontros com artistas, teóricos, pesquisadores, poetas e escritores, que acontecem gratuitamente na Sem Titulo Arte. Se, por um lado, o nome dado ao programa nos remete à precariedade do cenário de arte no país, por outro, nos lança à liberdade inventiva de criar a partir dos encontros, tal como os artistas de circo mambembe.

Manoel Ricardo de Lima - Poeta, professor da Escola de Letras e do PPGMS na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO. Publicou "Falas Inacabadas" [um livro-transparência com a artista visual Elida Tessler]; "Embrulho"; "Quando todos os acidentes acontecem"; "Geografia Aérea" e "Um tiro lento atingiu meu coração"[poemas]; "Entre Percurso e Vanguarda - alguma poesia de P. Leminski"; "Fazer, Lugar - a poesia", de Ruy Belo" e "A forma-formante: ensaios com Joaquim Cardozo" [Ensaios]; "As Mãos" [romance]; "Jogo de Varetas" [narrativas] e "Maria quer o mundo" [para crianças].

Organizou "Edifício Rogério - Textos críticos de Rogério Sganzerla" [com Sérgio Medeiros];
"A visita" [narrativas, com Isabella Marcatti] e A nossos pés – poemas para Ana Cristina Cesar. Co-roteirista do documentário “Só tenho um norte:” e do longa-ficção “LINZ – quando todos os acidentes acontecem” [ambos dirigidos por Alexandre Veras]. Coordena as coleções "Poesia de Ruy Belo", para a editora 7Letras, RJ e "Móbile de mini-ensaios" para a Lumme Editor, SP.

Sobre a obra

Sobre poesia, ainda: Manoel Ricardo de Lima

La poesía como un hacer. Entrevista a Manoel Ricardo de Lima

Manoel Ricardo de Lima lança reunião de poemas e livro sobre poeta e engenheiro Joaquim Cardozo

Garupa entrevista Manoel Ricardo de Lima

Posted by Patricia Canetti at 6:25 PM

fevereiro 10, 2017

João Farkas na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro

Fotógrafo e pesquisador da cultura popular, o artista apresentará uma série de fotografias sobre o carnaval

A Galeria Marcelo Guarnieri, em Ipanema, inaugura, no dia 9 de fevereiro de 2017, a exposição Série Azul - Caretas de Maragojipe, com uma série de trinta fotografias sobre carnaval feitas por João Farkas (São Paulo, 1955), em Maragojipe, pequena cidade no recôncavo baiano. Filho do também fotógrafo Thomaz Farkas (1924-2011), as obras de João integram importantes coleções no Brasil e no exterior, como Maison Européenne de la Photographie, na França; International Center of Photography (ICP), nos EUA; Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), e Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.

A pesquisa para a série fotográfica que será apresentada na exposição começou há três anos, quando João Farkas conheceu a tradicional festa de carnaval de Maragojipe, que recebeu o título de Patrimônio Imaterial do Estado, por manter, até hoje, a tradição centenária dos “caretas”, pessoas que se fantasiam com roupas coloridas e máscaras de pano que cobrem todo o rosto, com duas grandes orelhas pontudas para o alto. “Essa era a forma das pessoas curtirem o carnaval incógnitas. Esta maneira de brincar o carnaval acontecia em toda a Bahia, há registros em Salvador, mas com o tempo a tradição foi se perdendo e só se manteve nessa pequena cidade do recôncavo baiano”, conta João Farkas, que em seu trabalho pesquisa a cultura popular, já tendo lançado livros sobre a cidade de Trancoso e sobre a Ocupação da Amazônia.

João Farkas ressalta que as fotografias que serão apresentadas na exposição “registram o carnaval popular em toda exuberância criativa, que é própria do brasileiro em geral e dos baianos especialmente”. Nas fotos, os “caretas” aparecem em um fundo azul, que foi descoberto pelo fotógrafo na cidade. O muro, de um azul intenso, virou uma espécie de estúdo fotógrafico, onde ele registrou os “caretas” que passavam durante o carnaval. Por isso, a série foi intitulada “Caretas de Maragojipe - Série Azul”. As fotos, que medem 60 cm X 40 cm cada, são impressões digitais de altíssima qualidade em jato de tinta, sobre alumínio, garantindo sua permanência e conservação.

Durante três anos, o fotógrafo frequentou e registrou o carnaval de Maragojipe, até chegar nas fotos que serão apresentadas na exposição. “No inicio registrei toda riqueza e variedade da festa em Maragojipe, mas aos poucos fui percebendo e focando nos ‘caretas’ e, finalmente, no grande insight percebi tratar-se de retratos mascarados, com suas expressões e personalidades, num jogo fascinante de simultaneamente esconder e revelar”, diz.

Com um aspecto visual riquíssimo, o que chama a atenção de João Farkas é que “essa tradição é o reconhecimento de que criatividade e arte não são privilégio dos ‘artistas’ mas são características universais latentes em todos os seres humanos".De acordo com o curador Diógenes Moura: "este trabalho mostra uma tradição popular registrada anteriormente por fotógrafos como Pierre Verger e Marcel Gotherot, mas agora resignificada pelas informações culturais contemporâneas sem perder suas raízes”. O também curador Paulo Herkenhoff considera que "esta Série Azul sintetiza a expressão da cor do século XXI”.

João Farkas nasceu em São Paulo, em 1955, e vive e trabalha entre São Paulo e Salvador. Formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo e continuou sua formação como fotógrafo em Nova York, no International Center of Photography e na School of Visual Arts.Seu trabalho-documento “Retratos da Ocupação da Amazônia” recebeu a bolsa Vitae e o Prêmio Aberje, em 1988. Seu trabalho “De Trancoso ao Espelho da Maravilha” que retrata a vida naquele vilarejo baiano antes da invasão turística, foi objeto de publicação em 3 livros: “Museu Aberto do Descobrimento” e Nativos e Biribandos” e “Trancoso”, publicado pela Editora Cobogó, em 2016. Publicou, ainda, o livro “Amazônia Ocupada” (2015) coeditado e apresentado por Paulo Herkenhoff.

Dentre suas exposições mais recentes estão: “A cor do Brasil” (2016), no Museu de Arte do Rio(MAR); “Amazônia”, na Galeria Marcelo Guarnieri, São Paulo, e no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, ambas em 2015; “Amazônia ocupada”, no SESC Bom Retiro, em São Paulo, também em 2015; “Histórias Mestiças” (2014), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Órbita” (2014), na Galeria Marcelo Guarnieri, em Ribeirão Preto, entre outras.

Em 2015 o fotógrafo doou a sua documentação sobre a Vila de Trancoso onde foi instalado um Memorial do Povo, da Paisagems e da Cultura de Trancoso.

Posted by Patricia Canetti at 3:17 PM

fevereiro 9, 2017

Pequenos Formatos: Dimensão e Escala na A2 + Mul.ti.plo, Petrópolis

Jacaranda sobe a serra e expõe nas Videiras com trabalhos de pequenos formatos e curadoria de Felipe Scovino

De 11 de fevereiro a 9 de abril, 24 artistas do Jacaranda irão expor suas obras na galeria A2 + Mul.ti.plo, na mostra Pequenos Formatos: Dimensão e Escala: Afonso Tostes, Ana Holck, Angelo Venosa, Antonio Dias, Barrão, Elizabeth Jobim, Cabelo, Carlos Vergara, Daisy Xavier, Daniel Senise, Everardo Miranda, Gabriela Machado, José Bechara, José Resende, Marcone Moreira, Marcos Chaves, Maria Laet, Mariana Manhães, Paulo Vivacqua, Raul Mourão, Tomás Ribas, Vicente de Mello, Waltercio Caldas e o artista convidado, Miguel Rio Branco.

– Durante muito tempo, a Serra Fluminense virou as costas para a arte contemporânea. Chegou a hora de fazer uma exposição com um timaço de artistas com obras, apesar do formato, de imensa poesia. A mostra do Jacaranda é uma oportunidade de se conhecer o mais denso dessa produção, conta Maneco Muller, consultor de arte da galeria.

Carlos Vergara, fundador do Jacaranda, acredita que o Vale das Videiras concentra uma série de pessoas interessantes, que gostam de arte e que, muitas vezes, não tem tempo e disposição para frequentar o circuito artístico. Nesse lugar que é de lazer, vinho, comida..., há sempre motivos para bons encontros. A arte contemporânea é o assunto. Mesmo trabalhos que tenham formatos pequenos podem ter um gesto grandioso. O texto do curador, Felipe Scovino, deixa muito claro isso.

– A grande novidade desta exposição é a importante iniciativa da Mul.ti.plo de espalhamento da visibilidade dos trabalhos que ficam sempre presos a centros grandes e conhecidos. Esses artistas já têm as suas obras reconhecidas. Não há lugar melhor para acolher essa mostra do que o Vale das Videiras. Trata-se de um lugar com características especiais na Serra. Desde sempre, tem uma associação local muito forte e unida; uma comunidade com elevada consciência ecológica; uma atmosfera para cima; uma convivência positiva e saudável, diz José Bechara, outro fundador do Jacaranda.

– É preciso sublinhar que a arte educa, sim. Frequentar e confrontar-se com arte apura muita coisa. Não é para ser fácil, não. O que é difícil de compreender nos faz pensar melhor. Quem se interessa, tem uma vida mais rica e interessante, completa.

– Essa exposição configura-se, visto a quantidade e qualidade de obras, num panorama visual de fôlego das artes visuais brasileiras e, portanto, num importante estudo sobre as produções multifacetadas desses artistas, – resume Scovino.

Posted by Patricia Canetti at 8:46 PM

fevereiro 5, 2017

Lugares do Delírio no MAR, Rio de Janeiro

O Museu de Arte do Rio – MAR, sob a gestão do Instituto Odeon, inaugura em 7 de fevereiro a exposição Lugares do delírio. Idealizada por Paulo Herkenhoff e com curadoria de Tania Rivera, a mostra apresenta cerca de 150 trabalhos – entre instalações, mapas, performances, pinturas e objetos – de diversos artistas, como Cildo Meireles, Laura Lima, Anna Maria Maiolino, Arthur Bispo do Rosário, Fernand Deligny, Lygia Clark, Raphael Domingues, Gustavo Speridião, Fernando Diniz, Cláudio Paiva, Geraldo Lúcio Aragão e outros. Trata-se de uma reflexão política e ética sobre loucura e arte. “A intenção é colocar em suspenso a delimitação entre o normal e o dito “louco”. A arte e a loucura têm em comum a força de transformação da realidade e isso está representado na exposição”, explica a curadora Tania Rivera, que é psicanalista e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A palavra delírio significa algo que desvia dos padrões e cria novas configurações de realidade. E é por isso que ela é usada no título de uma mostra que traz trabalhos de artistas diagnosticados com algum transtorno psíquico, mas também de nomes conhecidos na arte, que produzem obras que recusam as vias tradicionais de representação ou que questionam de certa forma o que é chamado de loucura. Além disso, também apresenta o resultado do trabalho de artistas visuais em parceria com pacientes de instituições psiquiátricas. As obras estarão dispostas de maneira que se entrecruzem e comuniquem espacialmente. Há uma horizontalidade em todas as ações da exposição. “Queremos mostrar um aspecto lúdico e inusitado de transformação da realidade e organizar as obras para uma proposital contaminação visual”, conta Tania.

O que há de delirante na arte e o que há de reflexão sobre a loucura na arte são questionamentos que orientaram a pesquisa da curadoria, que organizou a exposição com uma grande diversidade de gêneros e linguagens. “Estamos trazendo artistas emblemáticos como Arthur Bispo do Rosário, que viveu mais de 50 anos internado em clínica psiquiátrica, mas também outros não tão conhecidos do público, como Luis Guides, de Porto Alegre, Maurício Flandeiro, do Ceará e Fernando Lima, de Belém, em um diálogo com importantes artistas contemporâneos como Cildo Meireles, Laura Lima e Anna Maria Maiolino, por exemplo”.

Após muitos anos sem expor na cidade, Anna Maria Maiolino fará, na abertura da exposição, uma performance com a participação de Sandra Lessa. Em “In Atto”, a artista acompanha, com sua presença delicada porém extremamente forte, o processo de liberação de uma mulher que se desvencilha de amarras. Laura Lima – que conta ter sido decisivo para sua decisão de se tornar artista acompanhar um surto de seu irmão – leva para a mostra a obra interativa “Novos costumes”, que são vestes em vinil que o público poderá experimentar. Em “Ascenseur”, uma mão por trás da parede aparecerá de forma inusitada, em busca de um molho de chaves. Ana Linnemann também vai tirar os visitantes do eixo com a instalação que vai mexer, literalmente, com uma das pilastras dos pilotis do museu.

A psiquiatra Nise da Silveira, que considerava a esquizofrenia um dos “estados inumeráveis do ser”, citando o artista e ator francês Antonin Artaud, é lembrada na mostra com trabalhos que fazem parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, criado por ela em 1952 no então denominado Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro. Obras de Fernando Diniz e Raphael Domingues estarão na exposição, que também apresentará fotografias e desenhos de Geraldo Lúcio Aragão, que frequentou os ateliês de arte de Nise em fins dos anos 1950, mas apenas recentemente foi destacado do acervo da instituição.

A obra “Razão/Loucura” (1976), de Cildo Meireles, representa uma espécie de definição poética da exposição, trazendo uma reflexão sobre a sutil diferença entre razão e loucura. De Cildo, serão também exibidas 42 imagens da série de fotografias “Cottolengo”, feitas no hospital Vila de São José Bento Cottolengo em 1976. Uma delas foi utilizada na obra “Zero Cruzeiro”, da qual será apresentada a nova versão “Zero Real” (2013). Outra obra do artista presente na mostra é “Liverbeatlespool”, criada em 2004 para a Bienal de Liverpool, que consiste em uma bicicleta que vai circular pelo entorno do museu com alto-falantes que tocam ininterruptamente músicas dos Beatles sobrepostas e invertidas.

Pela primeira vez na cidade, Lugares do delírio traz ainda o trabalho do educador francês Fernand Deligny, morto em 1996, que influenciou autores como Gilles Deleuze e Félix Guattari. Na fronteira entre tratamento e arte, seus colaboradores traçaram mapas com gestos e deslocamentos de crianças e adolescentes autistas em áreas de convivência mantidas pelo educador a partir de fins dos anos 1960. De Deligny, a exposição apresenta ainda revistas com reproduções de desenhos e trechos de textos.

Lygia Clark também está na mostra, com a emblemática porém pouco conhecida “Camisa de Força”, de 1969. “A exposição afirma que os lugares do delírio são muitos e variados, e tenta assim explorar e questionar as fronteiras entre normal e patológico, entre arte e vida, entre o museu e o mundo”, convida Tania Rivera para a curadoria que dá continuidade ao projeto Arte e Sociedade no Brasil – dos quais fizeram parte as mostras O abrigo e o terreno (2013) e Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas (2014).

Posted by Patricia Canetti at 9:52 PM

A Terceira Mão na Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo

Temos o prazer de apresentar A Terceira Mão, exposição coletiva sob curadoria de Erika Verzutti que abre a programação 2017 da Fortes D’Aloia & Gabriel. A mostra reúne um conjunto de pinturas que têm em comum a tridimensionalidade e o uso de objetos em sua superfície. Essa questão, recorrente na pintura contemporânea, também permeia a obra da própria artista, que cada vez mais trabalha esculturas que migram para a parede.

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A “terceira mão” do título alude a um ritual de finalização, onde penas, dedos, ovos, sangue, cabelos, cigarro e dinheiro são adicionados no momento final de produção da obra. É também uma citação enviesada do processo descrito por Philip Guston1, no qual uma presença externa (divina?) interfere nas decisões do artista. Diferentemente dos objetos adicionados para encorpar telas expressionistas abstratas, estes trabalhos demonstram outras motivações, não exclusivas à pintura, mas relacionadas ao atual “estado da imagem”.

A leitura de imagem na contemporaneidade está permeada de percepções híbridas e imateriais, e se dá através de telas de computadores e telefones, em combinações de emojis e caracteres. Mas diferentemente do engajamento analítico da arte pós-internet, que se utiliza dessa mesma linguagem, essas obras relacionam-se de forma oposta e abraçam a riqueza e os desafios da visualidade com suas abordagens intuitivas. São trabalhos que permitem uma maior discussão sobre a diversidade das mídias, além dos papéis da arte, do artista e do espectador dos dias atuais.

A pintura Adriano, 2015, de Pedro Caetano, traz uma face caolha colorida como nas histórias em quadrinhos, apontando um cigarro aceso para fora da tela. Com uma linguagem similar, Divine Tree, 2015, de Matthew Lutz-Kinoy, apresenta uma orgia de macacos em grande proporção no teto da galeria, forçando o espectador a desviar o olhar para adentrar no mundo extraordinário dos protagonistas. Já Daniel Rios Rodriguez e Gokula Stoffel exploram a materialidade em seus trabalhos. Enquanto Rodriguez reúne objetos de origem natural e sintética em New Walk, 2015/2016, numa combinação abstrata de cores sóbrias e quentes, Stoffel na obra Véu, 2016, aborda a intimidade e aos laços afetivos através de uma composição formada por uma trança de cabelos sintéticos, uma peça de tear e um lençol branco usado por um casal durante dez anos.

Gabriel Lima, Francesco João Scavarda e Adriana Varejão trabalham técnicas clássicas em suas pinturas. Lima utiliza tinta óleo e acrílica para compor a tela Untitled, 2017, que lembra um cenário espacial, mas logo nos traz de volta com as sete peças de dominós coladas em sua superfície. O guache é usado por Scavarda em Untitled, 2017, para retratar talhas remendadas por fitas adesivas, sugerindo lesões em um mar cinza infinito. Quadro Ferido, 1992, obra histórica de Varejão, traz um ferimento exposto diretamente na representação pictórica de uma narrativa colonial.

A artista alemã Isa Genzken mostra Geldbild X, 2014, uma tela com notas e moedas coladas, numa tentativa de desassociá-las de sua função primária para exaltar matéria, forma e iconologia. Diferentemente de Genzken, Daniel Sinsel incorpora materiais orgânicos como sementes ou peles de animais em composições que perpassam a superfície bidimensional da tela. Em Untitled, 2012, quatro dedos extrapolam os limites da tela, ao passo que em Untitled, 2013, sementes de castanhas não conseguem sobrepor as tramas.

Os trabalhos de Daniel Albuquerque e Erika Verzutti representam a própria tela e trazem o relevo como mídia. Em Untitled, 2016, Albuquerque pinta diretamente na parede com tinta spray verde e vermelho, que é sobreposta por uma peça manufaturada em tricô de cores terrosas, alterando a percepção das cores. Verzutti, em Paisagem com Ovos, 2017, utiliza um material clássico como o bronze para situar ovos de codorna na parte inferior transformando a sua superfície.

1 Conversations with Philip Guston. Filme dirigido por Michael Blackwood, encontrado aqui.


We are pleased to present The Third Hand, a group show curated by Erika Verzutti, opening the 2017 programming at Fortes D’Aloia & Gabriel. The exhibition brings together a set of paintings that commonly share tri-dimensionality and the use of objects on their surface. This issue, recurrent in contemporary painting, also pervades the work of the artist herself, who has been progressively working with sculptures that migrate to the wall.

The exhibition title “the third hand” is an allusion to a finalizing ritual, in which feathers, fingers, eggs, blood, hair, cigarette and money are added at the end of the work production. It is also a skewed reference to a process described by Philip Guston1, in which an external presence (a divine one?) interferes in the artist´s decisions. Unlike those objects added to embody abstract expressionist canvases, these pieces denote distinct motivations, not exclusive to painting, but related to the current “state of the image”.

Image reading in our contemporary time is permeated with both hybrid and immaterial perceptions, and it comes about through computers and phones screens, through combinations of emojis and characters. But differently from the analytical engagement of the post-internet art, which makes use of such languages, these pieces establish a connection in an opposite manner, embracing the richness and challenges of the visual with their intuitive approaches. They are pieces that allow a greater discussion on media diversity, as well as the roles of the art, the artist, and the viewer of the present time.

The painting Adriano, 2015, by Pedro Caetano, shows a colorful one-eyed face as in comic strips, sticking a lit cigarette out of the canvas. With a similar language, Matthew Lutz-Kinov´s Divine Tree, 2015, portrays a large-scale orgy of monkeys on the gallery ceiling, compelling the viewer to deflect the eye to enter the extraordinary world of the protagonists. Daniel Rios Rodriguez and Gokula Stoffel, in turn, explore the materiality in their works. Rodriguez gathers together natural and synthetic objects in New Walk, 2015/2016, in an abstract combination of somber and warm colors, whereas Stoffel in Véu [Veil], 2016, approaches intimacy and emotional ties through a composition formed by a braid of synthetic hair, a piece of a weaver´s loom and a white sheet used by a couple for ten years.

Gabriel Lima, Francesco João Scavarda and Adriana Varejão apply classic techniques in their paintings. Lima uses oil and acrylic paint to compose Untitled, 2017, which resembles an outer space scene, but it immediately brings us back with the seven pieces of dominoes glued on its surface. Gouache is used by Scavarda in Untitled, 2017, to portray carvings patched with adhesive tape, suggesting lesions on an infinite gray sea. Quadro Ferido, 1992, a historic work by Varejão, brings an injury exposed directly in the pictorial representation of a colonial narrative.

The German artist Isa Genzken shows Geldbild X, 2014, a piece composed of bills and coins glued together in an attempt to dissociate these from their primary function to exalt matter, form and iconology. Unlike Genzken, Daniel Sinsel incorporates organic material such as seeds or animal skin in compositions that surpass the two-dimensional surface of the canvas. In Untitled, 2012, four fingers extrapolate the edges of the canvas, whereas in Untitled, 2013, nut seeds can not superpose the texture.

The works from Daniel de Albuquerque and Erika Verzutti represent the canvas itself, bringing relief as media. In Untitled, 2016, Albuquerque paints directly on the wall using green and red spray paint, overlaid by an earthy-colored knitted piece, thus altering the color perception. Verzutti, uses in Paisagem com Ovos [Landscape with Eggs], 2017, a classic material such as bronze to place quail eggs at the bottom of the piece, transforming its surface.

[1] Conversations with Philip Guston. Film directed by Michael Blackwood, available here.

Posted by Patricia Canetti at 4:59 PM

fevereiro 4, 2017

Metrópole na Nara Roesler, São Paulo

Para inaugurar seu calendário expositivo do ano, a Galeria Nara Roesler São Paulo, paralelamente à individual do cubano Alexandre Arrechea, apresenta Metrópole, coletiva formada por 28 obras concebidas por: Alberto Baraya, Alice Miceli, Cao Guimarães, Hélio Oiticica, Isaac Julien, Lucia Koch, Marco Maggi, Marcos Chaves, Melanie Smith, Milton Machado, Paul Ramírez Jonas, Paulo Bruscky, Vik Muniz e Virginia de Medeiros. Organizada pela diretora artística da galeria, Alexandra Garcia Waldman, a exposição traz o olhar desses artistas para a cidade e a vida urbana, com suas especificidades, complexidades e adversidades, sob uma ótica crítica, criativa e poética.

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Brasília, Belo Horizonte, Nova Iorque, Santiago, Amsterdam, Recife são algumas das cidades visitadas nessa exposição. Enquanto Hélio Oiticica e Neville D'Almeida revelam a eletrizante Nova Iorque dos anos 70 no curta Agrippina é Roma Manhattan (1972), sobre a mesma metrópole Milton Machado lança seu olhar para os carros, em NY Cars (2016), e Vik Muniz retrata nuvens, em sua série “Pictures of Clouds: 59th Bridge” (2002).

Se Cao Guimarães foca o lado mais urbano e caótico da capital federal com Brasília, (2011), o colombiano Alberto Baraya revisita a cidade e seus monumentos pela poesia, na série de fotografias Estudos comparados modernistas (2010-2011). Para o americano Paul Ramirez Jonas, a consciência do coletivo é algo fundamental na vida urbana, como sugere a serigrafia Assembly (Ghazi Stadium) (2013). Já Paulo Bruscky flerta com o humor na série Amsterdam erótica (1982), realizada no período em que viveu na capital holandesa. Num mundo onde a maior parte da população vive em cidades, Metrópole apresenta como alguns artistas, nos últimos 40 anos, percebem e transitam entre os lugares onde habitamos.


Starting its 2017 exhibition calendar, concurrently with a solo show by Cuban artist Alexandre Arrechea, Galeria Nara Roesler | São Paulo presents Metrópole, a group show comprising 28 pieces by Alberto Baraya, Alice Miceli, Cao Guimarães, Hélio Oiticica, Isaac Julien, Lucia Koch, Marco Maggi, Marcos Chaves, Melanie Smith, Milton Machado, Paul Ramírez Jonas, Paulo Bruscky, Vik Muniz, and Virginia de Medeiros. Organized by the gallery’s art director Alexandra Garcia Waldman, the exhibition features these artists’ takes on the city and urban living, with its specificities, complexities, and adversities, from critical, creative, and poetic viewpoints.

Brasília, Belo Horizonte, New York, Santiago, Amsterdam, and Recife are some of the cities covered in the show. Hélio Oiticica and Neville D'Almeida portray the electrifying New York of the 70s in their short film Agrippina é Roma Manhattan (1972), whereas Milton Machado turns to the city’s automobiles in NY Cars (2016), and Vik Muniz looks to the skies for his Pictures of Clouds: 59th Bridge series (2002).

Whereas Cao Guimarães’ Brasília (2011) depicts the more urban, chaotic side of the Brazilian federal capital, Alberto Baraya of Colombia revisits the city and its landmarks through poetry in the photo series Estudos comparados modernistas (2010-2011). For the US-born Paul Ramirez Jonas, collective awareness is key to urban life, as his serigraph Assembly (Ghazi Stadium) (2013) implies. For his part, Paulo Bruscky dabbles in humor in the series Amsterdam erótica (1982), created during his time living in the Dutch capital. In a world where most of the population lives in cities, Metrópole shows how some artists in the last 40 years have viewed and journeyed through the places we inhabit.

Posted by Patricia Canetti at 8:30 AM

fevereiro 1, 2017

Alexandre Arrechea na Nara Roesler, São Paulo

A Galeria Nara Roesler apresenta Refazer, a primeira individual de Alexandre Arrechea em seu espaço, para inaugurar o calendário de 2017. A mostra reúne cerca de 30 trabalhos do prestigiado artista cubano. Fundador e membro (de 1991 a 2003) do coletivo artístico cubano Los Carpinteros, Arrechea apresenta na sede paulistana da galeria um novo projeto, no qual reconstitui as principais ideias que vem desenvolvendo nos últimos quatro anos. São grandes murais aplicados diretamente na parede da galeria, desenhos/aquarelas e esculturas. Segundo ele, Refazer retoma a questão do mapa e do fragmento, eixos centrais de sua investigação.

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Concebidas como uma grande instalação, os trabalhos de Refazer dialogam entre si e estabelecem uma analogia ao processo de preparação do solo para o cultivo no campo. “Meu objetivo é desenvolver os processos análogos com a pintura, a escultura e a instalação, mantendo as superfícies das obras abertas à possibilidade de serem transformadas outra vez, assim como acontece com os terrenos arados”, diz o artista. Segundo ele, ainda, esta ação se sucede com cada novo plantio, por isso mesmo que elegeu esse método para instalar as obras em superposição.

Na exposição haverá um grande mural como ponto de partida que simula um campo arado. Sobre ele serão colocados as aquarelas e os objetos. Cada elemento sobre o mural funcionará como uma nova afirmação, uma nova representação do terreno anterior, conseqüentemente um novo território a inaugurar nova possibilidade. “Valendo-me desta fórmula poderíamos gerar um mapa de variações infinitas. Um método circular de entender a realidade, que se subverte uma e outra vez, no qual cada obra constitui uma afirmação que não nega a anterior, completa”.

A obra de Alexandre Arrechea destaca-se por empregar metáforas visuais para temas sociais da atualidade como desigualdade, marginalização cultural e o polêmico lugar da arte numa sociedade globalizada e centrada na mídia. Assim como muitos artistas de sua geração, manipula símbolos e materiais de modo ambivalente, fazendo com que o espectador deixe a obra sem ter um ponto de vista específico. A disseminação dos sistemas de vigilância e a obsessão por controle existentes na atualidade foram grande fonte de inspiração para os trabalhos que o artista começou a realizar em 2003. Suas pesquisas sobre as relações entre o público e o privado o levaram a desenvolver uma produção que lida com perda de privacidade, fragilidade, memória e o fracasso do controle e do poder. Obras como The Garden of Mistrust (2003-2005) e Perpetual Free Entrance (2006) se ocupam, até certo ponto, de problemas de acessibilidade ou abordagem relativos a obras de arte.

Na Bienal de Havana de 2012 sua obra consistia em uma casa de aço dividida em onze seções. A extensão das paredes ou a separação entre elas mudava diariamente, dependendo das altas ou baixas do índice econômico Dow Jones. Em 2015 ocupou a Park Avenue em 2013, surpreendendo Nova York, com 10 esculturas em grande escala representativas de edifícios icônicos da cidade, como o Chrysler Building, o Citicorp Center, o Empire State Building, entre outros. Na última edição da Bienal cubana, em 2015, ganhou uma grande individual no Museu Nacional de Belas Artes, em Havana, O Mapa do Silêncio, na qual com vídeos, instalações, pinturas e painéis, afirmava a sua ideia de silêncio: “o silêncio pode ser por boas ou más causas e essa exposição procura ser um mapa dos múltiplos silêncios”. Com esta exposição Arrechea foi prestigiado com o prêmio de melhor artista cubano pela Fundación Farber.

Alexandre Arrechea (n. 1970, Trinidad, Cuba) vive e trabalha em New York City. Arrechea é Bacharel em Belas Artes pelo Instituto Superior de Arte (ISA), Havana, Cuba (1994). Como membro fundador (de 1991 até 2003) do Coletivo Cubano Los Carpinteros, seu trabalho emprega metáforas visuais de temas sociais recorrentes como desigualdade, privação de direitos e a posição disputada da arte em uma sociedade global, impulsionada pelos meios de comunicação. Desde o retorno à sua prática individual, ele se concentra em esculturas em grande escala e instalações que críam vigilância e controle, primeiramente esboçadas em aquarelas. Sua prática inclui a instalação, a pintura e o uso do que ele considera objetos com “elementos da verdade”; Esta última categoria inclui restos encontrados de lugares, como detritos, fragmentos de paredes e fita métrica. Mais conhecido por projetos monumentais como NOLIMITS (2013), as dez esculturas na Park Avenue inspiradas em edifícios icônicos de NYC, torcidas e dobradas como se fossem mangueiras maleáveis de jardim. Em 2015, Arrechea ganhou o Prêmio Artista do Ano pela Fundação Howard e Patricia Farber em Havana durante a 12ª Bienal de Havana. Em 2016, o Coachella Music Festival, em Palm Springs, Califórnia, comissionou o artista e as Katrina Chairs elevaram a comunidade em torno do Furacão Katrina que em 2005 abateu a costa do Golfo dos EUA com ventos de até 127 quilômetros por hora. Arrechea realizou exposições individuais em instituições como o Museu Nacional de Belas Artes de Havana; PS1 Contemporary Art Center em Nova Iorque; Museu de Arte do Condado de Los Angeles (LACMA) em Los Angeles; E o New Museum em Nova York.


Galeria Nara Roesler presents Refazer, Alexandre Arrechea’s first solo exhibition at the gallery, starting its 2017 exhibition calendar. The show features 30 of the acclaimed Cuban artist’s creations.

A founder and former member of Cuba-based art collective Los Carpinteros (from 1991 to 2003), Arrechea will exhibit a new project at the São Paulo venue, retracing the ideas that drove his work for the past four years, including large murals applied directly onto the gallery wall, drawings/watercolors, and sculptures. According to him, Refazer resumes dealing with the questions of maps and fragments, both of which are central to his inquiries.

Designed to come together as a big installation, the pieces in Refazer converse with one another, and they draw a parallel with the process of preparing the soil for cultivation. “My goal is to develop processes analogous to painting, sculpture and installation by keeping the surface of my work amenable to being transformed again, the same as with plowed lands,” says the artist, going on to say that this action repeats itself with each new sowing, and that is why he chose to install the artworks in superimposed fashion.

The show’s starting point will be a big mural mimicking a plowed field. The watercolors and objects will be set against it. Each of the elements overlying the mural will work as a novel statement, a new representation of the previous terrain, and therefore a new territory that ushers in a new possibility. “With that formula I could generate a map of endless variations, a circular method of understanding reality – one that subverts itself time and again, and where each art piece constitutes a statement that complements rather than denies the one that precedes it.”

Alexandre Arrechea’s oeuvre stands out for his use of visual metaphors for current societal issues like inequality, cultural segregation, and the controversial place of art in a globalized, media-centered society. Just like many of his contemporaries, he manipulates symbols and materials in an ambivalent way so spectators walk away from his work with no specific viewpoint. Today’s widespread surveillance systems and obsession over control were a major source of inspiration for the pieces the artist created from 2003 on. His research into the public-private relationship led to an output that deals with loss of privacy, frailty, memory, and the failure of control and power. Works such as The Garden of Mistrust (2003-2005) and Perpetual Free Entrance (2006) are to an extent concerned with issues of accessibility or approach as pertains to works of art.

His creation for the 2012 Havana Biennial was a steel house comprising eleven sections. Either the length of the walls or the separation between them would change on a daily basis, mirroring the ups and downs of the Dow Jones economic index. In 2013, he occupied Park Avenue, taking New York City by surprise with 10 large-scale sculptures that represented iconic local buildings including the Chrysler Building, Citicorp Center, and the Empire State Building. In 2015, for the latest edition of the Cuban Biennial, the National Museum of Fine Arts in Havana housed O Mapa do Silêncio (The Map of Silence), a major showing of his videos, installations, paintings, and panels which affirmed his idea of silence: “there can be good or bad reasons for silence, and this exhibition strives to be a map of multiple silences.” Arrechea was named ‘best Cuban artist’ by Fundación Farber on the strength of this show.

Posted by Patricia Canetti at 4:07 PM