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agosto 29, 2018

Semana de Arte realiza segunda edição em novo endereço

Evento organizado em torno de uma feira internacional, que apresenta ainda uma série de atividades culturais exclusivas, será realizado no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, de 1 a 3 de setembro, com curadoria do mexicano Pablo León de La Barra, do Guggenheim e MAC Niterói

Depois de uma primeira edição bem-sucedida, a Semana de Arte retorna em 2018, de 1 a 3 de setembro (a abertura para a imprensa e convidados acontece no dia 31 de agosto), com novidades. Além de uma nova sede – o Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera –, o projeto recebe como curador convidado o mexicano Pablo León de la Barra, atualmente responsável pela seção de arte latino-americana do Guggenheim e pela curadoria geral do MAC Niterói.

Comandado pelos galeristas Luisa Strina e Thiago Gomide, pelo curador Ricardo Sardenberg e pelo empresário cultural Emilio Kalil, o evento se organiza em torno de uma feira de artes visuais, mas também traz sessões de filmes documentários, um ciclo de palestras e passeios arquitetônicos pela capital paulista. Enquanto no ano passado a programação cultural era espalhada por diversos endereços, neste ano todas as atividades – com exceção das excursões pela cidade – se concentram em um lugar só.

“O Pavilhão das Culturas é, possivelmente, um dos mais belos do conjunto Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera, pela sua proporção e tamanho. Trazer praticamente tudo para dentro do mesmo endereço é mais prático, pois evitamos, assim, os problemas de deslocamento neste transito insano de São Paulo, oferecemos também mais conforto para os visitantes e para os galeristas e teremos um espaço, onde a seleção e qualidade das obras ficará mais evidente”, atesta Kalil.

A segunda edição do projeto aposta novamente no formato vitorioso de reunir um seleto grupo de galerias – são 43 no total – do Brasil e do mundo (lista completa), a partir de um conceito curatorial renovador. Como no ano passado, oferece um modelo em que os mercados primário e secundário não são divididos em seções distintas. Os estandes são dispostos sem hierarquia, ocupando espaços aproximadamente do mesmo tamanho, onde cada galeria apresenta projetos especiais, sejam solos, diálogos entre dois artistas ou em torno de temas específicos.

“As expectativas são positivas, porque o perfil do evento é atrativo e transmite confiança aos colecionadores ou jovens interessados em começar uma coleção. Esses são os dois principais trunfos da iniciativa: entregar credibilidade e gerar desejo”, explica Luisa Strina.

Outra vantagem, segundo os organizadores, consiste no fato de a edição atual ter sido programada – não por acaso – às vésperas da 33 a Bienal Internacional de Artes de São Paulo, cuja inauguração acontece no dia 7 de setembro.

“A Bienal de Sao Paulo é a segunda mais importante do mundo, atrás apenas de Veneza. Além de trazer um público de jornalistas, curadores, artistas, galeristas e diretores de museus, o evento vai fazer com que a Semana de Arte tenha uma característica mais excitante do que no ano passado, já que estará no epicentro de uma semana muito movimentada”, aposta Thiago Gomide. “Os grandes eventos de arte contemporânea, quando se concentram em um mesmo período, dão força uns aos outros. A cultura, para se fortalecer no Brasil, precisa unir forças e contribuir para o adensamento crítico e a formação de público para a arte”, completa Luisa.

O curador convidado elegeu como eixo central de sua proposta curatorial a herança modernista da arte nacional e estrangeira, bem como seus inconscientes reprimidos – ou menos explorados – especialmente em presenças femininas ou afrodescendentes. Desta forma, estarão expostos diversos trabalhos assinados por mulheres, como Lygia Pape (Almeida & Dale Galeria de Arte); Marina Weffort (Sim Galeria e Simões de Assis Galeria); Ana Prata (Galeria Millan); Leda Catunda (Celma Albuquerque); Fernanda Gomes (Luisa Strina); Martha Araujo com Ana Mazzei (Galeria Jaqueline Martins), além de uma série de obras com viés político de artistas como Tarsila do Amaral, Carmela Gross, Lenora de Barros, Wanda Pimentel, Rosângela Rennó e Rosana Paulino, no espaço da galeria Arte 57.

Ainda dentro do contexto enunciado pelo curador, artistas negros contemporâneos, como Arjan Martins com Maxwell Alexandre (A Gentil Carioca), Ayrson Heráclito (Portas Vilaseca) e Dalton Paula (Galeria Sé), e nomes que retrataram a cultura afro-brasileira em suas obras, casos de Pierre Verger (Galeria Marcelo Guarnieri) e Carybé (Paulo Darzé Galeria), estarão representados no evento.

“A curadoria apresenta uma série de recortes que vai além do modernismo ‘heroico’, e abre espaço para correntes que estão agora sendo reavaliadas, como o universo feminino e as influências afrodescendentes. No âmbito da Semana de Arte, será uma oportunidade de ver simultaneamente várias exposições individuais e coletivas que tratam dessas perspectivas que raramente recebem destaque”, aponta Ricardo Sardenberg. “Por ser um curador estrangeiro com grande experiência trabalhando fora do Brasil, Pablo León de La Barra trouxe um olhar fresco e dinâmico para o evento”, completa Gomide.

Entre outros artistas de destaque desta edição estão Di Cavalcanti (Pinakotheke), Oswaldo Goeldi (Galeria Bergamin & Gomide), Arthur Luiz Piza (Fólio), Alexandre Canônico com Amílcar de Castro (Galeria Marília Razuk), Julio Le Parc com José Patrício (Galeria Nara Roesler), Frans Kracjberg (Galeria Frente), Tunga (Luhring Augustine, Franco Noero e Milan) e Willie Cole (Alexander and Bonin).

MOSTRA DE ARTE POPULAR

Além das palestras, dos filmes e dos passeios arquitetônicos – cuja programação será anunciada mais adiante –, o Pavilhão das Culturas Brasileiras sediará simultaneamente uma exposição com parte do seu acervo permanente, com obras de importantes nomes da arte popular do país, como Amadeo Lorenzato, Chico da Silva, Antônio Poteiro, Chico Tabibuia, GTO, Alcides, Antonio de Dedé e Resendio. Com este pequeno mas expressivo recorte, o Departamento dos Museus Municipais pretende dar continuidade ao seu processo de abertura e difusão do acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras ao público – democratizando cada vez mais o acesso a estes bens culturais.

OS DIRETORES

Luisa Strina atua como galerista desde 1974. Foi considerada em 2016 a 57a pessoa mais influente no mundo das artes pela Revista ArtReview.

Emilio Kalil é empresário do meio cultural há 40 anos. Dirigiu o Grupo Corpo, foi produtor da Bienal de São Paulo, Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro e presidente da Fundação Cidade das Artes.

Thiago Gomide foi produtor no Instituto Inhotim, executivo da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro e hoje dirige a Galeria Bergamin & Gomide.

Ricardo Sardenberg é historiador pela NYU, idealizador do Instituto Inhotim, foi representante da feira Art Basel no Brasil e atua como curador e crítico independente.

O CURADOR CONVIDADO

Pablo León de la Barra ocupa atualmente o cargo de Curador no Solomon R. Guggenheim Museum para a fase latino-americana da Guggenheim UBS MAP Global Art Initiative. Curador Chefe do MAC Niteroi, dirigiu a Casa França Brasil (Rio de Janeiro, 2015-16). Organizou exposições em instituições como o Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; MOCAD, Detroit; South London Gallery, Londres; Kunsthalle Zürich; Museo Tamayo e Museo Jumex, México; TEOR/éTica, San José, Costa Rica; Museo de Arte de Zapopan, Guadalajara; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; e MASP, São Paulo. Foi fundador e co-curador da 1ª e da 2ª edições da Bienal Tropical de San Juan, Porto Rico (2011 e 2016), co-curador de SITE Santa Fé Biennial, Novo México (2016) e curador do Pavilhão Mexicano na Bienal de Veneza de 2017.

O PAVILHÃO DAS CULTURAS BRASILEIRAS

O Pavilhão das Culturas Brasileiras teve o início de sua construção em 1953 com a aprovação do projeto final do arquiteto Oscar Niemeyer para o complexo do Parque Ibirapuera. Inaugurado em 21 de agosto de 1954, década em que a crise econômica e política estimularam um importante movimento cultural e ideológico para a modernização do país, o Pavilhão das Culturas Brasileiras com 11 mil m² e elementos da arquitetura moderna compostos por linhas simples, iniciou suas atividades conhecido como Pavilhão dos Estados, idealizado para abrigar exposições de iniciativas culturais durante o IV Centenário de São Paulo (1954).

Na década de 1970, foi batizado como Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira, tendo sido utilizado como repartição pública pela Prefeitura Municipal de São Paulo até 2006, quando se inicia um processo de recuperação do imóvel através de várias intervenções arquitetônicas pela Secretaria Municipal de Cultura e Departamento de Patrimônio Histórico, que decidem devolvê-lo à sua vocação original.

Pensado como Instituição voltada às culturas do povo, em 2007, além de receber o acervo do antigo Museu de Folclore Rossini Tavares de Lima, atraiu vários colaboradores e consultores que trabalharam no desenvolvimento de uma política de acervo, programa educativo, diretrizes para a arquitetura, o que permitiu em 2010 a incorporação a seu acervo da coleção denominada Etnográfica, do Departamento do Patrimônio Histórico, e novas aquisições de arte indígena de origens diversas, arte popular e design, ampliando a concepção de espaço de guarda e referência da cultura tradicional e contemporânea do povo brasileiro.

SERVIÇO

Semana de Arte 2018
Local: Pavilhão das Culturas Brasileiras (Av. Pedro Álvares Cabral s/n, Ibirapuera, São Paulo)
Data: 1 a 3 de setembro de 2018 *
Horários: 12h às 20h
Entrada: R$ 60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia) **
*A abertura para a imprensa e convidados acontece no dia 31 de agosto
**Venda de ingressos no local

Posted by Patricia Canetti at 11:42 AM

agosto 28, 2018

Héctor Zamora + Rochelle Costi na Luciana Brito, São Paulo

Luciana Brito Galeria inaugura duas mostras individuais em paralelo à Bienal de São Paulo

Para o final de semana que antecede a abertura da Bienal de São Paulo – um dos momentos mais agitados do circuito de arte contemporânea no país –, A Luciana Brito Galeria prepara duas mostras individuais de artistas que já tiveram participações de destaque em edições anteriores do evento: a brasileira Rochelle Costi, que participou da 24ª e da 29ª Bienais, e Héctor Zamora, artista mexicano que se mudou para o Brasil após sua participação na 27ª Bienal. A abertura das exposições será marcada por uma intervenção inédita de Héctor Zamora na fachada da Galeria, realizada no dia 1º de setembro, sábado.

Rochelle Costi – “Reforma”

Intitulada “Reforma”, a individual de Rochelle Costi (n. 1961, Caxias do Sul) ocupa a sala Rino Levi da Luciana Brito Galeria, cuja arquitetura modernista é tomada como suporte para obras em grande parte inéditas. As peças retratam espaços criados por lógicas distintas à do processo moderno, estabelecendo um diálogo entre o racionalismo e o improviso.

O olhar atento, generoso e bem-humorado sobre situações e espaços que escapam ao rigor modernista do planejamento e da ordem, abraçando – por desejo ou necessidade – o inesperado e o improviso como ferramentas construtivas é característica marcante na produção de Rochelle Costi ao longo das últimas décadas. Se sua obra surge inicialmente a partir de pequenos objetos sem valor monetário que coleciona desde a infância, tomando principalmente a forma de instalações, rapidamente o afã colecionista da artista se expande para além da fisicalidade do mundo. Ela passa, então, a reunir imagens, muitas das quais relacionadas a arquiteturas e às cidades, mas também a espaços domésticos e a outros elementos da intimidade, bem como ao modo de vida de diferentes populações e extratos sociais.

Em “Reforma”, vê-se uma síntese do trabalho que Rochelle vem realizando nas últimas décadas, sob o ponto de vista da arquitetura. Na individual, a artista se apropria da residência modernista Castor Delgado Perez literalmente como suporte para imagens de espaços que não operam pela mesma lógica que o organiza e foram motivados por outros ideais. Com fotografias impressas em canvas a ocupar paredes inteiras, impressões em tecido e sobre papel de diversas dimensões, a artista apresenta cenas que, apesar de clandestinas, parecem se integrar às linhas arquitetônicas minimalistas da galeria. É o caso, por exemplo, de “Margens” (2018), em que um tecido translúcido de grandes dimensões com a imagem de uma casa ribeirinha do norte do Brasil balança ao vento, sobreposto ao jardim de Burle Marx – um embate entre a natureza e a paisagem planejada, o dentro e o fora, a casa na floresta e a floresta na casa.

Uma rústica casa de madeira do interior do Rio Grande do Sul; uma vista inusitada do Congresso Nacional; quartos e outros ambientes pertencentes aos mais diferentes moradores – de anônimos a Juscelino Kubitscheck –; e um barraco à beira-mar para observação das marés por pescadores são algumas das arquiteturas colocadas em diálogo com a casa de Rino Levi. As configurações dessas estruturas remetem à necessidade de improviso e adaptação, característica tão marcante da cultura brasileira como um todo quanto o ideário modernista que se impregnou ao imaginário nacional desde a década de 1950. Em “Reforma”, ganham o primeiro plano os contrastes de uma nação complexa como o Brasil tomados pelo ponto de vista da construção de espaços que, programados ou não, demonstram uma lógica inesperadamente eficiente.

Héctor Zamora

Héctor Zamora (n. 1974, Cidade do México), por sua vez, ocupa o espaço anexo localizado na parte posterior da Luciana Brito Galeria com uma videoinstalação resultante da performance “CAPA-CANAL”, recentemente apresentada na 11a Bienal do Mercosul.

Tendo iniciado sua carreira no México com uma pesquisa escultórica de caráter mais formalista em que realizava um comentário dos modernismos latino-americanos através de elementos de uso cotidiano, Zamora observa uma mudança significativa em sua produção a partir de sua participação na 27ª Bienal de São Paulo e subsequente mudança para o Brasil: “Passei a me concentrar mais em obras que estabelecem um diálogo com o contexto de sua apresentação. São ações compostas por dois ou três elementos, como destruir um barco ou fazer telhas de barro, que criam catalisadores capazes de repercutir nas conotações pré-existentes no ambiente local e que ao mesmo tempo conseguem se relacionar com valores universais”, explica.

Em sua realização para a 11a Bienal do Mercosul, “CAPA-CANAL” contou com 13 performers de diferentes gêneros e perfis étnico-raciais – representando a heterogeneidade da população brasileira – que, sentados sobre bancos de madeira, modelaram ao longo de duas horas mais de 500 telhas de barro em suas coxas. Posteriormente, as telhas moldadas foram queimadas, dando origem às peças de cerâmica que são exibidas na Luciana Brito Galeria sob a forma de uma instalação que conta ainda com um vídeo inédito, criado a partir de imagens captadas durante a performance.

A obra parte da expressão popular tipicamente brasileira “feito nas coxas”, utilizada para expressar algo mal feito, a qual supostamente teria suas origens no fato de que os escravos moldavam as telhas em suas coxas. “Está comprovado que nunca foram produzidas telhas nas coxas dos escravos, isso é um mito já descartado por historiadores brasileiros. Acredita-se hoje que a expressão tenha surgido na época do Brasil Império, quando ter relações sexuais antes do matrimônio era proibido”, explica o artista.

A expressão – que em Portugal mantém sua conotação original de masturbação ou roçar de coxas – teria, portanto, um cunho sexual, referindo-se a práticas que de alguma forma contornavam a imposição católica do casamento virgem. “Mesmo assim, essa interpretação sobre o trabalho escravo me parece pertinente e é sim parte da obra, porque, mesmo sendo um mito, reflete algo verdadeiro sobre a realidade brasileira, simbolizando muito bem o racismo e a precariedade das relações de trabalho que perduram no Brasil até hoje”, afirma.

Para a exposição, Zamora prepara ainda uma performance inédita, a ser realizada na abertura da mostra. Concebida para a fachada da Luciana Brito Galeria, a obra parte de uma reflexão sobre as contradições do modernismo brasileiro. Em sua faceta arquitetônica, a modernidade deu origem a construções utópicas, algumas das quais tornaram-se símbolos de um país otimista a caminho do progresso, de uma sociedade mais justa e igualitária. Essas mesmas construções, no entanto, falharam em incluir justamente aqueles que as edificaram, tornando-se eventualmente monumentos a um certo bom gosto acessível apenas às classes mais abastadas, denunciando que, de partida, o projeto moderno carregava em si as sementes de sua falência.

Posted by Patricia Canetti at 10:31 AM

Rodrigo Hernández no Pivô, São Paulo

Como parte do Programa anual de exposições, o Pivô apresenta O mundo real não alça voo, primeira exposição individual do artista mexicano Rodrigo Hernández no Brasil. O projeto é o desdobramento final de uma residência de dois meses do artista no Pivô, em que desenvolveu esculturas em papel e trabalhos diretamente no espaço expositivo.

O título é uma tradução livre do primeiro verso do poema “The real world” de Wislawa Szymborska, poeta polonesa ganhadora do Prêmio Nobel de literatura em 1996, cujos principais temas são o cotidiano, a história e a natureza tratados com uma dicção coloquial e despojada de forte efeito poético. Hernández parte da relação entre sonho e o real, sugerida no poema, e da ideia de "metamorfose" para criar um ambiente imersivo em que os padrões geométricos pintados nas paredes e colunas do Pivô se relacionam com os volumes das esculturas, numa correspondência entre as formas pintadas e os relevos tridimensionais.

O artista parte da singularidade da arquitetura do espaço expositivo para criar uma pintura de parede de larga escala baseada em padrões geométricos usados na moda e na Op art dos anos 60-70, recobrindo o espaço com gradientes de cor que criam um ambiente atmosférico. Objetos de papelão - entre pinturas volumétricas e esculturas de parede – são apresentados nas áreas de transição de cor, num jogo de formas geométricas e orgânicas que se sobrepõem para criar um ambiente em que “figura” e “fundo” se confundem.

A produção de Rodrigo Hernández se divide entre o meticuloso trabalho de ateliê e projetos site-specific orientados por longos processos de pesquisa e pelo contexto de cada exposição. O artista utiliza principalmente mídias clássicas, como desenho, escultura e pintura, para investigar o movimento constitutivo da arte e da construção da imagem, desde a iconografia mesoamericana até a arte contemporânea. Hernandez mescla referências culturais variadas - da gravura clássica japonesa, à moda, passando pelo modernismo europeu e o realismo fantástico - para constituir um vocabulário plástico inusitado; e portanto singular.

Após seu período no Pivô, o artista segue para uma residência no Instituto InclusArtiz, no Rio de Janeiro, onde seguirá o desenvolvimento de sua pesquisa abordando técnicas de produção artesanal em madeira, objetos de função ritual, assim como um estudo da fauna e da flora locais.

O Programa Anual de Exposições promove o trabalho de artistas e de diferentes nacionalidades, oferecendo aos visitantes um extenso panorama da produção contemporânea recente, ao mesmo tempo em que estimula intercâmbios geracionais entre os agentes envolvidos em toda a programação do Pivô.

Rodrigo Hernández (1983, vive e trabalha em Lisboa e Cidade do México) estudou na Akademie der Bildenden Künste em Karlsruhe e na Jan Van Eyck Academie em Maastricht. Nos últimos anos, recebou os prêmios de residência Laurenz-Haus Stiftung e Cité International des Arts. Entre suas exposições individuais recentes destacam-se: Shadow of a Tank, Art Basel Statements; Plasma, Madragoa, Lisboa, 2017; Every forest madly in love with the moon has a highway crossing it from one side to the other, Kurimanzutto; El pequeño centro, Museo Universitario del Chopo, entre outras.

Posted by Patricia Canetti at 10:09 AM

Letícia Ramos no Pivô, São Paulo

Como parte do Programa anual de exposições, o Pivô apresenta História Universal dos terremotos, primeira exposição institucional no Brasil da artista Letícia Ramos.

A pesquisa inicial para “História Universal dos Terremotos” foi desenvolvida com o apoio da Bolsa de Artes da Fundação Botín, Espanha, onde Ramos apresentou anteriormente uma versão menor do projeto. A exposição parte de um terremoto ,seguido de um tsumani e um incêndio, que devastou Lisboa em 1775, deixando fortes marcas no imaginário do país e consequentemente, em sua relação com o Brasil, então colônia. Ramos partiu deste evento histórico para produzir uma sequência ficcional na qual cada imagem é, por sua vez, um experimento.

Desde o começo de sua pesquisa, a artista tem alimentado um interesse específico por procedimentos e pela evolução das técnicas de fotografia analógica, criando, assim, diversos aparatos e máquinas para realizar seus projetos, desde câmeras pinhole, a aparelhos de microfilmagem e raio-x. Ramos utiliza técnicas científicas para fins ficcionais e associa sua prática com a fotografia com a história social de suas imagens.

Para “História Universal dos Terremotos”, além dos raios estroboscópicos sobre microfilme que desenvolveu para os trabalhos apresentados na Fundação Botín - e que estarão em exibição no Brasil pela primeira vez -, Ramos apresenta uma instalação que simula o funcionamento de um sismógrafo registrando as vibrações do Edifício Copan em um rolo de filme 16 mm, projetado simultaneamente no espaço. Além de um filme inédito no qual realiza um experimento descrito por Immanuel Kant em seu ensaio “Sobre as causas do terremoto na ocasião da calamidade que sucedeu os países ocidentais da Europa no ano passado”, em que o filósofo se propunha a investigar os processos naturais que desencadearam a catástrofe de Lisboa.

Nessa exposição, Leticia Ramos entrelaça o natural e o místico e toma a matéria da fotografia como base para uma "investigação ficcional" sobre os impactos que os fenômenos naturais podem vir a ter em nossos sistemas de crença e na forma como nossa sociedade é estruturada, tanto física quanto conceitualmente.

O Programa Anual de Exposições promove o trabalho de artistas de diferentes nacionalidades, oferecendo aos visitantes um extenso panorama da produção contemporânea recente, ao mesmo tempo em que estimula intercâmbios geracionais entre os agentes envolvidos em toda a programação do Pivô.

Leticia Ramos (1976, vive e trabalha em São Paulo) estudou arquitetura e cinema. Suas obras já foram expostas em instituições como Tate Modern, Pivô, Itaú Cultural, Centro Cultural São Paulo, Parque Lage, Museu Coleção Berardo, Instituto Tomie Ohtake e CAPC-Musée d’art contemporain (Bordeaux). Foi ganhadora de importantes prêmios, residências e bolsas de produção artística como o Prêmio Marc Ferréz, Bolsa de Fotografia do Insituto Moreira Salles, BES Photo e a Bolsa das Artes da Fundação Botín.

Posted by Patricia Canetti at 9:53 AM

Ana Teixeira no Sesc Pompeia, São Paulo

Completando vinte anos de trabalho artístico, com grande parte dele concentrada em ações no espaço público, apresentarei Para que algo aconteça, durante o mês de setembro no Sesc Pompéia, com quatro ações que são parte de minha trajetória.

Tais ações promovem ofertas que desestabilizam momentaneamente o espaço ao redor e são desenvolvidas em consonância com o híbrido arte/vida, característica de grande parte da produção contemporânea.

São elas: Coleta de Espécimes Locais (desde 2011), Troco sonhos (1998-2007), Outra Identidade (desde 2003) e Escuto histórias de amor (2005-2013).

Um livro comemorativo dos vinte anos de trabalho da artista, será lançado em novembro. Com o título: Para que algo aconteça: Ana Teixeira – 1998-2018, traz, além de imagens e reflexões da artista, textos críticos de curadores e pesquisadores, como Josué Mattos, Cauê Alves, Galciani Neves, Paula Braga e Paula Alzugaray.

PROGRAMA AOS SÁBADOS

1 de setembro, das 14h às 18h – Coleta de espécimes locais
8 de setembro, das 14h às 17h – Troco Sonhos
15 de setembro, das 14h às 17h – Outra Identidade
22 de setembro, das 14h às 17h – Escuto histórias de amor

SINOPSES

Coleta de Espécimes Locais (desde 2011)
Nesta ação, qual uma pesquisadora, entrevisto pessoas convidando-as a fornecerem dados para estudos, focados nas singularidades de grupos específicos.
Todos os dados são transformados em desenhos e anotados em um livro-registro, fazendo parte de um arquivo sobre espécimes humanos em diferentes cidades e países.
O participante, ao final, recebe um carimbo na pele identificando-o como espécime já estudado.

Troco sonhos (1998-2007)
Essa ação, executada em diversas cidades do Brasil, foca-se na ambiguidade da palavra "sonho" que tem dez diferentes acepções na língua portuguesa. Acontece com a montagem de uma barraca, como as dos camelôs, em um espaço público de passagem, onde existe uma bandeja com dezenas de sonhos, pequenos bolos recheados. É proposto aos transeuntes que troquem sonhos comigo: em troca de um sonho - bolo doce - eles me dão um sonho seu, gravado por um operador de câmera que me acompanha. Foram trocados mais de 6.000 sonhos em ruas, praças, viadutos, avenidas, e centros culturais de 25 cidades diferentes, o que gerou um agrupamento bastante diverso de pessoas, situações e experiências.

Outra Identidade (desde 2003)
Esta é uma ação móvel que realizo com um carrinho-escritório ambulante, contendo carteiras de identidades fabricadas por mim, distribuídas às pessoas interessadas em troca de suas impressões digitais. No lugar de números, fotos ou nomes, Outra Identidade sugere frases. Cada participante escolhe uma ou mais frases, entre as dez oferecidas, que possam identificá-lo. Não sei de mim, eu falo mentiras, não tenho certezas, agora tanto faz, eu tenho sonhos, ainda tenho tempo, estão entre elas. Em troca, recolho as impressões digitais de cada participante em um pequeno caderno de capa preta, juntamente com as frases escolhidas.

Escuto histórias de amor (2005-2013)
Realizei esta ação em espaços públicos de vários países, entre os quais, estão Alemanha, Itália, Espanha, França, Chile, Canadá, Brasil, Portugal e Dinamarca. Sentada ao lado de um cartaz que anunciava, no idioma local, o título da ação, tricotava uma lã vermelha, enquanto esperava por pessoas que quisessem me contar uma história. Uma câmera, ao longe, registrou as ações, porém as histórias não podem ser ouvidas por mais ninguém além de mim. Guardo segredo sobre estas histórias que passam a habitar um arquivo invisível de discursos sobre o amor.

Ana Teixeira é artista, formada pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e mestra em Poéticas Visuais pela mesma Universidade. Seu trabalho transita por diferentes meios, com interesse particular pelo desenho e pela arte participativa, tendo a literatura e o cinema como suas principais referências. Nos últimos anos participou de exposições e residências em diferentes partes do mundo. Dentre elas, destacam-se Heimatwechsel/ Change of Home, (Dortmund, Alemanha, 2004); Espace Paul Ricard, (Paris, França, 2005); Bienal de Performances Deformes, (Santiago do Chile, 2006); Mercer Union - Centre of Contemporary Art (Toronto, Canadá, 2008); International Workshop for Visual Artists, Kulturreminsen, (Brande, Dinamarca, 2010); Instituto Sacatar (Itaparica, Brasil, 2011); MAC, Museo de Arte Contemporaneo (Santiago, Chile, 2014). Trabalhos da artista podem ser vistos em: www.anateixeira.com

Posted by Patricia Canetti at 9:27 AM

agosto 27, 2018

José Damasceno na Millan, São Paulo

Em sua primeira exposição individual na Galeria Millan, artista carioca reúne um conjunto de 11 trabalhos inéditos, entre esculturas, gravuras, pinturas e fotografia

A Galeria Millan apresenta, de 01 a 29 de setembro de 2018, a exposição Escadabstrata, a primeira individual do artista carioca José Damasceno na galeria. A mostra, que ocupa simultaneamente a Galeria Millan e o Anexo Millan, reúne um conjunto de 11 novos trabalhos de Damasceno, em diferentes formatos e suportes: são instalações, esculturas, gravuras, pinturas e uma fotografia.

José Damasceno é, por excelência, um escultor. Não só com a capacidade de produzir pequenos ou grandes objetos mas de interferir em ambientes de grande escala, de dialogar com projetos arquitetônicos e imaginar situações fabulosas, transformando a própria natureza e as funções originais das matérias e dos espaços. A ele interessa desconstruir dicotomias tradicionais, como as que separam palavra e imagem, pintura e escultura ou escultura e instalação, assim como as oposições entre dentro e fora, imagem e coisa, figura e fundo, visível e invisível.

A obra que dá título à exposição, por exemplo, é uma escada helicoidal que vai do chão ao teto da entrada do Anexo Millan. A forma da espiral traduz o movimento ascensional a partir de um ponto inicial, etapas de um processo contínuo de desdobramento e de transformação. Só que uma escala intermediária, menor do que a humana, se apresenta: miniatura gigante ou maquele multiescalar? A própria palavra que dá nome à exposição traz consigo “uma vocação de transcendência”, como diz o artista. Escadabstrata: uma palavra de encantamento? Talvez, mas certamente uma ideia-charada que traz consigo um possível estágio, nível, grau a se transpor e ascender. Uma vez pronunciada essa palavra, seu som, sua música, nos transporta a outro lugar acima e além, àquele de uma hipótese ainda por se revelar.

Outro trabalho, este no andar superior da Galeria Millan, subverte o sentido de uma parede em branco: um “Clipe” de luz neon preso no encontro de uma das paredes com o teto transforma aquela superfície em uma grande folha em branco. Já “Soundboard” faz de uma das paredes do Anexo Millan uma grande mesa de som, com 50 “teclas” feitas de calcita flutuando desordenadas naquela grande superfície plana e retangular. No mesmo ambiente, um enorme “Pião” de ferro fundido descansa em um canto, como se repousando após girar intensamente pela sala. A mostra apresenta, ainda, dois conjuntos de gravuras (“Habitat Paragráfico” e “Estudos Paragráficos III”), um conjunto de 240 pinturas feitas com giz de cera derretido (“Monitor Crayon Líquido”), uma fotografia (“Jardim Infravermelho”) e a escultura composta por 90 peças de granito negro “Sombras Figuras”, entre outras obras.

O paradoxo trazido pela ideia de um mover estático tem sido uma das principais questões da obra de José Damasceno, uma vez que o artista sempre busca uma sensação rítmica, cinética ou progressiva em superfícies, acontecimentos ou matérias congeladas. Em seu trabalho, as coisas aparentes e concretas funcionam como propulsoras de um móbil imaginário, que estaria em constante deslocamento, mas que apenas mental ou conceitualmente “aparece”. Existiria então, em sua obra, uma mobilidade e um congelamento potenciais e oscilantes, pois que o enunciado nodal do trabalho problematiza, em paroxismo, a questão do movimento.

José Damasceno (1968, Rio de Janeiro, RJ) utiliza uma grande variedade de materiais, técnicas e meios para investigar os limites da escultura. Sua poética parte do deslocamento e do estranhamento para conceber perspectivas fluidas e móveis da representação dos espaços. O artista potencializa e transforma esses espaços por meio da inserção de objetos e acontecimentos improváveis. Sua pesquisa envolve questões de superfície e profundidade, de solidez e gravidade, produzindo no espectador uma sensação física, vivencial, por meio do contato com a obra. Para a crítica de arte Ligia Canongia, o principal ponto de interesse do artista é o campo das relações mentais, que podem ser estabelecidas entre a ideia e a possibilidade de constituição formal de um objeto.

Expõe regularmente no Brasil desde 1993 e no exterior a partir de 1995. Realizou mostras individuais em espaços importantes, como Santander Cultural, Porto Alegre, RS (2015); Holborn Library, Londres, Reino Unido, e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2014); e Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha (2008), entre outros.

Representou o Brasil com Viagem à Lua, na Bienal de Veneza em 2007, e participou da Bienal de Sydney, Sydney, Austrália (2006); L’Esperienza dell’Arte na Bienal de Veneza, Itália (2005); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2003); e 30ª Bienal de São Paulo, SP (2002), além de exposições coletivas no Phoenix Art Museum, Arizona, EUA (2017); no Museum of Fine Arts, Boston, EUA (2014); Fundament Foundation, Tilburg, Holanda (2009); Centre Pompidou, Paris, França (2008); Museum of Contemporary Art, Chicago, EUA (2004); Museu Serralves, Porto, Portugal (2001); e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ (2000), entre outras.

Sua obra integra acervos permanentes, como Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, EUA; Daros Latinoamerica AG, Zurique, Suíça; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, MG; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Barcelona, Espanha; e Museum of Modern Art, Nova York, EUA.

Posted by Patricia Canetti at 1:25 PM

Fabiano Gonper na Oswald de Andrade, São Paulo

O artista Fabiano Gonper inaugura no dia 1 de setembro de 2018, sábado, às 11 horas, a mostra individual Experiência Desenho – Campos de Expansão, Observação e Impossibilidade, com curadoria de Ananda Carvalho na Oficina Cultural Oswald de Andrade. A exposição tem o apoio do Proac.

Reconhecido pelas séries “Gonper Museum – work in progress”, “O Manipulador” e a realização de desenhos de grandes dimensões em espaços públicos, Fabiano Gonper apresenta nesta exposição a expansão dos procedimentos do desenho para o campo espacial e a experimentação de novos meios e materiais, exibindo fotografias, objetos, desenhos imprecisos e mesas-obra.

De acordo com Fabiano Gonper, “se nos desenhos desenvolvidos entre 2003 a 2015, o processo de construção se dava com precisão, com linhas e fundo branco, por exemplo, os novos trabalhos trazem algo mais orgânico, mais desconstruído, que reverberam na construção de uma obra mais caótica, mais suja, menos precisa”.

A série fotográfica “Desenhos em processos escultóricos” consiste em registros da projeção de desenhos sobrepostos com pó de grafite. Após a produção das fotografias, os desenhos são desmontados e só existem como imagem. Em “Desenhos em observação”, Fabiano exibe objetos como cadernos de desenho em branco cobertos com pó de grafite e outros elementos/estruturas como o carvão, o vidro, e o ferro. Nos três trabalhos da série “Da impossibilidade do desenho”, o ato de desenhar é interrompido por algum obstáculo, seja a distância, a imobilidade ou ação de impedir o lápis de realizar algum tipo de desenho. Papel, lápis e mãos de fibra/borracha são os elementos dessas obras.

A exposição também possui uma perspectiva processual e site specific. Durante três semanas, o artista transferiu seu ateliê para a Oficina Cultural Oswald de Andrade para construir a obra-exposição e criar dispositivos de exibição específicos antes da abertura ao público. Com esse intuito, desenvolveu uma intervenção no espaço expositivo, ampliando o desenho espacialmente na construção de um trabalho que é, ao mesmo tempo, obra e suporte para alguns objetos.

“O trabalho de Fabiano Gonper, independentemente da linguagem utilizada, sempre refletiu sobre crítica institucional, sistema da arte e instâncias do poder. Em “Experiência Desenho”, ao expressar as pluralidades de leitura entre obra e processo, o artista questiona como criar desvios a partir da arte e que possam ir além do campo da arte. Ou seja, a exposição é uma elaboração de perguntas (e, não de respostas) que procuram repensar as ações do sujeito-artista contemporâneo, ou ainda, as (im)possibilidades da arte no contexto atual”, escreve Ananda Carvalho, curadora da mostra.

Fabiano Gonper (João Pessoa, Paraíba – 1970. Vive e trabalha em São Paulo) Frequentou os cursos de escultura da FUNESC (Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego, João Pessoa - PB) em 1989-1990. Entre 1995 e 1999, participou de oficinas e workshops com artistas brasileiros e estrangeiros em João Pessoa. Em 1999, foi artista-residente da Escola Superior de Artes Visuais de Genebra (Suíça), com bolsa concedida pela Fundação Pro-Helvetia. Entre 2003 e 2005, foi um dos coordenadores do OZ – Espaço Experimental de Arte e Residência Artística também em João Pessoa. Fabiano Gonper aborda em seus desenhos, esculturas, fotografias, vídeos e instalações questões sobre a arte (suas categorias, linguagens e sistema), o indivíduo, o poder, a política e a sociedade. Tem participado de exposições no Brasil e no Exterior.

Participou de diversas exposições coletivas nacionais e internacionais, com destaque para: IX Gwangju Biennale (Coréia do Sul); Bienal de Cuenca (Equador); “Caos e Efeito” e Programa Rumos (Itaú Cultural, São Paulo - SP); “O Corpo na Arte Brasileira” (Itaú Cultural São Paulo - SP); Projeto Laboratoire (Genebra, Suíça); “Panorama da Arte Brasileira” (MAM SP, São Paulo - SP); “Para Além do Ponto e da Linha” (MAC USP, São Paulo - SP); “Geração da Virada” (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo - SP); “Linhas de Fuga” (SESC Vila Mariana, São Paulo - SP) entre outras.

Realizou exposições individuais no MAC GO – Museu de Arte Contemporânea (Goiânia GO); NAC – Núcleo de Arte Contemporânea (João Pessoa PB); Fundação Joaquim Nabuco (Recife - PE), Paço das Artes (São Paulo - SP); na Galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro - RJ), Galeria Baró (São Paulo - SP), Galeria White Project (Paris, França) e Galeria Blanca Soto (Madrid, Espanha), entre outras.

Posted by Patricia Canetti at 12:17 PM

Estado(s) de Emergência na Oswald de Andrade, São Paulo

Exposição atualiza narrativas de ditaduras civil-militares e levanta discussões sobre violência e censura

O Paço das Artes - instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo - inaugura dia 1º de setembro às 16h Estado(s) de Emergência, exposição com curadoria de Priscila Arantes e Diego Matos. Depois das bem sucedidas exibições de “ISSOÉOSSODISSO” de Lenora de Barros em 2016 e “O ciclo da intensidade” de Charly Nijensohn em 2017, a mostra, que fica em cartaz até 15 de dezembro de 2018, é o resultado de mais uma parceria entre o Paço das Artes - que desde 2016 não conta com uma sede própria - e a Oficina Cultural Oswald de Andrade.

Entre idéias de reinvenção e de resistência inerentes à arte contemporânea, “Estado(s) de Emergência” busca conectar os fios soltos da arte brasileira por meio de tentativas atuais em recontar um passado recente do país e repensar um presente onde a violência, a censura e o preconceito ainda permanecem tão latentes quanto nos anos da ditadura civil-militar. A exposição apresenta trabalhos desenvolvidos a partir dos anos 2000 que, segundo os curadores, “são pesquisas e produções artísticas protagonistas que buscam lançar luz sobre a memória dos anos do regime de exceção”. Tal reverberação, demarcada nas estratégias artísticas dos selecionados, caracteriza em parte a produção recente da arte brasileira, de uma geração na qual a maioria nasceu nos anos da redemocratização, caracterizada por um “desassombramento” e olhar prospectivo de quem viveu no auge da já decadente Nova República brasileira.

Com instalações em vídeo, objetos como mobiliário, cartões postais, documentos e registros, a mostra conta com quatorze obras, duas de artistas estrangeiros: “Lo que queda” da argentina Gabriela Golder e o potente “Los durmientes” de Enrique Ramírez, uma videoinstalação sobre as centenas de corpos lançados ao mar entre os anos de 1974 e 1978 durante o governo de Augusto Pinochet no Chile. Tais trabalhos mostraram um cruzamento necessário com o que se produziu na cultura de países vizinhos ao Brasil diante da revisão crítica destes países sobre regimes ditatoriais.

A violência é retratada em diversas obras, como nos vídeos de Cinthia Marcele (artista que recebeu menção honrosa na última Bienal de Veneza) e Tiago Mata Machado que assinam, em conjunto, uma trilogia informal com: “O século”, apresentado na Bienal de Istambul em 2013, “Rua de mão única”, que teve a première exibida no Festival de Cinema de Rotterdam também em 2013 e “Comunidade”. O tema também está presente na obra “Postcards from Brazil” de Gilvan Barreto, que revela faces ocultas de cartões postais massivamente divulgados pela Embratur, a Empresa Brasileira de Turismo, criada em 1966 para melhorar a imagem do regime militar brasileiro no exterior.

A censura na arte é evidenciada na videoinstalação “Repetições” de Clara Ianni, que revisita “Arena Conta Zumbi” primeira peça de teatro contra o regime militar, produzida pelo Teatro Arena, e também em “Histórias que nosso cinema (não) contava” de Fernanda Pessoa em que a artista propõe uma releitura da história, com foco nos anos 1970, através de imagens e sons populares da época, considerados “pornochanchada”.

Priscila Arantes, Diretora Artística e Curadora do Paço das Artes, chama atenção para o assunto, abordado em outras ocasiões na instituição: “O Paço, por mais de uma vez, abordou a violência, o estado de exceção e a clandestinidade como, por exemplo, em 2014, quando apresentamos ‘Operação Condor’ do português João Pina, que investigava e documentava histórias de cidadãos sul-americanos afetados diretamente pelas ditaduras; e em 2016 com ‘Migrações’ em que Marcelo Brodsky, entre outros assuntos, trazia à tona suas memórias do regime político da Argentina e de seu exílio em Barcelona.”

Além dos artistas citados, obras de Debora Maria da Silva, Daniel Jablonski, Escola da Floresta, Fernando Piola, Fernanda Pessoa, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Rafael Pagatini, Romy Pocztaruk e Vitor César.

Em ano de eleições, a exposição pretende amplificar o debate público para questões de cunho político que, até o momento, aparentam não estar sendo debatidas de forma democrática, ampla e irrestrita. Vale, também, ressaltar que em 2018 completa-se cinquenta anos da instauração do AI-5, instrumento de lei e ordem, repressão e violência cujas conseqüências estão sublinhadas na sociedade brasileira, mesmo tendo sido revogada há quatro décadas. Se foi extinta em termos protocolares, seus instrumentos de ação e hábitos seguem vivos na violência cotidiana do estado e nas relações de poder em vigor.

Posted by Patricia Canetti at 11:19 AM

agosto 26, 2018

Antonio Dias na Nara Roesler, São Paulo

A exposição Tazibao e outras obras, de Antonio Dias, já prevista na grade da galeria, tornou-se, infelizmente, uma homenagem ao artista falecido no último 1º de agosto. A mostra, com curadoria de Paulo Sergio Duarte, traz uma síntese da produção de Dias a partir das obras Black Mirror, 1968, e Arid, 1969, até trabalhos de 2013, incluindo sete filmes em Super 8 realizados de 1971 a 1974. Entre as obras reunidas, a Galeria Nara Roesler apresenta de maneira inédita no Brasil Ta Tze Bao, de 1972. De fora da seleção, ficam apenas trabalhos de 1964 a 1967, exibidos na recente exposição Entre construção e apropriação – Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos anos 60, com curadoria de João Bandeira, no SESC Pinheiros, em São Paulo, que esteve em cartaz até o dia 3 de junho.

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Destaque da mostra, Ta Tze Bao remete aos jornais murais comuns nas paredes das cidades chinesas, presentes já desde início do século XX, e que, a partir de 1966, se manifestaram como dissidência à esquerda do Partido Comunista da China. Como afirma Paulo Sergio, Tazibao (transcrição normatizada e atualizada para a língua inglesa, utilizada pelo crítico) era a eloquente gráfica da Revolução Cultural. “Tazibao era o jornal por excelência da imprensa para a esquerda radical; se era livre ou não, pouco importava, o importante era depor os “revisionistas”, aqueles que divergiam do pensamento do camarada Mao. Para Antonio Dias era o Watergate”.

Na série Tazibao, Dias intervém sobre as primeiras páginas de dois jornais – o New York Times e o Corriere della Sera – tal como apareciam as matérias sobre o Watergate durante uma semana de novembro de 1972. Na versão a ser apresentada na galeria, o artista cobre todas as páginas em vermelho, destacando as áreas das notícias ao recortá-las em sua exata equivalência sobre tela pintada de vermelho e pendurar os recortes embaixo de cada página do New York Times e do Corriere della Sera. Segundo o curador, o balanço das áreas vermelhas superiores e dos pequenos recortes inferiores não é gratuito, vigora sobre a relação política da importância de uma notícia e a primeira página do jornal. “Isso, na época das mídias sociais parece muito velho, mas ainda não é; todo dia estamos marcados pelos nossos Tazibao eletrônicos que nos imprimem com suas urgências. O Tazibao de Antonio Dias, em papel, é atualíssimo”, completa.

Antonio Dias (1944– 2018) é um dos nomes mais importantes da arte brasileira no século XX, tendo conquistado reconhecimento internacional logo no começo da carreira, em meados dos anos 1960. Iniciou sua produção artística produzindo obras marcadas pelo conteúdo de crítica política na forma de desenhos, pinturas e assemblages permeados por elementos do Neofigurativismo e da Pop Art brasileiros, o que lhe rendeu o rótulo de representante da Nova Figuração brasileira e o conduziu à IV Bienal de Paris (1965), na qual recebeu o prêmo de pintura. Sua prática, no entanto, estabelece um diálogo com o legado dos movimentos concreto e neoconcreto e o impluso revolucionário da Tropicália.

A premiação da Bienal de Paris possibilitou ao artista seguir para a Europa, onde, depois de um período em Paris, acabou se estabelecendo em Milão. Ali, adotou uma abordagem conceitual, criando pinturas, filmes, vídeos, registros e livros de artista, utilizando cada uma dessas mídias para questionar o sentido da arte. Ao abordar o erotismo, o sexo e a opressão política de forma lúdica e subversiva, construiu uma obra ímpar e conceitual, repleto de elegância formal, entremeada por questões políticas e críticas contundentes ao sistema da arte. Na década de 1980, voltou novamente sua atenção à pintura, realizando experimentos com pigmentos metálicos e minerais como ouro, cobre, óxido de ferro e grafite, misturados a aglutinantes diversos. A maioria de suas obras desse período possuem um brilho metálico e contêm uma grande variedade de símbolos – ossos, cruzes, retângulos, falos – que remetem às suas primeiras produções.

Antonio Dias apresentou suas obras em mais de uma centena de exposições individuais e coletivas nas mais importantes instituições do mundo. Suas principais individuais mais recentes incluem: Anywhere Is My Land, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2010), e Daros Latinamerica, Zurique, Suíça (2009-2010); e Antonio Dias – O país inventado, que itinerou por diversas instituições brasileiras entre 2000 e 2003, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Entre as coletivas, pode-se destacar: Memories of Underdevelopment: Art and the Decolonial Turn in Latin America, 1960-1985, apresentada no Museum of Contemporary Art San Diego (MCASD), San Diego, EUA, como parte do II Pacific Standard Time: LA/LA (2017); International Pop, Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, e Walker Art Center, Minneapolis, EUA (2015-2016); The World Goes Pop, Tate Modern, London, RU (2015-2016); Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980, The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, EUA (2015), e Made in Brasil, Casa Daros, Rio de Janeiro (2015). Participou de diversas edições de bienais, como a Bienal de São Paulo (1981, 1994, 1998 e 2010), a Bienal do Mercosul (1997, 2005) e a Bienal de Paris (1965 e 1973). Suas obras estão presentes em importantes coleções institucionais ao redor do mundo, como: Coleção Sattamini – MAC-Niterói, Rio de Janeiro, Brasil; Daros Latinamerica Collection, Zurique, Suíça; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museum Ludwig, Colônia, Alemanha; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil; The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, EUA; e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.


The exhibition Tazibao e outras obras (Tazibao and other works), by Antonio Dias, has become a tribute to the artist who has sadly passed away last August 1st. Curated by Paulo Sergio Duarte, the exhibition presents a collection of works, ranging from 1968’s Black Mirror and 1969’s Arid to works created in 2013, including seven Super 8 films from 1971 to 1974. A centerpiece of the exhibition is Ta Tze Bao (1972), which has never been shown in Brazil. The show will not include works dating from 1964 to 1967, which were recently shown in the exhibition Entre construção e apropriação – Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos anos 60 (Between construction and appropriation – Antonio Dias, Geraldo de Barros and Rubens Gerchman in the 60s), curated by João Bandeira at SESC São Paulo.

Ta Tze Bao is composed of a series of widespread news stories from Chinese cities dating back to the early 20th century; a mouthpiece for left-wing dissidence from China’s Communist Party starting in 1966. As Paulo Sérgio describes it, Tazibao (the normatized, updated English transcription embraced by the critic) was the eloquent graphic outlet for the Cultural Revolution. “Tazibao was the radical left’s newspaper; little did it matter whether it was free or not. What mattered was ousting the “revisionists,” those who diverged from comrade Mao’s thinking. For Antonio Dias, Watergate was it.”

In the series Tazibao, Dias intervenes on the first-page news stories about Watergate of The New York Times and Corriere della Sera, which were released over the course of a week on November 1972. In the version featured in the gallery, the artist covers all pages in red, highlighting the areas where the news stories used to be by cutting them out in their exact equivalency on red-painted canvases, which were then hung underneath each corresponding page of The New York Times and Corriere della Sera. According to the curator, the balance between the red areas on top and the small cutouts in the bottom isn’t random: it relates to the political connection between the relevance of a news piece and the first pages of newspapers. “This may seem old in the age of social media, but isn’t; every day, we are marked by our electronic Tazibao as they imprint us with their urgencies. Antonio Dias’ Tazibao on paper is very current,” according to Paulo Sérgio.

Antonio Dias (1944–2018) is one of the leading figures in 20th century Brazilian art, having achieved international recognition early on in his career, during the mid-1960s. His early offerings were politically-infused drawings, paintings and assemblages permeated by elements from Brazilian Neo-Figurativism and Pop Art, which earned him the status of representative of New Brazilian Figuration and got him into the IV La Biennale de Paris (1965), whose painting prize he won. His practice, however, converses with the legacy of the concrete and neo-concrete movements, as well as the revolutionary drive of Tropicália.

The Biennale de Paris prize enabled him to travel across Europe, and following a stint in Paris he settled in Milan. There, he embraced a conceptual approach, creating paintings, films, videos, documentation and artist’s books, and tapping into each of those mediums to question the meaning of art. In approaching eroticism, sex and political oppression in a playful, subversive way, he built an unparalled, conceptual oeuvre brimming with formal elegance, interspersed with political issues and scathing critiques of the art system. In the 1980s, he turned to painting anew, experimenting with metallic and mineral pigments like gold, copper, iron oxide and graphite, mixed with various binders. Most of his works from this period boast a metallic sheen and contain a wide variety of symbols – bones, crosses, rectangles, phalluses – reminiscent of his earliest works.

Antonio Dias’ work has been featured in over a hundred solo and group shows in major venues around the world. Recent solo shows include: Anywhere Is My Land, São Paulo State Art Gallery (Pinacoteca), São Paulo (2010), and Daros Latinamerica, Zurich, Switzerland (2009-2010); and Antonio Dias – O país inventado, featured in several Brazilian venues from 2000 to 2003, including the Rio de Janeiro Museum of Modern Art (MAM-RJ) and the São Paulo Museum of Modern Art (MAM-SP). Group shows include: Memories of Underdevelopment: Art and the Decolonial Turn in Latin America, 1960-1985, at the Museum of Contemporary Art San Diego (MCASD) in San Diego, USA, as part of II Pacific Standard Time: LA/LA (2017); International Pop, Philadelphia Museum of Art in Philadelphia, and the Walker Art Center in Minneapolis, USA (2015-2016); The World Goes Pop, Tate Modern, London, UK (2015-2016); Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980, The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA (2015), and Made in Brasil, Casa Daros, Rio de Janeiro (2015). His work was also featured in several biennial shows, including the São Paulo Art Biennial (1981, 1994, 1998 and 2010), the Mercosur Biennial (1997, 2005) and La Biennale de Paris (1965, 1973). Dias’ art is in major institutional collections around the world, including: Coleção Sattamini – MAC-Niterói, Rio de Janeiro, Brazil; Daros Latinamerica Collection, Zurich, Switzerland; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brazil; Museum Ludwig, Cologne, Germany; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina; São Paulo Museum of Modern Art (MAM-SP), São Paulo, Brazil; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; and São Paulo State Art Gallery (Pinacoteca), São Paulo, Brazil.

Posted by Patricia Canetti at 5:27 PM

Renan Marcondes na Adelina, São Paulo

Individual do artista com curadoria de Josué Mattos tem proposta formativa e disseca a linguagem, bem como explora suas contradições. Além da exposição, artista organiza uma série de conversas para falar sobre performance e suas nuances

O que é performance? Essa é uma pergunta que muitos vem tentando responder - tanto público, quanto artistas. Bem como uma série de reflexões que essa linguagem ainda muito nova desperta. Achar as respostas não é a proposta de Fundo Falso, individual de Renan Marcondes que será inaugurada em 1º de setembro, na Adelina, mas a mostra irá dissecar a performance de diversas maneiras.

Trabalhos inéditos de Renan irão o ajudar na tarefa de, junto com o público, investigar o que é a performance hoje, o papel do artista e público nessa linguagem, além de levantar uma série de outras questões sugeridas pelo tema. Para isso, o artista irá se apropriar de materiais (livros e imagens) que o ajudarão também a recontar um pouco da história da performancea, com algumas diferenças que questionam o modo como ela foi contada até então.

Em Fundo Falso, o público poderá ver alguns dos nomes que ajudaram (e ainda ajudam) a constituir o termo performance, como Marina Abramovic, Whoopi Goldberg, Lygia Clark, Pope.L, Yvonne Rainer, Guillermo Gómez-Peña, Divine, Joseph Beuys, dentre tantas outras e outros. Mas também cavalos de corrida, computadores, empresários e esportistas que ajudam a definir o termo para fora do circuito das artes. Os visitantes também terão a oportunidade de ler diversas frases - ditas por pessoas em comentários de notícias ligadas a performance ou por teóricos e pesquisadores do tema - e, munidos de óculos com lixa, irão raspar a palavra da parede do espaço expositivo. “A ideia é que o ato represente um dos objetivos da mostra, que é jogar a palavra no chão para desconstruir ou construir novamente o seu conceito”, explica Renan.

“Essa é uma exposição que tem um caráter quase que formativo. Performance ainda é uma dúvida para muitos. E não só para o público: nós artistas também ainda temos dúvidas sobre ela”, afirma o artista.

O nome da mostra de Renan Marcondes na Adelina vem de uma ferramenta de tecnologia que utiliza inteligência artificial e redes neurais para mapear o rosto de uma pessoa e sincronizá-lo com o de outra, inserindo de forma bastante convincente um indivíduo em um vídeo em tempo real em situações irreais. O resultado são vídeos convincentes, que abrem discussões sobre veracidade de materiais divulgados e ética - pontos também levantados em época de fake news.

Além da exposição de obras inéditas, a exposição ainda compreende uma série de ações educativas sobre corpo e performance, como falas e debates mediados pelo artista e que irão acontecer no mesmo espaço da exposição.

Artista visual, performer e pesquisador, Renan Marcondes (São Paulo, 1991) possui um trabalho que articula intersecções entre performance, coreografia, escultura e pesquisa teórica. Usando esse campo como ponto de partida, Renan produz, sozinho ou em parceria com outros artistas, situações e objetos que alteram a movimentação do corpo, impedem gestos e representam condições bizarras ou patéticas da existência do homem, criando futuro hipotético em que o ser humano não será mais o centro de universo. Dessa fora, o artista busca noções menos afirmativas de corpo, presença e performance, que abrem espaço para as contradições e problemas atuais desses termos e práticas.

Ciclo de Conversas Fundo Falso
Durante a sua individual Fundo Falso, Renan Marcondes recebe artistas e curadores para um ciclo de conversas sobre performance

Local: Adelina, Rua Cardoso de Almeida, 1285, Perdizes, São Paulo

Representação e performance
Renan Marcondes recebe Elisa Band e Élle de Bernardini para pensar a “representação”, que ao mesmo tempo em que é renegada historicamente pela performance, também pode ser entendida como um meio de visibilidade para grupos e indivíduos excluídos de práticas hegemônicas de representação e validação.
Participantes: Elisa Band, Élle de Bernardini e Renan Marcondes.
Quando: 22 de setembro, sábado, às 15h

Políticas da performance: estética e modos de produção
Qual a relação entre modos de produção no Brasil e seus resultados estéticos. Como as leis de fomento, curadorias de espaços institucionais, editais públicos e academia ajudaram e ajudam a desenhar um cenário de performance? Como isso se desenha não apenas nas artistas, grupos e práticas aceitas por esses espaços, mas também nas marginalizações que essas estruturas institucionais perpetuam? Ferdinando Martins e Hugo Cabral Carneiro se juntam ao artista Renan Marcondes para discutir essas questões.
Participantes: Ferdinando Martins, Hugo Cabral Carneiro e Renan Marcondes.
Quando: 29 de setembro, sábado, às 15h

Arte da performance, história e morte: o corpo é tudo que importa?
A proposta dessa conversa é pensar sobre o papel da morte e do fim do corpo na história da performance, que é geralmente contada pela perspectiva da presença e sua afirmação. Como a finitude influencia a performance suas práticas e como isso apareceu e aparece na produção de artistas?
Participantes: Ruy Luduvice e Renan Marcondes.
Quando: 6 de outubro, sábado, às 15h

Posted by Patricia Canetti at 5:02 PM

Virginia de Medeiros na Funarte, Brasília

A artista visual Virginia de Medeiros apresenta, de 30 de agosto a 14 de outubro de 2018, a exposição Studio Butterfly e outras fábulas, na Galeria Fayga Ostrower, em Brasília/DF. Contemplada pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais – Atos Visuais Funarte Brasília, promovido pelo o Ministério da Cultura e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), a mostra apresenta instalações, vídeos e fotografias na criação de narrativas que lançam um olhar surpreendente sobre histórias reais. O trabalho da artista baiana converge estratégias documentais para ir além do testemunho, questionando os limites entre realidade e ficção. A curadoria é assinada por Moacir dos Anjos (ler texto curatorial). A visitação acontece de terça-feira a domingo, das 10h às 21h, com entrada gratuita.

A exposição “Studio Butterfly e outras fábulas”, que contém cenas de nudez, reúne quatro obras: “Studio Butterfly” (2003-2006), “Cais do corpo” (2015), “Manilas Bar – Casa da Marinalva” (2014), e “Sergio e Simone # 2” (2007-2014). Segundo a artista, os pilares dos seus trabalhos são sexualidade, gênero e religião. As obras apresentam uma perspectiva do encontro com o outro e do aprofundamento dessa vivência que exige uma intensa troca de referências e de afetos. “Meu trabalho fala de políticas do afeto e de economia do cuidado. É o que me move”, explica a artista. Partindo desse pressuposto, Virginia se lança a encontrar novos modos de ler a realidade e de estar atenta para as representações descuidadas que são criadas a respeito dela. Sendo assim, a artista mergulha, se envolve e participa das vidas das pessoas e das cidades com quem convive.

Para a realização da obra “Studio Butterfly”, que dá nome à exposição, a artista se dedicou por três anos ao estabelecer uma relação com várias travestis de Salvador. A vídeoinstalação apresenta o registro de testemunhos dados por várias das travestis em visita ao estúdio fotográfico montado por Virginia para acolhê-las. São depoimentos permeados por lembranças das fronteiras entre o masculino e o feminino. Em retribuição à cessão de imagens das travestis, a artista produziu books para cada uma delas. Ladeando a exibição do vídeo, projeções sequenciadas de fotografias retiradas desses books e de álbuns pessoais das travestis são instaladas: imagens das mesmas pessoas, mas feitas em condições e momentos distintos.

Já “Sergio e Simone # 2” reforça o baralhamento de gêneros sugerido na obra anterior e acrescenta, na tessitura fluida de imagens filmadas pela artista, ambiguidades identitárias que desconcertam e ensinam. O trabalho mostra, em telas distintas que por vezes se atravessam, depoimentos de duas personagens que são, ao final, uma pessoa apenas. Simone, uma travesti que tomava conta de uma fonte pública na Ladeira da Montanha, em Salvador, foi foco de Virginia em um primeiro momento. No entanto, após um delírio místico causado por overdose de crack, Simone decide abandonar a fonte. Volta para a casa dos pais, reassume seu nome de batismo, Sérgio, e se torna pregador evangélico, renegando a vida que antes levava, denunciando-a como provação de sua nova fé. A partir de então, a artista passa a filmar Sérgio, cujo comportamento parece conflitar em quase tudo com o de Simone, da sexualidade declarada às religiões que um e outro professam.

A terceira obra separa solidão e partilha, calmaria e desassossego, transgressão e obediência, entre outros pares de estados e fazeres tantas vezes distinguidos de modo artificial. Formada por um vídeo e quatro fotografias, “Manilas Bar – Casa da Marinalva” é um trabalho que foi comissionado pelo Museu de Arte do Rio (MAR). “A obra retrata o bordel de Marinalva, seu fechamento e o desaparecimento dessas pessoas e desses espaços de resistência. Mostra o processo de gentrificação, de higienização humana e de como não são pensados projetos sociais para inclusão daquelas pessoas que já ocupavam os locais”, conta Virginia.

A quarta e mais recente obra apresentada nesta exposição é “Cais do Porto”. Feita a partir de imagens e falas de prostitutas que vivem e trabalham no entorno da Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, a obra mostra o local que foi objeto de radical intervenção urbanística na última década. Em comum com o trabalho anterior, há a vontade de registrar um tipo de vida em progressivo desmanche, dessa vez claramente acelerado pelo processo de gentrificação causado pelas mudanças implementadas na região. Em seus depoimentos, as prostitutas denunciam os mecanismos explícitos e velados de expulsão de um território. As falas das prostitutas são acompanhadas por imagens de corpos seminus que dançam e afirmam, em sensualidade contida ou aberto erotismo, a vontade de confrontar e resistir às forças que as querem regular.

Itinerância

Após a temporada em Brasília, a exposição “Studio Butterfly e outras fábulas”, seguirá para a cidade de Vitória, no Espírito Santo, como parte da itinerância do Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais, promovido pelo o Ministério da Cultura e pela Funarte. A mostra da artista Virginia de Medeiros acontecerá na Casa Porto das Artes Plásticas, com abertura no dia 20 de novembro de 2018, e visitação de 21 de novembro de 2018 a 6 de janeiro de 2019.

Virginia de Medeiros é artista visual e educadora, Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes-UFBA. Ao longo de sua trajetória realizou cerca de 60 exposições nacionais e internacionais, entre elas: 2017-2018: História da Sexualidade, MASP [São Paulo, SP]; 2017: Jogja Biennale XIV, Yogyakarta, Indonésia; 2016: La réplica Infiel, Centro de Arte 2 de Mayo [Madri, Espanha]; 2015: Rainbow in the dark: no joy e tormento of Faith, Malmö Konstmuseum [Malmö, Suécia]; 2014: Salón de Belleza [Beauty Salon], Utopian Pulse - Flares in the Darkroom [Viena, Áustria]; 2014: 31ª Bienal de São Paulo: como (...) coisas que não existem. Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP]; 2006: 27ª Bienal Internacional de São Paulo Como Viver Junto, Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP], entre outras. Em 2015, ganhou o Prêmio PIPA voto popular e júri; foi artista premiada na 5ª Edição Prêmio Marcantonio Vilaça CNI / Sesi / Senai. Como educadora ministrou inúmeras oficinas em instituição de Arte e Fundações como Associação Cultural Videobrasil [São Paulo, SP], Universidade Federal da Bahia [Salvador, BA], Escola de Arte Visuais Parque Lage [Rio de Janeiro, RJ], Universidade Federal de Ciências da saúde de Porto Alegre [Porto Alegre, RS], Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR [Rio de Janeiro, RJ], Museu de Arte Contemporânea – MAC/USP [São Paulo, SP], entre outras. Foi Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Artes Visuais: Cultura e Criação da Rede-EAD, SENAC, Bahia [2008/2009] e Professora Substituta do Departamento de História da Arte e Pintura na Escola de Belas Artes – UFBA, também em Salvador [BA].

Posted by Patricia Canetti at 10:37 AM

agosto 24, 2018

Clara Ianni na Vermelho, São Paulo

Na Sala Antonio de projeção, a Vermelho exibe Repetições (2018), de Clara Ianni (São Paulo, 1987).

Clara Ianni está na exposição Brasile. Il coltello nella Carne, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, no Padiglione di Arte Contemporanea (PAC). A artista estará, a partir de 1º de setembro, na coletiva Estado(s) de Emergência, na Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo), com curadoria de Priscila Arantes e Diego Matos.

Ianni já participou de diversas exposições institucionais importantes como 12ª Bienal de Istambul (2011), 31ª Bienal de São Paulo (2014), Bienal de Jakarta (2015) e Intermittent dystopias - X Bienal de Berlin (2018).

Sua obra está em coleções como Museum of Modern Art, MoMA (Nova York) e Museu de Arte Moderna, MAM Rio (Rio de Janeiro). Ianni já foi contemplada com prêmios e bolsas como Bolsa Pampulha (Belo Horizonte, 2010) e 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil Prêmio de Residência A-I-R Laboratory, Varsóvia, Polônia (São Paulo, 2015).

Repetições, 2017-2018, revisita a primeira peça teatral feita contra o regime militar brasileiro (1964-1985). Inspirada pelo golpe ocorrido em 2016, Ianni buscou resgatar a primeira resposta, dada no teatro, ao golpe de 1964. Tendo a repetição histórica da vida política do país como ponto de partida, o vídeo cria um ponto de junção, ou contato, entre o passado e o presente. Como uma tentativa de reencenação, o filme revisita a peça Arena Conta Zumbi, realizada pelo Teatro de Arena (1965) e o contexto de sua montagem através das memórias de um de seus antigos atores, Izaías Almada. Filmado na antiga sede do grupo e utilizando algumas das técnicas dramatúrgicas desenvolvidas pelo próprio Teatro de Arena, o projeto lida com a ideia de repetição enquanto possibilidade de transmissão da memória de uma experiência, e também como sintoma, retorno de um trauma mal elaborado.

No vídeo de Ianni, a repetição não é a reprodução exata, mas um ressurgimento transformado, evidenciado pela tensão entre utopia e catástrofe, vigor e debilidade, entre memória do corpo e memória do documento.

O Teatro de Arena foi um grupo de teatro brasileiro que atuou entre as décadas de 1950 e 1970. Fundado em 1953, o Arena buscava renovar e produzir um teatro que refletisse a experiência brasileira, em oposição ao teatro em voga naquele tempo, fortemente influenciado pelo repertório europeu e norte-americano. A convicção do grupo era apresentar um repertório popular que espelhasse seu tempo, buscando não a catarse, mas sim a reflexão. Depois de anos se apresentando em lugares como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, fábricas e espaços alternativos na cidade, o Arena conquista sua sede no centro de São Paulo, em 1954. A arquitetura do espaço fugia do modelo tradicional e hierarquizado de palco, para um palco circular, onde os atores ficavam no centro do público, possibilitando que a cena fosse vista de múltiplos ângulos ao mesmo tempo.

Em 1956, Augusto Boal entra para o grupo renovando seu repertório e contribuindo para o desenvolvimento de suas técnicas dramatúrgicas. Em 1958, o Arena apresenta Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que buscava comunicar-se com as classes proletárias do país. De Black-tie ao início da década de 1960, o grupo leva aos palcos os escritos originais de integrantes da companhia, cumprindo sua missão de pensar o Brasil através do teatro e politizando a discussão sobre a realidade nacional.

Em 1º de maio de 1965, como resposta ao golpe militar, o grupo estreou Arena conta Zumbi. O musical, escrito por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, com músicas de Edu Lobo, revisitava a história de Zumbi, a formação do Quilombo de Palmares, e a resistência contra o império Português, como metáfora da luta pela liberdade em 60.

A estrutura do texto não se articula em torno de Zumbi como protagonista, função que é dividida entre três personagens - o rei Zambi, Ganga Zumba e Ganga Zona. O público acompanha, no início da peça, a prisão de Zambi na África, a situação do povo negro dentro dos navios negreiros, a compra e venda dos escravos e, finalmente, a fuga de Zambi. A peça passa, então, a retratar o desenvolvimento e o cotidiano do Quilombo dos Palmares como comunidade e suas relações afetivas. No último ato são representados os enfrentamentos com os militares e com os senhores de terras, a tentativa de resistência, a destruição do Quilombo e o assassinato de Zambi.

Arena conta Zumbi inaugurou o ‘Sistema Coringa’ de interpretação, elaborado por Boal, no qual um ator pode interpretar diferentes papéis, alternando-se de acordo com o contexto da cena – revolucionário(a), policial, bispo, político(a), juiz(a) e etc. Esta desvinculação entre ator e personagem, que mais tarde, integraria o método elaborado por Boal chamado Teatro do Oprimido, era um modo de, não só confrontar a ideia do ator como herói, mas de apontar a realidade como construída, e passível de ser transformada, posições alteradas.

Izaias Almada nasceu em 1942, em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde iniciou seus estudos em teatro. Mais tarde, mudou-se para São Paulo, ingressou na Universidade de São Paulo, onde estudou na Escola de Artes Dramáticas e conheceu Augusto Boal. Izaías Almada é romancista, dramaturgo, roteirista e biógrafo. Além disso, trabalhou na área de publicidade onde dirigiu peças publicitárias pelas quais recebeu diversos prêmios, como o Leão de Cannes. Como autor, Almada publicou, em 2004, o livro Teatro de Arena, sobre a história do grupo.

Posted by Patricia Canetti at 6:15 PM

André Komatsu na Vermelho, São Paulo

A Vermelho apresenta Estrela Escura, a sexta exposição individual de André Komatsu (São Paulo, 1978) na galeria.

Além da individual na Vermelho, Komatsu inaugura em setembro a individual Ordem Casual, com curadoria de Ginevra Bria e Atto Belloli no FuturDome, em Milão. Com cerca de 40 trabalhos de diferentes períodos, essa será a maior exposição panorâmica da obra de André Komatsu até hoje. Também em Milão, a obra de Komatsu pode ser vista na coletiva Brasile. Il coltello nella Carne, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, no Padiglione di Arte Contemporanea (PAC).

André Komatsu representou o Brasil na 56ª Bienal de Arte de Veneza (2015) e participou de importantes mostra nacionais e internacionais como as 7ª e 8ª Bienais do Mercosul (2009 e 2011), a X Bienal de Monterrey (2013), Avenida Paulista, (Museu de Arte de São Paulo, MASP, 2017) e Frestas Trienal de Artes (2017).

Seu trabalho está presente em importantes coleções como TATE Modern (Londres), Fundação Serralves (Porto), Museum of Modern Art, MoMA (Nova York) e Bronx Museum (Nova York).

André Komatsu destaca personagens e qualidades que costumam ficar à sombra de nosso cotidiano. Com novos desenhos, esculturas, pinturas, assemblages e instalações, Komatsu fala de um Brasil construído pelo trabalhador e de uma cultura de tendências e doutrinas esvaziada. Komatsu fala também da maneira com que nos recolhemos nos dispositivos que nos propiciam segurança – desde nossas casas cercadas e muradas, até o tipo de literatura jornalística que escolhemos seguir. O artista também comenta os desvios éticos que acompanham tendências históricas, políticas e artísticas formadoras da América Latina.

Ruínas Latino-americanas
Em Ruínas Latino-americanas, Komatsu altera digitalmente uma edição da Folha de S.Paulo, maior periódico da América Latina. A edição do dia 24 de janeiro de 2018 foi publicada no mesmo dia do julgamento em segunda Instância que condenou o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, acontecimento considerado como terceira instancia de um golpe parlamentar, segundo a ótica da esquerda e da direita não liberal no Brasil, sendo a primeira a deposição da presidenta Dilma Roussef e segunda a votação da PEC 241, que fixou por 20 anos os gastos públicos, com destaque para os gastos com a Previdência Social.

Komatsu colecionou reportagens que tratam da privatização de diferentes recursos da economia nacional, montando uma falsa edição do jornal que é toda baseada em notícias sobre esse tema. Na foto principal da edição, o artista modificou uma imagem para criar uma sede da “Brasil SA”. Sociedade anônima (normalmente abreviado por S.A., SA ou S/A) é uma forma jurídica de constituição de empresas na qual o capital social está dividido em ações que podem ser transacionadas livremente, sem necessidades de escritura pública ou outro ato notarial. Por ser uma sociedade de Capital, a S.A. prevê a obtenção de lucros a serem distribuídos aos acionistas.

Acordo social
Komatsu trabalha com jornais impressos de diferentes partes do globo para discutir o poder da imprensa e das notícias. Jornais cujas denominações são de alguma forma absolutas como O Globo, Le Monde (o mundo) e El País (o país), são cobertos por uma manta de chumbo que permite entrever apenas seus títulos, bloqueando qualquer notícia. O chumbo, em virtude das aplicações progressivamente mais intensas da energia atômica, tornou-se cada vez mais importante como blindagem contra a radiação, graças à sua excelente resistência à corrosão. O material é, contudo, extremamente tóxico para o corpo humano, podendo gerar efeitos danosos como aumento da pressão sanguínea, abortos espontâneos, alterações no sistema nervoso que podem levar à demência, etc. A capa de chumbo de Komatsu, assim, ao mesmo nos protege do poder da mídia e nos contamina pela mesma.

Acesso negado
Em Acesso negado (2018), sobre uma mesa, uma pilha de livros monográficos que discorrem sobre ideologias políticas e econômicas, reage à aproximação do observador. Sobre um mesmo eixo, os livros giram, impedindo a leitura de seu conteúdo.

Massa falida
As peças da série Massa falida (2018) são compostas por sacos de entulho usados na construção civil. Os sacos, costurados uns aos outros, formam estandartes ou bandeiras. Dispostos lado a lado, evidenciam uma repetição a partir de informações textuais que constavam no produto original. Com tinta, Komatsu apaga ou destaca trechos desses textos originais e desenha linhas e gráficos, criando novos significados. O saco para entulho sai do lugar mais baixo do descarte na construção civil para chamar a atenção para as repetições históricas das disparidades sociais.

Fantasma
As obras da série Fantasma (2015-2018) dão continuidade a pesquisa de Komatsu que resultou em sua instalação no Pavilhão Brasileiro da Bienal de Veneza de 2015. O artista trabalha com o conforto sentido pelo individuo moderno em situações de autoaprisionamento doméstico, como na segurança sentida quando nos fazemos reféns em nossas moradas, cercadas de proteção e de artifícios elaborados para preservar nossas privacidades. Aqui, o que vemos é a celebração desses procedimentos, transformados em objeto de contemplação.

Autômatos
Feita em ferro, vidros e espelho, a estrutura de Autômatos conjuga opostos como contenção e dispersão, passagem e impedimento, vista e opacidade, público e privado. A instalação pôde ser vista durante a Frestas Trienal de Artes, do Sesc Sorocaba, em 2017, e agora é apresentada no contexto de Estrela Escura.

Estudos de campo + Volátil
Na série Estudo de campo, Komatsu mistura impressões, recortes de revista e desenhos com nanquim para investigar a relação entre projeto, construção e política. A fragilidade ética desses projetos, é evidenciada por Volátil, série iniciada em 2016, que aparece em Estrela Escura em uma nova instalação. Na série, barras de ferro são apoiadas por pregos e desenhos são gravados na parede com incisões verticais e horizontais formando uma grade. As barras ficam na posição horizontal, diagonal ou em curva e o desenho se coloca no momento em que há uma distorção na barra. O vergalhão de ferro, material comumente utilizado para estruturar edificações, é usado de maneira fluida na série, como desenhos de gesto solto. Enquanto os desenhos são apresentados de maneira rígida, incrustrados na parede, as barras parecem poder se desmontar pela fragilidade de sua instalação.

Posted by Patricia Canetti at 6:09 PM

Minerva Cuevas no Galpão VB, São Paulo

Artista mexicana trabalha na fronteira entre arte e ativismo para questionar rumos contemporâneos

Dona de uma produção que se vale do humor e da ironia para abordar temas políticos e ecológicos, a artista mexicana Minerva Cuevas (Cidade do México, 1975) é o centro da grande exposição que ocupará o Galpão VB entre os meses de setembro e dezembro de 2018.

Reunindo sete vídeos e uma projeção de slides, Dissidência é a primeira grande individual de Cuevas no Brasil. Se apropriando frequentemente da linguagem do marketing e da publicidade, muitos de seus trabalhos dialogam com ícones da cultura pop para repensar as relações sociais, o papel de grandes corporações na produção de alimentos e o uso de recursos naturais.

“O galpão será inteiramente ocupado por videoinstalações em diferentes formatos. Título de uma obra emblemática, Dissidênciaserve para demarcar oposição e contestação ativa” explica Gabriel Bogossian, curador ao lado de Solange Farkas.

Com apoio da galeria mexicana Kurimanzutto, a mostra aposta na junção da arte e do ativismo, em um momento marcado por alterações graves na legislação referentes ao uso de agrotóxicos, ao desmatamento da Amazônia, demarcação de terras indígenas no Brasil.

“Ao exibir uma das artistas mais inventivas e contundentes da produção política latino-americana, o Videobrasil reafirma seu compromisso com o debate geopolítico. A obra de Minerva é especialmente informativa sobre nosso contexto, dadas as semelhanças entre Brasil e México em vários dos aspectos abordados”, complementa Solange.

Dispostas no espaço, obras como A Draught of the Blue(2013) e Donald McRonald(2003) sugerem uma possibilidade latente de revolta implícita no cotidiano.

Dona de uma produção que se vale do humor e da ironia para abordar temas políticos e ecológicos, a artista mexicana Minerva Cuevas (Cidade do México, 1975) é o centro da grande exposição que ocupará o Galpão VB entre os meses de setembro e dezembro de 2018.

Reunindo sete vídeos e uma projeção de slides, Dissidênciaé a primeira grande individual de Cuevas no Brasil. Se apropriando frequentemente da linguagem do marketing e da publicidade, muitos de seus trabalhos dialogam com ícones da cultura pop para repensar as relações sociais, o papel de grandes corporações na produção de alimentos e o uso de recursos naturais.

“O galpão será inteiramente ocupado por videoinstalações em diferentes formatos. Título de uma obra emblemática, Dissidênciaserve para demarcar oposição e contestação ativa” explica Gabriel Bogossian, curador ao lado de Solange Farkas.

Com apoio da galeria mexicana Kurimanzutto, a mostra aposta na junção da arte e do ativismo, em um momento marcado por alterações graves na legislação referentes ao uso de agrotóxicos, ao desmatamento da Amazônia, demarcação de terras indígenas no Brasil.

“Ao exibir uma das artistas mais inventivas e contundentes da produção política latino-americana, o Videobrasil reafirma seu compromisso com o debate geopolítico. A obra de Minerva é especialmente informativa sobre nosso contexto, dadas as semelhanças entre Brasil e México em vários dos aspectos abordados”, complementa Solange.

Dispostas no espaço, obras como A Draught of the Blue(2013) e Donald McRonald(2003) sugerem uma possibilidade latente de revolta implícita no cotidiano.

Publicação

A publicação que acompanhará Dissidência é a primeira dedicada à obra de Minerva Cuevas no Brasil e contará com textos sobre as obras da exposição, uma entrevista com a artista e uma versão do ensaio sobre Donald McRonald, publicado por Cuevas em 2012, além de um ensaio introdutório da dupla de curadores, Gabriel Bogossian e Solange Farkas.

Posted by Patricia Canetti at 4:13 PM

Arte-veículo no Sesc Pompeia, São Paulo

O Sesc Pompeia apresenta, entre os dias 28 de agosto e 2 de dezembro de 2018, a exposição coletiva Arte-veículo, que destaca o uso da mídia de massa brasileira como um espaço de intervenção artística. Com curadoria de Ana Maria Maia, a mostra é uma decorrência da pesquisa iniciada com a Bolsa Funarte de Estímulo às Artes Visuais, que a curadora ganhou em 2014 e a partir da qual publicou o livro Arte-veículo: intervenções na mídia de massa brasileira (Editoras Aplicação e Circuito, 2015).

A exposição reúne 47 artistas e coletivos de diferentes gerações e linguagens, como artes visuais, performance, cinema, dança, comunicação popular e ativismo. O público poderá conferir mais de 200 obras que se apropriam dos veículos de comunicação como suporte de difusão ou que trabalham com o imaginário midiático. Vale também observar a habilidade tática para pegar carona em circuitos de amplo alcance e parasitá-los com enunciados desviantes, diz a curadora.

Os trabalhos foram realizados nos últimos 60 anos, compreendendo o período que vai do surgimento da televisão no país, na década de 1950, até a popularização da internet entre os brasileiros, nos anos 2000, passando ainda pelo auge dos jornais impressos. Na exposição, instalada na Área de Convivência da unidade, eles serão divididos de acordo com sete núcleos temáticos.

ARTE-VEÍCULO EM NÚCLEOS

O primeiro núcleo da mostra, “Perder-se”, traz obras em que a visibilidade do artista não era uma premissa para sua realização. Pelo contrário. Atuando de maneira clandestina e pontual em grandes veículos, era possível disseminar um pensamento crítico por meio das artes, principalmente durante a ditadura militar no Brasil.

Entre elas está “Clandestinas” (1975), de Antonio Manuel. Em caráter extraoficial, mas com a confiança de funcionários do jornal O Dia (RJ), o artista conseguiu acessar a arte-final das capas de nove edições e substituir algumas fotografias e textos, imprimindo tiragens alternativas em que notícias e ficções se misturaram. Em “Inserções em circuitos ideológicos – Projeto Coca-Cola” (1970), Cildo Meireles gravou anonimamente em garrafas retornáveis do refrigerante mensagens subversivas, como “Yankees go home” ou “Qual o lugar do objeto de arte?”. Já “A Corda”, de Neide Sá (1967/2010), é uma obra colaborativa, em que o público constrói um varal com recortes de textos e imagens da imprensa, atribuindo novos significados ao material.

Em “Sair às Ruas” estão trabalhos de artistas que fugiram das mostras tradicionais para atuar na esfera pública, deixando as páginas de cultura para ganhar espaço nas editorias de cotidiano.

Um dos integrantes da seção é o Grupo Manga Rosa, que apresenta “Primeiro passo, conquistar espaços” (1981-1982/2018), um outdoor que durante um ano abriu espaço para outros artistas na Rua Consolação, em frente à praça Roosevelt, dando visibilidade e escala urbana aos seus trabalhos. Também serão exibidos diferentes vídeos da TV Viva, grupo que veiculava sua programação de forma itinerante em bairros da periferia de Olinda e de Recife (PE). Um deles é o fala povo “Bom dia Déo: Quem tem medo?” (1984).

“Duelar” é o núcleo em que artistas propuseram duelos simbólicos com a mídia hegemônica. Entre acordos e desacordos, negociar foi uma estratégia recorrente.

“A situação” (1978), uma das primeiras obras de videoarte do Brasil, tem Geraldo Anhaia Mello como âncora de telejornal. O artista tenta divulgar uma notícia sobre o duro período vivido pelo país enquanto se embriaga em frente à câmera. Na noite de abertura da mostra e no dia 1 de dezembro, Aretha Sadick e Explode! apresentam “Vera Verão” (2017-2018), uma performance a partir da personagem vivida pelo ator Jorge Lafond na TV brasileira, alvo de estereótipos, mas também dona de um sarcasmo afiado.

Seguindo o percurso, “Hackear” reúne trabalhos feitos por artistas e grupos que, de diferentes maneiras, se alojaram no seio dos grandes sistemas e corporações para tentar minar sua força ou orientá-la para objetivos opostos. Pautada na busca por modelos de comunicação livre e em rede, a discussão abrange representantes do movimento de Mídia Tática, ocorrido no Brasil e no mundo no início dos anos 2000.

Nele está o vídeo “Barraco da Grobo” (2003), dos videohackers. Uma equipe do SPTV (TV Globo) fazia a cobertura do Festival Mídia Tática Brasil, em São Paulo, mas repórter e organizadores se desentenderam. A matéria não foi exibida na TV, mas o registro do confronto feito pela equipe do evento foi publicado na internet. “Arquivos táticos” (2000-2018) reúne memórias de quase 20 anos de iniciativas de artistas e ativistas de diferentes movimentos que foram organizadas por Giseli Vasconcelos, Tati Wells (midiatatica.info) e Cristina Ribas (desarquivo.org).

O quinto núcleo, “Ouviver”, mostra intervenções artísticas que fizeram reverberar vozes silenciadas por muito tempo, como o trabalho de Éder Oliveira, que vem pintando grandes retratos de jovens das periferias de Belém, suspeitos de crimes e que estampam as páginas policiais da imprensa paraense, ou “Seis dias em Ouricuri” (1976), de Eduardo Coutinho. O documentarista atuava como diretor do programa Globo Repórter (TV Globo) e, à revelia do manual de redação da emissora, que determinava planos de entrevistas curtos e objetivos, ele saia em campo para praticar escutas longas e atentas dos seus entrevistados.

Também se destaca a obra “Ensacamento” (1979), do 3NÓS3 (Hudinilson Jr., Mário Ramiro e Rafael França). Durante uma madrugada em São Paulo, o grupo cobriu as cabeças de diversas esculturas públicas com sacos plásticos – como se fazia em torturas por asfixia –, telefonando anonimamente para os principais veículos de imprensa da cidade na manhã seguinte para relatar o ato de “vandalismo” e conseguir várias matérias de denúncia nos cadernos de vida urbana.

Em discordância com a premissa de verdade imparcial propagada por alguns veículos da imprensa, artistas mostram em “Ficcionalizar” como diferentes modos de narrar a realidade podem criar versões da mesma, sempre subjetivas e questionáveis.

Isso fica evidente em “Soap Opera” (1990), uma videoinstalação de Aimberê César e Márcia X., em que um mesmo vídeo é exibido em quatro telas diferentes, tendo alteradas as escalas de cor das imagens e a trilha sonora. Em “Souzousareta Geijutsuka” (2006), Yuri Firmeza inventou um artista para participar de um projeto no Museu de Arte Contemporânea de Fortaleza. Com a equipe do museu e uma assessoria de imprensa, ele forjou um currículo internacional e um completo material de divulgação e a farsa só foi revelada na abertura da mostra, suscitando um debate acalorado nos veículos da cidade e do país.

Na última parte da exposição, “Experimentar a Linguagem”, são exibidos trabalhos de artistas que utilizaram redações de jornais e estúdios de TV como verdadeiros laboratórios de pesquisa.

Uma das pioneiras do vídeo no Brasil, Analívia Cordeiro realizou uma sequência de obras nos estúdios da TV Cultura, em São Paulo. “M3X3” (1973), a primeira delas, é uma coreografia de videodança para nove bailarinas e três câmeras. Já Nuno Ramos utilizou falas editadas de William Bonner e Renata Vasconcelos, apresentadores do Jornal Nacional (TV Globo), os fazendo “cantar” a música “Lígia” (2017), de Tom Jobim.

Ainda neste núcleo a “Reforma gráfica e editorial do Jornal do Brasil” (1957-1961), uma força-tarefa de jornalistas, artistas, poetas e críticos de vanguarda, encabeçada por nomes como Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Jânio de Freitas e Reynaldo Jardim, mostra como em cinco anos, o Jornal do Brasil (RJ) deixou de ser uma página de classificados e matérias da Agência Nacional e foi adquirindo textos próprios, fotografias e uma mancha gráfica limpa e eficaz.

(RE)INSERÇÃO NA IMPRENSA

Além da exposição no Sesc Pompeia, “Arte-veículo” também terá obras reinseridas ou inseridas em meios de comunicação brasileiros. A ação volta ao contexto original das intervenções midiáticas históricas e amplia a esfera de alcance dos artistas para outros públicos.

Entre elas, está “Furos” (1989/2018), de Jac Leirner. Dentro de um projeto comissionado pelo Jornal da Tarde (SP), a artista agiu sobre o processo de impressão e fez com que as páginas recebessem pequenas fissuras. Praticamente em branco, elas carregaram apenas as marcas como narrativa e o duplo sentido do título, já que furo também significa uma notícia em primeira mão.

Criado por Daniel Santiago, “Verzuimd Braziel” (1995/2018), ou “Brasil desamparado”, traduzido do holandês, é um projeto de “ovolatria artística”, que foi realizada em Pernambuco como ação presencial e agora ganhará transmissão em uma emissora de TV, conforme previa o artista.

PROGRAMAS PÚBLICOS

Uma agenda de encontros, performances e laboratórios completa a exposição. Distribuídos ao longo de três meses, esses eventos dão acesso a episódios de uma trajetória de relações entre os artistas e os veículos de comunicação no Brasil. Um repertório histórico e iniciativas comissionadas são articulados de modo a convocar o público a refletir sobre as disputas por um imaginário midiático hoje, diz Ana Maria Maia.

Na noite de abertura, além da performance “Vera Verão”, de Aretha Sadick e Explode!, haverá ação de montagem de “A Corda”, de Neide Sá. Entre os dias 30 de agosto e 1 de setembro, Cris Ribas, Giseli Vasconcelos e Tati Wells promovem “Arquivos táticos”, um laboratório teórico e prático para discutir uma memória de 20 anos da internet livre no Brasil, com 20 vagas abertas ao público (inscrições na Central de Atendimento do Sesc Pompeia).

Em novembro, destaque para “Teatro de Sanidades”, uma performance que reúne um grupo de mulheres e, no entorno, mas também em cena, a cobertura dos seus movimentos por youtubers convidados.

CANAL DIGITAL

Para dar continuidade ao arquivo e à memória sobre intervenções midiáticas no Brasil, mesmo depois de encerrada a mostra, “Arte-veículo” torna-se um canal no YouTube. Nessa rede digital, serão indexados alguns trabalhos em suporte audiovisual provenientes de outras páginas.

A partir de agosto de 2018, o canal também passa a receber depoimentos em vídeo de artistas e grupos participantes do projeto, com narrativas sobre cada obra que possibilitem perceber o contexto, as ferramentas e as estratégias a partir dos quais vieram a existir. Também poderão ser assistidos os registros integrais das conversas e performances da exposição no Sesc Pompeia.

SOBRE A CURADORA

Ana Maria Maia é pesquisadora, curadora e professora de arte contemporânea, nascida no Recife (PE) e radicada em São Paulo (SP) desde 2009. Tem doutorado em Teoria e Crítica de Arte pela Universidade de São Paulo (USP). Foi curadora adjunta do 33º Panorama de Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2013) e curadora do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (2011-2). Realizou curadorias de mostras como “A Marquise, o MAM e nós no meio” (MAM São Paulo, 2018), “Elefante branco com paninho em cima” (MIS São Paulo, 2016) e “O efeito da frase” (Museu Murillo La Greca, Recife, 2012). É autora de "Flávio de Carvalho" (Editora Azougue, 2015) e "Arte-veículo: intervenções na mídia de massa brasileira" (Editora Aplicação e Editora Circuito, 2015).

Posted by Patricia Canetti at 3:25 PM

agosto 21, 2018

Mostra de Performances E eu não sou uma mulher? no Tomie Ohtake, São Paulo

Na ampla programação que integra a exposição Histórias Afro-atlânticas (em cartaz no Instituto Tomie Ohtake e no MASP até dia 21 de outubro), o Instituto Tomie Ohtake realiza uma série de atividades com artistas negras, entre as quais a Mostra de Performances E eu não sou uma mulher? que traz produções das artistas Luciane Ramos Silva, Michelle Mattiuzzi, Priscila Rezende e Renata Felinto, que dialogam com as questões da negritude feminina.

MOSTRA DE PERFORMANCES – E EU NÃO SOU UMA MULHER?

24 de agosto, sexta-feira, 19h
Sobre o papel branco (black process), com Michelle Mattiuzzi
Classificação indicativa 18 anos
Musa Michelle Mattiuzzi tornou-se devir musa em meados dos anos dois mil, numa cidade muito próspera localizada ao nordeste do Brasil: Salvador de Bahia. E foi daí que ela ganhou o mundo. Hoje vive sem pedir passagem. Agora está em Atenas mirando e desobedecendo com orgulho e graça, fazendo outro corpo em referência à música de um cantor carioca. Popular, foi premiada pela Instituição Prize Pipa na categoria online (2017). É uma garota grosseiramente fofa, gosta de desobediência, vive as luzes do fracasso. (Des)empoderada lidera o crime desorganizado da vida. Viva, corre o medo da morte. Em comunidade vive o patriarcado assolado pelo discurso coletivo. É preta, é mulher, e lésbica. Vive nas ruínas sob a paisagem da desordem do mundo.

25 de agosto, sábado, 17h
Como erguer baronatos, com Priscila Rezende
Classificação indicativa livre
Priscila Rezende é graduada em Artes Visuais. Dentre seus trabalhos destacam-se 1ª Mostra Perplexa de performances (2010); Outra Presença (2013); Limite Zero (2014); Projeto Raiz Forte (2015); The Incantation of the Disquieting Muse (2016); Perfura Ateliê de Performance (2017); Mostra Performatus #2 (2017); Festival Performe-se (2017); Negros Indícios (2017). Foi artista residente na instituição Central Saint Martins, Londres/2018.

25 de agosto, sábado, 19h
Axexê de A Negra ou o descanso das mulheres que mereciam serem amadas, com Renata Felinto
Classificação indicativa 18 anos
Renata Felinto é artista visual e professora. Doutora e mestra em Artes Visuais e especialista em Curadoria e Educação em Museus. Compôs o conselho editorial da revista O Menelick 2º Ato e é membro da Comissão Científica do Congresso CSO 2017-8 da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Coordenou o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil. A arte produzida por mulheres e homens negros descendentes tem sido principal tema de pesquisa.

26 de agosto, domingo, 19h
E SE? Na fresta da certeza, o vermelho escuro, com Luciane Ramos-Silva e participação de Verônica Santos, Malu Avelar, Juliana Jesus e Keithy Alves
Classificação indicativa: livre
Luciane Ramos-Silva é antropóloga e artista da dança, doutora em Artes da Cena e mestra em Antropologia. É membro do conselho editorial da revista O Menelick 2º Ato, gestora de projetos do Acervo África e professora na Sala Crisantempo. Atua em parceria com diversos coletivos e instituições nas encruzilhadas das áreas de dança, pedagogia e crítica cultural. Sua tese abordou as noções de colonialidade, os currículos de graduação e a proposta pedagógica que intitula Corpo em Diáspora.

Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 – Complexo Aché Cultural, Pinheiros, São Paulo
(Entrada pela Rua Coropés, 88)
Metrô mais próximo – Estação Faria Lima / Linha 4 – Amarela

Posted by Patricia Canetti at 5:54 PM

Iran do Espírito Santo & Fred Sandback na Carpintaria, Rio de Janeiro

O artista brasileiro Iran do Espírito Santo (Mococa, 1963) exibe uma seleção de trabalhos inéditos ao lado de obras do norte-americano Fred Sandback (Bronxville, 1943 - Nova York, 2003) na Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro cuja vocação é a proposição de diálogos, encontros e exercícios de pensamento entre diferentes artistas, formas de expressão e linguagens. O dueto, Iran do Espírito Santo & Fred Sandback, realizado em conjunto com o Fred Sandback Estate e a David Zwirner Gallery, sublinha as afinidades criativas das vastas produções artísticas da dupla, ainda que suas trajetórias estejam separadas por intervalos geracionais e distâncias geográficas.

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Um dos principais nomes vinculados ao Minimalismo norte-americano, Fred Sandback tornou-se internacionalmente conhecido por suas esculturas de fio acrílico, em que delineia o espaço tridimensional e cria formas volumétricas a partir de recursos mínimos. Na década de 1960, nos Estados Unidos, o minimalismo emerge no campo das artes visuais como uma reação às manifestações artísticas do pós-guerra. Artistas como Sandback, Donald Judd, Sol Lewitt e Agnes Martin questionavam, em suas obras, os preceitos do Expressionismo Abstrato, considerados por eles acadêmicos e já obsoletos. Deste modo, distanciavam-se dos simbolismos e da carga dramática das pinturas expressionistas e privilegiavam a materialidade dos objetos e aparatos que empregavam em suas criações, frequentemente de origem industrial.

Iran do Espírito Santo inicia sua obra na década de 1980, em São Paulo, após graduar-se pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Assim como na trajetória artística de Sandback, o momento inicial da carreira do artista é marcado pelo ímpeto em responder ao movimento artístico anterior – neste caso a pintura neoexpressionista, típica daquela década. Em seus desenhos, esculturas e instalações, Iran passa a questionar os códigos da representação visual, tensionando a relação entre o que é o visto e aquilo que é apreendido pela visão do espectador. É a questão que se apresenta, por exemplo, em Compressão horizontal (2018), pintura realizada diretamente na parede lateral direita da Carpintaria. Ao criar um gradiente de tons de branco, cinza e preto em uma parede com cerca de 15 metros de comprimento, o artista expande as possibilidades perceptivas do espaço expositivo.

A relação entre a obra e o ambiente em que esta se situa é questão fundamental também para as esculturas de Sandback. Ao esticar diferentes extensões de fio acrílico em disposições horizontais, verticais ou diagonais, o artista desenvolve uma sintaxe visual singular, criando planos pictóricos e volumes arquitetônicos capazes de subverter a experiência de determinado espaço. Em Untitled (Sculptural Study, Ten-part Vertical Construction) (c. 1991-2018), dez fios fixados precisamente do chão ao teto da sala expositiva desvelam uma prática artística que mescla rigor e simplicidade, exatidão e experimentação.

O interesse de ambos pela linha torna-se evidente na seleção de desenhos de cada um. Na série inédita UHT – sigla que designa “unidade de habitação temporária” – Iran desconstrói geometrias cúbicas ao desenhar extensiva e repetidamente linhas horizontais e verticais com grafite. Se para muitos artistas o desenho comumente ocupa o lugar de experimento e estudo anterior à confecção de esculturas ou pinturas, para essa dupla a prática do traço no papel revela-se como uma pesquisa das possibilidades intrínsecas do desenho enquanto plataforma em si. Empregando ora pastel ora lápis de cor, Sandback transcende o uso trivial do desenho enquanto esboço, projeto; busca, em contrapartida, transferir seu pensamento escultórico para o plano bidimensional.

Riscando o ar e as paredes, os trabalhos de Iran e Sandback adentram o campo da imaterialidade, transcendendo a fragilidade de seus materiais e tornando a luz e o espaço entrelinhas os agentes ativos do trabalho, elementos de alta solidez visual. Relacionando-se em uma situação instalativa no espaço da Carpintaria, as obras da dupla forjam não apenas uma correspondência ativa como instauram um estado de contaminação positiva entre si. Circunstâncias históricas e hiatos temporais à parte, trata-se do encontro de duas práticas artísticas que convergem no delicado território da precisão conceitual, da meticulosidade técnica e do rigor formal.


Brazilian artist Iran do Espírito Santo (Mococa, 1963) shows a selection of original works next to pieces by American Fred Sandback (Bronxville, 1943 – New York, 2003) at Carpintaria, Fortes D’Aloia & Gabriel’s venue in Rio de Janeiro, whose mission is to propose dialogues, meetings and think tanks, of various artists, expressions and discourses. The duet, Iran do Espírito Santo & Fred Sandback, performed in conjunction with the Fred Sandback Estate and David Zwirner Gallery, highlights the creative affinities of the duo’s vast artistic productions, even though their trajectories are separated by generational and geographical gaps.

One of the main names linked to American minimalism, Fred Sandback became internationally known by his acrylic yarn sculptures, with which he outlines three-dimensional space and creates volumetric shapes with minimal resource employment. In the US from the 60’s, minimalism emerges as a reaction to post-war artistic expressions in visual arts. Artists like Donald Judd, Sol LeWitt and Agnes Martin used their work to question the principles of Abstract Expressionism, which they considered scholarly and already obsolete. Therefore, they would keep away from the expressionist paintings symbolism and drama charge, and highlight the material aspect of the often industrially sourced objects and devices employed in their works.

Iran do Espírito Santo initiates his career in the 80’s, in São Paulo, after graduating at FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Like Sandback’s artistic journey, the artist’s career starting point is marked by the urge to respond to the previous art movement – in this case neoexpressionist painting, typical from the 80’s. In his drawings, sculptures and installations, Iran starts to question visual representation codes, tightening the relationship between what is seen and what is understood by the viewer’s sight. That’s the question that is presented, for example, in Compressão Horizontal [Horizontal Compression] (2018), a painting made straight over Carpintaria’s side wall. When creating a gradient of white, grey and black shades on a 50 feet wide wall, the artist broadens the exhibition room’s perceptive possibilities.

The relationship between work and the environment it occupies is a fundamental question for Sandback’s sculptures. While stretching various lengths of acrylic yarn in vertical, horizontal, and diagonal ways, the artist develops a unique visual syntax, creating pictorial planes and architectural volumes capable of subverting a certain space’s experience. In Untitled (Sculptural Study, Ten-part Vertical Construction) (c. 1991-2018), ten threads precisely pinned from floor to ceiling reveal an artistic practice that merges accuracy and simplicity, precision and experimentation.

Their interest in the line becomes clear with the selection of drawings by each one of them. In the original series UHT – acronym for “unidade de habitação temporária” [“temporary housing unit”] – Iran deconstructs cubic geometry while extensively and repeatedly drawing horizontal and vertical lines with a pencil. If, for many artists, drawing tends to occupy a place of experimentation and sketching prior to sculpture or painting production, for this duo the practice of tracing on paper seems to be a research of the inner possibilities of drawing as a platform itself. Sometimes using pastel, sometimes colored pencils, Sandback transcends the trivial use of drawing as a sketch, as a project; he seeks, instead, to transfer his sculptural mindset to a two-dimensional plane.

Streaking the air and the walls, Iran and Sandback’s pieces enter the immateriality field, transcending the frailty of its materials and making the light and the space between lines into elements of high visual solidity. Engaging in an installation-like situation at Carpintaria’s gallery, the duo’s pieces not only forge an active correspondence, but also establish a state of positive contamination between them. Apart from the historical conditions and time gaps, here is a meeting of two art practices that converge into the delicate area of conceptual precision, technical meticulousness and formal accuracy.

Posted by Patricia Canetti at 4:35 PM

agosto 20, 2018

Raquel Nava na Alfinete, Brasília

Parceria entre a artista Raquel Nava e o taxidermista César Leão, a exposição Apresuntados ficará aberta ao público de 25 de agosto a 5 de setembro na Galera Alfinete. A mostra reúne três séries fotográficas produzidas com material do acervo do Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), assim como objetos criados a partir de apropriações e técnicas aprendidas pela artista no período de sua residência artística no local.

O trabalho, realizado a partir de estudos, pesquisas, vivências e propostas artísticas, apresenta um diálogo entre arte e ciência, tanto em âmbito espacial (o museu e o laboratório), quanto em âmbito estético e conceitual (pesquisas e obras concebidas).

Na exposição, fruto do projeto “Taxidermia Contemporânea: transformações e apropriações de Pesquisa e Residência Artística”, contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a artista investiga o ciclo da matéria orgânica e inorgânica em relação aos desejos e hábitos culturais, usando, para compor suas instalações, a taxidermia e os restos biológicos de animais justapostos à materiais industrializados. A variação cromática com a qual trabalha nos objetos e fotografias apresentados se aproxima da paleta utilizada na produção de pintura da artista.

O resultado da pesquisa e da residência artística está disponível em publicação on-line, no site do projeto (www.animalia.art.br). Após a exposição, parte das obras da artista vão compor o acervo do Museu de Veterinária da UnB, acessíveis para consultas, aprendizagens futuras e apropriações.

Ineditismo

O projeto tem caráter inédito e, por isso, é de relevância para a pesquisa em arte e ciência por trabalhar processos de construção e apropriação que serão observados no laboratório e no âmbito artístico. O ressurgimento da taxidermia na arte contemporânea constitui um fenômeno cultural que aponta para complexas camadas da nossa interação com os animais e com a natureza frente a crises capitalistas e ambientalistas.

Os produtos gerados na pesquisa impactam o cenário artístico e científico de Brasília ao trazer à luz estudos interdisciplinares, frutos de um labor técnico, científico, artístico e cultural.

Visitas Guiadas

Escolas interessadas em fazer visitas guiadas para conhecer o trabalho da artista em exposição na Galeria Alfinete e o acervo do Museu de Anatomia Veterinária podem fazer agendamento por meio do telefone 61-99222-2106.

Raquel Nava formou-se em artes visuais pela Universidade de Brasília, obteve título de mestre em Poéticas Contemporâneas pela mesma instituição (bolsa Capes) e foi aluna da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Trabalhou como professora de licenciatura em Artes Visuais da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UnB (2010-2017).

Expõe com regularidade desde 2006, tendo realizado mostras individuais em Brasília, no Rio de Janeiro, em Lima e em Paris. Entre suas exposições recentes estão as individuais Besta Fera Pop Fauna na Alfinete Galeria - Brasília (2017), Suturas com curadoria de Raphael Fonseca na Portas Vilaseca Galeria - Rio de Janeiro (2017) e Proyecto Nazca com curadoria de Manuel Neves na Galeria El Paseo – Lima (2015).

Participou de mostras coletivas em espaços como Grosvenor Gallery Manchester School of Art - Inglaterra, La Ira de Dios - Buenos Aires, Instituto Tomie Othake – São Paulo, Museu Oscar Niemeyer/MON - Curitiba, Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães/MAMAM- Recife, Galeria de Arte UFF – Rio de Janeiro, Funarte - Brasília, entre outros.

Recebeu prêmio no 19º Salão Anapolino de Arte, além de participar de residência artística em Buenos Aires (Argentina) e Berlim (Alemanha). Possuí obras no acervo do Museu Nacional da República de Brasília, no Centro Cultural Universidade Federal de Goiás/UFG, na Casa da América Latina/CAL-Universidade de Brasília/UnB e na Fundação Boghossian em Bruxelas (Bélgica).

Em 2016, teve o projeto “Taxidermia Contemporânea: transformações e apropriações de Pesquisa e Residência Artística” contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura/DF- Brasília. Indicada ao Prêmio Pipa 2018, foi selecionada para Prêmio Transborda 2015 e 2018 – Caixa Cultural Brasília. Vive e trabalha em Brasília.

Posted by Patricia Canetti at 3:04 PM

Berna Reale na Nara Roesler, São Paulo

Em sua primeira individual em São Paulo, com curadoria de Agnaldo Farias, Berna Reale aprofunda sua investigação sobre a violência. Suas performances, que renderam vídeos, fotografias e instalações, tornaram-na conhecida nacional e internacionalmente, do que é exemplo o convite para representar o Brasil na Bienal de Veneza de 2015. Tudo isso aconteceu em poucos anos. É que Berna chegou com uma obra madura, toda ela focada nesse que é um dos aspectos mais sensíveis do nosso país. Fixada em Belém, lá, como em qualquer outra grande cidade brasileira, os jornais trazem cadernos policiais cada vez mais minuciosos; os noticiários televisivos transformaram-se em relatórios de barbaridades; fome, assassinatos e as insurreições fazem parte do cotidiano; as pessoas compartilham imagens de violência pelas redes sociais. Perita Criminal, a artista testemunha intestinamente a naturalização crescente, exponencial, da violência na vida das pessoas.

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Protagonizadas por ela mesma, suas performances tocam abertamente nesses temas e problemas afins, mas de um modo capaz de renovar nossa indignação, medo e tristeza. Em Gula, sua primeira exposição na Galeria Nara Roesler, Berna Reale, mantendo o mesmo eixo de questionamentos, mudou de direção, tornou-se menos explícita, menos literal, exigindo do espectador a decifração de signos mais sutis.

Composta por seis séries fotográficas e uma instalação, a artista abre a exposição com um conjunto de imagens (Sobremesa) nas quais policiais devidamente paramentados, atacam com voracidade pedaços de bolos enfeitados, um desses bolos de festa, decorados por grossas camadas de cobertura. O uniforme de policiais são, como é de lei, como os assistimos ostensivamente desfilando nas nossas ruas, camuflados. Apenas mais um símbolo da guerra civil na qual nos metemos, mas que hesitamos em assumir. Os signos se chocam. O eventual riso do inusitado da cena, rapidamente cede espaço a uma pergunta: a que se refere a gana com que comem, esse devoramento ávido?

Sim, tem algo a ver com a marcha incessante do entredevoramento entre camadas sociais, o canibalismo mútuo, respingado de sangue, de que faz parte a arrogância dos responsáveis pela ordem que, mesmo do alto de suas baixas patentes, não hesitam em atirar no meio de comunidades, acertando inocentes, a voluptuosa repressão da legião de desvalidos, as revistas humilhantes aos membros da ralé, essa classe tratada como se não fosse gente, a qual, a maior parte deles, policiais, pertence.

O perigo de armar o poder decorre do prazer que isso gera. Uma ânsia que rapidamente se converte em sadismo mais ou menos explícito, como os que aplicam alguns daqueles que se colocam como porta vozes das divindades, os funcionários de igrejas responsáveis pelo comprometimento da infância (Comida batizada), como as meninas imberbes que são entregues a homens adultos (Comida caseira), como os que miram as mulheres como pedaços de carne (Comida de lobo), como os que atacam os travestis movidos pelo ódio, crentes de que esses não merecem existir, porque sequer são gente (Comida de Leão).

Merece destaque as duas imagens que compõem a série Comida de rua: três garotos (homens?), um branco, um negro, um mulato, vestidos apenas com calções, todos eles com o rosto voltado para a parede, mãos espalmadas para o alto, de costas, impossibilitados de encarar as faces de quem os constrangem. Um detalhe não deve escapar: cada um dos calções está decorado com uma estampa: pipoca, o branco, cachorro quente, o negro, batata frita, o mulato. Pipoca, cachorro quente e batata frita, três das comidas vulgares, rápidas e baratas com que se alimentam os desfavorecidos. Três exemplos da assim chamada junk food, própria para o saciamento rápido, como também são os rapazes que cometem o crime de serem pobres, aos olhos dos profissionais da ordem que, em suas batidas rápidas, frequentemente os arrocham pelo simples desejo de saborear seu doce poder.

Por fim, na última sala, a instalação Gula, um agrupamento de cinco caixões pequenos, destinados a crianças, semelhantes a um velório desbaratado. Trágico não fosse o fato de todos eles serem laqueados e ornamentados com confeitos, a matéria doce com que a infância se delicia.

Berna Reale é uma das artistas mulheres mais importantes no atual cenário contemporâneo do Brasil, sendo reconhecida internacionalmente como uma das principais praticantes da performance no país. Atuando entre as artes visuais e a perícia criminal, sua produção, composta por performances, fotografias, vídeos e instalações, é marcada pela abordagem crítica sobre os aspectos materiais e simbólicos da violência e os processos de silenciamento presentes nas mais diversas instâncias da sociedade.

Berna Reale nasceu em Belém do Pará/PA, Brasil, 1965, onde vive e trabalha. Formou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém. Principais individuais e coletivas recentes incluem: Brazil. Knife in the Flesh, coletiva no Padiglione d'Arte Contemporanea Milano (PAC-Milano), Milão, Itália (2018), na qual apresentou Camuflagem (2018), sua primeira performance realizada fora de sua cidade natal; Lecture/Performance & Screenings: Berna Reale, individual no Miami Dade College Museum of Art + Design (MDC MOAD), Miami/FL, EUA (2017); Video Art in Latin America, coletiva no LAXART, West Hollywood/LA, EUA, parte do II Pacific Standard Time: LA/LA (2017); e Vão, individual no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), São Paulo/SP, Brasil (2017. Foi uma das representantes do Brasil na 56ª La Biennale di Venezia, Veneza, Itália (2015), participando também do 34º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo/SP, Brasil (2015), da Bienal de Fotografia de Liège, Liège, Bélgica (2006) e da 13ª Bienal de Arte de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, Portugal (2005). Recebeu as seguintes premiações: 5ª Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, Brasil (2015); Prêmio PIPA Online 2012, Rio de Janeiro/RJ, Brasil (2012); e Grande Prêmio do Salão Arte Pará, Belém/PA, Brasil (2009). Suas obras fazem parte de coleções institucionais, como: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), São Paulo/SP, Brasil; Museu de Arte de Belém, Belém/PA, Brasil; e Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro/RJ, Brasil.


Galeria Nara Roesler | São Paulo is pleased to present Gula, Berna Reale’s first solo exhibition at the gallery, which deepens the artist’s research into violence. Her performances, which render videos, photographs and installations have allured national and international interest, exemplified by the invitation for the artist to represent Brazil in the 2015 Venice Biennale. This all happened very quickly. It’s because Berna entered the art scene with mature works, focusing on one of Brazil’s most sensitive and overpowering social issues violence. Mostly set in Belém do Pará, where like in any other large Brazilian city, newspaper crime sections have become increasingly detailed and television news shows are plagued by barbarities; hunger, murder and insurrections are part of daily life; and people share images of violence on social media, the artist is witness to an exponential increase in the naturalisation of violence in people’s lives.

Self-starred, her performances touch on these issues and others in a way that renews the viewer’s indignation, fear and sadness. In GULA (GLUTONY), Berna Reale maintains the same line of questioning from her previous research; however, her manner is less explicit and literal, pusing the viewer to decipher subtler signs.

Composed of six photographic series and one installation, the artist opens the exhibition with a set of images (Sobremesa - Dessert) in which trained policemen, voraciously attack decorated cakes layered with thick icing. The uniform-clad men ostensibly parade down the street, camouflaged. The scene is symbolic of the unaddressed civil war that has ensued in the country. The occasional laughter generated from the oddity of this scene gives way to the larger question: what is the avidity, this unbridled gluttony with which they eat about?

Yes, it is something to do with the incessant march in which social strata devour one another, the blood-splattered, arrogant canibalism of those tasked with securing order whom, despite their low ranks, do not hesitate to open fire amid communities, victimizing the innocent; their voluptuous crackdown on the underprivileged legions; the humiliating body searches they conduct upon the penniless; this class who get treated like they are not human, the same class most of the policemen themselves belong to.

The danger of giving weapons to those in power stems from the pleasure it brings. An eagerness which quickly turns into more or less explicit sadism, as in the case of those who tout themselves as spokespersons for divinities, the church staff who compromise childhood (Comida batizada), the pre-pubescent girls given over to grown men (Comida caseira), those who ogle women like pieces of meat (Comida de lobo), those who attack transvestites driven by hate and because they believe these people don’t deserve to exist, or that they are not even people to begin with (Comida de Leão).

It is worth mentioning the two images from the Comida de rua series: three boys (men?), one white, one black, one mixed, clad only in shorts, all of them facing the wall, their hands splayed upwards, unable to look at the faces of those berating them. Each of the boys’ shorts are adorned with a different print: popcorn for the white boy, hotdog for the black boy, and French fries for the mixed-race boy. Popcorn, hotdog and French fries; three of the vulgar, fast, cheap foods that the underprivileged feed upon. Three examples of so-called junk food, designed to bring about quick satiation, as are the kids whose crime is being poor, in the eyes of the professionals tasked with maintaining order, and whose quick pat downs will often harass them out of simple desire to savor their sweet power.

Finally, in the last room of the show is GULA, an installation composed of five small coffins, intended for children, forming something like an empty wake. Tragic, weren’t it for the fact that they are all lacquered and adorned with candy, the sweet matter that childhood delights in.

Text and curation: Agnaldo Farias

Posted by Patricia Canetti at 12:52 PM

Artur Lescher na Nara Roesler, São Paulo

Depois de ser apresentada no México, a Galeria Nara Roesler traz a São Paulo a produção recente de Artur Lescher, em Asterismos. O substantivo plural, que dá título à exposição, designa um padrão proeminente ou conjunto de estrelas que, visto da Terra, remete a formas geométricas e figuras reconhecíveis. Ao contrário de uma constelação, no entanto, o termo não tem reconhecimento oficial pela comunidade científica. As cerca de dez esculturas e uma instalação reunidas transformam o cubo branco em um novo espaço cósmico inspirado na ideia de “asterismo”, esse lugar indecifrável pela ciência.

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Além da leveza que já atribuía a suas obras em metal ou madeira, nesta nova série de trabalhos, Artur Lescher (1962, São Paulo, Brasil) evidencia a transparência ao utilizar fios de multifilamento em algumas de suas esculturas e, principalmente, na instalação pensada especialmente para o espaço da Galeria. Desde o começo de sua produção, aos 22 anos de idade, o artista tem permanente interesse pela síntese, pela tensão e pela instabilidade no território das formas e do espaço, como meio de construção de paisagens incomuns.

A instalação, ao fundir várias formas geométricas, cilindros e cones feitos de latão, fios de multifilamento e aço inoxidável, dissolve as peculiaridades de cada elemento e forja algo que não se limita aos cânones da geometria e da arquitetura. Segundo Lescher, os materiais são atores, com inclinações e potências próprias que, combinadas, compõem um diálogo entre si e com o espaço circundante.

A exposição na Galeria Nara Roesler SP contará com texto de autoria de Juliano Pessanha, autor convidado da Flip 2018 e ganhador do prêmio APCA pelo livro Testemunho Transiente (Cosac Naify, 2015).

Há mais de trinta anos, Lescher apresenta um sólido trabalho como escultor, resultado de uma pesquisa em torno da articulação de matérias, pensamentos e formas. Neste sentido, o artista tem no diálogo singular, ininterrupto e preciso com o espaço arquitetônico e o design, e na escolha dos materiais, que passam pelo metal, pedra, madeira, feltro, sais, latão e cobre, elementos fundamentais para reforçar a potência deste discurso.

Ao mesmo tempo que o trabalho de Lescher está atrelado fortemente a processos industriais, atingindo requinte e rigor extremos, sua produção não tem por fim único a forma, está para além dela. Essa contradição abre espaço para o mito e a imaginação, ingredientes essenciais para a construção da sua Paisagem mínima [Galeria Nara Roesler, 2006].

Ao escolher nomear obras como Rio Máquina, Metamérico ou Inabsência (Projeto Octógono Arte Contemporânea, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2012), Lescher propõe uma extensão do trabalho, sugerindo uma narrativa, por vezes contraditória ou provocativa, que coloca o espectador em um hiato, em um estado de suspensão.

Artur Lescher nasceu em São Paulo, Brasil, 1962, onde vive e trabalha. Participou das 19ª e 25ª edições da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil (1987 e 2002), e da 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre/RS, Brasil (2005). Expôs em diversas coletivas na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, além de duas mostras individuais, a primeira no Instituto Tomie Ohtake (ITO), São Paulo/ SP, Brasil (2006), e a segunda no Palais d’Iéna, Paris, França (2017).


Galeria Nara Roesler is pleased to present Asterismos (Asterisms), a presentation of Artur Lescher’s latest works and an iteration of a presentation at Mexico’s OMR Gallery. The show’s title, Asterisms means a prominent pattern or set of stars which, as seen from the Earth, are reminiscent of recognizable geometric shapes or figures. Unlike constellations, however, the term is not officially recognized by the scientific community. The exhibition, composed of fourteen sculptures and one installation, converts the the gallery into a new cosmic space, which when inspired by the notion of “asterism,” becomes indecipherable and undefinable by science.

Besides the levity imparted by his earlier metal and wood pieces, Lescher’s newest series explores transparency by using multifilament wires in some of the sculptures, but mostly in the installation specially designed for the gallery space. Since the beginning of his career, at age 22, Lescher has highlighted his interest in ideas of synthesis, tension and instability when it comes to shapes and space as a means of constructing uncommon landscapes.

The fusion of various geometric shapes, cylinders and cones built from tin, multifilament wire and stainless steel, the installation dissolves the nuances in each element as it forges something that isn’t restrained to the canons of geometry and architecture. According to Lescher, the materials are forces unto themselves, with their own inclinations and potencies, which convere with each other and the surrounding space.

The exhibition at Galeria Nara Roesler | São Paulo will feature a text by Juliano Pessanha, a guest author for Flip 2018 and the winner of the APCA prize for his book Testemunho Transiente (Transient Testimony, Cosac Naify, 2015).

Artur Lescher’s work investigates the tangible qualities of objects and their interaction with architecture. His preference for single volumes, suspended and subjected to the force of gravity creates a unique tension between the proportions of the space and the object. At the core of his practice is a focus on perceived boundaries, between, for example, reality and its represen- tation. This is further intensified by the use of materials such as metal, stone, wood, brass and copper, which have been removed from their usual functions and rearranged. Lescher gained broader recognition after his participation in the 19th Bienal de São Paulo (1987). He was also featured in the 2002 edition of the São Paulo Biennial and the 2005 Mercosul Biennial. The artist has been the subject of solo exhibitions in Latin America, Europe and the United States, includ- ing two exhibitions at the Tomie Ohtake Institute in São Paulo (2006) and, more recently, a solo exhibition at the Palais d’léna in Paris (2017).

Posted by Patricia Canetti at 12:46 PM

Maria Laet na Marilia Razuk, São Paulo

A artista, também convidada para a 33ª Bienal de São Paulo, exibe trabalhos recentes que refletem temáticas como o tempo e a imprevisibilidade

Suave, silenciosa e pendular. Sem origem ou destino, como um corpo que existe por si só, a obra de Maria Laet reverbera o essencialismo da matéria. De forma quase que instintiva, a artista se atém aos detalhes que passam despercebidos por olhares apressados e constrói intervenções poéticas, nas quais reflete o tempo e questiona, sutilmente, limites. Esta é a linha que conduz Poro, individual que Laet, artista também convidada para a 33ª Bienal de São Paulo. A mostra fica em cartaz entre 25 de agosto e 20 de outubro, nas salas 1 e 2 da Galeria Marília Razuk.

Com curadoria assinada por Bernardo José de Souza, a exposição reúne 11 trabalhos desenvolvidos em suportes diversos: são vídeos, fotografias, monotipias, objetos e uma instalação. Com eles, a artista propõe ao espectador uma pausa no tempo para se despir da necessidade habitual e, muitas vezes, cartesiana, pelo controle.

Maria Laet age sem pressa, seu tempo é outro, atravessa o homem e a natureza de maneira tão fluida quanto uma névoa. A partir da dialética sobre o tempo, em uma ação quase que banal, Laet costura o solo da terra do Parque Lage. Trata-se da série de fotografias Terra (Parque Lage), de 2015, no qual ela se debruça sobre o chão e o alinhava, calmamente, criando uma espécie de veia entre duas árvores.

"A obra de Maria Laet situa-se em um tempo que é compartilhado e promove um eterno retorno à própria artista, mas não sem antes passar pela natureza, pelos homens, por todxs nós", diz o curador.

O trabalho de Laet tem, por vezes, características acidentais, de imprevisibilidade. Os elementos nem sempre são controláveis, como em Sopro, série de 2008. Frente a uma pilha de folhas de papel, duas pessoas, uma de cada lado. Cai uma gota de tinta e elas se revezam para soprar. O pigmento é absorvido pelas camadas de papel e o gesto forma diversos desenhos que, pouco a pouco, vão sumindo. O ato alude ao caráter fugaz do tempo, como se a duração do desenho pudesse ser a mesma daquele encontro.

Em uma sala escura, a instalação Sem título, da série Propagação (2014). Seu chão é tomado por centenas de bolas de metal cromado, semelhantes às usadas pela medicina tradicional chinesa. No interior de cada uma delas, um pequeno guizo. O espectador é então convidado a caminhar pela sala, adentrando-se em uma atmosfera onde o tempo é outro. O espaço é marcado ao ritmo do movimento: a cada passo, um suave tilintar.

Na obra de Maria existem apenas o branco, o preto e todas as variações possíveis do cinza. A artista abdicou da cor. Em dado momento, o caráter acidente ressurge na realização de monotipias de Dobra, série de 2015. A imprevisibilidade do desenho se dá como reação ao processo criativo da artista.

"Há algo de intangível em sua ação silenciosa, fantasmática, litúrgica, eu diria - uma presença e um protagonismo que nos transpõem a outro plano, senão austero, milenar, esotérico, místico. É naquilo que respira, dorme, hiberna - para depois projetar-se na matéria - que existe a obra de Maria Laet", conclui José de Souza.

Sobre a artista

Maria Laet nasceu em 1982 no Rio de Janeiro e vive e trabalha em sua cidade natal. Seu trabalho é criado por ações e pelo resultado de gestos e intervenções sutis, numa prática que envolve desenho, gravura, fotografia e vídeo. Esses meios agem como canais, plataformas para os processos para os processos da artista, como peles, que levam suas intenções e revelam a ação como um arquivo. Dessa forma, as obras acontecem tanto no conceito quanto na esfera física dos materiais envolvidos, chamando sua atenção para a membrana, o espaço que liga e ao mesmo tempo divide. Esses encontros são enfatizados na natureza entrópica do trabalho de Laet, que tendem a parecer calmos, inicialmente homogêneos, mas sutilmente questionam a noção de limite.

É formada pela Camberwell College of Arte, na qual concluiu mestrado em 2008. Participou de residências artísticas como a Schloß Balmoral (Bad Ems, Alemanha, 2009), o Carpe Diem Arte e Pesquisa (Lisboa, 2010), e a Residency Unlimited (Nova York, 2014). Seu trabalho já foi apresentado individualmente em espaços e instituições do Rio de Janeiro, em São Paulo, Paris, Lisboa e Milão.

Participou de coletivas como Indelével (Clube Jacarandá, Rio de Janeiro, 2016), Tangentes (Museu de Belas Artes, Gent, Bélgica, 2015), Encruzilhada (Parque Lage, Rio de Janeiro, 2015), Rumors of the Meteore (Frac Lorraine, Metz, França, 2014); Everydayness (Wyspa Institute of Art, Gdansk, Polônia, 2014), A Invenção da Praia (Paço das Artes, São Paulo, 2014), Correspondências (Centro Cultural dos Correios, 2013), From the margin to the edge (Somerset House, Londres, 2012), 18th Biennale of Sydney: all our relations (2012), Convite à Viagem (Rumos Itaú Cultural, 2012) e O lugar da linha (Museu de Arte Contemporânea, Niterói e Paço das Artes, São Paulo, 2010). Foi indicada ao Prêmio PIPA 2010, 2011, 2012, 2016, 2017 e 2018.

Sua obra integra coleções como MAM, Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro; MAC Niterói; FRAC Lorraine, Metz, França; MSK, Museu de Belas Artes, Gent, Bélgica; AGI Verona, Itália; Cisneros, Patricia Phelps de Cisneros, Nova York; e MoMA, Nova York.

Posted by Patricia Canetti at 12:05 PM

Lourival Cuquinha na Funarte, Belo Horizonte

Transição de Fase dialoga com a temática da imigração, a partir do dia 24, sexta, na Funarte MG

A nova exposição do artista Lourival Cuquinha, Transição de Fase, será inaugurada na sexta (24/8), às 19h, na Funarte MG, no centro de Belo Horizonte. Exposto pela primeira vez, o conjunto dialoga com a temática da imigração; reúne dezenas de obras e uma instalação sonora, criada em parceria com Mariana Lacerda e Muep; e foi contemplado com o Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais (2016). A entrada é franca.

No processo de criação do trabalho, durante quatro anos, em várias partes do mundo, o pernambucano Cuquinha encontrou-se com vendedores ambulantes, que vivenciavam situações de imigração. A cada um deles, propôs adquirir mercadorias que eles ofertavam, pagando o dobro do valor cobrado. Em troca, pediu um retrato de cada imigrante. Por fim, imprimiu as imagens sobre materiais como cobre, ou cédulas, com um detalhe: as superfícies tinham o mesmo valor do custo dos produtos negociados.

Assim, pode-se conhecer, na mostra, enfileirados ao lado de suas mercadorias, o ambulante jamaicano que vende bandeiras de países em Londres; a boliviana que oferece meias infantis nas ruas de São Paulo, enquanto carrega o próprio filho amarrado ao corpo; e o retirado da Costa do Marfim, que comercializa miniaturas chinesas da Torre Eiffel, em Paris (FR).

Na abertura da exposição, mercadores de diversos países serão convidados a ocupar o espaço expositivo e nele negociar sua mercadoria com o público. Cuquinha explica que “Transição de Fase” é um termo da física, que retrata a mudança do sólido ao líquido, ou do líquido ao gasoso. “Dentro da exposição, porém, abrange mais: é partir de um território familiar e conhecido para um território novo não-doméstico”, diz o artista, que viveu a condição de imigrante no Reino Unido, por cinco anos.

Já a peça sonora, concebida em parceria com os artistas Mariana Lacerda e Muep, é composta por trechos de entrevistas com alguns dos imigrantes retratados na pesquisa. “O registro sonoro foca especialmente em uma imigrante do Congo, Hortense Mbuyi Mwanza, que narra a vivência de refugiada política e cuja história também estará narrada no catálogo”, adianta Cuquinha.

Um programa educativo ligado ao projeto é coordenado por Carolina Santana, também artista visual e educadora, do núcleo criativo Malacaxeta, baseado em Belo Horizonte. Nessa atividade, ao longo do período de exibição das obras, o público será convidado a enviar cartões postais para a África, endereçados a familiares de imigrantes, hoje moradores da capital mineira. A correspondência será respondida. É possível agendar visitas mediadas através do e-mail educativomalacaxeta@gmail.com.

A exposição Transição de fase chega a Minas Gerais com produção executiva de Marcelo Calheiros. A mostra segue em exibição até o dia 7/10.

Lourival Cuquinha nasceu no Recife (PE), em 1975. Já expôs em nações como Indonésia, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, Estados Unidos, Cuba, Bélgica e Espanha, entre outras. Seus trabalhos integram coleções de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP), na capital paulista; a Coleção de Arte da Cidade de São Paulo (CCSP); e o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife). Obras suas figuram em coleções privadas em diversos países.

Posted by Patricia Canetti at 11:35 AM

agosto 19, 2018

Carolina Soares abre duas novas curadorias na Sem Título Arte, Fortaleza

Abertura: 30/08, às 18h, com a presença da curadora e dos artistas Marcelo Amorim, Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo e Thomas Saunders

Corpos domesticados, normatizados, passivos, reprimidos. As duas exposições que abrem na Sem Título Arte, sob a curadoria de Carolina Soares, põem em questão a normatização dos corpos e da sexualidade. A primeira reúne trabalhos do artista e curador Marcelo Amorim. A segunda é uma coletiva de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo e Thomas Saunders.

Se eu fosse você não me trataria como você, individual de Marcelo Amorim, reúne trabalhos que problematizam formas de conduta masculinas normatizadas, o “status da masculinidade” como dado natural e um padrão evidente. É de modo sutil que o artista traz à discussão a repressão, a negociação, as contradições e as inconsistências presentes no universo da masculinidade. Como aponta Carolina Soares em seu texto curatorial, “o trabalho de Marcelo Amorim - com sua crítica tácita às construções em torno de um corpo masculino – autoriza-me pensá-lo como um valioso mecanismo de arte para reinventar a realidade. E mais, pensá-lo como um gesto que, em sua potência, se faz contrário a intolerâncias.”

Se eu gritasse desencadearia a existência é uma coletiva com trabalhos de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo, Thomas Saunders. Há na mostra um diálogo em que os padrões de conduta emergem como mola propulsora de um estado de repressão dos corpos. Corpos estes compreendidos socialmente como recipientes passivos de uma lei cultural inflexível. Cada artista, a seu modo, traz para o debate a possibilidade de pensar a representação do corpo não como um mero instrumento com o qual uma série de significados culturais é apenas externamente relacionada. Vão além. Buscam compreender principalmente as questões de gênero e sexualidade como base para uma identidade agora descolada de um ideal normativo e potencializada como característica descritiva de uma determinada experiência.

Vale ressaltar que, embora contrários a um sistema de gênero estável e binário, os trabalhos não investem esforços na ruptura utópica de um estado do corpo livre dos construtos heteronormativos. Eles reconhecem, porém, as noções de gênero e de sexualidade como mecanismos construídos culturalmente e, portanto, passíveis de reinvenções que permitam o reconhecimento do desejo como elemento fundamental no agir no mundo.

O que está em questão nesses trabalhos, primorosamente postos em relação sob a mediação de Carolina Soares, é uma ideia de sociedade para a qual o próprio existir requer normas. Nossos corpos parecem não serem nossos. Nossa forma de agir no mundo é então reduzida ao tabuleiro de um jogo com todos os movimentos previamente definidos, fugir ao regulamento é colocar-se fora do jogo. E como seria existir fora do tabuleiro? Ou, como existir para além das jogadas já mapeadas?

Programação paralela

No dia 22 de agosto, às 19 horas, Marcelo Amorim participa com Carolina Soares de uma conversa na Sem Título Arte. Os dois se conheceram em 2008 e de lá para cá mantém diálogos e trocas estreitas. Na Sem Título, o caminho é inverso. Primeiro a gente tem a chance de ouvi-los, conhecer a trajetória desse artista visual, curador independente e professor, nascido em Goiânia, no bate-papo “A Masculinidade Desmantelada”. Depois virá a abertura da exposição e o lançamento do catálogo que acompanha a individual de Marcelo Amorim.

Marcelo Amorim é artista visual, curador independente e professor. Entre 2009 e 2016 dirigiu o Ateliê397, espaço independente de arte, onde foi responsável pela concepção e realização de programas de exposições, publicações, debates e cursos voltados para o contexto da arte contemporânea. Pós-graduado em Mídias Interativas pelo Centro Universitário SENAC, é editor formado em Produção Editorial pela Universidade Anhembi Morumbi. Foi coordenador editorial do Paço das Artes, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, entre 2004 e 2008. É um dos orientadores do grupo de acompanhamento de processos artísticos Hermes Artes Visuais.

Entre as curadorias que realizou destacam-se: Contraprova (Paço das Artes, 2015), Lusco Fusco - Karlla Girotto (Ateliê397, 2015), Pintar a China Agora, - Brody & Paetau (Ateliê397, 2015), É fluido mas é legível (Oficina Oswald de Andrade, 2014); Vá em frente, volte pra casa! - Júnior Pimenta (Sem Título Arte, 2018). Em sua obra artística, Marcelo Amorim coleciona e apropria-se de imagens para a partir delas produzir principalmente desenho, pintura e vídeo. Retiradas de acervos particulares, manuais, livros didáticos, mídias sociais, as imagens tem procedências diversas e parecem ser de um passado distante. Através de montagens e transposições o artista liberta intenções, particularidades e gestos contidos nas imagens com o intuito de revelar seu papel de conformadoras de comportamentos e levantar questões sobre os valores culturais históricos e sua evolução ao longo do tempo. Realizou exposições individuais no Ateliê397, Centro Cultural Elefante, Centro Cultural São Paulo, Galeria Zipper, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Oscar Cruz, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Paço das Artes, além de ter participado de coletivas na Caixa Cultural, Instituto Figueiredo Ferraz, Memorial da América Latina, Paço das Artes e Sesc, entre outros.

SERVIÇO

22 de agosto, às 19h
“A Masculinidade Desmantelada”
Conversa com Marcelo Amorim e Carolina Soares

30 de agosto, às 18h
“Se eu fosse você não me trataria como você”
Individual de Marcelo Amorim

“Se eu gritasse desencadearia a existência”
Coletiva com trabalhos de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo, Thomas Saunders.

Sem Título Arte
Rua João Carvalho 66, Aldeota, Fortaleza, CE

Posted by Patricia Canetti at 7:47 PM

Santídio Pereira na Galeria Estação, São Paulo

Depois de realizar, em 2016, a primeira individual de Santídio Pereira (Piauí, 1996), a Galeria Estação traz uma nova exposição do artista que, aos 9 anos já brincava de desenhar e pintar nas paredes de madeira da casa precária que dividia com mãe na Favela do 9, na região do Ceasa. O jovem, que chamou a atenção do crítico Rodrigo Naves, curador de sua mostra de estreia, iniciou na gravura aos 14 anos, sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan, quando frequentava o Instituto Acaia,

Agora, sob curadoria de Luisa Duarte, em O olhar da memória, o artista exibe 14 xilogravuras inéditas, realizadas entre 2017 e 2018. Como aponta Duarte, o conjunto de trabalhos reunido apresenta, em sua maior parte, imagens de pássaros da caatinga piauiense, região na qual o artista viveu até os 8 anos de idade. “São impressões de grande escala, nas quais sobreposições de cores e formas nos dão a ver caburés, garrinchas, lambus, juritis - diferentes espécies de aves que povoam sua terra natal. Em meio a essa fauna, outras gravuras, de caráter menos figurativo, aludem, sutilmente, a plantas da paisagem local”.

Além de acessar a memória, a obra de Santídio sugere ao olhar do observador um tempo estendido para que as várias camadas possam se revelar. O artista costuma destacar a diferença entre ver e enxergar. O enxergar que ele evoca vai de encontro ao ver, condição de velocidade imposta ao mundo contemporâneo, exaltada pelo teórico tcheco Villem Flusser com a expressão “estamos surdos oticamente” (citado por Duarte em seu texto sobre a exposição). “Seus trabalhos [de Santídio] solicitam um olhar dilatado e são realizados tendo como motor justamente os registros mnemônicos, tão rarefeitos no presente”, diz a curadora que ressalta, ainda, como a própria gravura, um método milenar de reprodução, traz consigo esse outro tempo, muito distante deste que impera, próprio das imagens digitais reverberadas ao milhões em cada aparelho de celular. “E há ainda, aqui, a imaginação. O artista não faz um documento fiel daquilo que lembra, obviamente. Estamos diante de transfigurações, muito singulares, de uma paisagem vivida”, completa a curadora.

Santídio Pereira (nasceu em Curral Comprido – Piauí, em 1996, vive desde os 8 anos e trabalha em São Paulo), a partir de sua primeira individual na Galeria Estação, vem participando de coletivas. Fez parte da exposição dos 10 selecionados do 5º Prêmio EDP nas Artes, no Instituto Tomie Ohtake, em 2016, quando foi convidado a ministrar cursos sobre xilogravura na programação da edição. No ano passado, participou da programação de abertura do Sesc 24 de maio, apresentando ao público o seu processo criativo em xilos de grandes formatos. Recentemente, foi selecionado e participa da 1 ª Mostra do Programa de Exposições 2018 do Centro Cultural São Paulo, onde também ministrou curso sobre a sua prática. No ano que vem, em 2019, já tem garantida uma residência seguida de exposição em Nova York.

Posted by Patricia Canetti at 5:07 PM

Melvin Edwards no MASP, São Paulo

Mostra reúne 37 esculturas de sua renomada série Fragmentos Linchados e abrange mais de cinco décadas de produção

Parte do ciclo de histórias afro-atlânticas, eixo curatorial ao qual o MASP se dedica neste ano, o museu exibe, a partir de 23 de agosto, a mais abrangente mostra dedicada à série Lynch Fragments fora dos Estados Unidos. Melvin Edwards é um artista e representante fundamental da arte afro-americana —e, aos 81 anos, estará presente na abertura da exposição.

Nascido em 1937, em Houston, no Texas, Edwards surgiu na cena artística de Los Angeles nos anos 1960, cidade onde fez sua formação como artista. No mesmo ano, ganhou sua primeira mostra no Museu de Arte de Santa Bárbara, que o lançou profissionalmente. Em 1967, mudou-se para Nova York e, em 1970, tornou-se o primeiro escultor afro-americano a expor individualmente no Whitney Museum of American Art.

“Trata-se da maior apresentação de sua obra feita fora dos Estados Unidos, focando na série que é de fato o centro da sua produção, os Lynch Fragments. Essa exposição se relaciona com iniciativas globais de disseminação da obra de Melvin Edwards, que chega aos 80 anos como um dos principais escultores em atividade no mundo. Embora conhecida nos Estados Unidos, com exposições em diversos museus, sua obra só recentemente atingiu o reconhecimento internacional merecido”, afirma Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP e desta exposição.

Edwards cresceu no ambiente racista dos Estados Unidos segregacionistas e, insatisfeito com o mundo majoritariamente branco e elitista da arte, reflete em suas obras o seu engajamento e militância acerca de temas como raça, direitos civis, violência e diáspora africana.

As 37 obras que compõe a mostra no MASP têm relação direta com todas essas questões e com eventos que o marcaram. Pás, machados, ancinhos e ferraduras evocam o contexto rural do sul dos Estados Unidos, local onde o artista passou parte da infância, na casa de sua avó, no Fifth Ward em Houston, Texas, uma comunidade formada por afrodescendentes e imigrantes latinos.

Os Fragmentos exibidos são esculturas de parede de pequena escala que utilizam objetos existentes de metal —como ferramentas, facas, ganchos e peças de máquina— soldados uns aos outros, criando obras que se situam na fronteira entre a abstração e figuração. Elas realizam uma síntese cultural singular, entre a escultura de solda modernista e o reducionismo minimalista, fazendo menção também às tradições memoriais da escultura africana.

“Os Lynch Fragments compõem um extenso painel de histórias africanas e afro-americanas, destacando noções de memória e autobiografia. Inicialmente, as obras fazem referência aos episódios de tensão racial no marco do Movimento dos Direitos Civis, nos anos 1960, e depois mergulham num diálogo com diversas culturas africanas, algo que coincide com a própria presença cada vez maior do artista no continente, e culmina na abertura de seu ateliê em Dacar, no Senegal, nos anos 2000”, complementa Rodrigo.

O estopim para o começo da série, em 1963, foram os inúmeros casos de violência racial nos EUA. O título faz menção aos linchamentos que, historicamente, perseguiram e exterminaram a população afrodescendente após a abolição da escravidão. O primeiro Fragment produzido por ele, intitulado Some Bright Morning [Numa clara manhã], (1963), evoca uma história de violência racial envolvendo uma família na Flórida. Suas formas são agressivas e o encontro dos elementos é marcado por rebarbas de metal derretido, conferindo um caráter inacabado ao material.

Outros acontecimentos históricos que tomaram o ano de 1963 são importantes para entender o contexto de produção de Edwards. Entre os fatos emblemáticos, está o discurso icônico de Martin Luther King Jr., que reuniu mais de 300 mil pessoas em Washington, conhecido sobretudo pela passagem I have a dream [Eu tenho um sonho]. A chamada Marcha por Empregos e Liberdade marcou o ápice do movimento por direitos civis da população afrodescendente e transformou a luta contra a discriminação em uma causa nacional (e não mais restrita ao sul do país). Vivendo em Los Angeles, Edwards também foi marcado pelos riots no bairro de Watts, que representaram um momento de acirramento da violência policial direcionada à população afro-americana.

Em 1973, o artista retornou à série, criando novas obras em torno dos conflitos raciais que experenciou enquanto viveu em Nova York e durante a Guerra do Vietnã. O ano de 1978 marca o início da última fase do trabalho. Nessa etapa, os Fragments passam a se relacionar cada vez mais com referência africanas, incluindo línguas, regiões, personagens e acontecimentos, e a abranger situações específicas da diáspora africana nas Américas. Suas visitas ao Brasil nos anos 1980 o inspiraram a fazer a obra Palmares (1988), que menciona o lendário quilombo no ano do centenário da abolição da escravidão no país.

Desde 2000, ele mantém um ateliê em Dacar, no Senegal, onde tem produzido esculturas em parceria com manufaturas e artesãos locais. Edwards também ensinou a solda de metais em diversos países, ministrando oficinas e orientando uma geração mais nova de escultores africanos.

Histórias afro-atlânticas

A exposição ocorre em um ano inteiro dedicado às trocas culturais em torno do Atlântico, envolvendo África, Europa e Américas ---que inclui mostras individuais de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, Maria Auxiliadora e Emanoel Araujo, que ocorreram no primeiro semestre, e Rubem Valentim, Sonia Gomes, Lucia Laguna e Pedro Figari, programadas para o segundo semestre. Na sala de vídeo também serão apresentados, ao longo de 2018, autores de diferentes nacionalidades, gerações e origens capazes de contar outras histórias da diáspora negra. Os artistas que participam do programa são: Ayrson Heráclito (19/4 a 17/6), John Akomfrah (28/6 a 12/8), Kahlil Joseph (23/8 a 30/9), Kader Attia, (11/10 a 25/11), Catarina Simão (13/12 a 27/01/19), Jenn Nkiru (08/02 a 24/03/19) e Akosua Adoma (14/6 a 18/7/2019).

Melvin Edwards: Fragmentos linchados acontece simultaneamente à grande coletiva Histórias Afro-atlânticas, com a qual se associa diretamente. As múltiplas histórias narradas nas obras de Edwards, com seus títulos evocativos da geografia e da história africana e da diáspora, relacionam-se com o contexto geral da exposição: o impacto cultural do tráfico de escravizados.

Nas paredes do mezanino, onde formam duas longas linhas, os relevos do artista estão em diálogo com um vigoroso conjunto de obras da tradição escultórica afro-brasileira do século 20 e relacionam-se com escultores como Agnaldo Manoel dos Santos e Mestre Didi —cujas obras estão logo abaixo, no segundo subsolo, na exposição Histórias Afro-atlânticas.

Também faz parte desse movimento um catálogo (com versões em português e inglês), a maior publicação já produzida sobre a série, organizado por Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Rodrigo Moura. Ao todo, serão 97 obras reproduzidas e ensaios de Hamid Irbouh, Rebecca Wolff e Renata Bittencourt.

No dia 25 de agosto, em decorrência de sua vinda a São Paulo, Edwards participará de um bate-papo no auditório do Museu Afro Brasil. O evento, que ocorre das 11h às 13h, terá mediação de Rodrigo Moura. O Museu Afro Brasil é a instituição que mantém em exposição o trabalho do artista no país e por isso o espaço é simbólico para receber o debate. Na atividade, serão abordados temas relacionados à sua trajetória, seu processo de produção artística, a recepção de sua obra e os impactos da exposição do seu trabalho no Brasil. O evento é gratuito e aberto ao público e terá tradução simultânea e em libras. Ingressos devem ser retirados com duas horas de antecedência.

Posted by Patricia Canetti at 4:16 PM

Irmãos Campana na Multiarte, Fortaleza

Ceará recebe, pela primeira vez, mostra com as peças mais emblemáticas da dupla

Fundado em 1983, em São Paulo, pelos irmãos Fernando (1961) e Humberto Campana (1953), o Estudio Campana se tornou famoso pelo design de mobiliário, por criações de peças intrigantes – como as poltronas Vermelha e Favela – e, também, por ter crescido nas áreas de Design de Interiores, Arquitetura, Paisagismo, Cenografia, Moda, entre outras.

O trabalho dos Campana incorpora a ideia de transformação, reinvenção e integração do artesanato na produção em massa; tornando preciosos os materiais do dia a dia, pobres ou comuns, que carregam não só a criatividade em seu design, mas também características bem brasileiras – as cores, as misturas, o caos criativo e o triunfo de soluções simples.

“O trabalho dos irmãos Campana se antecipa à moda de tal forma que podemos encontrar sua influência por toda parte. Mas a forma humilde e humana de apresentar seus trabalhos deve ser imitada, e sua vanguarda respeitada”, diz Stephan Hamel, em seu texto para o catálogo.

A exposição, que abre no próximo dia 16 de agosto com a presença dos artistas, apresenta uma seleção primorosa, com 33 peças e uma montagem ousada e divertida.

Segundo Max Perlingeiro, diretor da Multiarte e curador da mostra “eleger as obras para compor a exposição foi o grande desafio – seriam necessários muitos metros quadrados mais, para abrigar a primeira seleção. Por fim, optamos por um “concerto de câmara”, mas não tão silencioso, porque todos os espaços disponíveis da Galeria serão contemplados: do estacionamento ao jardim.

Mas, talvez, um dos trabalhos mais impressionantes desta mostra seja permanente. Fernando e Humberto criaram para a Galeria Multiarte uma fachada-objeto-design com a conjugação de 1304 cobogós “Mão”.

Impressionados pelo desastre ambiental na cidade de Mariana, MG e em apoio a iniciativa coletiva chamada Brado Mariana, resolveram criar um tijolo de cobogó, cujo desenho interno representa o formato de uma mão, como um simbólico manifesto às tragédias causadas no estado.

O cobogó Mão, resulta em uma alquimia de materiais naturais, em que são utilizados três diferentes tipos de argila, gerando maior resistência à peça. A intenção era que a lama de Mariana fosse integrada a massa, mas não foi possível pois interferiria na qualidade do produto, deixando-o quebradiço. Sua produção foi possível graças a uma parceria do Instituto Campana com a Divina Terra, Turmalina, MG.

Nos últimos anos, os Campana exploraram o cobogó em seus mobiliários e, posteriormente, em projetos de arquitetura. Elemento totalmente brasileiro, criado por três engenheiros (Amadeu Coimbra, Ernest Boeckmann e Antônio de Góis) que intitularam a peça através das iniciais de seus sobrenomes, o cobogó pode ser utilizado em diferentes escalas e contextos, valorizando, principalmente, a difusão de luz e passagem de ar.

“A modernidade de nosso trabalho está também em mostrar que com os refugos do passado se constrói não apenas a contemporaneidade, mas também o futuro”.

Além de suas notórias criações de design o público terá a oportunidade de conhecer os processos artísticos dos Campana em desenhos, pinturas, esculturas e fotografias.

As peças Campana fazem parte de coleções permanentes de renomadas instituições culturais como MoMa, em Nova York; Centre Georges Pompidou, em Paris; Vitra Design Museum, em Weil am Rhein; Museu de Arte Moderna de São Paulo e, também, Musée Les Arts Décoratifs, em Paris. Os irmãos foram homenageados com o prêmio “Designer do Ano” pela Design Miami,em 2008 e os “Designers do Ano” pela Maison & Objet, em 2012. Neste mesmo ano, eles foram selecionados para o Prêmio Comité Colbert, em Paris; homenageados pela Design Week, em Pequim; receberam a “Ordem do Mérito Cultural”, em Brasília, e foram condecorados com a “Ordem de Artes e Letras” pelo Ministério da Cultura da França. Em 2013, eles foram listados pela revista Forbes entre as 100 personalidades brasileiras mais influentes. Em 2014 e 2015 a Wallpaper os classificou, respectivamente, entre os 100 mais importantes e 200 maiores profissionais do design.

Posted by Patricia Canetti at 3:47 PM

agosto 17, 2018

Você sonha com o quê? na Luisa Strina, São Paulo

-Mmmmmm… Medalla! Você sonha com o quê?
-Eu sonho com o dia em que eu vou criar esculturas que respiram, suam, tossem, riem, bocejam, sorriem, piscam, suspiram, dançam, andam, rastejam… e se movem entre pessoas como sombras se movem ao redor de pessoas… Esculturas que preservam as dimensões secretas de uma sombra, não seu comportamento servil… Esculturas sem esperança, com horas de vigília e horas de sono… Esculturas que migram em massa para o Pólo Norte em determinadas estações. Esculturas como um espelho translúcido sem a translucidez do espellho!
David Medalla, “Manifesto MMMMM…” (1965)

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Esta é uma exposição - Você sonha com o quê? A Flor Mohole e outras fábulas - no presente do indicativo; uma exposição sobre devaneios e pesadelos inquietantes, sobre visões domésticas e fantasias tecnológicas. É um exercício de indagar como a arrogância do progresso pode ser neutralizada pela empatia criativa da natureza; de explorar os mundos visível e invisível; de revelar os limiares de percepção que conectam luz e sombra, espaço interior e sideral; um exercício de apontar para a criação de novos ambientes que permitem o desenvolvimento de novas histórias.

Centrais para a concepção da exposição são os trabalhos A Flor Mohole (1964), de David Medalla, e os Espaços Virtuais, de Cildo Meireles. A escultura animada de David Medalla faz referência ao Projeto Mohole, iniciado em 1957 e interrompido em 1966, que consistia em escavar no sentido do centro da Terra para extrair um fragmento de sua crosta; o trabalho era para ser plantado no centro da Terra, a fim de ressurgir “com pétalas rolando como a crista de uma onda chegando à costa”, em diferentes formas e em locais variados do planeta. Já os Espaços Virtuais de Meireles foram desenvolvidos no final da década de 1960, a partir de uma visão infantil do artista, referenciada no trabalho A Penteadeira (1967), que eventualmente o levou a questionar a geometria euclidiana e a explorar as características mutantes da paisagem, da narrativa e da escultura.

Como uma fita de Moebius, que produz um plano espelhado que nunca é idêntico a si mesmo, a exposição explorará a sombra que se desprende de seu corpo original; a superfície refletora que adquire vida própria; a máscara que não se conforma com a anatomia escondida – ou o contrário. Criaturas fantásticas e matéria orgânica criarão um ambiente de espaços deslizantes e escalas variáveis, onde compatibilidade e dissidência poderiam realocar as portas entre a vida contemporânea e as civilizações extintas.

Artistas na exposição: Pierre Huyghe, Laura Lima, Marie Lund, David Medalla, Cildo Meireles, Theo Michael, Gabriel Sierra e Pablo Vargas Lugo.

Magali Arriola é crítica de arte e curadora independente que vive na Cidade do México. Atualmente é a curadora principal de América Latina para a Kadist. Foi curadora-chefe da Fundación Jumex Arte Contemporáneo e do Museo Tamayo, ambos na Cidade do México. Arriola escreveu extensivamente para livros e catálogos e contribuiu para publicações como Art Forum, Curare, Frieze, Mousse, Manifesta Journal e The Exhibitionist, entre outras.


-Mmmmmm… Medalla! What do you dream of?
-I dream of the day when I shall create sculptures that breath, sweat, cough, laugh, yawn, smile, wink, gasp, dance, walk, crawl… and move among people like shadows move among people… Sculptures that preserve the secret dimensions of a shadow not its servile behavior… Sculptures without hope, with hours of wakefulness and hours of sleep… Sculptures that at certain seasons migrate en masse to the North Pole. Sculptures as a translucent mirror without the mirror’s translucency!
David Medalla, “MMMMM…. Manifesto” (1965)

This is an exhibition - Você sonha com o quê? A Flor Mohole e outras fábulas [What do you dream of? The Mohole Flower and other tales] in the present tense; an exhibition about daydreams and uncanny nightmares, about domestic visions and technological fantasies. This is an exercise in inquiring how the arrogance of progress can be counteracted by nature’s creative empathy; in exploring the visible and invisible worlds; in revealing the perceptual thresholds that connect light and shade, inner and outer space; an exercise in pointing to the creation of new environments that allow different histories to develop.

At the exhibition’s core are David Medalla’s The Mohole Flower and Cildo Meireles’s “virtual spaces”. Medalla’s 1964 animated sculpture references the Mohole Project, a project started in 1957 and aborted in 1966, that consisted of digging to the core of our planet in order to extract a fragment of its crust; Medalla’s work was meant to be planted at the center of the earth in order to resurface “with rolling petals like the crest of a tidal wave reaching the shore”, in different shapes and at different locations. Meireles’s “virtual spaces” developed in the late 1960’s out of a childhood vision of the artist referenced in the work A Penteadeira (1967) that eventually lead him to question Euclidian geometry, and to explore the mutating features of landscape, narrative and sculpture.

Like a Moebius strip that produces a mirrored plane that is never identical to itself, this exhibition will explore the shadow that detaches itself from its originating body; the reflecting surface that acquires a life of its own; the mask that won’t conform to its concealed anatomy—or the other way around. Fantastic creatures and organic matter will create an environment of sliding spaces and shifting scales where compatibility and dissent might relocate the doorways between contemporary life and extinct civilizations.

Artists in the exhibition: Marcel Duchamp, Pierre Huyghe, Laura Lima and Zé Carlos Garcia, Marie Lund, David Medalla, Cildo Meireles, Theo Michael, and Gabriel Sierra.

Magali Arriola is an art critic and independent curator currently living in Mexico City. She is currently Kadist Lead Curator for Latin America. She was Chief Curator at Fundación Jumex Arte Contemporáneo and at Museo Tamayo. Arriola has extensively written for books, and catalogues and has contributed to publications such as Art Forum, Curare, Frieze, Mousse, Manifesta Journal, and The Exhibitionist, among others.

Posted by Patricia Canetti at 11:26 AM

Wesley Duke Lee na Luisa Strina, São Paulo

“Vasculha ambientes, espelhos e adereços (…), como o delicado vestido de Jean Harlow 24 a zona: a morte, 16 a zona: a paz, ou as plumas e pérolas de luxúria de Jean Harlow 31 a zona: a morte, 29 a zona: a coincidência, ou os véus de Jean Harlow 21 a zona: a morte, 10 a zona: a paz que a transformam numa Sherazade das conversas amorosas (…)” * ­

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Galeria Luisa Strina tem o prazer de anunciar a exposição dos trinta desenhos da série Jean Harlow – A Zona: A Vida e a Morte de Wesley Duke Lee, feita em 1967.

O artista desenvolvia muitos de seus trabalhos em séries, como Cartografia Anímica (terminada em 1980), O Triunfo de Maximiliano l (terminada em 1986), Os Trabalhos de Eros (terminada em 1991). Essas séries foram finalizadas e reunidas em forma de álbuns ou livros, posteriormente expostas e vendidas separadamente, com exceção de Jean Harlow – A Zona: A Vida e a Morte.

Por ocasião do lançamento da monografia sobre Wesley Duke Lee em 2005, a Pinacoteca expõe a série Jean Harlow junto com o album A História da Moça que Atravessou o Espelho (1964).

Impressionado com uma revista encontrada em Los Angeles com inúmeras fotos de Jean Harlow – mito hollywoodiano e símbolo sexual dos anos 30 – Wesley toma conhecimento da vida dupla da atriz, que frequentava incógnita as zonas de meretrício de San Diego. Essa história de erotismo e morte sensibiliza Duke Lee, sobretudo pelo paradoxo de prostituta da Babilônia em contraposição ao de deusa do amor projetada por seus filmes.

“Copia a bico-de-pena uma série de fotos da estrela, colocando as cenas de sua vida em quadrinhos, alguns desenhados à sépia, em imagens sutis, como fotos antigas que vão se resumindo aos contornos, meio apagados, das figuras, e outros com sobreposições ou destaques de partes de seu corpo, em cores. A saga de Harlow desenrola-se nos fragmentos que ocupam uma pequena área em cada prancha das trinta que formam a série. A eles Wesley justapõe os desenhos de uma visão sua, contracanto delicado e sensível, dos mistérios do universo feminino.” *

A pedido do artista a série foi mantida unida e para que fosse separada seria necessário a organização de um livro com a reprodução de todas as obras, que será lançado em 2018.

* Cacilda Teixeira da Costa. Wesley Duke Lee: um salmão na corrente taciturna. São Paulo : Alameda Edusp, 2005, pp120 -122.

Trabalhos da coleção de Augusto Malzoni.


“Rummages through spaces, mirrors, and adornments (…), such as the delicate dress of Jean Harlow 24 the zone: death, 16 the zone: peace, or the luxurious plumes and pearls of Jean Harlow 31 the zone: death, 29 the zone: coincidence, or the veils of Jean Harlow 21 the zone: death, 10 the zone: the peace that turns her into a Sheherazade of loving talks (…).” *

Galeria Luisa Strina is pleased to announce the exhibition of Wesley Duke Lee’s 1967 series Jean Harlow – A Zona: A Vida e a Morte [Jean Harlow – The Zone: Life and Death], comprised of thirty drawings.

The artist used to develop many of his works in series, such as Cartografia Anímica [Soul Cartography], finished in 1980; O Triunfo de Maximiliano 1 [The Triumph of Maximilian I], finished in 1986; and Os Trabalhos de Eros [The Labors of Eros], finished in 1991. These series were accomplished and assembled as albums or books, to be later exhibited and sold separately, except for Jean Harlow – A Zona: A Vida e a Morte.

In 2005, on the occasion of the launch of the monograph on Wesley Duke Lee, Pinacoteca exhibited the Jean Harlow series together with the 1964 album A História da Moça que Atravessou o Espelho [The Story of the Woman Who Passed Through the Mirror].

Astonished by the trouvaille in Los Angeles of a magazine containing several pictures of Jean Harlow – Hollywood myth and sex symbol of the 1930s –, Wesley took notice of the actress’ double life, attending prostitution zones of San Diego undercover. This story of eroticism and death sensitizes Duke Lee, specially due to the paradox of being a prostitute of the Babylon counterposed by the image of goddess of love projected by her movies.

“He copies a series of photos of the star using dip line-drawing, placing scenes of her life in drawings, some of which are subtle images made with sepia, like ancient pictures that end up boiling down to faded contours of figures, while others overlap or highlight parts of her body in color. Harlow’s saga unfolds in fragments that occupy a small part of each of the thirty boards composing the series. To them, Wesley juxtaposes drawings of his own vision, a delicate and compassionate counterpoint to the mysteries of the feminine universe.” *

Upon request of the artist, the series was kept in its entirety; its separation would require the organization of an illustrated publication, to be released yet in 2018.

* Cacilda Teixeira da Costa. Wesley Duke Lee: um salmão na corrente taciturna. São Paulo: Alameda Edusp, 2005, pp. 120 -122.

Works from the Augusto Malzoni Collection.

Posted by Patricia Canetti at 10:50 AM

agosto 15, 2018

Histórias afro-atlânticas: lançamento e visita guiada com Adélia Borges na loja do MASP, São Paulo

A partir do dia 16 de agosto, o MASP loja exibirá uma coleção inédita de artigos garimpados em Moçambique e no Brasil, especialmente em comunidades quilombolas. A coletânea é resultado do trabalho de Adélia Borges, curadora, professora de design e escritora, que, desde 2016, é responsável pela seleção das peças expostas na loja do museu. Adélia estará presente na inauguração, a partir das 18h, para contar um pouco mais sobre o projeto e cada um dos objetos.

Em diálogo com o eixo curatorial do MASP neste ano, as histórias afro-atlânticas, os acessórios e itens de decoração englobam tanto produtos tradicionais de Moçambique, quanto outros que foram elaborados a partir de oficinas ministradas pelos brasileiros Renato Imbroisi e Cristiana Barretto, convidados por associações locais para coordenar projetos de revitalização de artesanato, além de peças feitas por artesãs e artesãos de comunidades quilombolas brasileiras.

A seleção representa, sobretudo, a valorização do feito à mão e traz objetos que são testemunhas do lugar de onde vêm. Um exemplo são os tecidos bordados por mulheres do grupo Vavasati, da cidade de Xai-Xai, no sul de Moçambique. Elas contam suas histórias de vida nos bordados e nas colagens de pedaços de capulanas -- como são chamados no país os tradicionais tecidos industriais estampados com motivos africanos.

De Pemba, no norte de Moçambique, vêm colares de pau preto (ébano, no Brasil) com pequenas reproduções de animais da fauna local, um projeto desenvolvido com sobras de esculturas de artistas Makonde.

Já da Ilha do Ibo, província de Cabo Delgado, chegam joias feitas com filigranas de prata, trabalho executado exclusivamente por homens. Há indícios de que originalmente eram usadas moedas de prata trazidas pelas marés dos navios naufragados na acidentada costa da região. Os métodos de elaboração continuam rústicos, todos manuais.

Além de projetos feitos em oficinas com a participação dos designers brasileiros, há também peças de artesanato tradicional, tais como pulseiras de ébano, pau rosa e sândalo, porta-celulares em fibras vegetais trançadas e representação de animais em lata reciclada de embalagens industriais, todos esses procedentes de Maputo.

De Pernambuco também vêm as cabeças de cerâmica moldadas por Cida Lima. No povoado de Sítio Rodrigues (município de Belo Jardim), ela produz suas peças fielmente à tradição (que remonta pelo menos até seu bisavô): dispensa o torno e queima é feita a céu aberto ---no chamado forno de cachimbo.

Dona Irinéia, reconhecida ceramista, também têm suas peças contempladas. A mestra artesã, que é patrimônio vivo de Alagoas desde 2005, começou fazendo panelas de barro e hoje cria cabeças, figuras humanas e esculturas que narram episódios do povoado quilombola Muquém, na zona da mata Alagoana, próximo à Serra da Barriga, terra do Quilombo dos Palmares.

A nova coleção também inclui um dominó de tecidos africanos, desenvolvido pelo Acervo África, espaço paulistano de pesquisa e exposição da cultura material africana.

A inauguração da venda especial dos produtos, não por acaso, coincide com a principal exposição do ano, também intitulada Histórias Afro-atlânticas, que apresenta uma seleção de 450 trabalhos de 214 artistas, do século 16 ao 21, em torno dos “fluxos e refluxos” entre a África, as Américas, o Caribe, e também a Europa, para usar a famosa expressão do etnólogo, fotógrafo e babalaô franco-baiano Pierre Verger. A mostra fica em cartaz até o dia 21 de outubro.

A programação de 2018 inclui ainda exposições individuais de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, Maria Auxiliadora e Emanoel Araujo, que ocorreram no primeiro semestre, e Rubem Valentim, Sonia Gomes, Lucia Laguna e Pedro Figari, programadas para o segundo semestre. Além disso, na sala de vídeo também serão apresentados, ao longo de 2018, autores de diferentes nacionalidades, gerações e origens capazes de contar outras histórias da diáspora negra. Os artistas que participam do programa são (em ordem): Ayrson Heráclito (19/4 a 17/6), John Akomfrah (28/6 a 12/8), Kahlil Joseph (23/8 a 30/9), Kader Attia, (11/10 a 25/11), Catarina Simão (13/12 a 27/01/19), Jenn Nkiru (08/02 a 24/03/19) e Akosua Adoma (14/6 a 18/7/2019).

CONCEITO

O MASP loja tem um perfil único entre os museus brasileiros: apresenta objetos provenientes de várias partes do país elaborados por comunidades de artesãos, povos indígenas e designers. Os produtos são apresentados de forma não hierárquica, em coerência com o posicionamento conceitual da instituição, definido por Lina Bo e Pietro Maria Bardi, e retomado por Adriano Pedrosa desde que assumiu a direção artística, em 2014.

“Os objetos são garimpados entre aqueles que melhor expressam a potência do objeto contemporâneo brasileiro. Vários deles vêm de inciativas recentes de inovação social e empreendedorismo, que trazem um novo impulso ao desenvolvimento sustentável local”, explica a consultora curatorial Adélia Borges. Alguns exemplos são as bolsas elaboradas com redes de pesca descartadas do Rio Grande do Sul e pássaros de umburana provenientes de Santa Brígida, no interior da Bahia.

A criação indígena está presente com cerâmicas, adornos e bancos. O portfólio de etnias já apresentadas inclui Waurá, Kayapó, Mehinako, Apurinã, Huni Kuin, Umutina e Baré, entre outros. Como os objetos não são feitos em série, o fornecimento muitas vezes é sazonal.

Há vários objetos concebidos em projetos colaborativos entre artesãos e designers brasileiros como Karine Faccin, Ronaldo Fraga e a dupla de irmãs Tina e Lui. A criação autoral de designers surge em peças como os adornos têxteis de Renata Meirelles e as joias em prata de Tissa Berwanger e de Áurea Sacilotto.

O mobiliário se faz presente em uma única tipologia: os banquinhos de sentar. A escolha se deve ao fato de que eles fazem parte da cultura brasileira desde os primórdios e ao propósito de mostrar a diversidade de soluções em um único objeto, tornando assim mais evidente a dimensão cultural do design. Na seleção exposta, estão presentes desde o banco Mocho, um clássico do design brasileiro, criado por Sergio Rodrigues em 1954, e o Girafa, de autoria de Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, em 1987, até releituras atuais do banco caipira por Carlos Simas e uso de papelão por Rona Silva, além dos exemplares indígenas.

Atenção especial vem sendo dada também a miniatura de móveis. Na loja, encontram-se criações de Sergio Rodrigues, Lina Bo Bardi, Indio da Costa, Paulo Mendes da Rocha e Flavio de Carvalho e artesãos da Ilho do Ferro, no sertão alagoano, entre outras.

Toda seleção tem consultoria curatorial de Adélia Borges, que viaja para garimpar peças ainda pouco conhecidas e identificar novos talentos nas várias regiões do Brasil. Esse trabalho integra um esforço de Adélia para divulgar e valorizar o objeto brasileiro.

A loja segue com a venda das publicações e produtos próprios do MASP, além de livros sobre artes, design e arquitetura.

Posted by Patricia Canetti at 12:25 PM

Iberê Camargo + Caixa Preta na FIC, Porto Alegre

A Fundação Iberê Camargo, instituição cultural com sede em Porto Alegre/RS, inaugura uma série de ações e atividades que dão continuidade ao seu processo de reposicionamento e ampliação de sua programação. A abertura de duas novas exposições – Iberê Camargo: formas em movimento e a coletiva Caixa Preta –, o lançamento do novo website da Instituição e a ampliação do programa educativo acontecem no dia 18 de agosto, sábado.

De 18 de agosto a 7 de outubro, a exposição Iberê Camargo: formas em movimento reúne obras do artista e apresenta um recorte panorâmico de sua produção por meio de eixos temáticos que acompanham sua trajetória, desde seus desenhos de criança até as obras mais expressionistas dos anos 1980 e 1990. Organizada pelo Acervo em conjunto com o Programa Educativo da Fundação, a mostra traz cerca de 80 obras – muitas delas expostas na Fundação pela primeira vez – que demonstram a versatilidade e de Iberê e a potência de sua obra. Apoiada em um amplo projeto educativo – que estabelece uma concepção expandida de curadoria, alicerçada em uma dinâmica colaborativa e interativa – a exposição permite que o público dialogue com o espaço expositivo, que será transformado em ateliê. Está prevista uma intensa programação de atividades paralelas, como oficinas, seminários e cursos com diferentes linguagens e diferentes idades e propostas, Serão duas ou mais atividades por dia aos finais de semana, que contemplam crianças, adolescentes, adultos e famílias (veja no serviço abaixo as atividades do fim de semana de 18 e 19 de agosto).

Com curadoria de Bernardo José de Souza, Eduardo Sterzi, Fernanda Brenner e Veronica Stigger, a coletiva Caixa Preta apresenta, de 18 de agosto a 14 de outubro, obras de cerca de 40 artistas – entre fotógrafos, poetas, arquitetos, cineastas e artistas visuais – como Augusto de Campos, Júlio Plaza, Carlos Fajardo, Eliseu Visconti, Chelpa Ferro, Iberê Camargo, Manabu Mabe, Mauro Restiffe, Nuno Ramos, Oscar Niemeyer e Waltercio Caldas. Usando como metáfora a caixa-preta dos aviões – que registram importantes informações que antecedem um momento crítico, ao mesmo tempo em que guardam outras informações banais –, a exposição reflete sobre a relação entre arte e mundo, entre algumas obras de arte e o atual momento político do país e do mundo, mas também entre essas obras e o sistema das artes. Dessa forma, a exposição reúne “caixas-pretas” muito singulares, a serem localizadas, abertas, interpretadas e reinterpretadas. Os curadores pesquisaram e investigaram diversas coleções e acervos, públicos, privados e pessoais, na busca por elementos sem visibilidade, de interesse relativo ou simplesmente esquecidos, no intuito de aprofundar questões presentes nas muitas “caixas-pretas” com as quais convivemos, sejam elas de teor histórico, acadêmico ou artístico.

A exposição vai contar com uma série de atividades paralelas, como o Seminário Sobre acidentes e caixas-pretas do passado, do presente e do futuro, em que historiadores, engenheiros, filósofos e outros especialistas analisam as relações entre arte, política, ciência e história (veja no serviço abaixo as informações da primeira edição do seminário).

O novo site da Fundação – www.iberecamargo.org.br – vai ao ar também no dia 18, mais dinâmico e rico em conteúdo. A partir do site, o visitante pode acessar facilmente diversos conteúdos, como as notícias mais recentes e o calendário de eventos como exposições, shows, cinema, cursos, seminários e oficinais. Um dos destaques do site é a coleção completa de gravuras produzidas no Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura, reunindo mais de 300 obras de mais de 100 artistas de renome nacionais e internacionais e que hoje integram o acervo da instituição. Uma seção destinada ao Programa Educativo possibilita uma comunicação mais ágil para o agendamento de grupos e a realização de atividades e oficinas. Na seção Acervo estarão disponíveis mais de 400 obras de destaque da coleção da Fundação Iberê Camargo e outras 200 inéditas ou raramente acessíveis, muitas delas fotografadas pelo próprio artista ou por sua esposa e companheira D. Maria, que hoje se encontram em coleções públicas e privadas do Brasil e do exterior.

Desenvolvido pela empresa carioca Tuut com contribuições do designer Pablo Ugá, o site traz também informações sobre vida e obra de Iberê Camargo, a Fundação e as exposições já realizadas – desde a primeira, em 1999, quando a Instituição ainda funcionava na antiga residência de Iberê –, além de materiais relacionados, como catálogos e materiais didáticos. O planejamento, a gestão e a edição de conteúdo foram realizados por Gustavo Possamai, Bernardo de Souza, Gabriela Magagnin e Lucas Pierozan, membros da equipe da Fundação. Com design responsivo (que se ajusta automaticamente a monitores, tablets e smartphones), o novo site é bilíngue (português e inglês) e otimizado para facilitar o acesso de mecanismos de busca e possui integração com as mídias sociais, permitindo o compartilhamento fácil de informações.

Programação do fim de semana

Sábado, 18 de agosto

Das 14h às 19h - Abertura das exposições Caixa Preta e Iberê Camargo: formas em movimento e lançamento do novo site da Fundação www.iberecamargo.org.br

Às 15h – atividade para adolescentes e adultos: Desenho de Modelo Vivo – oficina quinzenal de desenho de modelo vivo com diferentes acessórios. A oficina propõe exercícios de observação e desenho de figura humana, tal qual Iberê realiza em seu ateliê. Local: Ateliê de Criação. Vagas: 12. Duração: 40min. Os participantes poderão se inscrever para uma ou mais datas, contribuindo com o valor de R$10,00 por aula. Os participantes devem levar material de uso pessoal (recomenda-se:5 folhas A1, lápis 6B, apontador/estilete). As inscrições podem ser feitas pelo link: https://goo.gl/forms/98WroYPyyh5OMs552

Às 16h – atividade para jovens e adultos: Leitura dramatizada de contos do livro Gaveta dos Guardados, de Iberê Camargo. Local: sala de leitura, 3º andar. Vagas: 30

Às 16h – Conversa com os curadores da exposição Caixa Preta - Bernardo José de Souza, Eduardo Sterzi, Fernanda Brenner e Veronica Stigger. Local: auditório

Às 17h - 1º encontro do Seminário Caixa Preta - Encaixotando o Brasil: caixas pretas, caixas de Pandora e caixinha de surpresas da nossa história - palestra com o historiador Eduardo “Peninha” Bueno. Local: auditório

Domingo, 19 de agosto

Das 14h às 19h – Visitação às exposições Caixa Preta e Iberê Camargo: formas em movimento

Às 15h – atividade para famílias: Retrato de duplas (livre) - exploração das possibilidades da realização de um retrato utilizando a técnica do desenho, aliada aos sentidos táteis e visuais, investigando o vínculo afetivo e a memória estabelecida entre as duplas participantes. Vagas: 15 duplas, 30 participantes por inscrição prévia pelo link https://goo.gl/forms/DwvLOJnIVDniRGKk1

Às 16h – atividade para todas as idades: Conversando com Iberê - Laura Castilhos, representando a Confraria da Ilustração, irá dialogar com o público sobre as ilustrações realizadas por Iberê no seu livro No Andar do Tempo. Vagas: 30 participantes, com inscrição prévia, pelo link https://goo.gl/forms/Sa9IobuOgQNeHfts2

Às 16h – Cine Iberê - Enigma de Um Dia (20min, 1996, Brasil) e O Pintor (48min, 1995, Brasil), de Joel Pizzini – sessão única e comentada pelo diretor Joel Pizzini. Classificação livre. Entrada franca por ordem de chegada. Local: auditório

Às 17h – atividade para todas as idades: De três em três: desvendando o Iberê – mediação na mostra Iberê Camargo: formas em movimento. A cada domingo, três obras de Iberê serão apresentadas contando aquilo que há por trás do quadro, as histórias, curiosidades, especificidades técnicas ou percursos e influências. A atividade se repete aos domingos, até o dia 16 de setembro, sempre com novas obras abordadas. Vagas: 15, com inscrição prévia pelo link https://goo.gl/forms/ceNW5fOfqsUNh97t1 (é possível se inscrever para todas as edições ou apenas para uma delas no mesmo formulário)

Posted by Patricia Canetti at 11:40 AM

Queermuseu na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro

Exposição será reaberta no Rio, em 18 de agosto, com 223 obras expostas nas Cavalariças do Parque Lage

A exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, fechada e censurada em 10 de setembro do ano passado (no Santander Cultural, em Porto Alegre), será reaberta no dia 18 de agosto, às 11h, nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). A aguardada remontagem no Rio contará com 223 obras de 84 artistas reconhecidos nacional e internacionalmente, como Adriana Varejão, Alair Gomes, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Efrain Almeida, Guignard, Leonilson, Lygia Clark, Pedro Américo, Sidney Amaral e Yuri Firmeza. A curadoria de Gaudêncio Fidelis reuniu trabalhos provenientes de coleções públicas e particulares, que percorrem um arco histórico de meados do século XX até a atualidade, formando um mosaico significativo da diversidade estética e geracional da produção artística no país. A Queermuseu é a primeira plataforma curatorial com abordagem exclusivamente queer já realizada no Brasil e a primeira da América Latina com tal envergadura.

A reabertura no Rio foi viabilizada através da mais bem sucedida campanha de financiamento coletivo do país, lançada em 31 de janeiro e coordenada pelo diretor da EAV, Fábio Szwarcwald. Em 58 dias, foram arrecadados um total de R$ 1.081.156, através de 1.724 doações provenientes de 1.659 colaboradores. A campanha contou com iniciativas históricas que impulsionaram o movimento, como um show de Caetano Veloso contra a censura (em 15 de março) e o Levante Queremos Queer, evento que atraiu mais de 2 mil pessoas ao parque num único sábado, em fevereiro deste ano. O valor captado vem sendo investido na operação e na montagem da exposição, na produção de um ciclo de debates, bem como na adaptação museológica das Cavalariças, já em fase de conclusão.

Em paralelo à mostra, como programa público, a EAV promoverá o Fórum Queermuseu. Discussões em torno das manifestações culturais periféricas, das diversas identidades de gênero e orientações sexuais pretendem reforçar o movimento contra a censura e a intolerância, além de reconhecer a pluralidade artística brasileira. A curadoria e coordenação do fórum estão a cargo de Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage. As mesas públicas devem acontecer sempre às terças, quintas e sábados, durante toda a temporada da exposição, que seguirá em cartaz até 16 de setembro de 2018. Entre os temas já pautados, estão: “a judicialização da arte”, “crenças e manifestações religiosas’, “o caso Queermuseu: entre a liberdade e a censura”, “arte e política”, “teoria queer” e “fake news”.

Se somará à plataforma o Núcleo de Ação Educativa - também curado por Ulisses Carrilho - pensado a partir de práticas e políticas queer, com o intuito de adensar os debates levantados pela comunidade LGBTI+ ao longo da exposição. “Cremos num pensamento de sociedade onde se entende os diversos modos de ser e de expressar-se como válidos, mas sobretudo no reconhecimento das singularidades e coletividades, daquilo que partilhamos e nos é comum. Manifestamente, preferimos compreender a diferença como uma possibilidade de encontro, em que cada corpo tem autonomia e liberdade para enunciar a sua experiência, elaborá-la e, caso queira, compartilhá-la”, afirma Carrilho.

Para tanto, o Núcleo de Ação Educativa da exposição está sendo pensado com um grupo plural de cerca de 20 pessoas, em que a representatividade de orientação sexual, identidade de gênero e racial compõem um discurso polifônico, diverso e plural. O material educativo não deve ser entendido como um guia preparatório, que explique a mostra, ou muito menos domestique as questões em torno do universo LGBTI+.

A Queermuseu no Rio contará ainda com apresentações musicais em todos os finais de semana da temporada, como aconteceu nos dois levantes promovidos pela direção da EAV. Uma edição da Feira Tijuana de Arte Impressa, a primeira feira de livros de artista organizada no Brasil, também integra a programação de abertura.

“Reabrir Queermuseu é reparar, em parte, o dano causado ao patrimônio cultural e artístico brasileiro, ocasionado pelo seu fechamento precoce e autoritário e o processo difamatório que se seguiu. A reabertura é também um ato político contra a censura e em favor da liberdade de expressão e de escolha”, afirma Gaudêncio, mestre em Arte pela New York University e doutor em História da Arte pela State University of New York.

De acordo com Szwarcwald, a reabertura da Queermuseu, que chegou a ser vetada pelo prefeito Marcelo Crivella em 2017, quando cogitada de vir para o Museu de Arte Rio, “é um fator de resistência da maior relevância à crescente onda ultraconservadora observada no Brasil. E o Parque Lage, por todo seu histórico e reconhecido compromisso artístico, é o espaço ideal pra receber essa grande mostra”.

A programação do dia 18

11h: Baque Mulher nos jardins em frente ao palacete
11h45 às 12h45: abertura oficial da exposição
13h: Dj Tatah Toscano
16h: Sarau Cuíer
18h: Laura Finocchiaro
19h: Jeza da Pedra
20h: Mariwô b2b Galo Preto (Rebola)

A história da exposição

A diferença é um dos fundamentos do queer, termo de origem pejorativa que teve seu significado transformado nos anos 1980 na luta por direitos civis e movimentos LGBTI+. Desde então, queer passou a designar a diversidade e o direito a uma existência fora da norma.

“Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” explora a expressão e identidade de gênero, a diversidade e a diferença na arte brasileira por meio de um conjunto de obras que percorrem um arco histórico de meados do século XX até a atualidade.

Em sua primeira apresentação realizada no espaço Santander Cultural, em Porto Alegre, a exposição sofreu uma campanha difamatória em redes sociais de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), na qual seus participantes afirmavam que a exposição fazia apologia à pedofilia, pornografia e à zoofilia, além de desrespeito à figura religiosa. Em função disso, ameaçaram boicotar o Banco Santander, que cancelou a exposição. Todas as acusações foram desmentidas pelo Ministério Público Federal, que se manifestou afirmando não haver crime de qualquer espécie, tendo recomendado a imediata reabertura da exposição, o que não ocorreu.

A exposição seria, então, realizada no Rio de Janeiro, pelo Museu de Arte do Rio, porém foi censurada por Marcelo Crivella, prefeito da cidade, que declarou em um vídeo que a exposição só aconteceria “no fundo do mar”.

Queermuseu se propunha a ser um museu provisório, de caráter metafórico, cujo objetivo seria propiciar um campo de investigação sobre o caráter patriarcal e heteronormativo do museu como instituição. Segundo o curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, “é uma exposição fundada na democracia e na visão de um processo de inclusão”.

Posted by Patricia Canetti at 10:35 AM

agosto 13, 2018

Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985 na Pinacoteca, São Paulo

Sucesso de crítica em sua passagem pelo Hammer Museum de Los Angeles e Brooklyn Museum de Nova York, a mostra reúne 280 trabalhos de cerca de 120 artistas, de 15 países. As obras abordaram o corpo feminino como forma de expressão e de crítica social e política num dos períodos mais conturbados da história recente

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta, de 18 de agosto a 19 de novembro de 2018, a grande exposição coletiva Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1985, no primeiro andar da Pinacoteca. A mostra tem curadoria da historiadora de arte e curadora venezuelana britânica Cecilia Fajardo-Hill e da pesquisadora ítalo-argentina Andrea Giunta e é a primeira na história a levar ao público um significativo mapeamento das práticas artísticas experimentais realizadas por artistas latinas e a sua influência na produção internacional. Quinze países estarão representados por cerca de 120 artistas, reunindo mais de 280 trabalhos em fotografia, vídeo, pintura e outros suportes. A apresentação na capital paulista encerra a itinerância e conta com a colaboração de Valéria Piccoli, curadora-chefe da Pinacoteca.

Mulheres radicais aborda uma lacuna na história da arte ao dar visibilidade à surpreendente produção, realizada entre 1960 e 1985, dessas mulheres residentes em países da América Latina, além de latinas e chicanas nascidas nos Estados Unidos. Entre elas, constam na mostra algumas das artistas mais influentes do século XX -- como Lygia Pape, Cecilia Vicuña, Ana Mendieta, Anna Maria Maiolino, Beatriz Gonzalez e Marta Minujín -- ao lado de nomes menos conhecidos -- como a artista mexicana Maria Eugenia Chellet, a escultora colombiana Feliza Bursztyn e as brasileiras Leticia Parente, uma das pioneiras da vídeoarte, e Teresinha Soares, escultora e pintora mineira que vem recebendo atenção internacional recentemente.

O recorte cronológico da coletiva é tido como decisivo tanto na história da América Latina, como na construção da arte contemporânea e nas transformações acerca da representação simbólica e figurativa do corpo feminino. Durante esse período, as artistas pioneiras partiram da noção do corpo como um campo político e embarcaram em investigações radicais e poéticas para desafiar as classificações dominantes e os cânones da arte estabelecida. “Essa nova abordagem instituiu uma pesquisa sobre o corpo como redescoberta do sujeito, algo que, mais tarde, viríamos a entender como uma mudança radical na iconografia do corpo”, contam as curadoras. Essas pesquisas, segundo elas, acabaram por favorecer o surgimento de novas veredas nos campos da fotografia, da pintura, da performance, do vídeo e da arte conceitual.

A abordagem das artistas latino-americanas foi uma forma de enfrentar a densa atmosfera política e social de um período fortemente marcado pelo poder patriarcal (nos Estados Unidos) e pelas atrocidades das ditaduras apoiadas por aquele país (na América Central e do Sul), que reprimiram esses corpos, sobretudo os das mulheres, resultando em trabalhos que denunciavam a violência social, cultural e política da época. “As vidas e as obras dessas artistas estão imbricadas com as experiências da ditadura, do aprisionamento, do exílio, tortura, violência, censura e repressão, mas também com a emergência de uma nova sensibilidade”, conta Fajardo-Hill.

Para Giunta, tópicos como o poético e o político são explorados, na exposição, “em autorretratos, na relação entre corpo e paisagem, no mapeamento do corpo e suas inscrições sociais, nas referências ao erotismo, ao poder das palavras e ao corpo performático, a resistência à dominação; feminismos e lugares sociais”. E complementa: “Estes temas atravessaram fronteiras, surgindo em obras de artistas que vinham trabalhando em condições culturais muito diferentes”. Não à toa, a mostra é estruturada no espaço expositivo em torno de temas em vez de categorias geográficas. A curadora da Pinacoteca, Valéria Piccoli, destaca a importância da representatividade das brasileiras dentro da mostra: “além dos nomes que participaram das exposições no Hammer e no Brooklyn Museum, também vamos incluir obras de Wilma Martins, Yolanda Freyre, Maria do Carmo Secco e Nelly Gutmacher na apresentação em São Paulo”, revela.

A América Latina conserva uma forte história de militância feminista que -- com exceção do México e alguns casos isolados em outros países nas décadas de 1970 e 1980 -- não foi amplamente refletida nas artes. Mulheres radicais propõe consolidar, internacionalmente, esse patrimônio estético criado por mulheres que partiram do próprio corpo para aludir -- de maneira indireta, encoberta ou explícita –- as distintas dimensões da existência feminina. Para tanto, as curadoras vêm realizando uma intensa pesquisa, desde 2010, que inclui viagens, entrevistas, análise de publicações nas bibliotecas da Getty Foundation, da University of Texas entre diversas outras.

O argumento central da exposição mostra que, embora boa parte dessas artistas tenham sido figuras decisivas para a expansão e diversificação da expressão artística em nosso continente, ainda assim não haviam recebido o devido reconhecimento. “A exposição surgiu de nossa convicção comum de que o vasto conjunto de obras produzidas por artistas latino-americanas e latinas tem sido marginalizado e abafado por uma história da arte dominante, canônica e patriarcal”, definem as curadoras. Segundo o diretor da Pinacoteca, Jochen Volz, “foram, principalmente, artistas mulheres as pioneiras que experimentaram novas formas de expressão, como performance e vídeo, entre outras. Assim, a itinerância da mostra Mulheres radicais para o Brasil é de grande relevância para a pesquisa contemporânea artística e acadêmica e o público em geral”.

Esse rico conjunto de trabalhos, bem como os arquivos de pesquisa, coletados para a concepção da exposição, chegam finalmente ao público paulista, contribuindo para abrir novos caminhos investigativos e entendimentos acerca da história latino-americana. ”O tópico agora faz parte de uma pauta ampla e ao mesmo tempo urgente. Entretanto, ainda há muito trabalho a ser feito e temos plena consciência de que este é apenas o começo”, finalizam as curadoras.

Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985 é organizada pelo Hammer Museum, Los Angeles, como parte da Pacific Standard Time: LA/LA, uma iniciativa da Getty em parceria com outras instituições do Sul da Califórnia e teve curadoria das convidadas Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta. Sua apresentação na Pinacoteca de São Paulo conta com o patrocínio do Itaú, escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, BTG Pactual e Vicunha, além do apoio das revistas Claudia, Elle e Capricho. A exposição é realizada graças ao apoio da Getty Foundation. A maior parte dos recursos da mostra foram promovidos por Diane and Bruce Halle Foundation e Eugenio López Alonso. Apoio generoso foi oferecido por Vera R. Campbell Foundation, Marcy Carsey, Betty e Brack Duker, Susan Bay Nimoy, e Visionary Women.

ARTISTAS PARTICIPANTES (ver lista em ordem alfabética na agenda)

Argentina
Maria Luisa Bemberg (1922–1995); Delia Cancela (1940); Graciela Carnevale (1942); Diana Dowek (1942); Graciela Gutiérrez Marx (1945); Narcisa Hirsch (Germany, 1928); Ana Kamien and Marilú Marini (1935 and 1954); Lea Lublin (Poland, 1929–1999); Liliana Maresca (1951–1994); Marta Minujín (1943); Marie Orensanz (1936;) Margarita Paksa (1933); Liliana Porter (1941); Dalila Puzzovio (1943); Marcia Schvartz (1955).

Brasil Mara Alvares (1948); Claudia Andujar (Suíça, 1931); Martha Araújo (1943); Vera Chaves Barcellos (1938); Lygia Clark (1920–1988); Analívia Cordeiro (1954); Liliane Dardot (1946); Lenora de Barros (1953); Yolanda Freyre (1940); Iole de Freitas (1945); Anna Bella Geiger (1933); Carmela Gross (1946); Nelly Gutmacher (1941); Anna Maria Maiolino (Italy, 1942); Márcia X. (1959–2005); Wilma Martins (1934); Ana Vitória Mussi (1943); Lygia Pape (1927–2004); Letícia Parente (1930–1991); Wanda Pimentel (1943); Neide Sá (1940); Maria do Carmo Secco (1933); Regina Silveira (1939); Teresinha Soares (1927); Amelia Toledo (1926–2017); Celeida Tostes (1929–1995); Regina Vater (1943).

Chile
Gracia Barrios (1927); Sybil Brintrup and Magali Meneses (1954 and 1950); Roser Bru (Spain, 1923); Gloria Camiruaga (1941–2006); Luz Donoso (1921–2008); Diamela Eltit (1949); Paz Errázuriz (1944); Virginia Errázuriz (1941); Lotty Rosenfeld (1943); Janet Toro (1963); Eugenia Vargas Pereira (1949); Cecilia Vicuña (1948).

Colombia
Alicia Barney (1952); Delfina Bernal (1941); Feliza Bursztyn (1933–1982); María Teresa Cano (1960); Beatriz González (1938); Sonia Gutiérrez (1947); Karen Lamassonne (Estados Unidos, 1954); Sandra Llano-Mejía (1951); Clemencia Lucena (1945–1983); María Evelia Marmolejo (1958); Sara Modiano (1951–2010); Rosa Navarro (1955); Patricia Restrepo (1954); Nirma Zárate (1936–1999).

Costa Rica
Victoria Cabezas (Estados Unidos, 1950)

Cuba
Ana Mendieta (1948–1985); Marta María Pérez (1959); Zilia Sánchez (1928).

Estados Unidos
Judith F. Baca (1946); Barbara Carrasco (1955); Josely Carvalho (Brazil, 1942); Isabel Castro (Mexico, 1954); Ester Hernández (1944); Yolanda López (1942); María Martínez-Cañas (Cuba, 1960); Marta Moreno Vega (1942); Sylvia Palacios Whitman (Chile, 1941); Sophie Rivera (1938); Sylvia Salazar Simpson (1939); Patssi Valdez (1951).

Guatemala
Margarita Azurdia (1931–1998)

México
Yolanda Andrade (1950); Maris Bustamante (1949); Ximena Cuevas (1963); Lourdes Grobet (1940); Silvia Gruner (1959); Kati Horna (Hungary, 1912–2000); Graciela Iturbide (1942); Ana Victoria Jiménez (1941); Magali Lara (1956); Mónica Mayer (1954); Sarah Minter (1953–2016); Polvo de Gallina Negra (ativo 1983–93); Carla Rippey (Estados Unidis, 1950); Jesusa Rodríguez (1955); Pola Weiss (1947–1990); Maria Eugenia Chellet (1948).

Panamá
Sandra Eleta (1942)

Paraguai
Olga Blinder (1921–2008); Margarita Morselli (1952).

Peru
Teresa Burga (1935); Gloria Gómez-Sánchez (1921–2007); Victoria Santa Cruz (1922–2014).

Porto Rico
Poli Marichal (1955); Frieda Medín (1949).

Uruguai
Nelbia Romero (1938–2015); Teresa Trujillo (1937).

Venezuela
Mercedes Elena González (1952); Margot Römer (1938–2005); Antonieta Sosa (Estados Unidos, 1940); Tecla Tofano (Itália, 1927–1995); Ani Villanueva (1954); Yeni y Nan (ativo 1977–86).

EXHIBITION CIRCLE

Pela primeira vez em sua história, a Pinacoteca concebe um Exhibition Circle -- prática bastante comum nos EUA e na Europa para arrecadar fundos -- especialmente para esta exposição. Para a ocasião, o museu convidou 30 mulheres inspiradoras e pioneiras em suas áreas de atuação para colaborarem financeiramente na viabilização de Mulheres radicais. “Convidamos mulheres que refletem o espírito desta exposição e que, para nós, são fonte de admiração e merecem reconhecimento público. O grupo que chamamos carinhosamente de ´Mulheres Extraordinárias´ representa o engajamento e o pioneirismo feminino em diversas áreas da sociedade”, conta Paulo Vicelli, diretor de Relações Institucionais da Pinacoteca. Integra a lista de homenageadas: Adriana Cisneros, Ana Lucia de Mattos Barretto Villela, Catherine Petigás, Estrellita Brodsky, Luisa Strina, Fernanda Feitosa, Lygia da Veiga Pereira Carramaschi, Luiza Helena Trajano, entre outras.

CATÁLOGO

Mulheres radicais será complementada com um catálogo que inclui as biografias das mais de 120 artistas e mais de 200 imagens de obras da mostra além de outras de referência documental, ampliando o panorama deste mapeamento para além da exposição. A publicação original é a primeira a reunir uma extensa pesquisa sobre o tema e sua versão portuguesa editada pela Pinacoteca de São Paulo é a primeira a tornar este conteúdo acessível aos leitores da América Latina. Diferentemente da mostra, o catálogo é organizado por países acompanhados de ensaios de Fajardo-Hill e Giunta, assim como outros dez autores, como a curadora-chefe do Hammer Museum, Connie Butler, e a guatemalteca Rosina Cazali.

AÇÃO EDUCATIVA

Visitas educativas a partir do dia 25/08, domingos e feriados, 10h30 às 11h30 e 15h00 às 16h00 – Pina Luz
Não é preciso realizar inscrição prévia. O visitante pode procurar pelo educador na recepção do museu. Grupo de até 20 pessoas.
Para agendar uma visita educativa à exposição Mulheres Radiarias, por favor telefone para 11-3324-0943 ou 3324-0944.

Encontro para formação de professores e lançamento do material de apoio à prática pedagógica
01/09, das 10h00 às 13h00 – auditório – Pina Luz
Inscrições a partir de 20/08, pelos telefones 11-3324-0943/0944. 50 vagas.

Posted by Patricia Canetti at 12:13 PM

David Almeida na Zipper, São Paulo

Em Paradeiro, próxima exposição do projeto Zip'Up, o artista David Almeida apresenta um novo conjunto de pinturas que tratam da paisagem na forma de fragmentos, retalhada de sua totalidade. Com curadoria de Ana Roman, a primeira do artista em São Paulo inaugura no dia 18 de agosto e segue em cartaz até 15 de setembro.

Brasiliense radicado em São Paulo, David parte da experiência do percurso pela cidade, interessando-se, em geral, por formas acidentadas vistas casualmente. Criadas a partir de imagens fotográficas, as pinturas quase sempre fogem da perspectiva horizontal. As situações são retratadas ora em um ângulo de cima para baixo ou vice-versa, evocando o olhar de um espectador que se depara com cenas invisíveis em meio ao excesso de elementos ao redor. “O termo ‘Paradeiro’ designa o local de fim, de chegada e de partida de algo. Nos trabalhos reunidos, David Almeida constrói uma espécie de narrativa sobre o fim, em imagens as quais os referentes pertencem a vivência e ao imaginário de todos, e que, ao mesmo tempo, apresentam-se como fragmentos de não-lugares. Acidentes geográficos, buracos, refúgios improvisados, nos quais a escala é objeto de questionamento do artista”, analisa a curadora.

Se em “Conduta de risco”, sua série anterior, o artista voltou-se mais para elementos como grades, muros e outras estruturas que remetem a um percurso interrompido, nestes trabalhos recentes o artista investiga fragmentos de paisagem natural, que ocorrem tanto nos ambientes rurais quanto urbano, e como eles evocam com dubiedade cenas sem uma localização específica que pairam em nosso imaginário.

David Almeida é um dos artistas indicados ao Prêmio Pipa 2018. Seu trabalho estabelece diálogos entre pintura, arquitetura, tempo e espaço. “Em determinado momento, um gatilho é desencadeado nas cenas e objetos que vejo. Eles se transformam em imagem e ocorre um estanque de qualquer narrativa. Me dou conta de que não sei nada sobre aquele lugar ou coisa e, então, entendo que existe pintura. É imagem, é espaço, mas também é superfície, cor, matéria, tempo, linguagem”, conta ele sobre seu processo.

Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.

Sobre o artista

David Almeida (Brasília, 1989) vive e trabalha entre Brasília e São Paulo. Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília, sua pesquisa se desenvolve por meio de múltiplas linguagens como desenho, objeto, fotografia, instalações, performance e, sobretudo, a pintura. Sua produção tem como eixo as problemáticas do espaço e do corpo em percurso, explorando a visualidade do espaço íntimo, do ateliê, da cidade e da paisagem natural. Investiga os limites entre presença e ausência, o espaço pictórico, elementos da pintura e sua semântica narrativa engendrando conceitos de clausura, fantasmagoria, rigidez social da arquitetura dos grandes centros e deriva como método de estudo de lugares marginais e da paisagem.

Sobre a curadora

Ana Roman é mestre em Geografia pela FFLCH-USP e doutoranda em Art History and Theory na Universidade de Essex. Dedica-se atualmente a pesquisa em arte contemporânea e curadoria. Foi curadora assistente da mostra "Entre Construção e Apropriação: Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos anos 60"(SESC Pinheiros, 2018) e pesquisadora/assistente de curadoria das mostras "Ready Made in Brasil"(Centro Cultural Fiesp, 2017), "rever_Augusto de Campos” (Sesc Pompeia, 2016) , “Lina Gráfica” (Sesc Pompéia, 2014), entre outras. Curou a mostra "Asseidade da fenda˜, de David Almeida (Centro Cultural Elefante - Brasília, 2016) e dedica-se regularmente a escrita de textos críticos. Desde 2014, participa do coletivo sem título, s.d., coletivo de produção e pesquisa em arte contemporânea, com o qual realizou a mostra “O que não é performance?”, (Centro Universitário Maria Antonia, 2015) e a mostra ˜Tuiuiu"de Alice Shintani (ABER, 2017).

Posted by Patricia Canetti at 11:27 AM

Romy Pocztaruk na Zipper, São Paulo

Em sua primeira individual na Zipper, a artista Romy Pocztaruk, que passa a ser representada pela galeria, apresenta a série Bombrasil, uma investigação fotográfica e documental sobre o desdobramento no Brasil da corrida armamentista nuclear durante a Guerra Fria. O projeto paralelo, conduzido secretamente pela Ditadura Militar entre as décadas de 1960 e 1980, buscava o desenvolvimento de tecnologia para enriquecimento de urânio, construção de bomba atômica e de um submarino atômico no país. Dele, resultou a construção das usinas nucleares em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, que foram fotografadas pela artista. Romy também visitou outros locais relacionados ao programa nuclear brasileiro, como o Reator Argonauta e os arquivos da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear).

Com curadoria de Luisa Duarte, “Bombrasil” abre no dia 18 de agosto. O momento é particularmente oportuno: recentemente, o governo Michel Temer anunciou a retomada do programa nuclear brasileiro, que prevê a construção de novas usinas termonucleares e o aumento da exportação de urânio. A individual de Romy reúne fotografias da artista realizadas nas instalações das usinas, em composições com imagens dos arquivos da CNEN. Também apresenta cartazes que reproduzem manchetes sobre programa atômico brasileiro após o final da ditadura.

A ideia de jornada é recorrente na produção da artista, que costuma se envolver em longas pesquisas investigativas. Ela percorre geografias distantes para registrar os vestígios de lugares abandonados que foram, um dia, projetos faraônicos. Tal como em “A última aventura”, série em que Romy registra os vestígios da construção da rodovia Transamazônica, o trabalho “Bombrasil” revisita outra face do projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar. Ambos trazem consigo a ideia de inserir o país em uma rota de modernidade. “Estes grandes projetos carregam uma utopia. Me interessa a criação do imaginário político, social e econômico sobre o que é o Brasil. Ao revisitar os projetos da ditadura, podemos entender muito sobre o nosso presente. São projetos ocultos, quase esquecidos”, a artista afirma.

A concepção expográfica de “Bombrasil” é baseada na mostra “Átomos para Paz”, realizada em 1959 pelos governos americano e brasileiro para divulgação pacífica da energia nuclear no Brasil. O programa, desenvolvido pelos EUA após os ataques a Hiroshima e Nagazaki, tinha a finalidade de criar uma nova imagem do desenvolvimento atômico em curso na época. O discurso da exposição buscava distanciar a ciência da ideia da guerra, promovendo a imagem dos EUA associada às vantagens da nova fonte de energia, ao divulgar informações sobre suas aplicações na pesquisa científica, indústria e saúde.

“Bombrasil” fica em cartaz até 15 de setembro.

Sobre a artista

Em diversos suportes, Romy Pocztaruk (Porto Alegre, 1983) lida com simulações, refletindo sobre a posição a partir da qual a artista interage com diferentes lugares e com as relações entre os múltiplos campos e disciplinas com a arte. Diversas vezes premiado, o trabalho da artista está presente em coleções como Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu de Arte do Rio. Com a série “A Última Aventura”, em que a artista investiga vestígios materiais e simbólicos remanescentes da construção da rodovia Transamazônica, projeto faraônico, utópico e ufanista relegado ao abandono e ao esquecimento, Romy participou da 31ª Bienal de São Paulo. Principais exposições individuais: “Geologia Euclidiana”, Centro de Fotografia de Montevideo, Uruguai (2016); “Feira de ciências”, Centro Cultural São Paulo (2015). Principais exposições coletivas: “Uma coleção Particular: Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca”, Pinacoteca de São Paulo, São Paulo (2015); “Télon de Fondo”, Backroom Caracas, Venezuela (2015); “BRICS”, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2014); “POROROCA”, Museu de Arte do Rio de Janeiro (2014); “9ª Bienal do Mercosul”, Porto Alegre (2013); “Region 0”, The Latino Video Art Festival of New York, New York (2013); “Convite à viagem: Rumos Itau Cultural”, Itau Cultural, São Paulo (2012).

Sobre a curadora

Luisa Duarte é crítica de arte e curadora independente. É crítica de arte do jornal O Globo, desde 2009. Mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP. Doutoranda em teoria da arte pela UERJ em 2017. Foi por cinco anos membro do Conselho Consultivo do MAM-SP (2009-2013). Foi curadora do programa Rumos Artes Visuais, Instituto Itaú Cultural (2005/ 2006); Foi coordenadora geral do ciclo de conferências "A Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro - Memória e Projeção", plataforma de debates da 28ª Bienal Internacional de São Paulo, 2008; Foi curadora de quatro edições do Red Bull House of Art, projeto de residências artísticas e mostras no centro de São Paulo voltado para artistas em começo de trajetória, 2009/2010; Foi curadora da exposição coletiva "Um Outro Lugar", MAM - SP, 2011; integrou a equipe de curadoria de Hans Ulrich Obrist para a mostra “The Insides are on the Outside”, Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, São Paulo, 2013; Foi organizadora, em dupla com Adriano Pedrosa, do livro ABC – Arte Brasileira Contemporânea, Cosac & Naify, 2014. Foi organizadora, em dupla com Pedro Duarte, do Seminário Internacional Biblioteca Walter Benjamin, MAR - Museu de Arte do Rio de Janeiro, 2016.

Posted by Patricia Canetti at 11:16 AM

agosto 10, 2018

Sessão comentada do filme Grupo de Bagé e lançamento do projeto O Poder da Multiplicação no Goethe-Institut, Porto Alegre

Goethe promove sessão comentada do filme Grupo de Bagé e lança projeto sobre a arte da gravura

Em sessão única e com entrada franca, documentário de Zeca Brito sobre artistas gravadores será comentado pelo diretor, o jornalista Francisco Dalcol e o historiador Paulo Gomes, com mediação da pesquisadora Maria Amélia Bulhões. Na ocasião, será lançado o projeto O Poder da Multiplicação, que terá início em setembro.

15 de agosto de 2018, quarta-feira, às 19h

Goethe-Institut
Rua 24 de Outubro 112, Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS

O Instituto Goethe exibe no dia 15 de agosto (quarta-feira), às 19h, o longa-metragem Grupo de Bagé, de Zeca Brito. A entrada é franca, com distribuição de senhas a partir das 18h. A sessão única será seguida de debate com o diretor, o jornalista Francisco Dalcol e o historiador Paulo Gomes, com mediação da pesquisadora Maria Amélia Bulhões. Na ocasião, será lançado o projeto O Poder da Multiplicação, realizado pelo Goethe a partir de setembro e que vai refletir sobre as questões da reprodução na arte. O projeto inclui exposição com 14 artistas brasileiros e alemães, website, atividades paralelas e um videogame (saiba mais abaixo).

O documentário narra a história e o legado do Grupo de Bagé - movimento artístico do RS surgido nos anos 1940, protagonizado pelos pintores e gravadores Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves. Realizado pela Anti Filmes e Boulevard Filmes, o longa apresenta depoimentos de teóricos como Néstor García Canclini e Nicolas Bourriaud, e de artistas plásticos, que incluem Anico Herskovits e Cildo Meireles, entre outros, que investigam a trajetória do grupo. "Partimos de uma recuperação biográfica e histórica do Grupo de Bagé, a contextualização artística, cultural e política da região em que viviam à época", relembra o diretor, que também assina o roteiro (junto com Gladimir Aguzzi) e a produção, com Letícia Friedrich, Frederico Ruas e Lourenço Sant'Anna.

"Buscamos recuperar e compreender os elementos que estabeleceram as condições para que os jovens artistas alcançassem uma identidade estética própria e, cada um a sua maneira, conduzissem os ideais e as características artísticas e políticas do grupo que criaram", resume Brito. Para o cineasta, o Grupo de Bagé fez da gravura uma maneira de popularizar a arte, com temáticas realistas e de denúncia social. Um dos temas de destaque do documentário é a apropriação do trabalho do grupo pelo sistema das artes brasileiras, do pampa gaúcho aos palácios de Brasília.

Radicado em Porto Alegre e natural de Bagé, Zeca Brito (32) roteirizou e dirigiu diversos curtas-metragens, com destaque para "Aos Pés" e "O Sabiá". Estreou em longa-metragem em 2011 com o drama "O Guri"; em 2015 lançou o documentário "Glauco do Brasil" (39ª Mostra de SP). É diretor dos longas "A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro" e "Em 97 Era Assim" (Melhor Filme do 2º The Best Film Fest/Seattle - EUA), lançados este ano. Dirigiu também o drama histórico "Legalidade" (em pós-produção), com previsão de lançamento para 2019. Brito é o idealizador e diretor do Festival Cinema da Fronteira de Bagé, que chega à sua 10ª edição este ano.

Ficha Técnica

Título Original: Grupo de Bagé
Ano de Produção: 2018
País de Produção: Brasil
Gênero: Documentário
Duração: 75 min.
Classificação Indicativa: Livre
Empresas Produtoras: Anti Filmes & Boulevard Filmes
Empresa Coprodutora: Canal Curta
Estado (UF): RS
Equipe
Diretor: Zeca Brito
Roteirista: Gladimir Aguzzi & Zeca Brito
Diretor de Fotografia: Pablo Escajedo
Produtor Executivo: Zeca Brito & Letícia Friedrich
Produtor: Letícia Friedrich, Zeca Brito, Frederico Ruas e Lourenço Sant'Anna
Editor: Frederico Ruas & Jardel Machado Hermes
Câmera: Pablo Escajedo
Câmera adicional: Bruno Polidoro & Eduardo Bertier
Som Direto: Maria Elisa Dantas & Letícia Friedrich
Mixagem: Tiago Bello
Pesquisa: Zeca Brito
Entrevistados: Ailema Bianchetti, Alan Silva, Alberto Híjar Serrano, Angélica de Moraes, Anico Herskovits, Antônio Lessa, Carlos Henrique Silva , Cildo Meireles, Claudio Strinati, Cristovam Buarque, Danúbio Gonçalves, Deny Bonorino, Edy Lima, Eunice Scliar, Evelio Álvarez Sanabria, Felipe Chaimovich, Fernando Cocchiarale, Francisco Mortales, Franscisco Javier Calvo Sánchez, Heloísa Beckman Morgado, Helouise Costa, Josué David Espejel, Julián Castruita Morán, Lara Denise, Luiz Coronel, Marcelo de Sá de Sousa , Mariel Ketzal Villanueva Rivas, Néstor García Canclini , Norma Estelita Pessôa, Norma Vasconcelos, Regina Lamenza, Renata Casatti, Rolf Külz-Mackenzie, Romério Rômulo, Santiago Pérez Garci , Sapiran Brito, Sergio Rizo Dutra, Teresa Poester, Valeria Piccoli, Victor Rizo García.
Sinopse longa: O Grupo de Bagé foi um movimento artístico surgido no Rio Grande do Sul dos anos 40, protagonizado pelos pintores e gravadores Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves. Ligados ao Taller de Gráfica Popular do México e ao Partido Comunista, fizeram da gravura uma maneira de popularizar a arte, com temáticas realistas e de denúncia social. O documentário revela a apropriação destes artistas pelo sistema das artes brasileiras, do pampa gaúcho aos palácios de Brasília. Teóricos como Néstor García Canclini e Nicolas Bourriaud, e artistas como Anico Herskovits e Cildo Meireles investigam a trajetória dos artistas de Bagé.
Sinopse curta: O Grupo de Bagé foi um movimento artístico surgido no Rio Grande do Sul dos anos 40, protagonizado pelos pintores e gravadores Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves.

Sobre o projeto O Poder da Multiplicação

O projeto O Poder da Multiplicação - Arte reprodutível na América do Sul e na Alemanha: do pré-digital ao pós-digital ou da gravura, passando pelo xerox, até o 3D é uma contribuição artístico-teórica à reflexão sobre a questão da reprodução hoje em dia. Trinta anos após o surgimento dos meios digitais, com os quais o acesso à informação e à reprodução (Copy & Paste) se tornaram naturais, questões a respeito dos fundamentos estruturais, da possibilidade da reprodução e de seus conteúdos voltam a ser discutidas. Os 14 artistas contemporâneos do Rio Grande do Sul e da Alemanha apresentados na exposição - que será apresentada no MARGS, em setembro - lidam com essas questões de maneiras muito diferentes. (ler texto do curador)

O projeto conta com um site, uma exposição que será realizada no Brasil e na Alemanha, além de atividades paralelas, como visitas guiadas e debates, catálogo e um videogame, desenvolvido por um grupo de pesquisa da Universidade Federal, complementará a exposição, discutindo de maneira lúdica questões em torno da reprodutibilidade. Ensaios, entrevistas, fotos e vídeos no site www.aura-remastered.art oferecem a possibilidade de um aprofundamento no assunto e na análise das obras exibidas.

A exposição será realizada no MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre/RS, de 11 de setembro a 11 novembro de 2018. Em 2019, a exposição segue para o Leipziger Baumwollspinnerei, em Leipzig/Alemanha, onde permanece em cartaz de 28 de fevereiro a 24 de março.

Artistas: Carlos Vergara, Brasil - Flavya Mutran, Brasil - Hanna Hennenkemper, Alemanha - Helena Kanaan, Brasil - Hélio Fervenza, Brasil - Marcelo Chardosim, Brasil - Olaf Holzapfel, Alemanha - Ottjörg A.C. , Alemanha - Rafael Pagatini, Brasil - Regina Silveira, Brasil - Vera Chaves Barcellos, Brasil - Thomas Kilpper, Alemanha - Tim Berresheim, Alemanha - Xadalu, Brasil - O jornal como obra de arte: edições especiais jornais diários alemães Süddeutsche Zeitung, Frankfurter Allgemeine Zeitung e Die Welt, criadas por artistas como Anselm Kiefer, Jenny Holzer, Sigmar Polke, Gerhard Richter, Georg Baselitz, também farão parte da exposição.

Curador: Gregor Jansen, Alemanha
Conselheiros: Paulo Gomes, Francisco Dalcol, Andreas Schalhorn
Produção: Goethe-Institut Porto Alegre

O projeto é realizado pelo Goethe-Institut Porto Alegre com a colaboração de parceiros locais e da Europa, como MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul, UFRGS -Instituto de Artes, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Museu do Trabalho, Associação Cultural Vila Flores e Leipziger Baumwollspinnerei.

Posted by Patricia Canetti at 11:33 AM

Iole de Freitas na Raquel Arnaud, São Paulo

A mostra - Iole de Freitas: Obras dos anos 70, que ocupa o piso acervo da galeria, destaca as sequências fotográficas e filmes experimentais que Iole de Freitas produziu ao longo de sua estadia na Itália, de 1970 a 1978. Entre as sequências fotográficas estão: My three inches Comet, Magnetismo Urano e Jump to the other side and win a red kimono, Introvert/ Penetrate, todos de 1973, e a Série Glass Pieces, Life Slices, de 1974. Elas registram a interação da artista com espelhos, vidros, peças de metais e tecidos em seu estúdio, para refletir sobre imagens bidimensionais, espaço e temporalidade. Nessa fase a representação do corpo surge como tema principal. Iole de Freitas se fotografava e filmava, sempre dominando o foco e o timing, o que tornava a produção um exercício intenso físico e mental.

Essas questões são igualmente abordadas nos filmes em Super-8, outra plataforma utilizada experimentalmente pela artista durante os anos 70. Estarão na exposição: Elements e Light work de 1972 e Exit de 1973. Esses trabalhos marcaram presença na vanguarda europeia, exibidos na Bienal de Paris de 1975, no FrankfurtKunstverein, e na Galeria Grita Insam em Viena em 1976 e no Studio Marconi em Milão em 1978. Retornando ao Brasil em 1978, parte dessa produção em fotografia e Super-8 foi apresentada pela Galeria Arte Global, espaço dirigido por Raquel Arnaud desde a inauguração, em 1973, até 1980, quando abre seu próprio gabinete de arte.

Além das obras e filmes, a exposição contará com documentos da época e cartazes de exposições realizadas na Europa. Ao destacar os filmes e a produção fotográfica dos anos 70, a exposição vai além do resgate dessa importantíssima fase do trabalho de Iole de Freitas. Apresenta também os meios que lhe permitiram traçar as características e preocupações que viriam permear toda sua obra dali em diante: movimento, leveza e velocidade, transparência e translucidez.

Iole de Freitas (1945, Belo Horizonte (MG), vive e trabalha no Rio de Janeiro) participou de importantes mostras internacionais, como 9ª Bienal de Paris, 15ª Bienal de São Paulo, 5ª Bienal do Mercosul e da Documenta 12, em Kassel, Alemanha. Além de individuais e coletivas em várias cidades do mundo, seus trabalhos integram importantes coleções, entre as quais, MAC – Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; MAM – Museu de Arte Modernade São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Belas Artes, RJ;Museu do Açude, RJ; MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; MAR-Museu de Arte do Rio; Bronx Museum (EUA); Winnipeg Art Gallery (Canadá); e Daros Foundation (Suíça).

Posted by Patricia Canetti at 10:42 AM

Daniel Feingold na Roberto Alban, Salvador

A pesquisa de cores, as formas quase sempre incertas, o uso de luz e sombra como elementos focais da arte abstrata estão na essência do trabalho do artista carioca Daniel Feingold. Com uma bagagem artística repleta de experiências, muitas delas no exterior, ele apresenta a partir do dia 16 de agosto, 20 horas, na Roberto Alban Galeria, em Ondina, sua primeira exposição individual na Bahia, intitulada Campos de Cor como Campos de Luz.

Arquiteto de formação, artista com mais de 30 anos de trajetória na arte contemporânea, Daniel Feingold frequenta, no início da década de 1980, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Como pintor, seus primeiros trabalhos aconteceram em 1989. Em 1990, conquistou o primeiro lugar no Salão Nacional de Artes Visuais/ RJ. Com bolsa do governo brasileiro, mudou-se para os Estados Unidos, para fazer Mestrado no Pratt Institute, em Nova Iorque, dedicando-se à pintura, trabalhos em papel e pesquisas em fotografia, expondo em diferentes partes do mundo. Seu trabalho continuou sendo exibido no Brasil, criando uma produção em trânsito e estabelecendo conexão entre Brasil e Estados Unidos.

Ao voltar ao País, cerca de 10 anos depois, o artista iniciou nova e produtiva etapa, composta de pinturas de grandes formatos, agora mais influenciado pelas experiências vividas em Nova Iorque. Altamente vibrante, transbordando de cores e fortes traçados, o trabalho de Feingold destacou-se, então, pela sua originalidade e técnica precisa, mergulhando no mundo abstrato, mas sem estar preso aos caminhos percorridos nesta área por gerações artísticas anteriores.

Suas tramas quase sempre coloridas parecem dialogar com o infinito. Suas linhas geométricas se revelam inquietantes ao olhar do espectador, sendo esta uma das características do resultado de seu processo criativo, como ele mesmo reconhece:

“Ao longo do tempo, através da pintura, do desenho e mais recentemente da fotografia, tenho perseguido as formas estéticas abstratas de características não representacionais. Elas se apoiam na construção bidimensional que considera o plano e suas dobraduras, a linha, os campos cromáticos, a luz e a sombra. O resultado disso são trabalhos, na maioria, de grande escala”, afirma o artista.

Atualmente, pela natureza do seu trabalho, Daniel Fiengold diz procurar inventar técnicas que momentaneamente atendam aos seus propósitos criativos. “Quando vivi nos Estados Unidos, criei uma maneira de aplicar tinta sobre a superfície da tela, para evitar tocá-la com pincéis, e obter um entrelaçamento de linhas na construção da superfície bidimensional. Consegui isso com tubos plásticos de ketchup que, por pressão, expeliam a tinta através de bicos longos. Mais recentemente passei a aplicar esmalte sintético em longos despejos controlados, diretamente sobre a superfície. Isso me deu um outro tipo de resultado com a formação de bandas cromáticas engradadas”, revela.

Para a exposição da Roberto Alban Galeria, o paulista Tiago Mesquita, mestre em Filosofia, curador e crítico de arte, escreveu o texto de apresentação. Feingold expõe 15 telas em dimensões variadas, 11 papéis e 6 fotografias. A maioria dos trabalhos é de sua produção mais recente, pautada por uma geometria organizada, mas que tem uma fluidez propositalmente temperada pelo acaso, pelo inesperado. A junção desses dois parâmetros – o previsível e o programado – é um dos fatores que encantam na sua arte, conquistando o público e a crítica.

Artista do mundo, Daniel Fiengold tem obras em diversas coleções do Brasil e exterior. Seus trabalhos já passaram por vários museus, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Museu do Vale e pela respeitada Galeria Neuhoff, em Nova Iorque. Por diversas vezes, teve obras adquiridas pela Coleção Gilberto Chateaubriand. Também integrou a coletiva “Escape From New York”, com curadoria de Mat Deleget, realizada em Sidney e Melbourne, Austrália, e em Wellington, Nova Zelândia. Com suas séries fotográficas abstratas, trabalhou na Europa e Estados Unidos.

Posted by Patricia Canetti at 10:27 AM

agosto 9, 2018

Mostra Bug no Oi Futuro, Rio de Janeiro

Exposição e conferência internacional apresentam formas inéditas de contar, provocar e viver histórias em novas plataformas

Uma imersão no universo das novas narrativas digitais, ainda pouco conhecidas e experimentadas no Brasil, é o eixo da Mostra BUG, que o Centro Cultural Oi Futuro abre 13 de agosto (segunda-feira), às 19h, e vai até 9 de setembro. Com curadoria dos pesquisadores e realizadores André Paz, Julia Salles e Arnau Grifeu, a Mostra BUG combina exposição, conferência internacional e oficinas. O evento apresenta formas inéditas de contar, provocar e viver histórias em novas plataformas. São poéticas alternativas e promessas de novos gêneros e linguagens.

As narrativas interativas e imersivas tomam formatos de webdocumentário, documentário interativo, vídeo 360, animação em realidade virtual, narrativa em realidade aumentada, realidade virtual, mapa de som, instalação transmídia [estação interativa + celular], em website, celular, tablet, computador com ou sem óculos 3D [realidade virtual]. “Bug é um erro de programação, algo inesperado, estranho a um sistema. A mostra BUG traz obras assim, instigantes e incomuns no universo programado que encontramos na internet”, explica o curador André Paz, professor da UniRio e diretor de webdocumentários.

A Mostra BUG tem cerca de 50 conteúdos, entre obras imersivas e interativas, duas projeções interativas e uma instalação imersiva. O conjunto é uma referência dos principais polos criativos internacionais e da produção promissora do cenário brasileiro, com foco em não ficção e em uma abordagem antropológica dos conteúdos dos conteúdos apresentados, entre eles, um inventário dos sons dos sinos de cidades históricas de Minas Gerais, uma viagem à Amazônia do ponto de vista de um índio com dublagem de Marcos Palmeira e uma viagem à África , a partir da relação entre uma comunidade e os elefantes que vivem ao seu redor.

Também fazem parte da Mostra BUG a sobrecarga sensorial de uma autista de 15 anos na festa de aniversário da mãe; o depoimento de uma jovem sobre sua participação em uma gangue na Guatemala; e a apresentação de um programa voltado para o público infantojuvenil, em que se cria o desenrolar de histórias preexistentes.

“A inovação aqui vai muito além da dimensão tecnológica. Requer o diálogo entre arte, ciência e sociedade. Exige a cooperação entre artistas, filmmakers, programadores, designers, tecnólogos e ativistas”, contextualiza Paz.

Paralelamente à Mostra BUG, será realizado o BUGLAB, com palestras, debates e oficinas de discussão sobre as novas narrativas com o uso da tecnologia, entre os dias 22 de agosto e 8 de setembro. Participam professores, pesquisadores e realizadores atuantes em universidades brasileiras e de Nova York, Massachussets, Montreal, Londres, Barcelona, Medellin e Valparaíso.

Curadoria

Coordenador do Bug404, o brasileiro André Paz é professor de Engenharia de Produção com ênfase em Produção Cultural da UniRio, com pós-doutorado em narrativas interativas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor criativo de narrativas interativas. Julia Salles é professora do departamento de comunicação da Université de Montréal e doutoranda na Université du Québec à Montréal. Realiza pesquisa-criação na área de mídias interativas e imersivas. É membro do comitê de pré-seleção do Festival International du Court Métrage à Clermont-Ferrand. Também integra o Milieux Institute for Arts, Culture and Technology e o Hexagram (Concordia University), no Canadá, e o Bug404 (UniRio), no Brasil, e o catalão Arnau Grifeu é produtor e consultor de narrativas transmídia e interativas, especialmente documentários interativos. Coordenador do interDocsBarcelona (Medellín e Valparaíso), Grifeu é também pesquisador associado ao Open Documentary Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

A MOSTRA BUG é uma iniciativa do BUG404 [bug404.net], criado em 2015, como uma rede de pesquisadores e criadores em plataforma digital para apoiar o âmbito transformador das narrativas interativas e imersivas no Brasil, através de ações para o desenvolvimento de projetos e a consolidação de parcerias entre críticos, criadores, produtores e apoiadores.

Posted by Patricia Canetti at 2:42 PM

agosto 8, 2018

12a Edição de Ateliê Aberto no Pivô, São Paulo

No dia 11 de agosto, o Pivô realiza sua décima segunda edição do Ateliê Aberto, dentro do programa de residência artística Pivô Pesquisa.

Nessa ocasião, o público é convidado a entrar em contato com o processo dos artistas em residência, que apresentam trabalhos em andamento, testam possibilidades de exposição ou produzem conteúdos específicos para o evento, como conversas ou performances. Com formações e investigações diversas, tanto dos artistas brasileiros quanto estrangeiros, essa é uma oportunidade de experimentação de suportes, de entendimento do uso dos espaços, e a chance de experienciar possibilidades de diálogos.

Para o Pivô Pesquisa esse é um momento importante de ativação do espaço e de interlocução entre artistas, agentes culturais e o público. Os artistas que participarão desta edição são Andrés Pasinovich, asma (Hanya Beliá & Matias Armendaris), Carolina Caliento, Erica Ferrari, Gabriella Garcia, Giulia Puntel, Janina McQuoid, João GG, Lyz Parayzo, Martin Lanezan, Paul Setúbal, Oskar Schimidt, Rodrigo Hernández e Thomaz Rosa.

No mesmo dia do Ateliê Aberto, ocorrerá o lançamento do catálogo da exposição imannam com uma conversa aberta entre as artistas Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino, Laura Lima, a curadora da mostra Tânia Rivera e Camila Bechelany, editora do projeto.

Bechelany entrevistou as artistas e organizou uma seleção de imagens e textos que mostram para o público desde a elaboração da mostra - em um ensaio fotográfico em que a fotógrafa Helena Wolfenson acompanhou as artistas no processo de montagem da exposição - até a interação entre as obras finalizadas e o espaço singular do Pivô - nos registros feitos por Everton Ballardin.

Além do texto da curadora Tânia Rivera, as poetas Angélica de Freitas e Sofia Mariutti foram convidadas a contribuir com seu olhar singular sobre a exposição, e apresentam interpretações poéticas e narrativas inéditas da exposição. A publicação foi inteiramente viabilizada com o apoio da Vicunha Têxtil.

Pivô Pesquisa é o programa de residência da instituição. Focado principalmente na prática de ateliê e acompanhamento de projetos, o programa tem como objetivo criar um ambiente de experimentação em que o tempo da criação individual é respeitado ao mesmo tempo em que se abre para interlocuções frequentes. O programa apoia uma cena artística emergente em São Paulo por meio de intercâmbios nacionais e internacionais, e busca aproximar do público os processos de criação contemporânea, convidando os visitantes a acompanharem um projeto artístico desde da concepção até o seu período visível.

Posted by Patricia Canetti at 10:10 AM

Marcone Moreira na Casa das Onze Janelas, Belém

Após oito anos sem expor em Belém, o artista Marcone Moreira apresenta no próximo sábado (11), a partir das 11h, na Casa das Onze Janelas, a exposição Exaustos, fruto de mais um empreendimento particular da observação da realidade da Amazônia com a reunião de elementos típicos da cultura e da economia regional. Desta vez, ele apresenta artefatos de comunidades extrativistas de castanha-do-Pará e de coco babaçu, a partir de projeto contemplado pela Fundação Cultural do Pará (FCP). A entrada é gratuita.

De volta à região sudeste do Pará - em que ele viveu e cresceu -, Marcone foi em busca das quebradeiras de coco em municípios como São Domingos do Araguaia, São Geraldo, São João e Marabá. Para a mostra, recolheu, numa espécie de extrativismo artístico, os porretes usados para quebrar o coco babaçu, que já estão marcados pelo tempo e pela atividade que é o sustento financeiro de muitas famílias. Eles serão apresentados em instalações, pequenas esculturas das castanhas e desenhos feitos em grafite sobre papel.

Já na capital paraense, onde há muito tempo ele não residia, depois de ter passado por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Portugal, voltou-se ao símbolo máximo da cidade, o turístico Ver-o-Peso, onde estão os descascadores de castanha-do-Pará. Lá encontrou um material de madeira esculpido com o tempo e com a força da labuta, que revela curvas sinuosas entalhadas diariamente. Assim, o artista reuniu esse material de forma a comparar esse movimento, quase ondular, e perceber semelhanças e regularidades do entalhe.

“O meu interesse está no artefatos rudimentares dos trabalhos extrativistas, desgastados pelo uso exaustivo, a exemplo de porretes, machados e cepos, que têm baixo ou nenhum valor comercial, mas possuem valor significativo para o meu trabalho. A partir da aproximação com as comunidades, iniciei um diálogo e negociação para conseguir esses materiais. Foram os contextos humano e social desses aparatos simples e significativos, que representam o desempenho de um labor secular, que despertei uma recente atenção”, explica o artista.

Essa é uma forma já usual de trabalho feita por Marcone: a aproximação com trabalhadores populares e a abertura de um diálogo para conseguir suas matérias-primas de exposições, o que acaba se constituindo em uma rede de trocas. Com os materiais coletados, ele fez estudos e experimentações no prédio da Associação Fotoativa, como processo de pesquisa de sua mais nova mostra.

Movimento econômico e migração

Historicamente importante para o ciclo econômico do norte do Brasil e do estado do Pará, chegando a representar cerca de 70% das exportações na década de 1950 (somente Marabá respondia por mais de 60% deste total), a extração tradicional de castanha-do-Pará tem decrescido na região, fruto de um conjunto rápido de transformações políticas, sociais e ambientais ocorridas no sul do Pará.

A abertura das rodovias na região e os projetos agrícolas federais, entre outros, fizeram decrescer a significância econômica dos castanhais, sendo que as suas áreas devastadas deram lugar a novas atividades tais como a pecuária, a exploração de ouro e mineração. Esta “modernização” econômica da região atraiu uma parcela importante de imigrantes, majoritariamente do estado do Maranhão, e deste movimento resultaram importantes alterações na cultura agrícola e extrativista do Pará. Estes conjuntos populacionais levaram seus hábitos e costumes, entre eles a extração do babaçu.

Marcone também se posiciona de forma política, como mostram outras produções de sua autoria, em relação às comunidades as quais pesquisa. “No início da cadeia produtiva são atividades ligadas à miséria. E hoje estas matérias-primas possuem um elevado valor de mercado para a indústria farmacêutica e cosmética, alimentando segmentos de luxo e bem-estar. É ‘paradoxal’ a persistência de procedimentos rudimentares na realização do trabalho e na desvalorização social desta atividade”, analisa o artista.

Outrora uma região de castanhal, hoje a região do Araguaia possui várias comunidades que mantêm a extração do babaçu como relevante fonte de renda, organizadas em cooperativas como o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).

“O meu interesse pelas atividades de extração da castanha-do-pará e babaçu advém do fato destas serem testemunhos da transformação social e econômica do Norte do Brasil, ‘símbolos’ do trabalho duro e da resistência de milhares de pessoas em várias gerações. A minha história familiar cruza-se nestas raízes, tendo me transferido do Maranhão com a minha família para o Pará na década de 1990”, comenta o artista.

Posted by Patricia Canetti at 9:43 AM

Rodrigo Cass no Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, São Paulo

A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar duas exposições individuais simultâneas no Galpão (Barra Funda): Um cão com uma cauda notável do duo português João Maria Gusmão & Pedro Paiva e Espiritual-Vivente-Respira do artista brasileiro Rodrigo Cass. A abertura acontece em 11 de agosto das 14h às 17h e as exposições seguem em cartaz até 21 de dezembro.

Em sua nova exposição no Galpão, Rodrigo Cass exibe um vídeo e uma série de pinturas que relacionam seu interesse por questões filosóficas e pela história da arte – em especial, o legado do Neo Concretismo – à sua própria espiritualidade. Aqui, o concreto é a síntese do seu pensamento artístico: um elemento espiritual, vivente, e que respira*.

Para o artista, “a respiração está no fundo de toda experiência, não é uma substância, mas tem ritmo, é insistente e incansável. (...) Tudo o que vive respira. E o respirar é ação do espírito.” Sua obra busca promover, portanto, momentos de pausa e silêncio através de áreas vazias, explicitadas pelo uso da cor. Assim acontece em seus novos trabalhos com concreto, têmpera e linho. São pinturas dupla-face que parecem flutuar no espaço, penduradas nas paredes por apenas um de seus lados – uma solução formal que os aproxima dos Objetos Ativos de Willys de Castro. A superfície monocromática desses trabalhos é interrompida por vários traços de concreto branco, meticulosamente aplicados para criar margens ou intervalos.

De maneira semelhante, o vídeo Homem de Amor Espiritual contém uma série de sete ações curtas e independentes que, quando intercaladas, criam um corpo único. Cada uma dessas cenas apresenta o artista interagindo com elementos simbólicos. Em uma delas, o artista derrama leite sobre um cabide; o líquido escorre aos poucos pelo objeto até preencher uma superfície negra, tingindo-a de branco. Em outra ação, o quadro é tomado por uma cor sólida (ora vermelho, ora azul); o braço do artista retira a superfície para revelar uma mata fechada, com um verde intenso.

Rodrigo Cass nasceu em São Paulo, em 1983, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais incluem: Até o Concreto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); Espaço Liberto, Galerie MDM (Paris, 2015); 5#5: Rodrigo Cass, Meyer Riegger (Carlsrue, Alemanha, 2015), Material Manifesto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (São Paulo, 2013). Entre suas coletivas, destaque para: Building Material: Process and Form in Brazilian Art, Hauser & Wirth (Los Angeles, 2017); 10ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2015); Imagine Brazil – mostra itinerante que passou por Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013), Musée d’art contemporain de Lyon (Lyon, 2014), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015); e DHC/ART (Montreal, 2015) –; Bolsa Pampulha, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2011).

(*O artista cita aí uma fala de Lina Bo Bardi, retirada de uma entrevista em vídeo, na qual ela diz: ”Vejo o concreto como uma criatura viva, como um ser vivo. Ele respira.”)

Posted by Patricia Canetti at 9:05 AM

João Maria Gusmão & Pedro Paiva no Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, São Paulo

A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar duas exposições individuais simultâneas no Galpão (Barra Funda): Um cão com uma cauda notável do duo português João Maria Gusmão & Pedro Paiva e Espiritual-Vivente-Respira do artista brasileiro Rodrigo Cass. A abertura acontece em 11 de agosto das 14h às 17h e as exposições seguem em cartaz até 21 de dezembro.

Um cão com uma cauda notável, um truque de circo indescritível com seres microscópios do espaço, um arco-íris, um calçado muito desconfortável mas eterno, os últimos dias de uma pulga minúscula num mundo fictício, uma melancia bidimensional que se parece com a lua de lado, a fonte da juventude, um pôr-do-sol perpétuo seguido pelo cair da noite, um elefante de 20 centímetros, uma limonada que sabe a laranja, um comboio a vapor fantasma que segue para norte e para sul ao mesmo tempo, um planeta feito de queijo, neve a cair na Antártida enquanto toda a gente dorme, um dromedário bastante grande a tomar banho numa banheira consideravelmente pequena, um ecrã pousado durante muito tempo numa pedra arredondada, um quadro suprematista que Kazimir Malevich nunca terá conseguido fazer, etc e tal…

As obras João Maria Gusmão & Pedro Paiva examinam nossa relação com a realidade para subvertê-la com precisão analítica, sensibilidade e humor. Fazendo inúmeras referências à literatura e à filosofia, a dupla emprega uma abordagem científica que confere uma aura enigmática, quase mística, às coisas triviais. Cada trabalho de sua nova exposição em São Paulo – divididos entre um grupo de esculturas em bronze e uma grande instalação com micro-filmes – revelam pequenas ficções poético-filosóficas sobre as coisas do mundo.

A instalação é composta por seis projetores alterados com um elaborado sistema de filtros e mecanismos em sincronia. Trata-se de um novo passo dos experimentos visuais da dupla, situado entre a camera obscura e o proto-cinema. Nesses trabalhos, padrões simples e coloridos formam imagens cinéticas: uma torneira abrindo e fechando, a neve caindo, a silhueta de um camelo passando na frente das pirâmides. Episódios banais ganham uma carga de fantasia.

As esculturas traduzem o aspecto lúdico dos micro-filmes na superfície do bronze patinado – presente tanto na materialidade das peças quanto nas cenas em si. Flertando sempre com o absurdo, os artistas dão peso homogêneo a elementos díspares como filosofia, arquitetura, objetos ou animais. Todos estão sujeitos a mudanças semânticas através de associações inusitadas: uma forma ovoide sobre um plano é um Dromedário debaixo de água, enquanto um relevo quadrado com formas circulares é Canto de queijo, por exemplo. Por vezes surrealistas e quase sempre jocosas, essas narrativas estapafúrdias de Gusmão & Paiva oferecem um olhar fascinante para as coisas que nos cercam.

João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro Paiva (Lisboa, 1977) colaboram desde 2001 criando filmes, esculturas, fotografias, instalações e publicações. Suas individuais recentes incluem: Lua Cão (com Alexandre Estrela), Kunstverein München (Munique, 2018); The Sleeping Eskimo, Aargauer Kunsthaus (Aarau, Suíça, 2016); Papagaio, mostra itinerante que passou por Hangar Bicocca (Milão, 2014), Camden Arts Center (Londres, 2015) e KW Institute for Contemporary Art (Berlim, 2015); The Missing Hippopotamus, Kölnischer Kunstverein (Colônia, 2015). Dentre as coletivas, destacam-se as participações nas Bienais de Veneza (2013, 2009), de Gwangju (Coreia do Sul, 2010) e de São Paulo (2006).

Posted by Patricia Canetti at 9:03 AM

agosto 7, 2018

Sonia Gomes no MAC, Niterói

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) abre duas novas exposições, no dia 11 de agosto, sábado, às 14h. São elas: A vida renasce, sempre, primeira individual em um museu da artista brasileira Sonia Gomes; e Brinquedo de furar moletom, de Jaime Lauriano, onde o artista utiliza ferro das balas usadas pela polícia militar do Rio de Janeiro para fazer as suas miniaturas. A curadoria é de Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca.

“A Vida renasce, sempre” – a mostra, que ocupará o Salão Principal do museu, vai apresentar ao público cerca de 40 trabalhos, realizados nos últimos 20 anos por Sonia Gomes – indicada ao Prêmio pipa em 2012 e 2016. Desenhos sobre papel, tecido e madeira, intervenções em livros, objetos domésticos e de trabalho, assim como exemplos das diferentes séries de trabalho que a artista desenvolveu ao longo da sua carreira, como os panos, torções e pendentes estarão entre as obras selecionadas para a exposição no MAC Niterói. Suas esculturas são construídas a partir de tecidos e outros objetos encontrados, torcidos, amarrados e manipulados até se transformarem em tramas espaciais complexas. Tem como procedimento a desconstrução das técnicas de manufatura de tecidos, eliminando qualquer finalidade de uso desses materiais. Suas obras remetem, pelas cores, estamparias e até técnicas empregadas, a um universo íntimo ligado à memória familiar e à identidade racial e cultural da artista, além de estarem relacionadas à sua cidade natal, Caetanópolis, importante centro mineiro de indústria têxtil. Entre o popular e o erudito, o mundo da artista mineira liga o espectador a uma poderosa tradição brasileira, que transforma materiais instáveis e difíceis em arte permanente e contemporânea na trama extremamente inventiva de suas colagens e construções. Única brasileira na mostra principal da 56ª Bienal de Veneza, em 2015, Sonia Gomes expôs pela primeira vez aos 46 anos. Depois, não parou mais. Aos 70 anos, trabalha todos os dias. Uma grande oportunidade de o público conhecer o trabalho desta grande artista, que através do tecido e de sua obra, também escreve, estrutura, dá forma e reivindica as vozes e presenças das minorias silenciadas, em especial àquela das mulheres negras no Brasil.

Sonia Gomes (Caetanópolis, 1948), vive e trabalha em São Paulo. Seus trabalhos também foram inclusos em mostras coletivas institucionais como 56ª Biennale di Venezia, Veneza, Italia (2015); Entangled, Turner Contemporary, Margate, RU (2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts, Washington, EUA (2017); Art & Textiles – Fabric as Material and Concept in Modern Art, Kunstmuseum Wolfsburg, Alemanha (2013); Out of Fashion. Textile in International Contemporary Art, Kunsten – Museum of Modern Art Aalborg, Dinamarca (2013). Orfã aos 4 anos da mãe e negra, o afeto está presente na arte dela - seja através de um objeto usado que ganha um novo significado, seja por meio de caixas de 'coisas' descartáveis que deixam no ateliê da artista. Foi professora de escola primária e se formou em direito. Em 1980, mudou-se para Belo Horizonte. Tendo um talento intuitivo para desenhar e tecer, em 1995, aos 47 anos, começou a cursar arte na escola Guignard onde foi estimulada a desenvolver uma narrativa própria. Nove anos depois, aos 56 anos, teve sua primeira exposição individual em uma galeria de arte. Em 2017, muda-se para São Paulo onde atualmente vive e trabalha. Apesar de entrar no mundo da arte já adulta, Sonia Gomes alcançou reconhecimento por desenvolver uma linguagem artística única no Brasil, que dialoga com a arte popular e a arte contemporânea a partir da construção de obras orgânicas feitas com restos de tecidos costurados, amarrados e trançados para dar vida e transformar-se em seu próprio trabalho. Neste sentido, o trabalho da artista apresenta novas possibilidades de vida a partir das sobras o daquilo que era considerado inútil. Após a primeira exposição em 1994, a artista cursou livremente disciplinas na Escola Guignard, UEMG e na UFMG e participa ativamente, desde então, de mostras solo e coletivas como as do Sesc Belenzinho em São Paulo e a X Bienal Nacional de Santos. Teve três obras compradas pelo baixista da banda irlandesa U2, Andy Clayton, que se encantou com o trabalho da artista.

Posted by Patricia Canetti at 9:11 AM

Jaime Lauriano no MAC, Niterói

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) abre duas novas exposições, no dia 11 de agosto, sábado, às 14h. São elas: A vida renasce, sempre, primeira individual em um museu da artista brasileira Sonia Gomes; e Brinquedo de furar moletom, de Jaime Lauriano, onde o artista utiliza ferro das balas usadas pela polícia militar do Rio de Janeiro para fazer as suas miniaturas. A curadoria é de Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca.

“Brinquedo de furar moletom” – a mostra pensa - assim como as exposições anteriores desenvolvidas na varanda do MAC Niterói - no lugar preciso que o museu ocupa: sua vista privilegiada para a Baía de Guanabara. Tendo em mente suas pesquisas sobre mapas coloniais e sobre a história da violência no Brasil, o artista Jaime Lauriano propõe, por meio de tijolos portugueses, uma espécie de barricada/torre de observação da paisagem. Acima desse longo muro que ocupa três galerias do espaço, miniaturas de transportes relacionados ao militarismo, à defesa e à violência. Três caravelas, um tanque de guerra, um avião de guerra e 27 miniaturas de carros da polícia militar pousam sobre os tijolos como se estivesse a defender o espaço interno do museu. As miniaturas desses carros representam as vinte e sete capitais do Brasil e tiveram seus modelos extraídos de modelos de automóveis comumente utilizados pela instituição: o caveirão (Rio de Janeiro), a base móvel da Polícia Militar de São Paulo e quatro modelos populares (Palio, Gol, Fiat Uno e pick-up). As miniaturas são feitas do ferro das balas usadas pela polícia militar do Rio de Janeiro. O título da exposição foi retirado da música ‘Vida loka parte 1’, do célebre grupo paulistano de rap Racionais MCs. Do álbum ‘Nada como um dia após o outro dia’, de 2002, se trata de um verso que joga justamente com um dos elementos essenciais da proposta de Lauriano: os limites entre violência e infância, entre miniaturas de brinquedos e munição militar. Onde começa um e termina o outro? E, mais do que isso, como essa frase e as imagens criadas pelo artista, através de sua abertura de significados, serão lidas pelo público?

Jaime Lauriano (São Paulo, 1985) vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, no ano de 2010. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: Assentamento, Galeria Lema, São Paulo, Brasil, 2017; Nessa terra, em se plantando, tudo dá, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, 2015; Autorretrato em Branco sobre Preto, Galeria leme, São Paulo, Brasil, 2015; Impedimento, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil, 2014; e as coletivas: Histórias Afro-Atlânticas, MASP e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2018; Agora somos todxs negrxs?, Associação Cultural Videobrasil, São Paulo, Brasil, 2017; Levantes, SESC Pinheiros, São Paulo, Brasil, 2017; Totemonumento, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2016; 10TH Bamako Encouters, Museu Nacional, Bamako, Mali, 2015; Empresa Colonial, Caixa Cultural, São Paulo, Brasil, 2015; Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil, 2014; Taipa-Tapume, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2014; Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio, Funarte, São Paulo, Brasil, 2013; possui trabalhos nas coleções públicas da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e do MAR - Museu de Arte do Rio. Com trabalhos marcados por um exercício de síntese entre o conteúdo de suas pesquisas e estratégias de formalização, Jaime Lauriano nos convoca a examinar as estruturas de poder contidas na produção da História. Em peças audiovisuais, objetos e textos críticos, Lauriano evidencia como as violentas relações mantidas entre instituições de poder e controle do Estado – como polícias, presídios, embaixadas, fronteiras – e sujeitos moldam os processos de subjetivação da sociedade. Assim, sua produção busca trazer à superfície traumas históricos relegados ao passado, aos arquivos confinados, em uma proposta de revisão e reelaboração coletiva da História.

Posted by Patricia Canetti at 9:07 AM

agosto 6, 2018

Rodrigo Sassi no CCBB, São Paulo

O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo realiza a mostra Esquinas que me atravessam, com cerca de 20 obras inéditas de Rodrigo Sassi, produzidas entre 2016 e 2018. O conjunto reunido no subsolo do prédio, antigo cofre da então instituição financeira, reafirma referências plásticas e conceituais da obra do artista formuladas nos territórios da cidade e da arquitetura. A partir de elementos usados e descartados da construção civil, Sassi cria seu particular vocabulário formal e poético. “Eu me aproprio de elementos usados na construção da cidade e os resignifico, construindo figuras do meu imaginário, dando uma espécie de sobrevida a esse material que já vem cheio de significados e marcas”, explica.

Esquinas que me atravessam, com curadoria de Mario Gioia, abriga uma grande instalação central (Corpo Acomodado, 2018), em madeira e concreto, construída a partir dos moldes das fôrmas de concreto armado. No percurso circular proposto pelo próprio espaço expositivo estão as esculturas de parede em menores dimensões, produzidas em madeira, concreto e metal (séries Walk the line e Cestas, e as obras Qualquer dia da semana é primavera, Ser reativo e Spyro Gyro); além de uma série de cinco xilogravuras sobre papel, feita a partir de matrizes igualmente originárias dos vestígios de edificações urbanas.

“O sentido do público numa direção circular reforça o caráter fenomenológico proposto por Sassi ao dispor trabalhos de diferentes linguagens por entre o espaço. Terminada uma visita, o (ex) observador conseguirá perceber alguns elementos fulcrais da obra: a relação com o espaço, os diálogos com a arquitetura de eixos confinados de grandes cidades, a linha-grafia anteriormente pensada como projeto (em desenho) e concretamente transformada em outro produto, numa zona cinzenta e opaca entre meios (o tridimensional situado em algo de difícil determinação que perpassa a instalação, o objeto e a escultura)”, explica o curador.

Segundo Gioia, Esquinas que me atravessam sedimenta outras pesquisas de Sassi, após períodos de residência artística na França e nos EUA. “Trabalhos que tivessem tanto a luz quanto a sombra como elementos compositivos refletem uma nova preocupação nas obras pensadas para a exposição”, conta o artista. “A série de esculturas de parede Walk the line surge das caminhadas de Sassi no interior do Estado de Nova York, margeando as linhas férreas e, de lá, extraindo a matéria-prima do que se tornaria a série de pequenas peças”, completa o curador. Já na série Cestas, o artista parece trabalhar a dureza do metal como um artesanato, assim como a grande escultura de parede Qualquer dia da semana é primavera, em metal e madeira, apresentada ainda com características experimentais que tateiam um território ainda novo para o artista.

Rodrigo Sassi (1981, Brasil) Vive e trabalha em São Paulo. Graduado em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP (2006), Rodrigo participou de diversas residências artísticas, entre elas Cité Internacionale des Arts de Paris (2014/2015) na França e Sculpture Space nos Estados Unidos (2016). Realizou exposições individuais em galerias e instituições, tanto no Brasil como no exterior, dentre elas “Mesmo com dias maiores que o normal”, no Centro Cultural São Paulo, em 2017; “Structuring to Foster”, no Centro Brasileiro Britânico, e “Prática comum segundo nosso jardim”, na Caixa Cultural Brasília, ambas em 2016; “Las pequeñas distracciones que te llevan al desvío”, na galeria Arredondo \ Arozarena, na Cidade do México, em 2015; “Tudo aquilo que eu lhe disse antes mas nem eu sabia”, na Red Bull Station e “In Between”, que itinerou da Nosco Gallery em Londres para a MDM Gallery em Paris.

Seu trabalho foi apresentado em exposições coletivas incluindo: The humble black line na Frameless Gallery em Londres em 2018, 6º Prêmio Marcantonio Vilaça no Mube em São Paulo e “La Republique de la Rue” na Nosco Gallery em Marseille na França, ambas em 2017. Em 2016, “Atlas Abstrato” no Centro Cultural São Paulo e Festival Víedo Brasil, realizado no SESC Pompéia em São Paulo no ano de 2013. Recebeu prêmios como “Ocupação Fábrica São Pedro”, pela Fundação Marcos Amaro, em 2018; Proac – Artes Visuais – Obras e Exposições, em 2016; Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural Brasília, em 2015; Prêmio Espaço Galeria SESI e Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, em 2013.

Mario Gioia - Curador independente, graduado pela ECA-USP. Integrante do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011. Crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Curadoria de *Ter lugar para ser*, coletiva em 2015 no CCSP com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Colaborador de periódicos de artes como *Select* e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da *Folha de S.Paulo *de 2005 a 2009. De 2011 a 2016 coordenou o projeto *Zip'Up*, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas. Na feira ArtLima 2017 (Peru) curou a seção especial CAP Brasil, intitulada *Sul-Sur*, e fez o texto crítico de *Territórios Forjados** (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia).

Posted by Patricia Canetti at 6:58 PM

Lucas Simões na Triângulo, São Paulo

Lucas Simões une escultura e poesia em sua primeira exposição na Casa Triângulo

A Casa Triângulo tem o prazer de apresentar, a partir de 11 de agosto, a exposição Ressaca, primeira exposição individual do artista paulistano Lucas Simões na Galeria. Ele apresenta dois grupos de trabalhos esculturais inéditos, que entrelaçam matéria, espacialidade, poesia e sentidos.

Uma grande instalação composta por 52 painéis metálicos articulados entre si convida os visitantes a reconfigurarem o espaço da galeria, gerando novos percursos e espacialidades diversas. Os 65 metros de comprimento deste trabalho equivalem a extensão da divisa do terreno da Casa Triângulo com o espaço público.

Paralelamente à instalação, Simões apresenta uma nova série de esculturas intitulada “you text nothing like you look”. Cada escultura é um diálogo entre matéria e poesia – versos em suas línguas originais inspiram a produção das esculturas que, quando finalizadas, apontam para outro verso em outra língua. Esse conjunto escultura e poema se resignificam, se abrindo para novas interpretações e sentidos.

Lucas Simões (1980, Catanduva, Brasil) realizou exposições individuais no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife, Brasil), na Caixa Cultural (São Paulo e Rio de Janeiro, Brasil) e no Pivô Arte e Pesquisa (São Paulo, Brasil). Também participou de mostras na 10ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, Brasil), Zacheta National Gallery (Varsóvia, Polônia), Astrup Fearnkey Musset (Oslo, Noruega), Itocho Ayoama Art Square (Tóquio, Japão), no Museu Brasileiro da Escultura (São Paulo, Brasil) e no Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, Brasil). Suas obras fazem parte das coleções públicas Itaú Cultural (São Paulo, Brasil), Museu de Arte do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Brasil) e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil).

Posted by Patricia Canetti at 2:42 PM

agosto 3, 2018

Walmor Corrêa no Ling, Porto Alegre

De 7 de agosto a 1º de novembro de 2018, o Instituto Ling apresenta a exposição Walmor Corrêa e Sporophila Beltoni, do artista catarinense radicado em São Paulo, Walmor Corrêa. Com curadoria de Paulo Myada, a exposição traz 17 obras - entre pinturas, desenhos, fotografias, mapas, vídeo e outros objetos - que tratam de explorar artisticamente o reconhecimento e a identidade de uma espécie de pássaro brasileiro que só recentemente foi catalogada: a Sporophila beltoni, conhecida popularmente como patativa-tropeira.

Por ocasião da abertura da exposição, na terça-feira, 7 de agosto, às 19h, o artista e o curador farão uma conversa aberta com o público. A entrada é franca, por ordem de chegada.

Duas obras que estarão na exposição são inéditas: um vídeo - em que o artista explica o projeto (acesse aqui: https://vimeo.com/280806802/03504cdeea) e uma pintura, intitulada Paisagem Distorcida - em que o artista retrata uma paisagem sob o ponto de vista da própria patativa-tropeira.

Fascinado por ornitologia - o estudo das aves, em 2014 Walmor foi convidado a apresentar um projeto de pesquisa para uma residência financiada pelo Instituto Smithsonian, nos EUA. A residência possibilitou que o artista investigasse os arquivos do Museu de História Natural de Washington. A intenção era realizar um projeto que percorresse o caminho inverso da vida de uma das principais referências no estudo ornitológico brasileiro, William Belton (1914-2009), responsável por registrar milhares de pássaros brasileiros que, até então, eram desconhecidos. Na insistência de abrir arquivos, Walmor encontrou uma ave empalhada em 1820, uma Sporophila brasileira, perdida no fundo de uma gaveta, junto a outros espécimes latino-americanos. Era uma Sporophila beltoni, assim batizada em homenagem ao ornitólogo que Walmor tanto admira.

"Daí em diante, o trabalho de Walmor Corrêa concentrou-se em buscar maneiras de forjar reconhecimento e identidade para esse ser que vivia anônimo e foi morto para fazer parte do saber científico, que, então, o abandonou indigente e sozinho", afirma Paulo Myada em seu texto curatorial. "Certidão de nascimento, carteira de identidade e passaporte são alguns dos papéis que o artista aprendeu a solicitar e produzir a fim de dar fé da existência do pássaro. Como um conjunto, a exposição atesta a empatia possível do artista com o pássaro e deles conosco, que descobrimos, de um só fôlego, ter sido encontrado algo que não sabíamos estar perdido", completa o curador.

Um dos artistas contemporâneos mais reconhecidos no Brasil e no exterior, Walmor Corrêa (1962) tem grande interesse por anatomia e História Natural desde a infância, quando se apaixonou por dissecações e desenhos de Leonardo Da Vinci. Já estudou taxidermia e fisiologia para criar animais fantásticos e híbridos que, à primeira vista, poderiam ser reais. Dessa forma, suas criações provocam uma reflexão sobre os limites entre o real e o imaginário, a arte e a ciência, trazendo novas perspectivas sobre o olhar dos primeiros viajantes da época colonial e pesquisadores da história natural brasileira, além de estudos minuciosos da anatomia de seres imaginários do folclore.

Posted by Patricia Canetti at 11:22 AM

O Outro Trans-Atlântico no Sesc Pinheiros, São Paulo

Proveniente do Museu de Arte Moderna de Varsóvia, a mostra joga luz sobre a produção das duas correntes artísticas para além do Atlântico Norte

A revisão, como exercício permanente para expansão de narrativas que constroem a história da arte, fundamenta a pesquisa desta exposição que o Sesc traz a São Paulo. O Outro Trans-Atlântico: Arte Ótica e Cinética no Leste Europeu e na América Latina entre os anos 50 e 70 reúne cerca de 100 obras, de mais de 30 artistas e coletivos do período do pós-guerra, oriundos do Leste Europeu e América Latina, que compartilharam o mesmo entusiasmo por Arte Cinética e Op Art.

Idealizada pelo Museu de Arte Moderna de Varsóvia (Polônia) e realizada pelo Sesc em São Paulo, com parceria do Instituto Adam Mickiewicz e da Casa Sanguszko, a exposição tem curadoria da polonesa Marta Dziewańska, pesquisadora e curadora do Museu de Arte Moderna de Varsóvia, em conjunto com Dieter Roelstraete e Abigail Winograd.

A exposição foi organizada pelo museu polonês em 2017 e, em 2018, esteve em cartaz no Garage Museum of Contemporary, em Moscou (Rússia). Agora, O Outro Trans-Atlântico traz ao público brasileiro obras originalmente exibidas em Varsóvia e Moscou, acrescida de trabalhos latino-americanos, em especial de brasileiros. O conjunto é apresentado, segundo a curadora, em uma narrativa que reflete fatos comuns entre seus interesses e intuição criativa.

Boa parte dos registros de História da Arte entre os anos 1950 e 1970 refletem a produção desenvolvida nos principais centros do Atlântico Norte, em cidades como Nova York, Paris e Londres. “Coloca-se, então, a necessidade de olharmos para outras porções do globo – inclusive para a nossa”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

Miranda complementa: “Para a ação sociocultural do Sesc São Paulo, esta é uma oportunidade ímpar de contribuir para o adensamento da compreensão da arte brasileira em suas linhas de intercâmbio relativas ao Sul global, vista aqui em perspectiva e em intersecção com seus pares óticos e cinéticos do oriente europeu.

É a isso que se dedica a exposição O Outro Trans-Atlântico”.

“Enquanto o Expressionismo abstrato, a Arte Informal e a Abstração lírica reinavam supremos nos centros de arte estabelecidos de Paris, Londres e Nova York, um capítulo distinto da história da arte estava sendo escrito, ligando os polos de Varsóvia, Budapeste, Zagreb, Bucareste e Moscou com Buenos Aires, Caracas, Rio de Janeiro e São Paulo”, destacam Marta Dziewańska, Dieter Roelstraete e Abigail Winograd.

Segundo Dziewańska, o florescimento da Arte Cinética e da Op Art nessas regiões foi, em grande parte, uma manifestação de fascínio pelo movimento, seus efeitos estéticos e as oportunidades dinâmicas que gerou, criando novas possibilidades para o engajamento do público. “Através de um foco em arte que ultrapassou objetos estáticos e definições claras do papel do artista, o caráter de uma obra de arte e o papel do espectador, a exposição tenta reescrever um capítulo marginalizado da história da arte após a Segunda Guerra Mundial através da uma perspectiva geopolítica diferente”, completa.

Entre os artistas brasileiros estão Helio Oiticica, Abraham Palatnik, Sergio Camargo, Almir Marvignier; Ivan Serpa; Lothar Charoux, Lygia Clark, Sérvulo Esmeraldo, Martha Boto, Mira Schendel e Ubi Bava. Já entre outros latino-americanos estão Julio Le Parc, Carlos Cruz-Diez; Jesus Rafael Soto e Gyula Košice. Por sua vez, no rol dos europeus destacam-se Dvizhenie Group; Wojciech Fangor; Grzegorz Kowalski; Myra Landau; Vjenceslav Richter; Henryk Stażewski;; Jerzy Jarnuszkiewicz; Julije Knifer; Nicolas Schoffer; Vera Molnár; e Victor Vasarely.

Sobre a curadoria

Marta Dziewańska é curadora de pesquisa no Museum of Modern Art in Warsaw e candidata à PhD em Filosofia pela Academia Polonesa de Ciências de Varsóvia. Foi curadora e cocuradora de diversas exposições: Andrzej Wróblewski: Recto/Verso (com Eric de Chassey, no MoMA Warsaw e no Museo Reina Sofia em Madri, 2015/2016), Maria Bartuszova. Provisional Forms (MoMA Warsaw, 2015); Alina Szapocznikow: Sculpture Undone (com Elena Filipovic e Joanna Mytkowska, WIELS Contemporary Art Centre em Bruxelas, 2011; Hammer Museum LA, 2012; Wexner Centre Ohio, 2012; MoMA NY, 2012/2013); Ion Grigorescu in the Body of the Victim. 19692008 (com Kathrin Rhomberg, MoMA Warsaw, 2009); entre outros. Foi editora de Maria Bartuszova: Provisional Forms (2015), Ion Grigorescu. In the Body of the Victim (2010), coeditora, com Eric de Chassey, de Andrzej Wróblewski. Recto/Verso (2015), com Ekaterina Degot e Ilya Budraitskis, de PostPost Soviet? Art, Politics & Society in Russia at the Turn of the Decade (2013) e, com Claire Bishop, de 19681989. Political Upheaval and Artistic Change (2009). Suas publicações apareceram em inúmeros catálogos, assim como revistas de arte.

Abigail Winograd é atualmente uma curadora associada no Frans Hals Museum em Haarlem. Tem PhD em história da arte pela Universidade do Texas em Austin. Abigail foi pesquisadora associada do Museum of Contemporary Art Chicago onde também é curadora associada de Marjorie Susman. Também foi curadora associada no Hirshhorn Museum and Sculpture Garden em Washington, D.C. e Blanton Museum of Art em Austin. Abigail possui outras graduações pela Universidade de Wisconsin-Madison e pela Universidade Northwestern. É a beneficiária de diversas associações, contribuiu em diversos catálogos museológicos, publicou diversos artigos acadêmicos, apresentou ensaios nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul e contribuiu com publicações como Bomb, Frieze, e Art Forum.

Dieter Roelstraete é curador da Neubauer Collegium Gallery, na Universidade de Chicago, onde também é professor. Trabalhou anteriormente na equipe curatorial do documenta 14, organizado em Kassel, na Alemanha, e em Atenas, na Grécia, em 2017. De 2012 à 2015, trabalhou como curador sênior do Museum of Contemporary Art Chicago, no qual, durante seu período de trabalho, organizou e coorganizou as exposições The Way of the Shovel: Art as Archaeology (2015); The Freedom Principle: Experiments in Art and Music 1965 to Now (2015); and Kerry James Marshall: Mastry (2016). De 2003 à 2011, Roelstraete foi curador do Museum van Hedendaagse Kunst Antwerpen, onde organizou exposições de Chantal Akerman, Liam Gillick and Lawrence Weiner e, em 2011, uma mostra de arte contemporânea do Rio de Janeiro. Seus recentes projetos curatoriais incluem exposições na Fondazione Prada em Milão e Veneza, no Museum of Modern Art in Warsaw e no the Garage Museum for Contemporary Art in Moscow. Roelstraete, que se formou como filósofo na Universidade de Gante, publicou extensivamente artigos sobre arte contemporânea e questões filosóficas em inúmeros catálogos e jornais.

Posted by Patricia Canetti at 10:25 AM

agosto 2, 2018

Iole de Freitas na Silvia Cintra + Box4, Rio de Janeiro

Inaugura dia 9 de agosto a nova individual da artista Iole de Freitas na Silvia Cintra - Papel de aço. Serão nove esculturas brancas, de pequeno e médio porte, que irão ocupar o espaço da galeria da mesma forma como ficaram no atelier da artista durante todo o processo de pesquisa, apoiadas apenas em compensados de madeira simples.

A nova série é um desdobramento da exposição “O peso de cada um”, realizada pela artista no MAM do Rio de Janeiro em 2015. Foi aí que Iole deixou as chapas de poliuretano com que vinha trabalhando há anos e se concentrou apenas no aço inox. O desafio da mostra na galeria foi realizar esculturas em uma escala bem menor das mostradas no museu, e propor uma nova relação com elas. Agora a obra não mais se relaciona com o espaço e com a arquitetura e sim com o próprio corpo da obra.

O começo dessa pesquisa foi feito com papéis vulgares, cartolinas, que Iole recortava e dobrava explorando as possibilidades do côncavo e do convexo. O passo seguinte foi transpor esse resultado para o alumínio, que já é um material mais grosso e pesado e posteriormente, já na calandra, reproduzir isso no aço, o material final da obra.

Mas ainda faltava um elemento, a cor, que apareceu da necessidade da artista em trazer luminosidade e transparência para as esculturas. Com inúmeras camadas de pintura branca e lixa, Iole consegue reproduzir nas peças a luz, a sombra e a rugosidade do papel.

Faz parte da mostra ainda um vídeo em que o espectador terá a oportunidade de ver a própria artista falando sobre seu processo criativo.

Posted by Patricia Canetti at 5:32 PM

Transborda Brasília na Caixa Cultural, Brasília

Obras de artistas finalistas selecionados entre 197 inscritos e cerca de 1.000 trabalhos participam de exposição em Brasília. A premiação busca mapear a produção artística do Distrito Federal e das 22 cidades que compõem o Entorno da capital federal

No dia 7 de agosto, terça-feira, às 19h, a Caixa Cultural recebe a abertura da mostra das obras dos 12 artistas visuais selecionadas ao Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea 2018. A exposição fica em cartaz na Galeria Acervo de 8 de agosto a 9 de outubro, com visitação de terça a domingo, das 9h às 21h. A entrada é franca e a classificação indicativa é livre para todos os públicos. A Caixa Cultural Brasília fica no Setor Bancário Sul (SCS) Quadra 4 Lotes 3 / 4.

A mostra do Prêmio apresenta ao público as obras dos artistas Alice Lara (DF-SP), Cecília Bona (DF), Cléo Alves Pinto (DF), Diego Bresani (DF), Gu da Cei (DF), Hilan Bensusan (DF), José de Deus (DF), Ju Lama (DF), Kabe Rodríguez (DF), Laura Fraiz-Grijalba (DF), Raquel Nava (DF) e Rodrigo de Almeida Cruz (DF) selecionadas pelo júri formado por Agnaldo Farias (SP), Clarissa Diniz (PE), Guga Carvalho (PI), Lisette Lagnado (RJ) e Marilia Panitz (DF). O Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea 2018 tem o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Governo do Distrito Federal e da Caixa.

Além de participar da mostra e de ter suas obras registradas no catálogo da exposição, os artistas receberão R$ 5 mil reais cada como prêmio aquisição. As obras adquiridas serão entregues à Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Os selecionados à final concorrem a três prêmios de R$ 15 mil cada e um prêmio especial de pesquisa e acompanhamento crítico cada. Ao longo de dois meses, a curadora e membro da Comissão de Seleção Clarissa Diniz irá acompanhar e orientar a pesquisa artística dos premiados, com foco no processo de criação e desenvolvimento poético de seu trabalho. Sendo que ao final do acompanhamento crítico, o artista deverá produzir um trabalho inédito.

O catálogo da mostra será lançado no dia 15 de setembro, sábado, às 16h, no Foyer da Caixa Cultural Brasília. Na ocasião serão anunciados os nomes dos três vencedores do prêmio especial do júri.

Sobre os artistas selecionados

Alice Lara é graduada em Artes Visuais, licenciatura e bacharelado, pela Universidade de Brasília (UnB). Mestranda em poéticas visuais na ECA – USP. Sua pesquisa, na pintura, investiga a representação de animais, suas relações com os seres humanos e como essas relações afetam ambos. Já participou de diversos salões no país como a Salão de Abril em Fortaleza em 2010 e o salão de Anápolis em 2011 e 2014. Foi premiada em 2012, no Arte Pará e em 2016 no Salão de Anápolis. Vive e trabalha em São Paulo.

Nascida e criada na amplitude brasiliense, Cecília Bona é Bacharel em Desenho Industrial e mestre em Artes Visuais pela Universidade de Brasília. Em seu trabalho propõe objetos e instalações que promovem a experiência de fenômenos perceptivos e imensuráveis. Sua pesquisa é direcionada pelo interesse na luz, no tempo e no espaço. Explora a materialidade como potencial para dialogar com dimensões incertas. Foi contemplada individualmente com o prêmio Funarte de Arte contemporânea 2013 e coletivamente em 2016 e já esteve em residências artísticas na Islândia e no Canadá.

Cléo Alves Pinto nasceu em Curitiba (1979), viveu por muitos anos em Minas Gerais e mora em Brasília desde 2009. É arquiteta e urbanista e também formada em Pedagogia, ambos pela UFMG. Começou a fotografar profissionalmente em 2015. Antes de ser selecionada para o Transborda Brasília 2018 participou de três exposições coletivas, sendo a mais recente a "Transoeste", uma das mostras do Festival Foto em Pauta 2018. Por meio de projetos autorais tem investigado questões como relações entre espaços públicos e privados, privacidade, modos de viver e de morar.

Diego Bresani é fotógrafo e diretor de Teatro, graduado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília em 2006. Trabalha com fotografia profissionalmente desde 2001. Já teve retratos publicados em meios de comunicação como New York Times, The Guardian, Paris Match, Revista Cult, Revista QG, Rolling Stones, entre outras. Estudou retrato em Grande Formato no ICP – International Center of Photography em Nova York. Há anos vem se especializando e fazendo retratos. Em 2014 sua série “Ao Lado” foi a vencedora do V Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. No ano de 2015 fez sua primeira exposição individual - Tuer/Matar - em Brasília. No ano de 2016 fez uma grande exposição individual com curadoria de Matias Monteiro na Galeria Athos Bulcão em Brasília. A exposição intitulada – Respiro: retratos 01 – Reunia um recorte de mais de 180 retratos realizados ao longo de sua carreira de mais de 10 anos. Atualmente trabalha em Brasília, São Paulo e Paris. Sua pesquisa atual constitui uma experimentação com as fronteiras entre a fotografia documental e a encenação.

Gu da Cei é ceilandense e pesquisador da Faculdade de Comunicação-UnB. Atualmente desenvolve o seu trabalho no âmbito da intervenção urbana, performance e vídeo, além de buscar compreender as possibilidades dialógicas entre processos históricos e contemporâneos da fotografia, bem como seus espaços de exibição e circulação. Alguns de seus lambe-lambes também podem ser conferidos no volume 8 do livro “O Direito Achado na Rua”. Gu da Cei yes. Gu da Cei nada com nada. Gu da Cei tudo.

Hilan Bensusan faz performance, filosofia e instalação. Habita a República Burguesa. Ensina e investiga na Universidade de Brasília temas como animismo, hospitalidade, futuros inorgânicos e interrupções. Fez performances e instalações em cidades como Bogotá, Bruxelas, Brasília, São Paulo, Londres, México, Paris, Montes Claros e Shashamane. Expôs em coletivas em Brasília, São Paulo, Lisboa, Brighton e Londres. Interessa-se pelas palavras situadas, pelas escritas desenhadas e pelas insolências públicas.

José de Deus nasceu no Distrito Federal em 1993. Formou-se em Artes Visuais na Universidade de Brasília (UnB) onde cursa mestrado na linha Métodos e Processos em Arte Contemporânea. Em seu trabalho, tem interesse em investigar manifestações culturais massivas e populares brasileiras e sua relação com questões políticas a partir de diálogos criados entre imagens produzidas por diversas mídias de comunicação a suportes precários, que são retirados do cotidiano e conversam com a linguagem midiática.

Ju Lama tem um pé na capoeira angola, outro no anarquismo, uma mão na música, outra nos desenhos, colagens, quadrinhos, cartazes, lambes. Do hardcore ao samba, com o coração arteiro, surgiu a vontade de contar histórias incríveis e, ao mesmo tempo, cotidianas de mulheres pela cidade. Juliana nasceu no DF e é graduada em Desenho Industrial na Universidade de Brasília (UnB).

Kabe Rodríguez é travesti, trabalha como babá-curadora-artista-pesquisadora. Bacharela em Artes Visuais pelo departamento de Artes Visuais – VIS da Universidade de Brasília, atualmente integra o corpo discente do programa de pós-graduação cursando mestrado na linha de Métodos e Processos em Arte Contemporânea. Participa do Coletivo Desculpinha e do grupo Curadoria Curadoria. Se interessa em práticas transindisciplinares em diálogos diretos com táticas cotidianas de sobrevivência e resistência.

Laura Fraiz-Grijalba nasceu em São Paulo em 1996 e vive em Brasília há seis anos. Trabalha principalmente com gravura e vídeo, utilizando-se da apropriação de elementos da internet e do uso da própria imagem para falar sobre memória, violência e intimidade.

Raquel Nava investiga o ciclo da matéria orgânica e inorgânica em relação aos desejos e hábitos culturais, usando taxidermia e restos biológicos de animais justapostos à materiais industrializados em suas instalações, objetos e fotografias. A variação cromática com a qual trabalha nos objetos e fotografias se aproxima da paleta utilizada na sua produção de pintura. A diversidade de sua produção está nos experimentos com técnicas e materiais, mas sempre surge uma referência aos órgãos ou aos organismos.

Rodrigo de Almeida Cruz nasceu em Taguatinga-DF, em 1989. Passou a infância e a adolescência em Cidade Ocidental-GO, no entorno de Brasília, para onde se mudou somente aos 18 anos de idade, após iniciar seus estudos universitários. Começou a pintar em 2009, durante a graduação em Artes Plásticas na Universidade de Brasília, onde atualmente realiza uma pesquisa de doutorado. Em maio de 2017, realizou sua primeira mostra individual, intitulada Constrangimento do Tempo, na Alfinete Galeria, em Brasília.

Sobre o júri

Curador, crítico de Arte e Professor Doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Agnaldo Farias (SP) foi Curador Geral do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1998/2000) e Curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1990/1992). Também realizou curadorias, entre outras instituições, para Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural Dragão do Mar, de Fortaleza, Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS -, e para a Fundação Bienal de São Paulo. Nesta última foi Curador da Representação Brasileira da 25a. Bienal de São Paulo (1992), Curador Adjunto da 23a. Bienal de São Paulo (1996) e da 1a. Bienal de Johannesburgo (1995). Atualmente é consultor de curadoria do Instituto Tomie Ohtake. Publica regularmente artigos e críticas em alguns dos principais jornais e revistas nacionais e é correspondente da revista de arte espanhola “Artecontexto”.

Nascida no Recife, 1985, atualmente, Clarissa Diniz (PE/RJ) reside no Rio de Janeiro. Crítica de arte e curadora. Gerente de conteúdo do Museu de Arte do Rio - MAR desde 2013. Graduada em Educação Artística/Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Entre 2006 e 2015, foi editora da Tatuí, revista de crítica de arte. Publicou os livros Crachá – aspectos da legitimação artística (Recife: Massangana, 2008), Gilberto Freyre (Rio de Janeiro: Coleção Pensamento Crítico, Funarte, 2010) – em coautoria com Gleyce Heitor –; Montez Magno (Recife: Grupo Paés, 2010), em coautoria com Paulo Herkenhoff e Luiz Carlos Monteiro; e Crítica de arte em Pernambuco: escritos do século XX (coautoria com Gleyce Heitor e Paulo Marcondes Soares. Rio de Janeiro: Azougue, 2012). De curadorias desenvolvidas, destacam-se Refrações – arte contemporânea em Alagoas (cocuradoria com Bitu Cassundé. Pinacoteca da UFAL, 2010), contidonãocontido, cocuradoria com Maria do Carmo Nino e EducAtivo Mamam (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife-PE, 2010), Contrapensamento selvagem (cocuradoria com Cayo Honorato, Orlando Maneschy e Paulo Herkenhoff. Instituto Itaú Cultural, SP), Zona tórrida – certa pintura do Nordeste (cocuradoria com Paulo Herkenhoff. Santander Cultural, Recife), O abrigo e o terreno (cocuradoria com Paulo Herkenhoff. Museu de Arte do Rio – MAR, 2013), Ambiguações (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2013), Pernambuco Experimental (Museu de Arte do Rio - MAR, Rio de Janeiro, 2013), Do Valongo à Favela: imaginário e periferia (cocuradoria com Rafael Cardoso, Museu de Arte do Rio - MAR, 2014) e Museu do Homem do Nordeste (Museu de Arte do Rio - MAR, 2014). Foi curadora assistente do Programa Rumos Artes Visuais 2008/2009 (Instituto Itaú Cultural, São Paulo) e, entre 2008 e 2010, integrou o Grupo de Críticos do Centro Cultural São Paulo, CCSP. De projetos anteriores que têm relação com a questão indígena, destacam-se Macunaíma Colorau (Recife, 2009) e a exposição Todo mundo é, exceto quem não é - 13a edição da Bienal Naifs do Brasil (SESC Piracicaba, 2016). Atualmente, desenvolve o projeto da exposição A Guanabara antes dos Cariocas (cocuradoria com José Ribamar Bessa, Sandra Benites e Pablo Lafuente), que tem como foco a história indígena do Rio de Janeiro, a ser realizada no Museu de Arte do Rio - MAR em 2017.

Guga Carvalho (PI) é Mestre em Estética e História da Arte, USP – Universidade de São Paulo, com pesquisa sobre processo de criação (2008- 10). É especialista em Gestão dos Processos Comunicacionais, [Escola de Comunicação e Artes/USP], com pesquisa sobre crítica de arte e o audiovisual (2005-06). Foi professor-orientador convidado pela ECA-USP, Núcleo EDuCom, na especialização lato sensu Mídias e Educação, linha arte e mídia (2011-2013). Tem mais de 15 anos de experiência em projetos culturais, gestão pública da cultura, comissões de seleção de editais, salões etc., entre essas a comissão do Prêmio de Artes Visuais – Fundação Monsenhor Chaves, 2016; Edital Redes FUNARTE, 2014, Salão de Artes Plásticas de Teresina, 2013; Edital FUNARTE Publicação de Artistas de Referência, 2011. Entre as exposições que organizou: “Urbanidade”- 2012, “Poéticas do Coletivo”-2012-13, “Das Promissões e Outros Percursos”-2013, “Exposição em Montagem” – 2013 (no Museu do Piauí), “Atalho para Bem Ali” (Centro Cultural BNB Fortaleza) e também em agosto-setembro 2014 ,em Recife (Museu Murilo La Greca) , ambas cocuradoria com Solon Ribeiro. “Passeio Completo” (Casa da Cultura, março a maio 2014), “O Filme Perdido” (Casa da Cultura de Teresina, setembro, outubro 2014), “Torquato, Escrita da Incompletude” (Casa de Cultura de Teresina, novembro, dezembro 2014), “Arnaldo Albuquerque, Narrativas da Contravenção” (Casa de Cultura de Teresina, junho e julho 2015), “Catandub(v)a”, Centro Cultural SESC, Parnaíba, Piauí (julho – setembro 2015) e ARAME (Casa da Cultura de Teresina setembro-outubro 2016). Foi curador-mediador local no Projeto Sesc Confluências (2015) e curador de processo na Residência de Criação da Prefeitura de Teresina, 2016.

Marilia Panitz (DF) é mestre em Arte Contemporânea: teoria e história da arte, pela Universidade de Brasília. Foi professora nesta Universidade, até 2011. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília. Desde 1994, atua como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições e com cursos livres de arte. A partir de 1999, passou a publicar artigos sobre artistas de Brasília em jornais e catálogos. É curadora independente, com projetos como: Felizes para Sempre, Brasília, Curitiba e São Paulo, 2000/2001; Gentil Reversão, Brasília e Rio de Janeiro, 2001/2003; Rumos Visuais Itaú Cultural 2001/2003 e em2008/2010; Lúdico, Lírico, Berlim, 2002; Centro|EX|cêntrico, CCBB, 2003; Situações Brasília, Caixa e CCBE, 2005; Bolsa Produção para Artes Visuais, Curitiba, 2008/2010; Brasília: Síntese das Artes, CCBB- DF, 2010; Mostra Tripé Brasília| Linhas de Chamada, SESC Pompéia-SP , 2011 - 2012; Mostra Rumor, Coletivo Irmãos Guimarães, Oi Futuro - RJ ,CCBB-DF e SESC Belenzinho -SP, 2012- 2013; Azulejos em Lisboa Azulejos em Brasília: Athos Bulcão e a azulejaria barroca, Lisboa, 2013; Projeto Triangulações 2013 -Salvador, Brasília e Recife - e 2014 - Salvador, Belém e Maceió; Mostras de Carlos Lin e Polyanna Morgana, Andrea Campos de Sá e de Gê Orthof, Gal. Alfinete, Brasília, 2013-2014; Christus Nóbrega, na AmareloNegro, Rio, e Ge Orthof , na Referência Galeria de Arte, Brasília em 2014; Prêmio Marcantônio Vilaça-Sesi/CNI 2014-2015.

Radicada em São Paulo desde a adolescência, Lisette Lagnado (SP) é bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde também obteve o título de mestre. É PhD em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Foi curadora-geral da 27ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo (2006) e curou também a exposição de Iberê Camargo (1914-1994) na Bienal do Mercosul de 1999. O mais recente trabalho notório foi a curadoria da exposição Drifts and Derivations: Experiences, Journeys and Morphologies no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Madrid) em 2010. Iniciou sua carreira como contribuinte e coeditora da revista "Arte em São Paulo", fundada pelo pintor Luiz Paulo Baravelli, e catalogou a obra do artista Leonilson (1957-1993). Foi redatora e crítica de arte do jornal Folha de S. Paulo nos anos 80. Foi coeditora da revista cultural eletrônica Trópico, publicada pelo UOL e leciona na Faculdade Santa Marcelina. Dirigiu a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro até março de 2017.

Sobre Prêmio

O Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea é realizado pela produtora Virgínia Manfrinato e tem como objetivo fomentar e acompanhar a produção de Artes Visuais do Distrito Federal e das cidades do Entorno. Puderam se inscrever artistas visuais naturais ou residentes no Distrito Federal e região do Entorno, formada pelos municípios de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa, no Estado de Goiás, e de Unaí, Buritis e Cabeceira Grande, no Estado de Minas Gerais. Nesta edição, a organização recebeu 197 inscrições artistas que apresentaram cerca de 1.000 obras, um incremento de 38% relação às edições anteriores, realizadas em 2015 e 2016.

Posted by Patricia Canetti at 4:09 PM

Paulo Bruscky na Caixa Cultural, Brasília

PaLarva é mais que palavras. É o embrião da palavra.
Como um cilindro de poemas sem matrizes e
com o voo das larvas formando uma nova semântica.

“Seja única ou com a composição, a palavra sempre teve e terá uma importância muito grande em minha obra”, diz o artista pernambucano no texto que abre o catálogo desta que é sua primeira exposição individual na capital federal. Nada menos que cinco décadas de sua produção estarão representadas por mais de duzentas de suas mais importantes e emblemáticas obras, além de algumas inéditas, produzidas para esta mostra: PaLarva – Poesia Visual e Sonora de Paulo Bruscky.

O artista, que integrou o pavilhão internacional da última Bienal de Veneza (2017) e que é autor de obras pertencentes a acervos como o do MAM (SP) e MAC (USP), Centre Pompidou (França), Tate Modern (Inglaterra) e MoMA (EUA) estará em Brasília na noite de abertura (7 de agosto). Ele também brindará o público da CAIXA Cultural Brasília com três performances: a já consagrada Poesia Viva e duas inéditas, preparadas especialmente para a ocasião.

O curador da exposição, Yuri Bruscky, dividiu a mostra em vários núcleos que abordam as diversas linhas de experimentação poética do artista em: poemas visuais, poemas sonoros, filmes de artista, registros videográficos de performances e exposições, objetos poéticos, livros de artista, arte classificada, obras conceituais, projetos, documentos e fotos históricas.

O público é convidado à uma imersão no universo poético de Bruscky. "A proposta é criar um ambiente visualmente poético e criativo, convidando o visitante a fazer um passeio intelectual e afetivo que possibilite o entendimento da vida, obra e processo criativo de Paulo Bruscky", explica Germana Pereira, da Tangram Cultural, responsável pela produção executiva e coordenação geral do projeto.

Paulo Bruscky e seu filho Yuri realizaram diversas pesquisas e levantamentos no acervo particular do artista, de onde geraram “PaLarva”. Ainda em família, sua filha Raíza é a responsável pela concepção da identidade visual, do projeto expográfico e da coordenação do acervo da mostra. A coordenação de produção é de Ludmila Portela.

Paulo Bruscky, um artista além do tempo e do espaço

Desde o final da década de 1960, o artista multimídia Paulo Bruscky (Recife-PE, 1949) desenvolve uma obra ligada aos movimentos de vanguarda tanto no Brasil como no exterior. É considerado hoje um dos maiores artistas conceituais da arte brasileira, reconhecido internacionalmente pela sua ampla produção intermídia que abrange trabalhos com xerox, arte correio, poesia visual e sonora, colagem, artdoor e fotografia. Criou ainda inúmeras performances, intervenções urbanas, instalações, xerofilmes e livros de artista.

A arte de Bruscky deixa clara sua intenção de comunicar, criar redes e estabelecer vínculos. Em tempos em que a internet não existia, quando a ditadura proibia tudo que parecia moderno, livre e profundo, o pernambucano conseguiu traçar uma carreira profícua, ligada em rede a artistas de diversos países.

Aos 69 anos, conserva o frescor de sua criação, em peças com teor político que nunca conseguiram ser caladas. Bruscky parece enxergar possibilidades em todo e qualquer equipamento, seja um eletrodoméstico, como um liquidificador, uma máquina de xerox e até a própria língua, que transforma em carimbo, como no "Poema Linguístico". Para ele, as fronteiras espaciais e materiais são ultrapassadas. Sua arte pode ser colaborativa, inusitada, atordoante, ao mesmo tempo em que está em permanente comunicação com o mundo.

Além de militante, experimentalista e expoente da Poesia Visual há mais de cinquenta anos, Bruscky é um pesquisador e colecionador contumaz e dono do maior acervo particular de arte contemporânea/multimeios da América Latina, com cerca de 70 mil itens, incluindo trabalhos dos grupos Fluxus, Gutai e Cobra. A mostra tem entrada gratuita e a visitação acontece de terça a domingo, de 9 às 21 horas.

Posted by Patricia Canetti at 3:31 PM

Fernando Campana na Luciana Caravello, Rio de Janeiro

Fernando Campana abre, pela primeira vez no Rio de Janeiro, seu laboratório individual na mostra Macacos Robôs Furacões. Uma imersão do designer no campo das artes, através de pinturas em aquarela, desenhos em grafite, colagens com peças automotivas, entre outras obras. A mostra conta com as séries ‘Macacos’ e ‘Robôs’ e a série ‘Furacões’ que serão apresentadas na galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea a partir do dia 7 de agosto.

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O designer traz um método dinâmico para se expressar na arte e uma capacidade quase sistemática de coletar informações e conectar-se às histórias. Muitas vezes, ele estabelece uma conexão momentânea a episódios de sua infância para inspirar suas criações. A abordagem para sua série ‘Robôs’ está em sua mente desde pequeno. Fernando queria se tornar astronauta e este alter ego é sua máquina que está em constante produção. A expressão de sua criatividade começa a partir daqui e o caráter dualista do robô é colecionar informações, sensações e memórias. Ele se lembra e esquece, porque a memória volta e se torna uma história histórica, bem como uma sensação futurista. A série se origina a partir de desenhos em grafite, enquadrados em molduras feitas de sobreposições de EVA, e se expande a inéditas colagens com peças automotivas, nunca antes trabalhadas em seus projetos.

A série ‘Macacos’ começou a ser criada um pouco antes da verdadeira tragédia da matança, a partir de sua relação ingênua com os macacos na infância. Naquela época, ele trazia consigo a esperança de domesticá-los ou de estabelecer um relacionamento humano, o que acarretou em um aprendizado de tolerar e respeitar o comportamento irracional. Os macacos acusados de transmitir febre amarela já estavam lá no papel em seu ateliê pessoal, exatos e precisos; e os belos retratos da humanidade desses primatas foram desenvolvidos com a intenção de comunicar o conceito sem sentido da diversidade. Esta tragédia foi usada como uma metáfora para ver nos macacos uma crítica social que colocou o dedo na pequena vontade burguesa de punir a diversidade. Os desenhos são feitos em aquarela, enquadrados em um patchwork de pedaços de molduras, desconstruindo o padrão clássico de molduras e propondo um novo DNA a um objeto conhecido.

A inédita série ‘Furacões’ surge a partir de um outro processo criativo, mais intuitivo, que é maturado pelo tempo, pelas relações e por seu entorno. Os sentidos tornam-se mais apurados e buscam expressar, inconscientemente, o que está por vir, como seus primeiros desenhos que originaram essa série e que antecederam os recentes furacões que aconteceram nos Estados Unidos. “Arte não se define, mas se decifra de acordo com a evolução mental ou espiritual ou amplitude de visão do observador”, destaca Fernando.

SOBRE O ARTISTA

Em 1983, Fernando Campana (1961) em parceria com seu irmão Humberto Campana (1953) fundaram o Estudio Campana em São Paulo. O estúdio se tornou famoso pelo design de mobiliário, por criações de peças intrigantes - como as poltronas Vermelha e Favela - e, também, por ter crescido nas áreas de Design de Interiores, Arquitetura, Paisagismo, Cenografia, Moda, entre outras. O trabalho dos Campana incorpora a ideia de transformação, reinvenção e integração do artesanato na produção em massa; tornando preciosos os materiais do dia-a-dia, pobres ou comuns, que carregam não só a criatividade em seu design, mas também características bem brasileiras - as cores, as misturas, o caos criativo e o triunfo de soluções simples. Os irmãos foram homenageados com o prêmio “Designer do Ano” pela Design Miami, em 2008 e os “Designers do Ano” pela Maison & Objet, em 2012. Neste mesmo ano, eles foram selecionados para o Prêmio Comité Colbert, em Paris; homenageados pela Design Week, em Pequim; receberam a “Ordem do Mérito Cultural”, em Brasília, e foram condecorados com a “Ordem de Artes e Letras” pelo Ministério da Cultura da França. Em 2013, eles foram listados pela revista Forbes entre as 100 personalidades brasileiras mais influentes. Em 2014 e 2015 a Wallpaper* os classificou, respectivamente, entre os 100 mais importantes e 200 maiores profissionais do design. www.estudiocampana.com.br


Fernando Campana brings his private laboratory to Rio de Janeiro for the first time with his show Monkeys Robots Hurricanes. The designer immerses himself in the field of fine art, using watercolors, graphite, auto part collages and other media. The show includes the ‘Monkeys’ and “Robots’ series and a new series called ‘Hurricanes’, all which will be on display for the public at the Luciana Caravello Arte Contemporânea gallery as of 7 August of this year.

The designer brings a dynamic form of self-expression to his art, along with an almost systematic capacity for collecting information and connecting with stories. He often establishes a momentary connection with episodes from his own childhood as a way of seeking inspiration for this work. The approach adopted in the ‘Robots’ series had been in his mind since he was a small boy. Campana once wanted to be an astronaut and this alter ego is a machine that is constantly under production. Creative expression for Campana starts out from this place and the dualistic nature of the robot involves collecting information, sensations and memories. He remembers and forgets, because his memory comes back and is turned into a story about the past as well as a feel for the future. The series originated in graphite drawings, framed with layers of EVA, and expanded to include collages involving auto parts, the like of which he had never worked with before.

Campana began work on the ‘Monkeys’ series shortly prior the onset of the tragic slaughter of these animals and it was based on his innocent relationship with primates as a child. At that time, he hoped to domesticate them or establish a human bond. This taught him much about tolerance and respect for irrational behavior. The monkeys alleged to be responsible for transmission of yellow fever were already present on paper in his private studio. These beautifully exact precise portraits of the humanity of these primates were produced to communicate the meaningless concept of diversity. The tragedy was used as a metaphor in which the artist sees in the monkeys a critique of the petty desire of bourgeois society to punish diversity. The drawings are in watercolor and surrounded by a patchwork of parts of various frames, thereby deconstructing the classical model of a frame and designing a new DNA for this already familiar object.

The ‘Hurricanes’ series arose from another more intuitive creative process, which has matured over time through relations with its surrounding environment. The meanings become clearer and seek unconsciously to express that which is to come, in a manner similar to the original drawings that gave rise to this series and that predate the recent spate of hurricanes in the United States. The ‘Tornado’ vase, commissioned by the Italian company Ghidini1961, was also a product of this era and is included in the show. The pictures are more powerful than the explanations. As Campana himself puts it, “Art cannot be defined, by is deciphered in accordance with the mental or spiritual evolution or breadth of vision of the viewer.”

Posted by Patricia Canetti at 11:18 AM

Alan Fontes na Luciana Caravello, Rio de Janeiro

Artista apresentará obras inéditas, que tratam da transformação do espaço urbano do Rio de Janeiro

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Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura, no dia 7 de agosto, a mostra Exposição Nacional, do artista Alan Fontes, com obras que abordam as transformações no espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Para realizar os trabalhos, o artista mergulhou nos relatos documentais da “Exposição Nacional do Rio de Janeiro”, realizada em 1908, em comemoração ao 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, que tinha a intenção de mostrar a então nova capital federal – urbanizada pelo prefeito Francisco Pereira Passos e saneada por Oswaldo Cruz – para as autoridades nacionais e estrangeiras.

Serão apresentadas nove pinturas, em óleo e encáustica sobre tela, e quatro livros-objetos, em óleo e afresco sobre concreto, em que o artista dá continuidade ao projeto iniciado há três anos, em que pesquisa o espaço urbano do Rio de Janeiro, trabalhando nas lacunas de uma memória em constante mutação. “Uma pesquisa, entretanto, que não tem caráter documental e é aberta ao devaneio poético e o qual a pintura, com toda a imprecisão da mancha encarna com eficácia”, afirma o artista, que apresentou a primeira parte dessa pesquisa no CCBB Rio de Janeiro, em 2016, com o apoio do Prêmio CCBB Contemporâneo.

Na Luciana Caravello Arte Contemporânea, Alan Fontes apresentará obras inéditas, que serão divididas em três módulos. No primeiro, estarão pinturas que representam alguns dos palácios e pavilhões que fizeram parte da “Exposição Nacional”, de 1908, e dos quais só existem limitados registros fotográficos. As pinturas expressionistas reconstituem os prédios imersos em ruídos análogos aos que estão envoltos as lembranças e os documentos já desgastados pelo tempo.

O segundo módulo reúne pinturas da série “Black Lands”, que “situam os prédios da época em espécies de oceanos negros que simbolizariam um espaço poético da memória. Algo na fronteira da lembrança e do esquecimento”, conta Alan Fontes. Algumas destas pinturas foram expostas este ano na semana de arte de Nova York, em projeto solo do artista na feira VOLTA.

O terceiro módulo é composto por livros-objeto de concreto, que servem como suporte para pequenas pinturas afresco compostas a partir de imagens do evento de 1908. “Tais objetos escultóricos relacionam simbolicamente as pinturas ao peso matérico que compõem as edificações que não existem mais”, ressalta o artista.

SOBRE A EXPOSIÇÃO NACIONAL DE 1908

A Exposição Nacional foi realizada entre 28 de janeiro e 15 de novembro de 1908, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, foi organizada oficialmente para comemorar os 100 anos do Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, e para se fazer um inventário econômico do Brasil na época. Mas, na realidade, a intenção da exposição era mostrar a então nova capital federal – urbanizada pelo prefeito Francisco Pereira Passos e saneada por Oswaldo Cruz – para as autoridades nacionais e estrangeiras que visitavam a cidade.

Governos de estados, do Distrito Federal e de associações comerciais, agrícolas e industriais participaram do evento, que teve pavilhões para os estados mostrarem os seus principais produtos nas áreas agricultura, pastoril, indústrias e artes liberais. Além dos estados brasileiros, Portugal participou do evento, sendo a única participação estrangeira.

SOBRE O ARTISTA

Alan Fontes (Ponte Nova, MG, 1980. Vive e trabalha em Belo Horizonte, MG). É Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Suas últimas exposições individuais foram “The Book of the Wind”, na Galeria Emma Thomas, Nova York (2016); “Poéticas de uma Paisagem – Memória em Mutação”, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2016); “Sobre Incertas Casas”, na Galeria Emma Thomas, São Paulo (2015); “Desconstruções”, na Baró Galeria, São Paulo (2014); “Sweet Lands” e “La Foule”, ambas na Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro (2012); “A Casa”, no Paço das Artes, São Paulo (2008), entre outras.

Participou das mostras “Ao Amor do Público I”, no Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2016); Mostra Bolsa Pampulha do MAP, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2014); Prêmio FOCO Bradesco/Art Rio, Rio de Janeiro (2013), entre outras.

Realizou as residências Pintura Além da Pintura, do CEIA, Belo Horizonte (2006); 5ª Edição do Programa Bolsa Pampulha, Belo Horizonte (2013); e Residência Baró, São Paulo (2014). Dentre as últimas premiações recebidas estão Bolsa Pampulha 5ª edição (2014); 1º Prêmio Foco Bradesco/ArtRio (2013) e o I Prêmio CCBB Contemporâneo.


On 7 August, Luciana Caravello Arte Contemporânea will stage the opening of National Exposition, by Alan Fontes, containing works that address the transformation of urban space in the city of Rio de Janeiro. These works draw on in-depth research into documents relating to the “Rio de Janeiro National Exposition”, held in 1908 to commemorate the First Centenary of the Opening of the Ports of Brazil and show off the then new federal capital – with its urban planning conducted by Mayor Francisco Pereira Passos and its sanitary system installed by Oswaldo Cruz – to national and foreign dignitaries.

The exhibition will contain nine paintings in oil and encaustic on canvas, and four object-books, in oil and fresco on concrete, in which the artist continues his three-year-old project based on research into the urban space of Rio de Janeiro, filling gaps in a constantly shifting memory. “The research, however, is not documentary in nature but open to the poetic reverie that painting, with all the imprecision of a stain, effectively incarnates”, as the artist put it when he presented the first stage of this research to the Rio de Janeiro CCBB, in 2016, with the support of the CCBB Contemporâneo Prize.

Luciana Caravello Arte Contemporânea will show new works by Alan Fontes divided into three modules. The first contains paintings that depict some of the palaces and pavilions that formed part of the 1908 “National Exposition”, of which only a few photographic records remain. The expressionistic paintings reconstruct the buildings amidst ruins analogous to the ravages of time that wear out documents and obscure memories of the past.

The second module brings together paintings from the “Black Lands” series, which “set the buildings of the time against ocean-like swathes of black, symbolizing the poetic space of memory, where the line between remembering and forgetting is blurred”, Alan Fontes says. Some of these paintings have already been on display this year during New York’s Art Week, in a solo project at the VOLTA fair.

The third module consists of concrete object-books, which serve as supports for small fresco paintings created using images of the 1908 event. “These sculptural objects symbolically relate the paintings to the material weight of which the no longer existing buildings were composed”, the artist remarks.

ON THE NATIONAL EXPOSITION OF 1908

The National Exposition ran from 28 January to 15 November 1908, in the Urca neighborhood of Rio de Janeiro. Its official purpose was to commemorate the 100th anniversary of the decree that opened the country’s ports to friendly nations and to provide an inventory of Brazil’s economic achievements at the time. But the true purpose of the exposition was to show off the then new federal capital – with its new urban planning conducted by Mayor Francisco Pereira Passos and sanitary system installed by Oswaldo Cruz – to dignitaries visiting the city from other parts of the country and overseas.

State governments, the government of the Federal District and commercial, agricultural and industrial associations all took part in the event, in which each state set up pavilions to showcase its principal agricultural, industrial and intellectual achievements. Portugal was the only foreign country to participate in the event.

ABOUT THE ARTIST

Alan Fontes (b. Ponte Nova, MG, 1980) lives and works in Belo Horizonte, MG and holds a Master’s Degree in Visual Arts from the Federal University of Minas Gerais. His recent shows include “The Book of the Wind”, at the Emma Thomas Gallery, New York (2016); “Poetics of a Landscape – Memory in Mutation”, at the Banco do Brasil Cultural Center, Rio de Janeiro (2016); “On Uncertain Houses”, at the Emma Thomas Gallery, São Paulo (2015); “Deconstructions”, at the Baró Gallery, São Paulo (2014); “Sweet Lands” and “La Foule”, at the Laura Marsiaj Gallery, Rio de Janeiro (2012); and “House”, at the Paço das Artes, São Paulo (2008).

His work has featured in group shows such as “For the Love of the Public I”, at the Rio Museum of Art, Rio de Janeiro (2016); the Pampulha Prize Show, at the Pampulha Museum of Art, Belo Horizonte (2014); and among the winners of the FOCO Bradesco/Art Rio Prize, Rio de Janeiro (2013).

He has been artist in residence at CEIA’s Painting beyond Painting, Belo Horizonte (2006); at the 5th Edition of the Pampulha Prize Program, Belo Horizonte (2013); and at Baró Gallery, São Paulo (2014). His recent accolades include the Pampulha Prize (5th edition (2014); the 1st Foco Bradesco/ArtRio Prize (2013) and the 1st CCBB Contemporâneo Award.

Posted by Patricia Canetti at 10:55 AM