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Arte em Circulação

 


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março 21, 2013

Your orbitperspective por Olafur Eliasson

Declaração do artista sobre sua exposição

Olafur Eliasson: Your orbit perspective
Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP - 03/04/2013 a 04/05/2013
Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 03/04/2013 a 25/05/2013

[Scroll down to read in english]

Percorremos toda esta distância para explorarmos a Lua, e o que é mais importante éque descobrimos a Terra. William A. Anders, astronauta da Apollo 8, sobre sua foto “Earthrise”, tirada na órbita ao redor da lua, em 1968

Temos que nos afastar para vermos a nós e ao mundo em que vivemos a partir de uma perspectiva em movimento. Ao pensarmos na crise do clima, por exemplo: estamos plenamente conscientes e amplamente informados, mas nosso conhecimento quase não tem impacto emocional sobre nós. Temos um senso claro de responsabilidade, mas não um sentimento de responsabilidade. Embora haja conhecimento, não há movimento. Esta exposição celebra um ponto de vista em contínua mutação: nossa capacidade de ver o planeta inteiro como um ecossistema. Essa perspectiva sentida nos permite dar um passo do conhecer para o fazer.

A ideia de uma perspectiva em movimento – a órbita da perspectiva – tem muito a ver com algo que se torna movimento. As obras expostas na Galeria Luisa Strina e no Galpão Fortes Vilaça incorporam esses tipos de movimento: o sólido diluindo-se em não sólido, cor passando para ausência de cor, bidimensional transformando-se em tridimensional. Ao movimentar-se de uma sala para outra, você começa a ponderar sobre como sua perspectiva emerge, como seu ponto de vista realiza o espaço.

Estou interessado na nossa capacidade de refletir conscientemente sobre algo abstrato ou complexo. Ao considerar algo que não é bem assimilável, temos que confiar na direção para a qual a nossa intuição nos leva; temos que estar abertos para ser atingidos pelo mundo.

Este processo é bem cognitivo: ao imaginar o que você vê, você constitui a realidade. Ao fazer isso, você a toma para si como uma espécie de conhecimento emocional. Você lhe dá seu sentimento sentido. Sua perspectiva orbital [Your orbit perspective] direta e metaforicamente produz simultaneamente esse pensar e esse fazer. Não é que somente existe no mundo, mas “munda” o mundo. É uma máquina de realidade.

Olafur Eliasson, 2013


Artist's statement on his exhibition

Olafur Eliasson: Your orbit perspective
Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP - 03/04/2013 a 04/05/2013
Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 03/04/2013 a 25/05/2013

We came all this way to explore the Moon, and the most important thing is that we discovered the Earth. – Apollo 8 astronaut William A. Anders on his photograph ‘Earthrise’, taken in orbit around the moon, 1968

We have to step back to see ourselves and the world from a moving perspective. If we think about the climate crisis, for example, we are fully aware, we are fully informed, but our knowledge barely has emotional impact on us. We have a clear sense of responsibility, but no felt responsibility. Although there is knowledge, there is no movement. This exhibition celebrates a point of view that is constantly changing: our ability to see the whole planet as one ecosystem. This felt perspective allows us to take the step from knowing to doing.

The idea of a moving perspective – the orbit of perspective – is very much about something becoming movement. The works on show at Galeria Luisa Strina and Galpão Fortes Vilaça embody these types of movement: fading from solid to non-solid, changing from colour to absence of colour, turning from two-dimensional into three-dimensional. As you move through the rooms, as you ponder, your perspective emerges, your point of view performs space.

I am interested in our ability to consciously reflect upon something abstract or complex. In considering something that is not quite graspable, we must have confidence in where our intuition takes us; we must be open to being struck by the world.

This is a very cognitive process: by imagining what you see, you constitute reality. In doing so, you take it into yourself as a kind of emotional knowledge. You give it your felt feeling. Your orbit perspective directly and metaphorically co-produces such thinking and doing. It not only exists in the world, it ‘worlds’ the world. It is a reality machine.

Olafur Eliasson, 2013

Posted by Patricia Canetti at 2:32 PM

março 18, 2013

Prefácio do Catálogo Cantos Cuentos Colombianos por Hans-Michael Herzog e Ruth Schmidheiny

Texto de Hans-Michael Herzog e Ruth Schmidheiny originalmente publicado no catálogo Cantos Cuentos Colombianos.

Cantos Cuentos Colombianos, Casa Daros, Rio de Janeiro, RJ - 24/03/2013 a 08/09/2013

Após anos de intensa procura por um local adequado para o nosso espaço cultural e anos mais de um meticuloso trabalho de restauração e reforma, finalmente estamos prontos: a Casa Daros, no Rio de Janeiro, abre suas portas ao público.

Quando, bem no início do novo milênio, começamos a desenvolver uma coleção de arte latino-americana contemporânea, quase ninguém fora da América Latina sabia do seu poderoso potencial intrínseco. A visão estrangeira que se tinha da arte latino-americana era prejudicada pela ignorância e pela arrogância.

Queríamos rebater essa percepção. Já em 2002 começamos a apresentar a coleção em Zurique em exposições minuciosamente planejadas com esse intuito, acompanhadas de publicações cuidadosamente elaboradas.

La Mirada – Looking at Photography in Latin America Today foi a primeira de uma série de mostras realizadas no nosso museu, situado na antiga cervejaria Löwenbräu, em Zurique. Entre muitas outras exposições, apresentamos as instalações de luz cinética dos anos 1960, feitas por Julio Le Parc (Le Parc Lumière, 2005), uma justaposição de trabalhos da América Latina, com outros da Europa e dos Estados Unidos (Face to Face, 2007/08), uma ampla exibição de vídeos (For You, 2009) e, finalmente, mostras individuais dos trabalhos de Antonio Dias (2009) e Luis Camnitzer (2010).

Nosso objetivo foi sempre o de chamar atenção para a incrível variedade da arte latino-americana. Cada projeto representava uma estreia europeia, permitindo que o público se familiarizasse com artistas e questões até então desconhecidos.

O propósito das exposições era apresentar as facetas mais variadas da produção artística latino-americana, enfatizando sua relevância internacional e fixando-a, definitivamente, no contexto da arte dos séculos XX e XXI. Para tal, a obra de arte não era encarada como representante de um projeto específico de curadoria, mas sim como o ponto de partida para uma análise sofisticada de forma e conteúdo, e para uma interpretação de suas inúmeras camadas de sentido.

O fio condutor de todas as nossas atividades foi a coleção, sediada em Zurique, que no momento consiste em 1.160 obras feitas por 117 artistas. É uma das mais completas coleções desse tipo, assim como nossa biblioteca de cerca de 7 mil volumes, que foi construída paralelamente à coleção e está aberta ao público interessado na nossa sede administrativa, em Zurique.

Embora tenhamos planejado a coleção de forma sistemática, não buscamos uma completude enciclopédica. Para nós é importante que ela seja composta por obras que não representem simplesmente a arte pela arte, mas que possam ser vistas em vários níveis; obras que não tenham somente relevância estética, mas também social; obras que sejam singulares em vários contextos diferentes e que conjuguem meio e conteúdo de uma forma significativa. Graças a nossa autonomia, o trabalho de reunir a coleção prescinde de preocupações políticas ou mercadológicas.

Mas o que seria dessa coleção sem os nossos artistas? São eles o foco do nosso interesse.

Junto com eles, buscamos desenvolver e nutrir uma relação de confiança caracterizada pelo respeito mútuo. Entendemos que o diálogo franco e a troca permanente de ideias, assim como o conhecimento e a informação, são a base para uma relação de apoio e promoção recíproca e duradoura.

Quando começamos a organizar nossa coleção, decidimos procurar um local na América Latina onde pudéssemos ampliar e divulgar nossas atividades.

Ao fechar o nosso espaço de exposição em Zurique, em 2010, transferimos o foco das atividades públicas para a nossa Casa Daros, no Rio. Desejamos dar continuidade aqui ao princípio – testado ao longo dos anos – de organizar grandes exposições de arte latino-americana, além de várias novas atividades. A Casa Daros será uma casa aberta, uma plataforma para as artes e para a cultura que naturalmente será, também, receptiva a questões sociais e políticas.

Damos enorme importância à educação: junto com os artistas e o nosso público, queremos aprender e entender, por meio de um encontro com as próprias obras de arte, o que significa o ato de criação.

A Casa Daros se imagina como um eixo unindo o Rio de Janeiro, o Brasil, a América Latina e o resto do mundo. Como um ponto de encontro que aproxima vários protagonistas por meio da arte, que abre e expande os horizontes através de suas redes de informação e que desafia pensamentos e opiniões arraigados. A parte inovadora é a ideia de prover um serviço que finalmente una artistas da América Latina na América Latina, e assim compense a “fuga” centrífuga de latino-americanos (para a Europa e a América do Norte) com um movimento centrípeto.

Pretendemos lançar um campo gravitacional permanente e consistente para além das ingerências políticas e sociais, onde se deem impactos duradouros e embates produtivos entre o Brasil, os outros países da América Latina e o mundo todo.

Gostaríamos de expressar nossa imensa gratidão aos nossos leais companheiros, alguns dos quais têm estado conosco há muitos anos.

A Casa Daros não teria sido possível sem vocês e seu envolvimento! Resta-nos esperar que não desapontemos a confiança depositada em nós.

Posted by Patricia Canetti at 11:20 PM

março 17, 2013

Ir por Raphael Fonseca

Ir

RAPHAEL FONSECA

pedra, papel, tesoura..., Centro Cultural Justiça Federal - CCJF, Rio de Janeiro, RS - 22/02/2013 a 21/04/2013

Uma exposição dentro de um espaço institucional é como um mapa. As paredes são as fronteiras e os objetos dispostos no espaço são como cidades, bairros ou vielas. Tratando-se de uma exposição coletiva, essa semelhança fica ainda mais clara e, geralmente, cada artista é mediado como a unidade de um arquipélago.

A presente reunião de trabalhos deseja, primeiramente, questionar esta costumeira concepção da sala de exposição como um cubo branco dotado de uma narrativa linear. No lugar de usarmos a figura de uma ponte para o espaço entre as imagens aqui reunidas, talvez fosse mais interessante pensar na ideia de contaminação. Nosso olhar vai de encontro a um trabalho e, de diferentes modos, é direcionado a outra proposição visual. Cada visitante jogará os dados, obterá um resultado e realizará um trajeto espacial singular.

Nesse sentido, é possível iniciar uma reflexão sobre o título “Pedra, papel, tesoura”. Brincadeira feita para duas pessoas, pode ser interpretada de maneira metafórica quanto ao próprio encontro entre homem e arte e, mais do que isso, homem e imagem. Se em alguns destes cruzamentos temos a impressão de darmos conta daquilo que é apreciado, assim como a pedra é dotada do poder de destruição, em outros somos domados pela astúcia do papel ou pelos cortes certeiros da tesoura.

Além disso, os objetos artísticos aqui mostrados também podem ser lidos através destes três elementos. Alguns dos trabalhos de Luciana Maia, por exemplo, lidam com a ideia de recorte – seja este de um momento vivido na rotina de sua casa, seja ele mais formal e advindo da fotografia de um canto. O papel, por sua vez, surge como propulsor do trabalho de Bete Esteves e como tema pictórico de Fred Carvalho. Ao eleger papéis descartados por suas companheiras de exposição como mote de suas pinturas, o artista explora formalmente um mero dejeto através de luz e sombra. Em sentido semelhante, a outra artista convida o público a descartar coletivamente o mesmo material, base de qualquer comentário escrito. Enquanto isso, as estruturas criadas por Leandra Espírito Santo levam à reflexão sobre o peso. Se à distância parecem pesadas, um olhar mais atento denunciará a contradição destas formas orgânicas quando associadas a pedras.

Estas especulações aqui realizadas são apenas algumas das várias possíveis a partir do jogo entre crítico e arte, texto e imagem. De modo afobado, como os rápidos jogos de pedra, papel e tesoura geralmente acontecem, ou através de uma maior extensão temporal, esperamos que o público também se permita realizar correspondências entre os trabalhos desta sala e os labirintos memoriosos de suas arquiteturas mentais.

Que este jogo de apreciação se inicie através destes três simbólicos objetos e que tenha um desconhecido ponto de chegada. Na ausência da ansiedade pelo chegar, é feito o convite para a lenta apreciação do percurso de ida.

Posted by Patricia Canetti at 7:35 PM

março 12, 2013

Rumos Artes Visuais 2011/2013: Convite à Viagem por Agnaldo Farias

Convite à Viagem

AGNALDO FARIAS

Nossa natureza reside no movimento, a calma completa é a morte. Pascal

Aquele que não viaja não conhece o valor dos homens.
Provérbio mourisco

Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Álvaro de Campos

O grande poeta mexicano Octavio Paz, a propósito da morte do filósofo francês Jean Paul Sartre, escreveu algo como “Sartre era uma mau viajante porque tinha muitas opiniões.” Para não incorrer em injustiça com o poeta e o filósofo, citando o primeiro fora de contexto, fiquemos com a idéia geral, perfeitamente aplicável aos estrangeiros que desembarcam nos lugares já sabedores do que encontrarão. Melhor fariam se não viajassem e, saciados de conhecimento prévio, grávidos de certeza, restassem refestelados em suas poltronas em frente a televisão ou, no caso dos intelectualmente mais aparelhados, protegidas por paredes repletas de livros, a maneira de Peter Klein, o iminente neurastênico forjado pelo escritor búlgaro, Elias Canetti em seu Auto da Fé.

O mundo anda repleto de opiniões e, como corolário, de gente que não se admira de nada. Já tem algum tempo que “a surpresa passa por nós sem surpresa”. Esse modo de ser seria inofensivo se a arrogância que lhe é embutida fosse limitada aos indivíduos. Mas, como qualquer um sabe, não é bem assim que funciona. A tendência gregária do ser humano leva-o a se juntar em grupos de dimensão e qualidade variável, coletivos mais ou menos coesos e constituídos pelos motivos mais díspares, frequentemente sobrepostos, e que pode ser resumido no leque que vai dos afetos ao compartilhamento de uma mesma língua. Pessoas, nações e culturas, sabemos, podem ser arrogantes a ponto de presumir que os outros devam se identificar com seus preceitos, mesmo que à força. E suas múltiplas instituições, a começar pela família, estendendo-se às escolas voltadas ao ensino fundamental, são sistemas de transmissão e produção de opiniões. São tantos os portadores de verdades que admira quem ainda creia que elas existam.

Convite à viagem, exposição que encerra a 5a. edição do Projeto Rumos Visuais, nasce, como todas as outras que a antecederam, de viagens pelo Brasil. Nasce, portanto, do puro e legítimo interesse de lançar ao desconhecido, conhecer pessoas e lugares; o mesmo desejo enunciado com precisão por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico: Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Como nas outras edições, doze curadores/viajantes saíram de carro, ônibus, barco, avião rumo a destinos variados, de norte a sul, leste a oeste do país, buscando conhecer artistas, essa classe especial de gente que se ocupa em abrir outras fronteiras que não as geográficas, as fronteiras da expressão, da sensibilidade, do ser. Os doze viajaram ao longo de vários meses do ano passado, conhecendo, admirando-se, surpreendendo-se e também escrevendo, desenhando, fotografando e gravando pessoas e situações. Além de conhecer artistas, seu objetivo também era estimulá-los a se inscreverem num processo – Projeto Rumos Visuais -, capaz de divulgar suas obras numa amplitude muito maior do que os lugares onde vivem. Centenas responderam ao convite. Quarenta e cinco deles estão aqui. É a nossa vez de convidá-lo a viajar pelos caminhos poéticos de cada um.

Posted by Patricia Canetti at 9:08 PM

março 5, 2013

A cegueira e a névoa por Felipe Scovino

A cegueira e a névoa

FELIPE SCOVINO

Jimson Vilela - Falsa Aparência, Galeria Progetti, Rio de Janeiro, RJ - 12/03/2013 a 27/04/2013

Em um mundo regido pelo excesso, a obra de Jimson Vilela corre contra este fato. Mesmo quando ela investe em uma espécie de inchaço (como em Névoa, 2012-13), o artista recorre a um repertório que se caracteriza pela suavidade e delicadeza. Dois fios parecem tecer a exposição simultaneamente: um processo de desaparição ou invisibilidade da imagem e outro de uma cegueira que se anuncia lentamente. Voltarei a esses dois pontos mais a frente. Ademais, a exposição é dividida em duas partes que se completam integralmente. Se no andar superior, Névoa preenche todos os espaços da sala de uma forma arrebatadora fazendo com que o espectador se sinta imerso pela incompreensão, em um estado de deriva, no primeiro andar os intervalos entre as obras são mais generosos. Há uma suavidade pairando naquela atmosfera, enquanto Névoa redimensiona o espaço da galeria e sua potência vibrátil faz com que a sala ganhe forma, volume, dobras, ao mesmo tempo em que condiciona uma formação incessante de novas paisagens.

Título Oculto (Homenagem a Lygia Clark) (2012-13) é um livro sem palavras. Suas páginas em branco, sua forma e estrutura são convertidas na fita de Moebius, uma imagem muito singular para a arte brasileira na sua passagem do moderno ao contemporâneo. Essa história começa em Max Bill (Unidade Tripartida na I Bienal de São Paulo), segue como um norte para os concretistas e neoconcretistas e chega a uma espécie de maturidade fenomenológica (entendam essa expressão como uma licença poética) na obra de Oiticica (especialmente os Parangolés) mas fundamentalmente em Lygia Clark. A estrutura sem avesso, o dentro é o fora e uma forma contínua e flexível (no caso de Clark e dessa obra de Jimson) que a todo momento revela uma forma simultaneamente aberta e fechada. Sendo um livro, Título Oculto é uma ficção, porque sua vitalidade está no acontecimento, na criação de fábulas, no perpétuo desejo de descobrir ou revelar o inesperado ou como o artista aqui intitula: o oculto. A falta da palavra (mais um exemplo ou elemento desse estado alegórico da cegueira que Jimson opera e que é tão caro a Lygia Clark se pensarmos em obras como Máscara Abismo, Máscaras Sensoriais, Canibalismo ou O Eu e o Tu: série roupa-corpo-roupa nas quais a visão é impedida por uma faixa de tecido ou um capacete) não impede a fabricação da ficção. Situação similar ocorre em Introspecção (2012-13). Uma obra que figura entre a falência (sugerida no acúmulo de restos e vazios, um depositário de supostos “nadas”) e a travessura ou um certo dado jocoso, acentuado pelas distintas alturas em que os livros estão dispostos. O que está ausente nessas duas obras está presente em Vínculo (2012-13). Nele, as palavras não explicam nem constroem um sentido literal. Enquanto forma, são fitas que criam estruturas livres e abertas, remetem a um entrelaçamento como se vários rios estivessem se encontrando. A referência a Guimarães Rosa se revela como uma celebração ao mesmo tempo em que Jimson exibe um estado latente da “função” da arte: a sua condição como enigma. Não apenas as distintas condições de leitura da “verdade” que aquela obra (supostamente) possui mas também uma impossibilidade de seguir adiante e de compreender o que está diante de nós. Aqui está o ponto nodal. A arte coloca-se como um meio de se lidar com as diferenças e substancialmente conviver e compreender o outro em um mundo repleto de erros, desacertos e incongruências. Essa imagem simbólica se faz presente nessas obras. É o que se coloca também em Falsa aparência (2012-13). A foto de parte de uma página de um livro sobre a história de Goiânia nos revela esse desvio ou incongruência. O corte abrupto sobre papel torna aparente o desenho de montanhas. Em uma cidade árida, seca e planejada surge a natureza, quase como um oásis ou a revelação de um elemento arqueológico.

O mencionado dado vibrátil de Névoa está diretamente ligado a sua estrutura (grid) e como o artista dialoga com referências tão distintas que variam da escrita ao minimalismo. O grid cubista no início do século XX, seguida pelas vanguardas construtivas permitiu uma relação espacial inteiramente nova na pintura com a conquista da planaridade. “A convicção de que as pessoas podem expandir os espaços infinitamente – através de um traçado em grade – é o primeiro passo, geograficamente, de neutralizar o valor de qualquer espaço específico.”(1) Por outro lado, Névoa a uma certa distância, quando já não conseguimos mais identificar as palavras contidas na obra, revela outras condições: sua estrutura que opera entre cheios e vazios, preenchimentos e desaparições (mais um estado para a aparição da ideia de cegueira), marcas do tempo e territórios. O grid também se anuncia como fronteira: a borda amarronzada, resultante da passagem do tempo, cria uma espécie de moldura natural para aquela pintura/livro. Através de gestos mínimos e de uma economia precisa, Jimson possibilita que o tempo ganhe forma e se estabeleça como visibilidade e território. Aqui se anuncia outro dado constante na obra de Jimson: como o espectador se transforma em leitor e vice-versa, e portanto como esses dois estados são inseparáveis. Se a suavidade foi um tema bastante caro no térreo, aqui ela se coloca no modo como o artista organizou a disposição dos módulos. As páginas foram alocadas em grupos de acordo com a sua tonalidade ou aparição desse elemento simbolizado como névoa. Nesta situação de um denso nevoeiro surge um embate entre a verdade disposta no significado da palavra, que por sua vez passa a lidar com a imagem do apagamento, versus a sua própria permanência (esse pensamento pode ser deslocado para a própria função ou continuidade do livro enquanto suporte de papel na contemporaneidade visto as novas tecnologias que cada vez mais se direcionam para a expansão do livro virtual). Para além do lugar de dúvida que essa obra se coloca (seria um livro, pintura ou instalação?), Névoa também revela o gesto ou a “mão” do autor. Ainda estabelecendo pontos de contato com o minimalismo, se nas obras de Sol LeWitt e Agnes Martin uma investigação mais atenta revela as linhas tortas daqueles grids, em Jimson as linhas sequenciais formadas pelas páginas do dicionário mostram-se irregulares e repletas de subjetividade e poesia.

1 SENNET, Richard. The Conscience of the Eye. Londres: Faber and Faber, 1990


Biografia do artista:
Jimson Vilela (Rio de Janeiro, 1987). Vive e trabalha entre SP e RJ.
Bacharel em Artes Visuais (IART/UERJ, 2010). Desde 2008 desenvolve trabalhos em diversas mídias tendo como principal foco de interesse as relações entre o texto e o corpo a partir do cruzamento entre os conceitos de realidade e ficção. Entre suas principais exposições destacam-se as individuais Cambio (Nuevo Museo Energía Arte Contemporáneo, 2012) e Laboratório (Fundação Cultural de Criciúma, 2011), as coletivas Convite à viagem (Rumos Itaú Cultural, 2012), 7ª Bienal Internacional da Bolívia (SIART, 2011) e a 5ª Bienal Internacional do VentoSul (Cinemateca de Curitiba, 2009). Possui trabalhos em coleções públicas como MAC Niterói, MoMA NY e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 2012, participou de residência junto ao Museu de Arte Nuevo Energía de Arte Contemporáneo, Buenos Aires - Argentina. No Brasil é premiado com a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2012.

Posted by Patricia Canetti at 3:25 PM