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março 14, 2011

Matéria despedaçada e reconstruída - Texto de Mario Gioia sobre a exposição de Newman Schutze na Sala Recife

Matéria despedaçada e reconstruída

Newman Schutze é um artista de gestos largos e falar alto. Seu 1,87 m de altura é vertido claramente para uma obra de grande fisicalidade. Não à toa, o desenho principal que ocupa agora uma das paredes da Sala Recife mede cerca de 5 m x 1,5 m, acompanhado, à frente, de sete outros, cada um com dimensões de 0,7 m x 0,5 m.

Os grandes tamanhos também estiveram presentes na formação plástica do artista nascido em Adamantina, interiorana cidade do Estado de São Paulo. Uma das fortes lembranças de Schutze, pouco antes dele abraçar a carreira, são as amplas e ambiciosas peças do alemão Anselm Kiefer na 19ª Bienal de São Paulo, em 1987, como Paleta de Asas e Mesopotâmia.

Se a pintura deu as cartas na versão mais conhecida da história da geração 80, a materialidade das telas seduziu o olhar de Schutze. Não apenas a dos jovens, à época, do Casa7, mas a de nomes recuperados naqueles anos, como o gaúcho Iberê Camargo (1914-1994). “Me impressionava aquela crosta de tinta”, afirma o artista paulista.

No entanto, como bem aponta Aracy Amaral em texto de 1991, o legado geracional foi se transformando nos anos seguintes. “O caminho da ascese foi percorrido por alguns jovens depois de 85. É exemplar o caso de Nuno Ramos, que, abandonando por um momento o expressionismo gestual, realiza uma espécie de 'serviço militar' pelo reducionismo mais radical, em construções com madeira e cal. Em seguida, retornaria à pintura, de densa matéria, em verdadeiro corpo a corpo com o suporte, sobrepondo os mais diversos materiais industrializados em visualidade agressiva.”1

Esse lidar dúbio com os meios plásticos que ora resultam em trabalhos mais limpos, ora em amálgamas visuais complexos, parece permear trupes de artistas que sedimentam sua produção em anos posteriores.

Schutze, ativo desde o final dos anos 80, trafega pela pintura construindo formas regulares e em módulos, com uma paleta restrita de cores preferidas. A utilização de um rodo é fulcral na composição de seus desenhos, hoje exibidos na sala expositiva recifense, resultantes de vigorosa ação do artista sobre a superfície do papel, usando água e nanquim. “Importa que o movimento seja definido de modo quase exato, uma única proposicão, ainda que se possa dar a liberdade de criar ressonâncias, rupturas, e aí resta apenas que eu o execute”, salienta o artista. “(...) O desenho como significante de uma ausência, o desenho como fantasma”, como destaca Carlos Fajardo a respeito de mostra de Schutze no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis, no ano de 2005.

Yve-Alain Bois, ao comentar as pinturas de Robert Ryman, “extremamente anti-ilusionistas e totalmente literais”2, disserta sobre a dificuldade em escrever sobre tal produção. “Eu diria que Ryman tentou pintar que ele pinta que ele pinta; que ele sempre quis, por um intermédio de reflexão, passar ao largo da reflexividade tautológica na qual o modernismo se enredou.

Além disso, seu êxito não se deve ao fato de ele ter alcançado aquela reflexividade literalmente inimaginável, mas ao fato de que cada fracasso em sua tentativa ousada o afasta mais de seu objeto, levando-o a criar objetos cada vez mais enigmáticos e indefiníveis.”3

Na busca rotineira de uma poética própria, freqüentando todos os dias o ateliê assobradado e de confortáveis dimensões em rua de paralelepípedos na Vila Mariana, Schutze questiona a representação, esgarça os limites dos materiais e serializa procedimentos. Instiga saber que o artista paulista começa a desenvolver objetos escultóricos, nos quais a ação de desbastar a fisicalidade de modulares blocos de concreto celular fará eco aos basilares desenhos e às pinturas que respiram regularidade. Como Ad Reinhardt (1913-1967) frisara em famoso texto de 1962, que funciona para refletirmos sobre suas “pinturas negras”: “A única coisa a dizer sobre a arte é que é uma coisa. A arte é arte-como-arte e tudo o resto é tudo o resto. A arte-como-arte não é nada mais do que arte. A arte não é o que não é arte”.4

1. CHAIMOVICH, Felipe (org.). 2080. MAM-SP, São Paulo, 2003, p. 22

2. BOIS, Yve-Alain. A Pintura como Modelo. Martins Fontes, São Paulo, 2009, p. 259

3. BOIS, idem, p. 269 e 270

4. HESS, Barbara. Expressionismo Abstracto. Taschen, Colônia, 2005, p. 92

Mario Gioia

Graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), foi o curador, em 2010, de Incompletudes (galeria Virgilio) e Mediações (galeria Motor), além de ter feit acompanhamento crítico de Ateliê Fidalga no Paço das Artes. Em 2009, fez as curadorias de Obra Menor (Ateliê 397) e Lugar Sim e Não (galeria Eduardo Fernandes). Foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura no caderno Ilustrada, no jornal Folha de S.Paulo, de 2005 a 2009, e atualmente colabora para diversos veículos, como as revistas Bravo e Trópico e o portal UOL, além da revista hispano-portuguesa Dardo. É coautor de Roberto Mícoli (Bei Editora) e faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 2:48 PM