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novembro 19, 2010

Pequena história das técnicas por Paula Alzugaray

Com esse titulo, rendemos homenagem à Pequena história da fotografia, em que Walter Benjamin analisa a geração de transição entre a pintura e a fotografia . No texto, de 1931, o autor observa que, ao surgirem como peças únicas em meados do século 19, as primeiras fotografias se introduzem com o mesmo conceito fetichista e “fundamentalmente antitécnico” que, na época, justificava a pintura. As correspondências mútuas que ocorreram, então, nas relações entre a fotografia pré-industrial e a pintura, são perfeitamente reaplicáveis aos atuais processos de transferência, influência e renovação mútuos que ocorrem entre mídias – sejam analógicas, digitais, eletrônicas, impressas, têxteis ou informacionais. A diferença é que, hoje, era de reprodutibilidade técnica pós-industrial, invertem-se os conceitos: agora é a fotografia, a gravura e as técnicas de reprodução que emprestam sua condição serial à pintura, à escultura e a quaisquer outras mídias que tradicionalmente produziram obras originais.

Assim, ao apresentar um conjunto de edições limitadas e de obras originais realizadas por 18 artistas britânicos em atividade hoje, Fast Forward constitui-se em um expressivo panorama da reprodutibilidade técnica contemporânea. Nesta “pequena história das técnicas”, que se organiza informalmente no percurso da exposição, a tapeçaria é a mais antiga das mídias. Em tiragem de 12 cópias, “The Walthamstow tapestry”, do artista britânico Grayson Perry, representa as sete idades do homem, do nascimento à morte, invadidas por logomarcas de toda espécie envolvendo desde o periódico The Guardian ao banco HSBC. Perry apropria-se de uma técnica milenar – favorecida pelo desenvolvimento das tecnologias têxteis – com o objetivo de produzir um retrato crítico da realidade contemporânea. Entre as fases de crescimento, distribuem-se sinais controversos dos tempos: um homem-bomba preparando-se para a sua própria detonação e muito lixo industrial espalhado por uma obra de grande porte (12m x 3m), cujo titulo é uma homenagem declarada à cidade de Walthamstow, onde Grayson Perry mantém ateliê, e na qual nasceu William Morris.

A evocação – mesmo que discreta, subliminar – do fundador do movimento das artes e ofícios britânico é bastante significativa para um pensamento que possa se materializar a partir desta exposição. A remissão a William Morris, aqui, não se faz tão e somente em Grayson Perry ou na voluptuosidade das flores da série “Six moments of sunrise”, de Marc Quinn. Empenhado na democratização do belo, Morris demarcou sempre a oposição entre desenho industrial e manufatura, gesto e produção maquínica na elaboração da obra de arte. Essas questões são atualizadas no tempo presente por artistas que elaboram em seus trabalhos as tensões existentes entre controle e acaso, original e cópia. Esse é o caso do procedimento técnico de Ian Devenport, que combina o derramamento de tintas com a precisão da impressão a jato de tinta ou da série “Memento”, de Damien Hirst, formada por obras em jato de tinta pintadas à mão. Para Davenport, que constrói suas imagens a partir da ação da gravidade sobre as tintas, o desafio é ter “controle sobre o incontrolável”.

Ao mesmo tempo em que expõe séries de outras obras resultantes da combinação entre gesto e alta tecnologia, Fast Forward favorece a reflexão sobre como as mídias se retroalimentam e se reinventam entre si, em processos de reproduções e re-mediações. Da tapeçaria à animação digital, da pintura ao neon, passando pela serigrafia e pela monografia, o profícuo network de mídias presentes no espaço expositivo pode ser lido à luz do conceito de re-mediação (remediation), de Jay Bolter e Richard Grusin, que argumenta sobre a continuidade das novas mídias em relação às mídias passadas – pintura, fotografia, cinema, televisão .

Os processos de re-mediação, no entanto, nem sempre começam com as mídias digitais. A fotografia pré-industrial foi um processo de re-mediação da pintura e o cinema remeteu-se ao teatro para a elaboração de sua linguagem. Podemos inclusive considerar que as atuais caves de realidade virtual, ou instalações interativas, são re-mediações dos panoramas oitocentistas e seu sistema imersivo primitivo. Muito antes, em plena Idade Média, quando a tapeçaria já se configurava como uma peça de design sofisticado, ela envolvia um processo de re-mediação do desenho e da pintura para o campo da composição têxtil.

Re-mediação não é substituição ou superação, portanto. É soma, variação, sobreposição, transitoriedade de um meio a outro. É o que acontece quando Michael Craig-Martin se apropria de uma pintura de Piero de La Francesca, do século 15, reescrevendo-a como animação computadorizada ou quando Julian Opie fotografa os barcos do Lago Motosu, com o Monte Fuji ao fundo, e manipula digitalmente essa imagem, reduzindo seus detalhes a um mínimo essencial, chegando a uma forma final simplificada que será impressa em 3D lenticulares. Ao abordar um assunto recorrente da tradição pictórica japonesa − a paisagem −, utilizando-se para isso de uma tecnologia contemporânea, Opie faz jus à fama de pressionar os limites das práticas artísticas tradicionais.

Se Benjamin analisou a transição da pintura à fotografia, atualmente vivenciamos movimentos não apenas prospectivos, mas também retroativos. Isso pode ser visto na forma com que Richard Gelpin desconstrói suas fotografias em delicadas filigranas, transportando-as a um estado de manualidade pré-industrial. Em “Crowd formations I”, edição de cinco fotografias, Gelpin alcança com estas o estatuto do desenho.
Fast Forward se configura, portanto, como uma plataforma de observação desses trânsitos midiáticos. Nesta plataforma são visíveis não apenas as maneiras com que as novas mídias renovam as técnicas que lhes precedem, mas também as formas com que as mídias tradicionais renovam a si mesmas, em resposta aos novos desafios. Esse é o caso da pintura acrílica sobre tela de Gerard Hemsworth, que apesar de tratar-se de obra original, tem o universo gráfico e serial como uma clara referência. Hemsworth é dono de uma pintura diagramática que, muitas vezes, ainda pode ser fotografada e reproduzida em prints. É também o caso das esculturas em bronze e aço inox de Tony Cragg, obras monumentais despidas do fetiche da peça única.

Da linha do tempo de Grayson Perry às edições de miniaturas de louças chinesas de Rachel Whiteread, do orgânico ao industrial, do ancestral ao hi-tech, anuncia-se aqui uma ampla genealogia de experimentações técnicas. Um cuidadoso olhar sobre a mostra atesta, sem dúvida, que nenhuma mídia se expressa isoladamente em relação à outra e que a história das técnicas é uma história de cruzamentos estéticos.

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¹ BENJAMIN, Walter. “Pequena história da fotografia”. In: Magia e técnica, arte e política – Ensaios sobre literatura e história da cultura – Obras escolhidas vol 1. São Paulo: Brasiliense, 1996.

² BOLTER, David e GRUSIN, Richard. Remediation – Understanding New Media. Cambridge: The MIT Press, 2000.

Posted by Marília Sales at 2:57 PM