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setembro 24, 2018

Raul Mourão: Fora/Dentro por Isabel Sanson Portella

FORA / DENTRO

As cidades, como os sonhos,
são construídas por desejos e medos,
ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto,
que as suas regras sejam absurdas,
as suas perspectivas enganosas,
e que todas as coisas escondam uma outra coisa.

Italo Calvino – Cidades Invisíveis

A vasta obra de Raul Mourão transita por esculturas, objetos, fotografias, vídeos e outras formas de arte inspiradas na cidade e na vida urbana. A tensão entre o caos e a geometria incorpora-se de modo relevante às suas criações. Procuramos o peso nas esculturas cinéticas de aço corten e encontramos a leveza do movimento. Descobrimos as linhas retas e os muitos ângulos, mas o que atrai são justamente os espaços vazios, a luz que permeia e as inúmeras sombras. As formas monumentais surpreendem enquanto que as miniaturas enternecem. Umas são para grandes espaços, para respirar a liberdade sem limites, para levar o olhar do espectador para o alto e impressionar pela imensidão e volume. Outras são para ficar aconchegadas, para serem observadas com cuidados especiais. São mais delicadas e precisam da proteção de quatro paredes. Umas para fora, outras para dentro.

Na exposição Fora/Dentro as obras de Raul Mourão podem ser vistas nos jardins do Palácio e na Galeria do Lago. São tantas as associações propostas por Mourão que é impossível ver grades e não pensar em risco, ver as janelas que se sobrepõem e esquecer a paisagem recortada, o chão e as paredes. O equilíbrio acalma o olhar enquanto o movimento, tão suave e ritmado, parece improvável. E é justamente um pequeno toque que balança as estruturas de aço. Um toque da mão de qualquer pessoa que procure mais do que a simples contemplação da obra, que queira participar completando o trabalho do artista. Se observarmos com atenção as obras aprenderemos a ler os espaços e poderemos perceber o que se oculta no labirinto das ausências. Mise en abyme é o termo francês proposto por André Gide em 1893 para falar de narrativas que contêm outras narrativas dentro de si. As esculturas em aço apresentadas pelo artista ao ar livre contêm rigidez e movimento, mas contam também de segurança e contenção. Em cada obra os opostos têm voz e seguem narrando continuamente suas histórias, de outras histórias, de outras histórias. Como as miniaturas das obras expostas dentro da Galeria, em uma estante que é também objeto de arte contendo arte, mostrando e criando arte.

O vídeo Bang-Bang fala de violência, de agressão, de quebra do equilíbrio e principalmente de fragilidade. A vida é frágil. A arte é passível de destruição. Um tiro anônimo estilhaça tanto quanto uma palavra, um gesto, um olhar. Depois do disparo só a poeira e os fragmentos. A bala ultrapassa a proteção, invade a suposta segurança e instaura o desequilíbrio gerando mais uma vez o medo. Onde havia harmonia, silêncios e delicadeza, a violência entra sem ser anunciada, num susto. Se à primeira observação o vídeo é impactante, as reflexões que se seguem deixarão marcas e motivos para voltar e voltar às imagens.

Na obra Seta Joaquim Selva, 21 fotografias ampliadas trazem os muros da cidade para o interior da Galeria. Os padrões gráficos, as setas vermelhas dos tapumes urbanos, que tanto interessaram ao artista, saíram das ruas para o ateliê, sofreram interferências do tempo e do homem num jogo de fora/dentro bastante enriquecedor. Descontextualizados, os grafismos são agora imagens que podem ser observadas sem as buzinas, fumaça dos carros e vozes dos passantes. A rua Joaquim Silva é Selva. As setas dirigem o olhar, em vermelho, em quantidade, indicando um caminho seguro para fora (ou quem sabe para dentro?) da Selva.

Percorrer os caminhos da obra de Raul Mourão é seguir o movimento, da criação ao nascimento, da concepção ao primeiro grito a céu aberto. Os riscos iniciais do desenho no papel já anunciavam a grandiosidade. E, lutando contra tantos desequilíbrios do cotidiano, com a força do aço e do fogo, vai driblando medos e sinalizando com as possibilidades que a arte permite. Hora dentro, hora fora!

Isabel Sanson Portella

Posted by Patricia Canetti at 2:23 PM