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agosto 25, 2004

Sobre Arte Contemporânea por Ivana Bentes

Sobre Arte Contemporânea

Ivana Bentes

Segue um resumo do que coloquei em discussão em uma lista de debate sobre os dogmas em torno da disputa do que deveria ser a arte contemporânea e a dificuldade de se aceitar estéticas plurais. Algumas dessas idéias são diretamente decorrentes da apresentação e desenvolvimento de uma intuição da necessidade de um "pós-contemporâneo", que apenas expressa o desejo de sair de posições maniqueista sobre arte. Idéia apresentada em vários artigos e entrevistas pelo Arthur Omar. Considero o debate relevante.

Autonomia da Imagem. Nenhuma imagem para ser impactante e perturbadora precisa do conceito de "arte", nem mesmo de "autoria" para ficar de pé sozinha. Uma imagem pode ter "autonomia', valer em si,fazendo ou não referência a um "tema".convencional (seja o Cristo pintado e desenhado dos pintores da Renascença à Salvador Dali e Picasso, sejam corações, favela, barracos, etc). Arte figurativa tem uma potência. Não é necessario desfocar, borrar, tremer a foto ou o quadro para "desconstruir" a imagem. Ela pode ser implodida de dentro da figura.

Questão do belo - A idéia de um "belo" que produz estranhamento e inquietação e não conformidade, a idéia de "figuração"que não se reduz a "representação", parece que são conceitos sofisticados demais para os grupos que trabalham com os "clichês" do que seria "arte contemporânea" ou que aplicam a grande idéia de "disjunção" de Deleuze (assimetria entre o ver e o ler) como se fosse uma cartilha ou um dogma.

Dai ficarem apavorados diante de uma imagem figurativa, isso independente da forma como uma imagem figurativa pode abrir para uma ilimitada produção de outros sentidos, abrir um dissenso. Como diria Godard, mesmo numa imagem figurativa, a representação pode ser esvaziada: "não é sangue, é vermelho".

Essa discussão é boa por outro motivo, Vemos grupos de artistas contemporâneos com uma visão estreita e dogmática de Arte, Criação e Resistência.. Se escondendo no conceito de "coletivo de arte" (nenhum coletivo de arte é apenas de "criação", o coletivo também produz ressentimento, "corporação", "grupos fechados se auto-celebrando e auto-referentes), se escondem na idéia de processo, de não-obra, toda obra tornada "produto' ou objeto perderia sua potência diriam; mostra a fragilidade dos grupos que se comprazem na rejeição infantil das "instituições", do "mercado de arte", ou de qualquer artista contemporâneo que se confronte com as forças do mercado: com a galeria, com a instituição, com o colecionador, com a mídia, com o curador. São essas relações duras, difíceis, penosas mesmo, que precisamos problematizar. Não demonizando, mas expondo e explicitando o que se passa ai, nessas relações ambiguas. Pois é preciso ter uma ética de artista muito grande pra não se dar mal nessas relações. Aqui se pode aprender muito mais sobre Resistência e Criação do que propagando regras de fora ou criando uma dinâmica de grupo fechado que se auto-legitima e se auto-celebra. Provincianismo e autismo de diferentes grupos de artistas, muito comum no Rio, em São Paulo, por ai, grupos que, estão disputando não apenas o discurso sobre o que é 'arte contemporãnera" ou arte de resistência, mas também disputando mercado.

Na pressa em identificar quem é ou não é "o artista-mesmo= artista da galera" esquecem de ler o lado B da cartilha deleuziana e foucaultiana, onde está a pergunta "como produzir uma arte potente e que possa fazer um deslocamento das questões da figuração, do belo, do deslumbramento, do espetáculo, sem abandonar essa potência da arte para a publicidade e para o mercado?"

Nós mesmos, interessados e implicados nessa discussão sobre o campo da arte contemporânea, devemos fazer esse debate, para não ficarmos refens de uma posição maniqueista que "resolve" a questão em termos de quem são os "inimigos" e quem são os "amigos" da arte contemporânea.

Esse texto é fruto de uma discussão da Lista da Revista Global. Esta revista pode ser comprada através da livraria on line do Canal Contemporâneo.

Ivana Bentes é pesquisadora de cinema, audiovisual e arte. Professora e coordenadora adjunta do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ, autora de Joaquim Pedro de Andrade: a revolução intimista (Ed. Relume Dumará. 1996) e organizadora de Glauber Rocha: Cartas ao Mundo (Companhia das Letras. 1997). É co-editora de Cinemais: revista de cinema e outras questões audiovisuais e Revista Global (ativismo, política e arte).

Posted by Patricia Canetti at 5:46 PM | Comentários(11)
Comments

Ivana, não li o que esta escrito na revista, mas este resumo é suficiente para estar profundamente grata a você, por ter colocado aqui estas questões que não só atormentam a mim, mas com certeza a muitos outros artistas.
A discussão é muito coerente e toca em pontos nos quais nem todo mundo quer tocar.
A estética plural.
A força e autonomia da imagem.
As possibilidades do figurativo.
Muito obrigada.

Posted by: Valentina at agosto 27, 2004 12:24 PM

Ivana,
Ótimas suas provocações. Aqui vai minha contribuição para o debate, extraída do texto que publiquei no catálogo da expsoição do Sued que se encontra no CCBB do Rio:
"E o que quer dizer contemporânea e autônoma? Será que tudo o que se faz hoje é contemporâneo, seria a história um eletroencefalograma plano, uma pasta homogênea amassada numa única temporalidade que se dilata orientada pelos ponteiros do relógio? Se assim fosse, não seria esse o tempo próprio das coisas e da vida animal se, numa ficção filosófica, a elas fosse dada a experiência do tempo? A forma é contemporânea porque traz para o presente a historicidade que lhe pertence. E esse trazer é o próprio fazer adequado à escala dos conflitos, das trocas, das regras de sociabilidade, da percepção que não podem mais ser os mesmos de um século atrás. A forma é autônoma em relação ao passado que provocou a sua produção."
Continuemos a discussão.

Posted by: Paulo Sergio at agosto 27, 2004 4:28 PM

Ivana e Paulo Sergio,

Aí vão algumas considerações às suas colocações.

Em relação aos coletivos de arte, podemos achar que lá alguma coisa se esconde, atrás do conceito de processo e não-obra, que não são conceitos tão novos assim, mas que ainda não encontram espaço nas instituições e nas galerias, se olharmos do ponto de vista das categorias anteriores. Como é possível afirmar que os coletivos estão de fora por uma espécie de autismo e que deles deveria vir a adaptação ao mercado, e não ao contrário? Não poderíamos chamar de provincianismo, a demanda insistente das instituições e do mercado por obras finitas e paupáveis?

Vou dar dois exemplos práticos. Do que adianta os salões apresentarem editais com uma categoria para “outros”, se o artista, ou grupo de artistas, é obrigado a inscrever 3 obras inéditas? Como adequar uma obra em processo a características herdadas de outros tempos? Em relação ao mercado, mesmo dispondo de mídias que se reproduzem ao infinito ainda vemos tiragens limitadíssimas para nos aproximar da obra única. A economia de nosso mercado é toda voltada para o passado ao invés de lidar com as características da economia contemporânea. No exterior, ainda vemos algumas mudanças de registro. As galerias passam a agenciar uma prestação de serviço e experimentam outros caminhos que não apenas a venda de produtos.

Acredito na pluralidade e diversidade como sendo riquezas fundamentais para a humanidade, conseqüentemente também para a arte. Para alimentá-las e usufruí-las é preciso respeitar as diferenças.

“A história como uma pasta homogênea numa única temporalidade”? Creio que a bagagem, que carregamos nos trabalhos de arte, demonstra o oposto. Cada trabalho de arte contém em si uma profusão de camadas de informação que o conectam a essa enorme rede que é a história da arte. Vejo a história em camadas heterogêneas, infinitas temporalidades que, conforme são reacessadas e retrabalhadas, se modificam constantemente mantendo suas informações vivas. Trazer a historicidade para o presente não é suficiente. É preciso contaminar o passado com o futuro para lermos o contemporâneo na obra.

E continua...

Posted by: Patricia Canetti at agosto 31, 2004 9:53 AM

Me utilizo aqui da idéia que lança Sant'Anna, eu prefiro me afirmar numa crítica construtiva e libertadora(sobre o que produzo e o que percebo) do que simplesmente ficar como uma débil mental a aceitar tudo o que me passam como arte. Não dá. Precisamos realmente repensar esse processo de definições, ou, ao menos, tentar produzir não apenas para o mercado contemporâneo, mas por nós mesmos, por nossa criação.

Posted by: Flávia Pedrosa at setembro 1, 2004 9:35 AM

Prezada Patrícia,
Essa minha experiência com o tal do blog já se anuncia como um poço de mal-entendidos. Pensei que quando comparei a história com uma pasta homogênea, seria logo identificado: eu estava me referindo àqueles que se recusam a ver as milhares de camadas que atuam no presente para formar o que viria a ser chamado de contemporâneo. Diga-se de passagem, a visão da história em camadas para se entender o presente há muitos anos tem sido a primeira aula de todos os meus cursos, para evitar um historicismo prosaico e banal que empurra uma certa visão genética para dentro das história do homem e, em particular, para a história da arte. Afinal a historicidade não é nada mais nada menos do que a ação dessas camadas no presente. Camadas que atuam no social, no econômico, no político, no ambiental, no lingüístico, no psicológico e no biológico. A historiciade é que diferencia o homem de uma barata, por exemplo. Por isso mesmo, comparei essa experiência do tempo homogêneo como uma pasta amassada com uma ficção filosófica: se uma pedra ou uma mosca tivessem uma experiência do tempo, talvez fosse esta a experiência de tempo que elas teriam - uma pasta homogênea que se espalha ao sabor de Cronos. Quem decide se é suficiente ou não trazer a historicidade para o presente não é nenhum sujeito. A historicidade se faz presente no dedo que falta no presidente - vítima de um acidente de trabalho - como numa obra de arte medíocre ou de talento, quer o artista queira ou não queira. Numa estará a historicidade se revelando pela debilidade, noutra pela potência poética. O velho Marx deve ser lembrado; o que ele dizia, logo no primeiro livro de "O Capital", sobre os operários é plenamente válido para os artistas: "Eles fazem mas não o sabem." Eu acrescentaria apenas: alguns sabem, e são muito poucos.

Posted by: Paulo Sergio at setembro 1, 2004 8:53 PM

Oi Paulo Sergio,
Te escrevo de Linz, Áustria, aonde vim parar patrocinada pelo Nokiatrends para acompanhar o Ars Electronica.
O mal entendido no blog não é diferente dos mals entendidos que se dão por aí. Problemas da comunicação.
Achei que de qualquer maneira faltava a camada do futuro a ser adicionada ao contemporâneo. Creio que essa é uma diferença fundamental entre artistas e historiadores. Vivemos igualmente o presente, chafurdando no passado, mas nós, artistas, com o olho no futuro.

Posted by: Patricia Canetti at setembro 3, 2004 4:53 PM

O que é arte? e o que não é arte? Quem são os coletivos? E quem quer tomar um sorvete comigo?

Posted by: José da Costa at setembro 5, 2004 9:50 PM

é um equivoco achar que o historiador não está de olho no futuro.. a visão que temos do passado no presente é a expressão de um futuro.. que se passa no presente.. o futuro expresso na esperança e do medo.

Posted by: kellie at setembro 27, 2004 7:13 PM

Ótima matéria sobre artista contemporâneo de Recife:

http://www.cyberartes.com.br/indexFramed.asp?pagina=indexArtista.asp&edicao=371

Posted by: Sthella at dezembro 13, 2008 8:16 PM

O blog ta muito bacana,Parabéns!

Gostaria de aproveitar o espaço para divulgar o meu blog também.

www.lucastrey.blogspot.com

sou artista plastico e tenho lá algumas amostras do meu trabalho.

Mais uma vez parabéns!

Lucas Strey

Posted by: lucas strey at fevereiro 9, 2009 4:20 PM

o terceiro olho dos artistas é mais aproveitador do que o dos historiadores.

Posted by: leonardo reale at março 25, 2010 8:04 PM
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