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março 26, 2006

Uma geração em busca de sua "Merzbau" [top 10 da ARTnews - parte 2], por Juliana Monachesi

Phoebe Washburn.JPG

Dando prosseguimento às traduções dos ensaios da edição de fevereiro da revista ARTnews que propõem mapear dez tendências na arte contemporânea, segue o artigo de Jori Finkel, correspondente da ARTnews em Los Angeles, sobre uma suposta atualização de Kurt Schwitters em obras de artistas trabalhando com instalações obsessivas, acumulativas e esparramadas (1).

Salões de Recusados
JORI FINKEL
da ARTnews

Ultimamente parece que as instalações estão tomando conta das galerias de costa a costa. No ano passado, por exemplo, Sarah Sze transformou a galeria nova-iorquina Marianne Boesky em uma vertiginosa galáxia de objetos encontrados, de fitas métricas e cabos de extensão a taças de isopor e gaiolas. Ali perto, na galeria Taxter & Spengemann, Charlotte Becket construiu uma montanha de lixo compactado que incluía CDs, caixas de papelão, garrafas de Gatorade e latas de cerveja -em suma, "qualquer coisa deixada no meu estúdio ao final do dia", ela diz. E Phoebe Washburn passou o último verão em Los Angeles construindo duas imensas instalações a partir de montes de tapumes, lápis e stickers. Sua instalação It Has no Secret Surprise no lobby do Hammer Museum, na Universidade de Califórnia, Los Angeles, se parecia com uma favela jogada contra uma parede por um tornado; It Makes for My Billionaire Status [imagem acima] na galeria Kantor/Feuer juntou grama e plantas caseiras em caixas a uma topografia vagamente urbana. Do outro lado do Atlântico, no Kunsthallen Brandts em Odense, Dinamarca, a hábil construtora Jessica Stockholder completou recentemente uma obra que faz uso de estufas (sem plantas), bandejas de folha de alumínio e luzes fluorescentes [a exposição no Centro Brandts de Arte era formada pelas instalações White Light laid Frozen (imagem abaixo) e Bright Longing and Soggy up the Hill (2)].

Sem que isso constitua uma preparação para criar um movimento, estes artistas estão desenvolvendo uma linhagem particular de obsessiva, acumulativa e esparramada installation art. É um tipo de arte que é difícil de construir e muito mais desafiante colecionar. (Uma pequena escultura de montar na parede feita por Becket pode ser adquirida por US$ 3.000, enquanto uma instalação de Sze construída nas medidas de uma sala vai custar US$ 400 mil.) É o tipo de arte que aspira ao tamanho e escala da arquitetura, no espírito da Merzbau de Kurt Schwitters.

O dadaísta baseado em Hannover cunhou a palavra Merzbau a partir dos termos alemães para comércio e construção. Ele a usava para se referir à gesamtkunstwerk, ou à "obra de arte total" que ele começara a construir em sua casa no início dos anos 1920. Expandindo-se constantemente até que o artista fugiu de seu país em 1937, essa colagem tridimensional cresceu de parede a parede e do chão ao teto, formando o que Schwitters chamava de "grutas" e "cavernas" até por fim ir empurrar o telhado. Ela cresceu também no sentido de incluir pinturas, assemblages, frascos de fluidos corporais e uma variedade de objetos encontrados. Quando [a artista alemã que fazia fotomontagens dadaístas (3)] Hannah Höch perdeu uma chave, ela foi parar na Merzbau.

A Merzbau original de Schwitters foi destruída por bombas dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, mas seu espírito vive hoje em instalações enigmáticas que tiram o maior proveito de objetos do dia-a-dia. "Artistas como Jessica e Sarah não estão criando grandes narrativas ou fazendo comentários analíticos sobre os ambientes construídos nos quais vivemos", afirma Lynne Cooke, que foi curadora da instalação de Jessica no New York Dia Center for the Arts em 1995. "Elas compartilham um impulso essencialmente poético e lírico."

Jessica Stockholder.jpg

Este impulso as diferencia de artistas europeus trabalhando com instalação tais como Thomas Hirschhorn, Jonathan Meese e Graham Hudson, que tendem a ter uma força narrativa mais acentuada. Hudson, por exemplo, fez recentemente uma réplica de um tanque Challenger do Exército britânico utilizando armários de cozinha imprestáveis. "Existe algo muito otimista no tipo de installation art sendo feita na América neste momento", acrescenta Gary Garrels, curador sênior no [museu] Hammer. "Obras de sua contraparte européia estão em uma fronteira muito mais política e também existencial."

Garrels rastreia a evolução da Merzbau contemporânea desde Schwitters passando pelos artistas da assemblage nos anos 1960, mais notavelmente Robert Rauschenberg, a quem ele descreve como "a figura chave" por seus combines [as famosas pinturas tridimensionais do artista pop norte-americano batizadas com o termo, que significa "combinações" (4)]. "Nós não deveríamos esquecer quão radical foi quando ele pegou os lençóis de sua cama em 1955 e os colocou na parede, ou quando pendurou aquele pneu em um bode." Outros predecessores, afirma ele, incluem o artista brasileiro Hélio Oiticica, que criou esculturas nas quais se podia adentrar chamadas Penetráveis inspiradas nas favelas do Rio de Janeiro, e o artista alemão Dieter Roth, que construiu seu Garden Sculpture (1968-96) acumulando "todo tipo de lixo" - o que incluía comida e dejetos humanos.

Para a geração de hoje, uma diferença é que objetos encontrados podem ser encontrados em uma loja que vende a varejo assim como em casa; objetos impessoais provam ser tão úteis quanto artefatos pessoais. "Nós estamos cercados por uma tal exibição de coisas feitas a tão baixo custo por pessoas em outro continente que isso modifica o que se torna disponível para nós como artistas", diz Stockholder. "Isso tem a ver com meu interesse por lâmpadas."

O ponto fraco de Becket, por sua vez, é o plástico, seja na forma de garrafas, canudos ou anéis de six-pack. Os materiais preferidos de Washburn são tábuas, jornal e papelão -"primos", ela os chama- que ela pode coletar nas ruas de Nova York para usar em massa.

Charlotte Becket.jpg

Em sendo assim, estes artistas consideram suas instalações uma forma de reciclagem? Washburn sim, até certo ponto, porque ela gosta de reutilizar materiais como tapumes de uma obra em outra. "Não é um trabalho que eu possa vender, mas eu posso destruí-lo e reutilizar suas partes", ela afirma. Ela inclusive recicla os parafusos que mantêm suas construções de pé. Becket [cuja instalação The Wishing Well (2004) pode ser vista na imagem a seguir], entretanto, não toma a idéia da reciclagem literalmente. "Eu seria uma completa hipócrita se dissesse que meu trabalho é ambientalmente seguro, considerando a quantidade de cola tóxica que utilizo", afirma. "Meu trabalho é realmente a respeito de tentar fazer alguma coisa a partir de quase nada."

Cooke chama os objetos de Stockholder "purpose-bought" [algo como "propositalmente comprado"], notando que "ela não procura objetos com a pátina do usado ou do vestido. A maior parte das coisas encontradas nas instalações de Jessica poderia ser achada em uma Home Depot (5), trate-se de uma máquina de lavar, iluminação ou cabos."

De fato, Stockholder, Sze, Washburn e Becket já foram todas descritas como exemplos de uma "estética Home Depot". Enquanto seus trabalhos diferem na forma, eles tendem a incorporar instrumentos de construção ou ferramentas. E a maioria das artistas teve uma experiência básica em construção ou marcenaria elas mesmas -o suficiente para saber como construir uma estrutura segura ainda que a Merzbau delas pareça instável ou sem prumo. O que levanta a questão: seriam seus trabalhos sátiras feministas da obsessão masculina pelos consertos da casa?

As artistas entrevistadas para este artigo não promovem ativamente esta leitura. Mas, como com o original de Schwitters, os novos monumentos Merzbau estão abertos para interpretações concorrentes. Estas instalações podem ser vistas tanto como um estranho tipo de arquitetura feita por artistas quanto como exemplos de artistas mulheres tomando ferramentas de poder em suas próprias mãos.

Tradução de Juliana Monachesi

NOTAS:
1. O pdf das duas páginas do ensaio de Jori Finkel pode ser visto no link: http://www.taxterandspengemann.com/press_becketARTnews.html
2. Nota da tradutora.
3. Nota da tradutora.
4. Nota da tradutora.
5. Rede de lojas norte-americana que vende ferramentas e instrumentos de
construção sob a sigla "faça você mesmo".

Posted by Juliana Monachesi at 3:54 AM