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junho 21, 2004

Luz sem luz

Adriano e Fernando Guimarães criam armadilha para os olhos na hiPer

Clique para ver a performance na instalação dos irmãos Guimarães

Caso você não consiga ver o vídeo, acesse a página www.realplayer.com, faça o download da versão gratuita e instale-a no seu computador.

JULIANA MONACHESI

O trabalho gira em torno da luz, unindo arte e teatro. Em Beckett, muitas vezes os grandes protagonistas eram a luz, os objetos, a respiração. Nesta obra de Adriano e Fernando Guimarães, a luz é o que determina a poética. Na parte externa de uma "casa" feita de tijolos aparentes, com acabamento tosco, foram construídas duas "caixas de performance", forradas com fórmica. Dentro das caixas existem fones de ouvido nos quais se ouvem definições de dicionário para a palavra luz. As instruções, elemento recorrente no trabalho dos artistas, plotadas nas caixas, determinam que quando a luz estiver acesa dentro da caixa, o performer deve correr e, quando apagada, deve permanecer parado em silêncio escutando o áudio.

Dentro da casa, na antecâmara, toda forrada com telas de aço inoxidável, quatro projetores com textos de Samuel Beckett têm sua luz refletida e diluída pela superfície espelhada. Os textos estão configurados sobre fundo preto com letra branca, fazendo com que, por vezes, a luz de uma letra cegue o espectador. Na sala do fundo, cinco monitores LCO mostram um mesmo personagem que abre uma janela virtual e percebe que, na medida em que a luz entra no ambiente, ele, personagem, é aniquilado por ela, uma vez que também ele é virtualidade, é pura luz. Ele fecha a janela enquanto uma outra se abre em outro monitor, para a qual ele se dirige em desespero, e assim começa uma batalha contra a extinção.

A instalação toda estabelece um jogo no qual a luz funciona como reguladora da ação. Este jogo nada mais é do que uma metáfora da vida. "O problema do ser humano é viver entre luz e escuridão, entre vida e morte, sempre tentando lutar contra a morte e o trágico, no que nenhum homem é bem-sucedido", diz Adriano, citando de memória uma frase de Beckett. Este embate se materializa na contraposição entre definições físicas e metafóricas da luz. A sintaxe científica pretende abarcar o fenômeno no que ele é, determinando-o, controlando-o. A sintaxe poética e artística possibilita que a palavra erre por sentidos diversos, até opostos, conferindo ao fenômeno seu caráter imponderável.

O fato de o invólucro do trabalho ser uma casa de tamanha concretude possui um caráter metafórico também: a primeira coisa que protege as pessoas da luz é a casa. Sobre a estrutura, construída no hall principal do Santander Cultural, outro texto em alto relevo pode ser visto do andar superior. As letras são grandes o bastante para serem lidas, mas pequenas o suficiente para dificultarem a leitura. Como no restante do jogo, aqui o espectador é convocado a se esforçar para apreender sentidos fugidios e, no limite, inalcançáveis.

A edição do vídeo do homem-luz fechando as janelas foi feita com a ajuda de uma especialista em animação, para sincronizar a passagem de um monitor a outro. Em montagem anterior do trabalho, no CCBB de Brasília, a sincronia era ainda mais refinada tecnicamente, uma vez que as cinco projeções não se interrompiam: de uma a outra a passagem tinha de ser perfeita porque o caminhar ou correr do personagem eram contínuos, em uma sala toda espelhada (com o mesmo material utilizado aqui na ante-sala) em que a figura aparecia em tamanho natural, assombrando o visitante.

Ali, o limite da obra era uma eclosão de luz que apagava as projeções e cegava o espectador. "O trabalho termina quando o público fecha os olhos. De novo, o corpo é o nosso primeiro regulador." Adriano se refere aqui a várias obras feitas em parceria com Fernando, em que os limites do corpo determinam o andamento das ações, como em "Respiração Embolada", em que os performers revezam-se em duas únicas ações: submergem o rosto em água ou entoam uma embolada, ritmo do Nordeste no qual não se fazem pausas entre as palavras.

Em outros trabalhos da série da respiração, o teste dos limites e o caráter patético das limitações e finitude humanas são experimentados de variadas maneiras. Em "Respiração -", uma performer fica dentro de um cubo de acrílico vedado por completo até não conseguir mais respirar. A dificuldade para respirar vai precipitando bolhas de água na superfície interna da caixa, de modo que, à medida que a respiração enfraquece, a figura vai desaparecendo. Em "Respiração +", dois performers submersos em caixas retangulares quase cheias d'água levantam a cabeça apenas quando não aguentam mais prender o ar, e têm que recitar textos técnicos sobre respiração enquanto estão fora da água. A fala cessa quando voltam a submergir.

Tem qualquer coisa de crueldade em tudo o que os irmãos Guimarães fazem, mas ela nada mais é do que um jogo que evidencia a condição ridícula do ser humano. Há também qualquer coisa de cômico nisso tudo.

Posted by Juliana Monachesi at 5:39 PM | Comentários(5)
Comments

Muito show!!!

Posted by: andrea at julho 21, 2004 4:29 PM

interessante e cansativo!

Posted by: Ana at julho 22, 2004 1:35 PM

SHOW!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Posted by: adorei!!!!!!!!!!!! at agosto 5, 2004 3:29 PM

Hurrruullll!
BAcana pakas!

Posted by: edu at agosto 16, 2004 4:30 PM

Tem que ter muita coragem para dar tudo certo, e mt coordenação

Posted by: tacio at agosto 18, 2004 3:36 PM
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