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outubro 14, 2005

Afinal, o que é um público de arte?

POR AMÉLIA COUTO

A arte contemporânea põe em xeque, entre outras coisas, o próprio público da arte. Expressões, performances, ações efêmeras que acontecem nas ruas, no espaço urbano, ao meu ver, destinam-se ao público comum, ao cidadão comum que desfruta do espaço urbano, ou seja, a todos sem exceção.

Quando a proposta é interferir no cotidiano dos "outros", seja de forma plástica no sentido mais romântico, no sentido conceitual da intervenção, seu público alvo é naturalmente o transeunte. Para assimilar a arte contemporânea é necessário também assimilar espaços e atitudes contemporâneas.

Três performances distintas em lugares próximos e momentos diferentes marcaram este 4º SPA no centro do Recife:

No primeiro momento, Clarissa Diniz caminhou pelas ruas pisando unicamente no seu tapete de grama, de pouco a pouco ela movia esse tapete formado por quadrados e, dessa forma, se locomovia tendo que se desviar de muitos obstáculos, o que tornava sua caminhada cada vez mais difícil e exaustiva. Em três horas, sem interrupção, ela percorreu sua jornada.

Apesar de não falar com ninguém, durante todo o percurso ela se comunicou com todos que a viram. Uns acharam que era promessa, outros, maluquice. Uns tentaram ajudar, outros interromperam seu caminho, porém todos foram contaminados com a sua idéia. Era óbvio que não se tratava de alguém daquele cotidiano. O objetivo foi alcançado. O que foi? Para quem foi? Não interessa. Todos foram tocados, de uma forma ou de outra.

No segundo momento, o coletivo Duplicidades lançou-se pelas ruas vendendo palavras, frases, com um trabalho intitulado "Molecular". Ao contrário da situação anterior, o propósito deste era a fala do artista com o público. Confundido, na maioria das vezes, com mais um entregador de papéis que propagam não se sabe o que nem pra quem, o artista percorreu a Ponte Duarte Coelho. Foram poucos os momentos de relação com o público, de interação, mas estes poucos momentos foram, de certa maneira, profundos. Uma senhora questionou o artista por vender palavras, alegando que as mesmas "têm que ser construídas, e não construir é a razão porque o Brasil está passando por essa crise política". No final ele jogou todas as frases no rio Capibaribe, mas o vento trouxe-as de volta para os seus pés. As palavras retornaram para o seu dono.

O terceiro momento foi marcado pelo trabalho do coletivo Pardiero.

Com uma proposta clara de intervenção urbana, um grupo de designers, junta-mente com uma cooperativa de catadores, fez cinco tipos de faixas a exemplo de: Eu cato porque você não separa, ou, ainda, Você vem sempre aqui? Eu venho. Anuncie aqui, Adote uma carroça. Estas frases foram postas nas carroças dos catadores - cata-dores - e foram para as ruas a partir das cinco horas da tarde, horário normal da coleta. Mais uma vez a comunicação se fez presente, só que agora as palavras nem foram faladas nem caladas, foram lidas por todos dentro do silêncio de cada um, do que cata, do que separa, do que não separa, do que não cata.

Catar, separar e reciclar tiveram ali um sentido bem maior. Quantas vezes o material reciclado voltará à mão do catador para nova reciclagem? Esse círculo vicioso terá fim? A cobra mordendo o seu próprio rabo - oruborus. Não vi como um trabalho engajado, muito menos assistencialista. Senti muito mais uma troca calorosa entre pessoas que pertencem àquele espaço urbano e, como tal, decidiram se unir para trocar experiências. Daí cada profissional fez sua proposta de intervenção. O coletivo Pardiero me parece muito interessante, pois convive com um lugar onde a paisagem é o próprio pardiero e, dessa forma, possibilita fazerem ações pontuais, contando ainda com vários projetos que estão serão desenvolvidos após o SPA.

O espaço expositivo deste grupo, sua galeria, é a rua ou o Bar da Laje. Um grupo com propostas provocativas, instigantes, mas com um sentido de plasticidade muito forte. Entre outros trabalhos eles pensam em interferir nos outdoors que marcam a imagética da cidade. A construção e a desconstrução são atitudes recorrentes desses artistas.

Acredito que eles definiram seu espectador, sua galeria urbana, seu público de arte de forma mais permanente, apesar das ações efêmeras.

Do meu ponto de vista, os três movimentos articulados por Clarissa Diniz, coletivo Duplicidades e coletivo Pardiero tomaram a palavra, sendo ela calada, dita e vendida ou em forma de faixas como ponto em comum e dessa forma conceitual fizeram, cada qual à sua maneira, sua poesia visual.

Respondendo a provocação: afinal, o que é público de arte? A meu ver é todo aquele que se contamina com a idéia do artista. O mesmo acontece com os painéis e esculturas públicas espalhadas por toda a cidade.

Não é indispensável ao público o conhecimento específico da arte para que ele se torne público da arte. Não devemos subestimar a sensibilidade do povo que reflete sua inteligência sempre que provocada.

Posted by at 10:13 PM | Comentários(5)
Comments

Navalha no Vale

ou

Com quantas bolhas gigantes se faz uma arte minúscula

O espaço da cidade. O espaço do museu. O museu-cidade. A cidade-museu. A arte e o sentido do espaço.

São Paulo viu na tarde do dia 19 de novembro durante a “Virada Cultural” o confronto entre a obra de arte e o espaço na qual foi inserida. Ou melhor, a indignação do artista diante da “deturpação pública” de conceitos pré-determinados, pois os fatos parecem comprovar que para Sônia Guggisberg a arte precisa se fechar no museu e nas galerias: os olhos sob grades, as mãos amarradas com linhas imaginárias de separação real. Por favor, não toquem.

A instalação denominada “Bolhas Gigantes” colocada no Vale do Anhangabau foi literalmente devorada pela cidade através das mãos, pernas, rostos, corpos, risadas e brincadeiras das crianças que, sem estarem tomadas (domadas?!) por critérios estéticos, censuras formais ou anseios contemporâneos, lançaram-se dentro daquilo que mais lhes parecia um pula-pula transparente recheado de ar e água.

A manipulação, dobra e torções, conceitos trabalhados pela artista durante 15 anos em seu atêlie, ganharam a dimensão pública, escorregaram para o Vale e foram acrescidas de torções da brincadeira, dobras da ingenuidade e manipulações de sentido durante seu percurso. Fez-se outra obra dentro da grande bolha São Paulo.

Não seria este fato uma grande coroação da arte e do artista, um elogio sem adjetivos coloquiais, a mais consistente apropriação da obra pelo público? Talvez sim, não fosse a confusão da própria artista.

Poucos segundos após se aproximar de sua bolha e verificar a usurpação, Sônia Guggisberg sacou uma navalha do bolso e de um só golpe rasgou sua obra para evitar maiores “constrangimentos” estéticos.

Crianças murcharam com a bolha minúscula.

A cidade perdeu. A arte perdeu. A artista talvez ganhe uma linha no jornal com seu nome em negrito. Na seção de óbitos de humanidade. E arte.

Posted by: edu moraes at novembro 22, 2005 1:41 PM

Qd a arte contemporânea interage dessa forma com os outro seres humanos que não conhecem a história da arte, mas que são humanos... e a partir dessa condição, eles sentem, pensam, associam, se encantam, fruem o ente q lhe é externo no momento.
Só q existe um diferencial entre esses grupos humanos, os que conhecem a historia da arte, quase sempre querem estar longe deste grupo oposto que nada sabe sobre historia da arte...e qd há essa interação(performance), o campo magnético deste trabalho(intervenção), ganha nova rotação, pois uniu-se ao Popular, na sua forma mais genuína, que é a condição de ser Povo. Eles curtem tudo isso tb, talvez até com mais entusiasmo. Mas, o que fica depois ?
Talvez a razão da diferença, estja nas abordagens aos focos da memória. Uma pessoa q entenda sobre "arte", vai lembrar dessa performance de forma mais rebuscada, já o popular, vai lembrar de uma forma mais "animadoresca", o fato.
Então...pensando assim...eu acho q para ser chamado de "público de arte", é preciso um pouco mais do que ser um transeunte que é surpreendido na rua por alguma pessoa que faz coisas estranhas ou lhe presenteiam uma palavra ou um sonho(pão).
Saudações

Posted by: augusto japiá at abril 25, 2006 2:29 AM

EDU MORAES
Concordo plenamente com vc...a obra desta pessoa ganhou um pique de vida que sequer a própria criadora tinha estimado.
Penso que as ações populares é que na verdade fazem o mundo girar e qd essa grande massa recebe uma obra de arte este qualidade, essa troca de energia gera ações novas fantásticas.
Penso até que o furar, gerou algo novo tb. Apesar de compartilhar da sua ideáia que a artista fez o que fez, para manter as coisas sob o "seu? controle".
saudações

Posted by: augusto japiá at abril 25, 2006 2:36 AM

Afinal, o que é um público de arte?

Acredito que para o consumo verdadeiro da arte,seu publico,nescessite de alguns conhecimentos especificos da propria historia da arte.
Acredito que o publico comum,seja na sua melhor forma,parte interativa,do movimento criativo,ou veiculo,para o verdadeiro consumo.
Como se fosse a aparicao de uma figura feminina,sorridente e calada,com roupa esquisita,na cartolina de tamanho,e especificacao do tecido,de uma calca de brim,muito vendida na periferia suburbana de qualquer pais....
A figura feminina,meio que distorcida,seria a "Mona Lisa" que viera como uma alegoria,meio que chula,para evidenciar a popularidade do referido produto.Partindo se da premissa que a Gioconda,de Leonardo,seja,o maior icone da Art Pop.Mas isto so,atingira,quem algum conhecimento tiver.Para a maioria dos mortais transeuntes,nas calcadas da periferia,nao passa de uma figura antiga e esquisita....
Acredito sim,que a massa humana,faz parte em algum momento do processo criativo da Obra....
E que o verdadeiro publico,da Obra,so aparecera dentro de qualquer movimento,menor que seja,de compreensao historica....

Posted by: Ricardo Barradas at julho 7, 2006 11:45 AM

acredito não haver a necessidade de conhecimentos sobre história da arte para um público transeunte participar do trabalho.
Pessoas nas ruas estão dispostas a enfrentar um determinado percursso.
Se no meio deste percursso se depararem com algo estranho a este oque pode acontecer?
As pessoas podem desviar e seguir em frente, ou podem parar e se questionar oque aquilo representa.
Quando surgem estes questionamentos, começam a construir uma determinada concentração, esta concentração é o item determinado para uma explanação do objeto de arte.
Assim, este transeunte pode colocar em prática esta concentração e se tornar participante.
Um dos objetivos da arte realizada no meio urbano, ou seja, na rua provoca questionamentos, faz as pessoas pensarem, se concentrarem e este ponto já faz com que tudo se transforme.

Deixando livre a questão. Que pode tratar do assunto da arte, como pode também tratar de qualquer outra coisa. Desta maneira as pessoas acabam criando situações também, junto com o artista e, isto faz com que a arte frua livremente. Participantes despreucupados criam arte com o artista.

E oque vale portanto, é a ação e a participação independente de rotulos de arte.

Posted by: andre at julho 10, 2006 11:23 AM
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