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julho 11, 2004

Você viu o que eu vi?

cunin_1.jpg

Obra de Chris Cunningham na hiPer possibilita infindáveis leituras

JULIANA MONACHESI

Ao longo dos 12 minutos de duração do vídeo flex, de Chris Cunningham, acompanhados de uma composição eletrônica de Richard James (do Aphex Twin), acontecem algumas coisas perturbadoras. Uma mulher nua se arrasta, ensangüentada, olhando com pavor para trás. Para nós, espectadores. Da escuridão surge uma superfície corpórea difícil de identificar. É pele, tem veias, não se move. Então surge uma mão que lhe imprime movimento, como uma ameaça.

Não vou generalizar e dizer que neste momento "nós, espectadores" tememos estar prestes a presenciar um estupro. Afinal, cada um entra na sala onde está sendo projetado o filme de Chris Cunningham na hora que quer, podendo vê-lo desde o começo, o meio ou o fim, podendo também assistir apenas a um destes pedaços e nem chegar a ver a cena em que parece que aquele homem violento vai estuprar aquela mulher fragilizada. Alguém deve ter tido a experiência oposta: tendo visto a história a partir do ponto em que a mulher massacra o cara, pode ter dado um sentido completamente diverso à cena da masturbação.

O fato é que o acaso me fez ver flex pela primeira vez a partir de um ponto determinado que levou à interpretação que eu comecei a esboçar no primeiro parágrafo deste texto. Como boa espectadora de exposições de arte contemporânea, entretanto, não permiti que o acaso interferisse mais do que o aceitável. Vi e revi e revi e revi flex. Estou convencida de que não se trata de um estupro. Estou convencida de que o tema desta obra de Chris Cunningham é a Criação, uma fábula cósmica para os tempos contemporâneos.

cunin_2.jpg

Entretanto, não consegui começar este texto para o "Quebra de Padrão" de outra forma. Precisei mencionar a primeira impressão que eu tive da obra pelo simples acaso de ter entrado na sala no momento em que aquele pequeno trecho de filme sugeria (ao menos para mim) que pudesse se tratar de uma ameaça de estupro. Isso me leva a duas únicas conclusões possíveis: 1. o mito da Criação nada mais é do que a história de um estupro; 2. em uma exposição com videoinstalações, o momento em que se entra na sala é determinante na fruição da obra.

Deixo essa questão maior e alarmante (1) para os especialistas e me detenho na questão de não menor envergadura (2). Levaria o exemplo da minha irrelevante experiência assistindo ao magnífico (e muito mais complexo do que fiz parecer, com inúmeras camadas de significados: da questão da releitura de pinturas clássicas ao interesse pela anatomia, passando pela suposição de ser ele "metáfora do amor e do ódio entre homem e mulher", como o define a curadora de hiPer) filme flex a concluir que as repisadas noções de obra aberta e anticinema (instalações de arte com hora marcada?, nem pensar) ainda dão pano para a manga?

Aproveitando-me descaradamente do veículo de comunicação em que esta "reportagem" será publicada, vou quebrar mais um padrãozinho e parar o texto na metade. Mais que isso, só posso dizer que Chris Cunningham voltará à baila. (Aceitam-se comentários e sugestões!!!!!!)

Posted by Juliana Monachesi at 2:34 AM | Comentários(4)
Comments

Eu também acho o Chris Cunningham do caralho.

Posted by: Sergio Verástegui at julho 19, 2004 5:08 PM

o grande desafio (e possibilidade) no caso é justamente o artista tirar partido dessa aleatoriedade de momentos em que o público verá o seu filme, levando em conta as mais diversas visões que o público terá a partir disso.
como no caso do cunningham... ele SOUBE trabalhar com isso... ótimo trabalho, com certeza.

Posted by: Ricardo Mello at julho 24, 2004 3:52 PM

comentário do próprio chris sobre o vídeo:

When asked about flex, Chris remarks:
"It was a slight detour and an experiment to me. It is a short film where i wanted to try and get my interest in anatomy and figurative drawings out of my system.
It was intended to be completely abstract but it didn't quite work out that way and although it feels like its trying to say something, it isn't."

Posted by: Ricardo Mello at julho 31, 2004 3:43 PM

POUCO ANTES DE ENTRAR NA SALA DE PROJEÇÃO,EU SABIA QUE IA VER ALGO QUE DEIXARIA MEUS OLHOS MAIS PERTO DO CORAÇÃO DO QUE NUNCA.COMO EM TODOS OS TRABALHOS DE CUNNINGHAM,O SINCRONISMO DE IMAGEM SÃO TÃO PERFEITOS QUE VOCE PODE INVERTER OS SENTINDOS>"ESCUTANDO A IMAGEM " E "ENXERGANDO O SOM"

Posted by: RIVAEL at agosto 12, 2004 2:14 AM
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