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junho 27, 2005

Esclarecendo o sentido da Ocupação no Paço das Artes

Aos artistas da "Ocupação", ao pessoal do Coro e a todos que ainda se interessam por instituições culturais.

Caros,

Que bom que finalmente a discussão começa a tomar rumos interessantes.

A proposta de "Ocupação" do Paço das Artes deve-se à necessidade que a equipe do Paço e eu sentimos em nos posicionar frente a penúria que as instituições culturais estão vivendo em nosso país. Não se trata apenas de falta de verbas, mas sim, o que é mais grave, da ausência total de políticas culturais públicas para o exercício pleno da arte contemporânea.

A idéia de oferecer o Paço à "Ocupação" dos artistas responde, de forma silenciosa, a uma situação lamentável em nosso meio: de um lado as elites se impõem à cultura pelo exercício da plutocracia, ou, pior ainda, como bem lembrou o jornalista Mário César Carvalho em recente artigo "A morte do MASP", as nossas elites preferem pagar R$8.000,00 por um terno a colaborarem ativamente com as instituições, em crítica ao advento da Daslu. De outro lado, o circuito de arte (artistas, curadores, produtores, instituições e mercado) parece pouco atento a estas circunstâncias.

O Paço das Artes chega aos seus 35 anos com o perfil de programação definido e sistemático, mas ainda assim sem verbas para novas programações, com um mobiliário mambembe, funcionários apaixonados pelo seu trabalho, mas indecentemente pagos, e sem verbas para poder continuar o trabalho de forma planejada pela falta de manutenção do seu cotidiano - tal como reforma elétrica, de cabeamento de rede, atualizações de computadores e linhas telefônicas com funcionamento precário ou quase nulo. Poucos, a não ser nós mesmos parecem se importar com a gravidade de tal situação.

Todos os artistas que participam da "Ocupação" foram alertados com muita clareza a respeito desses fatos. Discutimos até que não caberia a diretoria do Paço das Artes encabeçar mobilizações a esse respeito, mas apenas dar ao meio total ciência dos fatos e abertura à "Ocupação" e aos debates que dela poderiam surgir.

Ao tentarmos tornar esses fatos públicos, fomos surpreendidos com a omissão total da mídia impressa. Em entrevista ao Estadão e a Folha enumerei pessoalmente os problemas elencados e a razão de fazermos uma "celebração", hélas, com um vernissage de espaço em branco, mas a imprensa mostrou-se surda, cega e muda, limitando-se a publicar o tal do arroz-feijão, ou seja, apenas o serviço.

O projeto da Ocupação pretende, isso sim, criar oportunidade de encontros e trocas entre os interessados na continuidade de uma instituição como essa, pois cabe a sociedade civil e ao meio artístico lutar pelos seus interesses. Como temos visto em nosso meio, o que é que está faltando?

Primeiro, a clareza de discernirmos em que medida a ausência de instituições culturais equipadas e aparatadas para suportar as demandas da contemporaneidade nos beneficia ou prejudica. Incluem-se aí verbas para programações completas (que pudessem subsidiar obras e cachês de artistas, para além dos orçamentos normais de produção, exibição e difusão de mostras) e manutenção básica dos espaços.

Segundo, falta a discussão profunda e livre de preconceitos entre as partes, acompanhada de análise realista da situação.

Terceiro, a decisão pelo traçado de estratégias de ação. Ou deixar o processo a deriva, já que nem mais a dimensão simbólica prevalece nas instituições brasileiras.

Esse espaço de discussão - potencialmente constelado no Paço das Artes durante seus 45 dias de Ocupação - poderá ou não gerar resultados interessantes tanto em direções políticas, quanto mercadológicas e culturais. Ou poderá revelar, mais uma vez, a nossa inaptidão a nos mantermos vivos no sistema vigente e seu devir.

Quem somos? Onde estamos? E para onde queremos ir de fato? Dependerá de todos nós e da nossa inteligência para conduzirmos negociações e estratégias. A conversa começa agora e sinceramente espero que seja construtiva. Sugiro um primeiro encontro com data e hora marcada no Paço das Artes. E aí, quando será?

Um abraço a todos,

Daniela Bousso

Posted by Patricia Canetti at 10:24 PM | Comentários (5)

junho 26, 2005

no plata dot us informa

invadimos o planalto central.
4Mb de verdade disponíveis

+ Edemar e a secretária que enchia o saco
+ TXMixtoy: triture os despudores institucionais e alivie o seu inbox
+ santinhos que valem um semestralão: imprima e gaste

.....................................a gente é pobrinho, mas tem site

www.pfebril.net/noplata

Posted by no-pato at 10:37 PM | Comentários (1)

Mais Ocupação na lista de discussão do coletivo Coro

Data: 14/06/2005
De: Mauro

Adorei a idéia da Ocupação Ricardo,
Apropriação Paço das Artes Já.
Mauro de Souza

Data: 14/06/2005
De: Patricia Canetti

Oi Coro,
O Canal Contemporâneo está com um trabalho na Ocupação, que retoma o Quebra de padrão, com o objetivo de estender o espaço dessa ocupação institucional para a rede. E cumprindo com essa função, estamos publicando as msgs do Coro sobre a Ocupação nesse blog.
Acho que o Coro levanta questões muito pertinentes, mas também peca quando, ao fazer política sempre de oposição, não consegue analisar a situação com mais abrangência e precisão. Afinal, a instituição é governo e capital (quando é o caso), mas é também formada por seus funcionários e dirigentes, pelos artistas, críticos e curadores, que a utilizam para trabalhar, o que torna essa situação muito mais complexa...
Abraço,
Patricia Canetti

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

Desculpe, Ricardo, mas e, nenhum momento disse ser reacionário ou preconceituoso o artista que se arriscar a falar de política, mas o artista que chama de burguês, conformado e outros impropérios outro artista que consegue se relacionar e se propõe a atuar dentro das instituições. Isso para mim é batido, arte é coisa de burguês, e essas pataquadas que se ouve muito por aí e por aqui. Isso, sim, é reacionário e preconceituoso.
É uma pena que seu conceito de viver em paz seja tão reduzido, acredito que podemos viver em paz, sim, mas para isso é necessário uma revolução muito maior do que descer a língua nas instituições, do que ocupar um assentamento do MST ou dos sem-teto, mas chegar coma rrinho do ano, notebook, máquinas digitais, e arte, muita arte contemporânea para dar aos pobres coitados. É disso que eles precisam? Não querem casa? Não querem comida? Não querem ver os filhos cheirosos e com roupas limpas? Eles querem bater papo com artista, que está super preocupado com a situação deles, que depois, chega em casa, toma banho de água quente, deita na cama com colchão de mola e assiste a TVA, acorda e vai para o mestrado, teorizar.
Ricardo, desculpe, mas estou cansado há muito tempo desse discurso descolado da prática.
A briga não deveria ser porque o Paço cobra R$ 3,00 para entrar lá, mas deveríamo brigar para que qualquer pessoa pudesse ter R$ 3,00 para entrar no Paço se quisesse.
MInha briga não é contra instituição, nem curador e nem crítico, mas contra aqueles que não conseguem viver de acordo com o que pregam.
Mas, se vocês acham que a medida é invadir o Paço, vamos lá. Mas, se invadir, invadam direito, levem metralhadoras e fuzis e façam reféns, talvez a guerra seja a saída, já que o respeito e a união não levam a lugar nenhum. Ainda bem que Gandhi e Dalai Lama existiram...
Abraços
Fábio

Data: 14/06/2005
De: Rodrigo Vitullo

Bem,

vimos que trata-se de delicadas situações
em que o governo mais uma vez "OMISSO" quanto essas questões
e se exclue da culpa como se a cultura tivesse se tornado
nada mais nada menos que produto.

Então o que acontece em sitações desse tipo é uma
apropriação de termos (populares) , ou seja, dos movimentos porpulares, pois

são intitucionalizados,e assim perdem sua sustentabilidade
sob suas raizes... como organização, dedicação, pureza da arte contemporânea
questionamentos que viram reflexões e por fim conclusões

Senão de que outra maneira poderá coibir
ações contra ele mesmo???
(pergunta 1)
Esse é o sistema capitailista. Infelizmente.
É como as camisetas do Tche.... virou marca.
e por fim tem reunião hoje? dia 14

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

"Pureza da arte conteporânea"?
?????????????????????????
Não entendi!

Data: 14/06/2005
De: Ricardo Rosas

Mandou bem, Flávia!
Textos e opiniões muito lúcidos. Poderia se tentar invadir o Paço, em protesto ao preço a se pagar.
Abs
Ricardo

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

Cinemas, teatros, também não entram nessa?

Data: 14/06/2005
De: Sergio Roclaw Basbaum

Flávia, belo texto. questões vitais aí.
meus cumprimentos
Sérgio

Data: 15/06/2005
De: Patricia Canetti

Flavia,
Os artistas foram chamados para ocupar o Paço das Artes num momento em que ele simplesmente fecharia as portas. As curadorias programadas haviam sido canceladas por falta de recursos e havia o agravante político da mudança da secretaria de Cultura que estava para acontecer. E porque não fechar, seria mais honesto, eficaz? Ou, quem sabe o governo podia gostar da idéia e alugava outro espaço para algum Banco Santos da vida ou alguma multinacional do entretenimento...
Confesso que pensei ingenuamente que o nome Ocupação conectaria as pessoas a gravidade da situação ou pelo menos fariam elas se perguntar o porque de uma instituição pública dentro de uma universidade estar fazendo uso de um termo tão forte...
Acho que a ação com real potência transformadora está se dando agora com a Ocupação, quando estamos trocando idéias aqui e lá (soube que os textos do Coro foram impressos e colocados no blog low-tec - um enorme quadro-negro com giz e tachinha, que tem a heróica tarefa de conectar os dois espaços do Quebra). O tempo interno da Ocupação está delicioso, parece cidade do interior, temos tempo para prosearmos a vontade!
Só para o seu conhecimento, já que você não tem ido muito ao Paço, o ingresso começou a ser cobrado no início do ano, justamente devido a penúria financeira da instituição.
Aproveito para te dar uma notícia sobre um outro assunto. Amanhã temos no Rio uma reunião para escolha de representantes para um seminário sobre a câmara setorial de artes visuais que, devido a falta de interesse crônica da classe artista por políticas públicas, teve o seu processo paternalizado pela Funarte, que agora escolhe os grupos que vão escolher os seus representantes, formando assim um colégio eleitoral ao seu gosto.
Esse talvez tenha sido "um evento reconhecidamente histórico, que perdemos a chance de nos mobilizamos verdadeiramente frente aos problemas culturais que nos soltam aos olhos e ouvidos".
Abraço,
Patricia

Data: 15/06/2005
De: Ricardo Rosas

Patrícia,

Dessa forma as coisas ficam mais claras. Ou seja, explicam-se certos pontos obscuros. Do jeito que parecia antes, era um uso realmente gratuito (eu diria até sarcástico) da palavra "ocupação", e sem dúvida inspirou mesmo revolta.

Se o que está acontecendo é na verdade a ameaça de fechar o Paço, a coisa muda de figura, e aqui nos vemos na mesma situação quando do fechamento da Casa das Rosas. A ação, então, se justifica, e o nome vira um adendo.

De qualquer forma, a indignação da maioria, seja da Flávia, minha ou de outros (estou falando mais por mim mesmo), deveria ser a mesma se a situação se repetisse em casos que não esse, pois toda "apropriação" de má fé de uma atitude que para os artistas envolve muito mais que pose ou estilo mas urgência de interferir numa realidade muitas vezes cruel, pede sempre uma resposta à altura, que subverta esse mesmo mecanismo indiferente de apropriação.
Abraços
Ricardo

Data: 15/06/2005
De: Alexandre Menossi

ola a todos que recebem estes emails da rede coro (sei
que sao muitos)

já que a ação de ocupação no paco das artes e sincera,
proponho a todos os artistas interessados a se dirigir
ao paco e ocupa lo de forma desordenada, de forma que
o debate possa acontecer lá dentro efetivamente, não
somente na internet.

farei isto e chamarei todos meus amigos artistas para
fazerem o mesmo.

que a arte se desamarre!
alexandre menossi

Data: 15/06/2005
De: Ricardo Rosas

Fábio, minha briga tampouco é com a instituição. Não tenho nada a favor nem contra o Paço das Artes. Nem sequer sou "artista", quando muito, escrevo sobre eles. Mas é super legítimo se revoltar contra uma apropriação que à primeira vista parecia deveras sarcástica.

Deve-se com certeza sabotar tentativas de domesticar nossas iniciativas de ação, como fizeram os Vaccuum-Cleaners (www.vaccuumcleaner.org.uk) com a marca Diesel, ao se apropriar da estética dos protestos anti-globalização. Tem de se responder a essas tiradas, em sua maioria, publicitárias.

Não estou defendendo que se joguem coqueteis molotov contra as instituições da cultura, e segundo a Canetti, que encontrei num evento ontem à noite, a ocupação literalmente se dá por que o Paço anda mal das pernas, em termos de grana. Coisa que eu não sabia. Nesse caso, a apropriação é perdoável, mas o fato foi divulgado nos releases para a imprensa? Que eu saiba, não. E isso realmente gerou mal-entendidos entre os artistas.

Outra coisa é que esta lista está literalmente rolando num blog-mural no Paço, mas foi pedida autorização a nós para esse uso? A sensação de "vigilância velada" não aconteceria se as coisas fossem mais transparentes.

Por outro lado, acho que esse debate, à parte quaisquer interpretações apressadas, é muito estimulante e vale para que se repense a questão de como coletivos podem estar sendo cooptados pela máquina publicitária e institucional sem se dar conta, como a mistura entretenimento e ação pode estar esvaziando o discurso crítico e permitindo essa cooptação, e como está patente a falta - esta sim mais revoltante que a apropriação indevida - de uma real intervenção em problemas ou situações pontuais quando necessário. Talvez seja esse um momento valioso para que discutamos se a mistura "arte, entretenimento e política" não pode estar sendo minada, por um lado, pela predominância de uma dessas partes, e por outro, pela falta de uma maior asserção em questões concretas e palpáveis.

Não será o "bunker" Daslu um caso muito mais escandaloso que um Paço precário de grana pedir a "invasão" de artistas para uma exposição?

Abraços
Ricardo

Data: 15/06/2005
De: Fábio Tremonte

Ricardo,
é isso mesmo.
Me assusta ver uma guerra entre artistas, uma guerra não declarara, muitas vezes veladas, e na maor parte do tempo sem propósito.
Acredito q devamos nos engajar e lutar contra o que realmente é poder...Daslu...Mensalão...Fome...
Concordo contigo e aperto sua mão...
Fábio

Data: 15/06/2005
De: Paulo Hartmann

Aproveito o momento mais do que oportuno para passar o texto "Coerção" de
Douglas Rushkoff q foi base de discussão
no Memefest 2005:

http://www.memefest.org/brasil/coercion.htm

Paulo Hartmann
MEMEFEST:BRASIL
www.memefest.org/brasil

Data: 15/06/2005
De: Patricia Canetti

Ricardo,
Sobre a indignação da maioria, acho que sempre cometemos um erro básico ao julgar e condenar as coisas precipitadamente, sem tempo de olhar para o outro. Esquecer dessas leis fundamentais, de que somos, a princípio, inocentes até que se prove em contrário e do direito amplo de defesa é o que leva ao comprometimento maior da liberdade de uma sociedade. Se acreditamos e trabalhamos por uma sociedade mais justa, seremos mais eficientes, se houver uma maior coerência em nossas ações.
Quanto a situação do Paço, depois escrevo a respeito, pois hoje viajo pro Rio e o dia está na maior batida!
Abraço,
Patricia

Data: 15/06/2005
De: Mariana Cavalcante

Acho legítima a realização de uma ocupação de artistas em um espaço cultural público condenado pela negligência do estado, como oportunidade de denuncia desta situação insustentável e vergonhosa por que passa o Paço das Artes e também em que se encontram muitos artistas, que não contam com o apoio das instituições públicas para a realização e veiculação de seus projetos, tendo frequentemente que arcar com os custos de seu trabalho ou mesmo trabalhar de graça para estas instituições em troca de "apoio institucional", seja lá o que isto realmente signifique.

Sob esta ótica a "ocupação" se justificaria porque seria realmente uma conquista, a posse de um espaço público negligenciado pelos artistas idem.

Seria uma ótima oportunidade para questionar a forma como se dão
estas relações entre artistas e instituições e poder público e
instituições, que deveriam ser aparelhadas para dar conta de uma
demanda enorme de produções culturais mas, como no caso do Paço,
precisam contar com o apoio dos artistas para permanecer em atividade,
invertendo a lógica de sua própria função social.

Questionável pra mim é a forma como este processo se deu.

No momento me parece que a a iniciativa da "ocupação" perdeu o
sentido quando abriu suas portas apenas para alguns artistas
pertencentes a um círculo restrito criado pelos interesses de alguns,
não sendo de forma alguma uma iniciativa de abertura e democratização
do espaço em questão.

Em uma ocupação legítima as portas não são abertas para alguns, nem
mesmo são abertas, porque o espaço deve ser tomado, conquistado por
quem precisa dele.

Duplamente questionável me parece a "ocupação" do Paço por um
escritório de arte, cujo responsável transformou seu comércio de arte
em performance e usa o espaço público para divulgar os "seus"
artistas.

Mariana Cavalcante

Data: 15/06/2005
De: Andréa Tavares

estou tenatndo entender as colacações da Flávia e do Daniel comentando alguns comentários, até porque esse evento no paço me incomoda bastante e acho a discussão ótima, o diálogo é a essência de qualquer política:

"Depois de experiências como a do ACMSTC, em que 120 artistas se
colocaram em ação, junto a Ocupação Prestes Maia, onde habitavam 2000
moradores do MSTC - Movimento Sem Teto do Centro, em novembro de 2003
e a Favela do Moinho, um ano depois... frente a vivência com os
coletivos de arte, que se esforçam para manter uma produção autônoma e
pública... fica difícil aceitar qualquer construção histórica
cultural."

Penso que uma iniciativa não invalida outra, são estratégias diferentes, trabalhos que precisam ocupar outros lugares. Além do mais essa tal autonomia dos artistas e coletivos é muito relativa, e custo a acreditar que exista mesmo. Onde quer que estajamos atuando, negociamos com instituições, mesmo que seja o MST. É difícil aceitar qualquer construção histórica, mas os eventos que você citou também são construções históricas.

"Tomar ou encher (algum lugar no espaço)."

Isso nossos colegas estão fazendo. Estão lá, e não são muitos os lugares para estarmos. Ou são muitos...

"Que sentido há nessa ocupação?
Que sutil 'reality show' a cultura se coloca e com qual finalidade!?"

Provavelmente as duas peruntas mais pertinentes nesta situação. E se posso "chutar" uma resposta, deve ser novamente uma instituição cultural com alguem um pouco preguiçoso no comando se aproveitando da situação, de artistas que querem trabalhar, sem falar que a instiuição vai para a midia com uma fachada "modernerrima" e "super trend".

Quanto a definição do dicionário...bem, ocupando um lugar no espaço nossos colegas estão, mas quem não está? Voltamos aquela perguntinha, qual o sentido dessa ocupação?

"As ocupações partem do pressuposto de que existe alguém que domina
legalmente determinado local, segundo a constituição liberal
brasileira, mas que é de fundamental importância iniciar uma práxis
que combata os pressupostos que legalizam a existência desses locais
privados."

Devagar, devagarinho... devagar... Alguémns sempre são os responsáveis por algum lugar ou alguma coisa, de fundamental importância é a transparência nas atuações e estratégias.

"As ocupações legítimas são fatos fundamentais pois criam uma cultura
da insubmissão anti-capitalista."

O que legitima uma ocupação? quem a legitimará? a história? qual história?

"A ação oportunista do Paço das Artes, e a adesão leviana (é o que
tento acreditar) por parte dos artistas é uma conjunção de forças
sociais destrutiva para a continuidade das lutas anti-capitalistas e
principalmente seu poder no imaginário social"

Levianos? Quem participa? Quem rala pra caralho e não consegue mostrar o trabalho e ganha o que parece ser uma oportunidade? Eu ainda acredito na ingenuidade de nossos pares. Destrutiva? Enfraquecedora. É só uma batalha, ainda não perdemos a guerra...que guerra. A vida não é PB. As fornteiras estão borradas.

"O pensamento dialético é o único pensamento possível."

E está fora desta sutil frase qualquer pensamento dialético. Totalidade ou dialética ou totalitarismo? Totalidade é ficção, até que apareça um pensamento que sirva para pensar qualquer coisa, em qualquer lugar ou em qualquer tempo.

"Como somente o pensamento dialético nos redime: Quem é culpado? O PAÇOdas ARTES ou os ARTISTAS que estiveram por lá?"

Culpados? A culpa é uma idéia muito fundamentalmente judaico-cristã para essa época de caça as bruxas em que vivemos. Culpa pressupõe um juizo de valor pré-concebido que não creio ser apropriado para avaliar essa situação. Parece mais apropriado seguirmos a avalição de quem sae ganhando e/ou perdendo com o evento e quais as intençoes dos sujeitos e finalmente esperar para ver o que eles conseguiram.

Por que invadir a Ocupação do Paço, quais as intenções por trás de uma ação como está?

Tentando entender...entendendo e tentando esclarecer alguns pontos.

abraço a todos,

Andréa Tavares

Data: 15/06/2005
De: Andréa Tavares

Patrícia sua explicação foi muito clara. Por isso mesmo, acho uma pena que a própria instituição, não tenha aproveitado o evento para tornar pública a situação precária em que está vivendo. E mais uma vez sinto muito por nós artistas, que acabamos por "financiar" as instituições de arte, por que ao que parece ninguém ganhou cachê ou ajuda financeira para executar os trabalhos...

um abraço
Andréa Tavares

Data: 16/06/2005
De: Gustavo Godoy

realmente,
já paguei, algumas vezes, R$ 3,00 para entrar no paço sabendo da situação, mas mesmo assim, cada vez que fazia isso, ficava mais indignado com a falta de interesse na cultural pelo nosso governo e agora, mais ainda, com a política federal!

práticas como o fechamento de um museu mostra que a cultura não é prioridade para a política do nosso país!

não podemos desistir, vamos ocupar o que temos direito. mesmo que fecharem todos os museus públicos da cidade e do país, iremos para as ruas! inclusive as ruas já vem sendo espaço de ação de muitos artistas, que de certa forma é uma reação a essa política cultural medíocre!!

continuemos a luta......
gustavo

Posted by Patricia Canetti at 7:09 PM

junho 22, 2005

o quebra na ocupação

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Posted by Juliana Monachesi at 11:49 PM

junho 21, 2005

merzblog - diário de bordo da Ocupação

merzblog

merzblog.zip.net

merzblog é o diário de bordo do grupo de críticos formado por Cauê Alves, Daniela Maura Ribeiro, Fernando Oliva, José Augusto Ribeiro, Juliana Monachesi e Paula Alzugaray sobre o projeto Ocupação, que ocorre entre 7 de junho e 16 de julho de 2005 no Paço das Artes

Quinta-feira , 9 de Junho de 2005

Que o ateliê acabou de se desmaterializar na década de 90 não há dúvida.

Que os artistas não levariam ao pé da letra a idéia de transferir seus ateliês para o Paço também é óbvio.

Mas entre aqueles que decidiram fazê-lo é interessante ver como a concepção de ateliê se transfigurou: para uns é um espaço de descanso. Muito clean. Para outros é o escritório. Para outros é o "caos" do ambiente doméstico. Coisinhas. Caixinhas. Cosy. Para uns é papel e caneta. Para outros, um rádio e quitutes para servir.

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Sexta-feira , 10 de Junho de 2005

Antes da Ocupação, o branco potencial. Os painéis em L, distribuídos de forma enviesada no Paço, não sugerem a cartografia das cidades projetadas. Indicam áreas compartilhadas, cuja delimitação ou diluição das fronteiras será desenhada pelas relações entre os ocupantes. A partir da instalação determinada por um sorteio inicial, os artistas reconhecem seus espaços em movimentações sutis e cuidadosas.

Ações

Política. Um passeio a bordo de um 'art detector', de Guto Lacaz, nos conduziria a alguma forma de ação política? É possível que um desses robôs antenados com espelhos giratórios hesitasse diante da proposta de ocupação de Augusto Citrângulo, que move uma ação panfletária a favor do desarmamento. Citrângulo corta, fura e encaixa embalagens de produtos de limpeza e utilidades domésticas para construir versões imaginárias de fuzis, metralhadoras e outros modelos último tipo de armamentos pesados. Pensar as relações entre a violência da bala perdida e o caráter invasivo do objeto de consumo, que entram nos lares seja pela televisão, pela janela, ou em saquinhos de supermercado. Ao construir armas de brinquedo o artista está combatendo o inimigo fazendo uso de - ou manipulando - seus meios? E que alcance tem a distribuição de panfletos em uma ocupação artística? O site www.controlarms.org está recolhendo imagens de rostos para fortalecer sua campanha. Dê a cara. Nos primeiros dias, Citrângulo trouxe estas provocações.

Segunda-feira , 13 de Junho de 2005

Trânsito
Dia 5.
Entre os artistas ocupantes, nota-se o interesse comum pelo deslocamento. A proposta de work in progress dessa Ocupação ajuda. Há os que deslocam as ações para o público e há os que projetam toda a questão da mobilidade para o trabalho em si. Caso do objeto móvel de Mariana Lima, que ao longo dos 12 dias do evento, ocupará 12 posições no espaço e sofrerá 12 pequenas (às vezes imperceptíveis) alterações da forma. Colocando sempre à prova seus próprios limites e esforçando-se em manter o desenho original, no terceiro dia o objeto mostrou os primeiros sinais de arrefecimento. Instalado sobre o gramado, do lado de fora do edifício, mostrou-se claramente incomodado de estar pousado em terreno irregular, abrindo feixes e brechas, e maculando a geometria dos primeiros dias.

Quinta-feira, 16 de Junho de 2005

Ação afetiva

Março de 1969. John Lennon casa-se com Yoko Ono em Gilbraltar, almoça com Salvador Dalí, em Cadaqués, e realiza a primeira ação (político-pacifista) de sua vida: Bed-in. Durante sete dias, instala-se nu com Yoko na cama do quarto 902 do Hilton Amsterdam. A ação voltaria a acontecer em abril, em cama de hotel no Canadá, onde o casal gravaria a canção Give Peace a Chance. (No Paço, Citrângulo parece cantar All You Need is Love quando decide cuspir flores das armas de plástico).

A lembrança de John Lennon na cama e a memória de Joseph Beuys descascando batatas na cozinha de sua casa (e, por que não, o registro de Duchamp jogando xadrez) levam Regina Johas a instalar sua cama no Paço das Artes. A meta é "estar com os amigos, jogar, fabular, fundar outros espaços, heterotopias", escreve ela na parede. Na cama com Regina, numa militância arte/vida, confabula-se, joga-se, conversa-se, tramam-se camas de gato.
A ação coletiva também amarra o pensamento de Beth Moysés, que propõe um mito de Penélope compartilhado entre 12 mulheres. A comunicação entre elas se dá pelas mãos, entretidas na reconstrução de novelos simultaneamente desfeitos. O grupo, como corpo único, empenha-se numa só tarefa: a reconstrução e o reparo das dores. O reestabelecimento do elo. Afeto silencioso.

ocupa1.jpg

Sexta-feira , 17 de Junho de 2005

Delícias da Ocupação

Jorge Menna Barreto "ocupa" - assim entre aspas por que na verdade está fora dos espaços delimitados para a Ocupação - a área do bar com um Café.

O Café está muito bem equipado, sinalizado e decorado: existe um cardápio escrito a giz na parede; o balcão - frio de granito cinza -, está coberto por diversas toalhas estampadas; os bancos do balcão são altos e feitos de madeira e palha e existem mesinhas espalhadas pelo local para quem quiser se alimentar (ou conversar) com calma. Isso além das louças para servir o café, do forninho, da cafeteira, e dos penduradores (suspensos em fios de nylon) para segurar o saquinho de pó de café e a caixa de chá de hortelã, por exemplo.

Mas de nada adiantaria, se fosse somente infra-estrutura. A estrutura de funcionamento é que faz a diferença: o artista vem ocasionalmente servir os produtos que vende e se investe com perfeição desse papel, usando até um charmoso avental.

(...) o trabalho é auto-sustentável, uma vez que o artista sustenta sua participação no local com o dinheiro que arredada e propicia igualmente esta possibilidade para seu(s) assistente(s). E o artista sustenta - no sentido de alimentar - todos os outros artistas que convivem diariamente no Paço por conta do projeto de Ocupação, o público, a equipe da instituição...

Sábado , 18 de Junho de 2005

Isso não é moda!

Embora Nino Cais tenha trazido sua máquina de costura, faz questão de deixar claro que seu negócio não é a moda. Sim, na parede há vários objetos de uso doméstico. E como a mulher esteve nos últimos 3.000 anos como principal responsável pelo ambiente privado, enquanto o homem de um modo geral tomou pra si a função pública, alguns dos objetos podem ser associados ao "universo feminino". Há também os de uso tradicionalmente masculino, mas isso não importa, o que interessa é sua função primordial, mesmo que eles não sejam usados desse modo. Acoplados ao corpo eles se tornam uma espécie de tentáculo, ou melhor, uma extensão do corpo. Na verdade, parece que mais do que discutir função dos objetos, Nino quer pensar o próprio corpo, as pessoas e as relações sociais. Mas não deixa de ser curioso que como em "O pequeno príncipe", em que um chapéu pode ser um elefante engolido por uma jibóia, as formas dos objetos de Nino se camuflam completamente quando ensacadas e amarradas ao seu corpo.

uma mão lava a outra

Del Pilar fotografa mãos de artistas. Mas suas fotos vão além do mero registro. A mão dos artistas, e a arte, esteve durante muito tempo associada apenas com o trabalho manual, traz dezenas de outros sentidos. "Dar uma mão" é sinônimo de ajuda; "mão de fada" é uma mão hábil, enquanto "mão de ferro" significa um poder opressor, com firmeza implacável. "Mão dupla" em oposição à "mão única", tem relação com o trânsito em dois sentidos, mas não apenas de veículos. Já "mão na bola", dependendo do contexto, interfere no humor de uma nação, ainda mais se for dentro da área. Uma "mão pesada" pode acabar com qualquer trabalho ou pode ser a marca de um artista. Há alguns que não abrem mão disso. Afinal, não é apenas com a mão que se faz arte.

Domingo , 19 de Junho de 2005

Ação afetiva a 2

"Toda minha palavra tem um coração onde circula sangue", diria Clarice à caneta vermelha de Paulo Buenoz riscando o papel. A circulação é alma da ação de Buenoz. A circulação dos afetos: você me responde uma pergunta com uma fotografia que eu te dou um souvenir carregado de significado vital. Um acordo fotográfico para reinventar o elo. Nessa comunicação mediada pela câmera, cabe pensar o que se passa dos dois lados da lente, nos instantes que sucedem o clique: quando tocam aqueles acordes agudos, embalados pela memória das caixinhas de música. Estranhamento, impaciência, solidão, satisfação?

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Duplamente retido - no visor da câmera e no frame do cenário - Buenoz diz fazer papel de personagem. De si próprio, insisto, porque a autoria da fotografia não pertence a quem aperta o disparador. A autoria é do personagem ou trata-se aqui de um grau zero de autoria, como aquele das máquinas automáticas? O mesmo retrato foi tirado dezenas de vezes, mas o negativo não terá a mesma imagem repetida.

"Tudo se passa exatamente na hora em que está sendo escrito ou lido", diria Clarice ao grupo de críticos, que inventaram lançar-se em experiência sincronizada com o tempo da ação.

Posted by João Domingues at 12:17 PM

junho 14, 2005

Da lista de discussão do coletivo CORO, sobre a Ocupação do Paço das Artes:

Data: 13/06/2005
De: Daniel Manzione

"Quando eu canto
Que se cuide
Quem não é meu irmão"
Baioque - Chico Buarque

Ocupar v. t. 1. Estar ou ficar na posse de. 2. Invadir, conquistar. 3. Tomar ou encher (algum lugar no espaço). 4. Dar trabalho ou ocupação a. P. 5. Dedicar-se a; cuidar de. Ocupação sf.; ocupante adj. E s2g.

Como todos sabem, presumo, a definição das palavras oriundas do dicionário, é apenas o porto seguro de onde as palavras saem/chegam, para se perpetuarem para outras gerações.

Ou seja, as palavras só estão vivas quando as pronunciamos e nos comunicamos socialmente. Ressemantizamos as palavras, atribuímos novas significações a elas, nos apropriamos ideologicamente delas, mesmo sem nos darmos conta, e às vezes, em atitudes levianas, nem prestamos atenção aos desserviços que prestamos.

Todos esses pressupostos citados acima é um assunto incrível, pertinente e profundo a ser debatido, mas não se trata disso que estou aqui para falar. O assunto que gostaria de tocar tangencialmente e aforismaticamente é o caso "Ocupação no Paço das Artes" (se esse é o nome que se deu a esse evento).

Ocupação é uma palavra que, tal como diz em uma das definições "aureliescas" significa "invadir, conquistar" "estar ou ficar de posse". Significados corroborados hoje em dia pela prática estratégica de diversos movimentos populares, tal como o MST, MTST, Comunas Urbanas, MSTC e outros.

Práticas estratégicas e principalmente subversivas, pois tencionam o estado das coisas estabelecidas pela democracia liberal. Para dizer o português claro: A PROPRIEDADE PRIVADA.

Seus objetivos finais não estão aqui em discussão, mas somente os fatos políticos que estabelecem com o espetáculo capitalista, a mídia em geral e a opinião pública.

As ocupações partem do pressuposto de que existe alguém que domina legalmente determinado local, segundo a constituição liberal brasileira, mas que é de fundamental importância iniciar uma práxis que combata os pressupostos que legalizam a existência desses locais privados.

As ocupações legítimas são fatos fundamentais pois criam uma cultura da insubmissão anti-capitalista.

As falsas ocupações, tais como a realizada no Paço das Artes, só prestam um desserviço à prática de luta dos movimentos populares nacionais, pois reduzem o significado da palavra e a tornam socialmente inofensiva.

INOFENSIVA E PELEGA

Os Museus são instituições Públicas (de poder do Estado), Privadas (de poder do Capital) ou Mistas. Não é preciso fazer nenhum comentário sobre isso.

Museus (ainda discutível) e Galerias são Aparelhos Ideológicos do Capital.

A ação oportunista do Paço das Artes, e a adesão leviana (é o que tento acreditar) por parte dos artistas é uma conjunção de forças sociais destrutiva para a continuidade das lutas anti-capitalistas e principalmente seu poder no imaginário social.

O suposto ato de liberdade dos artistas, condensado nos trabalhos que realiza e ações que pratica, o torna um sujeito socialmente desestabilizador. A desestabilidade pode tender para um lado ou para o outro. A falta de consciência dos artistas de sua identidade classista /ideológica pode tornar o artista um sujeito perigoso. De que lado você samba?

A sociedade de Classes é uma sociedade integralmente e genuinamente ideológica. Se não tivermos consciência ideológica, numa perspectiva totalizante, dos atos que realizamos, podemos estar, como já disse anteriormente, prestando desserviços à superação do próprio sistema a que estamos submetidos.

Estamos submetidos, ou nos submetemos.

O pensamento dialético é o único pensamento possível para se pensar a vida, a política, a sociedade e a arte (ou sua definitiva destruição) hoje em dia e desde 1848.

Toda denúncia prenuncia um anúncio.

Parafraseando Godard em sua fase Revolucionária: O problema central é que as pessoas que fazem política hoje não sabem muito bem o que é a Arte e não querem entender, pois acham que isso é somente perfumaria, e as pessoas que se interessam por Arte, não sabem muito bem o que é a luta de classes e realmente o que são as lutas revolucionárias, deixando a cargo da Arte somente uma abordagem ideológico-humanista da sociedade e de sua possível transformação.

Ninguém encontrará Debord, muito menos os situacionistas (coisa na moda hoje em dia) senão reencontrarem MARX e o sentido da TOTALIDADE.

Como somente o pensamento dialético nos redime: Quem é culpado? O PAÇO das ARTES ou os ARTISTAS que estiveram por lá?

Definitivamente a palavra OCUPAÇÃO estava no local e na hora errada.

Daniel Manzione

Data: 14/06/2005
De: Flavia Vivacqua

ESTRANHA DORMÊNCIA
OCUPAÇÃO no PAÇO DAS ARTES

Depois de experiências como a do ACMSTC, em que 120 artistas se colocaram em ação, junto a Ocupação Prestes Maia, onde habitavam 2000 moradores do MSTC - Movimento Sem Teto do Centro, em novembro de 2003 e a Favela do Moinho, um ano depois... frente a vivência com os coletivos de arte, que se esforçam para manter uma produção autônoma e pública... fica difícil aceitar qualquer construção histórica cultural.

Principalmente quando um espaço público como o Paço das Artes, na USP e uma quantidade enorme de provedores culturais, utilizam-se equivocada mente e no mínimo ingenuamente das questões que envolvem uma Ocupação.

Que sentido há nessa ocupação?

Que sutil 'reality show' a cultura se coloca e com qual finalidade!?

Comemorar os 35 anos do Paço das Artes ou os R$3,00 de entrada, que os espaços públicos de cultura do Estado estão cobrando e que torna-se prática do Paço a partir desse evento?

Que estranha dormência impede os provedores de cultura, de reconhecerem e utilizarem as ferramentas que tem a mão?

Por que o Paço da Artes e todos que estão envolvidos nesse evento, com a idéia de ocupação e com o reconhecimento da precariedade existente, imprimem esforços de mobilizar e organizar tanta gente, se utilizam do acesso a mídia que o meio cultural naturalmente tem... mas não realizam a ação em sua real potência transformadora?

Por que não repensamos nossa situação e nossas ações diante dos problemas do sistema cultural de que fazemos parte?

A construção deteriorada da história, no caso a cultural, se dá nesses momentos: quando fazemos vista grossa a questões que por terem uma dimensão social, parecem não estar diretamente relacionada a nós; ou quando iniciativas privadas, com interesse particular, ocupam o espaço público com o discurso de inovação; ou ainda quando somos ludibriados com a espetacularização e nos doamos barato as suas promessas; ou ainda quando perdemos a chance de em um evento reconhecidamente histórico, de nos mobilizamos verdadeiramente frente aos problemas culturais que nos soltam aos olhos e ouvidos.

Flavia Vivacqua

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

Por um momento me senti impulsionado a responder a carta do Daniel e o comentário da Flávia, me posicionando com alguém que participa da Ocupação do Paço, mas me deparei com um dicurso reacionário e preconceituoso, recheado de um monte de clichê, que fala, fala, e não chega a lugar nenhum...

Desculpe, mas as todas coisas têm o seu lugar e as pessoas são diferentes e têm interesses e planos e sonhos e lutam por ideais diferentes. Acho que poderemos viver em paz e em uma sociedade mais justa quando soubermos reconhecer isso, pois aí sim, as pequenas revoluções poderão acontecer.

Sem mais
Fábio Tremonte

Data: 14/06/2005
De: Ricardo Rosas

Discordo totalmente do Fábio.

Alguns pontos:

1) Por que quando um artista arrisca falar de política tem de ser classificado de reacionário ou preconceituoso, clichê? Já não é muito clichê e reacionário, por outro lado, todo o discurso "fashion", "hype", "muderno" ou "pós-moderno" de nossos bem alimentados playboys sorridentes? Quer algo mais reacionário que toda baboseira a respeito de "fim da história" e a despreocupação individualista pós-moderna? Esses discursos morreram com o onze de setembro...O terrorismo ainda está a espreita dos ricos despreocupados pós-modernos...

2) É com certeza inevitável a apropriação que o "mainstream" vai fazer das palavras de ordem da resistência contemporânea - sejam elas ativismo, coletivos, ocupação, etc. Haja visto o uso do nome "coletivo" pela TIM, entre outras coisas, não temos como refrear isso que os situacionistas chamavam de "recuperação". É o mecanismo do capitalismo e pode ter certeza que, mais que algum espião de algum serviço secreto, é algum executivo de agência de publicidade que em algum lugar estará nos investigando para transformar em tendência alguma prática subversiva que tenhamos descoberto ou criado, daí o que estão chamando por aí de marketing de guerrilha. Mas...mas...E por que, em vez de nos enclausurarmos em isolamentos, como mais tarde fizeram os situacionistas, não nos apropriamos das palavras de ordem e dinâmicas do capitalismo ou das instituições? Por que não fazemos, por exemplo, uma exposição numa ocupação de sem-teto e a chamamos de " Paço das Artes"?

3) Fábio fala de vivermos em paz. Mas já vivemos em paz! Estamos no melhor dos mundos! Você vê: não há pobreza, todas as pessoas são felizes, não descriminação entre classes ou raças, temos a Daslu onde todos podemos comprar nossas últimas tendências "fashion", só precisamos nos acomodar em nossas cadeiras, poltronas e camas e agradecer o mundo maravilhoso em que vivemos. Ninguém passa fome nesse mundo, todos tem casa e eletrodomésticos, todos podem lutar e realizar seus sonhos, não há guerra, estamos conservando a natureza e mantendo racionalmente seus recursos, pra que pedir mais? What a wonderful world!

Fico por aqui.

Abraços
Ricardo

Posted by Juliana Monachesi at 5:26 PM

junho 11, 2005

A Ocupação na Quebra de Padrão ou A Quebra de Padrão na Ocupação

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Ocupação

Adriana Peliano, Ana Amélia Genioli, Ana Teixeira,Augusto Citrângulo, Beth Moysés, Bruno Vilela, Caetano Dias, Camila Sposati, Canal Contemporâneo,Carlos Miele, Casa Blindada, Claudia Jaguaribe, Daniel Nogueira de Lima, Daniel Salum, Del Pilar Sallum, Domitíla Coelho, Eduardo Verderame, Eide Feldon, Eduardo Salvino, Eva Castiel, Fábio Flaks, Fábio Torres, Fábio Tremonte, Fanny Feigenson, Fernanda Chieco, Geraldo Souza Dias, Gisele Freyberger, Giselle Beiguelman, Graciela Rodriguez, Guto Lacaz, Helga Stein, Ingrid Koudela, Jean Pierre Isnard, Jorge Menna Barreto, Juliana Pikel, Jum Nakao, Kika Nicolela, Lali Krotosznski, Lucila Meireles, Marcus Bastos, Lenora de Barros, Marga Puntel, Mariana Lima, Mariana Meloni, Marina Reis, Marília Fernandes, Mídia Tática, Mirtes Marins, Neide Jallageas, Nino Cais, Niura Bellavinha, Oficina da Luz, Paulo D'Alessandro, Paulo Gaiad, Paulo Lima Buenoz, Paulo Nenflídio, Paulo Telles, Patrícia Osses, Pedro Palhares, Rafael Marchetti, Raquel Kogan, Rachel Zuanon, Renata Barros, Renata Padovan, Renato Dib, Regina Carmona, Regina Johas, Ricardo Hage, Ricardo Carioba, Ricardo Ribenboim, Roger Barnabé, Sheila Mann Hara, Sonia Guggisberg, Stela Fisher, Teresa Viana, Vera Bighetti, Vera Martins, Vera Sanovicz e Walton Hoffmann

6 de junho a 16 de julho de 2005 no Paço das Artes, Av. da Universidade 1, Cidade Universitária, São Paulo


A Ocupação na Quebra de Padrão ou A Quebra de Padrão na Ocupação

A Ocupação do Paço das Artes em São Paulo, evento que ocorre de 6 de junho a 16 de julho de 2005, é a oportunidade perfeita para retomarmos essa ação virótica, que busca quebrar o padrão da comunicação dos eventos artísticos.

Primeiro, porque não havia nada ali antes do evento de fato começar. Sua abertura não foi um vernissage, pois não havia obras prontas para serem envernizadas...

A Ocupação reforça a necessidade do contato entre obra e público para que a arte contemporânea "aconteça". E vai além. Ao permitir a troca entre os artistas e a interação do público com essa experiência, promove um coletivo que reúne artistas, críticos, instituição e público na ocupação desse espaço.

O segundo ponto se relaciona com as questões do que é público e privado, com a diluição dessas fronteiras na contemporaneidade. Ao mudarem seus ateliês (e galerias, já que temos uma funcionando na Ocupação nesse primeiro turno) para uma instituição pública, artistas expõem mais do que obras, mais do que processos de trabalho: uma espécie de intimidade que se mostra nas relações de convívio, tão raras atualmente, devido a nossa falta de tempo crônica. Em plena São Paulo, o tempo interno da Ocupação é de uma cidade do interior, aonde podemos prosear à vontade...

O paralelo que se faz entre a Ocupação - seus encontros, conversas e parcerias - e o uso de um blog (que na sua essência nada mais é do que um diário tornado público) estabelece a simbiose necessária para a Quebra de padrão que desejamos.

Falar de arte, escrever, mostrar imagens, comentar, discutir, compartilhá-la e vivê-la, ser contaminado e contaminar, ampliando o seu diálogo para além do espaço e do tempo que acolhem um evento, são algumas das questões que esse trabalho quer tratar.

Posted by Patricia Canetti at 10:36 PM | Comentários (2)

junho 7, 2005

Quebra de Padrão - Centro Cultural Telemar

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Centro Cultural Telemar

Museu das Telecomunicações
Rua Dois de Dezembro 63, Flamengo, Rio de Janeiro - RJ
21-3131-1227
www.institutotelemar.org.br/centrocultural
www.oficina.arq.br


Museu das Telecomunicações, Rio de Janeiro

O Instituto Telemar promoveu um Concurso Público Nacional de Arquitetura em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil, em 1999, para a escolha do projeto do Museu das Telecomunicações. O objetivo era reformular o antigo Museu do Telephone, edificação construída em 1918, no bairro do Flamengo, e geminada ao edifício sede do IAB-RJ, no Rio de Janeiro. Dentre os 63 projetos de todo o Brasil, venceu a proposta da equipe formada pelos arquitetos Ana Paula Polizzo, André Lompreta, Gustavo Martins, Marco Milazzo e Thorsten Nolte.

O conceito do projeto é o dialogo entre o novo e o antigo. A edificação antiga foi parcialmente demolida para receber um novo volume, nos fundos do terreno, definindo três zonas no edifício: o volume formado pelo edifício antigo, que foi mantido com suas características peculiares; o volume novo, que se diferencia do antigo por uma arquitetura contemporânea; e o vão livre, formado pelo afastamento entre os dois volumes, mantendo um diálogo harmônico entre as partes.

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A representação imaterial da temática da comunicação foi uma das premissas do projeto. Quando pensamos sobre o que é comunicação, instintivamente relacionamos a imagens, como fios de telefone, grandes servidores de computador, ou satélites. Mas a escolha de uma destas imagens revela, afinal, que o espaço da comunicação é bem mais abstrato. Não é um objeto, nem acontece em um determinado lugar, e sim se configura na ausência de algo físico. Pensando assim, chegamos à conclusão de que a comunicação acontece na inexistência de um espaço real.

Como, então, materializar um espaço que defina comunicação? A arquitetura, sem dúvida, tem como objetivo a criação de um espaço real e acessível, que se define por seus limites físicos. Para materializar essa idéia, propõe-se a criação de limites virtuais, ou não-existentes, ou existentes, mas invisíveis ou desfocados, podendo transmitir a ausência de si próprio, através de sua indefinição.

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A sobreposição das malhas

A orientação gráfica do projeto é baseada na sobreposição da estrutura rigidamente ortogonal do edifício existente, e da malha criada por ângulos livres que determinam todas as novas linhas da intervenção. Para a malha do novo volume, foi escolhido um tema referente à comunicação: as ligações - forma de comunicar - entre todas as capitais dos Estados do Brasil.
A subjetividade da criação da nova malha, criada para contrapor os dois tempos, foi determinante para estabelecer o desenho de toda a intervenção, sendo esta perceptível na "costura" dos dois volumes, na gráfica de seus espaços e na composição das fachadas revestidas de zinco.


Intervenção urbana

A demolição realizada na edificação antiga foi parcial. Foram mantidas as fachadas principal e lateral, a antiga estrutura e os revestimentos internos, conservando sua identificação volumétrica.

Com a abertura de uma nova rua lateral à edificação, o Museu das Telecomunicações, ganha uma implantação privilegiada, que requer uma volumetria adequada ao entorno, seguindo todas as exigências urbanas e tornando legível a organização interna do museu, além de valorizar suas fachadas e o conjunto que este faz com o IAB.

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Os limites do real - espaço virtual

A fim de tornar o edifício acessível a todos, alteramos o antigo acesso ao Museu, que era feito pela fachada preservada por um lance de escadas. O novo acesso é feito então pela rua lateral, onde a fachada é totalmente de vidro transparente e o nível do piso externo é igual à do piso interno, reforçando a idéia de continuidade entre espaço interno e espaço externo. Na antiga entrada do Museu foi criado um local para divulgação das exposições.

Este novo acesso foi projetado recuado em relação ao alinhamento, gerando uma fachada inclinada, que segue as linhas da malha criada, conduzindo os visitantes para a nova entrada do museu. Desta forma o museu se abre para a cidade, estimulando no observador o desejo de se aproximar e ver o que existe no interior.

Na fachada Sul ficam destacadas a volumetria nova e a volumetria de concreto da escada de emergência, separadas por um grande painel de madeira e um pano de vidro, onde foi criado um acesso secundário para carga e descarga e entrada de funcionários. Passarelas metálicas com piso de chapa furada ligam os pavimentos à escada e possibilitam a vista da rua dos fundos.

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Os dois tempos

O elo de ligação entre o edifício antigo e a nova intervenção se define pela criação de um vão livre, que corta o volume do museu. Este vão possui fachada totalmente envidraçada, e é coberto por uma clarabóia com brises automatizados, permitindo a entrada de luz. As circulações verticais, escadas e elevador, se desenvolvem neste vão, interligando de maneira interativa as áreas de exposição, uma vez que os pavimentos preservados são ligados a quatro novos pavimentos em níveis intermediários.

As lajes novas construídas são de concreto armado, sem vigas, possibilitando o melhor aproveitamento do espaço. As escadas que interligam os pavimentos são de estrutura metálica, com degraus e guarda corpos de vidro com PVB opaco, possibilitando a passagem da luz. O elevador constitui um volume destacado, apresentando uma de suas faces panorâmica, com vidro transparente e brieses horizontais de madeira, criando uma visão estroboscópica do interior do Museu.

Por este vão se tem a clara visibilidade de todos os pavimentos que compõem o espaço, pode-se entender onde se está e aonde se quer ir. O movimento através do vazio permite experimentar uma dinâmica, onde as escadas, que seguem a força maior do projeto, são parte do trajeto dentro da arquitetura.

Da mesma forma, os espaços internos foram organizados seguindo esta ordem maior: Os novos pavimentos possuem pilares cilíndricos metálicos e pisos cimentados, enquanto os pavimentos antigos possuem pilares quadrados e o piso de tábua corrida de madeira preservada da demolição.

Apesar do edifício antigo e o novo volume permanecerem como dois momentos da arquitetura, estas áreas constituem um todo integrado havendo sempre um diálogo entre passado e presente.


Organização interna

O pavimento de acesso será um local de recepção, onde poderão ocorrer eventos diversos, venda de produtos, e uma livraria, além de apresentação de produtos tecnológicos. A galeria de arte contemporânea se localiza no segundo nível, onde as exposições serão temporárias. No terceiro nível se encontra a administração do Museu e é onde começam as exposições de longa duração continuando até o sexto pavimento. Os andares intercalados e totalmente abertos possibilitam uma continuidade das exposições sem que haja uma interrupção brusca.

No sétimo nível, formado por um volume totalmente fechado e com pé direito de 12m, se encontra o espaço de múltiplo uso, apresentando diversas opções de organização, pois as arquibancadas são formadas por módulos desmontáveis, com cadeiras soltas. No último pavimento se encontra o Cyber-café com um terraço que possibilita a vista da praia.


A nova imagem do museu

As fachadas laterais e de fundos do museu apresentam o edifício para o novo espaço urbano e se mostram como um elemento único, passando uma imagem para a cidade.

Através de painéis modulares de zinco-titânio, com rasgos contendo iluminação, é representada uma linguagem digital, refletindo na reprodução da nova malha a tecnologia das telecomunicações.

Posted by João Domingues at 1:56 PM | Comentários (1)