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julho 9, 2005

arte=capital

ReginaJohas_todo_mundo_no_futon.jpg

Gosto de repensar o mote beuysiano no contexto da OCUPAÇÃO:
KUNST=KAPITAL, que significa arte=capital. O que ele queria dizer era que a arte deveria substituir a MOEDA no sistema capitalista: a arte é que deveria circular, e circular como uma força viva que nos enreda, que nos une como as tramas das camas de gato, como os fios de uma meada tecida entre mãos encadeadas.
Acho que algumas propostas do artista alemão poderiam ser retomadas: como a consciência de que a revolução somos nós ("Die Revolution bin Ich"), o potencial diário que temos de mudar as coisas, contaminar as pessoas que nos circundam. Resistência e revolução hoje não tem nada que ver com os dogmas que herdamos, há que haver uma QUEBRA DO PADRÃO.
A arte não é um instrumento de comunicação, ela é um jeito de ser e estar no tempo/espaço. Sendo pura potência, sendo o lugar da experiência é que ela é, por excelência, um ato de resistência: "Não existe obra de arte que não faça apelo a um povo que ainda não existe".
Reg Johas

Posted by Regina at 2:22 PM | Comentários (1)

julho 7, 2005

Instalação provoca mal-entendido e artista plástica é detida em SP, por Luciana Pareja

Instalação provoca mal-entendido e artista plástica é detida em SP

Matéria de Luciana Pareja originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 4 de julho de 2005

Arte contemporânea nem sempre é bem-compreendida. A artista plástica Ana Teixeira, 47, por exemplo, foi parar no 5º DP ontem à tarde, quando fazia uma intervenção pública na feirinha do Bexiga (região central de São Paulo), realizada semanalmente numa praça na rua Treze de Maio.

Na sua bancada móvel, identificada com o nome do trabalho, "Outra Identidade", a artista fazia réplicas de carteiras de identidade, nas quais o "identificado" pode escolher uma entre dez frases, como "ainda tenho tempo" e "não tenho certezas", para ser carimbada no papel, no lugar em que normalmente figura o nome e o número do registro geral.

"A idéia é identificar a pessoa não pelo nome ou por um número, mas por frases que exprimam um pouco do que ela é", diz Teixeira, que já havia realizado a ação outras vezes.

As pessoas levam para casa a "outra identidade" e deixam a impressão digital do polegar gravada em um caderninho, que a artista expõe posteriormente como resultado de seu trabalho. A confusão começou aí.

"Uma senhora que trabalha na feirinha não quis fazer a identidade e começou a dizer que o pessoal era louco de colocar a digital no caderno, que eles não sabiam que uso eu faria daquilo", diz Teixeira. Não é feita identificação do dono da impressão digital no caderno, só há a marca de vários polegares indistintos e a inscrição "Outra Identidade" na capa.

As pessoas, temendo serem vítimas de um golpe, reclamaram no posto da Guarda Civil Municipal instalado na praça, segundo a artista, que foi levada ao 5º Distrito Policial para averiguação.

"Não houve crime, foi só um mal-entendido, é um trabalho de finalidade artística perfeitamente plausível", explica o delegado do 5º DP João Achem Jr. Tanto que Teixeira foi liberada em cerca de 15 minutos.

"O que me impressionou foi a lógica do capital que rege a cabeça das pessoas. Todo mundo ficava me perguntando como eu estava fazendo aquilo sem ganhar nada, sem pedir pagamento. Alguém disse que, se pelo menos eu fosse patrocinada por alguma grande empresa, poderia acreditar em mim, mas como eu não visava nenhum lucro, devia estar com "armação'", afirma Teixeira.

Posted by João Domingues at 12:21 PM | Comentários (6)

julho 5, 2005

"Falta apoio à arte", acusa diretora do Paço, por Fábio Cypriano

"Falta apoio à arte", acusa diretora do Paço

Matéria de Fábio Cypriano publicada originalmente na Folha de S. Paulo, Ilustrada, na terça-feira, dia 5 de julho de 2005

Em carta aberta, Daniela Bousso denuncia ausência de políticas públicas para a arte contemporânea

O ano de 2005 está sendo o das cartas-bomba no circuito das artes plásticas. Primeiro foi o então secretário municipal da Cultura Emanoel Araujo, que ao deixar o cargo, em 11 de abril passado, desancou a visão do poder público sobre a cultura. Agora, é a vez da diretora do Paço das Artes, Daniela Bousso.

Em carta enviada por e-mail a mais de 200 pessoas, na última semana, e divulgada no site da instituição (www.pacodasartes.sp.gov.br), Bousso denuncia a "ausência total de políticas culturais públicas para o exercício da arte contemporânea".

O desabafo tem por base a exposição em cartaz no Paço, "Ocupação", aberta no último dia 6 de junho, que em três turnos, o último começa hoje, apresenta o processo criativo de 70 artistas, transformando o local num ateliê aberto durante 45 dias. O evento, que comemora os 35 anos da instituição, a única do Estado dedicada exclusivamente à produção contemporânea, foi a "saída possível", segundo Bousso, já que o Paço não está pagando cachê aos artistas nem tampouco auxiliando na produção dos trabalhos, para comemorar a efeméride.

"Não havia dinheiro para a exposição, mesmo em 35 anos de existência, só temos financiamento para o básico, sequer temos dotação orçamentária", diz a diretora. Mesmo assim, atualmente até as linhas telefônicas do local não funcionam por problemas no cabeamento. No ano passado, o Paço recebeu R$ 400 mil do governo do Estado e, por patrocínio, cerca de R$ 1 milhão. "Este ano está muito mais difícil obter apoio", conta Bousso.

A mostra se tornou polêmica quando, em meados de junho, o blog do site Canal Contemporâneo (www.canalcontemporaneo.art.br/quebra), de Patrícia Canetti, uma das artistas que participa de "Ocupação", passou a receber ataques de pessoas contrariadas com o sentido da mostra.

"Por que o Paço da Artes e todos que estão envolvidos nesse evento, com a idéia de ocupação e com o reconhecimento da precariedade existente, imprimem esforços de mobilizar e organizar tanta gente, se utilizam do acesso a mídia que o meio cultural naturalmente tem, mas não realizam a ação em sua real potência transformadora?", questiona, por exemplo, Flavia Vivacqua. Já Daniel Manzione, em outra parte do blog, qualifica a exposição como "oportunista" e a ação dos artistas que dela tomam parte como "adesão leviana".

A carta, segundo Bousso disse, ontem, à Folha, foi escrita "para gerar uma consciência geral sobre a situação das instituições brasileiras. Uma boa gestão depende de encarar os problemas e enfrentá-los, inclusive alertando o próprio Estado sobre isso, realizando o debate com transparência".

No texto, a diretora afirma: "O projeto [...] pretende, isso sim, criar oportunidade de encontros e trocas entre os interessados na continuidade de uma instituição como essa, pois cabe à sociedade civil e ao meio artístico lutar pelos seus interesses".

Após a ocupação, Bousso organiza um simpósio, em conjunto com o Fórum Permanente: Museus de Arte, entre o Público e o Privado, que irá debater três eixos, com especialistas brasileiros e estrangeiros: o circuito (instituições, mercado e mostras); a produção e a reflexão; e a mídia.

O simpósio, "Padrões aos Pedaços", ocorre entre os dias 7 e 10 de agosto, e as inscrições, que podem ser realizadas no site da instituição, vão até o dia 22 de julho. Vem aí mais bomba.

Posted by João Domingues at 12:42 PM | Comentários (1)

julho 4, 2005

seleção de textos publicados no blog dos críticos

do merzblog

Segunda-feira , 27 de Junho de 2005

de colaborações e agenciamentos

gaiad.jpg

se no primeiro turno vimos dimensões afetivas da participação em arte nos trabalhos de regina johas e beth moysés (além de instâncias colaborativas nas propostas da casa blindada, de patrícia osses e paulo buenoz), nesta segunda etapa temos alguns projetos que recolocam a questão em outra chave: paulo gaiad se põe diante da fotografia da vaca que, da janela de seu ateliê em florianópolis, ele vê pastando todos dias, e vai copiando em papel-jornal espalhado pelo chão um texto coletivo que foi elaborado a partir do envio, por dezenas de colaboradores, de frases e palavras escolhidas aleatoriamente. vera bighetti e paulo telles instalaram um boneco inflável destes que se vê pelas ruas, acionados pelo vento, dentro do paço das artes, onde o vento é substituído pelo agenciamento dos visitantes, que acionam sensores e fazem o boneco-pintor trabalhar. raquel kogan propicia aos espectadores da instituição uma espiada nos bastidores: basta se postar diante do olho mágico em uma caixa de espelho suspensa. helga stein fotografa quem estiver a fim de posar e devolve os retratos retrabalhados digitalmente (veja em http://ocupandros.nafoto.net). eduardo salvino posa de repórter e entrevista deus e o mundo para criar seus textos-pardais instalados dentro de uma arapuca. você prefere guardar a obra ou destruí-la para ter acesso à entrevista? voltaremos a estes trabalhos para análises detalhadas.

Quarta-feira , 29 de Junho de 2005

o que é que a dobra tem?

sonia.jpg

sonia guggisberg vem pesquisando há mais de 15 anos as possibilidades que vários materiais lhe oferecem de manipulação, dobra e torções. aqui, a dobra nada tem a ver com a dobra de um amílcar de castro, por exemplo. não se trata de dobrar uma matéria que oferece resistência, mas, antes, de conformar provisoriamente materiais moles. esta torção provisória se adere ao feltro, à borracha, ao plástico e até à fotografia pela ação da artista, que põe no mundo esculturas transitivas e irrepetíveis instaurando um vocabulário que ao mesmo tempo em que parece próximo ao do modernismo, promove seu desmanche. na ocupação, sonia guggisberg trabalhou duas formas em plástico transparente cheias de água. para quem visitou a exposição em dias diferentes, a operação fica mais clara: as esculturas moles foram mudando, alongando-se e retraindo-se ao sabor da manipulação. as peças encontraram uma solidez provisória quando, depois de dobradas e torcidas, aderiram ao chão. na fotografia, meio novo na experimentação da artista, o processo é semelhante. e mesmo aquilo que tenderia mais definitivamente à solidez e ao congelamento sonia põe instável, valendo-se de uma técnica de adesivar as fotografias em suportes moles. a dobra volta à tona e abre, aqui, um campo fértil para futuras experiências.

meu laboratório de desenho

fabio_tremonte.jpg

a primeira providência de fábio tremonte depois de instalar sua mesa de trabalho no paço das artes foi simular um céu numa janela à sua frente. uma vez criado o horizonte, pôs-se a desenhar. mas não foram retratos nem confissões nem monotipias que saíram de cima do tampo de vidro. a iconografia subjetiva, permeada de escritos, que estamos habituados a ver no trabalho de tremonte deu lugar a desenhos esquemáticos, palavras esquemáticas, e tudo sobre superfícies de cores artificiais. o que estaria se passando neste laboratório de desenho que o artista organizou pra si em seu espaço na ocupação? bloqueio criativo? crise? contaminação talvez seja a palavra mais adequada. tremonte está utilizando esta oportunidade para se ocupar de um interesse que há muito o acompanha: o ambiente virtual. seus novos trabalhos são desenho de observação... da internet. contaminado pelo mundo de imagens que circulam na rede, o artista está experimentando confrontar com aquele universo cotidiano tão presente em sua produção um outro cotidiano, e para isso escolheu como suporte papéis que estão à mão, como pequenos cartões pautados ou folhas cor-de-rosa e verde limão de um bloco criativo. as imagens de referência, curiosamente, lhe chegam a partir de um procedimento em tudo afeito à sua poética: ele digita em sites de busca as palavras que designam formas recorrentes em sua poética (coração, casa, céu etc.) e põe-se a desenhar, reinventando seu desenho. uma outra pesquisa também se delineia nesta ocupação: vídeos curtos, disponíveis apenas na rede. o endereço é http://tremonte.multiply.com/video. mais adiante trataremos dos vídeos.

artista-repórter

eduardo_salvino.jpg

entre um b.o. do espectador que foi seqüestrado pela ocupação e a entrevista cifrada de uma das artistas participantes (que se resume à repetição pela artista de quatro ou cinco das palavras mais importantes na descrição de seu processo criativo), eduardo salvino vai compondo suas reportagens sobre o evento no paço das artes. o artista propõe uma visão nada ortodoxa de jornalismo cultural para subverter o que considera as "arapucas da mídia": sempre que alguém é entrevistado, a manipulação do que diz é tanta que se instaura a dúvida acerca de se a pessoa foi objeto de uma reportagem ou vítima de uma cilada. gravador em punho e vestindo a camisa de repórter, na sua cobertura da ocupação salvino leva ao extremo a cultura do remix da fala alheia e gera narrativas ficcionais na forma de impressos que são, por meio de uma técnica de origami, transformadas em pequenos pardais. eles ficam dispostos no espaço e podem ser destruídos/lidos por quem quiser. o artista está fazendo uma cobertura completa, entrevistando público e participantes ao longo dos três turnos. nos sábados de encerramento de cada turno, ocorre a "pardalada", quando todas as matérias já realizadas invadem a escadaria do paço das artes. agarre o seu pardal!

Sábado , 02 de Julho de 2005

renata_barros.jpg

se me pedissem uma leitura crítica do conjunto dos trabalhos desenvolvidos no segundo turno da ocupação, eu responderia que há quatro "questões" principais que amarram as propostas destes artistas: impermanência (martha lacerda, lali krotoszynski, sonia guggisberg, renata barros), fetiche (caetano dias, helga stein, eduardo salvino, raquel kogan), participação (vera bighetti e paulo telles, regina carmona, canal contemporâneo, guto lacaz) e processo (preguiça febril, fábio tremonte, paulo gaiad, vera martins). estes parâmetros meio frouxos de análise são intercambiáveis, no sentido de que os artistas em geral transitam por mais de uma questão levantada aqui (e por outras não apontadas, claro). no caso da impermanência, chama a atenção o modo como alguns artistas pensaram a ocupação como oportunidade de reflexão sobre o espaço (não o espaço de modo geral, mas aquele espaço específico: a instituição no momento em que celebra seus 35 anos de existência). lali krotoszynski se propôs a vivenciar o espaço, ocupando-o e se deixando contaminar por ele, avançando muito lentamente sobre áreas do paço das artes conforme a área anterior se mostrava "resolvida". sua ação acontece como um misto de performance e de "negociação". o percurso pode ser visto em um traçado sutil e impermanente de fios pretos no chão do espaço. no trabalho de renata barros, vemos também a incorporação do trabalho do outro, da presença do outro no espaço. uma outra dimensão da vivência do espaço está no diário gravado em páginas de vidro e em uma superfície refletora, ambas trabalhadas ao longo do período da ocupação, espécie de avanço lento também sobre "áreas" do paço das artes. esta questão da impermanência me foi sugerida em conversa com a artista martha lacerda, que trouxe para a ocupação seus bordados efêmeros como uma forma de pensar a passagem de tantos artistas e tantos trabalhos e tantas poéticas pelo paço ao longo de seus 35 anos. os trabalhos de martha ocupam o espaço e, em sua consistência delicada, já prenunciam sua extinção.

fetiche

helga.jpg

caetano dias tarda... mas não falha (mesmo!). o artista deixou seu espaço desocupado na primeira semana do segundo turno (por conta de uma viagem de trabalho), mas apareceu esta semana no paço com uma proposta de risco: instalou um notebook no chão, que fica exibindo, ao som de um cravo, um slide-show de fotografias apropriadas de sites pornográficos da internet que mostram apenas os rostos de pessoas amordaçadas. enquanto isso, o artista distribui mordaças ao público e faz novas fotos para a série. helga stein, a poucos metros dali, promove um desdobramento de seu trabalho andros hertz, em que manipulava auto-retratos. na ocupação, ela captura os retratos de visitantes e os transfigura digitalmente. a androginia da série de trabalhos originais (http://www.projecto.com.br/andros/) dá lugar, em ocupandros, à alteração radical que provoca não mais o estranhamento diante de uma mesma identidade retrabalhada à exaustão, mas o impacto diante de "identidades" radicalmente artificiais.

Posted by Juliana Monachesi at 4:41 PM | Comentários (1)

julho 3, 2005

Sobre o encontro do dia 02 de julho na Ocupação

Hoje muito se falou de uma tentativa de atitude polítca ou coisa parecida da parte dos artistas que ocupam o Paço das Artes; entre outros assuntos tratados no encontro, quero me ater a esse especificamente.
Acho que a partir do momento em que cada artista se disponibilizou a ficar durante 12 dias, 5 horas por dia dentro do Paço das Artes, isso já se torna uma atitude política. Por quê? Primeiro: não havia cachê, nem infra-estrutura para os artistas, mas todos providenciaram a infra-estrutura de que cada um necessitava. Segundo: moramos em São Paulo, onde a simples ação de se deslocar de um lugar para o outro pode se tornar algo penoso, mas diariamente os artistas se dirigiam ao Paço. Terceiro: 5 horas por dia, durante o horário comercial não é fácil de se arranjar, ainda mais quando sabemos que artistas têm, na sua maior parte, outro trabalho, para poder comer e pagar suas contas, mas mesmo assim, fizemos negociações e ajustes para estarmos no Paço das Artes. Quarto: o que esperar de artistas passando 12 dias, 5 horas por dia em uma instituição cultural, que comemora seus 35 anos e que disponibilizou nichos para os artistas? Produção! Não importa se os artistas não tomaram a fachada do Paço, não saíram em passeata pelas ruas da Cidade Universitária e nem mesclaram seus trabalhos aos trabalhos dos outros, criando um único e grandioso trabalho coletivo e democrático. Acredito que cada atista em seu canto, no seu silêncio e reflexão estava sendo muito mais político e crítico da situação da instituição do que se tivesse que participar de algo coletivo e fake. Cada dia mais acredito que a revolução virá de atos pessoais e individuais isolados, que aos poucos vai alcançar e um dia, quem sabe, transformar. Continuo acreditando e sonhando com nuvens.

*para Leonilson

Posted by Fábio Tremonte at 3:10 AM | Comentários (1)