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DF/MG/PE/RJ/SP HOJE Foto Arte 2003, Centro |ex|cêntrico no CCBB-DF / Lançamento Jornal INCLASSIFICADOS na Joaquim Nabuco
ANO 3 N. 80 / 30 de junho de 2003




NESTA EDIÇÃO:
Fábio Carvalho na Léo Bahia Arte Contemporânea, Belo Horizonte
Foto Arte 2003, Centro |ex|cêntrico no CCBB, Brasília  HOJE
Bettina Vaz Guimarães no Espaço Henfil de Cultura, São Bernardo do Campo
O Efeito-Cinema na Arte Contemporânea, Mostra de Filmes e Vídeo no CCBB, Rio de Janeiro
Lançamento Jornal INCLASSIFICADOS na Joaquim Nabuco, Recife
 HOJE
Alfabeto Visual de 26/06 - Se eu quiser falar com Deus por Rubens Pileggi Sá
Arte, política, e resultados improváveis por Patricia Canetti
Abaixo-assinado contra o Guggenheim-Rio & por Políticas Culturais Participativas


 




Fábio Carvalho
Belo Horizonte Turístico

1º de julho, terça-feira, 20h

Léo Bahia Arte Contemporânea
Av. Raja Gabaglia 4875
Santa Lúcia   Belo Horizonte
31-3286-2055
http://www.bhturistico.hpg.ig.com.br
Exposição até 2 de agosto de 2003.


A exposição Belo Horizonte Turístico, de Fábio Carvalho apresenta trabalhos inéditos realizados entre 2002 e 2003.

O núcleo central da exposição é a série Paisagem Assistida, constituída de desenhos com caneta de retroprojetor sobre acrílico, que têm como referência cartões postais e fotografias de revistas de pontos turísticos de Belo Horizonte.

Há ainda na exposição quatro fotografias da série O Invisível na Fotografia,  realizadas com várias fotos batidas nas ruas de Belo Horizonte.

Finalizando, há três mapas de Belo Horizonte na mostra: Cartografia Subjetiva, que origina-se de um mapa impresso onde foi traçada com caneta esferográfica a rota dos deslocamentos do artistas pela cidade.

Cartografia Fragmentária, que foi realizado a partir de pequenos mapas de localização de impressos e internet, colados em uma superfície branca, do mesmo tamanho de um mapa real de Belo Horizonte, exatamente na posição onde estariam neste mapa completo da cidade.

Paisagem Visitada é um "mapa/desenho" feito com alfinetes de mapa pretos, afixados sobre uma superfície branca. Cada alfinete indica um local de Belo Horizonte onde o artista já esteve desde a sua primeira estada na cidade.

Estes trabalhos, que muito embora integrem séries distintas e se apresentem de formas variadas, estão todos relacionados por um tema único: a própria cidade de Belo Horizonte, mas não mais a metrópole ofertada a todos de forma impessoal e genérica, mas sim uma outra cidade, reconfigurada e transformada de forma ativa através daquilo que o artista vê, registra e acumula, processados por sua experiência sensível e afetiva.   


FÁBIO CARVALHO
abril 2003

A exposição Belo Horizonte Turístico apresenta trabalhos inéditos realizados entre 2002 e 2003. O núcleo central da exposição é a série Paisagem Assistida (o retorno da aura), constituída de desenhos com caneta de retroprojetor sobre acrílico, que têm como referência cartões postais e fotografias de revistas de turismo, onde são mostrados pontos turísticos de Belo Horizonte. As imagens referência dos desenhos estão afixadas por baixo da placa de acrílico. Este trabalho é um híbrido entre a fotografia e o desenho, uma combinação destes dois, constituindo uma nova imagem, que depende de ambos.

Como o desenho acontece sobre uma placa de acrílico, ao invés de diretamente sobre a imagem, ele flutuasobre a imagem, como se fosse a aura perdidadas imagens técnicas reprodutíveis, conforme observado por Walter Benjamin, no célebre ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Este trabalho, de uma forma nostálgica, devolve à imagem reproduzida aos milhares, cansada, gasta, que já circulou infinitamente, a possibilidade de integrar o mundo dos objetos auráticos, dos objetos únicos.

Já cada trabalho da série O Invisível na Fotografia foi realizado com várias fotos batidas nas ruas de Belo Horizonte, a partir de um ponto de vista fixo, em intervalos de tempo variáveis. Nas cenas fotografadas, havia sempre objetos em movimento (pessoas, carros, etc.). Posteriormente, as fotos foram digitalizadas e superpostas.

Ao se realizar esta fusão, cria-se uma simultaneidade entre os vários tempos apresentados nas fotos. Não se pode mais dizer qual "objeto" corresponde a qual "tempo" da seqüência original. Temos todos os tempos juntos, num único instante novo, que nunca aconteceu. A foto, tida como um recorte instantâneo do real, não se presta mais a este fim, não é mais um testemunho de um evento singular no tempo. Há uma dinâmica cinemática nestas imagens, embora tudo continue fixo, preso à superfície.

Os três "mapas" de Belo Horizonte, apresentados nesta exposição, são complementares e opostos na natureza de suas origens e criação. Cartografia Subjetiva - Belo Horizonte / março 2003 origina-se de um mapa impresso em grande quantidade, para ser distribuído aos turistas que chegam à cidade. Neste mapa, foi traçada com caneta esferográfica a rota dos meus deslocamentos pela cidade, ao longo dos seis dias passados em Belo Horizonte em março de 2003. Posteriormente, todo o resto do mapa que correspondia às ruas não atravessadas foi "apagado" com tinta branca.

Fez-se assim um recorte pessoal de um universo mais amplo e genérico; a transformação de um objeto múltiplo e utilitário, que é uma carta aberta a múltiplas possibilidades, em algo particular, único, em um índice pessoal.

Cartografia Fragmentária - Belo Horizonte foi realizado a partir de pequenos mapas de localização (hotéis, imóveis, parques, cursos, etc) de impressos e internet. Estes pequenos fragmentos da cidade foram colados em uma superfície branca, do mesmo tamanho de um mapa real de Belo Horizonte, exatamente na posição onde estariam neste mapa completo da cidade.

A partir destes fragmentos, a cidade é reconstruída de forma incompleta e imperfeita, numa releitura pulverizada, caótica e multidimensional da cidade, mais próxima da experiência urbana atual. Um mapa tradicional, com apenas uma face e estático no tempo não consegue mais dar conta da velocidade e multiplicidade da vida contemporânea.

Paisagem Visitada - Belo Horizonte é um "mapa/desenho" feito com alfinetes de mapa pretos, afixados sobre uma superfície branca. Cada alfinete indica um local de Belo Horizonte onde já estive desde a minha primeira estada na cidade. A posição de cada alfinete foi determinada a partir de um mapa real de Belo Horizonte, exatamente onde estes locais estavam no mapa original. O acúmulo de indicações de situações rotineiras (como almoçar em um restaurante, visitar um amigo, fazer compras, etc) acaba gerando um desenho que não foi orientado por uma "vontade" estética, mas sim por necessidades alheias ao trabalho.

Estes trabalhos, que muito embora integrem séries distintas e se apresentem de formas variadas, estão todos relacionados por um tema único: a própria cidade de Belo Horizonte, mas não mais a metrópole ofertada a todos de forma impessoal e genérica, mas sim uma outra cidade, a minha Belo Horizonte, reconfigurada e transformada de forma ativa através daquilo que vejo, registro e acumulo, processados pela minha experiência sensível e afetiva.

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Foto Arte 2003
Centro |ex|cêntrico
Andréa Campos de Sá, Eduardo Frota, Jailton Moreira, Milton Marques, Regina de Paula Walter Menon
Curadoria: Gê Orthof e Marília Panitz

30 de junho, segunda-feira,  das 12h às 21h

Nova Galeria  do Centro Cultural Banco do Brasil
SCES Trecho 2 lote 22
Brasília
61-310-7081 / 7227
ccbbdf@bb.com.br
http://www.cultura-e.com.br
Exposição até 3 de agosto de 2003.

Fotografia, escultura, instalação, vídeo na mostra que inaugura a nova galeria do Centro Cultural Banco do Brasil-Brasília

A palavra “centro” aceita várias definições. Por centro pode-se entender o ponto de convergência de todas as coisas ou o fundo, a profundeza de tudo. Pode ser também o lugar eqüidistante de todos os outros ou o meio de um país, de uma região, de uma cidade. Centro geopolítico, centro arquitetônico, centro poético. Já por “excêntrico” pode-se compreender aquele que se desvia, que se afasta do centro. Como se daria, então, um diálogo sobre a excentricidade dos centros? Foi pensando nesta amplitude de significados e de abordagens que os curadores Gê Orthof e Marília Panitz conceberam a exposição Centro |ex|cêntrico, especialmente escolhida para inaugurar a nova galeria do Centro Cultural Banco do Brasil. A mostra integra o mega-evento Foto Arte 2003.

Centro |ex|cêntrico reúne o trabalho de três artistas de Brasília – Andréa Campos de Sá, Milton Marques e Walter Menon – e três artistas de outras regiões do Brasil – Eduardo Frota, do Ceará; Jailton Moreira, do Rio Grande do Sul, e Regina de Paula, do Rio de Janeiro. Todos já bastante inseridos no circuito da arte contemporânea brasileira, estes artistas se caracterizam por trabalhar questões e conceitos não muito recorrentes na produção contemporânea brasileira. Cada um deles foi provocado a abordar, com o próprio trabalho, a própria linguagem, sua poética, a idéia de limiares, de fronteiras, rotas, o centro como deslocamento ou apenas como margem.

Os seis artistas trabalharam obras específicas para a exposição. A proposta feita pela curadoria foi estabelecer um diálogo entre os participantes, levando-os a trabalhar em duplas, sempre unindo um artista de Brasília a um nome de outro estado da federação. A idéia foi, também nesta escolha, manter a noção geográfica, dos quatro cantos do País, atuando sobre o resultado da tensão entre proximidade e distanciamento e procurando aproximar as questões abordadas em cada trabalho. Os artistas dialogaram sobre elos, sobre mapas, sobre pontos cardeais. “O mapeamento que une o centro-aqui-e-agora-Brasília com suas bordas, Fortaleza, Rio e Porto Alegre, partiu de uma prática também excêntrica às regras tradicionais de uma curadoria. Em nossa rota imaginária, assumimos a estratégia do turista que passeia com o dedo sobre o mapa buscando, quase involuntariamente, um nome, um acidente geográfico ou um grafismo... “ – explicam os curadores Marília Panitz e Gê Orthof.  

A nova galeria do CCBB é ocupada por obras que desenvolvem um elo entre a rua e o espaço interior. Indicam o externo, sugerem percursos que se complementam com as intervenções na área externa do próprio Centro Cultural Banco do Brasil e mesmo com outdoors e filipetas espalhados pela cidade. Uma forma de trabalhar a idéia de sair do centro para ocupar o espaço externo. “O Centro Cultural Banco do Brasil fica um pouco afastado do centro da cidade; Brasília está fora do eixo Rio-São Paulo e os próprios artistas convidados a participar desta exposição costumam ocupar espaços que não são os tradicionais reservados às obras de arte”, explica Marília Panitz. E acrescenta: “Esta proposta cria espaços significativos fora do centro de tudo”.

Centro |ex|cêntrico foi concebida também para trabalhar a idéia de materialidade e simultaneidade. O primeiro estágio da mostra está focado na concretude da matéria. Walter Menon e Eduardo Frota produziram suas poéticas em torno da idéia de margem, de construção de divisores/conectores. Os muros de tijolos sobre rodas de Menon são construções paradoxais de limites-para-nada. Neles, a mobilidade do objeto talvez evoque a sensação de carregarmos nossas fronteiras que nos garantem um contorno, um reconhecimento de nós mesmos em relação ao outro. As construções tubulares de Frota parecem apontar (com fina ironia) para um jogo de esconde-esconde. São discos circulares de madeira, combinados e montados de forma geométrica, mas que mantêm o centro oco. O centro vazio ou o vazio do centro.

Em seguida, chega-se à segunda dupla: a brasiliense Andréa Campos de Sá e a carioca Regina de Paula, que utilizam a fotografia como base de suas poéticas. Andréa constrói cabines que procuram remeter a fenômenos espirituais, provocando a idéia de sair do centro de si mesmo. O registro de personas que Andrea constrói/recolhe para si (como espelho e fantasma ao mesmo tempo), revisita o imaginário religioso. Já a série de Regina de Paula parece desafiar o espectador ao focar um evento em suspenso, em off . São fotografias em grandes formatos – 1,90 x 2,30 m – que exibem espaços de passagem. A transitoriedade e o vazio. Em Ressonância, série de fotografias em pequenos formatos, impressas em folhas de acetato, as imagens são detalhes arquitetônicos do atelier da artista que dialogam com a própria arquitetura da galeria.

Por fim, chega-se ao terceiro e último estágio do percurso da exposição – o da ausência da matéria, da imagem em movimento de fuga – que nos leva às obras de Jailton Moreira e Milton Marques. Jailton trabalha a partir do registro de imagens em vídeo, colhidas ao longo de muitos anos, durante as constantes viagens que o artista empreende pelo Brasil e pelo exterior. Em cada lugar que chega, Jailton colhe uma panorâmica de 360º. Em Centro |ex|cêntrico elas aparecem todas juntas, editadas, uma colada à outra. O mundo circular. Em Dial, o horizonte visto da janela da galeria se articula, à imagem virtual de um looping de 360°, que registra o horizonte do pampa gaúcho. Já as imagens de Riobaldo e Panorâmicas são diários de bordo visuais de um turista|ex|cêntrico: no primeiro, os rios do mundo se unem em uma circularidade ad infinitum; na segunda, um círculo completo desenhado pela filmadora registra as paisagens e as funde em um só improvável horizonte. Milton Marques desenvolve a sua poética, instalada na subversão dos mecanismos de máquinas, dos quais conserva basicamente a função de produzir movimento. Em Farol, o artista concebeu um universo de linhas traçadas por raios infravermelhos, que se entrecruzam, se sobrepõem, criam limites imaginários. Um outro trabalho, acionado por controle remoto, incorpora a sombra dos passantes. Em ambos, aparição efêmera... e desaparição.

Andréa Campos de Sá
Nasceu no Rio de Janeiro, mas vive e trabalha em Brasília. Mestre em Arte e professora da UnB, é gravadora de formação, tendo editado álbuns com seu trabalho pelo selo Edições de Arte. Participa de mostras individuais e coletivas no Brasil e exterior, como Vice-Versa: Eixo Brasília-Frankfurt. Nos últimos anos, tem desenvolvido um trabalho em instalação, no qual a fotografia aparece como suporte. Sua poética discute a estranheza da imagem diante do conceito do Eu e suas representações.

Eduardo Frota
Natural de Fortaleza, onde atualmente vive e trabalha. Entre as décadas de 70 e 90, estudou e trabalhou no Rio de Janeiro. Arte-educador e curador, foi um dos criadores do Casa de Arte Pesquisa e Produção Alpendre, um dos mais importantes espaços de arte contemporânea do Ceará. Participa de importantes mostras coletivas (como a 25ª Bienal Internacional de São Paulo) e individuais. Seu trabalho tensiona as idéias de escultura e instalação, apresentando enormes peças montadas com círculos de madeira que discutem a ocupação do espaço no sentido material e simbólico.

Jailton Moreira
Natural de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, vive e trabalha em Porto Alegre, onde atua como professor e curador de várias mostras, além de coordenar um dos mais importantes espaços de arte contemporânea da cidade, o Torreão. Expõe desde os anos 80 e suas videoinstalações têm participado de mostras como a III Bienal do Mercosul e Território Expandido III, do Prêmio Multicultural Estadão, em São Paulo. Seu trabalho em instalação utiliza o vídeo como suporte.

Milton Marques
Nasceu em Brasília, onde vive e trabalha como arte-educador. Integrou o Grupo Multimídia Corpos Informáticos, como artista pesquisador, e desde 1998 desenvolve um trabalho pessoal. Participa de individuais e coletivas, como a mostra Vice-Versa Eixo Brasília-Frankfurt e dos Salões do MAM da Bahia e do II Salão Nacional de Goiânia, no qual foi premiado. Sua poética se expressa a partir da criação e recriação de mecanismos que articulam imagens digitais e movimento mecânico.

Regina de Paula
Natural do Rio de Janeiro, viveu em Nova York, onde fez mestrado. De volta ao Brasil, passou a atuar como professora da UFRJ, tornando-se doutoranda em Linguagens Visuais pela mesma universidade. Tem participado de exposições individuais e coletivas. Em 98, foi selecionada para o XVI Salão de Artes Plásticas e premiada com aquisição no Prêmio Brasília de Artes Visuais. Seu trabalho fotográfico discute as questões do espaço vazio/ocupado, indiferenciando-os.

Walter Menon
Nascido em Curitiba, vive e trabalha em Brasília. Mestre em Comunicação, é professor da Universidade de Brasília. Realiza mostras individuais, como Catexia, pela qual é premiado com bolsa de pesquisa em arte no Prêmio Brasília de Artes Visuais 98, e participa, dentre várias outras coletivas, do Programa Rumos Visuais do Itaucultural 1999-2000. Seu trabalho cria espaços construídos que se fundem com a idéia de paisagem como campo devastado.


Sobre os curadores:  

Gê Orthof
Natural de Petrópolis, vive e trabalha em Brasília desde 1993. Professor Adjunto da UnB, fez mestrado e doutorado em Nova York e é pós-Doutor pela School of The Museum of Fine Arts, da Tufts University, de Boston. Tem diversos textos publicados em revistas especializadas e expõe desde 1979.

Marília Panitz
Nascida em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, vive em Brasília desde 1971. Mestre em Teoria e História da Arte, é professora da UnB. Pesquisadora e coordenadora dos programas educativos de exposições, atua como curadora em diversas mostras, como Felizes para Sempre, em Brasília e São Paulo, e Lúdico Lírico, em Berlim.

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Artista selecionada no Programa Anual de Exposições 2003
Bettina Vaz Guimarães
Curadoria: Paulo Whitaker

1º de julho, terça-feira, 20h

Espaço Henfil de Cultura
Av. Getúlio Vargas  1457
Baeta Neves   São Bernardo do Campo
11-4125-4755
Segunda a sexta, das 14h às 21h; sábados, das 9h às 14h.
Exposição até 2 de agosto de 2003.

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Movimentos Improváveis
O Efeito-Cinema na Arte Contemporânea
Mostra de Filmes e Vídeo

1º a 13 de julho de 2003

Centro Cultural Banco do Brasil
Sala de Cinema e Vídeo
Rua Primeiro de Março 66
Centro Rio de Janeiro
21-3808-2020
 
Apresentação da Mostra
2 de julho, quarta-feira, 18h30
Sala de Cinema
Tema: Cinema e arte contemporânea  com Ivana Bentes, pesquisadora de cinema, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, organizadora no Brasil do projeto Movimentos Improváveis: o efeito cinema na arte contemporânea
 

PROGRAMAÇÃO:
Os programas são compostos de filme: experimentais, filmes de artistas, filmes de ficção, filmes de arte, documentários, curtas, longas ou média-metragens, antigos e novos. Cada programa foi organizado em torno de um tema específico.

Programa 1 : Movimento Primitivo (75’)
Paolo Gioli, Piccolo Film Decomposto, 1986, 15’
Jean Louis Gonnet, Filming Muybridge, 1981, 25’
Eros Bradley et Jeanne Liotta, The Dervisch Machine,1992, 10’
Paolo Gioli, Finestri Avanti a un Albero, 1989, 15’

Programa 2 : Maquinas de Manipular o Tempo (105’)
René Clair, Paris qui dort, 1923, 35’
Dziga Vertov, L’Homme à la camera, 1929, 70’

Programa 3:   Sonhar em Câmera Lenta (67’)
Etienne Jules Marey/Lucien Bull, Eclatement d’une bulle au ralenti, 1892, 1’
Henri Chomette, Jeux des reflets et de la vitesse, 1926, 6’
Jean Epstein, Le Tempestaire, 1947, 20’
Bruce Conner, Crossroads, 1975, 40’

Programa 4 : Olhar em Câmera Lenta (98’)
Y. Gianikian et A. Ricci Lucchi, Du Pôle à l’Equateur, 1986, 98’

Programa 5: Pensar em Câmera Lenta (87’)
Jean Luc Godard, Sauve qui peut (la vie), 1979, 87’

Programa 6 : Desacelerar para Vibrar (90’)
Wong-Kar Waï, Chuncking Express, 1994, 90’

Programa 7:  Filmar Imóvel(78’)
Chris Marker, La Jetée, 1962, 30’
Thierry Knauff, Sphinx, 1986, 13’
Raymond Depardon, Dix minutes de silence pour John Lennon, 1980, 10’
Agnès Varda, Ulysse, 1982, 22’
Raymond Depardon, Face à la mer, 1999, 3’

Programa 8 : Travelling (78’)
Frères Lumière, Panorama pris d’un ballon captif, 1’
Anonyme (American Mutoscope Biograph), Interior NY Subway, 14th st. to 42nd Street, 1905, 6’
Michael Snow, Wavelength, 1966, 45’
Robert Frank, Conversation in Vermont, 1969, 26’

Programa 9 : Fazer a Foto Falar (106’)
Jean Eustache, Les Photos d’Alix, 1980, 18’
Hollis Frampton, Nostalgia (Hapax Legomena I), 1971, 36’
Chris Marker, Si j’avais quatre dromadaires, 1967, 52’


PROGRAMAÇÃO DE VÍDEO:

Programa 1  : Desequilíbrios  (62’)
Peter Fischli & David Weiss, Der Laufe der Dinge, 1986-87, 28’
Peter Campus, Double vision, 1971, 14’
Joan Jonas, Vertical Roll, 1972, 20’

Programa 2: : Suspensão  (53’)
Bill Viola, Reflecting Pool, 1977, 7’
Robert Cahen, Juste le temps, 1986, 13’

Programa 3: Vibrações (52’)
Jean Luc Godard, Puissance de la parole, 1988, 25’
Jean Luc Godard, Histoire(s) du cinéma 3A, 1998,26’

Programa 4 : Metamorfoses (57’)
Gary Hill, Happenstance, 1983, 6’30”
Karl Sims, Particle dreams, 1988, 1’30”
Robert Cahen, Hong Kong Song, 1989, 21’
Bill Viola, Chott El Djerid (Portrait in Light and Heat), 1980, 28’

Programa 5 : Impossível (56’)
Bruce Nauman, Revolving Upside Down, 1968, 10’
Bill Viola, Space Between the Teeth, 1976, 9’10”
Woody Vasulka, The Art of Memory, 1987, 36’

Programa 6: Panoptismo (84’)
Mikael Klier, Le Géant/Der Riese, 1983, 84’

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Lançamento
Jornal INCLASSIFICADOS

Debate
Carlos Mélo - artista participante da primeira edição do jornal; Cristiana Tejo - coordenadora de Artes Plásticas da FJN.


30 de junho, segunda-feira, 19h

Fundação Joaquim Nabuco
Rua Henrique Dias   609 
Derby
   Recife

Como uma primeira ocupação do Teatro SESC Ginástico, espaço ainda em reforma, mas que em breve será aberto ao público carioca, estaremos realizando uma festa de lançamento do Jornal Inclassificados, jornal que surgiu de uma postura crítica diante dos jornais, que cada vez se assemelham mais a um grande caderno de classificados, evocando também o sistema vigente nas artes, onde estamos quase sempre a mercê de classificações ou de inclassificações....Propomos então um espaço de ação e divulgação de idéias. Realizamos paralelamente ao jornal uma exposição itinerante por 4 unidades do Sesc Rio no interior do estado, com a participação de 12 artistas.

Esta 1ª edição é parte integrante do Projeto INCLASSIFICADOS, que tem por objetivo reunir as pessoas que atuam no circuito das artes visuais, ampliando o diálogo entre os seus diversos segmentos, fomentando a interlocução entre os extremos do país, estabelecendo um espaço não hierarquizado de discussão e descentralizando o sistema de arte.

Para isto, contamos com a colaboração de artistas, historiadores, professores, críticos e curadores, brasileiros e estrangeiros, que aqui apresentam as suas propostas, sendo cada um inteiramente responsável pelo seu espaço.

O jornal está sendo distribuído em pontos estratégicos do país e do exterior, contribuindo para a instauração de uma rede de circulação de informações. Nossa ambição é nos próximos números abranger colaboradores de outros campos do conhecimento e de outras localidades.

Tivemos apoio do SESC Rio para a realização da exposição e do Jornal Inclassificados.


O Projeto INCLASSIFICADOS
é coordenado pelos artistas
Rosana Ricalde e Felipe Barbosa.



Os Inclassificados

Ao longo dos anos, o SESC Rio vem atuando como pólo irradiador de cultura tanto no sentido tradicional de divulgação dos trabalhos consagrados e de formação do olhar crítico do público em vários campos das artes plásticas, quanto no sentido de produção do conhecimento.

De fato, há muito as artes plásticas ultrapassaram a concepção de que as obras devem ter sobretudo uma função estética na qual seria admissível a discussão de questões específicas. Hoje uma obra de arte interage não apenas com o ambiente em que é exposta, mas com o público, a cidade e todos os demais elementos que formam a complexa teia da contemporaneidade.  

Isto não só alterou o conceito de valor, desvinculando-o do objeto em si, e modificou o conceito de espaço, transformado em parte integrante das exposições. Expandiu o espectro de atuação do artista para muito além dos limites tradicionais, incorporando questões das mais diferentes áreas e profissões, substituindo a verticalidade anterior por uma horizontalidade que o mercado tem encontrado dificuldade em reconhecer e assimilar, o que com relativa freqüência fecha as portas aos que arriscam encontrar novos caminhos e possibilidades.

Ao apresentar a exposição dos Inclassificados e apoiar a edição do Jornal, o SESC Rio mais uma vez insere-se no cenário das artes plásticas fluminenses não apenas para abrir espaço a estes novos artistas, cuja diversidade de temas e materiais reproduz a complexidade contemporânea, mas  com o objetivo de investigar e trazer à luz as atuais formas e discussões estéticas, as produções de diferentes estilos e grupos sociais, contribuindo para o debate sobre a elaboração de uma nova política cultural.
 
SESC Rio


Colaboradores desta 1ª Edição do Jornal:

Alexandre Vogler (Rio de Janeiro)
André Amaral (Rio de Janeiro)
André Santangelo (Brasília)
Atrocidades Maravilhosas (Brasil)
Canal Contemporâneo
Carlos Borges (Rio de Janeiro)
Carlos Mélo (Recife)
Chang Chi Chai (Rio de Janeiro)
Daniela Mattos (Rio de Janeiro)
Fabiano Gonper (Paraíba)
Felipe Barbosa (Rio de Janeiro)
Fernanda Lopes (Rio de Janeiro)
Fernando Baena (Madri)
Franz Manata (Rio de Janeiro)
Frederico Câmara (Alemanha)
Guilherme Bueno (Rio de Janeiro)
Inclassificados 0 (Brasil / exterior)
Jacqueline Belotti  (Rio de Janeiro)
Jhone Mariano (Rio de Janeiro)
Jorge Macchi (Argentina)
Jorge Menna Barreto (Porto Alegre)
Júnior Almeida (Londrina)
Leonardo Videla (Rio de Janeiro)
Lina Kim (São Paulo)
Love Enqvist (Suécia)
Luciano Vinhosa (Canadá)
Luis Andrade (Rio de Janeiro)
Marcelo Campos (Rio de Janeiro)
Marcus Vinícius de Paula (Rio de Janeiro)
Marília Panitz (Brasília)
Marisa Florido (Rio de Janeiro)
Marta Neves (Belo Horizonte)
Mônica Rubinho (São Paulo)
Narda Fabiola Alvarado (Bolívia)
Neno del Castillo (Rio de Janeiro)
Nicholas  Martins (Rio de Janeiro)
Paola Parcerisa (Paraguai)
Patrícia Canetti (Rio de Janeiro)
Paulo R.O. Reis (Curitiba)
Rachel Korman (Rio de Janeiro)
Rejeitados (Brasil)
Roosivelt Pinheiro (Rio de Janeiro)
Rosana Ricalde (Rio de Janeiro)
Sidney Philocreon (São Paulo)
Sonia Salcedo (Rio de Janeiro)
Linha Imaginária (Brasil)


Mergulho Na Superfície (*)

MARISA FLÓRIDO CÉSAR
MARCUS VINICIUS DE PAULA


“...Uma das primeiras medidas da reforma gráfica do Jornal do Brasil, realizada por Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim  no final dos anos 50, foi a gradativa expulsão dos classificados que dominavam a primeira página do primeiro caderno. A venda explícita de mercadorias foi sendo relegada ao caderno de classificados, hoje, o apêndice bastardo de qualquer grande jornal. A mercadoria manifesta foi substituída pela dissimulada: muito mais sedutora e imaculada, a informação se disfarça na aparência de uma dádiva generosa.

Com os classificados deixados à margem sob o controle do jornal, seu caderno é underground em relação ao sistema de cadernos (como o primeiro, o de economia, o caderno cultural) em que se insere. Todo marginal só o é em relação a um poder do qual se torna o modelo do Outro.  E o Outro é aquele que expõe ao Mesmo sua face   indesejada no espelho.

Ao assumir-se como Inclassificados, e não como um caderno cultural, este jornal e esta exposição explicitam que a ambigüidade do seu nome  – in como inserção e negação  – é inerente à condição contemporânea: fazemos parte da lógica de mercado, da industria da informação e do espetáculo, ainda que desejemos vazar suas classificações simplificadoras.  Resta-nos a interrogação: Como respirar em suas frestas?

O Inclassificados retira o classificado de seu contexto e do sistema que o aprisiona para ressimbolizá-lo. Experimenta assim liberar o fragmento,  sem recuperá-lo em uma totalidade controlada, mas desejando tecer uma rede aberta e não hierarquizada. Uma rede polifônica composta de muitas teias, entrelaçada por camadas profundas e diversas.Uma rede de trocas em que várias vozes são convidadas a falar, cada uma com seu ponto de vista, cada qual em seu nome. Uma rede onde todos possam dialogar e cada um construa seu percurso de significação. Uma rede que minimize as distâncias, que nos parecem intransponíveis, entre as muitas realidades do mundo, entre a arte e seu público, entre aquele que fala e o outro que o escuta. Uma rede que alcance as brutalidades e as delícias do dia-a-dia: que o jornal também se aliene das falas, embrulhe o peixe da sexta, cubra o amor dos mendigos - “um pouco jogado fora, um pouco sábio demais”, como na canção. Todos são bem-vindos a tecer os laços desta rede e os rumos desta prosa. ”

*o texto na integra, se encontra no Jornal Inclassificados

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Alfabeto Visual de 26/06 - Se eu quiser falar com Deus

RUBENS PILEGGI SÁ
 
Aproveitando o título da música de Gil, como título da coluna, falamos com Deus ou falamos de Deus? Podemos tentar as duas maneiras. A primeira seria uma comunhão com o sagrado e o divino. A segunda, uma tentativa de abordagem sobre a criação. Um assunto que muitas vezes confunde uma coisa e outra.

Quando Michelangelo pintou a cúpula da Capela Sistina, em Roma, representou Deus e as cenas bíblicas, ao mesmo tempo em que aquela pintura evocava o divino em sua maneira de se manifestar, pelas mãos de um artista. A arte, depois de um longo período em que não se podia pintar imagens - como aconteceu com a igreja ortodoxa no oriente, por exemplo - transformou-se no principal meio de divulgação religiosa para as massas que não sabiam ler. E não só as imagens foram se sofisticando, as linguagens também. Não era mais só falar de Deus, ou para Deus, mas também com Deus.

Imagina-se Giotto, Fra Angélico, ou qualquer destes monges/pintores católicos em estado de graça, tirando de sua palheta de cores, cenas bíblicas, que faziam (e ainda fazem) o espectador dobrar-se, de joelhos, por admiração e reverência ao que se apresenta diante de seus olhos. O artista se torna o criador, como o Criador teria criado sua criatura, chamando-a a recriar as cenas da gênese. Então, a própria criatura se torna criadora.

Hélio Oiticica, para quem o significado cosmológico, na arte, era de fundamental importância, escreve em seu diário (6 de setembro de 1960), transformado no livro Aspiro ao Grande Labirinto: “...Quero que a matéria de que é feita minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro: sopro interior, de plenitude cósmica”.

Mircea Eliade, no livro Mito e Realidade (1963), narra a história da origem de vários mitos, em várias culturas, onde a criação artística é considerada sagrada, tanto quanto qualquer atividade em que o homem se dedique com atenção ao seu ofício. E nos apresenta a figura do xamã, que invoca a origem do mundo, toda vez que faz um tratamento de cura para alguém doente.

E para falar de Deus deste ponto de vista, é preciso romper com o dogmatismo do cultivo de qualquer fanatismo monoteísta ou formalismo litúrgico. Se Deus está em todos os lugares – do micro ao macrocosmo, em uma infinitésima partícula quântica e no seio de uma galáxia desconhecida – ele estará também em toda a religião capaz de ver na transcendência do corpo, o espírito das manifestações materiais mais evidentes ao nosso redor. Ou seja: matéria e energia como estados de uma mesma unidade. E isso não é um privilégio de nenhuma crença, em particular, mas pertence à percepção de um mundo carregado de divindades. Para a cultura indígena, uma árvore (um pássaro, um trovão, um rio, ...) é um Deus. O espírito que emana dela é ela própria. A árvore é, ao mesmo tempo em que representa todas as árvores da floresta.

Falar sobre isso para nossa “civilização”, em que o desperdício é visto com olhar complacente e, muitas vezes, é até estimulado pelo consumismo, pode parecer algo inócuo. Mas estamos o tempo todo reelaborando o mundo e a idéia de mundo, dando-lhe novos significados, inventando novos conceitos simbólicos. Tudo se criando e recriando, ao mesmo tempo.

Ao invés de olhar a luz, diretamente, correndo o risco de cegar-se, ser luz. Um trabalho de arte como aquele em que o artista enche uma sala de tanta luz, que, se alguém se atrever abrir a porta deste ambiente, correrá o risco de cegar-se. Ou então, desligar-se, como um nefelibata que anda nas nuvens, chamando Deus para uma conversa sobre criação.

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Arte, política, e resultados improváveis

PATRICIA CANETTI


Para mim, perderá o Rio e ganharão o provincianismo e a mediocridade — disse Cesar. (O Globo, 26/6/2003)

Assim termina o lamento do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, pela manutenção da liminar que o impede de pagar as primeiras parcelas à Fundação Guggenheim e ao arquiteto Jean Nouvel, e pode provocar a interrupção do projeto do museu nesta cidade.

(O resultado da "neutralidade" da imprensa é dar força de verdade a qualquer declaração rasa de efeito publicitário. Mesmo tendo sido testemunha da falta de argumentos do prefeito, que em nenhum momento respondeu às questões levantadas pela liminar do vereador Eliomar Coelho, e às colocadas pelos desembargadores, preferindo tratar o Legislativo e o Judiciário com a mesma ladainha político-eleitoreira
de sempre fazendo comparações com a Torre Eiffel e o Maracanã, nossa imprensa não sente necessidade de relacionar os fatos, abre mão de criar um diálogo entre os protagonistas desta ação e promover algum tipo de profundidade em sua fala.)

Que projeção a sua, senhor prefeito!

Provincianismo e mediocridade foram os conceitos desenvolvidos e aplicados exaustivamente nas cláusulas do contrato em questão, que o senhor mesmo assinou com a Fundação Guggenheim, onde os deveres da cidade do Rio de Janeiro estão objetivamente traduzidos em cifras estipulando prazos e despesas, enquanto que os direitos são imprecisamente mencionados por expressões como critério, esforço, opinião, qualidade, termo ou acordo sempre acompanhadas por um "razoável" ou "razoavelmente". Isso se repete 59 vezes no contrato! Concluímos então, que provincianismo e mediocridade são as melhores coisas que se pode pensar de quem assinou este contrato em nome da cidade do Rio de Janeiro. 

Dito isto, passemos ao que há de novo e perturbador para nós neste episódio. Acho que pela primeira vez o engajamento de profissionais da área de artes plásticas (artistas, pesquisadores, museólogos) - apoiados por um abaixo-assinado atualmente com 500 nomes - que se debruçaram para analisar com seriedade e profundidade um projeto do governo, e produziram documentos críticos capazes de demonstrar ao conjunto de nossa sociedade a verdadeira relação de custo-benefício presente neste projeto, nos levou a corroborar com os poderes legislativo e judiciário na busca de restabelecer o equlíbrio democrático nesta questão específica. Abro um parêntesis para uma citação que fala sobre a problemática da atuação da sociedade civil na contemporaneidade, para depois continuar.

(
..."
Segundo Laymert, a evolução tecnocientífica estaria começando a atropelar a arte e a confiscar-lhe, através da ênfase na inovação e no domínio do virtual, a prerrogativa da criação.

A suspeita de que isso esteja acontecendo se vê confirmada por uma rápida comparação com o que ocorre em outros campos. Num seminário recente sobre a sociedade civil e o espaço público, percebi que os cientistas políticos estão muito incomodados. Segundo eles, até meados dos anos 90, o conceito de sociedade civil era visto como a expressão de uma força emancipatória que se afirmava confrontando-se com o mercado e com o Estado, e nesse sentido o conceito tinha um valor positivo, promissor, e até mesmo utópico", disse Laymert, lembrando que, desde então, essa força começou a ser esvaziada. ³Tanto o Estado quanto o mercado mostraram-se capazes de se apropriar do conceito e da dinâmica que ele nomeava e de desvirtuá-lo inteiramente, pois a sociedade civil passa a ser chamada a colaborar com o Estado e o mercado para a execução de políticas delimitadas e determinadas por ele", disse.

Assim, continuou o professor, o que era "processo emancipatório", tornou-se "procedimento regulatório": "Os sociólogos costumam chamar esse tipo de recuperação de racionalização das utopias. Mas o que os cientistas políticos descobriram parecia ir além. Enquanto eles estavam ocupados em teorizar sobre o possível papel da sociedade civil como nova força social, Estado e mercado já haviam antecipado seu potencial, canalizando-o não para a contestação, mas para a consolidação do status quo. O resultado é que os cientistas políticos se viam agora obrigados a promover a crítica do conceito de sociedade civil, tentando recuperar o tempo perdido."... Retirado do texto de Fernando Oliva sobre o Trópico na Pinacoteca: A Politização da Arte - http://www.uol.com.br/tropico/emobras_6_1623_1.shl)

Através de brechas inesperadas, exceções que confirmam a regra, e promovem a quebra de padrão que tanto interessa a esta coletividade (tema também abordado por José Arthur Giannotti no debate relatado acima), o que se viu foi um fato raro entre nós: além de artistas e intelectuais geralmente não serem muito afeitos a leitura de contratos, fomos obrigados a pensar em nossas estruturas de mercados de trabalho e em nosso sistema de produção para poder evidenciar os problemas contidos na contratação, construção e manutenção deste museu.

O dossiê que ajudei a organizar, que foi primeiramente entregue ao ministro Gilberto Gil, e que depois passou a circular como documento oficial dos vereadores Mário Del Rei, responsável pela CPI, e Eliomar Coelho, responsável pela liminar, teve nos documentos produzidos por esta coletividade a construção de sua linha mestra de ação. Foram documentos como os "Comentários sobre o Estudo de Viabilidade do Museu Guggenheim-Rio" realizado pela museóloga, e diretora do Museu Imperial de Petrópolis, Maria de Lourdes Parreiras Horta, em colaboração com a historiadora Maria Inez Turazzi, e os documentos gerados no Grupo artesvisuais_politicas (grupo de artistas e teóricos do Rio), "A Arte contra o Museu-Franquia" e "O Guggenheim, a Lei Rouanet e outras renúncias fiscais federais", e ainda o "Abaixo-assinado contra o Guggenheim-Rio & por Políticas Culturais Participativas", promovido pelo Canal Contemporâneo, juntamente com alguns artigos de revistas nacionais e estrangeiras, que deram visibilidade aos principais pontos negativos deste projeto da prefeitura do Rio de Janeiro.

Tudo isso ainda é muito recente, e ainda difícil de conectar causas e efeitos, entender aonde isso nos toca, a nós, coletividades de artes plásticas, e para onde isso nos leva. Como é dizer não ao governo, suportar o racha da própria comunidade, analisar os ganhos e as perdas de se movimentar politicamente, para questionar (e não ter resposta, pois o governo de Cesar Maia é incapaz de conversar e trocar idéias), se colocar e tomar posição como artistas, profissionais, mas acima de tudo, cidadãos.

Cidadãos que hoje para escaparem de serem aprisionados num padrão-grade-mãe formam redes de inteligência através da internet (ler Pierre Levy -
http://mikro.org/Events/OS/wos2/Levy-pp/liensIC.html
http://www.archipress.org/levy/cyberculture/art.htm), e de maneira temporária (ler Hakim Bey - http://www.aredje.net/taz.htm / http://www.rizoma.net/) abrem brechas e fundam territórios capazes de verdadeiramente promover mu-dança (ler e ouvir Gilberto Gil - http://www.gilbertogil.com.br).

Patricia Canetti é artista plástica e criadora do Canal Contemporâneo.

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