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ENTREVISTA Estou em busca do poema
13 de dezembro de 2001
ANO 1 N. 56




Estou em busca do poema
 

Daniela Name

Uma conversa com Lygia Pape tem o impacto de um terremoto. A dama do movimento neoconcreto poderia, aos 72 anos, acomodar-se ao status de referência para a arte contemporânea brasileira mas, irrequieta, preferiu mostrar obras inéditas a fazer uma retrospectiva na exposição que abre hoje, no Centro de Arte Hélio Oiticica. Uma das instalações, “Carandiru”, é uma cachoeira vermelha, em sala da mesma cor, capaz de atrair a atenção dos olhos mais cansados. Com corpo de passarinho e alma de vulcão, Lygia não mede palavras para comentar a guerra do narcotráfico, o Guggenheim e as críticas de Nuno Ramos ao tratamento dado à obra de Hélio Oiticica.

Por que uma exposição de peças inéditas e não uma retrospectiva?

LYGIA PAPE: Sempre faço exposições com peças inéditas. Acho um tédio pegar um trabalho e apresentar uma releitura. Cada trabalho para mim é muito claro como conceito, então por que eu vou falar duas vezes sobre a mesma coisa?

Dentre as quatro obras que a senhora apresenta no Hélio Oiticica, “Carandiru”, a instalação que ocupa o térreo, é a mais sensorial, não?

LYGIA: O som é de cachoeira e na sala anterior à instalação vou projetar imagens dos tupinambás. Não é um discurso político, não é um discurso demagógico, mas é uma referência visual que vai ser criada. O sangue escorrendo na sala vermelha lembra tudo o que se sabe sobre o martírio dos 111 presos. Os relatos dizem que o sangue escorria pelas escadas, é uma imagem muito forte. O Carandiru destrói jovens, porque 65% dos presos no Brasil têm entre 18 e 25 anos. A vitalidade do preso tem muito a ver com a vitalidade dos tupinambás, que queriam fazer a devoração espiritual através da antropofagia. O preso tem o mesmo impulso em relação à sociedade. Mas quem faz esta devoração acaba destruído. Toda a população tupinambá que vivia na costa do Brasil foi dizimada. Os colonizadores chegavam ao requinte de espalhar roupas com varíola nas praias, o índio vestia e contaminava aldeias inteiras. O que o Carandiru faz? Prepara as pessoas para a morte. Como é que o Brasil, que está se tornando um país de velhos, dá-se ao luxo de destruir esta juventude? Não é só uma questão política, é também uma questão de espírito e de conceito. Não se abre mão da vitalidade.
...



O Globo, Segundo Caderno, quinta-feira, 13 de dezembro de 2001

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