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PR/RJ/SP Tecendo o Visível no ITO / José Tannuri no Museu da República
ANO 3 N. 2 / 14 de janeiro de 2003




NESTA EDIÇÃO:
Brandon LaBelle no Ybakatu, Curitiba
Alfândega 0.0 no Armazém do Rio, Rio de Janeiro
José Tannuri no Museu da República, Rio de Janeiro
Tecendo o Visível no ITO, São Paulo
Lançamento do livro Operários na Paulista do MAC-USP no SESI, São Paulo
Estréia da peça Pai no CCSP, São Paulo
Texto sobre a NÃO-Política Cultural Brasileira de Yacoff Sarkovas


Brandon LaBelle
Transporte & Reciclagem (proposta ao prefeito)
Os trabalhos que serão apresentados são áudio-instalações criadas entre 2002 e 2003 a partir de visitas do artista na cidade e na galeria.

15 de janeiro, quarta-feira, às 20h

Ybakatu Espaço de Arte
Rua Itupava 414
Curitiba   PR   41 264-4752
 http://www.ybakatu.com.br
Terça a sexta, das 14h às 19h; sábados, das 10h às 13h.
Exposição até 1 de fevereiro de 2003.
Agradecimento: Fundação Cultural de Curitiba

Brandon LaBelle é artista e escritor de Los Angeles (EUA).
Trabalhando na área de áudio-performance e instalação desde 1993, sua produção utiliza o som como uma dinânima social e espacial. Através do uso performático de objetos, sons achados e eletrônica, o trabalho representa uma pesquisa de formas através da ênfase da arquitetura e do etéreo. Seu interesse em site-specific reflete o desejo de considerar as relações entre arte e um ambiente social amplo.
 
Desde o dia 06 de janeiro o artista ministra a oficina "Instalação Sonora (elementos alternativos)" na XXI Oficina de Música de Curitiba dentro do Núcleo de Música Contemporânea, coordenado pelo músico Chico Mello.

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ALFÂNDEGA 0.0
Adriano Melhem - Alex Hamburger - André Amaral - Andrei Sakarov - Bob N - Cabelo - Celina Portella - Centro de Mídia Independente - Clara Zúñiga - Daniela Mattos - Dido - Ducha - Fernando de la Rocque - Flávia Costa - Francini Barros - Gabão - Gabriel Muzak - Geraldo Marcolini - Gisele Ribeiro - Guilherme Levi - Guilherme Zarvos - Hapax - Helio 'Scubi' Jenné - Jarbas Lopes - Joana Csekö - John Merrick Experience - Jorge Barreto - Julia Traub Csekö - Luis Andrade - Marcelo Cidade - Marcia X - Marcio Ramalho - Marilá Dardot e Cinthia Marcelle - Marssares - Mauricio Negão - Mauricio Ruiz - Newton Goto - Ricardo Basbaum - Ricardo Ventura - Romano - Ronald Duarte - Rubinho Jacobina - Suely Farhi - Xico Chaves - Yoav Passy

15 de janeiro, quarta-feira, de 20h até às 4 da madrugada

Armazém do Rio
Armazém 5 do Cais do Porto
Rio de Janeiro
Ingresso Simbólico Opcional: R$1,99
Produção: Aimberê Cesar, Alexandre Vogler, Guga e Roosivelt Pinheiro.
Apoio: Prefeitura do Rio, Secretaria das Culturas e RIOARTE.

Para não perdermos a tradição iniciada com o legendário ZONA FRANCA, estamos mais uma vez lançando um evento multimídia, novinho em folha. Trata-se do ALFÂNDEGA, evento que revolucionará a zona portuária carioca. Sua versão piloto, contará com a participação de mais de 50 artistas, entre bandas, performances, dança, artes plásticas, cinema, vídeo, arte digital, poesia, música eletrônica, instalações, etc.

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José Tannuri

16 de janeiro, quinta-feira, às 19h

Museu da República - Galeria Catete
Rua do Catete 153
Rio de Janeiro   21-2558-6350
Segunda a sexta, das 9h às 17h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.
Exposição até 16 de fevereiro de 2003.

José Tannuri mostra duas instalações que fazem parte de um projeto estético que pretende materializar a Linha do Equador através de obras de arte. Com o objetivo de questionar a convenção da linha imaginária que divide a Terra em hemisférios Norte e Sul, José Tannuri constrói um elaborado jogo de sistemas visuais que remete à reflexão sobre temas como território, direito, lugar, não-lugar, posse, desterritorialização, sociedade, raças e humanidade. "Ao centrar-se na Linha do Equador – linha imaginária que divide o mundo em dois hemisférios: o pobre e o rico _ Tannuri nos remete às questões centrais de toda a arte feita no Ocidente como retrato de uma civilização, quer nos seus sistemas culturais, religiosos, raciais e demográficos", diz o curador Paulo Reis.

O suporte escolhido por José Tannuri para a materialização da Linha do Equador é o jornal. O artista usa os jornais dos 10 países cortados pela tal linha imaginária (Equador, Colômbia, Brasil, Gabão, Congo, Zaire, Quênia, Uganda, Somália e Indonésia). Nas instalações montadas para a Galeria Catete, os jornais são colados aleatoriamente e recortados em uma faixa contínua que atravessa toda a superfície do espaço. Os elásticos que unem essa faixa são tensionados até seu limite, como que nos lembrando das diversas tensões para se constituir um sistema de representação cultural.
 
José Tannuri é carioca, tem 44 anos e é formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Laje há 10 anos.  Suas mais recentes exposições foram em 2002 na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea/RJ (coletiva) e no 10° Salão Paulista de Arte Contemporânea/SP (Instalação). Em 2001, realizou instalações no Salão Arte Pará-Fundação Rômulo Maiorana/PA, na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea/RJ e no 57° Salão Paranaense - MAC /Curitiba/PR. José Tannuri recebeu o Prêmio Interferências Urbanas 3ª Ed./RJ em 2001.

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Tecendo o Visível
Alex Cerveny, Alexandre Nóbrega, Cláudio Cretti, Edith Derdyk, Francisco Faria, Isaura Pena, Marcelo Solá, Marilá Dardot, Nydia Negromonte, Roberto Bethônico

16 de janeiro, quinta-feira, às 20h

Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201
(Entrada pela Rua Coropés)
Pinheiros   São Paulo   11-6844-1900
Terça a domingo, das 11h às 20h, com entrada franca.
Exposição até 9 de março de 2003.
 
Mostra que faz parte do projeto Vivências Culturais para Educadores, iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, reúne desenhos de dez artistas e evidencia o vigor desta linguagem ancestral e inesgotável das artes plásticas
 
Tecendo o Visível será também espaço de estudo para os professores da rede pública municipal de ensino, a partir do dia 3 de fevereiro, quando terão início as atividades do projeto Vivências Culturais para Educadores que propõe novo modelo para aperfeiçoamento de professores.  
 
A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias, ilustra a vitalidade e o alto nível de experimentação que o desenho propõe. “O horizonte do desenho hoje, do qual se apresenta uma amostragem sumária, mas significativa, onde cada conjunto se destaca por pertencer a uma raiz poética bem definida, ainda varia entre a tentativa de retenção do visível, tentativa feita com a consciência de que o signo da coisa não se reduz à coisa propriamente dita, ao visível descarnado e reduzido até seus elementos essenciais”, escreve Farias. Segundo o crítico, o nome da exposição é inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto, Tecendo a Manhã - uma manhã construída  a partir de fios de sol irradiados pelos cantos dos galos - pois a mostra, tal como sugere o poema,  revela que o desenho é capaz de tecer o universo.
 
Marco introdutório da exposição é a projeção de Marilá Dardot, onde uma mão escreve uma palavra para imediatamente apagá-la e assim sucessivamente, numa operação infinita. Segundo Agnaldo Farias, palavras são desenhos, signos abstratos, estruturas lineares que uma vez riscadas resplandecem como talismãs. Francisco Faria apresenta trabalhos que versam sobre paisagens cujas imagens vistas de longe remetem à fotografia e de perto transformam-se em desenho. Ao lado deste trabalho, o curador colocou as linhas desenoveladas no espaço de Edith Derdyk que já não usa o papel como suporte, mas as paredes, os cantos, a interseção entre parede e piso. O trabalho da artista atua como se o visível fosse subtraído até um de seus termos essenciais: a linha.
 
O conjunto de desenhos de Isaura Pena é capaz de produzir uma série de ritmo e modulação musicais a partir de círculos negros e opacos em nanquim sobre papel translúcido.O olho é obrigado a percorrê-los horizontalmente, oscilando verticalmente a cada passo. De Cláudio Cretti são os planos densos e opacos que velam quase por inteiro o branco do papel, como se a intenção do artista fosse encobrir o campo reservado à expressão com toda a expressão possível. “O esforço do artista faz-se sentir na matéria preta depositada sobre o branco, uma pele cuja homogeneidade cede tão logo nos aproximamos de cada desenho, revelando-se, ao contrário, uma topografia acidentada que varia na razão da luz que ela captura do ambiente”, escreve Agnaldo Farias. Já Nydia Negromonte explora o próprio suporte, o papel – redução violenta da madeira ao plano poroso embranquecido por efeito de uma química aniquiladora – induzindo-o a produzir novas camadas ou intumescências, fazendo com que ele respire novamente. O trabalho de Roberto Bethônico consiste em formas simples, construções pequenas e emblemáticas, realizadas com uma ponta seca sobre papel espesso, abrindo sucos estreitos e fundos sobre a superfície, coberta por pó de ferro.
 
Nos desenhos de Alexandre Nóbrega o branco do papel é arena de expressão e o embate se dá com a intervenção da marca ou do risco, evidenciando as infinitas possibilidades que o branco, quando provocado, sugere. Marcelo Solá é um cultor do desenho em escala diminuta ou monumental, onde as palavras são presenças basilares e recorrentes. Elas entram no trabalho do artista não só como narrativa, mas também pela força de sua materialidade. O trabalho de Alex Cerveny é um amálgama de linhas, cores, texturas e fragmentos colados em suportes variados, do papel às páginas arrancadas de um livro-caixa antigo, dotado de números, letras e pauta, que interessa apenas porque foi executado em caligrafia caprichada. “A obra de Alex Cerveny efetua uma crítica à ordem das coisas visíveis, cujo número limitado o artista compensa inventando uma mitologia particular”,escreve, ainda, Agnaldo Farias.
 
Vivências Culturais para Educadores: Arte/Educação em novo formato
 
Propor um novo olhar e leituras atualizadas sobre a arte em suas várias manifestações aos professores da rede pública municipal do ensino fundamental foi o grande desafio deste projeto criado pelo Instituto Tomie Ohtake, em arrojada iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, que reunirá, ao longo de seis meses, 4.160 professores. Vivências Culturais para Educadores foi concebido para atrair, conquistar e sensibilizar seus participantes instigando-os na formulação de um pensamento artístico de qualidade, como fonte renovadora do sistema de ensino, capaz de inserir efetivamente a cultura em todo o ambiente escolar. “Familiarização com linguagens contemporâneas, entendimento da relação arte/lazer e convivência em espaços culturais são as questões que nortearam o desenvolvimento deste projeto”, declara Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake.  
   
Os professores irão percorrer, no primeiro semestre de 2003, as Artes Plásticas, a Literatura, o Cinema, a Música, a Dança e as Artes Cênicas, pautados por profissionais respeitados e afinados com a produção contemporânea. Além do Instituto, as atividades acontecem também no Espaço Unibanco de Cinema, parceiros no projeto para a realização da proposta de vivência cinematográfica e musical.

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lançamento do livro
Operários na Paulista
MAC USP e artistas artesãos

16 de janeiro, quinta-feira, das 19h às 21h
 
Galeria de Arte do SESI
Avenida Paulista 1313
São Paulo   11-3091-3033
http://www.mac.usp.br
Preço: R$ 20 (R$15 no lançamento)

Museu de Arte contemporânea da USP lança o livro Operários na Paulista – MAC USP e artistas artesãos, primeiro volume da Coleção MAC USP, que pretende apresentar reflexões e documentos resultantes das atividades e pesquisas realizadas pelo Museu. A primeira edição da Coleção MAC USP acompanha a exposição Operários na Paulista, um painel da produção dos artistas que formaram o Grupo Santa Helena. Em 92 páginas, o livro traz os ensaios críticos que serviram de base para a exposição, além de textos e fotografias que contextualizam o Grupo Santa Helena e imagens das obras e dos artistas.

Além das curadoras da exposição, Elza Ajzenberg e Daisy Peccinini, o livro apresenta reflexões de Maria Cecília França Lourenço, Cristina Freire, Helouise Costa, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Kátia Canton, Ana Cristina Carvalho, Alice Brill e uma série de críticas escritas por Mario Schenberg sobre alguns dos artistas do Grupo Santa Helena.

O lançamento – com a presença dos autores - acontece na Galeria de Arte do SESI que abriga a exposição Operários na Paulista até o próximo dia 19 de janeiro. O livro poderá ser encontrado no próprio museu e, em breve, nas livrarias da EDUSP – Editora da Universidade de São Paulo.

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PAI
Um espetáculo sobre o Brasil contemporâneo
Para chegar às atrizes da peça PAI o público terá que percorrer o caminho criado pela instalação de Siron Franco – que mistura Teresa, as cordas feitas pelos prisioneiros para a fuga das celas, e fotos de cadáveres plotados no chão, com cenário sonoro de Túnica Teixeira, e assistir a um vídeo de cinco minutos, assinado por Izaías Almada, sobre a descoberta do cemitério clandestino de Perus, ao som da música Cálice de Chico Buarque.  Ao final da peça um novo vídeo de 2min mostra fotos dos desaparecidos no regime militar. Direção de Marcelo Braga

16 de Janeiro, quinta-feira, 21h

Centro Cultural São Paulo
Espaço Cênico Ademar Guerra
Rua Vergueiro 1000, Liberdade
(Próximo ao Metrô Vergueiro)
São Paulo   11-3277-3611
Temporada até 27 de março de 2003.
Duração: 60 minutos / Lotação: 80 lugares / Ingressos:  R$10 e R$5.
 
Na peça PAI do escritor e dramaturgo Izaías Almada o público é confrontado com a história de duas mulheres que perderam um ente querido, tido como desaparecido político. Um simples telefonema desperta emoções e lembranças, causando uma transformação na relação de mãe e filha.
 
Por se tratar de um tema intimamente ligado à nossa história mais recente, e ao mesmo tempo expor as conseqüências dos fatos históricos na vida privada dos cidadãos, a peça traz à tona a discussão sobre o relacionamento familiar e a consciência social.
 
O espetáculo não começa no palco, mas sim na entrada do espaço cênico, onde uma instalação do artista plástico Siron Franco envolve o público e a cena, criando um clima propício à situação teatral.
 
Um vídeo jornalístico mostra o Brasil dos anos 60 e 70, memória e imagem daqueles que viveram essa época, mas, sobretudo uma informação aos mais jovens, sobre um pouco do que se passou naqueles dias. Um projeto teatral de recuperação da memória do país.
 
A palavra do autor
A ação da peça se passa em São Paulo no ano de 1991, ano que – entre outros da nossa história contemporânea – é para se esquecer. Nele descobriu-se centenas de ossadas numa parte clandestina do cemitério de perus, muitas de prisioneiros da ditadura. Usei o fato para escrever uma peça em homenagem aos desaparecidos políticos do Brasil. Uma peça que, no meu entender, vai ao encontro de um Brasil que parece renascer neste início de 2003. um Brasil que se quer sem memória e que muitos insistiram em calar, seja por interesses meramente pessoais, por ingenuidade ou má fé ou por sentires vergonha de um dia terem lutado por ideais que os arautos da exclusão social insistem em dizer que foram enterrados pela História. A História, contudo,. Faz-se no dia-a-dia, onde a esperança pode – de fato – vencer o medo e a covardia. Depois do sucesso de Lembrar é Resistir, apresentada nos prédios do antigo DOPS de São Paulo e do Rio de Janeiro em 1999 e 2000, onde já se podia sentir o interesse dos jovens pela nossa história política mais recente, Pai, retoma, quanto a mim, a trilha de uma dramaturgia que andava afastada dos nossos palcos, o drama de conflitos sociais e psicológicos motivados pela alienação política. Nos dias que correm, de promissoras esperanças, isto já é um conforto.
 
Autor: Izaías Almada
Direção: Marcelo Braga
Elenco: Cinthia Zaccariotto e Claudia Tordatto
Instalação do artista plástico Siron Franco

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Os Caminhos e Descaminhos Culturais do Governo FHC
por Yacoff Sarkovas
publicado no jornal Valor Econômico em 3 de Janeiro de 2003

A oferta cultural, durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, foi abundante: com a retomada da produção audio-visual, centenas de filmes reocuparam parte, ainda que mínima, da cadeia de exibição do país e reinseriram nosso cinema no mapa-mundi; surgiram diversos centros culturais privados, alguns deles administrados e programados com competência e recursos que faltam a quase todas as instituições públicas; mega-casas de espetáculos foram construídas para abrigar um show biz nacional e internacional ávido por grandes platéias; grupos e projetos cênicos independentes continuaram florescendo por todo o país garantindo a safra de teatro, dança e circo; a rede de artes visuais diversificou-se por circuitos alternativos e popularizou-se com mega-exposições que atigiram públicos superiores a campeonatos de futebol; vicejaram suplementos literários impressos e eletrônicos; nossa tele-dramaturgia manteve sua qualidade mesmo acossada pela melo-dramaturgia mexicana; patrimônios históricos urbanos foram recuperados; a música popular viveu nova onda de reverência internacional, bafejada pela expansão da world music e a nova bossa da bossa nova; a música erudita consolidou programas anuais e atingiu excelência orquestral em uma experiência isolada na paulicéia.

Apesar dessa efervecência na cena cultural, o Ministério da Cultura de FHC carregará para a história poucos méritos, porque vários destes processos não foram decorrentes da ação do governo federal e os que foram, são fruto de improvisação e desperdício.

A exuberância, no varejo, não redime uma grande omissão, no atacado: em 8 anos de governo, FHC não formulou nem implementou nenhuma política cultural. Ou seja, faltou o principal: uma visão estratégica do papel do Estado no campo cultural de uma sociedade inserida no mundo globalizado, traduzida em planos de ações gerais e específicos para os diversos segmentos culturais, populacionais, geográficos etc.

O governo FHC nunca teve um projeto de desenvolvimento cultural que traduzisse seu respeito pela cultura. Acobertou a falta de idéias para o setor com um sistema de financiamento baseado na dedução integral no imposto, que subverteu o princípio elementar do incentivo fiscal, que é o de usar o dinheiro público para estimular o investimento privado. Tornou as leis de incentivo repassadoras perdulárias do numerário público, condenando o meio cultural a peregrinar pelas empresas em busca de recursos do erário que deveriam estar disponíveis em fundos de financiamento direto.

Há mais de uma década, fatores de mercado induzem as empresas a associarem suas marcas a ações de interesse público em múltiplos campos. O patrocínio tornou-se uma estratégia eficaz para atingir objetivos institucionais, promocionais e de relacionamento, canalizando recursos de comunicação empresarial para projetos comunitários, ambientais, esportivos e culturais. Em 2001, os patrocínios no planeta movimentaram nestas áreas US$ 23,6 bilhões , sem contar os recursos das fundações e instituições empresariais.

Este investimento é impulsionado pelo desgaste da publicidade e da promoção convencional que requer canais diferenciados e segmentados de envolvimento; pela valorização das ações que irradiam atributos desejados pelas marcas; pela expansão do senso de responsabilidade social nas empresas que beneficia as formas de comunicação éticas e de efeito residual positivo para os consumidores-cidadãos.

No Brasil, a combinação destes fatores já fazia florescer a participação empresarial na cultura, antes mesmo da existência do incentivo fiscal, implantado pela Lei Sarney, em 1986, sucedida pela Lei Rouanet, a partir de 1991, ambas regidas pelo princípio da dedução parcial. Ou seja, estimulavam as empresas a investirem recursos próprios, permitindo que uma parcela do patrocínio fosse resgatada pela redução do seu imposto de renda.

Até que surgiu a Lei do Audiovisual, em 1993, com a surreal alíquota de 125% de dedução: a empresa não só podia abater integralmente o valor investido na aquisição de cotas de filmes, como ainda lançá-lo como despesa,  reduzindo, indiretamente, mais imposto. Por escapar a qualquer lógica, era evidente que a fórmula foi implantada por ignorância: confundiu-se dedução da renda bruta com dedução do imposto a pagar. Mas como a aplicação, na época, era limitada a 1% do imposto a pagar, a Lei "não pegou" e não provocou maiores danos.

Ao assumir em 1994, FHC herdou do governo Itamar o Ministério da Cultura, antes extinto por Collor, e as duas Leis, até então inoperantes.

Importante ressalvar que a Lei Rouanet não era uma mera lei de incetivo fiscal. Ela instituia o Programa Nacional de Apoio à Cultura, com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor por três mecanismos: o Fundo Nacional da Cultura - FNC; o Fundos de Investimento Cultural e Artístico - FICART e o Incentivo a Projetos Culturais, este sim voltado ao patrocínio. Ou seja, os formuladores da Lei Rouanet tinham consciência que um sistema de financiamento à cultura não se sustenta em um único pé. Primeiro, a Lei estabelecia o princípio do fundo público, o FNC, essencial para viabilizar ações de mérito cultural que não encontram abrigo no mercado. Na ponta  oposta, estimulava, pelo FICART, as atividades culturais lucrativas, proporcionando benefícios aos seus investidores. E por último, oferecia incentivo fiscal para o patrocínio e a doação privada, na parte da Lei que a tornaria conhecida.

O Ministério da Cultura de FHC manteve o FICART paralisado e não regulamentou o acesso ao FNC, distribuindo os recursos deste fundo sem critério e sem transparência. E na falta de programa e planejamento, apostou todas as fichas no instrumento do incentivo fiscal. Aprimorou pontualmente sua operacionalidade e ampliou seu limite de aplicação de 2% para 5% do imposto a pagar das empresas. Mas manteve a contrapartida de recursos da empresa entre 70% e 60%, permitindo a dedução  entre 30% e 40% do valor patrocinado ou doado.

Em agosto de 1996, o MinC de FHC perdeu o rumo definitivamente. Sem corrigir a aberração da dedução de 125% da Lei do Audiovisual, colocou-a em movimento ampliando em 200% seu limite de aplicação, que passou de 1% para 3% do imposto a pagar. A soma da dedução fiscal com as comissões cobradas por agenciadores e a revenda dos certificados promovidos legalmente pelas empresas, que perceberam que poderiam leiloar suas disponibilidades fiscais entre os produtores interessados nos recursos, atingia mais de 50% do valor da operação. Pela aritmética da Lei do Audiovisual, para que R$ 60 cheguem ao caixa do filme, se consomem R$ 125 de dinheiro público, sem qualquer contrapartida privada (vide quadro).

Valor da operação - R$ 100
Dedução do imposto a pagar - R$ 100
Dedução como despesa operacional - R$ 25
Gasto de recursos públicos - R$ 125
Comissão para intermediação - R$ 10
Recompra do certificado - R$ 30
Valor final investido no filme - R$ 60

Foi por este processo irracional que o governo FHC financiou o renascimento do cinema brasileiro. E o pior estava por vir. Com a Receita Federal limitando a soma dos incentivos fiscais a 5% do imposto a pagar e a Lei do Audiovisual consumindo 3% de um número crescente de empresas, restaram somente 2% para aplicação na Lei Rouanet, que cobria todas as áreas culturais, incluindo o próprio cinema, que dela também se valia.

Sem referência histórica de financiamento público, nem compreensão da lógica do patrocínio empresarial, grupos organizados de diversos segmentos artísticos passaram a pressionar o governo para que a Lei Rouanet oferecesse dedução integral no imposto. Mesmo ciente das distorções da Lei do Audiovisual, o MinC decidiu estender seus vícios. Em 1997 legalizou 100% de dedução para o patrocínio em quatro segmentos  e, em 2001, a praticamente todos os demais.

Talvez por não dispor de um projeto de desenvolvimento para o setor, o MinC de FHC renunciou à função de induzir processos culturais. Ao transferir para as empresas recursos e responsabilidades do Estado, cometeu múltiplos equívocos: investiu dinheiro público sem a efetiva garantia de atender o interesse público; não formou reais investidores privados, pois ninguém aprende nada gastando dinheiro alheio; deformou o mercado de patrocínio, incutindo na cultura empresarial a isenção sem contrapartida.

É necessário que as empresas apliquem seu próprio dinheiro e tenham a liberdade de escolher os projetos que melhor atendam seus interesses. Só assim esse investimento faz sentido. O patrocínio empresarial atende um número expressivo de ações, mas não contempla a diversidade e extensão das demandas culturais de uma sociedade. Por isso, é fundamental que o Estado disponha de linhas de investimento direto.

Assim, o novo governo tem diante de si a tarefa de redesenhar o sistema de financiamento à cultura e desmontar, cuidadosamente, o modelo em vigor. Não seria prudente revogar de forma súbita os instrumentos existentes, uma vez que são a única fonte de financiamento disponível e possibilitam a realização de centenas de atividades culturais que envolvem profissionalmente milhares de artistas, intelectuais, técnicos e administradores.

O fardo de distorções a corrigir é pesado: os investimentos estão concentrados nos grandes centros econômicos do país e boa parte beneficia uma parcela pequena da sociedade, mantendo à margem uma vasta população de excluídos culturais; dispende-se volumes expressivos de recursos em produções artísticas que não circulam e se esgotam em poucas exibições para poucos; a rede de instituições culturais públicas está estruturalmente insolvente, sobrevivendo com o "caixa dois" das "sociedades de amigos"; o patrimônio histórico e artístico nacional padece de sustentabilidade; grupos culturais independentes não dispõem de recursos institucionalizados para manutenção, pesquisa e intercâmbio; a produção editorial está confinada a uma ínfima rede de livrarias e a uma elite de leitores; o modelo de produção audiovisual é cronicamente inviável.

O sistema perdulário de financiamento do Ministério da Cultura do governo FHC ao menos re-comprovou  nossa fertilidade cultural: em se plantando, dá.  Os recursos ampliaram expressivamente a oferta cultural e resultaram em muitos projetos de qualidade.

O desafio do Ministério da Cultura de Lula será atingir os objetivos estabelecidos, há mais de dez anos, no Artigo 1º do Programa Nacional de Apoio à Cultura:

- "facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício   dos direitos culturais;
- promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com a valorização de recursos humanos e conteúdos locais;
- apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores;
- proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional;
- salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira;
- preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro;
- desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou nações;
- estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;
- priorizar o produto cultural originário do País."

Como se vê, não há muito mais o que prometer. Só a fazer.

Yacoff Sarkovas
Presidente da Articultura Comunicação
e consultor de patrocínio empresarial


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Recebi do MinC
a notícia de que o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, estava propondo "um grande mutirão da cultura contra a fome e a miséria no Brasil". O ministro, que participou da Caravana contra a Fome em três cidades pobres no nordeste brasileiro, afirmou que é possível fazer uma mobilização de todos os artistas brasileiros para atender ao chamamento do presidente Lula. O comunicado começa assim, e termina com "o Brasil precisa de reformas políticas e medidas estruturais, mas essas coisas pedem tempo, não acontecem da noite para o dia. Quem tem fome tem pressa e nós não podemos ficar apenas esperando. Temos de nos movimentar", esclareceu.

Sim, acredito que nós artistas tenhamos condições de dar uma enorme visibilidade ao FOME ZERO, e entendo que a área profissional de atuação do Ministro o leve a ter mais facilidades nesta área. E, entendo também que reformular políticas e legislação não são coisas fáceis. Mas será que não dá para rolar um tudo-ao-mesmo-tempo-agora? Não dá para termos uma divisão de tarefas que nos permita cuidar de ambas as urgências: a FOME e a FALTA DE TRABALHO? Vamos então fazer dois mutirões. O primeiro cuida de espetáculos e eventos para ajudar nas campanhas, e o segundo faz um Fórum Nacional para discutir as Leis de Incentivo, e também outras idéias que possam incrementar os vários mercados de cultura neste país.  Pode ser?

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http://www.canalcontemporaneo.art.br/projetos.htm#0

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