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HOJE Alexandre Ferreira na UERJ / Edith Derdyk no MASC
ANO 3 N. 89 / 21 de julho de 2003




NESTA EDIÇÃO:
Livro de Artista no CCBB, Rio de Janeiro
Alexandre Ferreira na UERJ, Rio de Janeiro  HOJE
Rosa Oliveira na Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro
Edith Derdyk no MASC, Santa Catarina
O Estatuto da Pintura na Arte Contemporânea no Santander Cultural, Porto Alegre

Inscrições para o curso Revitalizando o Museu, Curitiba
É a vida! por Rubens Pileggi Sá



Trajetória de Anna Maria Maiolino


Livro de Artista
Anna Maria Maiolino,Artur Barrio, Beatriz Milhazes, Carlos Zílio, Gabriela Machado, Luciano Figueiredo, Nuno Ramos e Waltércio Caldas

Exposição Permanente

Centro Cultural do Banco do Brasil
Sala de Obras e Edições Especiais da Biblioteca
Rua Primeiro de Março  66  5º andar
Centro  Rio de Janeiro
21 3808-2030
 
Coleção inédita no País com trabalhos exclusivos de artistas plásticos pode ser vista em sala especial da biblioteca da instituição carioca

Em um clima intimista, na Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil, o público poderá apreciar obras de arte dos artistas Artur Barrio, Beatriz Milhazes, altércio Caldas, Nuno Ramos, Gabriela Machado, Anna Maria Maiolino e Luciano Figueiredo. Desta vez não são pinturas, instalações, esculturas, sequer aquarelas; são livros, livros de artistas. No ambiente calmo e silencioso da Sala de Obras Raras e Edições Especiais da Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil, obras únicas e exemplares numerados e assinados recebem tratamento especial: atendentes com luvas manuseiam as obras, que são pousadas à mesa sobre papéis especiais que impedem a impregnação de gordura e poeira.

Em “Livro de Artista”, narrativa do livro ganha outra dimensão, a plástica. Sob encomenda do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em uma edição de 175 exemplares assinados, Beatriz Milhazes coloriu as músicas que ‘a perseguiram’ a vida inteira. O resultado é Coisa Linda, uma seqüência de letras de músicas de Tom Jobim, Djavan, Caetano Veloso, entre outros, sob a perspectiva da artista plástica. Artur Barrio faz uma viagem de navio da Cidade do Porto ao Rio de Janeiro em desenhos, listas de suprimentos, indicações marítimas em nanquim sob pranchetas de apelão. O Espaço do Silêncio Interior e O spaço do Silêncio Exterior são as duas partes de uma obra única criada em 2001 pelo português naturalizado brasileiro.

Obras mais antigas são os quatro trabalhos de Anna Maria Maiolino e o exemplar único de Livro de sombras, obra de Luciano Figueiredo, criados na década de 70. A exposição #8220;Livro de Artista” traz ainda quatro trabalhos de Waltércio Caldas – Manual da Ciência Popular, Desenhos, Safo (fragmentos) e elázquez – e os exemplares únicos de Balada, obra de Nuno Ramos, e Desenhos – série Cachorros, de abriela Machado.

“O livro de artista caracteriza-se por ser um projeto eminentemente autoral. Não há limites á sua forma ou conteúdo, nem mposição de regras para sua produção”, explica Yole Mendonça, gerente do CCBB Rio. Segundo Yole, “o formato, a sucessão de imagens, textos, grafismos, a embalagem ou a falta dela tornam-se reveladores do processo criativo do artista, proporcionando aos apreciadores da arte o prazer do contato quase íntimo com a obra. E ao espectador, em geral, a descoberta das características e estilo de seu criador”.

Formar coleções e preservar a memória faz parte de uma longa tradição do Banco do Brasil ue, já em 1931, constituiu sua biblioteca. A coleção de livros de artistas em somar-se aos segmentos hoje preservados na Biblioteca do CCBB Rio e distribuídos em suas salas especiais e representa uma uação mais efetiva de estímulo à riação e valorização do artista brasileiro. Com este objetivo, coleção privilegia, em um primeiro momento, os trabalhos executados por rtistas brasileiros que tenham realizado exposição no CCBB Rio.


Livro de Artista – um conceito em onstrução

A exposição leva o mesmo nome da categoria de obra de arte contemporânea, que pode ser definida, de uma forma simplista, como o conjunto de obras de artes lásticas que se apropriaram do livro enquanto objeto e forma e transcendem sua função primeira, que é ser o meio da palavra escrita e também do estabelecimento de uma elação ilustrativa entre imagens e palavras, no caso do livros ilustrados; transcendendo ao livro, a narrativa do livro de artista é plástica. O conceito livro de artista se tornou mais presente nos anos 70, mas tem suas origens conceituais uma década antes, em um fenômeno conjunto de movimentos de vanguarda uropeu e norte-americano. Na Europa, Dieter Roth começou a desenvolver o livro de artista a partir de 1961, com destaque especial para as #8216;versões’ do “Daily Mirror”, até os anos 70. Nos Estados Unidos, Edward uscha publica o livro “Twentysix gasoline stations”, em 1962.

Longe de ser unanimidade entre os críticos e artistas, encontrando distinções conceituais entre psquisadores do tema, Paulo Silveira, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em “A Página Violada – Da ternura à injúria a construção do livro de artista”, Editora da Universidade (UFRGS), coloca 5 pontos básicos para a conceituação de livro de artista: “...(1) livro de artista pode designar tanto a obra como a categoria artística; (2) o conceito é ainda muito problemático, pondo em xeque pesquisadores com pesquisadores, artistas com artistas, além de envolver outras especialidades, como estética, literatura, biblioteconomia e comunicação; (3) que a concepção e execução pode ser apenas parcialmente executada pelo artista, com colaboração interdisciplinar; (4) que não precisa ser um livro, bastando ser a ele referente, mesmo que remotamente; e (5) que os limites envolvem expressões do afeto expressadas através de propostas gráficas, plásticas ou de leitura.”

“Caixa Verde”, de Marcel Duchamp, de 1934, é citado como um exemplo clássico deste segmente da arte. Segundo Paulo Silveira, a aplicação do conceito pode retroceder até mesmo aos livros do inglês William Blake, publicados entre 1788 e 1821, e cadernos de anotações e esboços de Leonardo da Vinci, do século XV e início do século XVI. Picasso foi um dos artistas que Riva Castlemann, curadora da exposição “A century of artists books” (Um século de livros de artistas), no MoMA de Nova Iorque entre outubro de 1994 e janeiro de 1995, destacou como um dos maiores artistas produtores de livro de artistas no século XX. O célebre espanhol produziu cerca de 150 títulos dos mais variados tamanhos,  tiragens e técnicas. “Os Caprichos”, de Francisco de Goya, Madrid, 1799, com águas-fortes e águas-tintas é também exemplo de uma definitiva mudança de atitude dos artistas rumo ao trabalho com o livro.


Artistas e Obras em Livro de Artista

Anna Maria Maiolino
Nasce em Scalea, Itália, em 1942.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Participou, no Centro Cultural Banco do Brasil, da coletiva A ótica do invisível - Fontana Brasil (2001) e da individual Um, nenhum, cem mil (1994).

Obras expostas:
Trajetória I – 24p.; exemplar 21/100
Trajetória II – 24p (incluindo capa e contracapa); exemplar 18/100
Percursos – 16p. (incluindo capa e contracapa); exemplar 16/100
Ponto a ponto – 24p. (incluindo capa e contracapa); exemplar 18/100
Livros idealizados e realizados a partir de 1976, com tiragem de 100 exemplares, cada, numerados e assinados pela artista. Cada exemplar é considerado um original, uma vez que o processo de edição é manual. Exemplares acondicionados em caixas.

Sobre a obra
"Em 1976, editou cinco livros com tiragem total prevista para cem exemplares, todos implicando numa realização individual de rasgos e costura em cada exemplar: Trajetória 1, Trajetória 2, Ponto a ponto, Percursos e Na linha. Maiolino inscreve sua contribuição para a tradição dos livros-de-artista brasileira pela investigação do livro como espaço.....Não é da inteligência dos livros de Maiolino realizar um inventário ou uma taxonomia dos buracos, algo que se organizasse como uma lógica do informe. O que lhe interessa é construir uma passagem não no espaço, mas no tempo. Nesse sentido, o livro seria uma espécie de devir do vazio. Mantendo algo do "espaço qualificado" de que tratava o plano-piloto poesia concreta, Maiolino descreve seus livros como espaços fenomenológicos: "Na tentativa de literalmente trabalhar o oco, atravesso com linhas de costura os rasgados, desenhando no vazio. (...) Aqui como nas gravuras trabalho o espaço, busco 'o espaço outro' - o avesso. Na tentativa de articular e dinamizar este 'um e ao mesmo tempo duplo espaço', o dentro e o fora, é que aparece o vazio, juntamente com a possibilidade de prenhez desse vazio. Tanto que, ao olhar os desenhos/objetos com as superfícies rasgadas, os espaços ocos atravessados por linha de costuras são percursos que apontam à possibilidade de existência de outros planos invisíveis. Sugerem a existência do cheio no oco, que nos levaria a afirmar que nestas obras trabalha-se o espaço através de questões materiais". Maiolino não recorre a habilidades tipográficas, lexicais ou mesmo sintáticas para fazer-se ouvir ou construir seus livros. Seu processo, sendo silencioso, é afirmativo da realidade do livro.
(Herkenhoff, Paulo, A trajetória de Maiolino: uma negociação de diferenças in Anna Maria Maiolino - Vida afora, The Drawing Center, Nova York, 2002)


Artur Barrio
Nasce na cidade do Porto, Portugal, em 1945.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Participa, no Centro Cultural Banco do Brasil, das coletivas Livro-objeto, a fronteira dos vazios (1994), Um e Outro (1999)  e ArteFoto (2003) e da individual Situações: Artur Barrio: registro (1996)

Obra exposta:

1) espaço do silêncio interior
2) espaço do silêncio exterior
CadernoLivro realizado em 2001. Exemplar único, assinado pelo artista, com 206 páginas com textos, desenhos e fotografias.

Sobre a obra
"O livro, aliás, tem um papel fundamental na poética do artista. Não o livro em sua acepção de coisa organizada, narrativa, em que a escrita se desenvolve por encadeamentos lógicos, e os sentidos se apresentam por seqüências dedutíveis. O que Barrio realiza em seus CadernosLivros - segundo ele, os embriões de toda sua obra - são puros jogos mentais e psíquicos, em ato livre de expressão, seguindo o espírito automático da escrita surrealista, que se dava "na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral". As anotações, desenhos, colagens e toda sorte arbitrária de interferências que Barrio realiza nesses CadernosLivros aparecem em corrida vertiginosa atrás dos impulsos derrisórios do desejo, das alucinações, dos espaços ilimitados, sem nenhuma justificação formal, atrás do que André Breton chamava de "o mínimo de premeditação".
(Canongia, Ligia, Barrio Dinamite in Artur Barrio, Modo Edições, Rio de Janeiro, 2002)

"Barrio instituiu a produção de "CadernosLivros", como um trabalho em progresso, desde 1966, e desde então tanto os projetos em germinação quanto aqueles realizados são ali processados. Não se trata de exercício de simples documentação ou projeção, mas de submeter as idéias a uma verdadeira máquina paraliterária de modo a atualizá-las através de uma interessante articulação entre palavra, imagem e objeto. Verdadeira literatura expandida."
(Basbaum, Ricardo, Dentro d'água in Artur Barrio, Modo Edições, Rio de Janeiro, 2002)

"CadernosLivros têm como conteúdo textos / projetos / ensaios / anotações / divagações - contos / idéias / fragmentos de idéias / desenhos / colagens / etc. CadernosLivros têm em si a quase totalidade da documentação referente a meu trabalho. CadernosLivros têm como conteúdo dinamite. CadernosLivros têm como recheio a livre criatividade. CadernosLivros são caóticos. CadernosLivros são um novo suporte".
(Barrio, Artur, citado no texto Dentro d'água, de Ricardo Basbaum  in Artur Barrio, Modo Edições, Rio de Janeiro, 2002)


Beatriz Milhazes
Nasce no Rio de Janeiro, em 1960.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Apresentou no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2002, a mostra Beatriz Milhazes - Mares do Sul.

Obra exposta:
Coisa Linda
Livro realizado em 2002 e editado pelo Library Council do Museum of Modern Art, de Nova Iorque. Trinta serigrafias e uma colagem; 44 páginas mais duas folhas de acetato e uma prancha solta; introdução de Clifford E. Landers, nota da artista e letras de canções brasileiras; tiragem de 175 exemplares, numerados e assinados pela artista; exemplar 25/175, acondicionado em caixa.


Sobre a obra
"A arte de Beatriz Milhazes é sobre a cor, mas sobretudo ela é cor. E não apenas isso. É apaixonada pela cor. Casada com a cor. Curada pela cor. Mas também traída pela cor. Ferida pela cor. Drogada pela cor. Seqüestrada pela cor. Corrompida pela cor. Mas nunca tragicamente. Pelo contrário, sempre de maneira muito feliz. Ou melhor: alegre, jubilosa. A cor repetida muitas vezes, sempre diferente."
(Schwabsky, Barry, Beatriz Milhazes - cor viva in Beatriz Milhazes - Mares do Sul, CCBB, Rio de Janeiro, 2002)

"Uma tela branca é algo muito atraente. É um espaço que pertence a mim, e não ao "mundo real". Penso que seria muito perigoso para um pintor produzir uma obra que "aspira à condição de música". A música preenche tais espaços. Ela nos arrebata e transporta para algum lugar ... sem nos permitir qualquer escolha. E, sim, tanto a ópera quanto alguns compositores populares brasileiros dos anos 1960, como Tom Jobim, ligado à Bossa Nova, e Caetano Veloso, que fez parte do movimento Tropicália, influenciam meu trabalho hoje, mais do que nunca. É importante notar que meu envolvimento é muito menos com a música como algo abstrato do que com a ópera, Jobim e a Tropicália. Eu sempre precisei das mesmas músicas à minha volta, para evitar pensamentos obsessivos demais sobre o meu trabalho."
(Beatriz Milhazes em entrevista a Jonathan Watkins in Beatriz Milhazes - Mares do Sul, CCBB, Rio de Janeiro, 2002)


Gabriela Machado
Nasce em Santa Catarina, em 1960.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Apresentou no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2002, a exposição Gabriela Machado - desenhos.

Obra exposta:
Desenhos – série Cachorros
Livro realizado em 2002 reunindo 12 desenhos originais em nanquim reproduzindo os animais de estimação da artista. Exemplar único, encadernado, com 52 páginas; numerado e assinado pela artista; exemplar 1/1

Sobre sua obra
"Isolar uma ação de todo o resto, prender-se e entregar-se a ela - que não é nada para ninguém - e com ela estabelecer um vínculo irreprimível e constante, e desse fragmento fazer um absoluto disponível mas sem qualquer sustentação, é isso que os desenhos de Gabriela Machado pretendem.
Neles encontramos uma gestualidade contida e extrema. Contida porque não se expande para além de um só gesto, e extrema porque coloca tudo neste gesto, ampliando-o ao máximo. Uma vez executado, nada pode ser retocado ou corrigido. Deve sua existência tal como surgiu."
(Paulo Venancio Filho, in Gabriela Machado - desenhos, CCBB, 2002)


Luciano Figueiredo
Nasce em Fortaleza, Ceará, em 1948.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Atualmente dirige o Centro de Artes Hélio Oiticica.
Participou, no Centro Cultural Banco do Brasil, das coletivas A ótica do invisível - Fontana Brasil (2001) e ArteFoto (2002).

Obra exposta:
Livro de sombras
Livro realizado entre 1977 e 1978, reunindo trinta pranchas com colagens e recortes sobre papel e acetato. Exemplar único, assinado pelo artista.

Sobre a obra
"Diversos artistas modernos e contemporâneos recorreram e recorrem ao jornal em seus trabalhos. Para ficarmos apenas em alguns deles que tiveram grande importância na história da arte, lembremos dos cubistas e de Robert Rauschenberg. .... Na obra de Luciano Figueiredo, porém, o jornal não entra como forma nem como matéria da expressão, mas como material, e isso faz a singularidade e a qualidade única de sua pintura. Com efeito, tudo se passa como se o jornal se apresentasse ao artista como manifestação privilegiada de uma ordenação do mundo que a sociedade moderna expressa diariamente, por meio de uma rígida codificação gráfica que enquadra os textos e as imagens e se configura como um espaço fechado, no qual o leitor procura se orientar e ao qual deve necessariamente se adequar. Tudo se passa, portanto, como se o jornal fosse um espaço dado, produzido e reproduzido industrialmente, cotidianamente  reiterado, cujos limites e regras aceitamos sem nos darmos conta de que eles in-formam nossa experiência de tomar conhecimento do que vai pelo mundo."
(Santos, Laymert Garcia dos, A pintura depois da pintura, Folha de São Paulo, MAIS, São Paulo, 5.8.2001)


Nuno Ramos
Nasce em São Paulo, em 1960.
Vive e trabalha em São Paulo.
Participou, no Centro Cultural Banco do Brasil, das coletivas Arte brasileira no acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo - doações recentes (1998) e A ótica do invisível - Lucio Fontana (2001-2002, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo)

Obra exposta:
Balada
Livro editado em 1995 pela Editora 34, com 926 páginas. Tiragem limitada, numerada e assinada pelo artista.

Balada
".... o livro de artista de Nuno Ramos, Balada (1995), se escreve a bala. Um estampido anuncia a constituição da linguagem sobre o objeto livro. O Verbo não se anunciou com silêncio. O título admite um jogo de palavras: bala (de revólver) / balada (música) pois ouve-se um tiro. Conhecida é a manchete escandalosa de um jornal popular do Rio de Janeiro "Violada no auditório" para anunciar o gesto do cantor Sérgio Ricardo de quebrar um violão num show de auditório. "O que eu faço é música", anunciara Hélio Oiticica sobre a musicalidade do fato plástico em sua obra supra-sensorial totalizadora. Fontana, em grande parte de seus concetti spaziali, parece ter preferido o silêncio. Balada alonga um tiroteio de sílabas, como as palavras Mangue Bangue inscritas em obra de Oiticica. Um ruído que violenta o papel, rompe o plano, avança sobre o volume formado pela acumulação das folhas brochadas e corrompe a luz. Esse tiro inventa sombra entre relevos no cerne do volume, com as tramas do papel estiradas. Um buraco é a cicatriz da escritura e escritura da cicatriz nesse tiro em Braille. A linguagem cumpre sua natureza assinaladora."
Herkenhoff, Paulo, A ótica do invisível - Desejo de Espaço: Fontana/Brasil in Lucio Fontana Brasil, CCBB, Rio de Janeiro, 2001)


Waltercio Caldas
Nasce no Rio de Janeiro, em 1946.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Participou, no Centro Cultural Banco do Brasil, das coletivas Emblemas do corpo (1993), Livro-objeto - a fronteira dos vazios (1994), Precisão (1994), Dinheiro, diversão e arte (1995), ArteFoto (2002) e da individual Waltercio Caldas 1985-2000 (2001, Rio de Janeiro e Brasília).

Obras expostas:

Manual da ciência popular  
Livro editado em 1982 pela Fundação Nacional da Arte – FUNARTE, como parte do projeto Arte Brasileira Contemporânea. Vinte e um objetos foram reproduzidos nesta edição, com texto de Paulo Venancio Filho, prefácio e comentários do artista. Tiragem de 2000 exemplares. Exemplar assinado pelo artista; Acompanhado de cartela com seis etiquetas adesivas FIM; exemplar acondicionado em caixa especial.

Desenhos
Livro editado em 1997 por Reila Gracie Editora, Rio de Janeiro. Vinte desenhos reproduzidos em processo serigráfico, acompanhados de texto do artista. Tiragem de 50 exemplares numerados e assinados pelo artista;23 pranchas soltas acondicionadas em caixa; exemplar nº 9

Safo (fragmentos)
Livro realizado em 2002 utilizando fragmentos da poesia de Safo, poetisa grega do século VII ao VI a.C.; 54 páginas não costuradas e acondicionadas em caixa; tiragem de 3 exemplares numerados e assinados pelo artista; exemplar 3/3

Velázquez
Livro editado em 1996 pela Editora Anônima, São Paulo. Cada exemplar é considerado um original. A tiragem numerada de 1500 exemplares é assinada pelo artista.


Sobre a obra
"Em todas as edições, a maioria com tiragem limitada, o alto cuidado gráfico guarda um grau de pureza e delicadeza - poética de contenção e de limites assumidos - que singulariza o artista do Rio: uma divisa apolínea que é a quintessência e seu trabalho. Seus livros, como suas esculturas - filamentos de pensamento - parecem sempre buscar a densidade da leveza, como os aforismo fazem com a escritura. A busca do desnudamento necessário."
(Navas, Adolfo Montejo in Waltercio Caldas 1985-2000, CCBB, Rio de Janeiro, 2001)


Manual da Ciência Popular
“Como o título sugere, a obra anuncia uma espécie de glossário do trabalho do artista que surge em ilustrações deliberadamente toscas e "não-artísticas", como se apenas preenchessem convencionalmente o lugar que, num livro, se reserva às figuras, lugar que geralmente se reporta às "explicações" de uma legenda ou comentário. À guisa de legenda, cada uma dessas ilustrações traz um pequeno texto que entretanto apenas tergiversa sobre elas, ou as descredencia: ou porque seus enunciados são tão perfeitamente literais que se assumem como algo que poderia substituir-se a elas, ou porque, ao contrário, traem as imagens com explicações que não explicam, que resvalam da face "conotativa" das legendas com uma untuosidade colorida e maliciosa, muitas vezes descrevendo-as segundo um funcionamento ardiloso, do qual elas surgiriam como o instrumento cego.”
(Salzstein, Sônia, junho 1999,  Livros, superfícies rolantes in Livros, MARGS, Porto Alegre, 2002)


Safo (fragmentos)
"Dentro dos últimos livros, SAFO fragmentos (2002), pode ser considerado já uma obra prima. A escolha não podia ser mais significativa, pois os fragmentos desta lírica - como de alguma forma acontece com Heráclito - pedem sempre a criação de uma unidade de leitura. SAFO fragmentos trata-se de uma verdadeira ode à leitura, onde as palavras da poetisa grega do século VII ao VI a. C., ganham uma tensão nova (no espaço da página e no  próprio texto). SAFO fragmentos celebra uma nova tensão entre as palavras e os vazios dos versos, inaugura um corpus com novas cesuras. Chama a atenção o trabalho realizado com os colchetes, com a latência de um texto que não é conhecido completamente - o legado de Safo também foi essa latência e que agora ganha uma outra dimensão. Waltercio tem escutado com os olhos algumas composições dela, assim como a herança grega do arco e a lira. De novo, mas talvez como sempre, cada página é um limiar. O que é a poesia, senão um diálogo de vazio s e palavras, de presenças e ausências? Nesta "fundação de mínima voz" de Safo encontra-se toda uma nova plenitude: uma iluminação plástica  para cada fragmento, para cada instante gráfico, a criação de um ritmo espacial para outra fluência das palavras. Como Maiakovski teria adorado ler esta Safo de Waltercio! Em SAFO fragmentos, de Waltercio, o nexo comum são os fragmentos, essas iluminações sem tempo, agora de ambos."
(Navas, Adolfo Montejo, fevereiro 2002, À luz do olhar in Livros, MARGS, Porto Alegre, 2002)

Velázquez
"O livro é atacado como um todo: texto e imagens estão fora de foco. Precisão e nitidez estão, no mundo das sensações, associadas à certeza do que vemos, à verdade das coisas. Logo no início, Waltercio nos retira esse chão sobre o qual apoiamos nossas impressões visuais. Mesmo aquele olho acostumado a enxergar bem confronta-se com o mundo nebuloso em que as imagens iluminadas se confundem com suas sombras, os contornos desaparecem e não há mais nenhum resquício das linhas, as cores perdem suas fronteiras e a saturação a que estamos acostumados. Assim, o livro de Waltercio tira os óculos mesmo dos que nunca deles precisaram. O naturalismo e o realismo, capazes de tratar de forma neutra a exterioridade do mundo, que determinaram, para Velázquez, um lugar único no século do Barroco, desaparecem, e como um paradoxo, ausentes, tornam-se presentes como referência. A construção desse cenário gráfico, que trata de modo homogêneo texto e ilustrações, obedece a um teatro. Todas as figuras humanas das ilustrações, uma por uma, foram retiradas. Espaço, objetos e animais foram deixados, tocados apenas pela imprecisão da imagem desfocada."
(Duarte, Paulo Sergio in Waltercio Caldas, Cosac & Naify, São Paulo).

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Alexandre Ferreira
Reprodução do Mesmo

21 de julho, segunda-feira, 18h

Centro Cultural da UERJ
Sala Gustavo Schnoor
Rua São Francisco Xavier  524
Maracanã   Rio de Janeiro
21-2587-7650/ 7320
Segunda a sexta, das 10h às 19 h.
Exposição até 22 de agosto de 2003.


Nesta exposição individual, Alexandre Ferreira apresenta um trabalho resultado de seu projeto de pesquisa no curso de graduação em História da Arte, concluído em 2002 na UERJ. Além de uma instalação com setenta serigrafias onde o artista utiliza a reprodutibilidade como “elemento de um processo transformador dos modos de percepção da arte e  em relação ao próprio indivíduo”, serão mostrados também, trabalhos datados do início de sua experimentação com a técnica de serigrafia sobre papel, até obras atuais de impressão sobre tela.


Alexandre Ferreira

CRISTINA PAPE

O trabalho de Alexandre Ferreira desenvolve um contínuo movimento entre a organização e o caos, a trama que orienta e a aplicação de pigmentos que não se deixam aprisionar pela técnica.

A serigrafia entra em questão: pode um bastidor ser subvertido?

O resultado de sua pesquisa mostra-nos que subverter a técnica é abrir novos campos de experimentação.

A superfície de nylon esticada no bastidor poderia carregar em si a forma repetida infinitamente, quase tão pronta quanto no Renascimento, mas Alexandre insiste em discutir e nos mostrar que sua opção é o embate com o que não se conhece e que só vai se mostrar após uma ação.

A geometria que o poderia aprisionar não está limitada ao quadrado, porque explode em matéria na busca de um movimento orgânico. A forma não cabe mais nela mesma e busca caminhos próprios que são fornecidos pela técnica e pelo material.

O artista nos mostra três séries construídas ao longo de alguns anos e em todas elas podemos perceber um diálogo interno.

A série de pequenos formatos, Mini Prints, apresenta o embate entre a prisão da forma tramada, quadrada e a fuga do espaço.
A série maior, “Reprodução do mesmo”, apresenta literalmente sua opção ao longo dos anos de romper com a regularidade para criar a singularidade. Assim como alguns gravadores trabalham a tiragem única, Alexandre desafia o princípio da reprodução na serigrafia porém afirmando sua própria transformação em cada uma das tiras que compõe a série. Novamente podemos perceber a mudança dos ventos para a forma mais orgânica.

Mais recentemente, fazendo um contraponto com a repetição e a singularidade, ele se apresenta como um pintor de serigrafias ou um serígrafo que pinta. Paradoxo.
Nova ambigüidade em seu trabalho. Como definir o trabalho de Alexandre Ferreira? Onde está o limite de um e de outro?

Com certeza mais importante do que responder à pergunta é deixar que a busca da organização e do caos, do geométrico e do orgânico coexistam no mesmo espaço, em que nós, observadores nos encontramos.

30 de junho de 2003
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Rosa Oliveira
Brise-Soleil

22 de julho, terça-feira, 20h

Galeria Anna Maria Niemeyer
Rua Marques de São Vicente  52  loja 205
Gávea   Rio de Janeiro
21-2239-9144 / 2259-2082
amn@annamarianiemeyer.com.br
http://www.annamarianiemeyer.com.br
Segunda a sexta, das 11h às 21h; sábados, das 11h às 18h.
Exposição até 9 de agosto de 2003.

Com texto de apresentação Desvio para o Infinito de Marisa Flórido Cesar, Rosa Oliveira preparou para sua primeira individual em uma galeria fora do circuito institucional, um conjunto de 8 telas de grande formato e uma série de serigrafias.

Sobre esta seleção a artista escreve:
"Na mostra "Brise-Soleil", Rosa Oliveira apresenta oito telas inéditas em grandes formatos. São pinturas em tinta acrílica, onde a artista trabalha cores pretas e brancas, impregnando-as de matizes sutis e incontáveis. Seus trabalhos desmentem a natureza pesada dos pretos. Um processo construtivo, utilizando a reunião de linhas verticais, compõem as imagens formadas nas telas. O que vemos nestas pinturas são: "Tensões premeditadas, rigores calculados, exatidão geométrica".

A artista apresenta também, pela primeira vez suas serigrafias, realizadas a partir de fotografias suas, tiradas de prédios nos arredores de seu atelier, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro. Foram fotografados elementos arquitetônicos, os "Brise-Soleils", encontrados nas fachadas destes prédios, transformadas posteriormente em matriz serigráfica, reproduzida em séries de variadas cores.


Rosa Oliveira

Formada em Antropologia na UFRJ, estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e trabalha como comissária da Air-France, sua primeira coletiva foi em 1994 no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno/Niterói-RJ e desde então já realizou duas mostras individuais (Galeria do SESC-Paulista-1998 e Pequena Galeria do Centro Cultural Candido Mendes-1999) e integrou coletivas em importantes centros culturais em algumas capitais brasileiras e dentre elas podemos sitar: Novíssimos-IBEU/RJ; Sobre Branco/Galeria Primeiro Piso/EAV-Parque Lage/RJ; Entre 2D-3D no Espaço Cultural dos Correios/RJ; Projeto Macunaíma 07-FUNARTE/RJ; Projeto 4 Quadros e Livro Objeto da Arte ambas no Centro Cultural Candido Mendes/RJ e participou de diversas edições dos Salões: Carioca de Arte, UNAMA e UNAMA/Pequenos Formatos, Ribeirão Preto, Piracicaba,UNIVERSIDARTE, Santo André, Municipal de Artes de João Pessoal, Salão de Arte Contemporânea/SP e ARTGE-Pará, nestas mostras recebeu sete premiaçõe: Prêmio Aquisição no Arte-Pará-2002; dois Prêmios Aquisição no 3º e no 5º Salão UNAMA-Pequenos Formatos e a Menção Honrosa na 2ª edição deste mesmo salão em 1996. Recebeu também o Prêmio Aquisição no 26º Salão de Arte Contemporânea de Santo André e o Prêmio Participação no 19º e 20º Salão Carioca de Arte.Sobre seus trabalhos já escreveram:


Rosa Oliveira-SESC/São Paulo

NELSON LEIRNER
julho de1998

Consiente ou não, Rosa Oliveira aproxima-se mais do construtivismo, cujo rigor e reducionismo difere conceitualmente do minimalismo que procura simplificar os elementos plásticos ao "mínimo".

Sua forte tendência ao preto e seus matizes passa ao menos atentos ou informados, uma visão monocromática que aponta para Reionhardt ou Rothko, como referência. Este equívoco logo se desfaz quando quadrados, retângulos, xadrezes e faixas fazem geralmente as divisões básicas dos seus quadros.

Se para Reinhardt "o mais é o menos", o "mais" não seria "menos" para Albers, Stella, Johns e até para Duchamp?Pensar que Rosa Oliveira estudou I Ching, diagrams Yantra, enveredando para o campo do exoterismo, faz a artista construir em sua pintura um universo fechado em um monastério longe dos truques ou ilusionismos circenses tão freqüentes nas pinturas atuais. Sua perseverante monotonia torna seus quadros uma síntese pessoal do próprio processo, o que me faz lembrar uma exclamação da filha do pintor, Alfred Jensen ao ver uma de suas telas: "Você faz as coisas diferentes parecerem iguais".


2D 3D Um Território Possível/Espaço Cultural dos Correios-RJ

GEORGE KORNIS
maio de 1996

(...) A redução formal e cromática da pintura de Rosa Oliveira - outra artista de formação tardia e atividade recente - possibilita uma aproximação, via pixelização, com a construção de imagens digitalizadas. A adoção do quadrado como forma básica e do preto enquanto lastro cromático evidenciam a filiação construtivista do processo de trabalho de uma artista que vem, gradativa mas consistentemente, se aproximando do complexo campo das questões visuais presentes na articulação da segunda e da terceira dimensão. Trata-se, portanto de um trabalho em pintura que rejeitando a sedução da vaga - gestual e policromática - não teme o desafio do desconhecido e busca as potencialidades contidas no vasto e acidentado território contido entre 2D e 3D. (...).

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Edith Derdyk
Campo Dobrado

22 de julho, terça-feira, 20h

Museu de Arte de Santa Catarina
CIC - Centro Integrado de Cultura
Av. Irineu Bornhausen  5600  
Agronômica   Florianópolis
Santa Catarina
48-333-2166 r: 215 / 322
masc@fcc.sc.gov.br
Terça a domingo, das 9h às 22h.
Exposição até 24 de agosto de 2003.

Serão apresentados três conjuntos distintos de trabalhos -  instalação, livro-objeto e gravura - que interagem entre si, através de  um denominador comum: a linha.

Como reconstruir o mundo a partir de um elemento simples, trivial até, que atravessa todos os outros, mas também os conjuga, que lhes dá forma mas também textura, que acompanha com precisão os seus meandros infinitesimais mas também os abre para uma indecisão constitutiva, arrastando-os em direções imprevistas? É assim que se inicia o texto crítico escrito pelo filósofo Peter Pál Pelbart. (ver anexo Incompletude constitutiva)

A linha apresenta sua ótica sob várias formas: ora comparece em sua fisicalidade espacial, ora capturada através de um olhar fotográfico que se estende nas páginas de um livro, ora sugere um corpo escultórico impresso na folha de papel.


1. Da instalação Campo Dobrado:
Envolvendo o pilar que se localiza exatamente bem no meio da sala expositiva, numa área que cobre 144 metros quadrados, centenas de metros de linha preta de algodão grampeados nas paredes do Museu, se dobram e se desdobram de um plano a outro plano do espaço. Através da construção de linhas tensionando o espaço, é sugerida a sensação de  transitividade de um corpo em movimento em um campo em terreno acidentado, cheio de lombas.


2. Do livros-objetos Extensão e Fiação:
Extensão: livro-objeto de mesa.
Dimensão do livro aberto: 225 X 18 cms
As páginas do livro são dobradas de tal maneira a possibilitar a construção de inúmeras leituras combinatórias. As imagens são os registros fotográficos captados pela artista, de uma instalação realizada na Alemanha em julho de 2002, relatando o sentido do fazer/desfazer contínuo das linhas que se estendem no espaço.
(Este trabalho já foi mostrado no Centro Cultural de São Paulo em 2002 na exposição Corte - prêmio APCA/2002, categoria tridimensional)

Fiação: livro-objeto de parede
Dimensão: 870 x 10 cms
Justaposição de imagens registram a fiação elétrica da cidade mesclada com os vestígios de linhas grampeadas sobre as paredes do atelier da artista, aludindo à extertioridade/interioridade na medida em que as linhas atravessam e relacionam o plano infinito do céu e a opacidade das paredes.
(Este trabalho já foi apresentado no Instituto Tomie Ohatke (SP) e Espaço ECCO (Brasília)  em 2003)

Ambos os livros-objetos Extensão  e Fiação são parte dos resultados da pesquisa que a artista realizou ao ter sido contemplada pela Bolsa Vitae 2002/2003.


3. Das gravuras Indecisão
Pequenas placas de cobre impressas na mesma folha de papel, de maneira a conectar/desconectar a trama de linhas que foram obtidas através da ponta seca, evocando a potência da linha como agente de conexão.


Incompletude constitutiva

PETER PÁL PELBART


“Que linhas se encontram bloqueadas, calcificadas, emparedadas, em um impasse, caindo em um buraco negro, ou esgotadas, que outras estão ativas ou vivas pelo que alguma coisa escapa e nos carrega?”
Gilles Deleuze


Como reconstruir o mundo a partir de um elemento simples, trivial até, que atravessa todos os outros, mas também os conjuga, que lhes dá forma mas também textura, que acompanha com precisão os seus meandros infinitesimais mas também os abre para uma indecisão constitutiva, arrastando-os em direções imprevistas?

O mundo como um emaranhado de linhas. Como Deleuze, Edith Derdyk privilegia a linha e não o ponto, pois a linha se faz continuamente, ela está sempre no meio, ela corre e escorre entre as coisas, passa e faz passar fluxos que antes não eram possíveis nem pensáveis. Mas a linha também conecta as regiões de mundo antes separadas, costura-as pedaço a pedaço, por contiguidade, numa progressão de espaços que faz surgir muitos outros espaços.

Como dar corpo à imagem de mundo feito de linhas? Uma linha carregada por um corpo, que se movimenta de um plano a outro, sem contorno definido, nem no espaço nem no tempo, que vai e vem, sobe portas e paredes, se espalha no chão e pelos livros.

O próprio ateliê, desterritorializado, ganha uma itinerância nômade, uma conectividade inédita, traçando outros trajetos, sugerindo novas linhas e escorrimento ou espalhamento, novos campos de infiltração e visibilidade, novos vetores de elevação ou condensação.

Há algo de mosntruoso nessa matéria polimorfa, mas também algo de extremamente delicado na maneira de costurar o mundo pedacinho por pedacinho, sem começo nem fim, prolongando-o indefinidamente. Processo infindável, incompletude essencial.

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Ciclo de palestras e debates
O Estatuto da Pintura na Arte Contemporânea
Coordenação: Paulo Sergio Duarte
 O olhar distante - A historicidade da pintura defronte à cultura pós-moderna
Participantes: Blanca Brittes, professora da UFRGS; Luiz Camillo Osório, crítico e professor de história da arte da UniRio

22 de julho, terça-feira, 19h

Santander Cultural - Sala Oeste
Rua 7 de Setembro  1029
Praça da Alfândega   Porto Alegre


Programação:

29 de julho
Pintura e espaço - A reconstrução da espacialidade na pintura depois da revolução cubista
Participantes: Icléia Cattani, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul / UFRGS; Luiz Renato Martins, crítico e professor de história da arte, Universidade de São Paulo / USP

5 de agosto
A pintura contemporânea e suas relações com os novos meios
Participantes: Vera Chaves Barcelos, artista plástica; Ligia Canongia, crítica e curadora independente, Rio de Janeiro

12 de agosto
Territórios em disputa - Pintura e novas linguagens na arte contemporânea
Participantes: Niúra Legramante Ribeiro, mestre em artes pela ECA / USP, professora de História da Arte no Atelier livre e Feevale; Maria da Glória Ferreira, crítica e professora de história da arte, Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ

19 de agosto
A diversidade da pintura contemporânea no Brasil e na América Latina
Participantes: Paulo Sergio Duarte; Agustín Arteaga, crítico e professor de história da arte, curador assistente do Jeu de Paume (Paris), curador da exposição Orozco na Bienal do Mercosul

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Curso
Revitalizando o Museu - Gestão e Organização de Museus
Palestrante: professora Maria Célia Teixeira Moura Santos, Museóloga,  Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

24 e 25 de julho, das 9h às 18h30

Auditório Brasílio Itiberê
Rua Ébano Pereira 240
Centro   Curitiba

26 de julho, das 9h às 12h

Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes   999
Centro Cívico   Curitiba

Inscrições abertas: 41-350-1283
cosem_seec@yahoo.com.br


Organização: Secretaria de Estado da Cultura
41-321-4739
cultura@pr.gov.br

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Vendo Frases Feitas/Grota Funda: faixa colocada em via urbana


É a vida!


RUBENS PILEGGI SÁ

Tudo começou, como muita coisa começa, em arte, como uma brincadeira. Um material que ia (vem) chegando pelo computador, assim como quem não quer nada, sob o título: “Vendo Frases Feitas”. Bobagens, lugares-comuns. A primeira, de junho, era um simples “Viva São João”. Quem estava remetendo tal texto era o artista Edson Barrus, o “cão mulato”, inventor de um conceito de arte para a criação do “vira-latas transgênico”. Que fez de sua casa, no Rio de Janeiro, o espaço Rés-do-Chão, para experimentação de trabalhos radicais, lúdicos e poéticos. Que transforma seu lugar de moradia em abrigo para outros artistas, transformando a hospedagem em ação de arte, também.

Pois bem, depois de muita frase feita, agora já com outros participantes, recebo uma imagem de uma foto tirada em uma via urbana, com uma faixa, onde se lê: “É a vida!”. E assim, coisas absolutamente clichês, são capazes ainda de nos remeter a significados que transformam nossos pensamentos sobre aquilo que parecia não ter mais nada a dizer. Um novo olhar sobre a mesmice pode mudar nossas percepções. Maktub.

Na sexta e última edição da revista Item (quem quiser adquirir um exemplar pode mandar um e-mail para contato@revistaitem.com.br), com o tema Fronteiras – com excelentes artigos e acabamento gráfico primoroso – o artista plástico Alex Hamburger escreve um texto sobre seu processo de criação, mostrando a gênese em que palavras e imagens se correspondem através da história da arte e de como isso acaba por desaguar em seu trabalho criativo. O que se destaca é a maneira como o autor vai se apropriando de textos, imagens e materiais de uso cotidiano para compor sua poética verbi-sonora-visual. E, principalmente, como, através do uso de objetos prontos, como uma bolsa de camelô, por exemplo, ele transforma o significado de coisas pertencentes ao senso-comum, em arte. Ou, por que não dizer, transforma a arte em senso-comum.

Não é esse um dos postulados mais significativos do “ready-made”, inventado por Duchamp, no início do século passado? Vindo da experiência pioneira dos dadaístas, seu gesto é considerado como o grande marco na ruptura da tradição moderna em arte. Colocando uma roda de bicicletas sobre um banquinho de madeira, Duchamp tira a arte de uma discussão hermética, fechada, de arte pela arte, nos oferecendo novos rumos de pesquisa, que continuam, até hoje, se desdobrando. Uma longa caminhada começa pelo primeiro passo!

O que podemos ressaltar dessa questão que envolve as mais corriqueiras das situações, é de que conceitos tão arraigados quanto a postura do artista como criador original, como gênio inspirado, cai por terra. De que a propriedade intelectual, a arte enquanto objeto único, o trabalho enquanto mercadoria, se transforma, agora, em um jogo, cuja prática, pode recair na mais óbvia das operações. Não só fazendo o cotidiano como matéria da arte, mas a arte como possibilidade no cotidiano. Afinal a vida imita a arte (ou é o contrário?) e vivemos uma época saturada de imagens e frases e coisas que estão ao nosso dispor sem precisar novas matérias e materiais que vão poluir ainda mais o planeta. Deslocar é preciso! As colagens em artes plásticas ou em música utilizam há tempos tais recursos, ao juntarem elementos aparentemente díspares em novasconfigurações.

Isso, que aparentemente é apenas uma blague, uma ironia da situação cotidiana, um recurso artístico inconseqüente, é o que de mais forte pode estar acontecendo em termos de mudança de conceito sobre a função da arte em nossa sociedade, porque, se aquele passante, que vai do trabalho para casa e da casa para o trabalho estiver atento ao lixo jogado nas ruas e aos sinais em que se acostumou atravessar – não como algo que é um simples lugar-comum, mas sim algo pleno de potencialidades – não só a arte estará contribuindo para que este cidadão perceba o mundo à sua volta, mas com que arte e vida possam se tornar matéria de uma mesma dimensão.

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