home | Magazines | PublicaƧƵes participantes | ParticipaĆ§Ć£o do canal | Os 3 temas | Patrocinadores
apresentaĆ§Ć£o contribuiƧƵes

O documenta 12 magazines pelo Canal Contemporâneo, publicado em 14 de agosto de 2006

Colocar 90 publicações de cinco diferentes continentes em diálogo sobre as perspectivas da maior mostra de arte contemporânea do mundo. Para o Canal Contemporâneo, a simples iniciativa da documenta já aponta para a auto-crítica de uma instituição de importância fundamental para a produção, o mercado e o pensamento das tendências artísticas. Neste texto, você conhece a leitura que o Canal Contemporâneo faz do projeto e as razões que nos levam a participar do documenta 12 magazines.

Atando nós da rede: perspectivas do documenta 12 magazines

O projeto documenta 12 magazines se apresenta ao circuito internacional como um saudável risco assumido pela mais importante mostra de arte contemporânea do mundo. Estamos assistindo e sendo convocados a fazer parte de um desdobramento do processo iniciado na última Documenta, quando a curadoria de Okwui Enwezor (o primeiro não-europeu a capitanear a mostra) fomentou a reflexão sobre questões político-culturais contemporâneas a partir de plataformas de discussão realizadas antes da abertura da exposição em Kassel, em junho de 2002.

Roger Buergel, diretor artístico da documenta 12, é o nome por trás do projeto documenta 12 magazines, cujo principal avanço em relação à última edição da mostra é o reconhecimento da emergência de novos espaços de produção, gestão, crítica e resignificação da arte. Em 2002, fomos testemunhas de um interessante esboço de descentralização da Documenta, que objetivava transformar a mostra no derradeiro e mais elaborado produto de um processo que envolveu simpósios em quatro continentes. Contudo, para a documenta 12, foi proposta uma estrutura ainda mais complexa e consideravelmente mais ousada: a partir de uma seleção inicial de 70 publicações impressas e eletrônicas sobre a arte contemporânea espalhadas ao redor do mundo, encoraja-se o debate e o pensamento coletivo, mas também a própria criação de trabalhos artísticos focados nos três eixos centrais que regulam a curadoria do evento.

A proposição documenta 12 magazines pode ser encarada e discutida por diversos pontos de vista, mas não deve ser colocada sob um juízo ingênuo: trata-se de um projeto ambicioso e sem precedentes na história de uma mostra que, já há muito, consolidou-se como o espaço de definição das tendências e práticas, das trocas simbólicas e valoradas, enfim, da ordem da arte a nível mundial. Ao convocar uma série de interlocutores - abertos a diversos outros diálogos locais - a produzirem registros críticos de sua circunstância no mundo da arte, a documenta 12 faz um comentário delicado sobre o seu próprio papel enquanto centro da vanguarda.

Se os três temas propostos (É a modernidade nossa antiguidade? / O que é a vida crua? / O que pode ser feito?) são vizinhos da generalidade e apontam para um possível interesse da documenta 12 nos conflitos da história, do sujeito e da transmissão de conhecimentos, eles se revelam motes férteis para que as realidades locais tenham a liberdade de se lançar num exercício de auto-enfrentamento. São questões cambiáveis, mas pertinentes a diferentes contextos, e que podem servir como interessantes recursos para o vário suporte de expressão que o projeto estimula – textos teóricos, ensaios e, claro, intervenções artísticas.

Para o Canal Contemporâneo, o convite em participar do projeto documenta 12 magazines se configura como uma bem-vinda forma de reconhecimento internacional do trabalho que realizamos coletivamente desde 2001 e cuja legitimação tem se dado no cotidiano da arte contemporânea brasileira. É, também, a ocasião adequada para colocar à prova a capacidade da documenta 12 em interagir com os territórios alternativos que se estabeleceram sobre as fissuras da grande mídia de massa, e que respondem a uma demanda natural – mas quase sempre sufocada – de construção de novas possibilidades de discursos.

Espaço de mediação entre as esferas da produção, da crítica e do mercado de arte, o Canal Contemporâneo não se apresenta ao projeto como uma publicação, mas sim como uma comunidade digital originada destes objetos, e é exatamente deste atributo que surge o potencial de nossa contribuição: ela está diretamente relacionada não à resposta de um “público”, mas de uma rede entre indivíduos e organismos munidos de diferentes competências e objetivos. Das alteridades deste ambiente buscamos a singularidade de nossa participação – das somas de diferentes posições ideológicas, origens de atuação e projetos de trabalho.

A grande chave para se compreender as possibilidades do projeto documenta 12 magazines é decifrá-lo como uma poderosa rede entre diversas formas (e forças) de pensamento sobre a arte contemporânea ao redor do mundo. Levando-se em consideração que no universo de 70 publicações encontramos representantes tão distintos em seus alcances e posicionamentos como a Critical Inquiry (EUA) e o coletivo colombiano Esfera Pública, constatamos que o estabelecimento de um database que acolha e estimule a interação entre estes ângulos do pensamento contemporâneo é, por si só, uma aventura válida.

O Canal Contemporâneo, tendo como uma de suas premissas ativar as dinâmicas de diversas redes da arte brasileira, observa neste processo internacional uma interessante oportunidade para o enriquecimento de nossa própria experiência.

Leandro de Paula
Canal Contemporâneo