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Um projeto de Artes Plásticas para o Centro Cultural Sérgio

 
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Ernesto Neto



Registrado em: Segunda-Feira, 30 de Mai de 2005
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MensagemEnviada: Seg Mai 30, 2005 3:22 pm    Assunto: Um projeto de Artes Plásticas para o Centro Cultural Sérgio Responder com Citação

Prólogo

O grande problema nacional é a fragilidade institucional. Para todos os lados e em todas as áreas públicas as instituições demonstram a tragédia brasileira, do congresso ao sistema de saúde; do judiciário às instituições culturais; do executivo (federal, estadual municipal) à policia como um todo. Os ocupantes de posições nestas e em outras unidades podem reclamar e dizer que “não é bem assim”, mas se perguntarmos a qualquer brasileiro se ele ou ela confiam em qualquer uma destas instituições a resposta será sempre negativa. Para não falar do noticiário diário, que só confirma esta percepção coletiva. O curioso disso tudo é que estas instituições são frutos de nós mesmos. Não foi um outro povo que instituiu esta cultura, fomos nós ou a nossa história, que tem como seu maior mal a corrupção. É ela que dificulta o desenvolvimento do pais. Dizem que nosso problema é econômico, tudo ouvimos falar dos líderes é sobre economia , produtividade desenvolvimento, e novamente economia (isto é, a economia e os agentes econômicos). A economia é uma parte do problema e/ou talvez uma conseqüência do problema, que é cultural. O problema brasileiro é simplesmente um problema cultural e nunca vai ser resolvido, seja com este plano econômico ou qualquer outro desenvolvimentista, enquanto não se pensar em cultura. E aí entra tudo: divisão de renda, relação patrão-empregado, relações humanas, e principalmente educação. Como qualquer adulto sabe, o que difere o ser humano dos animais irracionais, isto é, do cachorro e da vaca por exemplo, é a capacidade de raciocinar, pensar, gerar conhecimento, e transmitir conhecimento. Assim conseguimos vencer o frio e o calor, gerar riqueza e até, coitadinhos, domar os animais e colocá-los em jaulas para podermos levar nossos filhos no domingo para ver outras formas de vida e, obviamente, nossa superioridade. Porém, parece que esta incrível capacidade humana é uma das coisas mais desvalorizadas no nosso querido Brasil, a começar pelo nosso presidente e todos os outros líderes que estão no poder, pois parece que quando algum líder começa a falar em cultura e educação rapidamente este tem sua boca calada e seu espaço esvaziado. Isso nos sugere que os nosso líderes sabem qual é a única possível solução do país mas morrem de medo dela. O porquê eu não sei, mas a atitude deles exprime uma vontade geral de que tudo continue como está, e sendo assim, acho que não adianta nada escrever o que já escrevi e o que de fato pretendo escrever.

O espaço cultural Sergio porto

Recentemente o projeto de exposições do Espaço Cultural Sérgio Porto para o ano de 2005 foi abortado após a seleção ter sido finalizada, este fato demonstra mais uma vez a fragilidade institucional brasileira. O projeto de exposições do Espaço Cultural Sérgio Porto é uma instituição que tem uma longa história e que já projetou vários artistas, ou mesmo criou condições mínimas para que estes pudessem apresentar o seu trabalho em início de carreira. Muitos destes artistas conseguiram desenvolver seu trabalho e estão até hoje expondo em instituições de muito maior prestígio e galerias em escala nacional e internacional. Isto não quer dizer que o Espaço Cultural Sérgio Porto não é um lugar de pouco prestígio, para iniciante, ao contrário, isto traz prestigio ao Sérgio Porto, à prefeitura e às administrações que por ela passam, na medida em que se constituem como espaços construtores da história cultural brasileira. Espaços como o Sérgio Porto são a base da pirâmide, são os alicerces da cultura (no caso, das artes plásticas), e é através deles que jovens vão discutir os novos rumos e as constantes transformações do movimento artístico e da própria sociedade.

A realidade é que nos últimos anos o projeto de exposições do ECSP vem sofrendo vários golpes. Talvez pela falta de competência do poder público, ou quem sabe pelo total desinteresse do mesmo pela preciosidade histórica que é este lugar, ou ainda pior, por ter a consciência da importância do lugar e deliberadamente mantê-lo em estado de instabilidade... Até onde tenho conhecimento, foi formada uma equipe para julgar algo em torno de 200 projetos que foram propostos ao estado a fim de ocupar as galerias da instituição, dos quais foram selecionados 49. Depois da seleção concluída e divulgada, o o projeto foi abortado como um todo. Não é primeira vez que isto acontece com o projeto de exposições do Sérgio Porto, sendo reincidente pela atual administração municipal que acaba de ser reeleita, nos leva a crer que o interesse é realmente manter a instabilidade. O fato de uma comissão ter o seu trabalho abortado e jovens artistas terem seu “sonho” dissolvido já é lamentável. Mas o que acontece é que: amanhã, quando a prefeitura lançar um novo edital, qual será a credibilidade que ela vai ter, que jovem artista sério vai ter confiança e se dedicar a desenvolver um projeto para submeter à prefeitura? A irresponsabilidade do ato autoritário começa a destruir uma obra institucional que, apesar das dificuldades, vem sendo construída ao longo de muito tempo. Sendo assim, a irresponsabilidade não é apenas com o momento atual mas com toda uma história. Qual o crédito que o recém empossado curador terá para desenvolver um projeto no atual estado de coisas, independentemente da competência do profissional deste, escalado para a difícil tarefa? E por maior que seja a boa vontade da classe artística com este, ele será o representante desta atitude autoritária, fruto do desinteresse de seus superiores ou da vontade de destruição dos mesmos de uma das instituições mais importantes, dentro de seus objetivos, do Brasil.

A situação e a proposta

O estado autoritário e instável, no entanto, nos proporciona um ótimo momento para refletir sobre a situação atual das exposições do ECSP. A vocação histórica de espaço para maturação do artista jovem já vem sendo deturpada nos últimos anos. As salas vêm substituindo a carência de espaços culturais na cidade expondo artistas mais do que conhecidos, que algumas vezes aparecem repetindo sua trajetória básico institucional. Talvez uma opção seja determinar status diferentes às duas salas, deixando uma para os jovens e outra para artistas de maior experiência, mas esta é uma possibilidade a ser analisada mais tarde. Apesar do golpe sofrido, pessoalmente, eu discordo da idéia de fazer várias exposições coletivas ao longo do ano, como foi proposto pela comissão de seleção. Acho muito mais interessante manter os espaços para exposições individuais onde o artista tem possibilidade de mostrar a sua produção de atelier ou realmente apresentar um projeto mais audacioso. O que me parece ocorrer com o CCSP e com várias outras instituições cariocas é exatamente a falta da idéia de programa. Não vejo atualmente esta idéia lançada pelas instituições de modo a conceituar os objetivos de cada sala, e a partir daí, prover o meio de uma continuidade que possa gerar uma discussão do contexto. O que é um programa? É ter uma pessoa responsável pela curadoria, que pode cuidar de uma ou das duas salas, que teria autonomia para desenvolver um programa durante um ou dois anos e através deste programa promover uma discussão a cerca do valor de cada mostra. Assim, cada artista e a relação entre eles expressariam um ponto de vista cultural que este curador conceituaria para a sociedade. Desta forma, após algum tempo estaríamos desenvolvendo um processo de identidade neste local. Acho muito importante a alternância de curadores. Acho que talvez dois anos fosse um tempo bom, talvez pudéssemos ter um curador para cada sala formando dois programas em paralelo, e/ou uma sala com um foco diferente da outra (tipo iniciante e experimentado, conforme mencionado acima). São várias as possibilidades, e certamente poder-se-ia chegar a uma decisão a partir de um ou mais debates. Como escolher o curador? Acredito que a melhor forma seria abrir um processo de inscrição aos interessados e criar uma comissão que faria a seleção. Por que a necessidade deste curador(a)? Acho que a partir do momento que se delega um espaço cultural público a uma pessoal responsável por determinar o programa, este profissional vai lutar para conseguir executá-lo, assim como o fizeram a maioria dos que tiveram este papel no passado. Porém, sem querer desmerecer ninguém, a possibilidade deste mandato ser por tempo pré determinado, e, eventualmente haver um responsável por cada sala, fará com que haja uma rotatividade e um debate sobre o ponto de vista de cada curador. O Sérgio Porto é uma instituição pequena, mas o que eu penso é que toda instituição poderia ter um segundo curador, quem sabe curando um espaço menor, de modo a oxigenar o trabalho hercúleo do diretor da instituição. Não é uma idéia de competição mas uma idéia de colaboração que possibilite o debate, mesmo quando as posições aparentemente sejam contraditórias. Para finalizar, acredito que seria maravilhoso, dentro de um quadro destes e de todas as suas possibilidades de definições, que a partir de um debate, e quem sabe da formação de uma comissão para redigir um texto final para um programa de artes plásticas para o ECSP composta por responsáveis pela administração e pessoas da classe artística a fim de escolher um ou dois eventuais responsáveis pela curadoria do templo, que este formato debatido fosse definido e institucionalizado, como se fosse uma lei, ou seja lá qual for o termo correto, de modo que ela pudesse ter autonomia diante das futuras administrações, que (videntemente teriam novos membros no conselho), visando proteger o programa institucional do vai e vem das administrações públicas.

Uma consideração final: acho que a pessoa responsável pelos artistas jovens, e esta proposta se estende a eventuais salas que outra instituições poderiam criar para o desenvolvimento de um projeto, deveria ser uma pessoa jovem, que naturalmente estaria cheia de gás para enfrentar os problemas que são, em geral, enormes quando se quer desenvolver um projeto cultural. Certamente esta pessoa poderia oxigenar a instituição com idéas novas, além de fomentar o contexto cultural com as mesmas, fazendo com que a instituição estimule não só os artistas a desenvolverem o seu trabalho, mas também estimular jovens curadores e críticos de arte a desenvolverem e exercitarem o seu, ajudando assim a preparar futuros profissionais, fundamentais no debate cultural.

Ernesto neto
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