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Relatos Rumos 4 – Diário de bordo: Boa Vista

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
Mensagens: 22

MensagemEnviada: Dom Mar 30, 2008 7:02 pm    Assunto: Relatos Rumos 4 – Diário de bordo: Boa Vista Responder com Citação

Relatos Rumos 4 – Diário de bordo: Norte
[Belém, Manaus, Rio Branco e Boa Vista]


Dia 4 – Boa Vista [14/03]

A primeira sensação, ainda do avião, é de alguma surpresa: mesmo sem ter expectativas definidas acerca do que esperar de Roraima, mais localizadamente de Boa Vista, chama atenção a formação topográfica e vegetal na região em que se situa a capital: assemelha-se mais a um cerrado, ou a "savanas" com colinas. Chamo de "surpresa" por conta de tratar-se de uma área extrema do país e situada em território amazônico, o que inevitavelmente gera uma expectativa – moldada por estereótipos, é verdade - por florestas cerradas e vegetação luxuriante, que não há. Mas claro que no fundo é completo desconhecimento anterior de minha parte.

Como nas três cidades anteriores, a capital se situa às margens de um rio, o Branco. Num rápido vislumbre aéreo, percebe-se que se trata de uma cidade razoavelmente pequena – para uma capital – mas planejada, em formato de leque, espalhando-se num desenho elegante a partir da orla. Nota-se também, ainda das alturas, diversos nichos de pobreza, com casebres amontoando-se organizadamente dentre ruas de terra, mais para a periferia. Em terra, minhas impressões foram a de uma cidade muito plana, de ruas largas e limitadas opções turísticas, e com pouquíssimas áreas verdes no projeto urbano – o que, combinado ao clima local, potencializa a sensação de aridez.

Faz muito calor, mais que em qualquer outra das localidades visitadas até o momento. O sol é tão quente que mesmo a convidativa piscina do hotel, cercada por árvores, é evitada a partir das 11 da manhã, ganhando mais afluxo de banhistas a partir das 4 da tarde.

Leio no diário local [ "A Folha de Boa Vista", todo em preto-e-branco] um colunista lamentando as ainda precárias condições de acesso à internet no estado; ironicamente, foi o lugar onde tive a melhor conexão à web dentre todas as cidades visitadas no Norte, em meu quarto de hotel. Parece que dei sorte, isto não é a regra por aqui.

Em conversas breves com interlocutores locais, percebemos um quadro complexo de relações sendo discutidas no estado, sobretudo a questão referente à demarcação de áreas indígenas. Roraima é um estado recente, com menos de 20 anos de existência, e quase 50% de seu território é oficialmente ocupado por terras indígenas, recentemente "beneficiadas" por uma lei ambiguamente protecionista [não há espaço aqui para me alongar na contextualização adequada]. Some-se a isso o tradicional extrativismo mineral – ouro, prata e diamante –, não raro praticado de forma ilegal dentro dessas mesmas áreas, e tem-se um delicado cenário político.

Temos dois dias de permanência em Boa Vista, quase "um luxo" em nossa rotina sempre acelerada, mas o calor é tanto que inviabiliza até mesmo eventuais programas turísticos. Caminho apenas duas quadras até uma farmácia próxima, e já é o suficiente para sentir na pele. Sucumbo um tanto covardemente ao apelo do ar-condicionado de meu quarto, onde só me resta escrever ou tentar terminar a leitura de um dos três livros começados que me acompanham há meses. A impossibilidade de encontrar minha marca de cigarros, que mais tarde compreendo se dever ao lobby da fabricante rival na cidade, compromete meu rendimento, mas paciência.


Do evento

Público surpreendentemente baixo, mesmo para nossas expectativas já não muito otimistas: afinal, Boa Vista não possui um curso universitário sequer em artes visuais, tampouco há galerias na cidade. O Sesc local, que recebe nosso grupo, constitui-se praticamente na única referência na cena artístico-cultural da cidade. Há um outro centro cultural na capital, de aparência meio "shoppinesca" e que não chego a visitar, mas que pelos comentários de colegas não parece ser um programa compensador.

Cerca de uma dúzia de pessoas [!] se espalhavam pelo auditório, entre artistas e agitadores culturais locais e simples curiosos. Frente a essa situação, decidimos abrir mão do uso de microfones, tornando a coisa mais intimista. E funcionou: as pessoas ficaram mais à vontade, os próprios palestrantes se contagiando por esse formato e adotando em suas falas um tom mais próximo ao de uma aula informal, não se furtando a caminhar pelo espaço enquanto expõem suas imagens de apoio.
As apresentações de Paulo Reis e Christine Mello [e a essa altura creio já não ser preciso especificar os conteúdos de suas palestras, comentados nos relatos anteriores], agora mais enxutas, após a incorporação de comentários e observações anteriores do público quanto à recepção, transcorrem de modo mais fluido, solto, respondendo também ao clima de informalidade vigente. O que poderia ter sido uma grande frustração, por conta da baixa afluência de público, é revertido a favor, numa agradável "conversa aberta". A platéia se pronuncia mesmo durante as falas, uma novidade em nossos encontros até então.

Surgem algumas dúvidas mais "técnicas-institucionais", referentes à verba [ou "pró-labore"] para produção de trabalhos selecionados, rapidamente esclarecidas por Yara Richter, do ItaúCultural. Um fotógrafo-artista local insiste na questão do mercado, de como se criar demandas para a produção de lá, etc. Paulo Reis comenta o assunto, estendendo a discussão também para contextos menos "periféricos", tentando apontar estratégias que potencializem a constituição de uma dinâmica mais estruturada [a necessidade de galerias, curso superior, críticos, etc.]; mais dúvidas gerais, etc. De modo geral a participação de público é tímida, seja pela audiência reduzidíssima como por vários apartes já terem sido feitos no decorrer das apresentações

Encerramos nossa jornada pelo norte num complexo de bares e restaurantes na orla do Rio Branco, acompanhados da coordenadora do Sesc local, muito simpática [são sempre simpáticos, nossos contatos]. Um conjunto musical embala a diversão com alguma competência e um repertório duvidoso; boa parte das canções é em espanhol, lembrando da proximidade da fronteira com a Venezuela, a poucas horas de carro dali. Quem sabe numa próxima vez conseguimos uma esticada até Isla Margarita, num esforço internacional do Rumos...
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