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Lucas Bambozzi, do Centro Universitário Senac

 
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Canal Contemporâneo



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 3

MensagemEnviada: Dom Mai 14, 2006 8:08 pm    Assunto: Lucas Bambozzi, do Centro Universitário Senac Responder com Citação

Interfaces Críticas

LUCAS BAMBOZZI

Diante de novos sistemas de mediação envolvendo tecnologias com penetração em vários ambientes e camadas sociais, torna-se pertinente falar de práticas artísticas e culturais abrangentes, que se deixem afetar pelo contexto em sua diversidade de nuances. Este texto observa a criação de mecanismos por parte de determinados projetos que produzem conexões entre artista, público e a suposta responsabilidade de criação de espaços compartilháveis (vida pública), através do que pode ser chamado de interfaces sociais baseadas na realidade (reality-based-interfaces). Na medida em que tornam a mediação transparente, minimamente permeável, alguns trabalhos que emergem no cenário das novas mídias nos sugerem um sentido expandido para a idéia de ‘interfaces’, como sistemas viabilizadores de comunicação, experiências de potencialização do pensamento crítico e do uso de dispositivos de forma a sugerir enfrentamentos diante de novas formas de alienação que surgem embebidas nessas tecnologias. Seriam essas as faces e desafios de um ativismo atualizado às redes móveis, baseadas em sistemas locativos e imersos na trama da cidade?

Biografia

Desde o final dos anos 80 desenvolve estudos e trabalhos artísticos em torno da expressividade da linguagem audiovisual com ênfase nos meios eletrônicos e suas confluências. Foi artista residente no Centro CAiiA-STAR (atualmente Planetary Collegium, no Reino Unido), onde atualmente finaliza seu MPhil (Master of Philosophy). Foi o resposável pela implantação do setor de Internet e desenvolvimento de projetos de novas mídias para a Casa das Rosas, tendo sido o curador de exposições como Arte-Suporte-Computador (1998) e Imanência (1999). Tem escrito inúmeros artigos e críticas sobre arte eletrônica e digital em publicações e catálogos no Brasil e no exterior. Entre 2004 e 2005 participou ativamente como curador e coordenador nos eventos SonarSound (2004) Digitofagia (2004) e Nokiatrends (2005). EM 2006 oi convidado para fazer a curadoria geral da programação multimedia do Motomix Art & Music Festival.

Como artista trabalha em várias mídias e suportes tendo construído um corpo consistente de obras em video, filme, instalação, trabalhos site-specific, videos musicais, projetos interativos, Internet e CD-Rom. Seus trabalhos vem sendo frequentemente premiados e exibidos em festivais e mostras em mais de 30 países.

Em 2005 foi homenageado no XXe Videoformes em Clermont-Ferrand (França) com uma retrospectiva completa de seus trabalhos em vídeo, participou do festival ToShare em Turim (Itália) com uma instalação interativa, apresentou a obra O Pêndulo de Foucault no CCCB (São Paulo) e realizou uma exposição individual em Londres na galeria HTTP (House of Technologically Termed Praxis - htttp://htttp.uk.net) com a instalação SPIO, um sistema robotizado de auto-vigilância, utiliza processos generativos e processamento de imagens em tempo real, independentemente da ação do artista. Neste mesmo ano participou ainda de outras importantes exposições como Cyphorg Citizens and Unwitting Avatars no New Langton Arts, em Berkeley (EUA) e Bel Horizon, como parte da Bienale d’Art Contemporain de Lyon (França) e da Bienale de l’Image en Mouvement de Genebra (Suíssa).

Atua junto a diversos coletivos de intervenção em mídias e performances de live-vídeo com os grupos FAQ/feitoamãos e grupo C.O.B.A.I.A., tendo participado de projetos como o Z.A. Zona de Ação (SESC-SP), CUBO (CCBB-SP) e Território São Paulo (IX Bienal de Havana). É professor no curso de pós-graduação em Criação de Imagens e Sons em Meios Eletrônicos do Senac.
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Giselle Beiguelman



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 0

MensagemEnviada: Ter Mai 16, 2006 8:35 pm    Assunto: A caosmose do PCC Responder com Citação

Depois de ler o resumo de sua palestra [bastante estimulante] e ser intoxicada, à distância, pela TV e pela Web, com as imagens de SP depois da ação do PCC, fico me perguntando se interfaces sociais baseadas na realidade (reality-based-interfaces) estão emergindo nas supostas frestas que críticos, artistas e ativistas pretendem ocupar e às vezes de fato ocupam, ou se estão emergindo nas cicatrizes abertas de nossos processos de interação social mais brutais.
O que mais me impressionou, nessa ação do PCC, foi a capacidade de incorporar pressupostos críticos sofisticados, como a idéia de espaços sem paredes e ação virótica.
Por outro lado, me impressionou também, o cenário Guerra dos Mundos de Orson Welles, que colocou uma cidade inteira (e inclusive um país, no caso os EUA) em pânico, ao fazer um uso radical da mídia (o rádio) levando-a ao limite de suas potencialidades.
Repito: Estou acompanhando tudo de muito longe e pode ser que o que li sobre a força da boataria na web e por SMS seja exagerada. Mas ela é midiaticamente um dado.
Vou estar um tanto desconectada nos próximos dias, em um lugar muito isolado. Este post, por isso, não é exatamente uma proposta de discussão, mas uma sugestão para que pensemos na amplitude desses fenômenos não só dos pontos de vista das frestas e dos circuitos sociais alternativos, mas tbm pelo ângulo da microfísica do poder e de suas estratégias.
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Lucio Agra



Registrado em: Quarta-Feira, 17 de Mai de 2006
Mensagens: 2

MensagemEnviada: Qua Mai 17, 2006 11:58 am    Assunto: Responder com Citação

Sem muita pretensão, respondendo à Gisele, pensando alto mesmo: acho que de todos esses aspectos que vc. mencionou eu ficaria com a expansão virótica da informação. Ele, aliás, é fundamental em qualquer circunstância de confinamento e, se formos reparar bem, veremos que é usado desde muito tempo antes do aparecimento de tecnologias da informação. Estas, por sua vez, forjadas em contextos de máquina de guerra derivam seus procedimentos dessa genealogia.
Acho, por outro lado - e por isso seu depoimento à distância é tão importante - que a maior vitória nesse caso é da midalização do evento porque isso permitiu a audiência recorde de programas-parasita, hospedeiros do miserê, do gênero "Cidade alerta". O "plantão" não saiu do ar...
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Leandro de Paula



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 5

MensagemEnviada: Qua Mai 17, 2006 2:52 pm    Assunto: resistência ou referência? Responder com Citação

Sem deixar de citar a histeria causada pela rádio-transmissão de “Guerra dos Mundos” em outubro de 1938, Priscila Arantes aborda, em “Poéticas da Resistência”, algumas das estratégias encontradas pela arte para comentar e, em último caso, intervir nos mecanismos de comunicação de massa. O paralelo entre estas formas de resistência e o estabelecimento de novas mídias digitais parece, então, inevitável: ao por em xeque as noções de partilha de conhecimento por reconfigurar o trânsito das informações, a sociedade em rede ensaia identidades mais predispostas ao questionamento. Lançando mão do termo citado por Gisele Beiguelman, a “ação virótica” da informação encontraria na rede mais um veículo acrítico de disseminação ou um elemento diluidor pela sua múltipla oferta de referências?

Leia o texto completo no sítio Trópico.
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Ricardo Rosas



Registrado em: Quinta-Feira, 22 de Setembro de 2005
Mensagens: 3

MensagemEnviada: Qui Mai 18, 2006 11:17 am    Assunto: Responder com Citação

Interessante lembrar, em relação ao comentário da Giselle, por exemplo, um fato noticiado a não menos de um mês no Jornal da Tarde sobre o boom de uso de chips de celular roubados nas cadeias de São Paulo. Coincidiu um pouco com a pesquisa que estou fazendo sobre gambiarras e cada vez mais é constatável que vivemos uma abundância de tecnologias variadas, uma espécie de convergência cíbrida, que configuraria o que tenho chamado de "cultura do plug", onde a versatilidade se dá em tecnologias recombinantes, permitindo arranjos e improvisações as mais diversas, desde os aparelhos móveis até as mixagens low com high-tech ou analógico com digital. Por outro lado, também estes dispositivos, como ressalta o Lucas, acabam (sem julgamentos morais), por se tornar interfaces que possibilitam a crítica, pro bem ou pro mal. As revoltas interconectadas nas cadeias seriam apenas mais um sintoma do que ainda está por vir.
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Marcus Bastos



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 0

MensagemEnviada: Qui Mai 18, 2006 8:05 pm    Assunto: Responder com Citação

Perguntas: não dá para para generalizar esse tipo de estratégia virótica de segunda (que aparece tanto na ação do PCC, quanto na forma como os boatos foram expandindo na velocidade dos torpedos e scraps)? Não é um tipo de ação que já se tornou um dado da cultura contemporânea? Não dá para relacionar (também sem julgamento moral) com a forma como foram organizadas as manifestações contra o FMI em Seattle e Praga? Ou com o embate entre high-tech e low-tech na luta entre governo americano e chiapas? Ou com a onda das flash mobs?

Claro que são exemplos de natureza e calibre diferentes, mas parece que tem elementos comuns em todos, como o fator supresa (em maior ou menor escala a cada caso), a velocidade com que começam e terminam, o papel que redes (de computador, celulares, etc) desempenham na organização desses acontecimentos e a forma como vem à tona um fluxo sem centro e à margem, que desestabiliza algum tipo de ordem estabelecida.
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Canal Contemporâneo



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 3

MensagemEnviada: Sex Mai 19, 2006 9:06 am    Assunto: Responder com Citação

"A criação de um mundo à parte é um rompimento - ainda que momentâneo - com a ordem. Não se trata apenas de um ato de contestação, pois os gestos e as palavras dos movimentos de contestação já foram absorvidos pela mídia e, portanto, pelo imaginário popular. Ou seja, já não produzem mais os efeitos almejados. Desgastados pela mídia, tornaram-se peças da sociedade do espetáculo, marionetes em um mundo no qual a imagem prevalece sobre o real."

Leia o texto sobre o impacto social de ações como as dos flash mobs no sítio NovaE.
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Lucio Agra



Registrado em: Quarta-Feira, 17 de Mai de 2006
Mensagens: 2

MensagemEnviada: Sáb Mai 20, 2006 2:11 pm    Assunto: Velocidade Responder com Citação

Algumas das características que o Marcus elencou, tais como "surpresa", "velocidade" e outras, me fizeram lembrar de procedimentos caros à vanguarda Futurista do início do século. Ao cabo da primeira e segunda guerra mundiais, o mundo poluído que produzimos tornou-se tão evidente que a aceleração vanguardista parecia mais do que indesejável. Por outro lado, algumas de suas categorias mais prezadas foram reconduzidas à cena cotidiana. Apesar de se ter dito que a poesia era impossível depois de Auschwitz, a humanidade desejou acelerar-se novamente e fez crescer, a partir de extensões cerebrais, o movimento nesta direção.
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Marcus Bastos



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
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MensagemEnviada: Dom Mai 21, 2006 11:28 pm    Assunto: vanguardas Responder com Citação

O comentário do Lúcio é bastante instigante. Lembram como alguns críticos das vanguardas apontam seu caráter militarista? Tem uma síntese, no texto bastante conhecido de Afonso Romano Sant'Ana, "Aspectos psicossocias e antropológicos da vanguarda", de que cito um trecho:

"... a vanguarda vive num estado de contradição e paroxismos, o que em si não é mal, ao contrário, mas que não deve ser escamoteado. Vanguarda não é um monobloco. E constatar isso é começar a vê-la melhor. Por exemplo, tanto a vanguarda quanto a neovanguarda alimentam ao mesmo tempo o racionalismo e o irracionalismo. Ao mesmo tempo que alguns movimentos falam de 'geometria', 'ordem' e 'construção', outros falam de 'destruição', 'caos' e 'niilismo'. Assim, ao espírito industrial, formal, limpo e frio da Bauhaus se contrapõe o surrealismo, desencadeando forças do insconsciente. Quer atenda ao pólo da razão ou da emoção, quer se confunda com estereótipos apolíneos e dionisíacos, a vanguarda exibe a pulsão erótica violenta de seu criador. Sob a racionalidade da máquina, estão os nervos, a bílis, as fezes e os orgasmos de seus inventores.

Nessa linha de extremismos é que a vanguarda se caracteriza, num plano político, pela opção ora pela esquerda, ora pela direita. Vanguarda é tanto um Maiakovski revolucionário, comunista, russo, quanto um Marinetti, italiano, fascista, apoiando Mussolini"

Discutir a articulação entre a vanguarda e a prática política de seus artistas corre o risco de incorrer em simplificação, mas parece bastante pertinente para os temas que estamos discutindo. Será que inverter o olhar é útil para entender como a linguagem faz política? Aí fico pensando se não seria então um bom momento para desacelerar, regredir, contemplar.
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Marcus Bastos



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 0

MensagemEnviada: Dom Mai 21, 2006 11:29 pm    Assunto: Mudando de Assunto (para falar sobre a mesma coisa) Responder com Citação

Algumas das coisas que o Lúcio formula me fazem lembrar da relação entre acontecimentos recentes como os óbvios 11 de setembro e os ataques do PCC e um sentido mais amplo de termos como 'performance' e 'espetáculo'. Outra conexão?
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Leandro de Paula



Registrado em: Quarta-Feira, 31 de Dezembro de 1969
Mensagens: 5

MensagemEnviada: Ter Mai 23, 2006 11:38 am    Assunto: O xyz de Luther Blissett Responder com Citação

O "projeto" Luther Blissett é um dos melhores exemplos de netativismo, agindo na interseção entre tecnologia, teoria crítica, arte e política radical. Personagem fictício, criado por italianos, tornou-se um mito ao abordar de forma teórica e prática o caráter fictício da informação e o poder virótico dos movimentos sociais midiaticamente estruturados. Em "O XYZ do Net Ativismo", Luther Blisset comenta o "ataque na rede", posto em prática por trabalhos como o Electronic Disturbance Theater e LB/a.f.r.i.k.a. gruppe:

Citação:
Qual é o risco de ameaçar e provocar a mídia com simulações? Como controlar os feedbacks e reações violentas? Como evitar ser cooptado ou desencadear um pânico moral? De acordo com Stefan Wray, os ativistas devem se dar conta de que a política é um teatro e que devem aprender a atuar: "estamos manipulando a esfera midiática, estamos criando o hype (tendência), estamos fazendo congestionamento cultural (culture jamming), estamos simulando ameaças e ação [...] somos atores! Isto é teatro político!"


Leia o texto "O XYZ do Net Ativismo", traduzido por Ricardo Rosas, no sítio rizoma.net

Conheça o projeto Luther Blisset
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