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Relatos Rumos 12 – Diário de bordo: Florianópolis

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Qua Jun 04, 2008 6:16 pm    Assunto: Relatos Rumos 12 – Diário de bordo: Florianópolis Responder com Citação

Dia 12 – Florianópolis [22/04]

Mesmo sendo um clichê, não há como negar: é sempre um prazer voltar a Floripa. Claro, há o lado "balneário", mas também as pessoas...e a produção artística, sempre efervescente - mesmo que o cenário local ainda se ressinta de uma maior estrutura, sobretudo do ponto de vista de mercado; ainda não existe uma galeria sequer na bela ilha. Nossa breve estada foi "otimizada" graças ao auxílio luxuoso de Fernando Lindote [bem como de sua esposa Denise], o cicerone perfeito no que tange a uma contextualização da situação cultural e da cena artística de lá, em boa medida alimentada indiretamente pela UDESC, onde há cursos de graduação e pós em artes visuais. Entre um jantar árabe e um almoço sobre o mar, a conversa vai sendo pautada pelo que acontece ali: que artistas estão aparecendo, as iniciativas locais envolvendo a criação de espaços expositivos e de discussão e pesquisa em arte - via de regra fruto da mobilização isolada ou comunitária de artistas, dada a ausência de políticas culturais para a arte na cidade e no estado, etc. Fernando é das pessoas mais autorizadas para fazer este relato: afinal, já lá vão quase duas décadas, creio, de serviços prestados no meio de arte catarinense, entre desenvolvimento da própria produção pessoal, curadorias, "mapeamento" da produção do estado [com o projeto Pretexto], orientação e acompanhamento de artistas jovens. Vamos portanto para o evento com boa expectativa de participação do público.

Do evento

Como não podia deixar de ser, nossa mesa transcorre no simpático Museu Victor Meireles, escala quase inevitável de qualquer evento envolvendo arte contemporânea em Florianópolis. Comigo, estão Paulo Sergio Duarte, Alexandre Sequeira e Valéria Toloi, esta última representando o Itaú Cultural.
Na pequena e intimista sala que nos abriga – até dispensamos o microfone - , cerca de 50 pessoas, um público razoável.
Paulo Sergio introduz uma nova abordagem em sua fala, focando o que chama “a institucionalização do contemporâneo”; procede a uma demarcação histórica do que se convenciona chamar de contemporaneidade nas artes visuais, ressaltando que a transição do moderno para esta se daria por um movimento “de sedimentação, por camadas”, sem um ponto histórico “fixo” assinalando a mesma. Aponta uma propensão à incorporação de “questões contemporâneas” pelas instituições, vendo aí certa “domesticação” de conceitos e posturas na contemporaneidade, aproveitando para comentar, nesse contexto, certa tendência à “discurseira” na arte, parafraseando Rodrigo Naves. Se estende um pouco no que entende como “domesticação do caráter experimental na arte contemporânea” [parecendo tomar como contraponto certa producão dos anos 60/70], afirmando haver, hoje, “nichos específicos de produção e recepção nessa linha”, o que enfraqueceria de saída tal linha de procedimentos.
Em seguida fala dos problemas crônicos das instituições [de arte] no Brasil, da ausência de políticas institucionais consistentes, sobretudo no que tange a lacunas graves na formação de acervos, o que contribuiria para a ausência de uma história da arte “que se materializa, tornando-se um impeditivo ou barreira na formação das novas gerações”.
Retoma então as linhas gerais de suas falas anteriores [centrada em sua proposta de uma “poética da reflexão”], no que não me estenderei. Afirma “ter se formado no contato com artistas” [de sua geração] e sua produção, e não “nas Bienais de São Paulo”, e que tem certeza de uma “vitalidade experimental” na arte brasileira. Ironiza os relativismos em torno da vocação maior ou menor de certos mídias [“pintura x vídeo”, etc.] e encerra citando Saramago: “Não precisamos ler o romance; vivemo-lo cotidianamente”. Aplausos.
A seguir Alexandre Sequeira apresenta sua fala, focada, como de hábito, num relato acerca da cena artística de Belém, sua cidade, e das possibilidades de viabilização da produção contemporânea em contextos mais ‘periféricos’ a partir de dados [estético-culturais] locais. Como a estrutura de sua apresentação não sofreu alterações, não irei descrevê-la mais uma vez aqui.

Debate - Participação do público

O primeiro a se manifestar é Carlos Asp, conhecido e veterano artista local. Evoca, em tons nostálgicos, eventos culturais e artísticos que ocorreram ali na cidade, nos anos 80 e que segundo ele teriam sido propulsores de algumas carreiras artísticas locais; aponta que o principal órgão fomentador de arte no estado de SC é o Sesc; o ponto central em sua intervenção parece estar centrado num ‘diagnóstico’ da precariedade institucional local.
Denise indaga a Alexandre sobre como se daria a articulação – institucional ou independente, creio - dos artistas em Belém. Sobre esta pergunta é emendada outra, uma dúvida acerca de haver ou não estrutura para a formação de artistas na cena paraense. Ele então comenta a atividade do Instituto de Arte do Pará e o formato de bolsas-estímulo que a instituição oferece a artistas, modelo que provou-se acertado e que passou a ser copiado por outras instituições. Explica ainda que existem três cursos de graduação em artes visuais na capital, 1 na universidade federal e 2 particulares; assinala também a presença de artistas e pesquisadores da área atuando na academia [como ele próprio, entre outros].
Instado a opinar sobre intervenções em espaços públicos e se “haveria força poética” neste tipo de prática artística, Paulo Sergio diz que “para ser arte tem que ter potência poética”, independentemente do mídia ou do local onde ela se dá; comenta sua decepção na experiência da Bienal do Mercosul envolvendo propostas dessa natureza de Waltercio, José Resende, Mauro Fuke e Carmela Gross, realizadas quando ele foi curador do evento e já “alteradas” ou interditadas em função de atos de vandalismo ou de falta de compreensão acerca de seu “funcionamento”. Ressalta a dissonância ou descompasso que as noções de público e privado, a seu ver, assumem frequentemente no Brasil, para afirmar que não vê muito futuro para obras de arte deste perfil [usa o termo “efêmeras”] no país.
Partindo de seu mote “institucionalização do contemporâneo”, pergunto a PSD sobre como ele vê as práticas [artísticas] no âmbito da chamada crítica institucional. Ele responde pelo viés do que considera a “mercantilização generalizada das relações sociais”, e a arte como não ficando fora disso; cita o caso Guggenheim e seu diretor Thomas Krenz – e mostras da grife Giorgio Armani e da Harley-Davidson por ele promovidas - como exemplo dos mais notórios dessa dinâmica, apontando a relação de “contaminacão perversa” nesses casos, onde “arte” e “coisa comum” são deliberadamente fundidas de modo negativo [para a arte, no caso] com a noção de consumo. Na sequência Paulo Sergio afirma perceber um declínio do “curador temático” na atualidade, e traça um quadro desencantado da atividade filosófica mais rigorosa na atualidade [“só tivemos dois filósofos no século 20: Heidegger e Wittgenstein. O resto é ‘pensador’”]. Diz esperar que venhamos a ter uma contemporaneidade “mais problemática, com mais aspereza”; volta à questão do “temático” e dos descompassos na formalização das obras; “os temas que tomam a frente”e da perda de atrito nesse processo. Pergunto a PSD se as tendências do espetacular e monumental [na arte] potencializariam essa coisa do “temático”; ele responde comentando – e contextualizando - a espetacularização tal como compreendida e postulada por Debord [que referia-se mais às relações sociais, não a obras de arte; trata-se de uma plataforma teórica com frequência mal-interpretada ainda hoje], contrapondo a essas tendências suas leituras das “poéticas da delicadeza”, tema sobre o qual tem se debruçado com interesse. Encerramos em seguida.
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