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Relato Rumos 9 - Diário de bordo: Maceió

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Sex Mai 02, 2008 5:40 pm    Assunto: Relato Rumos 9 - Diário de bordo: Maceió Responder com Citação

Dia 9 – Maceió [13/04]

Maceió; primeira cidade desta "perna" pelo Nordeste, que incluirá ainda Aracaju e Teresina. Ainda no vôo já é possível divisar a beleza deste trecho privilegiado do litoral brasileiro; águas de um azul-esverdeado idílico encontrando as areais claras de praias quase sempre muito longas...
Imbuídos de nosso habitual espírito de adensamento em referências culturais locais, decidimos investigar o litoral local, o que nos levou à paradisíaca Praia da Sereia, situada 20 e poucos quilômetros ao norte da capital alagoana - pouco depois de Riacho Doce, vilarejo famoso por ter sido cenário de adaptação televisiva de romance Jorge Amado, anos atrás. Uma experiência que se comprovou altamente positiva, dentre recifes, mar verde-cristalino e amostras da culinária local. "Tudo pela cultura", parece ser o lema informal de nossas expedições.

Do evento

O evento se realiza numa sala no prédio da Pinacoteca Universitária da Universidade Federal de Alagoas [UFAL], um dos principais centros culturais voltados para a arte contemporânea em Alagoas. Um local peculiar, de funções mistas, abrigando simultaneamente um colégio e o principal espaço expositivo para arte contemporânea do estado. Na ocasião de nossa conversa, havia ali uma mostra de Paulo Bruscky em cartaz ["EEGs", os "desenhos" feitos a partir de encefalogramas; em outra sala, havia ainda trabalhos em vídeo, fotos e instalações do artista], em meio à qual – literalmente - realizamos o evento. Uma experiência curiosa mas interessante.
Comigo, à mesa, estão Christine Mello, Marilia Panitz e Tayná Menezes, do Itaú Cultural. Na platéia, não mais de quarenta pessoas.

Christine Mello inicia as falas, aproveitando um mote de Bruscky que confessa ter capturado ali mesmo, na exposição – "Arte em trânsito" – para abrir sua apresentação. Sustenta as possibilidades do Rumos como um "espaço de troca" para em seguida retomar os pontos que habitualmente norteiam sua leitura da produção contemporânea: descentralização, contaminação e desconstrução, os quais introduz a partir de uma referência ao mito arcaico de Ourobouros.
A novidade em sua exposição é a exibição de trechos de Zidane, cultuado filme dos artistas Douglas Gordon e P. Parreno; o vídeo, bastante comentado à época de seu lançamento, quando da Copa do Mundo de 2006, consiste em registrar uma partida de futebol em tempo real [90 minutos] focando apenas no famoso jogador, com 30 câmeras seguindo seus movimentos, ações e, sobretudo, "inações". Ressalta os aspectos ordinários, cotidianos das ações que constituem a existência mundana. Só então entra propriamente em sua fala, "Arte nas extremidades", que introduz sob o mote de "formas expandidas de circulação da arte". Como de hábito, apresenta o vídeo Transit, de Regina Silveira, que serviria para ilustrar sua leitura da noção de "contaminação" trabalhada pela arte. Emenda em Desmemórias, projeto de internet-art de Giselle Beiguelman que consiste numa espécie de grande colagem audiovisual em que, a partir da interação do usuário, se reprocessariam memórias [coletivas ou não], por meio de fragmentos de sketches televisivos, música e slogans de época. O cerne da fala de Christine se pauta, enfim, em "processos limítrofes da experiência da arte".

Marília Panitz dá seguimento aos trabalhos, com sua apresentação "Arte e crítica: aproximações". .De saída já anuncia que irá falar das relações entre arte e crítica e as possibilidades [ou não] da segunda na atualidade, qual seria seu lugar, etc. Abre a fala citando Argan e certo desencanto percebido pelo crítico e historiador, em seu "Arte e crítica de arte", em relação às possibilidades para ambas num cenário de crise iminente, desenhado pelo novo estatuto de práticas artísticas da contemporaneidade, indagando sobre se "não estariam ambas caminhando para seu fim". O pensador italiano não veria mais lugar para o trabalho valorativo da crítica, neste contexto; haveria para ele uma tendência a se produzir então o que se aproximaria mais da filosofia que da crítica. Marilia parte dessa posição "auto-analítica" de Argan em relação à disciplina crítica para instalar uma discussão sobre modelos e perspectivas para a atividade no cenário atual. Comenta, sem se alongar, o viés fenomelógico que caracteriza boa parte da crítica de arte contemporânea, recuperando a seguir a noção do juízo como cara à atividade, citando nomes como Meyer Shapiro e Greenberg. A partir daí, foca seu ponto em como as polaridades cumplicidade e distanciamento podem se manifestar no trabalho da crítica e do artista. Desfila exemplos de casos em que a atividade do crítico se desenvolve em graus diversos de proximidade, ou mesmo cumplicidade em relação ao artista e sua obra, de Baudelaire e Delacroix [e em outra medida Manet] ao caso mais emblemático de Greenberg e Pollock, passando por Mario de Andrade e Anita Malfatti. Comenta a mudança de registro operada na então recente crítica de arte na "transição" informal de Diderot – até então o escriba por excelência da cena artística francesa - para Baudelaire, que afirmava ser impossível manter neutralidade ou imparcialidade em relação a obras e artistas sobre os quais escrevia. Demora-se um pouco mais no comentário da relação entre Cildo Meireles e Paulo Herkenhoff, em que em alguns momentos – a partir da leitura de dois ou três trabalhos pontuais do artista - se estabelece uma dinâmica a um só tempo, digamos, "reagente" e complementar que Marilia vê como instigante.
Mais adiante, retoma a "idéia ampliada de texto" introduzida pelo pós-estruturalismo, notadamente em trabalhos de Roland Barthes e Julia Kristeva e seus rebatimentos e [im]possibilidades no campo artístico, também já abordada em apresentações anteriores; daquilo que "não pode ser passado para o plano da palavra", sendo forçado a se ater à "figuralidade" [outra noção cunhada por pensadores dessa vertente], engatando na produção de Oiticica, Kosuth e G. Maciunas [do Fluxus] como indicadoras de uma "escrita do próprio trabalho" – para além da escrita sobre o trabalho, bem entendido.
Retoma a questão da cumplicidade na atividade da crítica a partir das posições de Ricardo Basbaum, que atua em ambos campos, e que a palestrante vê como estimulante, possibilitando um registro novo na manifestação do juízo de valor. Encerra comentando sua atuação com o grupo Gentil Reversão, que integra, há anos, com mais cinco artistas, sempre na busca por um alargamento de possibilidades criativas investindo num perfil mais orgânico no âmbito das duas atividades.

Debate - Participação do público

A platéia, talvez um pouco tímida, demora a se manifestar. Mesmo sem implicar em uma relação causal direta, cabe lembrar que Maceió não possui cursos universitários em artes visuais, fator que naturalmente tende a minimizar um público mais especializado, à vontade talvez para se manifestar em um evento focado em arte contemporânea.
A primeira manifestação, um tanto confusa, indaga sobre certo "olhar estrangeiro" em relação ao Nordeste, como a mesa se posiciona quanto a isso. Marilia responde que de fato sente-se um pouco "uma estrangeira", citando impressões de W. Benjamim sobre Nápoles para contextualizar sua leitura de "estrangeiro". Como a questão parece subentender as impressões que eles, curadores estariam tendo da produção local/regional, ela esclarece que os serão os assistentes-curatoriais a fazer o mapeamento efetivo, operando em suas regiões "nativas", e que só então ela e colegas poderão entrar com o "olhar de corte". Christine Mello complementa pelo viés da semiótica, sua área de estudos, e de sua instrumentalização: sustenta que ali, no Rumos, como em outros setores da vida, trata-se de "criar relações entre as coisas", estendendo-se em mais algumas considerações envolvendo subjetivações semióticas.
Surge na sequência um aparte que indaga sobre "onde estaria a literatura na arte contemporânea", motivado por trecho da fala de Marilia acerca da "noção ampliada de texto" desenvolvida por certos pós-estruturalistas. Marilia gosta da colocação e aproveita para citar a produção do próprio Paulo Bruscky, que nos rodeia ali no espaço, articulando também conexões com a obra de J.L. Borges; Christine aproveita para citar o Ulisses de Joyce e a idéia do "fragmento em descontinuidade", apontando possíveis relações com o cinema, que ganhava força simultaneamente ao romance; lembra dos chamados livros de artista e livros-objeto. Indica ainda a produção em vídeo de Gary Hill, por sua proximidade com a literatura, além do Livro de areia de Borges, um clássico.
Por fim, a mesa é solicitada a identificar questões e tendências contemporâneas, "como isso se daria", subentendendo ainda um componente regionalista na indagação... Marilia fala então dos problemas intrínsecos em se tentar identificar e/ou rotular a arte contemporânea; enfatiza uma linha de procedimentos na produção artística que instaure um dado questionador como mais potencialmente "contemporâneos". Estende-se brevemente no ponto de aspectos regionais, a "fala do local", de questões de repertório, etc. Christine complementa avançando um pouco mais na polaridade local/global, relatando ao final experiência que considerou marcante em Rio Branco, quando conheceu a "Biblioteca da Floresta", projeto que integra de modo exemplar demandas de inclusão sócio-cultural e conscientização ecológica sem ignorar a força de aspectos da cultura local.
A noite se encerra com um aparte instigante de um professor de economia, reportando a experiência pedagógica na universidade e relacionando-a a certa "decadência cultural" generalizada, tópico animadamente comentado pela mesa.
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