Pesquisar
Quem está on line

Entrar
Usuário:
Senha:
Permanecer Logado automaticamente em cada visita
 






Relato Rumos 8 - Diário de bordo: Recife

 
Novo Tópico   Responder Mensagem    Página Principal -> Rumos Artes Visuais
Exibir mensagem anterior :: Exibir próxima mensagem  
Autor 
 Mensagem
Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
Mensagens: 22

MensagemEnviada: Ter Abr 22, 2008 9:20 am    Assunto: Relato Rumos 8 - Diário de bordo: Recife Responder com Citação

Relatos Rumos 8 – Diário de bordo: Recife

Dia 8 – Recife [03/04]


Do evento

Nossa fala terá lugar na Fundação Joaquim Nabuco, um dos principais centros culturais voltados para a arte contemporânea em Pernambuco. Recife é uma cidade-referência em termos de fomento, produção e mobilização artística no Nordeste brasileiro. Até por isso, estranhamos a relativamente baixa freqüência do evento, com cerca de 40 e poucas pessoas presentes no auditório local, numa inversão de expectativas em relação a Macapá, última cidade visitada [ver tópico anterior], que teve o dobro de audiência que aqui comparece. Os coordenadores locais, contudo, nos garantem que está mais ou menos dentro do previsto. Alguns defendem que, justamente por ter uma cena viva e atuante, sintonizada na agenda cultural do país, é possível que artistas locais não tenham se interessado tanto em comparecer ao evento, já familiarizados com o formato do Rumos e tal. Talvez.

Mas enfim: comigo, à mesa, estão Paulo Sergio Duarte, Alexandre Sequeira e Tayná Menezes, representante do Itaú Cultural.

Paulo Sergio Duarte abre a mesa, retomando sua apresentação já amplamente comentada por aqui, "Arquipélagos". Fala do vigor e do destaque da arte contemporânea brasileira, e retoma sua 'hipótese' da poética da reflexão, abarcando um nicho da produção daqui onde forma e conteúdo [conceito] não se dissociam ou distanciam. Discorre novamente sobre os fatores conformadores desta singularidade, notadamente a riqueza de uma certa modernidade brasileira – e a relação não-edipiana que as gerações de agora mantêm com a mesma -, bem como, num aparente paradoxo, sua precariedade ou fragilidade do ponto de vista institucional, que de certo ponto de vista teria sido positiva. Esta última se traduziria sobretudo nas lacunas que persistem até hoje no que se refere à formação de acervos consistentes – com obras daquele período - em museus ou coleções públicas; a falta de uma amostragem substancial desta produção segue sendo um capítulo vexatório em nossa relação com a modernidade.

Faz um breve contraponto de sua "poética da reflexão" com o conceitualismo norte-americano e tendências posteriores, alinhadas á desmaterialização da arte - contraponto porque ali se prescindiria deliberadamente do fator estético, da plasticidade por ele defendida em sua leitura da arte brasileira enquadrada em sua poética da reflexão.

A metáfora insular presente no título de sua fala – "Arquipélagos" - refere-se a "produções poderosas", dentro do modernismo tupiniquim, mas que não se relacionavam umas com as outras [destaca nomes como Castagneto, Visconti, Anita Malfatti]; isso só mudaria com a chegada do construtivismo por aqui, quando ocorreria a consolidação de um efetivo projeto moderno [tardio?] brasileiro [certamente essa "efetividade" enquanto "projeto" gera controvérsias ainda hoje, que Paulo assume, mas que não cabem ser discutidas ali].

Em uma breve digressão, comenta que a produção – no esteio das Novas Figurações - precariamente chamada de pop no Brasil, nos anos 1960/70, "não tinha nada de pop", até porque "o artista norte-americano podia ter um distanciamento com seu universo de imagens que o brasileiro não podia ter", dado o contexto político tenso de então, no país. Este é um ponto que a mim interessaria estender para uma discussão mais aprofundada, mas num outro momento, mais propício. Retoma ainda os possíveis paralelos, já por ele estabelecidos anteriormente, entre representantes da poética da reflexão [brasileiros] e alguns casos da produção alemã e italiana [a povera], sem se alongar. Fico curioso para compreender melhor como fica a relação da "generosidade plástica" apontada por Paulo Sergio como dado intrínseco à sua P. R. e a produção de arte povera e sua característica – de modo geral - austeridade, mas acabo não perguntando; talvez numa próxima vez.

Passamos então a voz a Alexandre Sequeira, que discorre sobre a cena artística e cultural de Belém, cidade onde vive e atua como professor, artista e mais recentemente também como curador. Foca seu discurso, como de hábito, em artistas que partem de uma matriz popular, incorporando elementos locais em seus trabalhos tentando contudo não se ater ao recorte estereotípico do "regional".

Ressalta, mais uma vez, a importância da linguagem fotográfica como determinante da vitalidade artística do Pará, com ênfase na atividade da Associação Fotoativa. A fala é permeada de conceitos como identidade cultural, regionalismos e os perigos de "estereótipos homogeneizantes", sempre buscando demonstrar como, mesmo em um contexto mais "à margem" – admito, é difícil evitar alguns clichês...– é possível pensar estratégias de superação das adversidades sem abrir mão do "dado local". A mim parece haver certo excesso no enfoque em fotografia – isso foi horrível -, e guardo para mais tarde uma dúvida sobre como andaria o restante da produção artística do estado – à parte nomes como Emmanoel Nassar, Marcone Moreira e o falecido Osmar Pinheiro, mais familiares a nós.

Debate - Participação do público

A primeira manifestação da platéia é para Paulo Sergio Duarte, compreensivelmente um "campeão" de questionamentos – e elogios - em nossas mesas. A questão não se faz muito clara, e diz respeito a uma certa precariedade recorrente na arte da América Latina à qual o Brasil não escaparia. PSD procede então a uma contextualização do cenário artístico-institucional latinoamericano, que ao final conclui não estar de modo geral em situação tão drástica quanto o brasileiro.

A seguir, Maria do Carmo, da Joaquim Nabuco, o interpela sobre a "relação não-edipiana" , assim como acerca do "vazio institucional" mencionado, que ela entende que PSD veja como positivo; PSD a lembra que é preciso contextualizar a questão, afirmando que ele se referia a tal "vazio" pensando as relações institucionais com a produção no período moderno.

Surge uma dúvida sobre a poética da reflexão, seguida de comentário acerca da "dificuldade de a arte contemporânea ser compreendida" [questionamento recorrente, com variações, em vários outros locais visitados]. Paulo responde indiretamente, retomando seu mote e reafirmando seu interesse por uma produção que "traga a reflexão embutida na concepção artística do trabalho", citando Cildo e Tunga, seus exemplos entre outros; encerra parafraseando Adorno e Brecht, "onde está a política a arte não está".

É lançada então uma indagação mais espinhosa, em torno da "política de regionalização" [sic] e de como esta se resolveria na curadoria, "como se daria essa negociação". Alexandre sustenta que não se compreenda as coisas isoladamente, em separado, buscando priorizar a qualidade, a excelência, sem se valorizar "o regional" como um dado a priori. Faço também um aparte elogiando o teor da pergunta, que se alinha com algumas de minhas inquietações pessoais e complementando e meu modo as observações de Sequeira. Acho da maior importância que se discuta mais a fundo esse ponto, especialmente num programa como o Rumos, em que esse dado "regional" – subentendendo seu registro estereotípico - pode se misturar de modo delicado com demandas institucionais por "representatividade regional" de todo o país. Um sujeito que já fez uma pergunta meio que complementa a discussão, apontando que pode ser tudo uma questão de se tender ou não a um "olhar homogeneizante" ou não. Rodrigo Braga, jovem artista local de destaque, complementa ressaltando com pertinência alguns problemas implicados no formato do programa; fala também das dificuldades na atuação dos/das assistentes-curatoriais [não mencionando que ele próprio namora uma delas], de sua grande parcela de responsabilidade sendo tão jovens, etc.

Paulo Sergio concorda com o tom das colocações e defende a funcionalidade da noção de ataraxia [termo grego para suspensão das certezas/conceitos], também presente em seu texto.

Retomo a questão do "regional" e indago Alexandre quanto às possibilidades e problemas deste elemento, considerando a natureza de sua apresentação. Ele responde que sua opção por artistas que contenham esse dado forte em sua produção foi deliberada, pensada como uma forma possível de "ser [artista] contemporâneo" trabalhando a partir desta matriz evitando no entanto o aspecto folclórico.

Surgem mais duas dúvidas mais técnicas, referentes a idade e tempo de produção para efeito de inscrição no programa, esclarecidas sem dificuldades por Yara Kerstin, e damos o evento por encerrado.
Voltar ao Topo

Mostrar os tópicos anteriores:   
Novo Tópico   Responder Mensagem    Página Principal -> Rumos Artes Visuais Todos os horários são GMT - 3 Hours
Página 1 de 1

 
Ir para:  
Enviar Mensagens Novas: Proibído.
Responder Tópicos Proibído
Editar Mensagens: Proibído.
Excluir Mensagens: Proibído.
Votar em Enquetes: Proibído.


Powered by phpBB © 2001, 2004 phpBB Group
Traduzido por: Suporte phpBB