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julho 16, 2005

Trabalhos empobrecem a idéia da tecnologia por Fábio Cypriano

Trabalhos empobrecem a idéia da tecnologia

Matéria de Fábio Cypriano publicada originalmente na Folha de S. Paulo, Ilustrada, no sábado, dia 16 de julho de 2005

Exposição no Itaú Cultural põe a obra de três veteranos como contraponto à produção contemporânea

É bastante reconhecida a importância dos artistas Julio Plaza (1938-2003), Waldemar Cordeiro (1925-1973) e Abraham Palatnik, 77, na interface entre arte e tecnologia, no Brasil. Cada um a seu modo, eles realizaram obras que trouxeram avanços tecnológicos para o campo da arte, sem, no entanto, se renderem a eles. Pelo contrário, os seus trabalhos questionaram os meios, buscando desmistificar a tecnologia.

É emblemático, nesse contexto, "Retrato de Fabiana", que Cordeiro criou como algumas das primeiras imagens digitais no país. Aí, tonalidades de cores foram codificadas por símbolos e transcritas no papel, pura desconstrução da linguagem computacional.

Por isso, não deixa de ser surpreendente o contraponto entre esses três artistas e a produção atual, tal qual pode ser vista na mostra "Cinético Digital", no Itaú Cultural, com curadoria de Monica Tavares e Suzete Venturelli.

A cada um dos veteranos foi selecionado um tema: instalação para Palatnik, arte computacional para Cordeiro e arte nas redes (webarte) para Plaza. Em cada tema, foram agrupados trabalhos, em sua maioria recentes.

Há um deslize conceitual já na primeira sala, pois nomear os "Objetos Cinéticos" como instalação não deixa de ser uma forçação. Os "Objetos Cinéticos" são quadros em movimento que não buscam envolver o observador, como o fazem as instalações.

A questão central é que, enquanto os veteranos buscavam problematizar o uso da tecnologia, ao mesmo tempo que ampliavam seus limites, o que se vê na produção recente em "Cinético Digital" é um certo deslumbre com a tecnologia que, em certos trabalhos, fica mesmo empobrecida perto do desenvolvimento atual dessa tecnologia no cinema, nos videogames ou no próprio cotidiano. É o caso de "Reflexão 2", de Raquel Kogan, que simula os números que escorrem no filme "Matrix", mas no cinema o efeito é muito mais vigoroso.

Pior é quando trabalhos buscam mesclar interação, tecnologia e questão social, como em "Acaso 30", de Gilberto Prado. O trabalho visa prestar homenagem às vitimas da chacina na Baixada Fluminense, em março passado, mas na realização banaliza a temática.

O mesmo ocorre com "Você Tem Fome de quê?", de Rejane Spitz, no segmento de arte computacional. Para que a obra aconteça é preciso pegar uma bandeja, colocá-la ao lado de um computador e passar com um mouse sobre uma imagem com várias letras, chegando-se a depoimentos absolutamente banais. É mais um exemplo do deslumbre pela tecnologia de grande parte dos artistas na mostra, e não do uso crítico, como o faziam os veteranos.

Nesse caso, como em vários outros da mostra, a interação é apenas um padrão de conduta a ser cumprido, mas os resultados ficam aquém da parafernália.
O Itaú Cultural tem entre suas missões estimular a visibilidade da arte e tecnologia, e é importante que tal espaço continue sendo oferecido. Entretanto, segundo a mostra "Cinético Digital" , ou a pesquisa das curadoras não conseguiu reunir o que há de mais significativo ou a produção contemporânea precisa olhar melhor os veteranos, o que, no caso desta exposição, já é uma tentativa.

Cinético-Digital

Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, Bela Vista, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 19h; até 11/9
Quanto: entrada franca

Leia mais sobre os trabalhos no Blog do Canal

Posted by Patricia Canetti at 12:24 PM | Comentários(1)
Comments

Fábio:
Tenho pensado já há algum tempo sobre isso. Mesmo não tendo visto a exposição, concordo com você em muitos pontos. Creio que nós, artistas plásticos contemporâneos, muitas vezes nos apropriamos de meios os quais não dominamos e parcamente conhecemos - como o vídeo, os meios digitais, a fotografia, etc. - e produzimos resultados que parecem realmente toscos visualmente se comparados aos profissionais que os praticam. Daí as "escolhas" por caminhos estéticos que - não podemos confessar - são os únicos possíveis, por pura incapacidade.
Não defendo a primazia da técnica, mas conhecer o instrumental de trabalho é fundamental para que se posse dele fazer uso, seja optando por resultados mais primorosos, seja pela negação dos mesmos.
Concordo também que, por mais brilhantes e fascinantes que pareçam, instrumentos de trabalho do artista são sempre MEIOS, e só se constituem como arte se transformados em suporte de boas idéias.
Dulce Osinski

Posted by: Dulce Osinski at agosto 5, 2005 7:56 AM