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Relatos Rumos 11 – Diário de bordo: Teresina

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Qua Mai 14, 2008 1:41 am    Assunto: Relatos Rumos 11 – Diário de bordo: Teresina Responder com Citação

Dia 11 – Teresina [15/04]

Como previsto, faz um bocado de calor em Teresina, ainda que seja o "inverno" para os parâmetros locais; nem a chuva que caiu intensamente na cidade por dias a fio parece aliviar a situação, ao menos para forasteiros como nós. A diferença em relação a outras capitais do Nordeste é o fato da cidade não estar localizada no litoral, mas no interior do estado, já na divisa com o Maranhão - o que contribui para intensificar a sensação de "abafamento". O grande programa turístico, além de pesquisar o proverbial artesanato local [notadamente cerâmica e tecelagem], parece se resumir a assistir ao encontro dos rios Parnaíba e Poti, ao norte de Teresina, quando os mesmos se fundem e partem para desaguar no Atlântico. É de fato um espetáculo e tanto, sobretudo se assistido do agradável restaurante flutuante instalado no parque que assinala o referido ponto – de preferência saboreando uma cajuína, famosíssima bebida local.

Do evento

O evento ocorre nas dependências da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, na região central da cidade. As palestras propriamente ditas se dão numa sala pequena e simpática, misto de auditório e cineclube local. O público não é grande, com cerca de 30 pessoas. Há que se considerar, contudo, que chove torrencialmente essa noite, fator que, como nos explicam, contribui para a baixa audiência. A mesa está composta por Marilia Panitz e Paulo Reis, com a presença também de Tayná Menezes representando o Itaú Cultural.

Abrimos a mesa com Paulo Reis, que introduz pequenas mudanças em sua apresentação; demora-se um pouco mais numa contextualização acerca dos modos de relação do homem com a obra de arte na cultura ocidental, "voltando" até a Idade Média, para então chegar à gênese dos espaços expositivos propriamente ditos, com os salons da França de século 17/18, mote de sua fala. Daí em diante retoma sua linha-mestra, já comentada anteriormente e acompanhada de imagens que ajudam a compreender as mudanças de estatuto na concepção – museológica ou não – no modo de exibir arte, até a contemporaneidade. É enfatizado, em sua fala, o viés das exposições de arte como "construtoras ou formadoras do olhar", para além do fator meramente contemplativo. Ou, de outra forma, que na instância receptiva - do olhar – há lugar para o aprendizado, que pode se traduzir em uma experiência crítica.

A seguir, Marília Panitz: retorna com sua apresentação em torno de aproximações possíveis entre arte e crítica, com foco no contexto atual. Assinala o potencial involuntariamente "complementar" que sua fala pode ter em relação à de Paulo [é a primeira vez que ambos estão juntos nessas mesas do Rumos], o que de fato procede, na medida em que consistem em abordagens similares, incorporando breves exercícios genealógicos de aspectos caros à produção artística – modelos expositivos, curadoria, crítica e história da arte e seus na contemporaneidade – embora com enfoques diferentes. Como de hábito, a fim de tornar mais dinâmica uma fala pautada nas relações entre críticos e artistas, apresenta um roteiro de imagens em que transitam de Baudelaire e Delacroix [e Manet] a Greenberg e Pollock e Cildo Meireles e Paulo Herkenhoff, sempre a serviço de exemplificar diferentes registros de aproximação [e de resultados] no contato entre os dois agentes. Marilia comenta ainda algumas experiências mais recentes originadas de um estreitamento dessa relação, citando casos como as [extintas] revistas Malasartes e A parte do fogo, além de experiências como a de Ricardo Basbaum [ele próprio um "agente duplo" no melhor sentido, com um perfil de atuação que articula as funções de artista, curador e crítico/pesquisador] e a de seu próprio grupo, Gentil Reversão, também já comentado antes aqui.

Debate - Participação do público

Palestras terminadas, passamos a voz ao público, que se retrai, numa situação de "timidez" razoavelmente habitual; decidimos então inverter os papéis e quebrar o gelo nós mesmos, dado o silêncio na platéia. A mesa passa a inquirir o público em termos gerais acerca de seu perfil, se há cursos universitários em artes visuais na cidade, etc. Nos é respondido que são em sua grande maioria artistas e/ou estudantes e que existe, sim, um curso de licenciatura em artes plásticas na universidade federal do estado e um de bacharelado, este particular.
Nossa estratégia funciona, e logo em seguida surge a primeira pergunta: um rapaz, que trabalha naquela instituição, quer saber como a crítica lida com trabalhos "muito carregados de um componente regional", aparentemente subentendendo um dilema afetaria também que sua própria produção [o que é irrelevante, dada a procedência da questão]. Uma questão-chave, a meu ver, no âmbito de um programa que visa contemplar amostragens da produção artística por todo o país. Marilia responde que talvez a pergunta pudesse ser reformulada; que talvez ele devesse se indagar se seu trabalho "propõe questões", querendo com isso – no meu entender - indicar de modo sutil uma possibilidade de verificação da adequação daquela produção ao, por assim dizer, vocabulário contemporâneo. Paulo Reis emenda comentando o relativismo que pode haver em torno da noção de regionalismo, citando obras de Marina Abramovic como exemplo possível de certo "regionalismo dos Bálcãs", e no entanto absolutamente inserida no grande circuito da arte. Aproveito a oportunidade para também fazer algumas considerações acerca de regionalismos, tentando ressaltar as diferenças e problemas entre faturas e leituras estereotipizantes e /ou "carnavalescas", o dado local "legítimo" [não necessariamente o "autóctone"] e conflitos de expectativas quanto à inserção no circuito da arte contemporânea, etc. Ecoando nossas colocações, um rapaz faz um ótimo aparte sobre os riscos de uma estereotipização, na busca pela "identidade" [cultural-local-regional].
A seguir, um artista local indaga os palestrantes sobre como a crítica se relaciona com trabalhos em que impera a diluição da noção de autoria, referindo-se à produção de cunho digital e a coletivos de artistas. Marilia e Paulo afirmam não ver qualquer problema no que tange a autoria coletiva ou diluída, ressaltando a primazia do critério qualitativo, como em geral; Marilia se estende citando a "obra aberta" de Eco e Duchamp e a "morte do autor". Ela então indaga a platéia sobre que outras manifestações artísticas haveriam na cena local, ao que é informada de existirem pesquisas em cinema, tendo inclusive um coletivo dali ganho alguma notoriedade atuando especificamente nessa linha, o "Viva tosco". Surgem ainda relatos de projetos de arte-educação interessados em investir na integração entre as diversas áreas de produção artístico-cultural. Seguem-se breves digressões sobre as carências da cena local e o formato do único salão de arte ali existente, algo conservador, pelo que pudemos constatar dos relatos. Surgem mais uma ou duas dúvidas técnicas sobre o programa, acompanhadas de elogios gerais à mesa e à iniciativa, etc. - quando aproveitamos para reiterar a importância de se inscrever trabalhos, mesmo que não sejam selecionados, pela oportunidade de tê-los passado pelas mãos de profissionais especializados e atuantes no meio -
e encerramos.
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