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janeiro 19, 2011

O que faz diferença? por Ricardo Tamm

O que faz diferença?

RICARDO TAMM


Pelo oitavo ano consecutivo, O Globo anunciou o resultado do “Prêmio Faz Diferença”, do próprio jornal (com patrocínio da FIRJAN), contemplando indivíduos, grupos, empresas, e projetos, que se destacaram ao longo do último ano em suas respectivas áreas de atuação, e cujas iniciativas resultaram em benefício para a sociedade, a cidade, o país, o mundo.

A despeito do fato de que uma premiação sempre peca por omissões e esquecimentos, chama a atenção a ausência das artes visuais como categoria, ao longo de todos esses anos. Note-se que entre os eventos de destaque do ano do Segundo Caderno do jornal, as Artes Visuais estão presentes, como a Literatura, a Música, as Artes Cênicas, o Cinema, e a TV. Áreas estas que – exceção feita às artes visuais – participam também do “Prêmio Faz Diferença 2010”, junto com: o Mundo, o País, o Rio, o Desenvolvimento do Rio, a Economia, a Razão Social, a Ciência/História, o Esporte, a moda (Ela), a cultura jovem (Megazine), e a Revista do jornal; a indicação de um artista plástico na categoria da revista, este ano, parece confirmar a excepcionalidade à regra. Deve haver algum motivo (um eventual esquecimento teria sido corrigido antes da oitava edição). Mas qual?

Será que as artes visuais, mesmo com a crescente expansão do mercado e valorização das obras, amplamente divulgadas pelo jornal, não conseguem fazer diferença na sociedade? Nem qualquer iniciativa para a formação, a circulação, a preservação, ou a informação sobre artes visuais na última década fez muita diferença para justificar a categoria?

É claro que um prêmio não é a única medida de avaliação de qualquer tipo de produção. Mas é um reconhecimento público e uma espécie de consagração de uma obra, um projeto, um programa. Especialmente um prêmio do próprio jornal, que divulga e promove o que é premiável ao longo do ano. E que, mesmo reconhecendo a área como assunto para farto noticiário, não a considera capaz de fazer diferença na sociedade do século 21 (até onde conhecemos).

O que faz então a arte contemporânea? Se não faz diferença, faz o mesmo, repete-se, não importa. Seria assim uma arte incapaz, que não diz à sociedade como o fazem outras artes e meios. Mas não seria essa indiferença, ou incapacidade crítica, promovida pelo jornal mesmo?

Uma página semanal dedicada às artes visuais é notícia recente – após longa temporada de críticas esporádicas –, que vem preencher de alguma maneira a lacuna, servindo para a informação e a crítica periódica sobre o que está em cartaz, aqui ou alhures. Suas colunas críticas vem desenvolvendo leituras louváveis às obras e exposições escolhidas. Falta a abordagem de diferenças estéticas e conceituais, ou a discussão sobre os movimentos do mercado, por exemplo. Parece que, com muitas matérias promocionais e apenas uma crítica semanal (em tão exíguo espaço, sempre louvável), tudo vai bem. Será?
A crítica periódica de arte, como toda crítica, desenvolve-se justamente pelas diferenças na recepção e, principalmente, pela sua possibilidade de discussão. É necessário expor a diversidade de visões e discursos sobre o que se apresenta sob o título e a instituição da arte. É preciso acompanhar estratégias comuns e específicas, mudanças de curso, sortes, enganos, manipulações, tudo o que acontece nesse meio – sobre o qual não tem havido, por aqui, muito dissenso. Onde não se discute publicamente a variedade dos circuitos que se estabelecem sob a mesma rubrica artística, e tampouco se questiona o que se faz na cidade em nome da arte

A arte contemporânea é reconhecida por colecionadores, comerciantes, curadores e críticos de arte, dentro de um círculo delimitado de agentes legitimadores. A produção artística fora do circuito institucionalizado por esses agentes é frequentemente considerada marginal, anacrônica, exótica, ingênua, popular – sendo algumas vezes reconhecida quando apropriada por um representante (artista, curador) do circuito central. Aí então, não como expressão autônoma, mas sim de segunda mão, mediada por uma obra, ou um olhar reconhecidamente contemporâneo

Quanto à cidade, não havendo um projeto esteticamente orientado para a ocupação do espaço urbano por parte da administração municipal (para este tipo de ação parece que não é preciso orientação), torna-se indispensável a discussão pública sobre essa ocupação – atual e futura. Há que se questionar se fazem ou não diferença para a cidade: a proliferação de estátuas em bronze, esculturas permanentes, e exposições temporárias (de vacas, presépios, homenagens); ou a difusão de grafites, intervenções, e peças promocionais no espaço público. Se não fazem diferença positiva, por que divulgar acriticamente esses eventos?

A maioria das críticas à arte contemporânea publicada na imprensa nos últimos anos, por sua vez, além de genérica, insiste em tomar como termo de comparação a genialidade de artistas do final do século 19, e começo do século 20. A história e o mercado os consagraram indiscutivelmente e milhares de estudos apontam-lhes os méritos. O problema das leituras comparativas ao passado (mais ou menos distante) é que as artes visuais contemporâneas incorporam histórias e caminhos que levaram mais tempo para se tornarem comuns, acessíveis – do meio para o final do século 20, mesmo se já apontados no início do século –, assumindo novas formas de apresentação e contato com o público. A experimentação se tornou uma conquista e uma realidade para toda a arte a partir dos anos 1960/70, incluindo as técnicas mais tradicionais, como possibilidade de expressão e discurso artístico. Neste sentido não há limites para a criação, para o exercício experimental da liberdade, de Mário Pedrosa, mesmo com lápis e papel.

A dificuldade crítica seria tentar encontrar antigos parâmetros onde já não os há. Ao menos totalizantes. Nem estéticos, nem formais. Se qualquer solução é possível, em qualquer meio, também o é a sua recepção, e leitura. Mesmo o termo contemporâneo é passível de diversas interpretações. O que não é mais possível é a leitura pretensamente capaz de dar conta do todo, onde as diferenças serviriam apenas para confirmar a própria visão geral ou seriam ignoradas. A possibilidade, hoje, são leituras parciais (assumidamente ou não) que algumas vezes, como numa curadoria, tentam organizar sentidos e aproximações em larga escala. Acontece que os grandes sentidos de leitura temática, que vão pautar as grandes exposições, ou serão restritivos, insuficientes, ou serão abertos para outros sentidos, paralelos, sobrepostos, cruzados, imprevistos.

Lidar com isso não é fácil. O que não significa que nada seria passível de crítica. Pelo contrário. A questão é em que bases vai se sustentar essa crítica. Se vai conseguir justificar o ponto de vista, e convencer, ou não. No mínimo vai representar a possibilidade de outras visões e leituras, ainda que, ou sobretudo, no dissenso.

A própria arte contemporânea incorporou formas e discursos diversos, se abriu para outros sentidos, e em todos os sentidos. Atingiu a pura idéia. Abstraiu a matéria de que seria feita (se o fosse). O que não a impediu, nem a livrou, de se apresentar de alguma maneira, de alguma forma. Tornou-se experiência, som, luz, ambiente, palavra, proposta, ação. Incorporou ou se perdeu em todas as formas de arte. Talvez o nome genérico a tenha induzido à expansão de suas possibilidades formais. Na história da arte moderna e contemporânea, manifestos literários, manifestações performáticas e obras antiarte cruzam fronteiras desde as primeiras décadas do século 20, superando os limites entre artes antes distintas.

Talvez a arte contemporânea se mantenha apenas por força de um mercado que necessita de circulação e renovação para o seu investimento (capaz de tal valorização que dificilmente qualquer outro bem, móvel ou imóvel, conseguiria alcançar). Talvez se mantenha por necessidade estética própria; plástica, visual, sensorial, em um campo de contato e fruição capaz de afetar-nos íntima e coletivamente – e de assim se manter, mantendo-nos.

Um renomado arquiteto contemporâneo vem procurando uma razão biológica e genética para a necessidade de arte em todas as suas formas, para a paixão e o prazer estético, quais sejam os seus parâmetros. Se ele vai conseguir encontrar, ou se faz sentido procurar por essa via, não vem ao caso. O que interessa é a busca e a paixão estética, bem como as variações de parâmetros dentro da diversidade de informações e ambientes nos quais estamos inseridos/inserimo-nos, e que vão permear a presença, e possível diferença, da arte na sociedade atual.

Posted by Marília Sales at 6:20 PM