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novembro 24, 2019

Vaivém no CCBB, Rio de Janeiro

Através de 350 obras de 141 artistas, Vaivém exibe representações da rede de dormir entre os séculos 16 e 21, para além do simples objeto de repouso, no CCBB Rio, a partir de 27 de novembro.

A mostra, sob curadoria de Raphael Fonseca, conta com 32 artistas indígenas contemporâneos que produziram trabalhos inéditos para o evento.

Vaivém é a coletiva que o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro apresenta de 27 de novembro de 2019 a 17 de fevereiro de 2020, com 350 itens de 141 artistas, dos séculos 16 ao 21, sob curadoria do historiador de arte Raphael Fonseca. A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil, com coordenação geral da arte3 conceito, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

“Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas: ao revisitar o passado conseguimos compreender como um fazer ancestral, criado pelos povos ameríndios, foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira”, argumenta o curador, que pesquisou o tópico durante cinco anos para o seu doutorado em História da Arte na Universidade Estadual do Rio de Janeiro [UERJ].

Para além da interpretação mais corrente de indolência, a rede de dormir se apresenta em Vaivém com outros tantos enfoques: da arte, da subsistência, resistência e permanência: de Debret e Rugendas a artistas contemporâneos como Hélio Oiticica e Tunga, Paulo Nazareth e Opavivará!, passando pelo Zé Carioca de Walt Disney, deitado na rede, para marcar a identidade brasileira do personagem, e a imensa produção indígena de representações deste objeto criado pelos ameríndios antes da chegada dos europeus às Américas.

Naine Terena, professora doutora da Universidade Federal do Mato Grosso, escreve em dos textos do catálogo da mostra: “Não cabe mais ver as redes como espaço de descanso e decoração. Necessita-se admirar sua representação e compreender que materialidade é a prova da resistência ameríndia. Que por trás da beleza e da forma existem focos de resistência. Que tecer ou criar a partir delas é arte, ativismo. É atividade. É sobrevivência. É ser”.

Enquanto objeto material, a rede de dormir é um tipo de tecido com alças. Originalmente de fibras naturais, passou a ser feita de algodão com franjas pelas mãos das mulheres portuguesas, pós-invasão do país. Hoje, elas são fabricadas de formas
e materiais diversos. Os elementos são os mesmos desde sempre: o pano em forma retangular, onde se deita ou senta, as cordas que ligam o pano aos punhos, em forma de aro, encarregados de sustentar o peso que o pano recebe e manter a rede suspensa pelas extremidades em armadores ou ganchos. O quarto elemento é a franja nas laterais, chamada varanda.

Encontro com o curador

Acontece dia 18 de dezembro de 2019, às 18h30, o bate-papo ilustrado com o curador de Vaivém, Raphael Fonseca, sobre “Construções do Brasil no vaivém da rede de dormir: de pesquisa acadêmica para uma exposição transhistórica".

Vaivém está estruturada em seis núcleos temáticos e transhistóricos. São eles:

Resistências e permanências

A rede de dormir é pensada por artistas indígenas, na maioria, que a associam a uma marca da luta pela sobrevivência das culturas originárias brasileiras. Aqui o objeto rede pode ser visto como signo de resistência e permanência: “Mesmo com séculos de colonização e com as recentes crises políticas quanto aos direitos indígenas, elas [as redes] se perpetuaram como uma das muitas tecnologias ameríndias”, avalia o curador.

Neste segmento, a maior parte das obras é produzida por artistas indígenas contemporâneos, como Arissana Pataxó. No vídeo inédito Rede de Tucum, ela documenta Takwara Pataxó, a Dona Nega, única mulher da Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro [BA], que ainda guarda o conhecimento sobre a produção das redes feitas com fibras das folhas da palmeira Tucum.

A autoditada Carmézia Emiliano começou a pintar em Roraima. Ela ficou conhecida por telas que registram o cotidiano dos indígenas Macuxi. Na mostra, Carmézia apresenta trabalhos feitos para Vaivém e outros mais antigos.

Também da etnia Macuxi, Jaider Esbell criou para a exposição a instalação A capitiana conta a nossa história. A uma rede de couro estão presos um texto de autoria do artista e documentos sobre as discussões em torno das áreas indígenas em Roraima.

Outro destaque é Yermollay Caripoune, que, vivendo na região do Oiapoque, entre a aldeia e a cidade, participou de poucas exposições fora do Amapá. Na série de seis desenhos, especiais para Vaivém, ele registra a narrativa dos Karipuna sobre a origem das redes de dormir.

Ainda neste núcleo, trabalhos de artistas consagrados e ativistas das causas indígenas, como Bené Fonteles e Claudia Andujar, e o objeto de Bispo do Rosário – Rede de Socorro, uma pequena rede de tecido onde se lê o título da obra.

A rede como escultura, a escultura como rede

Toda rede de dormir, pensada para o uso do corpo humano, é também uma escultura no espaço. Este núcleo coloca em diálogo redes criadas por associações de artesãs indígenas e não indígenas e trabalhos de artistas reconhecidos pelo sistema da arte contemporânea.

No foyer do CCBB Rio, estará Rede Social, uma instalação interativa do coletivo carioca Opavivará!, com oito redes unidas umas às outras, que convidam o público a se deitar e balançar ao som de chocalhos presos a elas.

Uma animação do jovem artista Gustavo Caboco, de Curitiba, filho de mãe indígena, que discute seu pertencimento à cultura ameríndia no Brasil, e o vídeo de selfies enviadas por mulheres em redes de dormir, de Salissa Rosa, nascida em Goiânia, e de pai indígena, estão neste espaço.

De Hélio Oiticica foram selecionadas fotografias da menos conhecida série Neyrótika e, de Ernesto Neto, um conjunto de obras do início de sua carreira, nos anos 1980, onde redes não aparecem literalmente, mas são sugeridas em uma dinâmica de tensão e equilíbrio. A ação Trabalho, de Paulo Nazareth, ganha aqui nova versão. Através de uma oferta de emprego anunciada em jornal, o artista contratou um funcionário, que deverá permanecer deitado em uma rede instalada no CCBB Rio durante oito horas por dia, até o fim da mostra.

Ainda neste segmento, há uma homenagem a Tunga, com uma nova versão da instalação Bell’s Fall, de Tunga que inaugurou o CCBB São Paulo, em 2001. A obra usa uma rede vazada para içar elementos inertes. Ainda de Tunga, os registros fotográficos da performance 100 Rede, realizada em 1997 na Avenida Paulista, com 100 figurantes munidos de uma rede cada um com utensílios de cozinha, milho, ossos e uma galinha viva, circulando, para se encontrarem em um ponto da avenida onde paravam para deitar em redes na calçada.

Olhar para o outro, olhar para si

As redes chamaram a atenção dos europeus desde o início da invasão das Américas. Sendo uma tecnologia desconhecida por eles, sua forma foi disseminada em mapas, pinturas, livros de viajantes e, posteriormente, fotografias e filmes. Este núcleo traz documentos e imagens de artistas históricos e viajantes, como Hans Staden, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas, que registram aspectos da vida local durante a colonização, mas também criam narrativas fantasiosas, porque havia então a prática da cópia e da adaptação sobre gravuras de outros autores.

A partir da pergunta como diferentes artistas contemporâneos indígenas olham para si e para
as redes de dormir, o curador propôs a este grupo desconstruir
a visão eurocêntrica dessas imagens de seus antepassados e propor novas narrativas.

Entre eles estão, do Amazonas – a pintora Duhigó, que apresenta a inédita tela Nepũ Arquepũ (Rede Macaco), sobre o ritual de nascimento de um bebê Tukano, e Dhiani Pa’saro, que expõe a marchetaria Wũnũ Phunô (Rede Preguiça), composta por 33 tipos de madeira e inspirada em duas variações de grafismos indígenas, o “casco de besouro” (Wanano) e o “asa de borboleta” (Ticuna).

O coletivo MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), do Acre, criou para Vaivém uma pintura mural que faz referência ao canto Yube Nawa Aibu, para trazer força e abrir os caminhos em cerimônias tradicionais. Já Denilson Baniwa, vencedor Prêmio PIPA online 2019, nascido no Amazonas e residente no Rio de Janeiro, fez intervenções digitais e físicas sobre obras de artistas brancos que retrataram povos indígenas.

Disseminações: entre o público e o privado

A praticidade das redes como mobiliário para viajar e no âmbito doméstico foi apropriada pelos portugueses, franceses e holandeses que invadiram o Brasil. Neste segmento, estão obras em que as redes são associadas a aspectos cotidianos, de meio de transporte a práticas funerárias. Devido à abertura dos portos a não portugueses em 1808, houve aumento do número de publicações sobre o país e disseminação da rede de dormir por meio de gravuras.

Um dos destaques contemporâneos aqui é Dalton Paula, pintor afro-brasileiro de Goiás, que lança um olhar sobre as narrativas a respeito da negritude no Brasil desde a colonização, e nas fotografias de Luiz Braga estão as redes de dormir em cenas do dia-a-dia no Pará.

Modernidades: espaços para a preguiça

As redes começaram a ser vistas como algo que ia contra o processo civilizatório e o desejado progresso industrial da jovem nação, depois da proclamação da república em 1889. Foi nesta época que surgiram publicações que ligavam a rede à preguiça. Esta associação se perpetuou no nosso imaginário social. O núcleo começa com essas imagens e reflete sobre como, a partir do começo
do século 20, as redes foram relacionadas não apenas à preguiça, mas à estafa e à necessidade de descanso decorrentes do trabalho braçal e do calor tropical.

Lugar importante desse percurso histórico é ocupado por Macunaíma (1928), livro de Mário 
de Andrade, em que o personagem principal passa grande parte da narrativa em uma rede. Representações de Macunaíma aparecem aqui em diversas linguagens.

Em exposição estão as primeiras ilustrações para a publicação Macunaíma por Carybé, um desenho pouco exibido de Tarsila do Amaral – Batizado de Macunaíma – e a adaptação da história para HQ por Angelo Abu e Dan X, lançada em 2016.

Joaquim Pedro de Andrade dirigiu o longa-metragem que, estrelado por Grande Otelo, completa 50 anos em 2019. Neste espaço também estão Djanira, com o raro autorretrato Descanso na rede, e peças de mobiliário desenhadas por Paulo Mendes da Rocha e Sergio Rodrigues.

Invenções do Nordeste

Neste núcleo estão trabalhos que convertem em imagens mitos da relação entre as redes e a região geográfica, como a associação delas à seca e à migração para o sudeste. Outros ítens expostos são um elogio ao nordeste, tendo a rede como símbolo de orgulho da potente indústria têxtil local.

Destaque para uma série de fotografias de Maureen Bisilliat pelo sertão nordestino e as cerâmicas de Mestre Vitalino que retratam grupos de pessoas enterrando entes dentro de redes.

O Rio de Janeiro é a terceira itinerância de Vaivém, que já passou por São Paulo e Brasília, e daqui segue para o CCBB Belo Horizonte.

Posted by Patricia Canetti at 10:59 AM