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março 30, 2013
Vik Muniz na galeria Nara Roesler, São Paulo
Vik Muniz - Espelhos de papel, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP - 03/04/2013 a 04/05/2013
Vik Muniz inaugura no dia 2 de abril, em São Paulo, a sua primeira mostra na galeria Nara Roesler, espaço que passou a representá-lo no Brasil desde o ano passado e no qual ele inicialmente estreou, em novembro último, no papel de curador, assinando uma coletânea dedicada à Op-art. Espelhos de papel, a nova exposição, apresentará onze obras inéditas que pertencem à série Pictures of Magazine 2, na qual o artista vem trabalhando nos últimos dois anos.
Tendo mais uma vez a fotografia como objeto final de sua produção, Vik volta a se apropriar dos fragmentos de revistas. Agora, no lugar dos pequenos discos regulares da série de 2003 (Pictures of Magazine), ele utiliza papéis rasgados, criteriosamente escolhidos a partir de imagens de publicações variadas. “Elas precisam ser rasgadas para parecerem mais acidentais, como se tivessem caído ali como confetes”, diz ele sobre o processo de colagens.
Vik Muniz joga com os limites da representação, recompondo imagens de obras referenciais que já fazem parte do repertório visual do espectador. A série atual parte do constante interesse do artista pelas ilusões de ótica e pelas brincadeiras, que ele diz explorar igualmente a sério. Vik conta que em visitas a museus observou que os espectadores, às vezes, se moviam para frente e para trás, numa espécie de transe, enquanto exploravam a fronteira mágica entre conceito e objeto. Para ele, justo nesse ponto de transição dá-se o encontro que considera o sublime em arte: “Esses são os momentos que contêm em sua transcendência a própria natureza da representação”.
Em seu texto de apresentação da mostra Espelhos de papel, o jornalista Christopher Turner observa que, à primeira vista, as obras parecem familiares, uma galeria de imagens famosas, roubadas de outros artistas. “Mas quando olhadas de perto elas não são o que parecem”. Cada quadro é uma colagem composta por centenas de imagens artisticamente arrumadas de acordo com a gradação de cores: “Esse vertiginoso mosaico de imagens superpostas, que dissolvem o plano do quadro numa multiplicidade de pontos focais, foi escaneado e ampliado para que o espectador possa ver os cabelos, as fibras e até a celulose do papel cortado nas bordas”, escreve Turner.
O conjunto de fotografias digitais C-print em grandes formatos, que constitui a montagem da Galeria Nara Roesler, foi selecionado pelo próprio Vik Muniz. A mostra Espelhos de papel inclui composições a partir das pinturas de Claude Monet (Vaso de flores), Gustave Coubert (A origem do mundo), Willem de Kooning (Mulher e bicicleta) e Wilhelm Eckersberg (Modelo feminino em frente ao espelho), entre outras. Os trabalhos foram produzidos nos estúdios do Brooklyn, em Nova York, e da Gávea, Rio de Janeiro, cidades entre as quais o artista se divide atualmente.
Apropriando-se de matérias-primas como algodão, arame, açúcar, chocolate, diamante e até lixo para compor suas séries, Vik constrói uma obra original que provoca a percepção do público, sugerindo significações para imagens conhecidas. “Não importa o que se vê, mas como se vê”, ele diz. A série Imagens de Revista 2 foi inspirada no trabalho realizado por Vik Muniz em colaboração com catadores do Jardim Gramacho, o maior lixão do Rio de Janeiro, cujos dejetos originaram retratos clássicos em grande escala - além do documentário Lixo extraordinário, indicado ao Oscar. O artista traça um paralelo entre o lixo e o saturado mundo das imagens em que vivemos: “A sensação daquilo tudo na memória é similar ao lixo. Fazer um quadro com todos aqueles detritos é muito sintomático da maneira cheia de distrações como olhamos tudo hoje em dia”.
Obras da série Imagens de Revista 2 têm sido exibidas em mostras internacionais com repercussão junto a críticos influentes. Sobre a individual de Vik Muniz na galeria Sikkema Jenkins & Company (Nova York, 2012), Roberta Smith escreveu para o jornal The New York Times. “É a impressão geral, trêmula, de superfícies que vibram, do excesso de detalhe, e da pintura sendo ativamente ultrapassada pela colagem, que prende os olhos. Essa fusão enlouquecida de matéria, mãos e lentes está sempre em jogo nas fotografias de Mr. Muniz, mas até esse momento não havia sido alcançada de forma tão firme”.
O ARTISTA
Vik Muniz (São Paulo, 1961) vive e trabalha em Nova York e no Rio de Janeiro. Sua obra transitou por distintos meios - escultura, desenho - antes de chegar à fotografia, objeto final das séries dos últimos anos. Descoberto pelo crítico de arte do jornal The New York Times, Charles Haggan, nos anos 90, quando estava radicado nos Estados Unidos, desde então o artista participou das mais importantes bienais mundiais, entre elas a 24ª Bienal de São Paulo (Brasil / 1998), a 49ª Bienal de Veneza (Itália / 2001) e a Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, (Rússia / 2009).
Vik realizou individuais e panorâmicas em diferentes países, sendo as mais recentes: Vik, no Centro de Arte Contemporânea de Málaga (Espanha / 2012); Relicário, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo (Brasil / 2011); e Vik Muniz, no Nichido Contemporary Art, em Tóquio (Japão / 2010). Foi o primeiro brasileiro convidado a participar como curador na nona versão do projeto Artist´s Choice (2008-2009), criado pelo MoMA de Nova York. Entre as mostras coletivas que integrou, destacam-se Swept away, no Museum of Arts and Design, em Nova York (2012); Pure paper, na galeria Rena Bransten, em São Francisco (2011); Fragments latino-américains, na Maison de l'Amérique Latine, em Paris (2010); e Surface tension, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York (2009). O trabalho de Vik Muniz está presente nos acervos dos principais museus do mundo e já foi tema de livros publicados no Brasil e no exterior.